quinta-feira, setembro 30, 2004
THE AUTUMN LEAVES (OUTRA VEZ)
Deus terá avermelhado as folhas de Outono para satisfazer pintores domingueiros? Ou será apenas um recado para amedrontar a bicharada? São várias as hipóteses.
NÃO, DIZ HAMAZONO
Porque razão o termo «kamikaze» aplicado aos bombistas suicidas palestinianos, chechenos ou da Al Qaeda é um insulto à memória dos kamikaze japoneses.
quarta-feira, setembro 29, 2004
NEM MAIS
Nem de propósito, caro Jorge. É assim que me tenho andado a sentir: "macambúzio". E não deve ser do Outono, de longe a minha estação preferida. Para aliviar (ou talvez não...), uma musiquinha do grande e injustamente esquecido Johnny Mercer:
The Autumn Leaves
The Falling leaves drift by my window
The autumn leaves of red and gold
I see your lips the summer kisses
The sunburned hands I used to hold
Since you went away the days are long
And soon I’ll hear old winter’s song
But I miss you most of all my darling
When autumn leaves start to fall
The Autumn Leaves
The Falling leaves drift by my window
The autumn leaves of red and gold
I see your lips the summer kisses
The sunburned hands I used to hold
Since you went away the days are long
And soon I’ll hear old winter’s song
But I miss you most of all my darling
When autumn leaves start to fall
EQUÍVOCO
Meu caro Bruno,
Como deveria ter percebido, eu peguei na utilização deslocada do epíteto «extrema-direita» para falar, precisamente, da utilização deslocada do epíteto «extrema-direita». Mas em termos gerais. Tive, aliás, o cuidado de escrever “e não propriamente no caso do Bruno”. Precisamente porque sei que esse hipotético deslize da sua parte só pode ter sido inocente e contingente. Da mesma forma que, se calhar, eu o terei feito no passado (caramba, todos temos direito a uma dose de imprecisão e de falta de rigor!). Conheço-o minimamente para saber que está a anos luz de um Francisco Louçã (já nem falo da Dona Lídia). E conheço suficientemente o «destacado» deputado Louçã para saber que ele jamais perceberá o que está aqui em causa (ou, porventura, até saberá, embora lhe convenha insistir no maniqueísmo). Por mera coincidência, peguei na questão com base num exemplo retirado de um blogue que, em consciência, não confunde esse tipo de coisas.
De resto, não creio que o problema da extrema-esquerda se resuma ao facto de dizer que ”é a pobreza (e portanto, o capitalismo) a verdadeira causadora do mal”. A extrema-esquerda despreza (violentamente ou não) as instituições do Estado e as regras da democracia (recorde-se o caso da militante bloquista no Porto e o silêncio do «comité central»); diaboliza os seus adversários e antagonistas; odeia visceralmente qualquer foco de acumulação de riqueza ou de poder (dai a propensão para denegrir os ricos e poderosos); usa e abusa da mais rasca demagogia, própria de quem sabe que jamais chegará ao poder; insinua constantemente estar na posse da verdade, da seriedade e da virtude; condena o modelo liberal de organização política e social, próprio das sociedade ocidentais, alimentando-se, ao mesmo tempo, das mordomias e liberdades que esse modelo lhe proporciona; se pudesse, vergastava todo e qualquer ser humano que insistisse em pensar diferente, porque a extrema-esquerda, apesar de se dizer adepta da diversidade e do multiculturalismo, não suporta o «próximo» quando o «próximo» tem valores e opiniões que divergem da sua decrépita e esgotada cartilha; por último, é adepta do igualitarismo na sua vertente despótica (leia-se "cientificamente formativa").
Espero, caro Bruno, que o equivoco tenha ficado desfeito. Para que não restem dúvidas.
Como deveria ter percebido, eu peguei na utilização deslocada do epíteto «extrema-direita» para falar, precisamente, da utilização deslocada do epíteto «extrema-direita». Mas em termos gerais. Tive, aliás, o cuidado de escrever “e não propriamente no caso do Bruno”. Precisamente porque sei que esse hipotético deslize da sua parte só pode ter sido inocente e contingente. Da mesma forma que, se calhar, eu o terei feito no passado (caramba, todos temos direito a uma dose de imprecisão e de falta de rigor!). Conheço-o minimamente para saber que está a anos luz de um Francisco Louçã (já nem falo da Dona Lídia). E conheço suficientemente o «destacado» deputado Louçã para saber que ele jamais perceberá o que está aqui em causa (ou, porventura, até saberá, embora lhe convenha insistir no maniqueísmo). Por mera coincidência, peguei na questão com base num exemplo retirado de um blogue que, em consciência, não confunde esse tipo de coisas.
De resto, não creio que o problema da extrema-esquerda se resuma ao facto de dizer que ”é a pobreza (e portanto, o capitalismo) a verdadeira causadora do mal”. A extrema-esquerda despreza (violentamente ou não) as instituições do Estado e as regras da democracia (recorde-se o caso da militante bloquista no Porto e o silêncio do «comité central»); diaboliza os seus adversários e antagonistas; odeia visceralmente qualquer foco de acumulação de riqueza ou de poder (dai a propensão para denegrir os ricos e poderosos); usa e abusa da mais rasca demagogia, própria de quem sabe que jamais chegará ao poder; insinua constantemente estar na posse da verdade, da seriedade e da virtude; condena o modelo liberal de organização política e social, próprio das sociedade ocidentais, alimentando-se, ao mesmo tempo, das mordomias e liberdades que esse modelo lhe proporciona; se pudesse, vergastava todo e qualquer ser humano que insistisse em pensar diferente, porque a extrema-esquerda, apesar de se dizer adepta da diversidade e do multiculturalismo, não suporta o «próximo» quando o «próximo» tem valores e opiniões que divergem da sua decrépita e esgotada cartilha; por último, é adepta do igualitarismo na sua vertente despótica (leia-se "cientificamente formativa").
Espero, caro Bruno, que o equivoco tenha ficado desfeito. Para que não restem dúvidas.
terça-feira, setembro 28, 2004
SIM, MAS... - II
Diz o Bruno que ”perante a onda de excitação mediática, as pessoas dizem e defendem coisas que não se coadunam com os princípios básicos de uma sociedade equilibrada. Poderá não ser uma questão de ideologia. Mas é preocupante.” Que é feio, é. Que põe a nu a hipocrisia de muitos, põe. Que é contrário à ideia de justiça num Estado de direito, também. Mas não sei se é assim tão preocupante ou grave. Quanto muito é sintomático, remetendo a questão para a evolução social e política de Portugal, nos últimos cinquenta anos. De resto, caro Bruno, concordo com a tua crítica à «rua» e ao «bom povo».
Mas foi a utilização da expressão «extrema-direita» que me despertou a atenção (e não propriamente no caso do Bruno). Sobre o assunto, o leitor Carlos Conceição enviou-me a seguinte missiva:
A leitura de THE RELATION BETWEEN THE ASS AND THE PANTS fez-me lembrar o caso dessa «venerável» actriz que dá pelo nome de Lídia Franco, quando instada a manifestar as suas «ideias políticas»: “Considero-me uma boa pessoa, por isso acho que sou de esquerda!", afirmou, convicta, à «magnífica» publicação que é a Nova Gente...
Acontece que pouco tempo depois, após uma mediática tentativa de violação (!), esta boa pessoa apressou-se a defender um verdadeiro Estado Policial... A avaliar pela «coerência» dela e dos «seus» (as boas pessoas), seria este Estado Policial de Extrema-Esquerda ou de Extrema-Direita?
A expressão «extrema-direita» é hoje utilizada por 'dá cá aquela palha'. Do Dr. Ferro ao Dr. Louçã, passando pelo comum dos mortais, a facilidade e a ligeireza com que se utiliza esse epíteto, reflecte não só e invariavelmente a falta de argumentação de quem usa e abusa da dita expressão, mas sobretudo a falta de rigor (é utilizada sem qualquer tipo de aplicação de facto) e a perigosa banalização de certas palavras e expressões. Afinal, do que é que falamos quando falamos de «extrema-direita»? Desde logo, de algo que não pode ser evocado levianamente. As palavras são importantes e "quando perdermos o respeito pelas palavras, perdemos tudo", escreveu um dia João Pereira Coutinho.
Por outro lado, não deixa de ser curioso como a Direita, na sua variante «extrema» (e por vezes, tão só, na sua vertente soft), aparece colada a coisas terríveis, nefastas e violentas, enquanto que a esquerda, também na variante «extrema», parece sempre escapar incólume a tais infortúnios, como se se tratasse de um ramo irreverente e levemente escabroso da ideologia das «boas pessoas». Quando o assunto é «radicalismo, extremismo e violência», os olhares voltam-se para a direita. A esquerda acaba quase sempre esquecida, benevolente e prazenteiramente. Não que a extrema-direita não seja nefasta ou perigosa. É que, em matéria de extremismos, a esquerda e a direita tocam-se libidinosamente.
Mas foi a utilização da expressão «extrema-direita» que me despertou a atenção (e não propriamente no caso do Bruno). Sobre o assunto, o leitor Carlos Conceição enviou-me a seguinte missiva:
A leitura de THE RELATION BETWEEN THE ASS AND THE PANTS fez-me lembrar o caso dessa «venerável» actriz que dá pelo nome de Lídia Franco, quando instada a manifestar as suas «ideias políticas»: “Considero-me uma boa pessoa, por isso acho que sou de esquerda!", afirmou, convicta, à «magnífica» publicação que é a Nova Gente...
Acontece que pouco tempo depois, após uma mediática tentativa de violação (!), esta boa pessoa apressou-se a defender um verdadeiro Estado Policial... A avaliar pela «coerência» dela e dos «seus» (as boas pessoas), seria este Estado Policial de Extrema-Esquerda ou de Extrema-Direita?
A expressão «extrema-direita» é hoje utilizada por 'dá cá aquela palha'. Do Dr. Ferro ao Dr. Louçã, passando pelo comum dos mortais, a facilidade e a ligeireza com que se utiliza esse epíteto, reflecte não só e invariavelmente a falta de argumentação de quem usa e abusa da dita expressão, mas sobretudo a falta de rigor (é utilizada sem qualquer tipo de aplicação de facto) e a perigosa banalização de certas palavras e expressões. Afinal, do que é que falamos quando falamos de «extrema-direita»? Desde logo, de algo que não pode ser evocado levianamente. As palavras são importantes e "quando perdermos o respeito pelas palavras, perdemos tudo", escreveu um dia João Pereira Coutinho.
Por outro lado, não deixa de ser curioso como a Direita, na sua variante «extrema» (e por vezes, tão só, na sua vertente soft), aparece colada a coisas terríveis, nefastas e violentas, enquanto que a esquerda, também na variante «extrema», parece sempre escapar incólume a tais infortúnios, como se se tratasse de um ramo irreverente e levemente escabroso da ideologia das «boas pessoas». Quando o assunto é «radicalismo, extremismo e violência», os olhares voltam-se para a direita. A esquerda acaba quase sempre esquecida, benevolente e prazenteiramente. Não que a extrema-direita não seja nefasta ou perigosa. É que, em matéria de extremismos, a esquerda e a direita tocam-se libidinosamente.
SIM, MAS... - I
(corrigido e aumentado)
Tens razão, Ivan: os critérios são teus, o blogue é teu e o assunto linkar/deslinkar não merece um parágrafo, quanto mais três. Trata-se, afinal, não de um pequeno, mas de um grande exagero.
Voltas a referir a suposta tentativa de demarcação entre ”os herdeiros legítimos do 11/9 (os apoiantes da administração Bush) e os outros (os que se opõem a ela).” Isso, se me permites, é um perfeito disparate. A linha de demarcação não foi traçada com base nesse critério – ser-se pró ou anti-bushista – mas com base em questões de princípio. Sobre isto, julgo ter sido claro no meu primeiro post, quando me referi às inaceitáveis «equivalências morais» e ao «relativismo» que o assunto (causas do e combate ao terrorismo) parece ter suscitado. Nesse campo, sim, as posições demarcam-se, ou tentam delimitar-se ainda que por vezes atabalhoadamente.
Por último, pergunta o Ivan ”Como podem pretender que o seu caminho seja o único possível, quando se tem revelado sucessivamente errado?” Eu não sei se se tem revelado “sucessivamente errado”. Lamento, mas o discurso da litania não pega. Se "nem tudo o que luz é ouro", nem tudo o que não luz é porcaria, caos, prova insofismável de falência. Tenho sérias dúvidas se um caminho alternativo (por exemplo, sem a intervenção no Iraque) teria salvo o mundo do que, entretanto, aconteceu (fora do Iraque, porque dentro do Iraque Saddam continuaria empenhado em abrir e encher valas). E tenho a convicção de que qualquer posição de força contra o terrorismo (posição, a meu ver, inadiável e inevitável) iria resultar em «trabalhos» (a não ser que a doutrina a adoptar fosse a do let sleeping dogs lie). Admito que o caminho trilhado possa e deva ser alvo de algum tipo de «reencaminhamento» - até porque, no caso do Iraque, foi alcançado o point of no return. E até posso admitir que exista, algures por aí, outro caminho. Mas qual, Ivan? O Dr. Soares chegou a sugerir negociações com o Sr. Bin Laden. E tu?
Tens razão, Ivan: os critérios são teus, o blogue é teu e o assunto linkar/deslinkar não merece um parágrafo, quanto mais três. Trata-se, afinal, não de um pequeno, mas de um grande exagero.
Voltas a referir a suposta tentativa de demarcação entre ”os herdeiros legítimos do 11/9 (os apoiantes da administração Bush) e os outros (os que se opõem a ela).” Isso, se me permites, é um perfeito disparate. A linha de demarcação não foi traçada com base nesse critério – ser-se pró ou anti-bushista – mas com base em questões de princípio. Sobre isto, julgo ter sido claro no meu primeiro post, quando me referi às inaceitáveis «equivalências morais» e ao «relativismo» que o assunto (causas do e combate ao terrorismo) parece ter suscitado. Nesse campo, sim, as posições demarcam-se, ou tentam delimitar-se ainda que por vezes atabalhoadamente.
Por último, pergunta o Ivan ”Como podem pretender que o seu caminho seja o único possível, quando se tem revelado sucessivamente errado?” Eu não sei se se tem revelado “sucessivamente errado”. Lamento, mas o discurso da litania não pega. Se "nem tudo o que luz é ouro", nem tudo o que não luz é porcaria, caos, prova insofismável de falência. Tenho sérias dúvidas se um caminho alternativo (por exemplo, sem a intervenção no Iraque) teria salvo o mundo do que, entretanto, aconteceu (fora do Iraque, porque dentro do Iraque Saddam continuaria empenhado em abrir e encher valas). E tenho a convicção de que qualquer posição de força contra o terrorismo (posição, a meu ver, inadiável e inevitável) iria resultar em «trabalhos» (a não ser que a doutrina a adoptar fosse a do let sleeping dogs lie). Admito que o caminho trilhado possa e deva ser alvo de algum tipo de «reencaminhamento» - até porque, no caso do Iraque, foi alcançado o point of no return. E até posso admitir que exista, algures por aí, outro caminho. Mas qual, Ivan? O Dr. Soares chegou a sugerir negociações com o Sr. Bin Laden. E tu?
segunda-feira, setembro 27, 2004
AH, BOM: JÁ ESTOU MAIS DESCANSADO
"O Sporting voltou este domingo a fazer uma boa exibição de fraco nível na SuperLiga, desta vez no terreno do Rio Ave", in Diário Digital.
SHYAMALAN RULES!
Confesso que entrei na sala de cinema com um misto de receio e curiosidade, acompanhado por um bando sibilante de energúmenos mascando pipocas, a que dão agora o nome de «jovens». Tinham-me chegado aos ouvidos, por interposta pessoa, os rumores de críticas desfavoráveis abroad. A última coisa a que queria assistir era ao falhanço de Night Shyamalan. Entendam-me: um tipo que realiza filmes do calibre de The Sixth Sense e Unbreakable (não refiro Signs para não ferir susceptibilidades), merece este e o outro mundo. Mas o meu sentido era derrotista.
Sobre a história, filme e crew, nada tinha lido de concreto. Há muito que cultivo o hábito de ler o mínimo dos mínimos sobre os filmes, antes de os ver. Reservo para momento posterior a leitura da sentença, mas mais no sentido de verificar se o crítico se chegou a aproximar da Razão - ou seja, de moi même.
Agora que já vi A Vila confirmo e percebo: Shyamalan é um dos mais talentosos realizadores de cinema dos últimos anos (arrisco décadas) e A Vila um filme raro, «maior», na forma como retrata a força do amor sobre o medo, na abordagem que faz da natureza insidiosa dos nossos receios mais recônditos, na maneira absolutamente apaixonada e requintada como Shyamalan vai beber ao que de clássico e de intemporal tem o cinema.
Lanço, por isso, o repto: que avance o biltre que ouse dizer mal deste filme. Que se apresente o magarefe. Que dê um salto a Évora e que me diga, olhos nos olhos, que este filme é «menor», que «não tem ritmo», que «a história não é credível» (como se no cinema isso fosse importante), que o twist final foi «exagerado», que o Brody sofre de overacting (como se o Mr Overacting Himself, Sean Penn, tivesse beliscado Mystic River), etc. etc. etc. Eu estarei de taco de baseball na mão para lhe dizer “dedica-te à pesca, rapaz, porque de cinema não percebes nada", a que se seguirá, com a devida vénia, um som seco e ao mesmo tempo molhado, reminiscente de uma melancia esmagada a pontapé.
Contando única e obviamente com os que vi até à data, o melhor filme do ano (Lost In Translation é de 2003, não é?).
Sobre a história, filme e crew, nada tinha lido de concreto. Há muito que cultivo o hábito de ler o mínimo dos mínimos sobre os filmes, antes de os ver. Reservo para momento posterior a leitura da sentença, mas mais no sentido de verificar se o crítico se chegou a aproximar da Razão - ou seja, de moi même.
Agora que já vi A Vila confirmo e percebo: Shyamalan é um dos mais talentosos realizadores de cinema dos últimos anos (arrisco décadas) e A Vila um filme raro, «maior», na forma como retrata a força do amor sobre o medo, na abordagem que faz da natureza insidiosa dos nossos receios mais recônditos, na maneira absolutamente apaixonada e requintada como Shyamalan vai beber ao que de clássico e de intemporal tem o cinema.
Lanço, por isso, o repto: que avance o biltre que ouse dizer mal deste filme. Que se apresente o magarefe. Que dê um salto a Évora e que me diga, olhos nos olhos, que este filme é «menor», que «não tem ritmo», que «a história não é credível» (como se no cinema isso fosse importante), que o twist final foi «exagerado», que o Brody sofre de overacting (como se o Mr Overacting Himself, Sean Penn, tivesse beliscado Mystic River), etc. etc. etc. Eu estarei de taco de baseball na mão para lhe dizer “dedica-te à pesca, rapaz, porque de cinema não percebes nada", a que se seguirá, com a devida vénia, um som seco e ao mesmo tempo molhado, reminiscente de uma melancia esmagada a pontapé.
Contando única e obviamente com os que vi até à data, o melhor filme do ano (Lost In Translation é de 2003, não é?).
