O MacGuffin: março 2005

quinta-feira, março 31, 2005

Stop the break...

para anunciar que a mui nobre e eborense livraria Som das Letras (dos queridos amigos Luis & Anabela) trataram de organizar a apresentação pública do livro "Portugal, Hoje - O Medo de Existir" de José Gil, com a presença de Olivier Feron, professor do Departamento de Filosofia da Universidade de Évora, e de António Guerreiro, jornalista do Expresso. Ah, claro, e José Gil.

Quando? Dia 14 de Abril, quinta-feira, às 18h 30m.

Onde? No Palácio D. Manuel (ao Jardim Público). Em Évora.

(Back to the pause)

Parar

Vou parar. Por tempo indeterminado (ok, são apenas três ou quatro quatro ou cinco dias, está bem?).

PS: enquanto isso, não percam a rubrica que o Professor Francisco M. da Silva me dedica "Bandas britânicas dos anos 90 subvalorizadas" (até agora irrepreensível).

quarta-feira, março 30, 2005

Evorafórum

Pois lá arrancou. O Evorafórum. Ao fim de vários meses de gestação (leia-se de muita jantarada e muita reunião pela noite dentro). Trata-se de um movimento cívico de que faço parte. Aberto, claro está, a todos os eborenses de alma e coração (nascidos e vividos ou não em Évora). Pretende apenas (o que se calhar já é muito…) lançar a discussão sobre a cidade e o concelho de Évora. Para isso, propõe-se organizar uma série de actividades com, repito, um único objectivo: suscitar o debate, a troca de opiniões, a controvérsia, a partilha de experiências e de pontos de vista. Nada mais. É claro que, na apresentação pública, a primeira pergunta formulada pelo jornalista foi “O aparecimento do Evorafórum em ano de autárquicas é pura coincidência?”. Um grupo de pessoas dos mais diversos sectores e com várias sensibilidades políticas? “Está bem abelha”, pensou logo o jornalista (e, estou em crer, pensará logo meio mundo). Descansem, meus caros. Aliás, é mesmo isso que se pretende com este movimento (que, com o tempo, tenderá para uma associação de facto): mostrar, de uma vez por todas, que o debate político (e não só) pode dispensar a asserção sectária e divisiva de posições irreconciliáveis e que pode dar-se a partir de uma formulação colectiva da opinião pública. Vai ser difícil fazer entender isso. Vai ser difícil sacudir a poeira e retirar o véu opaco que não tem permitido – por falta de consciência democrática, por falta de pluralidade no debate público, por falta de debate, tão só - que os eborenses se interessem e, uma vez interessados, se sentem à mesa para debater. De cabeça limpa. Olhos nos olhos. Mesmo que seja um parco contributo, valerá sempre a pena. Ou não?

Da liberdade de imprensa

“(…) Recordo uma observação em Tácito sobre os romanos no tempo do Império, de que eles nem toleravam a escravidão total, nem a liberdade total, Nec totam servitutem, nec totam libertatem pati possunt. Um célebre poeta traduziu essa observação aplicando-a aos ingleses na sua viva descrição da política e do governo de Isabel:

Et fit aimer son joug a l’Anglois indompté,
Qui ne peut ni servir, ni vivre en liberte.

Henriade, livro I

De acordo com essas observações, consideraremos o governo à época dos imperadores como uma mistura entre despotismo e liberdade, com prevalência do primeiro; e o governo inglês, como uma mistura do mesmo género em que predomina a liberdade. Conforme a observação precedente, a consequência que se deve esperar de formas de governo mistas como essas é o surgimento de cautela e desconfiança entre as partes constituintes. Alguns imperadores romanos estão entre os mais terríveis tiranos que já desgraçaram a natureza humana, e é evidente que a sua crueldade era incitada principalmente pela desconfiança; pois observaram que não agradava aos homens notáveis de Roma o predomínio de uma família que até então não era, sob nenhum aspecto, mais eminente que as suas próprias. Por outro lado, como a parte republicana do governo prevalece na Inglaterra, ainda que com uma grande mistura de monarquia, ela é obrigada, para a sua própria preservação, a vigiar os magistrados com desconfiança, a privá-los de todos os seus poderes descricionários e a assegurar a vida e a fortuna de cada um por meio de leis gerais e inflexíveis. Nenhuma acção que a lei não determina claramente como criminosa pode ser considerada como tal; nenhum crime pode ser imputado a um homem senão por meio de uma prova legal apresentada aos que o julgam; e, como tais juízes devem ser seus consúditos, o seu próprio interesse obriga-os a manter um olhar atento sobre as transgressões e violências dos ministros. Disso resulta que há na Grã-Bretanha muito mais liberdade, e talvez mesmo mais licenciosidade do que havia escravidão e tirania em Roma.
Esses princípios explicam a grande liberdade de imprensa neste reino para além do que se permite em qualquer outro governo. Apreende-se que o poder arbitrário se instauraria entre nós se não tivéssemos o cuidado de impedir o seu progresso: e não há método mais simples para isso do que soar o alarme de uma ponta à outra do reino. O espírito do povo deve ser frequentemente instigado para frear a ambição da corte; e o temor que daí resulta deve ser empregado para impedir essa ambição. Nada é tão eficaz para esse propósito quanto a liberdade de imprensa, pela qual toda a erudição, engenho e génio da nação são empregados em prol da liberdade, mobilizando todos em sua defesa. Assim, enquanto a parte republicana do nosso governo for capaz de se opor à monarquia, é natural que esta última tenha o cuidado de manter a imprensa livre, dada a sua importância para a sua própria preservação.
Deve-se entretanto admitir que a liberdade ilimitada da imprensa, ainda que seja difícil propor um remédio adequado a ela, é um dos males atinentes às formas mistas de governo.”


David Hume in Ensaios Políticos (Martins Fontes 2003)
(a partir de Essays and Treatises on Several Subjects. In Two Volumes, vol. I, “Containing Essays, Moral, Political and Literary”, Londres e Edimburgo 1772)

"Incontornável"

como agora se costuma dizer. Eis a revista Atlântico:



Atlântico: Uma revista de reflexão e debate.

Um revista com histórias, com ideias, com o outro lado das histórias.

Neste (dia 31) número será assim:

JOSÉ SÓCRATES NA ILHA DA PÁSCOA, RUI RAMOS

NARCISISMO INTELECTUAL, PAULO TUNHAS

A GUERRA QUE A AMÉRICA NÃO QUIS GANHAR, LUCIANO AMARAL

PERFIL DE ORIANA FALLACI, POR HUGO GONÇALVES

e ainda opinião de VASCO RATO, JOAQUIM AGUIAR, MANUELA FRANCO, JOÃO MARQUES DE ALMEIDA, VÍTOR BENTO, ANTÓNIO ARAÚJO, MARCELLO MATHIAS, MANUEL DE LUCENA, ALEXANDRE SOARES SILVA

mais REPORTAGEM: O GANG DA PLAYSTATION, COMIDA DE HOMEM, FORRÓ NO TEJO, ESTILOS: I'M TOO SEXY FOR MY GLASSES, CINEMA: ACTORES QUE IMITAM HERÓIS, “DOIS ESTRANHOS” UM CONTO INÉDITO DE JOÃO TORDO

Todos os meses.

Da musiquinha no blogue

Sobre a questão da musiquinha ambiente nos blogues, o Nuno tratou de abrir as hostilidades com um «manifesto» contra a «epidemia»:

”Há uma nova epidemia que grassa na blogosfera: a da musiquinha no blogue. Eu, para não estar com coisas, odeio. Nessas matérias sou muito Livro de Eclesiastes (ou Byrds, se preferirem): há um lugar e um tempo para tudo. O computador sujeito à banda sonora alheia - por melhor que seja , e nos blogues que frequento, é -, mesmo com a opção do stop, não deixa de ser irritante. O bom gosto, quando se espalha, não deixa de ser epidémico; e não gosto de epidemias.
Não se leia nisto qualquer tentação totalitária - por mim, venham os comentários semióticos sobre peúgas a lavar ou a publicação detalhada do almoço ingerido por cada autor. Estou-me nas tintas, e este é o meio que tem a liberdade como definição. Mas francamente, partilha por partilha, prefiro o silêncio tonitruante das palavras de cada um. I blame it on you, Char!”
.

Esta «Char» é a nossa Bomba Inteligente, uma das percursoras do movimento, que tratou logo de ripostar:

”Nuno, tenho as colunas do computador sempre desligadas. Parece-me que se trata de um caso de sentar e esperar que o entusiasmo pelo brinquedo novo passe. Pode demorar uma semana, um mês, um ano... e sabe-se lá os danos que entretanto causará. Dedico-te Human Nature, de Michael Jackson. E isso bem alto!”

Lamento, meus caros, mas vou ter que dizer isto: deal with it. Pode ser, de facto, muito «irritante», mas a blogosfera é isto: um espaço de livre acesso e de liberdade - democrático e democratizador no que aos gostos e às «tecnologias» diz respeito - vedado a exercícios elitistas ou a exclusivos estilísticos ou formais. Eu conheço o Nuno e sei que não há naquele corpo uma só célula com tendências totalitárias. Mas, sem querer, o Nuno acaba por veicular uma opinião um tanto ou quanto jactante e blase. O caso da musica ambiente nem sequer é, aliás, um «caso» ou um «problema». É só carregar no stop. Simples.

