Ora toma, MacGuffin
O escândalo do retrato
por Vasco Pulido Valente, in Público
"Portugal inteiro se empertigou e tomou a sua voz de acto solene para condenar o garoto, o descarado, o ordinário. O Portugal do "respeitinho" teve um dia em cheio. Porquê? Porque Paulo Portas mandou o retrato de Freitas do Amaral para o Largo do Rato. São coisas que não se fazem. Tudo se admite entre gente séria excepto naturalmente não a levar a sério. O "Paulinho das feiras" passa; o "Paulinho homem de Estado" também passa: mas não passa um Paulo divertido e perverso que mete S. Exa. em papel de embrulho e a remete pelo correio à sua verdadeira morada. Isso não. Vem logo à superfície a pomposa estupidez nativa, toda trémula e cheia de argumentos. Parece que Portas, como Estaline, quer mudar a história e que sem aquele retrato pendurado no Caldas ninguém pode saber e ninguém acredita quem foi o santo fundador do CDS. Não há documentos, não há arquivos, não há imagens que substituam a radiosa face do professor na sua moldura. Nem a presença do próprio professor, indubitavelmente vivo, muito falante e ministro do PS. Estamos na "Grande Purga", é evidente. Não tardam aí os "julgamentos de Moscovo" e o tiro na nuca. Para não falar do pior: do enxovalho sem remédio à Faculdade de Direito e, em especial, ao Direito Administrativo. Aposto que Paulo Portas vai deixar crescer bigode.
Devemos, no entanto, confessar que os chefes do CDS tendem a fugir do CDS. Freitas do Amaral, o mais persistente, acabou na esquerda. Lucas Pires seguiu para a "Europa" com o PSD. Adriano Moreira ficou sempre fiel a Salazar. Manuel Monteiro fundou outro partido. E Paulo Portas planeia emigrar para a América. Mesmo hoje os presuntivos sucessores mostram uma firme repugnância em suceder. Nobre Guedes, Pires de Lima e a perpétua Zezinha já se recusaram e, de fora, dá a impressão que Telmo Correia, coitadinho, se escondeu. Presidir ao CDS é com certeza uma tortura, mal compensada, de 20 em 20 anos, por uns meses, poucos, no poder. Os chefes do CDS, pelo menos, só pensam em sair do CDS. O feliz Diogo conseguiu e, se calhar, na atrapalhação, nem se lembrou do retrato. Felizmente, não perdeu pela demora. Portas tratou do caso, com a maior perspicácia estética e política. No CDS, a galeria perfeita dos retratos dos chefes é uma galeria sem retratos. Não valia a pena que o Portugal engomado e abotoado se indignasse tanto. S. Exa. fica bem no Rato e o Caldas fica bem vazio."
por Vasco Pulido Valente, in Público
"Portugal inteiro se empertigou e tomou a sua voz de acto solene para condenar o garoto, o descarado, o ordinário. O Portugal do "respeitinho" teve um dia em cheio. Porquê? Porque Paulo Portas mandou o retrato de Freitas do Amaral para o Largo do Rato. São coisas que não se fazem. Tudo se admite entre gente séria excepto naturalmente não a levar a sério. O "Paulinho das feiras" passa; o "Paulinho homem de Estado" também passa: mas não passa um Paulo divertido e perverso que mete S. Exa. em papel de embrulho e a remete pelo correio à sua verdadeira morada. Isso não. Vem logo à superfície a pomposa estupidez nativa, toda trémula e cheia de argumentos. Parece que Portas, como Estaline, quer mudar a história e que sem aquele retrato pendurado no Caldas ninguém pode saber e ninguém acredita quem foi o santo fundador do CDS. Não há documentos, não há arquivos, não há imagens que substituam a radiosa face do professor na sua moldura. Nem a presença do próprio professor, indubitavelmente vivo, muito falante e ministro do PS. Estamos na "Grande Purga", é evidente. Não tardam aí os "julgamentos de Moscovo" e o tiro na nuca. Para não falar do pior: do enxovalho sem remédio à Faculdade de Direito e, em especial, ao Direito Administrativo. Aposto que Paulo Portas vai deixar crescer bigode.
Devemos, no entanto, confessar que os chefes do CDS tendem a fugir do CDS. Freitas do Amaral, o mais persistente, acabou na esquerda. Lucas Pires seguiu para a "Europa" com o PSD. Adriano Moreira ficou sempre fiel a Salazar. Manuel Monteiro fundou outro partido. E Paulo Portas planeia emigrar para a América. Mesmo hoje os presuntivos sucessores mostram uma firme repugnância em suceder. Nobre Guedes, Pires de Lima e a perpétua Zezinha já se recusaram e, de fora, dá a impressão que Telmo Correia, coitadinho, se escondeu. Presidir ao CDS é com certeza uma tortura, mal compensada, de 20 em 20 anos, por uns meses, poucos, no poder. Os chefes do CDS, pelo menos, só pensam em sair do CDS. O feliz Diogo conseguiu e, se calhar, na atrapalhação, nem se lembrou do retrato. Felizmente, não perdeu pela demora. Portas tratou do caso, com a maior perspicácia estética e política. No CDS, a galeria perfeita dos retratos dos chefes é uma galeria sem retratos. Não valia a pena que o Portugal engomado e abotoado se indignasse tanto. S. Exa. fica bem no Rato e o Caldas fica bem vazio."
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