O MULTILATERALISMO É BOM, É BOM É - DIZ O AVÔ E DIZ O BÉBÉ
Another Triumph for the U.N.
por DAVID BROOKS, in NYT
"And so we went the multilateral route.
Confronted with the murder of 50,000 in Sudan, we eschewed all that nasty old unilateralism, all that hegemonic, imperialist, go-it-alone, neocon, empire, coalition-of-the-coerced stuff. Our response to this crisis would be so exquisitely multilateral, meticulously consultative, collegially cooperative and ally-friendly that it would make John Kerry swoon and a million editorialists nod in sage approval.
And so we Americans mustered our outrage at the massacres in Darfur and went to the United Nations. And calls were issued and exhortations were made and platitudes spread like béarnaise. The great hum of diplomacy signaled that the global community was whirring into action.
Meanwhile helicopter gunships were strafing children in Darfur.
We did everything basically right. The president was involved, the secretary of state was bold and clearheaded, the U.N. ambassador was eloquent, and the Congress was united. And, following the strictures of international law, we had the debate that, of course, is going to be the top priority while planes are bombing villages.
We had a discussion over whether the extermination of human beings in this instance is sufficiently concentrated to meet the technical definition of genocide. For if it is, then the "competent organs of the United Nations" may be called in to take appropriate action, and you know how fearsome the competent organs may be when they may indeed be called.
The United States said the killing in Darfur was indeed genocide, the Europeans weren't so sure, and the Arab League said definitely not, and hairs were split and legalisms were parsed, and the debate over how many corpses you can fit on the head of a pin proceeded in stentorian tones while the mass extermination of human beings continued at a pace that may or may not rise to the level of genocide.
For people are still starving and perishing in Darfur.
But the multilateral process moved along in its dignified way. The U.N. general secretary was making preparations to set up a commission. Preliminary U.N. resolutions were passed, and the mass murderers were told they should stop - often in frosty tones. The world community - well skilled in the art of expressing disapproval, having expressed fusillades of disapproval over Rwanda, the Congo, the Balkans, Iraq, etc. - expressed its disapproval.
And, meanwhile, 1.2 million were driven from their homes in Darfur.
There was even some talk of sending U.S. troops to stop the violence, which, of course, would have been a brutal act of oil-greedy unilateralist empire-building, and would have been protested by a million lovers of peace in the streets. Instead, the U.S. proposed a resolution threatening sanctions on Sudan, which began another round of communiqué-issuing.
The Russians, who sell military planes to Sudan, decided sanctions would not be in the interests of humanity. The Chinese, whose oil companies have a significant presence in Sudan, threatened a veto. And so began the great watering-down. Finally, a week ago, the Security Council passed a resolution threatening to "consider" sanctions against Sudan at some point, though at no time soon.
The Security Council debate had all the decorous dullness you'd expect. The Algerian delegate had "profound concern." The Russian delegate pronounced the situation "complex." The Sudanese government was praised because the massacres are proceeding more slowly. The air was filled with nuanced obfuscations, technocratic jargon and the amoral blandness of multilateral deliberation.
The resolution passed, and it was a good day for alliance-nurturing and burden-sharing - for the burden of doing nothing was shared equally by all. And we are by now used to the pattern. Every time there is an ongoing atrocity, we watch the world community go through the same series of stages: (1) shock and concern (2) gathering resolve (3) fruitless negotiation (4) pathetic inaction (5) shame and humiliation (6) steadfast vows to never let this happen again.
The "never again" always comes. But still, we have all agreed, this sad cycle is better than having some impromptu coalition of nations actually go in "unilaterally" and do something. That would lack legitimacy! Strain alliances! Menace international law! Threaten the multilateral ideal!
It's a pity about the poor dead people in Darfur. Their numbers are still rising, at 6,000 to 10,000 a month."
por DAVID BROOKS, in NYT
"And so we went the multilateral route.
Confronted with the murder of 50,000 in Sudan, we eschewed all that nasty old unilateralism, all that hegemonic, imperialist, go-it-alone, neocon, empire, coalition-of-the-coerced stuff. Our response to this crisis would be so exquisitely multilateral, meticulously consultative, collegially cooperative and ally-friendly that it would make John Kerry swoon and a million editorialists nod in sage approval.
And so we Americans mustered our outrage at the massacres in Darfur and went to the United Nations. And calls were issued and exhortations were made and platitudes spread like béarnaise. The great hum of diplomacy signaled that the global community was whirring into action.
Meanwhile helicopter gunships were strafing children in Darfur.
We did everything basically right. The president was involved, the secretary of state was bold and clearheaded, the U.N. ambassador was eloquent, and the Congress was united. And, following the strictures of international law, we had the debate that, of course, is going to be the top priority while planes are bombing villages.
We had a discussion over whether the extermination of human beings in this instance is sufficiently concentrated to meet the technical definition of genocide. For if it is, then the "competent organs of the United Nations" may be called in to take appropriate action, and you know how fearsome the competent organs may be when they may indeed be called.
The United States said the killing in Darfur was indeed genocide, the Europeans weren't so sure, and the Arab League said definitely not, and hairs were split and legalisms were parsed, and the debate over how many corpses you can fit on the head of a pin proceeded in stentorian tones while the mass extermination of human beings continued at a pace that may or may not rise to the level of genocide.
For people are still starving and perishing in Darfur.
But the multilateral process moved along in its dignified way. The U.N. general secretary was making preparations to set up a commission. Preliminary U.N. resolutions were passed, and the mass murderers were told they should stop - often in frosty tones. The world community - well skilled in the art of expressing disapproval, having expressed fusillades of disapproval over Rwanda, the Congo, the Balkans, Iraq, etc. - expressed its disapproval.
And, meanwhile, 1.2 million were driven from their homes in Darfur.
There was even some talk of sending U.S. troops to stop the violence, which, of course, would have been a brutal act of oil-greedy unilateralist empire-building, and would have been protested by a million lovers of peace in the streets. Instead, the U.S. proposed a resolution threatening sanctions on Sudan, which began another round of communiqué-issuing.
The Russians, who sell military planes to Sudan, decided sanctions would not be in the interests of humanity. The Chinese, whose oil companies have a significant presence in Sudan, threatened a veto. And so began the great watering-down. Finally, a week ago, the Security Council passed a resolution threatening to "consider" sanctions against Sudan at some point, though at no time soon.
The Security Council debate had all the decorous dullness you'd expect. The Algerian delegate had "profound concern." The Russian delegate pronounced the situation "complex." The Sudanese government was praised because the massacres are proceeding more slowly. The air was filled with nuanced obfuscations, technocratic jargon and the amoral blandness of multilateral deliberation.
The resolution passed, and it was a good day for alliance-nurturing and burden-sharing - for the burden of doing nothing was shared equally by all. And we are by now used to the pattern. Every time there is an ongoing atrocity, we watch the world community go through the same series of stages: (1) shock and concern (2) gathering resolve (3) fruitless negotiation (4) pathetic inaction (5) shame and humiliation (6) steadfast vows to never let this happen again.
The "never again" always comes. But still, we have all agreed, this sad cycle is better than having some impromptu coalition of nations actually go in "unilaterally" and do something. That would lack legitimacy! Strain alliances! Menace international law! Threaten the multilateral ideal!
It's a pity about the poor dead people in Darfur. Their numbers are still rising, at 6,000 to 10,000 a month."
ERRADO
Duas observações às respostas do Ivan:
1. A questão não está em “gostar e inscrever” e “não gostar e apagar”. É perfeitamente natural que assim se proceda. E cada qual manda na sua casa. A questão prende-se com as flutuações de «humor» da lista e a precariedade do vinculo, que nos remete para um critério, no mínimo, peculiar: uma frase, fotografia, ideia ou opinião publicadas podem garantir a entrada do blogue na lista de links do Ivan para, logo à frente, outra frase, fotografia, ideia ou opinião produzirem o efeito contrário (vulgo deslincamento), sobrepondo-se ao capital de interesse «conquistado» no passado. Dito de outra forma: as razões que ditaram a entrada do blogue no Olimpo, parecem ser descartadas e descartáveis perante novos factos e novas evidências - numa espécie de escrutínio perpétuo e constante que resulta na e da instabilidade da lista. No mínimo, repito, curioso.
2. ”O que o MacGuffin me oferece não é «o benefício da dúvida»: como não há lugar à dúvida, o que ele lança é o seu prejuízo injustificado.” Não. O que o MacGuffin lançou foi a ideia da arbitrariedade do «prejuízo presumido», aliada ao “não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti”. Da mesma forma que acredito (nunca escrevi o contrário) no "sofrimento impressionado" do Ivan perante o morticínio de Beslan, não tenho razões para duvidar da sinceridade e dos sentimentos da "direita bushista" na evocação do 11/9, mesmo que daí tenha resultado mais «emoção» e «overacting», do que «razão» e «recato». Se o Ivan deseja que sobre as revelações avulsas dos seus estados de alma se aplique o benefício da dúvida, no que à sinceridade e ao desinteresse diz respeito, é da mais elementar justiça que ele faça o mesmo relativamente aos outros. "Como qualquer pessoa”, aliás.
1. A questão não está em “gostar e inscrever” e “não gostar e apagar”. É perfeitamente natural que assim se proceda. E cada qual manda na sua casa. A questão prende-se com as flutuações de «humor» da lista e a precariedade do vinculo, que nos remete para um critério, no mínimo, peculiar: uma frase, fotografia, ideia ou opinião publicadas podem garantir a entrada do blogue na lista de links do Ivan para, logo à frente, outra frase, fotografia, ideia ou opinião produzirem o efeito contrário (vulgo deslincamento), sobrepondo-se ao capital de interesse «conquistado» no passado. Dito de outra forma: as razões que ditaram a entrada do blogue no Olimpo, parecem ser descartadas e descartáveis perante novos factos e novas evidências - numa espécie de escrutínio perpétuo e constante que resulta na e da instabilidade da lista. No mínimo, repito, curioso.
2. ”O que o MacGuffin me oferece não é «o benefício da dúvida»: como não há lugar à dúvida, o que ele lança é o seu prejuízo injustificado.” Não. O que o MacGuffin lançou foi a ideia da arbitrariedade do «prejuízo presumido», aliada ao “não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti”. Da mesma forma que acredito (nunca escrevi o contrário) no "sofrimento impressionado" do Ivan perante o morticínio de Beslan, não tenho razões para duvidar da sinceridade e dos sentimentos da "direita bushista" na evocação do 11/9, mesmo que daí tenha resultado mais «emoção» e «overacting», do que «razão» e «recato». Se o Ivan deseja que sobre as revelações avulsas dos seus estados de alma se aplique o benefício da dúvida, no que à sinceridade e ao desinteresse diz respeito, é da mais elementar justiça que ele faça o mesmo relativamente aos outros. "Como qualquer pessoa”, aliás.
THE RELATIONSHIP BETWEEN THE ASS AND THE PANTS
(revisto)
O Bruno, a propósito do caso da menina desaparecida numa aldeia algarvia, escreveu ”Ocorre um crime. E de repente, o "bom povo" converte-se à extrema-direita...”.
«Extrema-direita» porquê? Por que não «extrema-esquerda»? O que é que a ideologia tem que ver com o assunto, ou seja, com o facto de alguns populares se manifestarem junto à casa de uma menina assassinada, exigindo agora, e só agora, justiça (seja ela de que forma for), quando, no passado, a triste vida da pequena Joana lhes terá inspirado pouco mais do que indiferença?
O Bruno, a propósito do caso da menina desaparecida numa aldeia algarvia, escreveu ”Ocorre um crime. E de repente, o "bom povo" converte-se à extrema-direita...”.
«Extrema-direita» porquê? Por que não «extrema-esquerda»? O que é que a ideologia tem que ver com o assunto, ou seja, com o facto de alguns populares se manifestarem junto à casa de uma menina assassinada, exigindo agora, e só agora, justiça (seja ela de que forma for), quando, no passado, a triste vida da pequena Joana lhes terá inspirado pouco mais do que indiferença?
sexta-feira, setembro 24, 2004
ELVIS ESTÁ VIVO
E tem de apelido Costello. Bastante vivo, aliás: The Delivery Man (2004, UMG Recordings, Inc) acaba de ingressar na categoria de “Mais Do Que Provável Disco do Ano”. E volta a relevar da extrema subvalorização de que padece a obra de Costello. A crítica raramente lhe poupa elogios, as publicações especializadas não deixam passar em claro a edição de mais um disco, mas raramente se ouve louvar Costello quando o tema de conversa versa sobre os mais importantes singer-songwriters dos últimos trinta anos. Hosanas e declarações de amor a Waits, Cohen, Wyatt, Young, Cash, etc., costumam abundar na boca do common man, mas sobre Costello a ordem parece ter sido “descarte-se”. Na blogosfera, por exemplo, à excepção do Ricardo, do Jorge e do Tulius, nunca vi uma única referência a Costello, no meio de centenas a Cave, Pixies, Cohen, Oldham, etc.O que, para mim, constitui mais um dos mistérios da longa contabilidade entre ‘sobrevalorizados e incrivelmente lembrados‘ versus ‘subvalorizados e estupidamente esquecidos’. Ingenuamente, ainda arrisco a pergunta: quem é que, na posse das mais elementares faculdades mentais e sensoriais, e perante a já longa obra de Costello (que incluí pérolas como Blood & Chocolate, Imperial Bedroom e King Of América), o pode «esquecer», «menosprezar», «descuidar»?
The Delivery Man é mais uma notável colecção de canções, inspiradas na grande tradição norte-americana do blues, rock e country (a fazer lembrar o histórico e já citado King Of America). A palavra a Elvis: "I didn't want it to sound like some retro record but I wanted it to have some quality I always loved about Alan Toussaint production. Proper rock & roll should swing. If anybody ever calls me a "rock musician", I take issue with it and I say I play rock'n'roll music, a rock just lies in the dirt and has no life in it. Whatever you want to call it, we were looking for that vanishing point in the road where country, rock and roll and soul music all meet. I believe we may have found it."
Yes, folks, he did it again. E, como diz a canção, ”they can’t take that away from you”.
The Delivery Man é mais uma notável colecção de canções, inspiradas na grande tradição norte-americana do blues, rock e country (a fazer lembrar o histórico e já citado King Of America). A palavra a Elvis: "I didn't want it to sound like some retro record but I wanted it to have some quality I always loved about Alan Toussaint production. Proper rock & roll should swing. If anybody ever calls me a "rock musician", I take issue with it and I say I play rock'n'roll music, a rock just lies in the dirt and has no life in it. Whatever you want to call it, we were looking for that vanishing point in the road where country, rock and roll and soul music all meet. I believe we may have found it."
Yes, folks, he did it again. E, como diz a canção, ”they can’t take that away from you”.
quinta-feira, setembro 23, 2004
BOM, MUITO BOM
Através da sempre atenta Charlotte, acabo de descobrir o Impensável. Impensável é, também, o facto de só agora o ter descoberto. Um blogue que celebrou recentemente o seu primeiro aniversário. Como cantava o Sr. Black Francis, "Where is my mind? Where is my mind? Wheeeeeere is my mind?" (com a mão na testa).
A LER
Sobre o grande Philip Roth, a poucos dias de ser reconhecido como um American Classic, ao lado de Melville, Hawthorne, James, Fitzgerald, Faulkner, Bellow…
Afinal havia outros (Iluminismos)…
Quem é amigo, quem é?
Afinal havia outros (Iluminismos)…
Quem é amigo, quem é?
terça-feira, setembro 21, 2004
É A VIDA
Raramente falo de futebol. Não só porque de bola percebo pouco, mas sobretudo porque sou do Sporting.
BEM MAIS SÉRIO...
...é pressentir o estertor do sentido de humor. Ou a incapacidade de rirmos de nós próprios, do que nos é próximo. Ou de levar tudo demasiado a sério. Isso sim é bué da triste.
MAIS UM TROTSKISTA UTÓPICO
Allawi makes a timely visit to London
in The Daily Telegraph, 21/09/2004
“Iyad Allawi, Iraq's interim prime minister, yesterday gave graphic voice to the immense distance his country is having to travel. Looking back, he reminded us that Saddam Hussein was a mass murderer who, unchecked, would have turned the Middle East into a hell. Looking forward, he spoke of Iraq's becoming a flagship for the region.
Dr Allawi's remarks carried a double message to those who opposed last year's invasion. First, pre-war Iraq, which combined totalitarian oppression at home with defiance of United Nations resolutions abroad, was inherently unstable. George W Bush inherited from Bill Clinton a situation in which international will to contain the tyrant on the Tigris had been allowed to weaken.
September 11, 2001 obviously pushed Iraq higher up the new president's agenda but, even without that catastrophe, the Republican administration would sooner or later have had to decide whether to let containment of Saddam slip further or to take a more assertive approach.
Second, the agony that Iraq is currently suffering on the road to democracy should be of universal concern. Dr Allawi was quite right yesterday to call on Russia, France and Germany, all of which opposed the invasion, to write off the debts incurred by Saddam and to help in reconstruction. There is something both small minded and short sighted in their lack of generosity and engagement.
For, as the interim prime minister pointed out, a failed Iraq will be a destabilising factor across the globe. The governments of three countries where Islamic terrorism is a pressing issue should at least appreciate the risk their standoffishness runs.
Dr Allawi is apparently determined that elections to a national assembly should go ahead, as scheduled, next January. Given the current level of violence, that is a formidable challenge. But surely the interim government's prime duty is to prevent the would-be wreckers of democracy from having their way.
Dr Allawi characterised them yesterday as a ragbag of Ba'athist revanchists, ideologically driven foreign interlopers and common criminals. Municipal elections have already been held in Iraq and the interim prime minister is hoping for a 55-60 per cent turnout in four months' time.
Dr Allawi's visit to London has restored Iraq to its rightfully prominent place in the British consciousness. Tony Blair used the occasion to steel the public for a protracted struggle. He was wrong to say that a new war had broken out: counter-insurgency has been the main task of coalition forces since the beginning. And his characterisation of Iraq as the epicentre of global terrorism was questionable: by its very nature, that phenomenon is diffuse.
But we welcome his public acknowledgement that Iraq will not just go away to suit his domestic agenda. The struggle for its soul has never been more intense. And that calls for whole-hearted commitment by Western leaders.”
in The Daily Telegraph, 21/09/2004
“Iyad Allawi, Iraq's interim prime minister, yesterday gave graphic voice to the immense distance his country is having to travel. Looking back, he reminded us that Saddam Hussein was a mass murderer who, unchecked, would have turned the Middle East into a hell. Looking forward, he spoke of Iraq's becoming a flagship for the region.
Dr Allawi's remarks carried a double message to those who opposed last year's invasion. First, pre-war Iraq, which combined totalitarian oppression at home with defiance of United Nations resolutions abroad, was inherently unstable. George W Bush inherited from Bill Clinton a situation in which international will to contain the tyrant on the Tigris had been allowed to weaken.
September 11, 2001 obviously pushed Iraq higher up the new president's agenda but, even without that catastrophe, the Republican administration would sooner or later have had to decide whether to let containment of Saddam slip further or to take a more assertive approach.
Second, the agony that Iraq is currently suffering on the road to democracy should be of universal concern. Dr Allawi was quite right yesterday to call on Russia, France and Germany, all of which opposed the invasion, to write off the debts incurred by Saddam and to help in reconstruction. There is something both small minded and short sighted in their lack of generosity and engagement.