Também não me parece de bom tom afirmar o que afirmou a Charlotte. Há coisas que se fazem mas que não se dizem. A Charlotte foi das primeiras na blogosfera a fazer uso desse «expediente». O seu intuito era, é, o de dar música (no sentido nobre) aos seus leitores. Mais uma vez: quem quisesse ouvia, quem não quisesse escolhia o «stop». Ao dizer - agora que a «ralé» tratou de «massificar» a coisa - que tem as colunas do seu computador desligadas, a Charlotte resvala perigosamente para a sobranceria. É um pouco como gostar de dar música aos outros mas não admitir que os outros lhe dêem música de volta, ou porque é «chato», ou porque já são muitos, ou porque a ideia até foi minha e tal. Eu sei que não foi essa a sua intenção, mas o que dirão os que a lêem, incluindo aqueles que enveredaram por colocar música nos seus próprios blogues?

Eu terei sempre todo o gosto do mundo em visitar o Bomba Inteligente, quer haja ou não música. Se a música marcar presença, a primeira coisa que farei é saber se me agrada e se estou com paciência para tal. Se assim for, escutá-la-ei com o maior prazer. Caso contrário, «stop». Mais uma vez, simples.

Repito: onde está o problema? Ao Nuno e à Charlotte dedico o Chelsea Hotel, do mestre Leonard Cohen. E um abraço a ambos.

terça-feira, março 29, 2005

Retrato de um país em jeito de parábola (sem mais comentários)

Notícia Expresso:

“O Ministério da Agricultura emprega um funcionário por cada quatro agricultores. Luís Vieira, secretário de Estado da Agricultura, reconhece que o número de funcionários é elevado mas diz que não está prevista qualquer redução. «Um dos combates do Governo é o da redução do desemprego, por isso não queremos nem podemos contribuir para o seu aumento», explica Vieira. Há 500 mil agricultores no nosso país, mas destes apenas 50 mil fazem da agricultura a sua principal actividade. O Ministério tem 12.500 funcionários, dos quais metade (6.250) está em Lisboa.”

Notícia Vida Económica:

“Tributação em cascata agrava utilização profissional do automóvel. A tributação em cascata faz com que o custo fiscal de um automóvel ligeiro de passageiros atinja os 70% do valor-base de compra. Em Espanha, essa pressão fiscal não existe: tratando-se de veículos com utilização profissional, o IVA é dedutível, mesmo nos ligeiros de passageiros, e os custos são considerados a 100%, não havendo tributação autónoma de IRC, como acontece em Portugal. O tratamento fiscal nas despesas com veículos cria às empresas portuguesas um problema sério de competitividade face à concorrência externa.”

Parabéns

Ao A Montanha Mágica pelo seu segundo aniversário blogosférico. Vai directamente para os 'Muito Cá de Casa' sem direito a passar pela casa 'partida'.

sexta-feira, março 25, 2005

Anuncio de nova 'secção' seguido de comentário

1. Na sidebar do blogue poderão agora encontrar uma nova secção a que dei o originalíssimo nome de Jukebox. Objectivo: actualização doutrinária. Com esta secção pretendo preencher grave lacuna expressiva e formal, dando ares de emissário e especialista em Novas Tecnologias (como se sabe, premissa agora institucionalizada para se aceder à felicidade e à prosperidade).

Caso não queiram escutar o clip mp3 (reparem como eu aderi ao jargão do meio), por não gostarem da escolha ou por estarem bestialmente fartos das musiquinhas ambiente que por estes dias invadem a blogosfera, carreguem no botão stop. Será remédio santo.

2. Este «tipo» lembrou-se de colocar no mesmo saco bandas como os Oasis, os Blur e os Pulp, considerando-as, por atacado, “uma bela porcaria”, não sem antes as achar fruto da mão (in)visível do New Musical Express. Em primeiro lugar, juntar os Oasis aos Blur e aos Pulp é mais ou menos o mesmo que juntar o Adrian Lyne ao Wes Anderson e ao Terry Zwigoff. Que os Oasis tenham sido “uma bela porcaria”, assino por baixo. Os Oasis foram, aliás, o mais paradigmático caso de megalomania (julgavam-se, ou julgaram-nos, uma espécie de Beatles de fim de século) aliada à mediocridade na música pop. Dizer o mesmo dos Blur ou dos Pulp é que me parece uma heresia (os Pulp ainda menos que os Blur, uma vez que Jarvis fez até questão de parodiar o star system). Em segundo lugar, é verdade que o New Musical Express (NME) apadrinhou muita porcaria ao longo destes anos, mas também é verdade que apoiou e ajudou a lançar e a conhecer bandas que não foram, nem são, propriamente uma «porcaria» (salvo opinião contrária devidamente fundamentada): My Bloody Valentine, House Of Love, Stone Roses, Radiohead, Divine Comedy, Primal Scream, grande parte dos grupos da 4AD, etc. etc. (se quiseres vou ao sótão desempacotar as caixas onde guardo os NME da época). Portanto, caro Rui, calminha no Brasil. Nem sequer acho justo comparares os Stone Roses aos Pulp pela simples razão de serem bandas com estilos, posturas e objectivos distintos, ainda que dentro da pop. Eu acho que, dentro do respectivo «género», portaram-se muitíssimo bem.

E agora que já aprendi

a pôr musica no blogue (obrigado Charlie), dedico esta à Ana (carregar no play):


Um abraço, Francisco

Para quem acha os Oasis a mais subvalorizada banda de sempre, nada melhor do que um tónico (carregar no play):



Common People
She came from Greece she had a thirst for knowledge, she studied sculpture at Saint Martins College, that's where I caught her eye. She told me that her dad was loaded, I said "In that case I'll have a rum and coca-cola", she said "Fine" and in 30 seconds time she said "I want to live like common people, I want to do whatever common people do, I want to sleep with common people, I want to sleep with common people like you". Well what else could I do, I said "I’ll see what I can do." I took her to a supermarket, I don’t know why but I had to start it somewhere, so it started there. I said "Pretend you’ve got no money", but she just laughed and said "Oh you’re so funny", I said "Yeah. Well I can’t see anyone else smiling in here." Are you sure you want to live like common people, you want to see whatever common people see, you want to sleep with common people, you want to sleep with common people like me. But she didn’t understand, she just smiled and held my hand. Rent a flat above a shop, cut your hair and get a job. Smoke some fags and play some pool, pretend you never went to school. But still you’ll never get it right ‘cos when you’re laid in bed at night watching roaches climb the wall, if you called your dad he could stop it all. You’ll never live like common people, you’ll never do whatever common people do, you’ll never fail like common people, you’ll never watch your life slide out of view, and dance and drink and screw, because there’s nothing else to do. Sing along with the common people, sing along and it might just get you through. Laugh along with the common people, laugh along even though they’re laughing at you and the stupid things that you do, because you think that poor is cool. Like a dog lying in a corner they will bite you and never warn you. Look out they’ll tear your insides out. 'Cos everybody hates a tourist, especially one who thinks it’s all such a laugh and the chip stains and grease will come out in the bath. You will never understand how it feels to live your life with no meaning or control and with nowhere left to go. You are amazed that they exist and they burn so bright whilst you can only wonder why. Rent a flat above a shop, cut your hair and get a job. Smoke some fags and play some pool, pretend you never went to school. Still you’ll never get it right ‘cos when you’re laid in bed at night watching roaches climb the wall, if you called your dad he could stop it all. You’ll never live like common people, you’ll never do what common people do, you’ll never fail like common people, you’ll never watch your life slide out of view, and dance and drink and screw because there’s nothing else to do. I want to live with common people like you, etc.

quinta-feira, março 24, 2005

Fizeste-nos ver a Luz, Ó Francisco

Gostei Francisco. Só mesmo uns toscos insensíveis se atrevem a escolher o que não pode ser escolhido. Claro que não passou de um pretexto para falar sobre os Pulp, uma banda que, até à data, julgávamos venerar (estupidamente como agora nos fizeste perceber).

Já devíamos saber que há sempre quem apareça armado em puro e arrogando-se de ser o «verdadeiro presidente da junta», i.e., o verdadeiro e genuíno fã, i.e., «quem gosta verdadeiramente». Os outros? Um bando de ignaros e foleiros que, vejam só, se «atrevem a escolher» (que horror!)

Sim, amigo Francisco: nós não gostamos dos Pulp. Andámos enganados este tempo todo. Qualquer informação sobre Jarvis e companhia, remetê-la-emos para ti. Va bene?

Ora toma

Apesar de não me ter(em) parabenizado, faço questão de o(s) parabentear. Parabéns ao Fora do Mundo pelo primeiro aniversário (uns putos, são o que são).

57 anos, ?

Na ficha técnica do filme A Cara que Mereces, no Público, o nosso Ricardo Gross teve direito a link. Conclusão? O Ricardo andou a enganar meio mundo com a sua falsa identidade. Ricardo Gross e Richard Gross são, afinal, uma e a mesma pessoa. Consta que ”Richard was born in Pittsburgh, PA in 1948. His mother was a Welsh immigrant and his adoptive father was a native of Pittsburgh. Richard moved to Los Angeles with his family in the early 60's and he graduated from Lennox High School. Richard went on to earn his BA in Theatre Arts from Cal State Dominguez Hills. He moved his family to Grass Valley, CA in 1979 and was active with the Foothill Theatre Company, a regional theatre in Nevada City. Richard came back to Los Angeles in 1991 to resume his TV/Film career. He still maintains his Northern California residence with his wife, Judy and their daughter Alexis. Richard and Judy have two other sons, Matthew and Justin.

Caro Ricardo: há muito que desconfiava da tua dupla personalidade, mas olha que esses 57 anos estão muito bem conservados.

João Miranda

No Blasfémias:

"Proposta de pergunta para o referendo ao aborto:
Já está farto de ouvir falar no aborto, pagava qualquer coisinha para calar o Francisco Louçã, Ana Drago e o Don Duarte Pio e até está disposto a colocar os princípios de lado para que não se volte a falar no assunto?
PS - Os referendos ganham-se pelo cansaço."

