Via blogue do sr. maradona (não faço link porque me esqueci de como se faz), deparo com um
post do Carlos Abreu Amorim (lembrei-me agora) sobre o jogo Sporting-Porto. Reza assim este pitoresco ensaio humorístico:
BEM HAJAM srs. DA ARBITRAGEM E COMISSÃO DE DISCIPLINA
Parabéns aos "encarnados" pelo campeonato que tão bem lhes foi oferecido. Só espero que na próxima época equipem de preto em homenagem aos seus benfeitores.
P.S. O Sporting fez aqui a figura do "idiota útil" - não se iludam, o campeonato já está (mal) entregue, mais expulsão menos penalty...O assunto morreria aqui caso o nosso Carlos Abreu Amorim (CAA) nos dissesse que, no preciso momento em que escrevia esta pérola, envergava vestes de palhaço. Ou seja, que tinha dedicado uns breves instantes do seu dia à nobre actividade da galhofa. Acontece que não. Parece que CAA estava, e está, a falar a sério. Nestes casos, manda-se perguntar: quem é que este rapaz julga que é para acenar com tamanha falta de
fair play? Como se sabe, a falta de
fair play só está ao alcance de uma imensa minoria. Ou seja, de uns poucos ilustres. Mourinho, por exemplo. Em Mourinho, a falta de
fair play é tolerável. Diria mesmo alegórica. Para quem sabe tanto de futebol, todos sabemos que não passa de pose, encenação, número. Como diria a Zezinha, «nós sabemos que ele sabe que nós sabemos». E vice-versa. Ora, que eu saiba – e admito desde já a possibilidade de estar redondamente enganado – o nosso CAA não é propriamente um «especialista» encartado. É, como tantos, um pseudo-especialista, um «treinador de bancada», um romântico adepto do «desporto rei» (prometo que até ao fim deste
post esgotarei os lugares comuns e as frases feitas do circo). Imagino que perceba mais de futebol numa unha do pé do que
moi même no corpo inteiro. Mas, como diz o anúncio, «ainda lhe falta um bocadinho assim», seguido do gesto danoniano. A falta de
fair play e o défice de «poder de encaixe» revelados por
CAA são, no seu caso, de uma outra estirpe. Não é de agora, aliás. Lembro que CAA nunca perdoou os ataques que desferi contra o seu amigo Manuel Monteiro. Mas deixemos de parte, por agora, ou para sempre, essa questiúncula. São farpas passadas, contas de outro rosário. Falemos de bola.
(Eu sei que muito raramente falei de bola aqui. E sei, também, que estou a anos luz da elevada instrução futebolística de que padecem os CAA e os maradonas deste mundo. Ainda assim, arrisco. Sempre apreciei espalhar-me ao comprido e as vestes de palhaço até conferem cor à minha esverdeada tez.)
Mal que perguntem: nunca falei de bola porquê? O facto de ser do Sporting, explica, em parte, o emudecimento. Esperar dezoito anos por um campeonato deixa marcas profundas. Houve quem tivesse digerido o facto tornando-se «especialista». Outros optaram por extravasar e gritar por forma a expulsar os demónios e o acidental perdigoto. A chamada catarse. Ou evacuação não-escatológica. Nada que um psicólogo não aconselhe. Pois comigo não foi assim. Sofri em silêncio, dando azo a uma série de patologias, de entre as quais se destacam uma úlcera péptica (tratada felinamente a pratinhos de leite, como me ensinou Nelson Rodrigues) e surtos cíclicos de acne juvenil. A outra razão prende-se com outro facto: sempre fui um betinho. E como betinho dediquei-me, de alma e coração, a desportos superiores, dignos, finos. No meu caso, o ténis – desporto, por excelência, e até há bem pouco, de betinhos (
not anymore). Se, ao longo destes anos, me tivessem pedido para escrever sobre ténis, teria tido o imenso prazer de vestir o casaquinho de «especialista» e carregar o semblante de certezas e pesadas e científicas elucubrações. Mas não. O ténis, ao contrário do futebol, comove muito pouca gente. Não levanta «bruás», não incendeia bancadas, não promove os instintos mais primários. Mas, Deus meu!, o que eu teria gostado de falar sobre: a) a brutal importância da diferenciação entre a pega de direita e a pega de esquerda, na preparação da respectiva pancada; b) por que razão é importante levantar a cabeça da raquete no
volley, mantendo-a sempre à frente e à altura da tromba, e nunca, mas nunca, preparar o swing como se se estivesse no fundo do court; c) a razão porque o lançamento da bola antes da pancada de serviço é tudo (ou quase tudo); d) o diferente efeito de rotação do tronco caso a esquerda seja executada a duas mãos; e) a razão porque os grandes tenistas conseguem saltar e não falhar apesar de ser estritamente proibido bater a bola com os pezinhos no ar; f) o problema de estilo da Kournikova (estilo de ténis, entenda-se); g) a direita e o serviço de Federer; etc. Mas não. Não deu. Não dá. Falemos, por isso, de bola.
Sei umas coisitas sobre futebol. Não muitas, é certo. Sei, por exemplo, que o Hugo Viana tem a curiosa tendência para colocar em órbita satélites artificiais que se assemelham bizarramente a bolas de futebol (os chamados «esféricos»). Sei que o Carlos Martins está a pouquíssimos gramas de ter de consultar o Dr. Tallon. Sei que o Sr. McCarthy tem feito os possíveis e os impossíveis para que alguém note o erro de
casting que foi transfigurá-lo em jogador de futebol em vez de
kickboxeur. Sei que o Pedro Barbosa é um excelente jogador mas que, por vezes, me obriga a confirmar se, por acidente, terei carregado no botão do
slow motion. Sei que o Moutinho (não confundir com Mourinho) é valor seguro futuro e que, neste último jogo, alguém a certa altura ensaiou com ele uns passinhos de tango. Sei que o Ricardo, como guarda-redes, me põe os nervos à flor da pele, mas também sei que o Baia já não assusta ninguém a não ser os adeptos do FCP que sejam minimamente lúcidos. Sei que, apesar de ter sido um jogo medíocre, o Sporting mereceu ganhar. Sei que o Couceiro tem boa pinta, coloca bem a voz mas é um péssimo orador, capaz de soltar aos ventos frases ininteligíveis. Mas tudo isto, meus caros, são minudências quando comparadas com outra coisa que eu sei: como me fartaram de avisar nas cadeiras de Estatística e Econometria, essa coisa da «correlação» é deveras interessante, até mesmo no mundo da bola. Quando falo em «correlação» lembro-me do caso Apito Dourado, da arbitragem portuguesa pós-Apito Dourado e dos resultados de certas equipas. Só que de forma diferente da de CAA. Aqui vai, então, a bujarda/resposta ao caro CAA, invocando, para tal, Dom Vitorino, o Desejado: habituem-se. Habituem-se a ver os jogadores do FCP serem expulsos quando fazem por isso. Habituem-se a assistir à «punição» dos clubes que praticam, por hábito ou estratégia transitória, um futebol a modos que «caceteiro». Pensem antes que a normalidade é um campeonato assim. Não o contrário. Não como no passado.
Deal with it. E, já agora, percam a pesporrência de chamar os outros de «idiotas úteis» como se qualquer vitória sobre o FCP fosse sinónimo de excesso de zelo da arbitragem ou como se o FCP fosse o único clube capaz de perseguir e ombrear com um Benfica igualmente medíocre (apenas um nadinha menos medíocre - seis pontos - que o Sporting e o Porto).
Finalmente, lembrem-se de uma máxima do futebolês: «quem não marca ou faz por marcar, arrisca-se a perder».