For, as the interim prime minister pointed out, a failed Iraq will be a destabilising factor across the globe. The governments of three countries where Islamic terrorism is a pressing issue should at least appreciate the risk their standoffishness runs.
Dr Allawi is apparently determined that elections to a national assembly should go ahead, as scheduled, next January. Given the current level of violence, that is a formidable challenge. But surely the interim government's prime duty is to prevent the would-be wreckers of democracy from having their way.
Dr Allawi characterised them yesterday as a ragbag of Ba'athist revanchists, ideologically driven foreign interlopers and common criminals. Municipal elections have already been held in Iraq and the interim prime minister is hoping for a 55-60 per cent turnout in four months' time.
Dr Allawi's visit to London has restored Iraq to its rightfully prominent place in the British consciousness. Tony Blair used the occasion to steel the public for a protracted struggle. He was wrong to say that a new war had broken out: counter-insurgency has been the main task of coalition forces since the beginning. And his characterisation of Iraq as the epicentre of global terrorism was questionable: by its very nature, that phenomenon is diffuse.
But we welcome his public acknowledgement that Iraq will not just go away to suit his domestic agenda. The struggle for its soul has never been more intense. And that calls for whole-hearted commitment by Western leaders.”
segunda-feira, setembro 20, 2004
UM DIA A GENTE CONVERSA
Quando o Sr. Palinhos e o Sr. Alves se deixarem de merdas – ou seja, de rotular e reduzir dezenas de textos escritos aqui sobre o assunto, a dois ou três slogans muito espirituosos – talvez eu volte a explicar, debatendo, porque razão não concordei com tudo o que foi feito no Iraque, porque motivo as ADM’s não foram, para mim, “o” casus belli da intervenção, porque razão é desonesto pensar-se que se pretendeu ou pretende mimetizar as democracias de tipo ocidental no Iraque, porque razão é absolutamente idiota pensar-se que os iraquianos são um bando de bárbaros incapazes de se organizar minimamente, etc. etc. Até lá, não entro em peixeiradas inconsequentes. Até lá, divirtam-se os senhores com a vossa clarividência de linhagem unanimista.
I THINK I'LL GO
(revisto)
because of toledo
because of toledo I got sober and stayed clean
the pick-ups and the wild praires
the shadows dancing in between
a girl leans on the jukebox in a pair of old blue jeans
she says “I live here but I don’t really live anywhere”
because o toledo
tuesday it’s raining and I’m pulling on my shoes
I guess I quit believing in the early morning news
A boy orders a coffee and he settles down to think
How the women that you love sometimes
are the water that you drink
then another faded waitress dressed in pink
cries for toledo
the lipstick and the cocaine traces
one face in a thousand faces
I stumble through so many places
because of toledo
because of toledo the highway looks so thin
I see another motel sign and I think of pulling in
I’d write your name up on the mirror there
the only secret that I know
but i guess i would be only chasing rainbows
back to toledo. I think i’ll go.
THE BLUE NILE in High (Epstein Records, 2004)
Há músicas definitivas? Há: Because of Toledo é uma delas. Ilustra, na perfeição, até onde podem chegar os Blue Nile: longe, muito longe. Não é fácil nem comum encontrar na pop grupos assim. Os Blue Nile dão-se ao luxo de tratar os arranjos, as palavras, a estrutura melódica, o tempo e o ritmo na palminha das mãos, como se de filigrana extremamente frágil se tratasse. Os seus discos reflectem trabalhos forçados, sofrimento criativo - sangue, suor e lágrimas. Parecem obras tirados a ferro, de parto difícil e, talvez por isso, frágeis, delicadas, ténues na sua ânsia de conquista. São discos que requerem disposição, empenho e dedicação a quem se dispõe a escutá-los (não confundir com “ouvir”). Não são «fáceis», no duplo sentido da palavra. Afinal de contas, a antítese do género. Zangamo-nos com as palavras, que nos levam ao tapete, mas a elas voltamos porque, como lapas, sugam, sugam e sugam. E nós rendemo-nos. Tem mesmo de ser assim.
High marca o regresso dos Blue Nile e, em perspectiva, podemos ver nele uma espécie de back to basics, com Buchanan a dizer-nos “ok, tratámos de recuperar boa parte do que havíamos perdido com Peace At Last". Não que High seja Hats. Não é um disco perfeito. As cicatrizes notam-se. Nem sequer chega a representar aquilo que A Walk Across The Rooftops representava: o prelúdio de uma obra-prima, a insinuação de algo grandioso. High indica-nos apenas (e o «apenas» é imenso) que Buchanan & Ca. chegaram a bom porto, depois de uma longa viagem. É o típico disco de quem vem de longe, de quem já viveu muito, de quem já fez grandes coisas e se recusa, agora, a morrer na praia. Os eventuais defeitos que, aqui e acolá, lhe podemos apontar, não chegam para sonegar um facto: High é um forte candidato a disco pop do ano.
because of toledo
because of toledo I got sober and stayed clean
the pick-ups and the wild praires
the shadows dancing in between
a girl leans on the jukebox in a pair of old blue jeans
she says “I live here but I don’t really live anywhere”
because o toledo
tuesday it’s raining and I’m pulling on my shoes
I guess I quit believing in the early morning news
A boy orders a coffee and he settles down to think
How the women that you love sometimes
are the water that you drink
then another faded waitress dressed in pink
cries for toledo
the lipstick and the cocaine traces
one face in a thousand faces
I stumble through so many places
because of toledo
because of toledo the highway looks so thin
I see another motel sign and I think of pulling in
I’d write your name up on the mirror there
the only secret that I know
but i guess i would be only chasing rainbows
back to toledo. I think i’ll go.
THE BLUE NILE in High (Epstein Records, 2004)
Há músicas definitivas? Há: Because of Toledo é uma delas. Ilustra, na perfeição, até onde podem chegar os Blue Nile: longe, muito longe. Não é fácil nem comum encontrar na pop grupos assim. Os Blue Nile dão-se ao luxo de tratar os arranjos, as palavras, a estrutura melódica, o tempo e o ritmo na palminha das mãos, como se de filigrana extremamente frágil se tratasse. Os seus discos reflectem trabalhos forçados, sofrimento criativo - sangue, suor e lágrimas. Parecem obras tirados a ferro, de parto difícil e, talvez por isso, frágeis, delicadas, ténues na sua ânsia de conquista. São discos que requerem disposição, empenho e dedicação a quem se dispõe a escutá-los (não confundir com “ouvir”). Não são «fáceis», no duplo sentido da palavra. Afinal de contas, a antítese do género. Zangamo-nos com as palavras, que nos levam ao tapete, mas a elas voltamos porque, como lapas, sugam, sugam e sugam. E nós rendemo-nos. Tem mesmo de ser assim.
High marca o regresso dos Blue Nile e, em perspectiva, podemos ver nele uma espécie de back to basics, com Buchanan a dizer-nos “ok, tratámos de recuperar boa parte do que havíamos perdido com Peace At Last". Não que High seja Hats. Não é um disco perfeito. As cicatrizes notam-se. Nem sequer chega a representar aquilo que A Walk Across The Rooftops representava: o prelúdio de uma obra-prima, a insinuação de algo grandioso. High indica-nos apenas (e o «apenas» é imenso) que Buchanan & Ca. chegaram a bom porto, depois de uma longa viagem. É o típico disco de quem vem de longe, de quem já viveu muito, de quem já fez grandes coisas e se recusa, agora, a morrer na praia. Os eventuais defeitos que, aqui e acolá, lhe podemos apontar, não chegam para sonegar um facto: High é um forte candidato a disco pop do ano.
XIIIIII!!
Só agora reparo (segunda-feira, 2:25 da matina) que a «nossa» (Carlos, estão lá as aspas, ok?) Bomba! fez anos no Sábado. Sorry, Charlotte. Um grande beijinho de parabéns (vinte e qualquer coisa, não é?), ainda que atrasados.
domingo, setembro 19, 2004
O MEU PROBLEMA COM O IVAN
Um post escrito n’A Praia sobre o 11 de Setembro e a barbárie de Beslan, ilustra na perfeição a opinião que tenho do Ivan.
O Ivan é um caso na blogosfera. Discreto, low profile, carregadinho de referências apelativas, o Ivan movimenta-se na blogosfera como Hiperíon entre sátiros. Uma espécie de príncipe entre plebeus que, de tempos a tempos, não enjeita o desígnio de separar o trigo do joio, a elite da ralé, os seus dos outros. Na Praia, nada acontece por acaso. Atente-se na forma como o Ivan organiza e utiliza a lista de links do seu blogue. Que qualquer lista reflecte gostos, cumplicidades e alguma dose de babugem compensatória, já todos nós sabemos. Mas com o Ivan, a lista funciona, também, como uma espécie de manifesto ou declaração política, cultural, bairrista, clubista, etc. Dito de outra forma, a lista do Ivan é o produto da arbitragem sazonal que o Ivan faz da blogosfera, ou seja, de quem ele julga digno de atenção. Quando o Ivan gosta, o Ivan inscreve. Quando o Ivan não gosta, o Ivan apaga. Um blogue pode belamente entrar numa semana para, na semana seguinte, ser alvo de erradicação sumária, sem qualquer tipo de explicação (foi o que aconteceu, ainda recentemente, com o Memória Inventada). A lista sofre, por isso, reajustamentos cíclicos que reflectem os figados do seu autor. E há blogues que sonham com o dia do «reconhecimento».
O Ivan escreve pouco (o que é uma pena), mas quando o faz, fá-lo de forma majestosa, magnânima. O Ivan tem consciência da sua «arte» e, como tal, age em conformidade. Por exemplo, o Ivan é capaz de decretar que o blogue x foi, ou é, uma bela merda sem mais nem menos (sobre a Coluna Infame, acaba de escrever que se tratava ”do ponto de vista político, de uma infame porcaria”). Ou, mais comummente, de nem sequer se dar ao trabalho de ligar a pequenas e pífias provocações de blogues «menores». Os critérios são inabaláveis: basta que o Ivan discorde de uma opinião, detecte este ou aquele erro de sintaxe ou gramatical, vislumbre um tom ligeira ou circunstancialmente caricatural, e pronto. Seja qual for a razão, o Ivan é fidalgo no trato mas intrépido nos métodos.
Quem já me conhece sabe que, regra geral, perante este tipo de postura, eu até costumo tirar o chapéu. Como se diz aqui, no Alentejo, «até lhe migo sopas». Gosto de pessoas honestas na sua presunção, gente que gosta de passear o seu mau feitio sem papas na língua, zangada quase que com a humanidade. O que seria de Mencken, de Waugh, de Nelson Rodrigues ou de Vasco Pulido Valente sem aquela pontinha de altivez e pesporrência? Só que, como em tudo na vida, não baste querer para poder. Não é elegante e justificadamente arrogante quem quer, mas sim quem pode e sabe. Eis o problema: o Ivan escreve bem, tem bom gosto, é inteligente, é dono e senhor de um dos melhores blogues nacionais mas falta-lhe, na minha opinião, o estatuto moral e a autoridade intelectual, aliada a um forte sentido de justiça, para acalentar voos que ele, ainda assim, não se coíbe de praticar.
Dito isto, voltemos, então, ao seu post. Para o Ivan, só há uma razão para uma criatura de direita evocar um “nunca esquecer”, ou para discorrer sobre o sofrimento das vitimas do 11 de Setembro: “tentativa de apropriação moral e emocional do 11/9”. Isto foi insinuado após o Ivan ter publicado uma fotografia absolutamente obscena – a do horror estampado na cara de uma mãe e de um filho em Beslan - seguida da confissão pública de um estado de alma: ter sofrido ”impressionadamente, como qualquer pessoa, com o sequestro e morticínio de Beslan”. Eu acredito que o Ivan não estivesse a tentar apropriar-se do que quer que fosse quando se expôs ao lado daquela fotografia. Impõe-se o benefício da dúvida. Mas em matéria de apropriações, o Ivan esquece que, sobre e por causa do 11/9, se tem dito de tudo. Se eu agora aqui escrevesse (o que passo a fazer) que “os esquerdistas só falam do 11/9 para cumprir calendário ou descarregar a sua má consciência”, estaria a ser despropositado, preconceituoso, estúpido, injusto? Absolutamente. Mas é importante perceber que a lógica retorcida e injusta subjacente a esta afirmação, foi a mesma utilizada pelo Ivan quando afirmou o que afirmou. É, sob todos os aspectos, farinha do mesmo saco. No fundo, constitui a antítese do que se espera encontrar num blogue da autoria de Ivan Nunes.
Antes que seja tarde, convém afirmar o óbvio: há gente (à direita e à esquerda) a recordar o 11/9 com o propósito sincero e edificante de falar sobre o essencial – as razões do terrorismo e a melhor forma de o combater - e não propriamente para ganhar a corrida de um eterno período de nojo. O problema é que o debate está doente. A prova disso mesmo pode ser encontrada na forma como, cada vez mais, se extremam posições e como a discussão tem vindo a ser envolvida num manto de ideias e pressupostos perfeitamente inqualificáveis. Defendendo a minha dama, há gente à direita a esticar a corda por falta de alternativa, ou seja, achando-se no dever de pregar um valente murro na mesa. Recordemos o já famoso cartaz de Spiegelman:
O cartaz ilustra um dos efeitos primários da já referida enfermidade: Bin Laden e Bush colocados, frente a frente, ao mesmo nível. Ainda não entendi se Spiegelman os vê assim – de igual para igual - ou se, simplesmente, alerta para o facto da discussão ter sido inconsequentemente reduzida a uma espécie de duelo entre dois vilões, equiparáveis nas suas monstruosidades. Este cartaz diz muito sobre o que se esconde por detrás das putativas “apropriações morais” e do esticar de muitas cordas.
Que alternativas (nos) restam perante certas afirmações e declarações de princípio? Como é que se pode discutir o 11 de Setembro e o seu aftermath com alguém que coloca ao mesmo nível Bin Laden e George W. Bush? «Soubesse o Ocidente» escapar ao relativismo e às equivalências morais e talvez, por um minuto, pudéssemos todos conversar com ponderação e elevação. Onde o Ivan vislumbra “apropriação moral e emocional”, eu vejo uma forma de gritar um "Basta!" relativamente à má-fé (veja-se o caso Michael Moore), ao contorcionismo moral e à total mendicidade de certos argumentos sobre as causas e as soluções do terrorismo.
Se a direita se vê na circunstância de esticar a corda para além do “politicamente correcto”, tal deve-se, em boa parte, à forma como é empurrada por aqueles que, evocando o 11 de Setembro de 2001, ainda misturam, em 2004, tudo. Não pode haver uma discussão séria enquanto se utilizar o 11 de Setembro para atacar a administração Bush, acusando-a de conivência com o ataque terrorista, ou defendendo que tudo não terá passado de poetic justice. Não se pode discutir seriamente a questão do terrorismo, fazendo crer, ao mesmo tempo, que os atacados são, afinal, os culpados e os terroristas meras vitimas de “pulsos fortes” (e sim, incluo o que se passou na Ossétia do Norte). Não há condições para se debater de forma plural e construtiva a questão do terrorismo, quando se considera de «pobre» o apelo ao “não esquecer o 11/9”, como se o “não esquecer” não estivesse na base de qualquer discussão. Não se chegará a lado nenhum enquanto se insistir em misturar a intervenção no Iraque com o 11/9 como se este tivesse ocorrido depois daquela, ou, no mesmo contexto, quando nem sequer se coloca em dúvida a suposta correlação entre o recrudescimento das acções terroristas a nível mundial (atentados, raptos, etc.) e a guerra no Iraque. Continuará a haver défice de honestidade intelectual se se continuar a vomitar escárnio sobre o actual governo iraquiano, ao mesmo tempo que se relatam de forma prazenteira os revezes da coligação, apresentando-os ao mundo como a «prova cabal» da falência moral da intervenção, sem que por uma vez se condenem os actos e se aponte o dedo aos verdadeiros terroristas. Não se avançará um milímetro em matéria de integridade moral enquanto as razões que levam milhares de pessoas a sair à rua para protestar contra o governo de Sharon, deixarem de servir para levar essas mesmas pessoas a protestar na mesma rua contra as organizações terroristas que continuam a matar civis inocentes em Israel (entretanto apelidadas eufemisticamente de «resistência armada», «activistas radicais», etc).
Soubesse o Ivan falar disto, e não apenas das «apropriações da direita». Ganharíamos todos com isso.
O Ivan é um caso na blogosfera. Discreto, low profile, carregadinho de referências apelativas, o Ivan movimenta-se na blogosfera como Hiperíon entre sátiros. Uma espécie de príncipe entre plebeus que, de tempos a tempos, não enjeita o desígnio de separar o trigo do joio, a elite da ralé, os seus dos outros. Na Praia, nada acontece por acaso. Atente-se na forma como o Ivan organiza e utiliza a lista de links do seu blogue. Que qualquer lista reflecte gostos, cumplicidades e alguma dose de babugem compensatória, já todos nós sabemos. Mas com o Ivan, a lista funciona, também, como uma espécie de manifesto ou declaração política, cultural, bairrista, clubista, etc. Dito de outra forma, a lista do Ivan é o produto da arbitragem sazonal que o Ivan faz da blogosfera, ou seja, de quem ele julga digno de atenção. Quando o Ivan gosta, o Ivan inscreve. Quando o Ivan não gosta, o Ivan apaga. Um blogue pode belamente entrar numa semana para, na semana seguinte, ser alvo de erradicação sumária, sem qualquer tipo de explicação (foi o que aconteceu, ainda recentemente, com o Memória Inventada). A lista sofre, por isso, reajustamentos cíclicos que reflectem os figados do seu autor. E há blogues que sonham com o dia do «reconhecimento».
O Ivan escreve pouco (o que é uma pena), mas quando o faz, fá-lo de forma majestosa, magnânima. O Ivan tem consciência da sua «arte» e, como tal, age em conformidade. Por exemplo, o Ivan é capaz de decretar que o blogue x foi, ou é, uma bela merda sem mais nem menos (sobre a Coluna Infame, acaba de escrever que se tratava ”do ponto de vista político, de uma infame porcaria”). Ou, mais comummente, de nem sequer se dar ao trabalho de ligar a pequenas e pífias provocações de blogues «menores». Os critérios são inabaláveis: basta que o Ivan discorde de uma opinião, detecte este ou aquele erro de sintaxe ou gramatical, vislumbre um tom ligeira ou circunstancialmente caricatural, e pronto. Seja qual for a razão, o Ivan é fidalgo no trato mas intrépido nos métodos.
Quem já me conhece sabe que, regra geral, perante este tipo de postura, eu até costumo tirar o chapéu. Como se diz aqui, no Alentejo, «até lhe migo sopas». Gosto de pessoas honestas na sua presunção, gente que gosta de passear o seu mau feitio sem papas na língua, zangada quase que com a humanidade. O que seria de Mencken, de Waugh, de Nelson Rodrigues ou de Vasco Pulido Valente sem aquela pontinha de altivez e pesporrência? Só que, como em tudo na vida, não baste querer para poder. Não é elegante e justificadamente arrogante quem quer, mas sim quem pode e sabe. Eis o problema: o Ivan escreve bem, tem bom gosto, é inteligente, é dono e senhor de um dos melhores blogues nacionais mas falta-lhe, na minha opinião, o estatuto moral e a autoridade intelectual, aliada a um forte sentido de justiça, para acalentar voos que ele, ainda assim, não se coíbe de praticar.