Nova blogaria (bom, pelo menos para mim)

Comentários #2

Por mail, do Elefante:

Caro Mac,
Acho um bocado idiota comentar aquilo com que concordamos sem reservas, mas sublinho, pronto.
No tempo em que saía o
single do Common People, decorria a conveniente guerra pop Blur vs Oasis. Lembro-me de ter lido algures que os Oasis se levavam demasiado a sério, que os Pulp nunca se levavam a sério e que os Blur seriam a medida certa destes dois. Assim sendo, os Pulp estavam desde logo afastados de qualquer tipo de combate ‘sério’. O que estas almas nunca entendem é que a pop não é para se levar a sério, pelo menos (ou sobretudo, agora nem sei bem) por quem a toca. O objectivo da pop, ou pelo menos o que eu procuro, são canções (e refrãos, outra conversa, e também igualmente difícil). Por qualquer razão criou-se uma ideia de que isto é fácil. Música boa, bem tocada ou harmonicamente impecável não deve ser fácil de fazer, mas raramente foi o mais importante de uma boa canção pop, e não tenho dúvidas que uma das regras é um gajo não se levar a sério.

Isto é, um tipo tem que saber que não está a fazer nada melhor do que ninguém, mas está a seguir o caminho mais simples para chegar a um objectivo. Por muito que me custe a engolir poucos houve que o fizessem tão bem como os Beatles. Os Pixies sabiam perfeitamente como chegar lá, mostraram-no e nunca o fizeram. Os Nirvana, acredito, queriam muito chegar lá e nunca o conseguiram. Os Pulp faziam-no com grande facilidade e fizeram-no algumas vezes. Os Blur devem tê-lo conseguido uma vez, e não com o Boys and Girls. Os Oasis pensavam que tinham uma fórmula, mas a verdade é que ainda não há. Há dezenas de outros exemplos bem e mal sucedidos, bem como exemplos de quem não quer nada disto. A verdade é que chegar lá é questão de intuição. E ouvir muita música. Como no jazz, em que o mais importante é ouvir. (a propósito, e estando o jazz nas antípodas da pop aqui e ali, diria que o Caravan do Duke Ellington é uma excelente música pop).

É melhor parar. Ia só acrescentar que é importante entender o que é isto de ‘se levar a sério’. Para não sair dos exemplos que já cá estão, os Oasis nunca se levaram a sério no que é realmente importante e por isso têm este fim triste. Os Pulp entenderam qual é a única altura em que um gajo não se deve levar a sério.

Acho sinceramente que o
Babies é uma música mais bem feita que o Common People. Deu mais trabalho e, apostava, mais gozo a fazer e a tocar. Mas o Common People é uma canção sem mácula, que nos agarra logo e que parece feita de propósito (as músicas nunca são feitas de propósito). Voto para melhor canção dos Pulp, que são, é lógico, a banda pop mais subvalorizada de todos os tempos. É música que se há-de ouvir daqui a muitos anos e sem ter sido levada ao colo.

PS: Já agora, caro Elefante, o Caravan é, de facto, sublime. Perfeito. Um clássico absoluto da pop, do jazz, da clássica, etc. Oasis? A mais sobrevalorizada banda pop de sempre.

Comentários #1

No A Ágora:

“Lamento, mas na minha modesta opinião não têm razão. Porquê Babies, porquê Common People, se teremos sempre Disco 2000, simplesmente uma das mais grandiosas criações de todos os tempos da música pop? Então Deborah, os seus desencontros e atribulações não lhes dizem nada? Oh, céus.”

Absoluto

O País Relativo acabou. Não, o blogue. Apesar de nunca me terem ligado «peva», levam daqui um abraço.

quarta-feira, março 23, 2005

Pulp!

Passo a expor a questão. O maradona (vá, toma lá um link) acha que a melhor canção dos Pulp dá pelo nome de Common People. Vacilo. Estou tentado a concordar. Common People é genial. Mas depois… bem, depois lembro-me de Babies. Sim, Babies é melhor. Dou de barato que a letra de Common People é magnificente e que a de Babies lhe fica (ligeiramente) atrás. Mas como o biltre nunca ligou a letras (e eu estou na disposição de aceitar esse critério), ainda mais convencido fico da minha razão. Ainda assim, estamos de acordo num ponto: ambos achamos que, provavelmente, os Pulp são a mais subvalorizada banda pop de sempre. Comentários, anyone?



Da bola

Via blogue do sr. maradona (não faço link porque me esqueci de como se faz), deparo com um post do Carlos Abreu Amorim (lembrei-me agora) sobre o jogo Sporting-Porto. Reza assim este pitoresco ensaio humorístico:

BEM HAJAM srs. DA ARBITRAGEM E COMISSÃO DE DISCIPLINA
Parabéns aos "encarnados" pelo campeonato que tão bem lhes foi oferecido. Só espero que na próxima época equipem de preto em homenagem aos seus benfeitores.
P.S. O Sporting fez aqui a figura do "idiota útil" - não se iludam, o campeonato já está (mal) entregue, mais expulsão menos penalty...


O assunto morreria aqui caso o nosso Carlos Abreu Amorim (CAA) nos dissesse que, no preciso momento em que escrevia esta pérola, envergava vestes de palhaço. Ou seja, que tinha dedicado uns breves instantes do seu dia à nobre actividade da galhofa. Acontece que não. Parece que CAA estava, e está, a falar a sério. Nestes casos, manda-se perguntar: quem é que este rapaz julga que é para acenar com tamanha falta de fair play? Como se sabe, a falta de fair play só está ao alcance de uma imensa minoria. Ou seja, de uns poucos ilustres. Mourinho, por exemplo. Em Mourinho, a falta de fair play é tolerável. Diria mesmo alegórica. Para quem sabe tanto de futebol, todos sabemos que não passa de pose, encenação, número. Como diria a Zezinha, «nós sabemos que ele sabe que nós sabemos». E vice-versa. Ora, que eu saiba – e admito desde já a possibilidade de estar redondamente enganado – o nosso CAA não é propriamente um «especialista» encartado. É, como tantos, um pseudo-especialista, um «treinador de bancada», um romântico adepto do «desporto rei» (prometo que até ao fim deste post esgotarei os lugares comuns e as frases feitas do circo). Imagino que perceba mais de futebol numa unha do pé do que moi même no corpo inteiro. Mas, como diz o anúncio, «ainda lhe falta um bocadinho assim», seguido do gesto danoniano. A falta de fair play e o défice de «poder de encaixe» revelados por CAA são, no seu caso, de uma outra estirpe. Não é de agora, aliás. Lembro que CAA nunca perdoou os ataques que desferi contra o seu amigo Manuel Monteiro. Mas deixemos de parte, por agora, ou para sempre, essa questiúncula. São farpas passadas, contas de outro rosário. Falemos de bola.

(Eu sei que muito raramente falei de bola aqui. E sei, também, que estou a anos luz da elevada instrução futebolística de que padecem os CAA e os maradonas deste mundo. Ainda assim, arrisco. Sempre apreciei espalhar-me ao comprido e as vestes de palhaço até conferem cor à minha esverdeada tez.)

Mal que perguntem: nunca falei de bola porquê? O facto de ser do Sporting, explica, em parte, o emudecimento. Esperar dezoito anos por um campeonato deixa marcas profundas. Houve quem tivesse digerido o facto tornando-se «especialista». Outros optaram por extravasar e gritar por forma a expulsar os demónios e o acidental perdigoto. A chamada catarse. Ou evacuação não-escatológica. Nada que um psicólogo não aconselhe. Pois comigo não foi assim. Sofri em silêncio, dando azo a uma série de patologias, de entre as quais se destacam uma úlcera péptica (tratada felinamente a pratinhos de leite, como me ensinou Nelson Rodrigues) e surtos cíclicos de acne juvenil. A outra razão prende-se com outro facto: sempre fui um betinho. E como betinho dediquei-me, de alma e coração, a desportos superiores, dignos, finos. No meu caso, o ténis – desporto, por excelência, e até há bem pouco, de betinhos (not anymore). Se, ao longo destes anos, me tivessem pedido para escrever sobre ténis, teria tido o imenso prazer de vestir o casaquinho de «especialista» e carregar o semblante de certezas e pesadas e científicas elucubrações. Mas não. O ténis, ao contrário do futebol, comove muito pouca gente. Não levanta «bruás», não incendeia bancadas, não promove os instintos mais primários. Mas, Deus meu!, o que eu teria gostado de falar sobre: a) a brutal importância da diferenciação entre a pega de direita e a pega de esquerda, na preparação da respectiva pancada; b) por que razão é importante levantar a cabeça da raquete no volley, mantendo-a sempre à frente e à altura da tromba, e nunca, mas nunca, preparar o swing como se se estivesse no fundo do court; c) a razão porque o lançamento da bola antes da pancada de serviço é tudo (ou quase tudo); d) o diferente efeito de rotação do tronco caso a esquerda seja executada a duas mãos; e) a razão porque os grandes tenistas conseguem saltar e não falhar apesar de ser estritamente proibido bater a bola com os pezinhos no ar; f) o problema de estilo da Kournikova (estilo de ténis, entenda-se); g) a direita e o serviço de Federer; etc. Mas não. Não deu. Não dá. Falemos, por isso, de bola.

