Unidade imaginária
Devo ser o único
tolinho à face da terra a achar - como sabem, o português gosta de «achar» e,
mais ainda, de dar a conhecer os seus «achamentos», não vá o mundo sofrer dessa
subtracção – devo ser o único, dizia eu, a achar moderadamente obscenas as aparições
dos «agentes» culturais em jornadas de «apoio» ao Dr. António Costa, esse
indesmentível «gajo porreiro» da democracia portuguesa.
(É também sabido
que o português gosta muito de «apoiar». É uma coisa que lhe está no sangue:
«apoiar». No âmbito em apreço, a tendência é de associação: «apoia-se» em congregação,
não vá a solidão tecê-las.)
Não querendo pôr em
causa o arraial, pergunto: que é feito do homo culturales bicho-do-mato, anti-sistema, revoltoso, para sempre entregue à pálida solidão criadora (e
assim sucessivamente)? Finou-se. Faleceu. Bateu as botas. Agora é só alegria,
confraternização e pancadinhas nas costas. O Sr. Botelho cineasta, por exemplo,
que ainda recentemente arrecadou apoios de natureza a mais diversa – na forma e
no sujeito, incluindo o «apoio» pecuniário da CML, presidida pelo Dr. Costa –
não teve pejo em despejar um muito jeitoso panegírico sobre “o Costa e o Zé Sá
Fernandes”. You scratch my back, I’ll scratch yours. O que prova que o pudor é qualidade em avançado estado de rarefacção.
O que nos salva
nestes relapsos públicos laudatórios, é podermos observar o lado cómico-trágico do
exercício. Por entre o tilintar do vermute e uns pastéis de ansiedade, a trupe
da cóltura ainda não se deu conta de que não vai poder esperar muito do Dr.
Costa, quando este ocupar o alopécio cargo. A conclusão é trágica: a aritmética não quer nada com a Cultura.
1 Comentários:
:-)
Apoiar neste caso tem a ver com poia...
José
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