Dito isto, voltemos, então, ao seu post. Para o Ivan, só há uma razão para uma criatura de direita evocar um “nunca esquecer”, ou para discorrer sobre o sofrimento das vitimas do 11 de Setembro: “tentativa de apropriação moral e emocional do 11/9”. Isto foi insinuado após o Ivan ter publicado uma fotografia absolutamente obscena – a do horror estampado na cara de uma mãe e de um filho em Beslan - seguida da confissão pública de um estado de alma: ter sofrido ”impressionadamente, como qualquer pessoa, com o sequestro e morticínio de Beslan”. Eu acredito que o Ivan não estivesse a tentar apropriar-se do que quer que fosse quando se expôs ao lado daquela fotografia. Impõe-se o benefício da dúvida. Mas em matéria de apropriações, o Ivan esquece que, sobre e por causa do 11/9, se tem dito de tudo. Se eu agora aqui escrevesse (o que passo a fazer) que “os esquerdistas só falam do 11/9 para cumprir calendário ou descarregar a sua má consciência”, estaria a ser despropositado, preconceituoso, estúpido, injusto? Absolutamente. Mas é importante perceber que a lógica retorcida e injusta subjacente a esta afirmação, foi a mesma utilizada pelo Ivan quando afirmou o que afirmou. É, sob todos os aspectos, farinha do mesmo saco. No fundo, constitui a antítese do que se espera encontrar num blogue da autoria de Ivan Nunes.
Antes que seja tarde, convém afirmar o óbvio: há gente (à direita e à esquerda) a recordar o 11/9 com o propósito sincero e edificante de falar sobre o essencial – as razões do terrorismo e a melhor forma de o combater - e não propriamente para ganhar a corrida de um eterno período de nojo. O problema é que o debate está doente. A prova disso mesmo pode ser encontrada na forma como, cada vez mais, se extremam posições e como a discussão tem vindo a ser envolvida num manto de ideias e pressupostos perfeitamente inqualificáveis. Defendendo a minha dama, há gente à direita a esticar a corda por falta de alternativa, ou seja, achando-se no dever de pregar um valente murro na mesa. Recordemos o já famoso cartaz de Spiegelman:
O cartaz ilustra um dos efeitos primários da já referida enfermidade: Bin Laden e Bush colocados, frente a frente, ao mesmo nível. Ainda não entendi se Spiegelman os vê assim – de igual para igual - ou se, simplesmente, alerta para o facto da discussão ter sido inconsequentemente reduzida a uma espécie de duelo entre dois vilões, equiparáveis nas suas monstruosidades. Este cartaz diz muito sobre o que se esconde por detrás das putativas “apropriações morais” e do esticar de muitas cordas.
Que alternativas (nos) restam perante certas afirmações e declarações de princípio? Como é que se pode discutir o 11 de Setembro e o seu aftermath com alguém que coloca ao mesmo nível Bin Laden e George W. Bush? «Soubesse o Ocidente» escapar ao relativismo e às equivalências morais e talvez, por um minuto, pudéssemos todos conversar com ponderação e elevação. Onde o Ivan vislumbra “apropriação moral e emocional”, eu vejo uma forma de gritar um "Basta!" relativamente à má-fé (veja-se o caso Michael Moore), ao contorcionismo moral e à total mendicidade de certos argumentos sobre as causas e as soluções do terrorismo.
Se a direita se vê na circunstância de esticar a corda para além do “politicamente correcto”, tal deve-se, em boa parte, à forma como é empurrada por aqueles que, evocando o 11 de Setembro de 2001, ainda misturam, em 2004, tudo. Não pode haver uma discussão séria enquanto se utilizar o 11 de Setembro para atacar a administração Bush, acusando-a de conivência com o ataque terrorista, ou defendendo que tudo não terá passado de poetic justice. Não se pode discutir seriamente a questão do terrorismo, fazendo crer, ao mesmo tempo, que os atacados são, afinal, os culpados e os terroristas meras vitimas de “pulsos fortes” (e sim, incluo o que se passou na Ossétia do Norte). Não há condições para se debater de forma plural e construtiva a questão do terrorismo, quando se considera de «pobre» o apelo ao “não esquecer o 11/9”, como se o “não esquecer” não estivesse na base de qualquer discussão. Não se chegará a lado nenhum enquanto se insistir em misturar a intervenção no Iraque com o 11/9 como se este tivesse ocorrido depois daquela, ou, no mesmo contexto, quando nem sequer se coloca em dúvida a suposta correlação entre o recrudescimento das acções terroristas a nível mundial (atentados, raptos, etc.) e a guerra no Iraque. Continuará a haver défice de honestidade intelectual se se continuar a vomitar escárnio sobre o actual governo iraquiano, ao mesmo tempo que se relatam de forma prazenteira os revezes da coligação, apresentando-os ao mundo como a «prova cabal» da falência moral da intervenção, sem que por uma vez se condenem os actos e se aponte o dedo aos verdadeiros terroristas. Não se avançará um milímetro em matéria de integridade moral enquanto as razões que levam milhares de pessoas a sair à rua para protestar contra o governo de Sharon, deixarem de servir para levar essas mesmas pessoas a protestar na mesma rua contra as organizações terroristas que continuam a matar civis inocentes em Israel (entretanto apelidadas eufemisticamente de «resistência armada», «activistas radicais», etc).
Soubesse o Ivan falar disto, e não apenas das «apropriações da direita». Ganharíamos todos com isso.
sexta-feira, setembro 17, 2004
O HOMEM QUER SANGUE
A Teresa, perdão, o JMF acha que eu estou a ser manso com o governo no caso “abertura do ano lectivo 2004/2005”, por se tratar de um governo de direita. Pensava eu, estupidamente, que tinha sido bem explicito quando escrevi ”[a]s responsabilidades terão de ser assacadas transversal e verticalmente. Doa a quem doer. Cabeças há, meus caros, que não podem deixar de rolar”. Ou seja, que a crítica ao processo era, ela própria, uma crítica ao governo, na medida em que, neste contexto e caso, há sempre uma responsabilidade política «primária» e «incontornável» (o “verticalmente” tinha que ver com isso). Parece que não. De santo, de facto, JMF não tem nada. É desleal a discutir. Usa e abusa da distorção para efeitos de retórica. Lê o que não está escrito, e escreve sobre o que não leu.
Ok, JMF, aqui vai: “Governo para a Rua!”, “Demita-se o ministro!”, “Mate-se o secretário de Estado!”. Pronto. Assim podemos todos voltar à nossa vidinha porque, mais uma vez, o assunto, ufa!, foi sanado por via do saneamento. Até, está claro, daqui a uns anos, quando o «sistema» voltar a fazer das suas. Mas nessa altura, descansem: JMF já terá sido canonizado por serviços prestados ao país, sobretudo na luta contra a «direita». É só acender uma velinha junto à imagem de São Nunca, ao som do “P’ra rua com o Governo”. Ámen.
Ok, JMF, aqui vai: “Governo para a Rua!”, “Demita-se o ministro!”, “Mate-se o secretário de Estado!”. Pronto. Assim podemos todos voltar à nossa vidinha porque, mais uma vez, o assunto, ufa!, foi sanado por via do saneamento. Até, está claro, daqui a uns anos, quando o «sistema» voltar a fazer das suas. Mas nessa altura, descansem: JMF já terá sido canonizado por serviços prestados ao país, sobretudo na luta contra a «direita». É só acender uma velinha junto à imagem de São Nunca, ao som do “P’ra rua com o Governo”. Ámen.
A DESLEALDADE DA DISTORÇÃO (OU SERÁ MESMO MÁ-FÉ?)
JMF, JMF... o que é que eu faço contigo? A frase «Deixemos de lado o facto de ser um governo PSD, PP, PS ou o raio que os parta» deveria ter sido entendida da seguinte forma (presta atenção): não interessa a cor da camisola do ministro da tutela, do secretário de Estado, do chefe de gabinete, do director administrativo, do chefe de secção, da secretária executiva, do assessor, do responsável pelo sistema informático, do administrador da empresa fornecedora do novo software, do escriturário, do trolha, etc. etc. Dito de outra forma, o «sistema» falhou com o PSD no governo, como poderia ter falhado com outro governo, de outro partido. No passado ou no futuro. Não é uma questão partidária. Não é uma questão de «esquerda» e de «direita». Infelizmente, os exemplos foram muitos, ao longo dos anos. Recorro ao óbvio: é uma questão que advém da falta de rigor, profissionalismo e responsabilidade do funcionalismo publico. É um problema endémico, estrutural, que bebe forte na fonte do laxismo, do corporativismo, da incompetência, da falta de formação, do “deixa andar” e do “mete agora na gaveta que ninguém está a ver”. Não basta, por isso, responsabilizar apenas, embora também, o desgraçado do ministro (chegando, por exemplo, à sua demissão). Não basta se a D. Alzira, dos serviços centrais, que, para além de socialista e sindicalizada, é uma incompetente nata, permanecer em cena como se nada se tivesse passado. Não basta se o Zé Manel, que chefia o departamento informático há anos e que deveria ter planeado os testes ao sistema em tempo útil, continuar alegremente à frente da sua secção, como se nada fosse. Não basta se o Dr. Antunes, assessor já na era guterrista, que se esqueceu de avisar a tempo o secretário de Estado (por ter culpas no cartório), continuar a receber os seus 5.000 euros mensais como se fosse uma sumidade. Ou seja, para além de responsabilidades políticas (que as há), não podemos ficar só por essas. Por um momento, esqueçamos a vendetta política e concentremo-nos nas pessoas que compõem o elenco, i.e., as que se encontram na cúpula, no meio e na base da pirâmide. Quem falhou, como e porquê, é o que queremos saber.
Pelo contrário, senhor JMF: eu não quero que a culpa morra solteira. Fui, aliás, bem explicito (só não o fui para si). Se o senhor JMF passa a dormir descansado com o espectacular enforcamento, em praça pública, de um bode-expiatório «política e partidariamente relevante», eu, devo dizê-lo, não. Ou seja, e parafraseando o Lampedusa, eu não queria que, desta vez, tudo ficasse na mesma com a soluçãozinha da praxe.
Pelo contrário, senhor JMF: eu não quero que a culpa morra solteira. Fui, aliás, bem explicito (só não o fui para si). Se o senhor JMF passa a dormir descansado com o espectacular enforcamento, em praça pública, de um bode-expiatório «política e partidariamente relevante», eu, devo dizê-lo, não. Ou seja, e parafraseando o Lampedusa, eu não queria que, desta vez, tudo ficasse na mesma com a soluçãozinha da praxe.
quinta-feira, setembro 16, 2004
HOJE SÓ QUERO DIZER ISTO
O que se está a passar com o início do ano escolar é absolutamente v-e-r-g-o-n-h-o-s-o. Hoje, fui chamado à escola sede do agrupamento para assistir a uma abertura fantasma, com um professor fantasma, perante uma plateia de zombies, a avaliar pelos olhares.
Ali estavam, naquela pequena sala, um grupo de pais e crianças que olhavam, atónitos, para a sua professora de sempre (que os acompanha há dois anos) sem pouco ou nada para dizer. Pura e simplesmente porque essa professora, que infelizmente não pertence aos quadros da escola (apesar de já nela leccionar vai para dez anos), não sabe, ainda, em que lugar se encontra no concurso, se tem hipóteses de vir a ser recolocada na mesma escola, ou, caso contrário, que professor a deverá substituir. Mais: até há poucas semanas, a Prof.ª Isabel Pinto nem sequer constava nas listas. Para todos os efeitos, não existia como candidata e, suponho, como pessoa. Protestou uma vez e nada. Só à segunda alguém, magnânimo, anuiu a corrigir o erro. Mas, perguntarão alguns, por que não consulta ela, agora, a «lista»? Qual «lista»? Para que se saiba: no dia da abertura oficial das aulas, «lista» há só uma: a das Páginas Amarelas e mais nenhuma.
Eu sei que exageramos muito nas expectativas que mantemos em relação aos políticos. Sei que, muitas vezes, temos tendência a culpar o topo da pirâmide e a esquecer os níveis intermédios e a própria base. Este é um caso que não se compadece com falinhas mansas e com as complacências da praxe. Deixemos de lado o facto de ser um governo PSD, PP, PS ou o raio que os parta. As responsabilidades terão de ser assacadas transversal e verticalmente. Doa a quem doer. Cabeças há, meus caros, que não podem deixar de rolar. Sob pena de não nos respeitarmos a nós próprios e deste país não passar de uma república das bananas. Há quem diga, aliás, que este país nem sequer existe.
Ali estavam, naquela pequena sala, um grupo de pais e crianças que olhavam, atónitos, para a sua professora de sempre (que os acompanha há dois anos) sem pouco ou nada para dizer. Pura e simplesmente porque essa professora, que infelizmente não pertence aos quadros da escola (apesar de já nela leccionar vai para dez anos), não sabe, ainda, em que lugar se encontra no concurso, se tem hipóteses de vir a ser recolocada na mesma escola, ou, caso contrário, que professor a deverá substituir. Mais: até há poucas semanas, a Prof.ª Isabel Pinto nem sequer constava nas listas. Para todos os efeitos, não existia como candidata e, suponho, como pessoa. Protestou uma vez e nada. Só à segunda alguém, magnânimo, anuiu a corrigir o erro. Mas, perguntarão alguns, por que não consulta ela, agora, a «lista»? Qual «lista»? Para que se saiba: no dia da abertura oficial das aulas, «lista» há só uma: a das Páginas Amarelas e mais nenhuma.
Eu sei que exageramos muito nas expectativas que mantemos em relação aos políticos. Sei que, muitas vezes, temos tendência a culpar o topo da pirâmide e a esquecer os níveis intermédios e a própria base. Este é um caso que não se compadece com falinhas mansas e com as complacências da praxe. Deixemos de lado o facto de ser um governo PSD, PP, PS ou o raio que os parta. As responsabilidades terão de ser assacadas transversal e verticalmente. Doa a quem doer. Cabeças há, meus caros, que não podem deixar de rolar. Sob pena de não nos respeitarmos a nós próprios e deste país não passar de uma república das bananas. Há quem diga, aliás, que este país nem sequer existe.
quarta-feira, setembro 15, 2004
DESVENDADO O "MISTÉRIO EBORENSE"
No Memória Inventada, foi lançada a questão: ”O que a fotografia tem de mais penetrante é o livro incógnito no canto inferior direito. Livro técnico que os doutos bloguistas desprezariam? Literatura subversiva? Vamos, Macguffin, que tratado é aquele?. Após esforço glorioso, encontrei-o: trata-se do Guia dos Remédios Caseiros para Constipações e Gripes, edições Plátano, Fevereiro de 2002 (ISBN-972-707-333-6).
terça-feira, setembro 14, 2004
ÀS AVESSAS
Se dúvidas houvesse quanto à suposta desorientação e iniquidade da esquerda em Portugal, o caso “Taxas Moderadoras” acabou de as dissipar. Beyond reasonable doubt. Conseguiu-se, aliás, o pleno: a esquerda, em peso, falou. Do BE ao PS, passando pelo PCP, todos foram claros em explicar que, para gritar e zurzir, para debater temas «fracturantes» e agitar consciências, para vender como sua a patente da justiça social e apertar a mão aos pobrezinhos "com uma lágrima no canto do olho", eles são imbatíveis. Agora, não contem com eles para além das «agendas»; não contem com eles para perceber o que, em matéria de facto, é socialmente mais justo e equilibrado; não contem com eles para sacudir preconceitos e deitar fora a tralha ideológica que os contínua a empurrar para fora deste mundo; não contem com eles para erradicar a demagogia mais primária do (seu) discurso político. Não se iludam, portanto, os mais incautos: por entre abraços hipócritas e sorrisos amarelos de «camaradas e amigos», a esquerda continuará empenhada em mostrar a sua fácies hipócrita e o seu pueril desnorteio.
Na ânsia de facturar mais uns cobres na sua longa caminhada contra o inimigo; na concepção do que seria uma absoluta imprudência ficar para trás no campeonato da «indignação»; cada um à sua maneira (do Sr. Bernardino ao Sr. Socrates, passando pelo Sr. Soares e pelo Sr. Teixeira Lopes, mas em sentida e totalitária consonância), esqueceu o que estava, realmente, em causa: diferenciar o custo de acesso a um serviço público em função do rendimento (leia-se “capacidade”) de cada utente - afinal de contas um velho princípio de equidade social. Nã senhor, como se diz aqui, no Alentejo. Esses senhores de esquerda nem sequer puseram em hipótese discutir escalões, metodologias e critérios. Perante uma medida que concorria para a tão aclamada «justiça social» (uma das suas mais queridas bandeiras), a esquerda considerou-a, do alto da sua emproada moralidade, «desprezível».
Agora, eu pergunto: como quer a esquerda ser levada a sério?
Na ânsia de facturar mais uns cobres na sua longa caminhada contra o inimigo; na concepção do que seria uma absoluta imprudência ficar para trás no campeonato da «indignação»; cada um à sua maneira (do Sr. Bernardino ao Sr. Socrates, passando pelo Sr. Soares e pelo Sr. Teixeira Lopes, mas em sentida e totalitária consonância), esqueceu o que estava, realmente, em causa: diferenciar o custo de acesso a um serviço público em função do rendimento (leia-se “capacidade”) de cada utente - afinal de contas um velho princípio de equidade social. Nã senhor, como se diz aqui, no Alentejo. Esses senhores de esquerda nem sequer puseram em hipótese discutir escalões, metodologias e critérios. Perante uma medida que concorria para a tão aclamada «justiça social» (uma das suas mais queridas bandeiras), a esquerda considerou-a, do alto da sua emproada moralidade, «desprezível».
Agora, eu pergunto: como quer a esquerda ser levada a sério?
É DO SANGUE, DIZ ELE...
”Se fosse explicável, não seria aristocrático. É do sangue, nasci assim, que fazer? 76 quilos.”. Minhas senhoras, e meus senhores, passa a ser «aristocrático»:
1. Ensaiar, com brutal sucesso, o desaparecimento de uma generosa dose de espargos com carne do alguidar em pouco mais de dois minutos;
2. Alambazar-se, ao pequeno almoço, com quatro torradas de perímetro superior ao rectus femoris muscle da Serena Williams, a partir de pão do Torrão (cuja densidade, segundo estudo em laboratório credenciado, andará poucos furos abaixo da de um pneu Mabor já nas lonas), afogadas misericordiosamente em manteiga dos Açores e, posteriormente, barradas (as torradas) em doce de figo cuja composição inclui 70% de açúcar anti-hermesetiano;
3. Desbastar, com virtuosismo Schumacheriano, um presunto pata negra (amputado a um animal que terá passado, obrigatoriamente, a sua vida a comer bolota e erva tenrinha), seguido de um paio enguitado dos Beloteiros de Arronches (não necessariamente por esta ordem);
4. Enfiar «debaixo da camisa», sobretudo de madrugada e enquanto se revê um qualquer episódio do Blackadder, uma taça de mousse de chocolate «caseira» (feita em casa, portanto), se possível após o ponto 3);
5. E, last but not least, passear por Évora, à tarde, na companhia de uma caixa com fatias douradas, a encetar sempre que um homem quiser (como o Natal), depois de deglutidos um “Beijinho de Freira” e uma dose medieval de “Pão de Rala”, confeccionados (as fatias, o "beijinho" e o "pão de rala") pelas mãos da fada Ercília.