Sei umas coisitas sobre futebol. Não muitas, é certo. Sei, por exemplo, que o Hugo Viana tem a curiosa tendência para colocar em órbita satélites artificiais que se assemelham bizarramente a bolas de futebol (os chamados «esféricos»). Sei que o Carlos Martins está a pouquíssimos gramas de ter de consultar o Dr. Tallon. Sei que o Sr. McCarthy tem feito os possíveis e os impossíveis para que alguém note o erro de casting que foi transfigurá-lo em jogador de futebol em vez de kickboxeur. Sei que o Pedro Barbosa é um excelente jogador mas que, por vezes, me obriga a confirmar se, por acidente, terei carregado no botão do slow motion. Sei que o Moutinho (não confundir com Mourinho) é valor seguro futuro e que, neste último jogo, alguém a certa altura ensaiou com ele uns passinhos de tango. Sei que o Ricardo, como guarda-redes, me põe os nervos à flor da pele, mas também sei que o Baia já não assusta ninguém a não ser os adeptos do FCP que sejam minimamente lúcidos. Sei que, apesar de ter sido um jogo medíocre, o Sporting mereceu ganhar. Sei que o Couceiro tem boa pinta, coloca bem a voz mas é um péssimo orador, capaz de soltar aos ventos frases ininteligíveis. Mas tudo isto, meus caros, são minudências quando comparadas com outra coisa que eu sei: como me fartaram de avisar nas cadeiras de Estatística e Econometria, essa coisa da «correlação» é deveras interessante, até mesmo no mundo da bola. Quando falo em «correlação» lembro-me do caso Apito Dourado, da arbitragem portuguesa pós-Apito Dourado e dos resultados de certas equipas. Só que de forma diferente da de CAA. Aqui vai, então, a bujarda/resposta ao caro CAA, invocando, para tal, Dom Vitorino, o Desejado: habituem-se. Habituem-se a ver os jogadores do FCP serem expulsos quando fazem por isso. Habituem-se a assistir à «punição» dos clubes que praticam, por hábito ou estratégia transitória, um futebol a modos que «caceteiro». Pensem antes que a normalidade é um campeonato assim. Não o contrário. Não como no passado. Deal with it. E, já agora, percam a pesporrência de chamar os outros de «idiotas úteis» como se qualquer vitória sobre o FCP fosse sinónimo de excesso de zelo da arbitragem ou como se o FCP fosse o único clube capaz de perseguir e ombrear com um Benfica igualmente medíocre (apenas um nadinha menos medíocre - seis pontos - que o Sporting e o Porto).

Finalmente, lembrem-se de uma máxima do futebolês: «quem não marca ou faz por marcar, arrisca-se a perder».

APC

"Even though I'll never need her,
even though she's only giving me pain,
I'll be on my knees to feed her,
spend a day to make her smile again.

As the world is soft around her,
leaving me with nothing to disdain.

Even though I'm not her minder,
even though she doesn't want me around,
I am on my feet to find her,
to make sure that she is safe and sound
to make sure that she is safe from harm.

The sun sets on the war,
the day breaks and everything is new."

"Winning a battle, losing the war", in Quiet Is The New Loud, 2001


terça-feira, março 22, 2005

Não chega liberalizar

Kenneth Lieberthal escreve no FT: ”Because Washington lacks good military options to terminate the North's nuclear programme, those who oppose negotiating a deal are arguing that regime change is the only basis for real resolution of the nuclear issue.” Lieberthal enviou, a posteriore, uma pequena missiva esclarecendo que não é sua a opinião de que a política externa norte-americana preconiza o uso da força para efeitos de mudança de regime, i.e., que Washington não usa a força não por não dispor de opções militares seguras, mas simplesmente porque não é essa a sua política. Seja como for, a opinião de Lieberthal mantém-se: 1) Mudar o regime (pelo uso da força ou não) não garante nada; 2) Nada se garante em perpetuar o regime. Em que é que ficamos, Mr. Lieberthal?

Percebo o ponto de Lieberthal. Assim como percebo o ponto de Robert Conquest. Uma mudança de regime pode resultar em nada. E não é possível fazer o download de um sistema democrático clean, perfeito e modelar, nem sequer esperar, das tentativas já ensaiadas, resultados imediatos e duradouros para consumo interno e/ou da vizinhança (o patético «efeito dominó»). Só mesmo na cabeça de quem se presta a denegrir o Ocidente ou a ímpia administração americana se tomam por adquiridos esses cenários ou essas possibilidades (no caso para provar, claro está, o contrário).

Tudo isto é certo, tudo isto é fado. Outra coisa é, também, certa: a política de appeasement e pró-estabilização, levada a cabo por Washington anos a fio (a expensas, muitas vezes, da democratização de certas zonas do globo), também parece não ter dado frutos. A estratégia de passar a mão pelo pêlo de regimes autocráticos e despóticos (como são a maioria dos instalados no médio oriente), acompanhada da apologia do relativismo cultural e civilizacional, com o intuito de perpetuar interesses económicos e geopolíticos, começa a não convir a ninguém. Apesar de «estúpido», Bush já percebeu isso. A aposta tem de se centrar numa clara via democratizadora e não apenas num modelo «liberalizador». Tanto mais que se começa agora a falar em «autocracias liberais»: em muitos países asiáticos e do médio-oriente, assiste-se à implementação e subsistência de um modelo liberal de sociedade (pelo menos bem mais liberal do que há vinte ou cinquenta anos atrás), onde o associativismo civil, as ONG's e alguma imprensa dita «moderna» se têm vindo a movimentar para gáudio das consciências ocidentais, acompanhando alguma «abertura» de mentalidades e costumes. O problema é que tudo isso se passa, regra geral, sob a conivência e sob o controlo dos próprios regimes que, nunca hipotecando o seu core establishment, são agora adeptos de se fazerem acompanhar de uma aura liberal de «tolerância», «abertura» e Cia. Lda. O caso mais gritante dá pelo nome de Irão: a existência de um sistema judicial absolutamente cínico e cretino ao serviço de poderes obscuros não eleitos e não sujeitos a controlo legislativo fazem do Irão um país que, aos olhos ocidentais, parece caminhar no sentido da «liberalização», embora, na realidade, se mantenham bem intactas as fontes do mais brutal despotismo aliado ao fundamentalismo.

É bom que se perceba que, neste caso, a palavra «democratização» é, e deve ser, bem mais abrangente. Não se trata, apenas, de dar ao povo o poder de escolher. Uma verdadeira estratégia de democratização passa por balizar o poder executivo nesses países, através de reformas constitucionais e do (re)estabelecimento de uma estrutura judiciária independente. A estratégia a seguir é a de garantir que monarcas, presidentes e respectivos acólitos se vejam impedidos de obstruir iniciativas parlamentares (desmantelando as inúmeras câmaras superiores de poder que actualmente anulam ad hoc quaisquer decisões e iniciativas incómodas emanadas dos respectivos ramos legislativos) e institucionalizar estruturas de justiça minimamente independentes que previnam os abusos de poder, persigam a impunidade e promovam a criação e organização de forças democráticas (como são o caso dos partidos, dos media independentes, etc.). Até lá, nada feito. Não chega, por isso, liberalizar.

segunda-feira, março 21, 2005

Dia do pai

Filhota: Pai, que música é essa?
Pai: É jazz, Sofia.
Filhota: Eu sei, pai! Mas quem é?
Pai: É o Duke Ellington.
Filhota: Ah, sim. (pausa) Parece música de filme com polícias e ladrões.
Pai: Isso mesmo.
Filhota: A seguir põe a 5 e depois a 10.
Pai: Deixa acabar a dos polícias e ladrões.


Agradecimentos

sábado, março 19, 2005

2 aninhos

O Contra a Corrente celebra hoje o seu 2.º aniversário.

Agradeço aos meus queridos leitores o facto de me terem visitado 170.000 vezes. E agradeço a todos os blogues que linkaram o Contra e/ou que comigo debateram, ao longo destes dois anos.

Muito obrigado.

sexta-feira, março 18, 2005

Pourquoi es-tu devenue si raisonnable?

Pensar que há dezasseis anos dançávamos que nem loucos ao som dos Wedding Present.

Mexia, Pedro

Nevermore
Nunca mais, disse o corvo.
Mas que sabia o corvo
sobre «nunca» e «sempre»?
Quem sabe se tudo, se era essa
a razão da sua negrura, tendo entrevisto
num voo nocturno o eixo
da roda que de um minuto
para o outro se quebra
e o terno retorno como um
velho relógio que pára entre as onze
e as doze por muitos anos.

Nunca mais, disse, e não precisou
de dizer de novo, porque em breve
o «nunca mais» tomou o sítio
do corvo e aparecia à janela
como uma frase maldita.
E de nenhuma outra sabemos
tão pouco que a confundamos
à noite com a sombra de um pássaro.

in Vida Oculta, Relógio d’Água 2004

A verdade vem sempre ao de cima

Contra a Corrente: 465

A Causa Foi Modificada: 414

Quem é o gajo?

Mal que pergunte: quem será o responsável pela escolha (não diria «tradução») dos títulos em português dos filmes estrangeiros que ao nosso país conseguem chegar?

Gostava de o conhecer. Gostava de o examinar. Inclusivamente, de o animar. É, de certeza, um ser humano amargurado.

PS: Se calhar é uma «equipa». De certezinha.

Nova blogaria (de interesse)

Coerência

Há semanas, my man Saleiro revelou às massas a sua indignação perante a iminente decisão de conceder aos hipermercados uma licença para instalar postos de combustível. My man Saleiro chegou a falar em mortes. Sim, em mortes: se por ali (no hiper) surgisse algum contratempo - por exemplo, se um pobre desgraçado deixasse cair uma caixa de fósforos acabadinha de adquirir no hiper, de onde saltaria um rebelde e pirotécnico ámorphus que, por sua vez, embateria violentamente numa superfície abrasiva onde já estaria a jeito uma poça de combustível derramada por um cliente que tinha acabado de emborcar uma grade de cervejas Cintra, adquirida no duvidoso hiper, provocando, assim, uma faísca de proporções dantescas – tudo iria pelos ares. “Eu nem quero pensar no que poderia acontecer!”, parecia confessar-nos o ilustre Saleiro, só por acaso Plesidente da Associação Naciona de Levendedoles de Combustíveis (vulgo «gasolina»).

Pois o mesmo António Saleiro vem agora dizer-nos que os proprietários de postos de combustíveis querem entrar no negócio da venda de medicamentos. Saleiro congratulou-se com a decisão anunciada pelo Governo de José Sócrates, mas não aceita (isso é que era bom!) que a medida se restrinja às grandes superfícies. Diz Saleiro que “temos a melhor rede de distribuição do país, com pelo menos um posto de combustível em cada concelho”(sic).

Ó homem, e se em vez da grade de cervejas Cintra, o homem decide emborcar uns Valiums porque a sua devota e insuportável esposa bovariana passou o dia todo a pedir-lhe uns euróis para comprar um tailleur Fátima Lopes? O perigo não será iminente?

Acho bem e, já agora...

Vítor Constâncio: “neste contexto, é de esperar, por exemplo, que os impostos sobre veículos e combustíveis tenham que funcionar, nas presentes circunstâncias, como alternativa às portagens, uma vez que o sector rodoviário deverá pagar grande parte das infra-estruturas que utiliza”.

A ver se percebi: o socialista Constâncio acha que, para manter as SCUTs, a generalidade dos portugueses deve contribuir, via impostos, para que alguns miseráveis possam usufruir de um serviço rodoviário gratuito, contribuindo, en passant, para «compensar» os custos da maldita interioridade. Essa coisa do utilizador-pagador não convence, portanto, Constâncio. O que se pretende é, aliás, simples: eliminar aqui as excrescências para além suprir a falta. Proposta caridosa, esta.

Acho bem. O Imposto Automóvel ainda é uma coisa muito pouco explorada. Eu sei que mais nenhum país da UE o pratica (fazendo com que os carros sejam mais baratos em Espanha, França, Bélgica, Alemanha, Holanda, Itália, etc. etc.), mas estou em crer que se trata de mais uma prática pró «justiça social». O facto de, actualmente, uma família portuguesa pagar mais de 1.400 contos de Imposto Automóvel (incluo já o efeito do IVA porque, no país da justiça fiscal, o cidadão português paga IVA de um imposto) se quiser comprar, por exemplo, uma carrinha Opel Astra 1.7 diesel para transporte da famelga, é coisa que não comove ninguém. Já não falo nos casos mais óbvios: o facto de um qualquer chico-esperto armado em alarve pagar mais de 5.000 contos de Imposto Automóvel (mais o IVA sobre o Imposto Automóvel e sobre o valor do bem) se se quiser aventurar na compra de um Porsche 911, só pode ser visto como um castigo justo para quem, de certezinha, andou a enganar este mundo e o outro (por onde se passeiam o Dr. Rosas e o Dr. Louçã) para poder comprar um Porsche. É bem feita!

Para o socialista Constâncio, o facto de, em média, 30% do valor de uma viatura responder pelo nome de Imposto Automóvel, é uma situação tão normal, mas tão normal, que só há uma coisa a fazer: explorar essa margem de «normalidade» até ao limite (se é que há limite), agravando o imposto para tapar uns buracos aqui, outros acolá.

Acho bem. E, já agora, não seria possível lançar um imposto sobre a venda de bilhetes de cinema nos grandes centros urbanos para compensar e inverter a merda de programação dos Alfa-Lusomundo da cidade onde pernoito e insisto em viver? É que a interioridade não é só para os automobilistas.

quinta-feira, março 17, 2005

Matutino

E o blogue da querida Ana fez dois anos. Muitos parabéns. E, já agora, obrigado.

Mesmo

Este rapaz (amigo e cúmplice de longa data) falou comigo ao telefone e disse: “Épá, tu és mesmo alentejano!”. Não escondo aquilo que sou. Não adquiri modos e timbres nova-iorquinos, meu caro. Nascido, estudado e vivido em Évora, sou um alentejano de gema. Dos genuínos. Tenho, inclusivamente, um selo na nádega esquerda a atestar a «denominação de origem controlada». O meu pai até à fecundação e a minha mãe até ao momento do parto, só se alimentaram de comidinha biológica (naquela altura não havia outra, coitados) arrancada às terras alentejanas por mãos puras e inocentes. Sem nunca terem ouvido os conselhos do brigadeiro e general Jack D. Ripper, souberam enveredar pelo bom senso de só beberem água de poços e lençóis freáticos de região demarcada. Até à idade adulta, nunca me levaram ao estrangeiro. Já dono da minha vida, procurei, também, evitar o contacto com forças exógenas impuras. Vivo, actualmente, numa coutada. Como vês, sou mesmo alentejano. Se quiseres, mando-te fotografia. Pensando melhor, o melhor mesmo é pagar-te um almoço no Fialho. Que dizes tu, Ó alentejano tresmalhado?

O bode expiatório do costume

Na Coreia do Norte, morre-se à fome. Milhares de coreanos definham sem nada para pôr na boca. Como diria o jovem Bernardino, as democracias não são perfeitas. É. E, bem vistas as coisas, a culpa é do capitalismo – esse monstro acéfalo extra-terrestre que não pára de corromper a alma humana. Foi tudo explicadinho, há tempos, por uma jornalista da Antena 1, quando relatava a fome na Coreia do Norte. Segundo a jornalista, a fome tinha como causa a aplicação de um modelo capitalista e de uma economia de mercado ao sector agrícola norte-coreano. O liberal regime norte-coreano e o facto do Sr. Kim ter em muito má conta o 5.º mandamento não foram sequer referidos. Pormenores sem a mínima importância.

Esclarecimentos

Meu caro José: "[A]s políticas proteccionistas a norte e a reprodução de um modelo de "cooperação" que privilegiou os interesses político-económicos dos países doadores têm sido sistematicamente defendidos pelos diversos poderes políticos no seio dos países mais desenvolvidos"? Claro que sim. Neste caso, não há lugar a dicotomias esquerda vs. direita: todos foram e são coniventes. É absolutamente imoral a forma como as políticas proteccionistas dos países desenvolvidos subvertem totalmente a bravata que os mesmos apregoam ao nível da «cooperação» e das «ajudas» (sejam elas humanitárias ou não). É dar com uma mão e tirar com a outra. É como dar a esmola ao pobre mas não deixar que ele prospere com o uso dessa esmola. Ou, então, é pedir de volta a esmola por outras vias. Só chamei à colação a esquerda porque a esquerda, mais do que a direita, tem tido alguma dificuldade em perceber o que está em jogo. Refastelada no conforto que, a ocidente, os modelos «proteccionistas» lhe proporcionam, a esquerda dificilmente aceitará pagar o preço que permitirá mudar as coisas. Caminhar para a liberalização das trocas comerciais entre o primeiro e o terceiro mundo (coisa que não colide, em termos de princípio, com o ideário liberal de direita) vai indubitavelmente abanar o seu modelo de desenvolvimento, que se baseia na defesa intransigente do «emprego». Gostaria de ver até que ponto a esquerda se comportaria confrontada com as consequências dessa «abertura» e dessa alteração de políticas. Seria a primeira a sair à rua para infamar o «neoliberalismo», o «capitalismo» e os mafarricos da praxe. Foi a isso que me referi, José. Isso não significa que eu ache que a direita é uma santa nesta matéria. Eu só acho que o choque e o pavor se vão fazer sentir bem mais do outro lado.

Cerume?

Freitas do Amaral falava ontem aos jornalistas. Explicava as razões do silêncio e da putativa mudança de opinião sobre as relações transatlânticas - alegando que "as atitudes mudam muito com as alterações das circunstâncias" - quando, a meio da conversa franca, e perante as câmaras e os alunos, o professor levou o dedo mindinho da mão esquerda na direcção da expansão lamelar que constitui a parte externa do ouvido externo (vulgo «orelha»), tendo o mesmo penetrado, num movimento contínuo, o denominado pavilhão auricular para, daí a segundos, se retirar com qualquer coisa apensa, facto que levou o Ministro dos Negócios Estrangeiros, num assomo de honestidade intelectual, a baixar os olhos para observar que tipo de partícula ou objecto se tratava (podia ser, por exemplo, um microscópico microfone espião, um besouro ou um simples e tranquilo naco de cera), acção a que se juntou, de imediato, a mão direita para efeitos de removimento. E digo mais: temos homem.

Woody

Woody Allen em entrevista ao FT:

“I found that out years ago. I had come home after people said, ‘Oh this movie is so brilliant.’ And I’d still be at home lonely, and still be obsessed that I think I have a brain tumour, or that I’m unable to get a date with a girl. And equally when I’d come out with a movie and everyone said, ‘It’s terrible, it’s a failure,’ it didn’t mean a thing. Next morning I’ll be out on the street and nobody said, ‘You can’t come over to my house!’ If you’re doing something for six months at a stretch like making a film, the work has to be fun for its own sake. If it isn’t, you’d better re-examine your life.”

“FT: What artwork would you take to a desert island?
Woody Allen: An album of jazz.
FT: Not the Sistine Chapel? War and Peace?
Woody Allen: No. How many times can you read War and Peace? And the Sistine Chapel is worth a look, then it’s over. But music enters you through different openings, it’s so purely pleasurable. I’ve listened to some albums over and over, literally hundreds of times, with tears in my eyes.”


quarta-feira, março 16, 2005

APC


Misread
Kings Of Convenience
"If you want to be my friend,
and you want us to get along
please do not expect me to wrap it up
and keep it there.
The observation I am doing
could easily be understood
as cynical demeanour,
but one of us misread
what do you know,
it happened again.
A friend is not a mean
you utilize to get somewhere,
somehow didn't notice,
friendship is an end
what do you know,
it happened again.
How come no one told me,
all throughout history,
the loneliest people were the ones
who always spoke their truth
the ones who made a difference
withstanding indifference.
I guess it's up to me now.
Should I take that risk, or just smile?
What do you know,
it happened again."