Tomei conhecimento.
1. Ensaiar, com brutal sucesso, o desaparecimento de uma generosa dose de espargos com carne do alguidar em pouco mais de dois minutos;
2. Alambazar-se, ao pequeno almoço, com quatro torradas de perímetro superior ao rectus femoris muscle da Serena Williams, a partir de pão do Torrão (cuja densidade, segundo estudo em laboratório credenciado, andará poucos furos abaixo da de um pneu Mabor já nas lonas), afogadas misericordiosamente em manteiga dos Açores e, posteriormente, barradas (as torradas) em doce de figo cuja composição inclui 70% de açúcar anti-hermesetiano;
3. Desbastar, com virtuosismo Schumacheriano, um presunto pata negra (amputado a um animal que terá passado, obrigatoriamente, a sua vida a comer bolota e erva tenrinha), seguido de um paio enguitado dos Beloteiros de Arronches (não necessariamente por esta ordem);
4. Enfiar «debaixo da camisa», sobretudo de madrugada e enquanto se revê um qualquer episódio do Blackadder, uma taça de mousse de chocolate «caseira» (feita em casa, portanto), se possível após o ponto 3);
5. E, last but not least, passear por Évora, à tarde, na companhia de uma caixa com fatias douradas, a encetar sempre que um homem quiser (como o Natal), depois de deglutidos um “Beijinho de Freira” e uma dose medieval de “Pão de Rala”, confeccionados (as fatias, o "beijinho" e o "pão de rala") pelas mãos da fada Ercília.
Tomei conhecimento.
"TYPES OF MEN" por HENRY LOUIS MENCKEN (eu depois mando a conta)
The Romantic
There is a variety of man whose eye inevitably exaggerates, whose ear inevitably hears more than the band plays, whose imagination inevitably doubles or triples the news brought in by his five senses. He is the enthusiast, the believer, the romantic. He is the sort of fellow who, if he were a bacteriologist, would report the streptococcus pyogenes to be as large as a St. Bernard dog, as intelligent as Socrates, as beautiful as Beauvais Cathedral and as respectable as a Yale professor.
The Skeptic
No man ever quite believes in any other man. One may believe in an idea absolutely, but not in a man. In the highest confidence there is always a flavour of doubt – a feeling, half instinctive and half logical, that, after all, the scoundrel may have something up his sleeve. This doubt, it must be obvious, is always more than justified, for no man is worthy of unlimited reliance – his treason, at best, only waits for sufficient temptation. The trouble with the world is not that men are too suspicious in this direction, but that they tend to be too confiding – that they still trust themselves too far to other men, even after bitter experience. Women, I believe, are measurably less sentimental, in this as in other things. No married woman ever trusts her husband absolutely, nor does she ever act as if she did trust him. Her utmost confidence is as wary as an American pickpocket’s confidence that the policeman on the beat will stay bought.
The Believer
Faith may be defined briefly as an illogical belief in the occurrence of the improbable. There is thus a flavour of the pathological in it; it goes beyond the normal intellectual process and passes into the murky domain of transcendental metaphysics. A man full of faith is simply one who has lost (or never had) the capacity for clear and realistic thought. He is not a mere ass: he is actually ill. Worse, he is incurable, for disappointment, being essentially an objective phenomenon, cannot permanently affect his subjective infirmity. What he says, in substance, is this: “Let us trust God, Who has always fooled us in the past.”
The Toiler
All democratic theories, whether Socialistic or bourgeois, necessarily take in some concept of the dignity of labour. If the have-not were deprived of this delusion that his sufferings on the assembly-line are somehow laudable and agreeable to God, there would be little left in his ego save a belly-ache. Nevertheless, a delusion is a delusion, and this is one of the worst. It arises out of confusing the pride of workmanship of the artist with the dogged, painful docility of the machine. The difference is important and enormous. If he got no reward whatever, the artist would go on working just the same; his actual reward, in fact, is often so little that he almost starves. But suppose a garment-worker got nothing for his labour: would he go on working just the same? Can one imagine his submitting voluntarily to hardship and sore want that he might express his soul in 200 more pairs of ladies’ pants?
The Physician
Hygiene is the corruption of medicine by morality. It is impossible to find a hygienist who does not debase his theory of the healthful with a theory of the virtuous. The whole hygienic art, indeed, resolves itself into an ethical exhortation. This brings it, at the end, into diametrical conflict with medicine proper. The true aim of medicine is not to make men virtuous; it is to safeguard and rescue them from the consequences of their vices. The physician does not preach repentance; he offers absolution.
The Scientist
The value the world sets upon motives is often grossly unjust and inaccurate. Consider, for example, two of them: mere insatiable curiosity and the desire to do good. The latter is put high above the former, and yet it is the former that moves one of the most useful men the human race has yet produced: the scientific investigator. What actually urges him on is not some brummagem idea of Service, but a boundless, almost pathological thirst to penetrate the unknown, to uncover the secret, to find out what has not been found out before. His prototype is not the liberator releasing slaves, the good Samaritan lifting up the fallen, but a dog sniffing tremendously at an infinite series of rat-holes.
The Business Man
It is, after all, a sound instinct which puts business below the professions, and burdens the business man with a social inferiority that he can never quite shake off, even in America. The business man, in fact, acquiesces in this assumption of his inferiority, even when he protests against it. He is the only man above the hangman and the scavenger who is forever apologizing for his occupation. He is the only one who always seeks to make it appear, when he attains the object of his labours, i.e., the making of a great deal of money, that it was not the object of his labours.
The King
Perhaps the most valuable asset that any man can have in this world is a naturally superior air, a talent for sniffishness and reserve. The generality of men are always greatly impressed by it, and accept it freely as a proof of genuine merit.One need but disdain them to gain their respect. Their congenital stupidity and timorousness make them turn to any leader who offers, and the sign of leadership that they recognize most readily is that which shows itself in external manner. This is the true explanation of the survival of monarchism, which always lives through its perennial deaths.
The Metaphysician
A metaphysician is one who, when you remark that twice two makes four, demands to know what you mean by twice, what by two, what by makes, and what by fours. For asking such questions, methaphysicians are supported in oriental luxury in the universities, and respected as educated and intelligent men.
The Average Man
It is often urged against the Marxian brethren, with their materialistic conception of history, that they overlook certain spiritual qualities that are independent of wages scales and metabolism. These qualities, it is argued, color the aspirations and activities of civilized man quite as much as they are colored by his material condition, and so make it impossible to consider him simply as an economic machine. As examples, the anti-Marxians cite patriotism, pity, the esthetic sense and the yearning to know God. Unluckily, the examples are ill-chosen. Millions of men are quite devoid of patriotism, pity and the esthetic sense, and have no very active desire to know God. Why don’t the anti-Marxians cite a spiritual quality that is genuinely universal? There is one readily at hand. I allude to cowardice. It is, in one form or other, visible in every human being; it almost serves to mark off the human race from all the other higher animals. Cowardice, I believe, is at the bottom of the whole caste system, the foundation of every organized society, including the most democratic. In order to escape going to war himself, the peasant was willing to give the warrior certain privileges – and out of those privileges has grown the whole structure of civilization. Go back still further. Property arose out of the fact that a few relatively courageous men were able to accumulate more possessions than whole hordes of cowardly men, and, what is more, to retain them after accumulating them.
The Truth-Seeker
The man who boasts that he habitually tells the truth is simply a man with no respect for it. It is not a thing to be thrown about loosely, like small change; it is something to be cherished and hoarded and disbursed only when absolutely necessary. The smallest atom of truth represents some man’s bitter toil and agony; for every ponderable chunk of it there is a brave truth-seeker’s grave upon some lonely ash-dump and a soul roasting in Hell.
The Friend
A man of active and resilient mind outwears his friendships just as certainly as he outwears his love affairs, his politics and his epistemology. They become threadbare, shabby, pumped-up, irritating, depressing. They convert themselves form living realities into moribund artificialities, and a stand in sinister opposition to freedom, self-respect and truth. It is as corrupting to preserve them after they have grown fly-blown and hollow as it is to keep up the forms of passion after passion itself is a corpse. A prudent man, remembering that life is short, gives an hour, now and then, to a critical examination of his friendships. He weights them, edits them, tests the metal of them. A few he retains, perhaps with radical changes in their terms. But the majority he expunges from his minutes and tries to forget, as he tries to forget the cold and clammy loves of year before last.
The Philosopher
There is no record in human history of a happy philosopher: they exist only in romantic legend. Many of them have committed suicide; many others have turned their children out of doors and beaten their wives. And no wonder. If you want to find out how a philosopher feels when he is engaged in the practise of his profession, go to the nearest zoo and watch a chimpanzee at the wearying and hopeless job of chasing fleas. Both suffer damnably, and neither can win.
The Altruist
A large part of altruism, even when it is perfectly honest, is grounded upon the fact that it is uncomfortable to have unhappy people about one. This is especially true in family life. A man makes sacrifices to his wife’s desires, not because he greatly enjoys giving up what he wants himself, but because he would enjoy it even less to see her cutting a sour face across the dinner table.
The Good Man
Man, at his best, remains a sort of one-lunged animal, never completely rounded and perfect, as a cockroach, say, is perfect. If he shows one valuable quality, it is almost unheard of for him to show any other. Give him a head, and he lacks a heart. Give him a heart of a gallon capacity, and his head holds scarcely a pint. The artist, nine times out of ten, is a dead-beat and given to the debauching of virgins, so-called. The patriot is a bigot, and, more often than not, a bounder and a poltroon. The man of physical bravery is often on a level, intellectually, with a Baptist clergyman. The intellectual giant has bad kidneys and cannot thread a needle. In all my years of search in this world, from the Golden Gate in the West to the Vistula in the East, and from the Orkney Islands in the North to the Spanish Main in the South, I have never met a thoroughly moral man who was honourable.
The Slave
Don’t tell me what delusion he entertains regarding God, or what mountebank he follows in politics, or what he springs from, or what he submits to from his wife. Simply tell me how he makes his living. It is the safest and surest of all known tests. A man who gets his board and lodging on this ball in an ignominious way is inevitably an ignominious man.
in PREJUDICES
There is a variety of man whose eye inevitably exaggerates, whose ear inevitably hears more than the band plays, whose imagination inevitably doubles or triples the news brought in by his five senses. He is the enthusiast, the believer, the romantic. He is the sort of fellow who, if he were a bacteriologist, would report the streptococcus pyogenes to be as large as a St. Bernard dog, as intelligent as Socrates, as beautiful as Beauvais Cathedral and as respectable as a Yale professor.
The Skeptic
No man ever quite believes in any other man. One may believe in an idea absolutely, but not in a man. In the highest confidence there is always a flavour of doubt – a feeling, half instinctive and half logical, that, after all, the scoundrel may have something up his sleeve. This doubt, it must be obvious, is always more than justified, for no man is worthy of unlimited reliance – his treason, at best, only waits for sufficient temptation. The trouble with the world is not that men are too suspicious in this direction, but that they tend to be too confiding – that they still trust themselves too far to other men, even after bitter experience. Women, I believe, are measurably less sentimental, in this as in other things. No married woman ever trusts her husband absolutely, nor does she ever act as if she did trust him. Her utmost confidence is as wary as an American pickpocket’s confidence that the policeman on the beat will stay bought.
The Believer
Faith may be defined briefly as an illogical belief in the occurrence of the improbable. There is thus a flavour of the pathological in it; it goes beyond the normal intellectual process and passes into the murky domain of transcendental metaphysics. A man full of faith is simply one who has lost (or never had) the capacity for clear and realistic thought. He is not a mere ass: he is actually ill. Worse, he is incurable, for disappointment, being essentially an objective phenomenon, cannot permanently affect his subjective infirmity. What he says, in substance, is this: “Let us trust God, Who has always fooled us in the past.”
The Toiler
All democratic theories, whether Socialistic or bourgeois, necessarily take in some concept of the dignity of labour. If the have-not were deprived of this delusion that his sufferings on the assembly-line are somehow laudable and agreeable to God, there would be little left in his ego save a belly-ache. Nevertheless, a delusion is a delusion, and this is one of the worst. It arises out of confusing the pride of workmanship of the artist with the dogged, painful docility of the machine. The difference is important and enormous. If he got no reward whatever, the artist would go on working just the same; his actual reward, in fact, is often so little that he almost starves. But suppose a garment-worker got nothing for his labour: would he go on working just the same? Can one imagine his submitting voluntarily to hardship and sore want that he might express his soul in 200 more pairs of ladies’ pants?
The Physician
Hygiene is the corruption of medicine by morality. It is impossible to find a hygienist who does not debase his theory of the healthful with a theory of the virtuous. The whole hygienic art, indeed, resolves itself into an ethical exhortation. This brings it, at the end, into diametrical conflict with medicine proper. The true aim of medicine is not to make men virtuous; it is to safeguard and rescue them from the consequences of their vices. The physician does not preach repentance; he offers absolution.
The Scientist
The value the world sets upon motives is often grossly unjust and inaccurate. Consider, for example, two of them: mere insatiable curiosity and the desire to do good. The latter is put high above the former, and yet it is the former that moves one of the most useful men the human race has yet produced: the scientific investigator. What actually urges him on is not some brummagem idea of Service, but a boundless, almost pathological thirst to penetrate the unknown, to uncover the secret, to find out what has not been found out before. His prototype is not the liberator releasing slaves, the good Samaritan lifting up the fallen, but a dog sniffing tremendously at an infinite series of rat-holes.
The Business Man
It is, after all, a sound instinct which puts business below the professions, and burdens the business man with a social inferiority that he can never quite shake off, even in America. The business man, in fact, acquiesces in this assumption of his inferiority, even when he protests against it. He is the only man above the hangman and the scavenger who is forever apologizing for his occupation. He is the only one who always seeks to make it appear, when he attains the object of his labours, i.e., the making of a great deal of money, that it was not the object of his labours.
The King
Perhaps the most valuable asset that any man can have in this world is a naturally superior air, a talent for sniffishness and reserve. The generality of men are always greatly impressed by it, and accept it freely as a proof of genuine merit.One need but disdain them to gain their respect. Their congenital stupidity and timorousness make them turn to any leader who offers, and the sign of leadership that they recognize most readily is that which shows itself in external manner. This is the true explanation of the survival of monarchism, which always lives through its perennial deaths.
The Metaphysician
A metaphysician is one who, when you remark that twice two makes four, demands to know what you mean by twice, what by two, what by makes, and what by fours. For asking such questions, methaphysicians are supported in oriental luxury in the universities, and respected as educated and intelligent men.
The Average Man
It is often urged against the Marxian brethren, with their materialistic conception of history, that they overlook certain spiritual qualities that are independent of wages scales and metabolism. These qualities, it is argued, color the aspirations and activities of civilized man quite as much as they are colored by his material condition, and so make it impossible to consider him simply as an economic machine. As examples, the anti-Marxians cite patriotism, pity, the esthetic sense and the yearning to know God. Unluckily, the examples are ill-chosen. Millions of men are quite devoid of patriotism, pity and the esthetic sense, and have no very active desire to know God. Why don’t the anti-Marxians cite a spiritual quality that is genuinely universal? There is one readily at hand. I allude to cowardice. It is, in one form or other, visible in every human being; it almost serves to mark off the human race from all the other higher animals. Cowardice, I believe, is at the bottom of the whole caste system, the foundation of every organized society, including the most democratic. In order to escape going to war himself, the peasant was willing to give the warrior certain privileges – and out of those privileges has grown the whole structure of civilization. Go back still further. Property arose out of the fact that a few relatively courageous men were able to accumulate more possessions than whole hordes of cowardly men, and, what is more, to retain them after accumulating them.
The Truth-Seeker
The man who boasts that he habitually tells the truth is simply a man with no respect for it. It is not a thing to be thrown about loosely, like small change; it is something to be cherished and hoarded and disbursed only when absolutely necessary. The smallest atom of truth represents some man’s bitter toil and agony; for every ponderable chunk of it there is a brave truth-seeker’s grave upon some lonely ash-dump and a soul roasting in Hell.
The Friend
A man of active and resilient mind outwears his friendships just as certainly as he outwears his love affairs, his politics and his epistemology. They become threadbare, shabby, pumped-up, irritating, depressing. They convert themselves form living realities into moribund artificialities, and a stand in sinister opposition to freedom, self-respect and truth. It is as corrupting to preserve them after they have grown fly-blown and hollow as it is to keep up the forms of passion after passion itself is a corpse. A prudent man, remembering that life is short, gives an hour, now and then, to a critical examination of his friendships. He weights them, edits them, tests the metal of them. A few he retains, perhaps with radical changes in their terms. But the majority he expunges from his minutes and tries to forget, as he tries to forget the cold and clammy loves of year before last.
The Philosopher
There is no record in human history of a happy philosopher: they exist only in romantic legend. Many of them have committed suicide; many others have turned their children out of doors and beaten their wives. And no wonder. If you want to find out how a philosopher feels when he is engaged in the practise of his profession, go to the nearest zoo and watch a chimpanzee at the wearying and hopeless job of chasing fleas. Both suffer damnably, and neither can win.
The Altruist
A large part of altruism, even when it is perfectly honest, is grounded upon the fact that it is uncomfortable to have unhappy people about one. This is especially true in family life. A man makes sacrifices to his wife’s desires, not because he greatly enjoys giving up what he wants himself, but because he would enjoy it even less to see her cutting a sour face across the dinner table.
The Good Man
Man, at his best, remains a sort of one-lunged animal, never completely rounded and perfect, as a cockroach, say, is perfect. If he shows one valuable quality, it is almost unheard of for him to show any other. Give him a head, and he lacks a heart. Give him a heart of a gallon capacity, and his head holds scarcely a pint. The artist, nine times out of ten, is a dead-beat and given to the debauching of virgins, so-called. The patriot is a bigot, and, more often than not, a bounder and a poltroon. The man of physical bravery is often on a level, intellectually, with a Baptist clergyman. The intellectual giant has bad kidneys and cannot thread a needle. In all my years of search in this world, from the Golden Gate in the West to the Vistula in the East, and from the Orkney Islands in the North to the Spanish Main in the South, I have never met a thoroughly moral man who was honourable.
The Slave
Don’t tell me what delusion he entertains regarding God, or what mountebank he follows in politics, or what he springs from, or what he submits to from his wife. Simply tell me how he makes his living. It is the safest and surest of all known tests. A man who gets his board and lodging on this ball in an ignominious way is inevitably an ignominious man.
in PREJUDICES
sábado, setembro 11, 2004
sexta-feira, setembro 10, 2004
PARABÉNS, PÁ!
O Barnabé celebra o seu primeiro aniversário. Deste lado da barricada, algures numa trincheira, mando-lhes uns valentes abraços (mas só hoje, está bem?).