(Este disco nunca mais saiu de perto do meu leitor. Já lá vão seis meses. Há discos assim. Não me perguntem porquê.)


Está bem, abelhas

A ocidente toda a gente se interroga: por que razão os milhões de dólares que se enterram em África e na Ásia, sob o epíteto de «ajudas humanitárias» ou «apoio ao desenvolvimento», não resultam em nada ou muito pouco? Recentemente, a 'Comissão Para África', de Tony Blair, sugeriu a duplicação das ajudas pecuniárias. Mais e mais dinheiro, portanto. Mais do mesmo, entenda-se. Por si só, o dinheiro não vai resolver nada. Bem mais interessante e importante foi o apelo ao fim da corrupção e do desgoverno nos países africanos (o dinheiro é, na maior parte dos casos, sugado por regimes cleptomaníacos, corruptos e/ou incompetentes) e o apelo ao fim das barreiras alfandegárias levantadas pelos países ricos. Neste caso, convém lembrar que os ímpios EUA, a santa UE e o místico Japão gastam, por ano, cerca de 350 biliões de dólares em subsídios para acariciar os seus produtores e tornar competitivos os seus produtos. Mais ou menos o equivalente a dezasseis vezes o volume de ajuda anual enviado para África.

Sempre que sobre estas questões reflicto, as caras do Louçã, do Jerónimo, do Carvalho da Silva e de outros iluminados, aninham-se-me nas meninges. Eles, que defendem quais loucos e bravos, salvíficos modelos de protecção social musculada, uma economia planificada e o caminho para o pleno emprego, ao mesmo tempo que enchem a boca de injurias contra a hipocrisia dos países ricos e dos respectivos impérios que exploram os pobrezinhos, eles, dizia, estão na disposição de pagar o preço – o emprego, os Estado gastador e senhor - para efeitos de coerência no discurso? Estariam aptos a explicar aos seus eleitorados as consequências? Pois...

Nova blogaria

Erasmo e a ironia

“Dizei-me, pelos deuses imortais!, se há gente mais feliz do que aquela espécie de homens que o vulgo denomina loucos, estultos, fátuos ou ingénuos, cognomes belíssimos, na minha opinião? Esta afirmação parece a princípio estulta e absurda, e no entanto é muito verdadeira. Falta a tais homens o medo da morte, o que, por jove, já não é pequeno beneficio. Falta-lhes a carnificina da consciência! Não são aterrorizados pelas fábulas de almas do outro mundo. Não receiam espectros e fantasmas, não são atormentados pelos males futuros nem se impacientam pela esperança de bens vindouros. Em suma, não são dilacerados por milhares de cuidados, de que esta vida é composta. Não se envergonham, não temem, não ambicionam, não invejam, não amam. E se ascendem à inconsciência dos brutos, não pecam, segundo dizem as autoridades teológicas.(…)
Os maiores homens gostam tanto deles que nenhum pode comer, passear, passar uma hora sem a companhia de um fátuo. Têm maior estima pelos bobos do que pelos sofos tétricos, que costumam sustentar por vaidade apenas. Esta preferência não é obscura nem causa admiração, porque os sapientes só costumam dar noticias tristes aos príncipes, e cheios da sua doutrina, não receiam ofender com a verdade mordaz os ouvidos delicados. Os bobos prestam-se a procurar o que os príncipes querem por todos os modos: jogos, risos, gargalhadas, delícias.(…)
O fátuo leva tudo quanto tem no peito a expressão do rosto, e ao movimento dos lábios. O sapiente tem duas línguas, que Eurípedes menciona: uma para dizer o que é verdadeiro, outra para dizer o que é oportuno. Saber fazer do branco preto, soprar no frio e no quente, evitar a confusão entre os sentimentos e os discursos.
Apesar de tanta felicidade que os rodeia, os príncipes parecem-me infelicíssimos, porque nunca ouvem a verdade, porque em vez de amigos têm aduladores. Alguém dirá que os ouvidos dos príncipes têm horror à verdade, e que pouco caso fazem dos sapientes, pois receiam ouvir alguma coisa mais verdadeira do que divertida.
Reconheço que a verdade não tem o amor dos reis. No entanto os meus fátuos conseguem dizer a verdade de modo que os príncipes a ouçam com prazer; e não só a verdade, mas também a injúria. O mesmo dito que, saído da boca do sapiente, seria castigado com a pena capital, proferida pelo louco vai dar ao príncipe um prazer incrível. A verdade tem o genuíno condão de agradar, desde que não ofenda: mas os deuses só o concedem aos fátuos.”


in Elogio da Locura, 1509

Excelentíssimos

No país dos jaquinzinhos, assiste-se a um fenómeno curioso: a horda de jornalistas da praxe insiste em perseguir as eminências pardas da paróquia - como se de luminárias se tratassem – com o intuito de escutar ou aceder à Palavra. Sem se saber muito bem porquê, embora esteja à vista como, há quem acredite piamente que gente do mais alto gabarito cósmico – como Soares e Cavaco – continua a ter muita coisa interessante e útil a dizer aos que, lá em baixo, dão corpo ao deboche da plebe e, obviamente, parecem sempre disponíveis para se prostrar humildemente frente aos altares de onde os eminentes balbuciam frases de salve rainha. A sério: é para mim um mistério. Aquilo que, por estes dias, o Dr. Soares, o Prof. Cavaco ou o Eng. Guterres nos têm para dizer equivale ao que o intelectual Gil nos tinha para dizer no seu magnificente opúsculo, agora presença preferencial nos melhores lares portugueses: banalidades atrás de trivialidades, seguidas, por sua vez, de vulgaridades. Eu percebo que, na maior parte dos casos, as redacções das têvês e dos jornais tenham de atribuir aos meninos estagiários algum trabalho de campo. Afinal de contas, esta gente acabou de sair dos seus cursos de jornalismo e está mortinha para revelar ao mundo a sua indigente preparação e a acidental estupidez que por vezes revelam, tipo janelinha popup. Mas devia haver limites. Em prol de todos, aliás. Eu quero acreditar que a família e os amigos dos eminentes não devem olhar com bons olhos estes espasmos palanfrórios, os tabus da praxe, as expressões ora graves ora blasés de quem parece saber de tudo um pouco.

Pensando melhor, o melhor mesmo é não acreditar em nada. No fundo, o circo alimenta-se de figurantes e passarões.

Aviso

Dentro de 125 minutos postarei um post a sério. Obrigado pela vossa atenção. O Contra a Corrente segue dentro de momentos.

sexta-feira, março 11, 2005

11-Mar

A SIC passou ontem uma reportagem sobre o 11 de Março em Madrid. Na reportagem, é entrevistada uma vitima do atentado (um rapaz), que disse qualquer coisa como (parafraseando): “Estou na disposição de perdoar todos [terroristas incluídos]. Só não perdoo a Aznar e ao seu ministro, que não souberam dizer não à guerra.”

A atitude politicamente correcta, neste caso, seria a de não comentar estas declarações, apelando à compreensão. Afinal de contas, este jovem sofreu na pele a dor e na mente o horror. Coisa que eu, but for the grace of God, não. Do canto do meu sofá de comodismo e com ar de ser repleto, limitei-me a assistir ao relato televisivo. De certa forma, esta vitima ganhou o direito a falar e a acusar quem lhe aprouver. Ainda assim, se me permitem, gostaria de acrescentar uma coisa: pelos vistos, não se livrou de proferir asneiras e de insinuar o insulto. E mais não digo. Recorro, antes, a Christopher Hitchens (pela mão do Francisco):

[traduzido] ”Aqui, outra vez, a evidência mais persuasiva é a que nos olha na cara. No Iraque, militantes muçulmanos colocam bombas nas mesquitas de muçulmanos que eles consideram heréticos. No Afeganistão e no Paquistão a mesma coisa: os extremistas Salafi e Wahhabi assassinam muçulmanos que eles julgam impuros ou não ortodoxos. E no Ocidente, há quem não seja muçulmano mas desculpe estas atrocidades, considerando-as “resistência”. São normalmente os mesmos que saúdam aquilo que eles pensam ser “a rua”. Não julgo que eles devam ser acusados de crimes de ódio, mas deviam ser obrigados a compreender que o que eles dizem é odioso e criminoso, assim como sectário. A batalha pela transparência da linguagem faz parte de um contexto mais abrangente, e está na altura dos opositores ao terror e ao fanatismo passarem a ser bem menos apologéticos e condescendentes em relação a estas questões.”