Cheers!
Cheers!
SUBREPTICIAMENTE
Caro Zé Mário: os meus agradecimentos (e a piada é uma boa piada).
PS: mas consultaste o Rainha? Ele pode não achar muita piada à operacionalidade do link... (esta também é piada).
PS: mas consultaste o Rainha? Ele pode não achar muita piada à operacionalidade do link... (esta também é piada).
quinta-feira, setembro 09, 2004
ENTÃO É ASSIM
Como já devem ter reparado, não tenho tido tempo para blogar. A justificação é prosaica mas sincera: Clive James escreve artigo sobre Isaiah Berlin no TLS (cinco páginas cinco); Christopher Hitchens escreve sobre a Turquia na The Atlantic; P. J. O’Rourke debruça-se, na mesma edição, sobre o Medicare Prescription Drug, Improvement and Modernization Act de 2003; e, last but not least, dou os últimos retoques no novo poiso.
Percebo a consternação de um país inteiro expectante e suspenso da minha (in)disponibilidade. Estou, como diria o poeta Alegre e o Dr. Sampaio, solidário. Mas terão, mais uma vez, de recorrer à vossa paciência e boa-vontade. É a vida.
PS: Entretanto, um querido amigo (que me pediu para omitir o nome, cof cof) celebra hoje o seu trigésimo primeiro aniversário. Um puto, é o que é. Desejo-lhe um grande dia e um bom TLS para ele também.
Percebo a consternação de um país inteiro expectante e suspenso da minha (in)disponibilidade. Estou, como diria o poeta Alegre e o Dr. Sampaio, solidário. Mas terão, mais uma vez, de recorrer à vossa paciência e boa-vontade. É a vida.
PS: Entretanto, um querido amigo (que me pediu para omitir o nome, cof cof) celebra hoje o seu trigésimo primeiro aniversário. Um puto, é o que é. Desejo-lhe um grande dia e um bom TLS para ele também.
terça-feira, setembro 07, 2004
segunda-feira, setembro 06, 2004
NÃO BRINCAM EM SERVIÇO
No Blogue de Esquerda, o link para o Contra a Corrente (na lista de blogues, lado direito), não funciona. Está visto: um gajo não se pode meter com eles. Implacáveis, mas subreptícios.
No Blogue de Esquerda, o link para o Contra a Corrente (na lista de blogues, lado direito), não funciona. Está visto: um gajo não se pode meter com eles. Implacáveis, mas subreptícios.
APRENDER COM O OURIÇO-CACHEIRO
Ontem, em pleno «Alentejo profundo», andei a brincar com este bicho. Quando lhe tirei a fotografia, fingia-se de morto. Para não o chatearem. Manhoso. Teria razão, Isaiah Berlin?
Ontem, em pleno «Alentejo profundo», andei a brincar com este bicho. Quando lhe tirei a fotografia, fingia-se de morto. Para não o chatearem. Manhoso. Teria razão, Isaiah Berlin?
MUITO PIOR
É tão verdadeiro aquilo que JMF escreveu: "Estive o dia inteiro cercado de imagens da Rússia. Pior. O dia inteiro a imaginar as imagens que não vi da Rússia."
É tão verdadeiro aquilo que JMF escreveu: "Estive o dia inteiro cercado de imagens da Rússia. Pior. O dia inteiro a imaginar as imagens que não vi da Rússia."
MUITO BEM, MAS…
Excelente artigo de Manuel Graça Dias, no Expresso desta semana. Arrasa, fundamentada e criteriosamente, o mito da “casa portuguesa”.
”A ideia de «casa portuguesa» foi combatida pelos arquitectos modernos que tentaram demonstrar o absurdo da tese – a impossibilidade de um modelo único, «português», na maneira de resolver a arquitectura, e o absurdo de que esse modelo, rural, fosse exportável para outras tipologias e programas bem como materiais e sistemas construtivos -, elaborando, a propósito, o magnífico inquérito A Arquitectura Popular em Portugal (Sidicato Nacional dos Arquitectos, 1961)”, escreve Graça Dias.
Totalmente de acordo. De norte a sul, do interior ao litoral, é farta a proliferação de casarios, vivendas e prédios absolutamente grotescos onde se tentou reinventar o espírito de Raul Lino, conferindo à "alegre casinha" um aspecto «antigo» e, ao mesmo tempo, «tradicional». Género «neo-clássico». Sinais característicos: arcos e arquinhos; cores garridas (o amarelo torrado e o rosa são um must); pérgulas inconsequentes; colunas pré-esforçadas que sustentam ridículos alpendres; janelas de alumínio a imitar madeira, com quadrícula falsa a seccionar as chapas de vidro duplo, resguardadas por portadas com ripinhas verde-garrafa; portas exteriores em PVC com aldrabas microscópicas e frisos «tipo» almofada; janelas debruadas com massa, a insinuar a presença de grossas, e «antigas», cantarias; etc. etc. Já no interior, encontramos uma impressionante quantidade de pavimentos cerâmicos que imitam convenientemente o mármore, o granito ou a já por si famosa «tijoleira»; cozinha lacada a branco hospitalar com um metro de largura; a suite com jaccuzzi e retrete privativa; as sancas (duplas, triplas, etc.) no tecto (a actual fixação dos arquitectos, desenhadores e empreiteiros por sancas ainda vai dar em case study); os parquets, folheados e derivados; a pré-instalação de ar condicionado (a fazer adivinhar o abafo graças a pés-direitos tipo "portugal dos pequeninos"); etc. etc. É impossível ficar indiferente a estes atentados, cuja origem, em muitas casos, remonta à doutrina 'anti-casa-de-emigrante' das décadas de 70 e 80, só que igualmente trágica. Existem, depois, as variações do tema, como é o caso, no Alentejo, do monte à «monte alentejano».
Uma pequena observação final: não foi Manuel Graça Dias o co-autor do horrendo e saloiamente pós-modernista pavilhão português na Expo 92, em Sevilha? Foi, não foi? Bem me parecia.
Excelente artigo de Manuel Graça Dias, no Expresso desta semana. Arrasa, fundamentada e criteriosamente, o mito da “casa portuguesa”.
”A ideia de «casa portuguesa» foi combatida pelos arquitectos modernos que tentaram demonstrar o absurdo da tese – a impossibilidade de um modelo único, «português», na maneira de resolver a arquitectura, e o absurdo de que esse modelo, rural, fosse exportável para outras tipologias e programas bem como materiais e sistemas construtivos -, elaborando, a propósito, o magnífico inquérito A Arquitectura Popular em Portugal (Sidicato Nacional dos Arquitectos, 1961)”, escreve Graça Dias.
Totalmente de acordo. De norte a sul, do interior ao litoral, é farta a proliferação de casarios, vivendas e prédios absolutamente grotescos onde se tentou reinventar o espírito de Raul Lino, conferindo à "alegre casinha" um aspecto «antigo» e, ao mesmo tempo, «tradicional». Género «neo-clássico». Sinais característicos: arcos e arquinhos; cores garridas (o amarelo torrado e o rosa são um must); pérgulas inconsequentes; colunas pré-esforçadas que sustentam ridículos alpendres; janelas de alumínio a imitar madeira, com quadrícula falsa a seccionar as chapas de vidro duplo, resguardadas por portadas com ripinhas verde-garrafa; portas exteriores em PVC com aldrabas microscópicas e frisos «tipo» almofada; janelas debruadas com massa, a insinuar a presença de grossas, e «antigas», cantarias; etc. etc. Já no interior, encontramos uma impressionante quantidade de pavimentos cerâmicos que imitam convenientemente o mármore, o granito ou a já por si famosa «tijoleira»; cozinha lacada a branco hospitalar com um metro de largura; a suite com jaccuzzi e retrete privativa; as sancas (duplas, triplas, etc.) no tecto (a actual fixação dos arquitectos, desenhadores e empreiteiros por sancas ainda vai dar em case study); os parquets, folheados e derivados; a pré-instalação de ar condicionado (a fazer adivinhar o abafo graças a pés-direitos tipo "portugal dos pequeninos"); etc. etc. É impossível ficar indiferente a estes atentados, cuja origem, em muitas casos, remonta à doutrina 'anti-casa-de-emigrante' das décadas de 70 e 80, só que igualmente trágica. Existem, depois, as variações do tema, como é o caso, no Alentejo, do monte à «monte alentejano».
Uma pequena observação final: não foi Manuel Graça Dias o co-autor do horrendo e saloiamente pós-modernista pavilhão português na Expo 92, em Sevilha? Foi, não foi? Bem me parecia.
E AGORA?
Jorge Mourinha diz-me que o mais recente Blue Nile, High, é "epifânico". Que é “muito provavelmente, o (meu) álbum do ano até ver” (cf. Blitz da passada terça-feira).
Já o leitor José Cruz avisa-me, aflito, ”evite absolutamente o High. Aquilo a que nos habituámos no grupo e de que Over the Hillside é só um exemplo - a música feita detidamente; o nobre e rigoroso artesanato posto em cada acorde, em cada passo, em cada letra; a luxuosa e profunda simplicidade - tudo isso foi traído em High. Os rapazes sairam-se com um rosário de imitações desinspiradas e preguiçosas dos seus melhores momentos. Traíram o seu tempo de criação, traíram o seu alto grau de exigência, traíram as memórias e a nostalgia dos admiradores. Ouvi aquilo incrédulo e depois zangado. Não sei o que lhes deu. Parti o CD, nem o devolvi à Amazon, não fosse alguém comprá-lo usado.”
Em que é que ficamos? Lá mais para o final da semana, direi de minha justiça (isto se o carteiro não se atrasar, já que, da parte da Amazon, a coisa raramente falha.)
Jorge Mourinha diz-me que o mais recente Blue Nile, High, é "epifânico". Que é “muito provavelmente, o (meu) álbum do ano até ver” (cf. Blitz da passada terça-feira).
Já o leitor José Cruz avisa-me, aflito, ”evite absolutamente o High. Aquilo a que nos habituámos no grupo e de que Over the Hillside é só um exemplo - a música feita detidamente; o nobre e rigoroso artesanato posto em cada acorde, em cada passo, em cada letra; a luxuosa e profunda simplicidade - tudo isso foi traído em High. Os rapazes sairam-se com um rosário de imitações desinspiradas e preguiçosas dos seus melhores momentos. Traíram o seu tempo de criação, traíram o seu alto grau de exigência, traíram as memórias e a nostalgia dos admiradores. Ouvi aquilo incrédulo e depois zangado. Não sei o que lhes deu. Parti o CD, nem o devolvi à Amazon, não fosse alguém comprá-lo usado.”
Em que é que ficamos? Lá mais para o final da semana, direi de minha justiça (isto se o carteiro não se atrasar, já que, da parte da Amazon, a coisa raramente falha.)
THEODORE DALRYMPLE
Bad and bored
in The Spectator
"In 1850, the famous French alienist Brierre de Boismont began his disquisition on the medical consequences of boredom, ‘The man who thinks, a famous philosopher once said, is an animal depraved; it had been better to say, an animal that is bored.’
He went on to assert that if the prevalence of madness increased with civilisation, then, a fortiori, that of boredom increased even more. This is a dangerous romantic conceit; and people who are weak in logic are likely to conclude that if sophisticates are often bored, then boredom is a sign of sophistication. To adapt slightly a maxim of La Rochefoucauld, some people would never be bored if they had never heard of boredom.
‘When I tap the keyboard I want you to do an emergency stop.’
Still, the phenomenon of boredom is real enough; and for myself, I doubt that much sophistication or leisure was ever necessary for a person to experience it. It is, after all, perfectly possible to be very busy and yet bored. Indeed, I suspect that this is, and has been throughout history, the fate of most working people.
It has fallen to our generation, however, to create a population that is bored equally by work and leisure. (That, of course, is why ‘leisure management’ has become both an academic subject and a career.) When I meet patients who tell me that they are fed up with their work because it is so boring, and they wish they could stop working altogether, I ask them what they would like to do instead. The question comes like an unexpected thunderclap, or a flash of lightning in a darkened landscape: they’ve never thought about it, and when they do they are completely unable to answer. They realise for the first time that it is not so much work that bores them as existence.
This underlying, or existential, boredom — and the desire to overcome it by whatever means — is a major cause of the epidemic of self-destructive, as well as antisocial, behaviour that has swept the Western world in the past few decades, Britain above all. In matters of self-destruction, in fact, we are in the vanguard. If gold medals had been awarded at the Olympics for senseless, self-destructive egotism, we’d have swept the board, gold, silver and bronze.
By and large, the struggle for existence, which once might have given a grim purpose to life, is over. You can’t really go hungry, whatever you do. On the other hand, it seems to millions of people that a life of labour will bring them very little more than would a life of laziness. Not only is the work unsatisfying in itself, having little or no intrinsic meaning, but it brings only marginal benefits from the point of view of standard of living. The dignity of labour is nothing, especially to people who inhabit the fantasy Hello! magazine world of Posh and Becks. To be busy, bored and poor is not much fun; in fact there are few worse fates.
Religion, except for a small minority, has long since ceased to give the transcendent meaning to existence that, for some reason as yet undiscovered, most men need. The Church of England has become social democracy at prayer, with the politics and prayer removed; the Pentecostal churches are flourishing in a small way, but not everyone can become a Holy Roller. Young Muslims of Pakistani origin have become entirely secular, except when it comes to mistreating women. No, religion is not a likely path out of our current existential impasse.
Culture — in the sense of belonging to a great tradition which one inherits and to which one does one’s small best to contribute in some way — is not a solution either. We now live in a culture of the present moment that specifically derides the achievements of the past and treats the latest thing as inevitably the best thing. There is therefore no transcendence in it, only trance and distraction.
Patriotism is as dead as religion as a source of transcendence or sense of purpose. I am not much of a flag-wagger myself, and I acknowledge that patriotism, whosever it might be, can all too easily turn into abject self-worship. Nevertheless, a sense of national achievement is a spur both to further achievement and individual self-respect, a quality in which the contemporary British are so obviously and conspicuously lacking.
What, then, is left? The day-to-day flux of existence, which is boring, banal and meaningless. People who are lacking in ambition may nonetheless derive satisfaction from being useful; but such a solution is increasingly denied to people who live in the thin world of popular culture, which is swiftly moving, endlessly exciting in the most superficial way, utterly fixated on celebrity as the highest good, and childishly glamorous.
Many people, then, are left without ambition, but with plenty of daydreams. An ambition is something to which you can take rational, if not necessarily successful, steps; a daydream haunts your waking life and is as realistic as a ghost, but nonetheless leads to resentment when it remains as unfulfilled as ever.
What is a person to do who is tormented by daydreams, but bored sick with his daily life, or any likely variation of it? One possible solution is to turn it into a soap opera, with himself as the principal character. An endless succession of dramatic moments is a powerful substitute for a genuine purpose, and if pursued with enough tenacity will successfully disguise the fact that life is without purpose or even interest.
If I am right, this explains why so many people — hundreds of thousands, if not millions — pursue courses of action that are predictably and obviously disastrous not only for themselves but for others, and do so not once but repeatedly. In part they do so because they are aware that the state will always pick up the pieces; but the state’s role is enabling, not determining. Those with an autonomous sense of purpose will not accept the state’s poisoned chalice, however it is offered.
I came to my conclusions about the desire to avoid boredom being at the root of so much contemporary evil by considering many cases in which very badly abused women have repeatedly taken up with lovers who have brutality written all over their faces (in some cases literally, by means of tattoos). Usually the brutality becomes insupportable in the end, and they leave their latest brute. But what is very striking in their histories is that many of them have had relations, at least once in their lives, with a decent man who has treated them ‘right’. Their relationships with these men have almost always been the shortest of all their relationships.
It isn’t that they lack that worst and most useless of qualities, self-esteem. As for the men, their vile conduct creates dreadful complications for them, too. No; the moral cesspit in which they live, which both imitates and inspires modern soap operas, disguises by means of its inevitable crises the vacuity of their lives."
Ah pois é, ah pois é...
Bad and bored
in The Spectator
"In 1850, the famous French alienist Brierre de Boismont began his disquisition on the medical consequences of boredom, ‘The man who thinks, a famous philosopher once said, is an animal depraved; it had been better to say, an animal that is bored.’
He went on to assert that if the prevalence of madness increased with civilisation, then, a fortiori, that of boredom increased even more. This is a dangerous romantic conceit; and people who are weak in logic are likely to conclude that if sophisticates are often bored, then boredom is a sign of sophistication. To adapt slightly a maxim of La Rochefoucauld, some people would never be bored if they had never heard of boredom.
‘When I tap the keyboard I want you to do an emergency stop.’
Still, the phenomenon of boredom is real enough; and for myself, I doubt that much sophistication or leisure was ever necessary for a person to experience it. It is, after all, perfectly possible to be very busy and yet bored. Indeed, I suspect that this is, and has been throughout history, the fate of most working people.
It has fallen to our generation, however, to create a population that is bored equally by work and leisure. (That, of course, is why ‘leisure management’ has become both an academic subject and a career.) When I meet patients who tell me that they are fed up with their work because it is so boring, and they wish they could stop working altogether, I ask them what they would like to do instead. The question comes like an unexpected thunderclap, or a flash of lightning in a darkened landscape: they’ve never thought about it, and when they do they are completely unable to answer. They realise for the first time that it is not so much work that bores them as existence.
This underlying, or existential, boredom — and the desire to overcome it by whatever means — is a major cause of the epidemic of self-destructive, as well as antisocial, behaviour that has swept the Western world in the past few decades, Britain above all. In matters of self-destruction, in fact, we are in the vanguard. If gold medals had been awarded at the Olympics for senseless, self-destructive egotism, we’d have swept the board, gold, silver and bronze.
By and large, the struggle for existence, which once might have given a grim purpose to life, is over. You can’t really go hungry, whatever you do. On the other hand, it seems to millions of people that a life of labour will bring them very little more than would a life of laziness. Not only is the work unsatisfying in itself, having little or no intrinsic meaning, but it brings only marginal benefits from the point of view of standard of living. The dignity of labour is nothing, especially to people who inhabit the fantasy Hello! magazine world of Posh and Becks. To be busy, bored and poor is not much fun; in fact there are few worse fates.
Religion, except for a small minority, has long since ceased to give the transcendent meaning to existence that, for some reason as yet undiscovered, most men need. The Church of England has become social democracy at prayer, with the politics and prayer removed; the Pentecostal churches are flourishing in a small way, but not everyone can become a Holy Roller. Young Muslims of Pakistani origin have become entirely secular, except when it comes to mistreating women. No, religion is not a likely path out of our current existential impasse.
Culture — in the sense of belonging to a great tradition which one inherits and to which one does one’s small best to contribute in some way — is not a solution either. We now live in a culture of the present moment that specifically derides the achievements of the past and treats the latest thing as inevitably the best thing. There is therefore no transcendence in it, only trance and distraction.
Patriotism is as dead as religion as a source of transcendence or sense of purpose. I am not much of a flag-wagger myself, and I acknowledge that patriotism, whosever it might be, can all too easily turn into abject self-worship. Nevertheless, a sense of national achievement is a spur both to further achievement and individual self-respect, a quality in which the contemporary British are so obviously and conspicuously lacking.