Ora toma, MacGuffin

O escândalo do retrato
por Vasco Pulido Valente, in Público
"Portugal inteiro se empertigou e tomou a sua voz de acto solene para condenar o garoto, o descarado, o ordinário. O Portugal do "respeitinho" teve um dia em cheio. Porquê? Porque Paulo Portas mandou o retrato de Freitas do Amaral para o Largo do Rato. São coisas que não se fazem. Tudo se admite entre gente séria excepto naturalmente não a levar a sério. O "Paulinho das feiras" passa; o "Paulinho homem de Estado" também passa: mas não passa um Paulo divertido e perverso que mete S. Exa. em papel de embrulho e a remete pelo correio à sua verdadeira morada. Isso não. Vem logo à superfície a pomposa estupidez nativa, toda trémula e cheia de argumentos. Parece que Portas, como Estaline, quer mudar a história e que sem aquele retrato pendurado no Caldas ninguém pode saber e ninguém acredita quem foi o santo fundador do CDS. Não há documentos, não há arquivos, não há imagens que substituam a radiosa face do professor na sua moldura. Nem a presença do próprio professor, indubitavelmente vivo, muito falante e ministro do PS. Estamos na "Grande Purga", é evidente. Não tardam aí os "julgamentos de Moscovo" e o tiro na nuca. Para não falar do pior: do enxovalho sem remédio à Faculdade de Direito e, em especial, ao Direito Administrativo. Aposto que Paulo Portas vai deixar crescer bigode.
Devemos, no entanto, confessar que os chefes do CDS tendem a fugir do CDS. Freitas do Amaral, o mais persistente, acabou na esquerda. Lucas Pires seguiu para a "Europa" com o PSD. Adriano Moreira ficou sempre fiel a Salazar. Manuel Monteiro fundou outro partido. E Paulo Portas planeia emigrar para a América. Mesmo hoje os presuntivos sucessores mostram uma firme repugnância em suceder. Nobre Guedes, Pires de Lima e a perpétua Zezinha já se recusaram e, de fora, dá a impressão que Telmo Correia, coitadinho, se escondeu. Presidir ao CDS é com certeza uma tortura, mal compensada, de 20 em 20 anos, por uns meses, poucos, no poder. Os chefes do CDS, pelo menos, só pensam em sair do CDS. O feliz Diogo conseguiu e, se calhar, na atrapalhação, nem se lembrou do retrato. Felizmente, não perdeu pela demora. Portas tratou do caso, com a maior perspicácia estética e política. No CDS, a galeria perfeita dos retratos dos chefes é uma galeria sem retratos. Não valia a pena que o Portugal engomado e abotoado se indignasse tanto. S. Exa. fica bem no Rato e o Caldas fica bem vazio."

Tomem nota


Strike or dead

Na fábrica da Opel da Azambuja (marca que me é particularmente querida), o sindicato, o «delegado» ou a «comissão», optaram pela greve. O Sr. Vicente, porta-voz dos justos (os sindicalistas, como se sabe, têm sempre razão e estão sempre do lado dos bons, dos dialogantes, dos explorados, dos pobrezinhos, dos desgraçados, etc.), diz que não aceita os aumentos salariais previstos pela administração. A administração propõe aumentos salariais indexados à inflação, estando na disposição de retroactivamente ressarcir os trabalhadores no final do ano caso a inflação se revele acima do estimado de inicio. O Sr. Vicente diz que não quer discutir «percentagens». Com ele discutem-se «números». O Sr. Vicente só quer ouvir falar em aumentos mínimos de 75 euros mensais, independentemente do valor remuneratório. Ele próprio afirma, e reconhece, que as remunerações dos operários se situam entre os 700 euros e os 1.000 euros mensais. Fazendo as contas, o Sr. Vicente não se importa que, no caso dos trabalhadores que auferem 700 euros mensais, esse acréscimo de 75 euros resulte num aumento percentual de… 10,7%. Enquanto decorre o braço de ferro entre o Sr. Vicente e a administração da Opel-Azambuja (que está fartinha de avisar que o contrato com a GM Europa termina em 2008 sem quaisquer garantias quanto ao futuro), o mundo teima em existir. A Peugeot, a Citröen e a Toyota estão esta semana a inaugurar fábricas na República Checa. O grupo PSA já assentou arraiais na Eslováquia, à imagem da Kia (agora do grupo Hyundai). A Suzuki está a investir na Hungria. O projecto Logan, da Renault (desenvolvido pela subsidiária Dacia) está de vento em popa na Roménia. Feitas as contas, cerca de 24 fábricas de montagem automóvel estão agora implantadas na Europa de Leste e na Europa Central - o que, segundo pesquisa levada a cabo pela J.D. Power-LMC, significa um aumento da produção automóvel no leste europeu de cerca de 24% em cinco anos. Provavelmente, o Sr. Vicente sabe tudo isto. Mas é também provável que, perante isto, o Sr. Vicente e os seus companheiros digam, com muita razão, aliás, que o leste europeu “não nos diz respeito”, que “não se podem misturar alhos com bugalhos” e que “não podemos baixar as calças por causa desses gajos do leste”. Claro que sim. Em 2008 a gente conversa.

Freitas 2

O Luis saiu em defesa de Freitas. Fez muito bem. A sua tese é a de que não foi tanto Freitas que mudou, mas sim o mundo que se deslocou. Se, no passado, Freitas e a sua Democracia Cristã a muito custo se poderiam encaixar à direita (quanto muito ao centro), agora, seria, de todo, impensável. Logo, calminha no Brasil quando decidirem açoitar o velho e sábio senador.

Sou tentado a concordar com o Luis. Aquilo que sobre o Ministro dos Negócios Estrangeiros escrevi, vai nesse sentido. Noto, contudo, uma contradição no post do Luis. Se Freitas não mudou, para quê falar em «evolução política»? Para quê trazer à colação os exemplos de Durão e Pacheco Pereira? E seriam estes bons exemplos?

Quanto a exemplos, não creio que tenham sido felizes. Dou de barato que qualquer idade é uma boa idade para mudar. Para além, obviamente, de legitima. Mas há percursos e posturas que levantam sérias dúvidas no que toca à sua autenticidade e verticalidade quando analisados à luz de timings e antiguidades. Uma coisa é mudar, e assumir essa mudança, numa idade em que, por definição, as ideias ainda se arrumam, a personalidade e o carácter ainda se forma, numa altura em que a praxis política e a perspectiva do mundo concorrem ainda para desmontar mitos, dissipar dúvidas, confirmar teses, culminando desejavelmente numa estabilização de princípios e ideais políticos. Outra, bem diferente, é mudar, ou assumir a mudança, bastante mais tarde, após muitas sedimentações, causas e convicções ora rebatidas, ora contraditórias.

Apesar do que escrevi, não penso, tal como o Luis, que Freitas tenha mudado por aí além. Não gostaria de confundir um misto de tacticismo, calculismo, ambição e frustração política, com uma eventual, honesta e genuína mudança. Tem razão o Luis quando aponta a Democracia Cristã como uma doutrina híbrida e difusa, um receptáculo de muitas ambivalências. Mas quem revê, hoje, as gravações dos debates televisivos da campanha presidencial em que Freitas do Amaral participou (numa altura em que já não era propriamente um jovem...), não pode deixar de concluir que, pela forma como aquele homem reclamava nitidamente um lugar à direita, das duas uma: ou houve uma mudança radical de pensamento político, ou Freitas do Amaral foi sempre um incompreendido. A minha tese vai no sentido da incompreensão: Freitas nunca me pareceu um homem de grandes convicções e os achaques de ser ressabiado sempre revelaram um homem à beira de um ataque de oportunismo. Atribuir características de camaleão a uma enguia parece-me um erro darwiniano.

PS: Continuo é sem perceber porque razão insiste o Luis em colar à esquerda, como se de uma patente se tratasse, posições «internacionalistas» e posições sacrossantas de «justiça humana». Cf. História.

segunda-feira, março 07, 2005

Recordar (ou revisitar) é viver


Desculpa, Alberto

Só ontem, à noitinha, reparei no link e na referência, entre outros, ao “Segredo de Joe Gould” – livro muito cá de casa. E a História Oral, alguém por aí a encontrou?


O modelo escandinavo

O modelo escandinavo… Ah, o modelo escandinavo! Havia tanta coisa para dizer sobre o modelo escandinavo… mas agora não tenho tempo. Apelo ao meu poder de síntese e arrisco comentário parco. Então é assim: a forma como, um pouco por todo o lado (blogosfera lusa incluída), se deitam olhares de basbaque à Europa do Norte, revela bem da ignorância que grassa por entre os «especialistas» da paróquia. Longe de mim perturbar um auditório esperançado. Não seria de bom tom fazê-lo. Limito-me a lançar na engrenagem um microscópico grãozinho de areia: o modelo escandinavo – o tal dos impostos altíssimos e do Estado Providência musculado - só resulta em sociedades em que: a) a capacidade de criação autónoma de riqueza (autónoma e independente em relação ao Estado) é a modos que brutal; b) os níveis de produtividade são mais do que suficientes; c) a mobilidade de pessoas em pleno mercado de trabalho é uma constante; d) a evasão fiscal é residual; e) a elevada carga fiscal não belisca nem coloca em causa elevados níveis de rendimento disponível; e) o modelo de desenvolvimento foi aprioristicamente liberal/capitalista e continua a sê-lo; f) a carga burocrática não sufoca o empreendorismo e a vida dos cidadãos; g) não existem tabus e receios em misturar sistemas públicos com sistemas privados. Em países ricos, portanto. Países que se permitiram criar e suportar um Estado Providência forte e prestador de serviços de qualidade, nos quais os níveis de eficiência e eficácia (coisas diferentes, como sabeis) nos fazem corar. O modelo escandinavo de Estado Providência não foi a causa, mas sim a consequência. Não foi pela adopção de um putativo «modelo» de solidariedade e protecção social que aqueles países se tornaram ricos. Por serem ricos ou potencialmente ricos é que puderam abraçar aqueles instrumentos de apoio social. Dito de outra forma: aplicar o modelo escandinavo a Portugal - instrumentalizando, nesse sentido, a política fiscal - seria tão desastroso como começar a construir uma casa pelo telhado.

Da estupidez

A atitude de enviar para o Rato a foto do ministro Freitas do Amaral na qualidade de fundador e dirigente do CDS, é perfeitamente deselegante. E estúpida. O CDS é o que é também por causa de Freitas. A história não se apaga. A presença da fotografia de Freitas do Amaral na sede do CDS-PP seria uma óptima forma de o lembrar. Inclusivamente ao próprio.

domingo, março 06, 2005

Um liberalismo keynesiano?

Há dias, Pacheco Pereira escreveu uma coisa absolutamente extraordinária: segundo o próprio, a doutrina cavaquista é a doutrina da “governação liberal para a sociedade e keynesiana para o Estado”(sic). Entre parêntesis adiantou “não, não é contraditório”(sic). E mais não disse. Em resposta, o João Miranda escreveu “Não se percebe como é que o estado pode ser keynesiano e a sociedade liberal. Pacheco Pereira parece querer separar as liberdades económicas das liberdades pessoais dizendo que o cavaquismo não interfere nas liberdades pessoais, mas interfere nas económicas”(sic).

Tudo isto faz lembrar a velha fórmula de Tocqueville: costumes livres originam leis liberais (e, por acréscimo, um Estado menos afoito). Seja como for, há aqui equívocos de vária ordem. O que significa “uma governação liberal para a sociedade”? A sociedade portuguesa é uma sociedade liberal? De que tipo? Do tipo sonhado por João Franco? Do tipo preconizado por Tocqueville? Pacheco Pereira parece pretender dizer que o cavaquismo se propôs legislar sob a batuta liberal ao mesmo tempo que, à retaguarda, o Estado intervinha nas infra-estruturas materiais de modo a induzir um comportamento civil «emancipador» e «empreendedor». Será?

O liberalismo tem por base dois princípios: 1.º) os indivíduos devem ser livres de interagir entre si e de escolher a melhor maneira de o fazer (não planeada por uma cúpula ou induzida por um comité), desde que não se prejudiquem entre si (por exemplo, através da força ou da fraude); 2.º) os objectivos do bom governo são os de proteger estas liberdades (de escolha, de comportamento, de associação, etc.), e de ajudar a preservar a posse e os direitos de propriedade que daí advêm. O dilema continua a ser o mesmo: um governo com força suficiente para cumprir o segundo objectivo pode, por via dessa força, ameaçar o espírito do primeiro princípio. Daí que um outro objectivo emerge do liberalismo: o de restringir o exercício do poder aos governos, limitando-os ao seu papel de fornecedores dos bens públicos que o mercado e as famílias não conseguem fornecer (quer pelo tipo quer pela condição particular a quem se destinam).

Ora, sabe-se que um Estado intervencionista – e o modelo keynesiano preconiza um tipo de intervenção que colide, mais tarde ou mais cedo, com questões fundamentais como as da responsabilidade pessoal, liberdade de escolha, capacidade privada e independente de criação de riqueza e emprego, gestão de expectativas, estabilidade legal e processual – um Estado intervencionista, dizia, interfere com o próprio motor da sociedade civil (nomeadamente com a livre iniciativa privada, a liberdade de associação civil, a liberdade de movimentação), distorcendo princípios tão básicos como os da diferenciação e valorização (por mérito, vocação, predisposição, capacidades, etc) através de um balão de oxigénio volumoso mas, a seu tempo, oco. Mais: criam-se dependências que dificilmente se suplantam ou extiguem sem dor e lágrimas. Veja-se, por exemplo, os casos do sector automóvel e do sector dos combustíveis, em que a política fiscal distorce por completo o comportamento dos agentes e do mercado.

Numa altura em que se prepara a plebe para o «inevitável» aumento de impostos (a primeira marretada no role de promessas eleitorais de Sócrates), seria bom perceber que um Estado intervencionista à lá Keynes é um Estado que baralha as expectativas pessoais, condiciona as empresas privadas, distorce os mercados, desresponsabiliza os indivíduos através de uma falsa sensação de segurança e de facilitismo, e adia para mais tarde problemas sérios e reais de ordem orçamental (coisa que para muitos não passa de jargão economicista mas que, na prática, significa perceber que não se pode gastar o que não se pode pagar, sob pena de todos – dos mais ricos aos mais pobres – acabarem por pagar uma factura bem mais elevada).

Freitas

Freitas do Amaral chega a ministro de um governo (neo)socialista. A pasta: Negócios Estrangeiros. Impõem-se dois breves comentários.

O primeiro, sobre o homem. Toda a gente tem direito a mudar de opinião, ideologia, religião, clube de futebol, sexo ou penteado. Cada um pode, e deve, abraçar na vida aquilo que lhe aprouver. Zita Seabra mudou. Pacheco Pereira também. José Magalhães idem. Mário Lino, o novo homem forte da Obras Públicas, aussi. José Castelo Branco vai a caminho de. Esta suposta «traição» de Freitas nem sequer é novidade. Há anos que Freitas do Amaral vem trilhando um caminho aparentemente às avessas daquele a que nos habituou durante largos anos, culminando numa candidatura presidencial que uniu toda a direita à sua volta. Uma candidatura na qual, é bom lembrar, Freitas fez questão de percorrer, sem hesitações e dúvidas doutrinárias, a totalidade da cartilha direitista. Dirão, agora, que Freitas do Amaral esqueceu que foi a esquerda – a «sua» actual esquerda – que o chutou da cadeira de presidente de todos os portugueses. Não esqueceu. Nem deixou de esquecer. Já o escrevi há um mês atrás: a velha máxima “se não os podes vencer junta-te a eles” não é estranha a um homem cujo percurso sempre me pareceu ambíguo, irrazoavelmente calculista e incessantemente sedento de protagonismo. Repito: cada qual é livre de escolher o seu caminho. Mas, em política, há flic-flacs e mortais invertidos que, apesar de exequíveis sem que daí venha mal ao mundo, revelam muito do carácter de quem os pratica. Mais ainda quando o momento da escolha foi precedido de sabujices opinativas em revistas de visão.

O segundo, diz respeito ao cargo. Toda a gente conhece o pendor anti-americano (evito o vocábulo «natureza») de Freitas do Amaral (mitigado, para inglês ver, com a retórica de se tratar da «administração Bush»). Toda a gente conhece as posições de Freitas do Amaral em relação ao conflito israelo-palestiniano (ainda me lembro de o ver numa manifestação contra Israel, falando à boca grande do «massacre» de Jenin). É elementar que Sócrates esclareça qual vai ser posição «geo-estratégica» de Portugal no mundo: que tipo de relações vai Portugal manter com os EUA, que papel defende Portugal para a NATO, qual o nível de adulação e servilismo em relação ao eixo franco-alemão, qual deverá ser o posicionamento da «Europa» face aos EUA (de afrontamento, de cooperação, alternativo, complementar ou um pouco de tudo?), o que preconiza o novo executivo para o médio-oriente (não que isso importe um tostão), qual a estratégia a adoptar no combate ao terrorismo, etc. etc. etc. Para já, com a escolha de Freitas do Amaral para a pasta dos Negócios Estrangeiros, adivinha-se uma viragem de 180º. O Eng. Sócrates que explique. Se fizer favor.

sábado, março 05, 2005

Altipáróbaile!

Deixei passar o aniversário de um dos meus blogues favoritos. Imperdoável, com direito a exercício de autoflagelação. Enquanto dou umas valentes vergastadas nas alentejanas costas de moi même, aproveito para mandar daqui um imenso abraço de parabéns ao mestre Tiago. Que Deus o guarde por muitos e bons anos. Muito para além de Sócrates. Cheers!

sexta-feira, março 04, 2005

Guterres e Sócrates: farinha do mesmo saco?

As semelhanças são notórias. O discurso de Sócrates – impregnado de «esperança», «confiança», «progresso» e «crescimento» - prestou tributo ao de Guterres. Não foi por acaso que Sócrates tratou de desculpar a praxis Guterrista. O facto de Sócrates nada ter dito e adiantado coisa nenhuma, remete-nos para a boa e (já) velha estratégia neosocialista: 1.º) a busca do contentamento colectivo imediato e assistido (lembrar Galbraith e a Cultura do Contentamento), a pagar, obviamente, por todos); 2.º) a tentativa de aglutinação. Há, contudo, uma diferença: ao contrário de Guterres, Sócrates teve direito ao seu João Baptista. É certo que desculpou, agora, o «pai», mas também pode, se tiver arte e engenho, corrigir os erros fatais do Guterrismo. Não os erros de essência – duvido que Sócrates tenha capacidade para governar straightforward, sem ambiguidades e ziguezagues - mas os erros de cosmética e de gestão de expectativas. Se o conseguir, Sócrates poderá conseguir esticar no tempo o simbolismo da sua anunciada praxis - a do liberalismo «progressista» e «reformista», limado e manietado q.b. para contentamento da plebe que vive da assistência e do emprego do Estadão – sem colocar em causa a cadeira do poder.

Tal como Guterres, Sócrates sabe que o socialismo, nos tempos que correm, não serve para levar ao poder um bom pai de família. Sócrates sabe que os governos morrem ou (sobre)vivem consoante saibam ou não responder aos acontecimentos que alimentam e animam a sociedade mediatizada. Aquilo que Sócrates pretende fazer não será muito diferente daquilo que Guterres tentou fazer: promover a actualização doutrinária da «cidadania» («abrindo» o partido) e do poder, através de exercícios de equilibrismo que permitam conciliar tudo e todos: os interesses corporativos, as bocas famintas dos funcionários públicos, a vulgata dos sindicatos, as contas públicas não escandalosamente descontroladas. Dificilmente deixará de cair na tentação guterrista de agradar a gregos e troianos, com a bendita da teia aglutinadora a servir de rede. Resta apenas saber se o discípulo suplantará o mestre. Desta vez, pelo menos, não terá desculpas. Durante quatro anos.

terça-feira, março 01, 2005

Parabéns

Ao Blasfémias. Faz hoje um ano. Cheers!
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