What, then, is left? The day-to-day flux of existence, which is boring, banal and meaningless. People who are lacking in ambition may nonetheless derive satisfaction from being useful; but such a solution is increasingly denied to people who live in the thin world of popular culture, which is swiftly moving, endlessly exciting in the most superficial way, utterly fixated on celebrity as the highest good, and childishly glamorous.
Many people, then, are left without ambition, but with plenty of daydreams. An ambition is something to which you can take rational, if not necessarily successful, steps; a daydream haunts your waking life and is as realistic as a ghost, but nonetheless leads to resentment when it remains as unfulfilled as ever.
What is a person to do who is tormented by daydreams, but bored sick with his daily life, or any likely variation of it? One possible solution is to turn it into a soap opera, with himself as the principal character. An endless succession of dramatic moments is a powerful substitute for a genuine purpose, and if pursued with enough tenacity will successfully disguise the fact that life is without purpose or even interest.
If I am right, this explains why so many people — hundreds of thousands, if not millions — pursue courses of action that are predictably and obviously disastrous not only for themselves but for others, and do so not once but repeatedly. In part they do so because they are aware that the state will always pick up the pieces; but the state’s role is enabling, not determining. Those with an autonomous sense of purpose will not accept the state’s poisoned chalice, however it is offered.
I came to my conclusions about the desire to avoid boredom being at the root of so much contemporary evil by considering many cases in which very badly abused women have repeatedly taken up with lovers who have brutality written all over their faces (in some cases literally, by means of tattoos). Usually the brutality becomes insupportable in the end, and they leave their latest brute. But what is very striking in their histories is that many of them have had relations, at least once in their lives, with a decent man who has treated them ‘right’. Their relationships with these men have almost always been the shortest of all their relationships.
It isn’t that they lack that worst and most useless of qualities, self-esteem. As for the men, their vile conduct creates dreadful complications for them, too. No; the moral cesspit in which they live, which both imitates and inspires modern soap operas, disguises by means of its inevitable crises the vacuity of their lives."
Ah pois é, ah pois é...
PODIA ESPECIFICAR?
Tchernignobyl, no Blogue de Esquerda: “Entre as décadas de cinquenta e setenta pareceu emergir no Médio Oriente um movimento pela laicização e democratização do mundo muçulmano.” Que movimento? Quem? Onde?
Prossegue: ”Esse movimento foi esmagado e está hoje isolado com a conivência dos países ocidentais que controlavam a área, por um fundamentalismo retrógrado e virulento que se afirmou como a forma mais poderosa de de solidariedade social e afirmação civilizacional sobretudo entre os mais carenciados”. E África? E o extremo-oriente?
Depois: ”Alguns chamam-lhe “avanço” vendo no fundamentalismo islâmico uma versão oriental do fascismo que terá inspirado alguns dos seus principais teóricos”. Quem chamou “avanço” a uma versão oriental do fascismo?
E, ainda: ”E é curioso que certos analistas o façam quando se tenta por outro lado apresentar o fanatismo belicista dos fundamentalistas como algo endógeno e quase decorrente da mentalidade “árabe”. Não direi «mentalidade», mas não terá que ver com a evolução histórica (económica e social) do mundo árabe (não apenas no Sec. XX e XIX), como explicou Bernard Lewis?
Conclusão: ” o ascenso do fundamentalismo se alicerça na exclusão social e política, e que nesse campo há um mundo de coisas a negociar.” Essa “exclusão” incluirá, ou não, e também, a “auto-exclusão”? Que coisas poderão ser alvo de negociação? O que significa, neste caso, “negociar”? Sem cinismos, expliquem-me, por favor, o que é isso de "negociar". Dêem exemplos, apresentem propostas. A sério.
Tchernignobyl, no Blogue de Esquerda: “Entre as décadas de cinquenta e setenta pareceu emergir no Médio Oriente um movimento pela laicização e democratização do mundo muçulmano.” Que movimento? Quem? Onde?
Prossegue: ”Esse movimento foi esmagado e está hoje isolado com a conivência dos países ocidentais que controlavam a área, por um fundamentalismo retrógrado e virulento que se afirmou como a forma mais poderosa de de solidariedade social e afirmação civilizacional sobretudo entre os mais carenciados”. E África? E o extremo-oriente?
Depois: ”Alguns chamam-lhe “avanço” vendo no fundamentalismo islâmico uma versão oriental do fascismo que terá inspirado alguns dos seus principais teóricos”. Quem chamou “avanço” a uma versão oriental do fascismo?
E, ainda: ”E é curioso que certos analistas o façam quando se tenta por outro lado apresentar o fanatismo belicista dos fundamentalistas como algo endógeno e quase decorrente da mentalidade “árabe”. Não direi «mentalidade», mas não terá que ver com a evolução histórica (económica e social) do mundo árabe (não apenas no Sec. XX e XIX), como explicou Bernard Lewis?
Conclusão: ” o ascenso do fundamentalismo se alicerça na exclusão social e política, e que nesse campo há um mundo de coisas a negociar.” Essa “exclusão” incluirá, ou não, e também, a “auto-exclusão”? Que coisas poderão ser alvo de negociação? O que significa, neste caso, “negociar”? Sem cinismos, expliquem-me, por favor, o que é isso de "negociar". Dêem exemplos, apresentem propostas. A sério.
RECOMENDAÇÕES
Disco
Agora que lançaram High (o sucessor de Peace At Last), e enquanto aguardo a sua chegada, impõe-se um regresso a essa pérola imutável, eterna, infinita chamada Hats. Eu continuo na minha: Over The Hillside é uma das mais belas músicas de sempre da música pop. Com ela os “Glasgow's nocturnal melancholics”, mais conhecidos por The Blue Nile (não o rio etíope, mas o grupo) alcançaram a perfeição. É um crime não conhecer este disco.
Filme
Este fim-de-semana revi Ghost World, de Terry Zwigoff. Ninguém me tira da cabeça que Daniel Clowes, primeiro, e Terry Zwigoff, depois, estavam a pensar em Thora Birch, Scarlett Johansson e Steve Buscemi à medida que idealizavam as personagens e pensavam em fazer da BD um filme, respectivamente . Do argumento à realização, passando pela banda sonora e pelo casting, tudo é bom neste filme (no caso da Scarlett, no duplo sentido da palavra).
Blogue
Roda Livre. Absolutamente.
Disco
Agora que lançaram High (o sucessor de Peace At Last), e enquanto aguardo a sua chegada, impõe-se um regresso a essa pérola imutável, eterna, infinita chamada Hats. Eu continuo na minha: Over The Hillside é uma das mais belas músicas de sempre da música pop. Com ela os “Glasgow's nocturnal melancholics”, mais conhecidos por The Blue Nile (não o rio etíope, mas o grupo) alcançaram a perfeição. É um crime não conhecer este disco.
Filme
Este fim-de-semana revi Ghost World, de Terry Zwigoff. Ninguém me tira da cabeça que Daniel Clowes, primeiro, e Terry Zwigoff, depois, estavam a pensar em Thora Birch, Scarlett Johansson e Steve Buscemi à medida que idealizavam as personagens e pensavam em fazer da BD um filme, respectivamente . Do argumento à realização, passando pela banda sonora e pelo casting, tudo é bom neste filme (no caso da Scarlett, no duplo sentido da palavra).
Blogue
Roda Livre. Absolutamente.
domingo, setembro 05, 2004
AND, UH, GET THE MACHINE THAT GOES ‘PING’
A história do Barco do Amor não deixa de conter algo de cómico. Tristemente cómico. A ideia de ver um grupo de grávidas zarpar em direcção ao mar alto, sob os auspícios do Dr. Louçã, do Prof. Rosas e da Arq. Andringa, quais capitães Iglo, para aí abortarem às mãos de umas parteiras holandesas vestidas com T-Shirts com a inscrição “Women On Waves”, seria matéria-prima preferencial para um bom sketch dos Monty Python.
A história do Barco do Amor não deixa de conter algo de cómico. Tristemente cómico. A ideia de ver um grupo de grávidas zarpar em direcção ao mar alto, sob os auspícios do Dr. Louçã, do Prof. Rosas e da Arq. Andringa, quais capitães Iglo, para aí abortarem às mãos de umas parteiras holandesas vestidas com T-Shirts com a inscrição “Women On Waves”, seria matéria-prima preferencial para um bom sketch dos Monty Python.
FIZ O TESTE E DEU NISTO
You rule. in 15 years, you won't be as known as you
are now, but most of the people that will know
you then will like you (or else I'll beat them
with a stick). You're nice to listen to.
What band from the 80s are you?
brought to you by Quizilla
PS: o teste é um pouco patetinha...
You rule. in 15 years, you won't be as known as you
are now, but most of the people that will know
you then will like you (or else I'll beat them
with a stick). You're nice to listen to.
What band from the 80s are you?
brought to you by Quizilla
PS: o teste é um pouco patetinha...
sábado, setembro 04, 2004
LISTEN VERY CAREFULLY, I SHALL SAY THIS ONLY ONCE
Esta série (para a qual me faltam adjectivos), vai voltar a passar na têvê. SIC Radical. A partir do dia 21. Terças, quartas e quintas. Repito: os episódios desta série vão ser repetidos na SIC Radical. Agora a sério: esta série vai voltar à caixinha que mudou o mundo, a partir do dia 21. De Setembro. Na SIC Radical. Não sei se me fiz entender.
Esta série (para a qual me faltam adjectivos), vai voltar a passar na têvê. SIC Radical. A partir do dia 21. Terças, quartas e quintas. Repito: os episódios desta série vão ser repetidos na SIC Radical. Agora a sério: esta série vai voltar à caixinha que mudou o mundo, a partir do dia 21. De Setembro. Na SIC Radical. Não sei se me fiz entender.
SEM PALAVRAS
Não tenho palavras para comentar o que se passou na Ossétia do Norte. Não há palavras que cheguem para classificar os terroristas do que quer que seja. Para as forças policiais, ainda encontro algumas: falta de preparação, precipitação, falta de tacto, azelhice.
Apetece-me estar agarrado à minha filha.
Não tenho palavras para comentar o que se passou na Ossétia do Norte. Não há palavras que cheguem para classificar os terroristas do que quer que seja. Para as forças policiais, ainda encontro algumas: falta de preparação, precipitação, falta de tacto, azelhice.
Apetece-me estar agarrado à minha filha.
INSISTO
A minha filha tem passado boa parte da temporada estival a pintar. Está agora numa fase impressionista, alinhavando a justaposição de pinceladas de cor pura, de modo a conferir ao quadro uma vibração luminosa. Baseando-se no meio natural que a rodeia, pintou, ontem, a carapaça do nosso cágado Chico, sobre um manto de ervas e flores. Sobre o Chico, haveria muito para contar – ele que foi por mim encontrado numa radiosa manhã de Primavera, tinha eu a modesta idade de sete anos e ele o tamanho de uma moeda de um tostão (daquelas que a malta colocava nos carris para o comboio cilindrar), e que, desde então, se tem revelado um animal com muito sangue frio, até pela forma como, ainda hoje, se consegue defender das investidas de um vigarista chamado Bécas (o nosso cocker), desferindo-lhe, volta e meia, com aquele ar blasé que o caracteriza (fazendo lembrar um Nobel da literatura), uma valente dentada na língua, quando este se arma em mete nojo, i. e., quando o chamamento da natureza apela ao sangue canídeo, sussurrando-lhe ao ouvido: “tu és um caçador, meu grande maricas!” (o Bécas esquece-se com frequência que o Chico já cá andava muito antes de ele aparecer). Mas vem isto a propósito do quê? Ah, já sei: da mistura de cores e de um post de Jorge Palinhos (juro que não é fixação).
A minha filha conseguiu ontem um impressionante tom de laranja que me levou a perguntar-lhe como o havia conseguido. “Ó pai: misturando vermelho com amarelo!” Simples, não é?
As críticas à política de Sharon (amarelo) serão diferentes do anti-semitismo (vermelho). De acordo. Eu nunca disse que o amarelo era vermelho ou que o vermelho era amarelo. Disse, e repito, que há por aí muita manifestação amarela tingida de laranja por influência de algum vermelho. E, nalguns casos, de um laranja já saturado de vermelho. Primário.
Repetindo-me, dado o tipo e natureza dos actos cometidos contra a comunidade judaica em França (incluindo os cometidos por árabes), vislumbro, nesse tipo de acções, no mínimo um tom laranja. Isso não significa que o amarelo não exista, seja laranja ou tenha passado a vermelho. A diferença encontra-se na paleta. Há quem jure a pés juntos que não, que tudo (incluindo o que se passa em França) não passa de amarelo. Sobretudo quando os agentes são de origem árabe. Há, depois, quem diga que o vermelho, na mistura, é marginal, com o amarelo a conseguir assegurar o tom. Há, ainda, quem diga que o laranja é já a cor dominante, ou seja, que a presença do vermelho é indelével. É este o meu caso. Espero não ter sido demasiado "inamovível" nos meus argumentos.
A minha filha tem passado boa parte da temporada estival a pintar. Está agora numa fase impressionista, alinhavando a justaposição de pinceladas de cor pura, de modo a conferir ao quadro uma vibração luminosa. Baseando-se no meio natural que a rodeia, pintou, ontem, a carapaça do nosso cágado Chico, sobre um manto de ervas e flores. Sobre o Chico, haveria muito para contar – ele que foi por mim encontrado numa radiosa manhã de Primavera, tinha eu a modesta idade de sete anos e ele o tamanho de uma moeda de um tostão (daquelas que a malta colocava nos carris para o comboio cilindrar), e que, desde então, se tem revelado um animal com muito sangue frio, até pela forma como, ainda hoje, se consegue defender das investidas de um vigarista chamado Bécas (o nosso cocker), desferindo-lhe, volta e meia, com aquele ar blasé que o caracteriza (fazendo lembrar um Nobel da literatura), uma valente dentada na língua, quando este se arma em mete nojo, i. e., quando o chamamento da natureza apela ao sangue canídeo, sussurrando-lhe ao ouvido: “tu és um caçador, meu grande maricas!” (o Bécas esquece-se com frequência que o Chico já cá andava muito antes de ele aparecer). Mas vem isto a propósito do quê? Ah, já sei: da mistura de cores e de um post de Jorge Palinhos (juro que não é fixação).
A minha filha conseguiu ontem um impressionante tom de laranja que me levou a perguntar-lhe como o havia conseguido. “Ó pai: misturando vermelho com amarelo!” Simples, não é?
As críticas à política de Sharon (amarelo) serão diferentes do anti-semitismo (vermelho). De acordo. Eu nunca disse que o amarelo era vermelho ou que o vermelho era amarelo. Disse, e repito, que há por aí muita manifestação amarela tingida de laranja por influência de algum vermelho. E, nalguns casos, de um laranja já saturado de vermelho. Primário.
Repetindo-me, dado o tipo e natureza dos actos cometidos contra a comunidade judaica em França (incluindo os cometidos por árabes), vislumbro, nesse tipo de acções, no mínimo um tom laranja. Isso não significa que o amarelo não exista, seja laranja ou tenha passado a vermelho. A diferença encontra-se na paleta. Há quem jure a pés juntos que não, que tudo (incluindo o que se passa em França) não passa de amarelo. Sobretudo quando os agentes são de origem árabe. Há, depois, quem diga que o vermelho, na mistura, é marginal, com o amarelo a conseguir assegurar o tom. Há, ainda, quem diga que o laranja é já a cor dominante, ou seja, que a presença do vermelho é indelével. É este o meu caso. Espero não ter sido demasiado "inamovível" nos meus argumentos.
sexta-feira, setembro 03, 2004
QUANDO DEIXA DE VALER A PENA DISCUTIR COM QUEM NÃO NOS CONSIDERA APTO PARA DISCUTIR
Recebi mail de José Mário Silva:
“Caro Carlos,
Lamento que não tenhas compreendido o que pretendi dizer com o post em que citava uma peça de Antonio Tarantino. Para começar, a peça é muito interessante (aconselho-te vivamente a sua leitura) e, embora escrita por um simpatizante da causa palestiniana, disseca por dentro todas as muitas complexidades e contradições dessa luta. Não é, de maneira nenhuma, um texto que desculpabilize os atentados bombistas ou que glorifique os respectivos mártires. Lê e perceberás.
Quanto ao meu comentário, na sequência do repúdio que o Jorge expressou (e eu corroborei) pelas 16 bárbaras mortes em Israel, o que eu pretendi dizer, como é óbvio, não foi que os homens-bomba implicados «não estavam certos nem errados». Eles estão errados, sempre. Referia-me a nós, comentadores exteriores ao problema. Nós, observadores vendo as coisas de longe. À esquerda como à direita.
Ou seja, as minhas “certezas” sobre o assunto vacilam quando coisas destas acontecem. Espero que as tuas também, quando Sharon manda avançar os tanques sobre os campos de refugiados ou quando os helicópteros arrasam um prédio inteiro para matar um terrorista.
Recebe um abraço do
Zé Mário”
Caro Zé Mário,
Como é teu apanágio, esclareces a tua posição de forma cordata e educada, insistindo em elevar a discussão. Brindo a isso.
Reconheço que o timing e o enquadramento das tuas palavras (no rescaldo de mais um mortífero e abjecto atentado terrorista) não foram, de facto, os melhores. Achei demasiado difuso e excessivamente generalizado o “Ninguém está completamente certo, nem completamente errado, quando se fala da questão israelo-palestiniana”. Sobre a questão israelo-palestiniana, existem certezas irrefutáveis. Sabemos que os atentados terroristas que visam matar o maior número de civis inocentes não têm desculpa ou justificação. Sabemos que estes atentados têm uma organização e não são fruto de acções individuais motivadas pelo desespero «anónimo» (como parece transparecer da peça do Tarantino). Sabemos que a brutalidade, por vezes exercida pelos militares israelitas, é totalmente intolerável e criminosa. Sabemos que o povo israelita e palestiniano - os civis anónimos que observam diariamente este diálogo de surdos – têm, apesar de tudo, condições para se entender. Existem, portanto, certezas. Como, aliás, tu próprio referes quando dizes “Eles estão errados, sempre”. A questão está, assim, esclarecida.
Sobre a questão israelo-palestiniana, relembro, subscrevendo, o que escrevia Francisco José Viegas em Abril de 2002, na sua, então, Grande Reportagem:
“Constituem decisões inadiáveis a criação de um Estado palestiniano, com fronteiras e autoridades próprias e definidas internacionalmente, incluindo a soberania sobre a zona oriental de Jerusalém; o reconhecimento definitivo do Estado de Israel pelos Estados árabes da região (que mantêm a designação de «entidade sionista»), bem como o seu direito à segurança e à protecção contra agressões terroristas; o fim da ocupação de territórios da Cisjordânia e da faixa de Gaza por parte de Israel, bem como o reconhecimento do direito à segurança para as comunidades estabelecidas em regiões de fronteiras; a resolução definitiva da questão dos «refugiados». Estes princípios estavam definidos nos chamados acordos de Oslo e garantidos no protocolo que Ehud Barak e Yasser Arafat se preparavam para assinar no final de 2000.
São coisas banais? Pode ser que sim, e que apenas repitam a recente declaração da ONU sobre a matéria. Mas não é mais banal do que a própria banalização da morte, do terror no quotidiano, da violação dos direitos humanos mais básicos. Diante dessa banalização qualquer coisa há-de parecer extraordinária. Esse é o único caminho possível para a paz em Israel e para a criação de um Estado palestiniano, o mesmo que os Estados árabes se recusaram a criar em 1948. Também aqui o bom-senso é de alguma utilidade.”
Acrescento, apenas, algumas questões:
a) Estarão reunidas as condições que assegurem a segurança dos israelitas? Que garantias podem ser dadas, por parte dos responsáveis palestinianos?
b) Estarão os Estados árabes na disposição de reconhecer Israel como nação soberana?
c) Estarão os Estados árabes fronteiriços e as autoridades palestinianas, na disposição de contribuir para a resolução do problema dos refugiados (que não passa só por Israel)?
d) Haverá, em Israel, vontade política para pôr um termo à política de colonatos na Cisjordânia?
e) Com o fim da ocupação, o Hamas e as outras organizações terroristas deporão as armas? Passarão a dedicar-se à pastorícia?
Por último, lamento que, no Blogue de Esquerda, haja quem não consiga debater com elevação e faça questão em denunciar a sua própria má-fé e a vertigem para o insulto. Jorge Palinhos afirma: ”Já viste, Zé Mário, até uma humilde peça de teatro serve para o MacGuffin pôr atitudes racistas e críticas ao Governo israelita no mesmo saco. É melhor nem citarmos este livro para o bom velho MacGuffin não ir buscar a metralhadora”, afirmação perfeitamente injusta e desleal, uma vez que eu nunca disse que uma e outra são a mesma coisa (para além é, claro, de me passar um atestado de extremista com a referência da “metralhadora”). Luis Rainha diz: ”Não consigo imaginar motivos válidos para se ligar tanto a esse senhor.”, que não é mais do que uma presunçosa e, no mínimo, deselegante forma de desprestigiar uma opinião contrária, com base numa putativa «superioridade» que deveria servir de impedimento para o “bom e sofisticado” ligar ao “boçal”.
Julgava eu que as discussões que tenho mantido com Jorge Palinhos e Luis Rainha se pautavam pelo respeito e pela consideração mútua. Achava eu que a importância e a atenção que dedicava às opiniões de Jorge Palinhos e Luis Rainha eram por eles retribuídas. Santa ingenuidade.
Recebi mail de José Mário Silva:
“Caro Carlos,
Lamento que não tenhas compreendido o que pretendi dizer com o post em que citava uma peça de Antonio Tarantino. Para começar, a peça é muito interessante (aconselho-te vivamente a sua leitura) e, embora escrita por um simpatizante da causa palestiniana, disseca por dentro todas as muitas complexidades e contradições dessa luta. Não é, de maneira nenhuma, um texto que desculpabilize os atentados bombistas ou que glorifique os respectivos mártires. Lê e perceberás.
Quanto ao meu comentário, na sequência do repúdio que o Jorge expressou (e eu corroborei) pelas 16 bárbaras mortes em Israel, o que eu pretendi dizer, como é óbvio, não foi que os homens-bomba implicados «não estavam certos nem errados». Eles estão errados, sempre. Referia-me a nós, comentadores exteriores ao problema. Nós, observadores vendo as coisas de longe. À esquerda como à direita.
Ou seja, as minhas “certezas” sobre o assunto vacilam quando coisas destas acontecem. Espero que as tuas também, quando Sharon manda avançar os tanques sobre os campos de refugiados ou quando os helicópteros arrasam um prédio inteiro para matar um terrorista.
Recebe um abraço do
Zé Mário”
Caro Zé Mário,
Como é teu apanágio, esclareces a tua posição de forma cordata e educada, insistindo em elevar a discussão. Brindo a isso.
Reconheço que o timing e o enquadramento das tuas palavras (no rescaldo de mais um mortífero e abjecto atentado terrorista) não foram, de facto, os melhores. Achei demasiado difuso e excessivamente generalizado o “Ninguém está completamente certo, nem completamente errado, quando se fala da questão israelo-palestiniana”. Sobre a questão israelo-palestiniana, existem certezas irrefutáveis. Sabemos que os atentados terroristas que visam matar o maior número de civis inocentes não têm desculpa ou justificação. Sabemos que estes atentados têm uma organização e não são fruto de acções individuais motivadas pelo desespero «anónimo» (como parece transparecer da peça do Tarantino). Sabemos que a brutalidade, por vezes exercida pelos militares israelitas, é totalmente intolerável e criminosa. Sabemos que o povo israelita e palestiniano - os civis anónimos que observam diariamente este diálogo de surdos – têm, apesar de tudo, condições para se entender. Existem, portanto, certezas. Como, aliás, tu próprio referes quando dizes “Eles estão errados, sempre”. A questão está, assim, esclarecida.
Sobre a questão israelo-palestiniana, relembro, subscrevendo, o que escrevia Francisco José Viegas em Abril de 2002, na sua, então, Grande Reportagem:
“Constituem decisões inadiáveis a criação de um Estado palestiniano, com fronteiras e autoridades próprias e definidas internacionalmente, incluindo a soberania sobre a zona oriental de Jerusalém; o reconhecimento definitivo do Estado de Israel pelos Estados árabes da região (que mantêm a designação de «entidade sionista»), bem como o seu direito à segurança e à protecção contra agressões terroristas; o fim da ocupação de territórios da Cisjordânia e da faixa de Gaza por parte de Israel, bem como o reconhecimento do direito à segurança para as comunidades estabelecidas em regiões de fronteiras; a resolução definitiva da questão dos «refugiados». Estes princípios estavam definidos nos chamados acordos de Oslo e garantidos no protocolo que Ehud Barak e Yasser Arafat se preparavam para assinar no final de 2000.
São coisas banais? Pode ser que sim, e que apenas repitam a recente declaração da ONU sobre a matéria. Mas não é mais banal do que a própria banalização da morte, do terror no quotidiano, da violação dos direitos humanos mais básicos. Diante dessa banalização qualquer coisa há-de parecer extraordinária. Esse é o único caminho possível para a paz em Israel e para a criação de um Estado palestiniano, o mesmo que os Estados árabes se recusaram a criar em 1948. Também aqui o bom-senso é de alguma utilidade.”
Acrescento, apenas, algumas questões:
a) Estarão reunidas as condições que assegurem a segurança dos israelitas? Que garantias podem ser dadas, por parte dos responsáveis palestinianos?
b) Estarão os Estados árabes na disposição de reconhecer Israel como nação soberana?
c) Estarão os Estados árabes fronteiriços e as autoridades palestinianas, na disposição de contribuir para a resolução do problema dos refugiados (que não passa só por Israel)?
d) Haverá, em Israel, vontade política para pôr um termo à política de colonatos na Cisjordânia?
e) Com o fim da ocupação, o Hamas e as outras organizações terroristas deporão as armas? Passarão a dedicar-se à pastorícia?
Por último, lamento que, no Blogue de Esquerda, haja quem não consiga debater com elevação e faça questão em denunciar a sua própria má-fé e a vertigem para o insulto. Jorge Palinhos afirma: ”Já viste, Zé Mário, até uma humilde peça de teatro serve para o MacGuffin pôr atitudes racistas e críticas ao Governo israelita no mesmo saco. É melhor nem citarmos este livro para o bom velho MacGuffin não ir buscar a metralhadora”, afirmação perfeitamente injusta e desleal, uma vez que eu nunca disse que uma e outra são a mesma coisa (para além é, claro, de me passar um atestado de extremista com a referência da “metralhadora”). Luis Rainha diz: ”Não consigo imaginar motivos válidos para se ligar tanto a esse senhor.”, que não é mais do que uma presunçosa e, no mínimo, deselegante forma de desprestigiar uma opinião contrária, com base numa putativa «superioridade» que deveria servir de impedimento para o “bom e sofisticado” ligar ao “boçal”.
Julgava eu que as discussões que tenho mantido com Jorge Palinhos e Luis Rainha se pautavam pelo respeito e pela consideração mútua. Achava eu que a importância e a atenção que dedicava às opiniões de Jorge Palinhos e Luis Rainha eram por eles retribuídas. Santa ingenuidade.
quinta-feira, setembro 02, 2004
”REPITO, 12”
JMF escreve: ”Algumas almas caridosas escandalizaram-se - pela enésima vez, a paciência desta gente... - com o alegado desprezo/desvalorização/enviesamento com que os media portugueses trataram mais um atentado terrorista em Israel.”
Isto tudo para concluir que essas mesmas almas desprezam/desvalorizam outras situações de dramatismo equivalente ou superior e que, afinal, os atentados terroristas em Israel são, até, bem «tratados» pelos media portugueses.
Faço minhas as palavras do Francisco: “É preciso chegar a esta minha hipocrisia de invocar isto para poder falar daquilo? Onde está alguém a vigiar a linguagem, as equivalências morais, a superioridade do sofrimento, o que é relativo no Kosovo e no Sudão, na Índia e no Peru? Nada é relativo.”
A partir de hoje, JMF fará o favor de invocar todos atentados perpetrados nas imediações (espaciais ou temporais) sempre que decidir comentar ou noticiar um deles. Incluindo a contabilidade dos mortos (“repito, 12”).
PS: Num mundo em que até peças de teatro sobre a dispersão de um corpo no momento de uma explosão servem para «contextualizar» os atentados suicidas sobre civis inocentes; num mundo em que actos anti-semitas gratuitos e atentatórios da dignidade humana são cirurgicamente justificados pelas «opções políticas» de um país terceiro; num mundo em que qualquer manifestaçãozeca contra o grande satã inclui invariavelmente referências desprestigiantes e ofensivas contra “os judeus” e Israel; num mundo que organiza manifestações contra a «política de Sharon» e emudece relativamente a Arafat; num mundo em que a esmagadora maioria da opinião pública ocidental pinta de mártir (branco) um povo e de opressor (preto) outro; talvez um dia JMF perceba porque razão existem por aí “almas caridosas” que não se calam e recusam trair a memória.
JMF escreve: ”Algumas almas caridosas escandalizaram-se - pela enésima vez, a paciência desta gente... - com o alegado desprezo/desvalorização/enviesamento com que os media portugueses trataram mais um atentado terrorista em Israel.”
Isto tudo para concluir que essas mesmas almas desprezam/desvalorizam outras situações de dramatismo equivalente ou superior e que, afinal, os atentados terroristas em Israel são, até, bem «tratados» pelos media portugueses.
Faço minhas as palavras do Francisco: “É preciso chegar a esta minha hipocrisia de invocar isto para poder falar daquilo? Onde está alguém a vigiar a linguagem, as equivalências morais, a superioridade do sofrimento, o que é relativo no Kosovo e no Sudão, na Índia e no Peru? Nada é relativo.”
A partir de hoje, JMF fará o favor de invocar todos atentados perpetrados nas imediações (espaciais ou temporais) sempre que decidir comentar ou noticiar um deles. Incluindo a contabilidade dos mortos (“repito, 12”).
PS: Num mundo em que até peças de teatro sobre a dispersão de um corpo no momento de uma explosão servem para «contextualizar» os atentados suicidas sobre civis inocentes; num mundo em que actos anti-semitas gratuitos e atentatórios da dignidade humana são cirurgicamente justificados pelas «opções políticas» de um país terceiro; num mundo em que qualquer manifestaçãozeca contra o grande satã inclui invariavelmente referências desprestigiantes e ofensivas contra “os judeus” e Israel; num mundo que organiza manifestações contra a «política de Sharon» e emudece relativamente a Arafat; num mundo em que a esmagadora maioria da opinião pública ocidental pinta de mártir (branco) um povo e de opressor (preto) outro; talvez um dia JMF perceba porque razão existem por aí “almas caridosas” que não se calam e recusam trair a memória.
CORREIO (3)
Abaixo o vão de escada, viva o contentor
"Parece que para muita gente, inclusivamente para certos profissionais de saúde, não há qualquer problema em se ir fazer um aborto a 12 milhas da costa, num “cacilheiro” (como lhe chamou Francisco Louçã), dentro dum contentor dotado apenas de material básico, praticado por uma médica de clínica geral sem apoio directo de especialistas em cirurgia, obstetrícia ou ginecologia, sem possibilidade de acesso rápido a um centro hospitalar para uma situação de urgência, sem equipamento de reanimação ou de transfusão, e cujo aparelho mais sofisticado é um ecógrafo (inútil, por exemplo, em caso de acidente hemorrágico, choque ou perfuração uterina abortiva). Para quem reclama contra os perigos para a saúde dos abortos feitos em “vãos de escada” é no mínimo intrigante que aceitem colocar em risco mulheres apenas para montar uma operação mediática. Na verdade, se houver uma situação de emergência nada do que nos foi mostrado indica haver capacidade técnica e material para a socorrer. Curiosamente, nenhum dos eufóricos jornalistas de serviço se lembrou de inquirir sobre esse aspecto...
Para além de eventuais abortos cirúrgicos, os militantes do barco do aborto dispõem-se também a distribuir gratuitamente a pílula abortiva RU 486, que não é comercializada em Portugal, sendo portanto ilegal a sua venda. Esta substância tem uma eficácia de cerca de 93% em gravidezes até às 7 semanas e a estratégia dos abornautas consiste em levar as mulheres para fora das águas territoriais onde lhes é oferecida a referida pílula que é logo ali tomada, e mais outro medicamento para ajudar à expulsão do feto que deve ser tomado dois dias depois. Só um perfeito ingénuo acreditará que, para quem de facto estivesse empenhado em ajudar as mulheres que querem abortar e convicto da sua razão, não lhe fosse possível fazer-lhes chegar as ditas pílulas de uma maneira menos complicada, ultra-limitada e humilhante do que as obrigar a, perante um imenso circo mediático, fazer 24 milhas náuticas. Não lhe seria difícil nem arriscado, com tantos apoiantes, fazer entrar no país os comprimidos contornando a lei, nem com certeza isso lhe causaria problemas morais e ajudaria muitíssimo mais mulheres. Mas claro que sem a vassalagem ao barco lá se iam os soundbites e as audiências.
Já agora uma curiosidade que espantará muita gente: a lei sobre o aborto é, salvo alguns pormenores de prazos, rigorosamente igual em Espanha e Portugal, como qualquer pessoa pode pesquisar na Internet. O que acontece é que a sua aplicação prática é feita de modo diferente mas isso é algo que nunca vi algum militante pró-aborto ou jornalista questionar. É estranho que tantos feministas não se preocupem em utilizar a abertura que a lei dá para fazer aquilo que defendem e apenas queiram optar pelo o alarido ideológico que decorre da reclamação da sua alteração. Por que será que em vez de reclamarem a aplicação da lei que existe e que permite actuar como se faz em Espanha apenas protestam pela sua mudança? Por que será que a imprensa não esclarece este ponto? Por que será que, na falta de resposta dos establecimentos oficiais, não há profissionais de saúde que criem centros médicos onde, dentro das margens que a lei permite se façam abortos gratuitamente?
No fundo, esta história confirma a ideia que os auto proclamados “salvadores do mundo” não tomam atitudes políticas para resolver os problemas das pessoas mas antes usam os problemas das pessoas para obter ganhos políticos. As mulheres e os fetos são aqui apenas carne para canhão."
Fernando Gomes da Costa, Médico
(um dos mentores do site Sexualidades, que se dedica, há mais de 6 anos, a promover a educação sexual e a apoiar quem tem dificuldades ou dúvidas nessa área)
Abaixo o vão de escada, viva o contentor
"Parece que para muita gente, inclusivamente para certos profissionais de saúde, não há qualquer problema em se ir fazer um aborto a 12 milhas da costa, num “cacilheiro” (como lhe chamou Francisco Louçã), dentro dum contentor dotado apenas de material básico, praticado por uma médica de clínica geral sem apoio directo de especialistas em cirurgia, obstetrícia ou ginecologia, sem possibilidade de acesso rápido a um centro hospitalar para uma situação de urgência, sem equipamento de reanimação ou de transfusão, e cujo aparelho mais sofisticado é um ecógrafo (inútil, por exemplo, em caso de acidente hemorrágico, choque ou perfuração uterina abortiva). Para quem reclama contra os perigos para a saúde dos abortos feitos em “vãos de escada” é no mínimo intrigante que aceitem colocar em risco mulheres apenas para montar uma operação mediática. Na verdade, se houver uma situação de emergência nada do que nos foi mostrado indica haver capacidade técnica e material para a socorrer. Curiosamente, nenhum dos eufóricos jornalistas de serviço se lembrou de inquirir sobre esse aspecto...
Para além de eventuais abortos cirúrgicos, os militantes do barco do aborto dispõem-se também a distribuir gratuitamente a pílula abortiva RU 486, que não é comercializada em Portugal, sendo portanto ilegal a sua venda. Esta substância tem uma eficácia de cerca de 93% em gravidezes até às 7 semanas e a estratégia dos abornautas consiste em levar as mulheres para fora das águas territoriais onde lhes é oferecida a referida pílula que é logo ali tomada, e mais outro medicamento para ajudar à expulsão do feto que deve ser tomado dois dias depois. Só um perfeito ingénuo acreditará que, para quem de facto estivesse empenhado em ajudar as mulheres que querem abortar e convicto da sua razão, não lhe fosse possível fazer-lhes chegar as ditas pílulas de uma maneira menos complicada, ultra-limitada e humilhante do que as obrigar a, perante um imenso circo mediático, fazer 24 milhas náuticas. Não lhe seria difícil nem arriscado, com tantos apoiantes, fazer entrar no país os comprimidos contornando a lei, nem com certeza isso lhe causaria problemas morais e ajudaria muitíssimo mais mulheres. Mas claro que sem a vassalagem ao barco lá se iam os soundbites e as audiências.
Já agora uma curiosidade que espantará muita gente: a lei sobre o aborto é, salvo alguns pormenores de prazos, rigorosamente igual em Espanha e Portugal, como qualquer pessoa pode pesquisar na Internet. O que acontece é que a sua aplicação prática é feita de modo diferente mas isso é algo que nunca vi algum militante pró-aborto ou jornalista questionar. É estranho que tantos feministas não se preocupem em utilizar a abertura que a lei dá para fazer aquilo que defendem e apenas queiram optar pelo o alarido ideológico que decorre da reclamação da sua alteração. Por que será que em vez de reclamarem a aplicação da lei que existe e que permite actuar como se faz em Espanha apenas protestam pela sua mudança? Por que será que a imprensa não esclarece este ponto? Por que será que, na falta de resposta dos establecimentos oficiais, não há profissionais de saúde que criem centros médicos onde, dentro das margens que a lei permite se façam abortos gratuitamente?
No fundo, esta história confirma a ideia que os auto proclamados “salvadores do mundo” não tomam atitudes políticas para resolver os problemas das pessoas mas antes usam os problemas das pessoas para obter ganhos políticos. As mulheres e os fetos são aqui apenas carne para canhão."
Fernando Gomes da Costa, Médico
(um dos mentores do site Sexualidades, que se dedica, há mais de 6 anos, a promover a educação sexual e a apoiar quem tem dificuldades ou dúvidas nessa área)
quarta-feira, setembro 01, 2004
EM POLVOROSA
Jorge Palinhos, num post animado pela suposta constatação de que os EUA estão a perder terreno face à Europa (uba, uba), termina com uma emblemática frase: ”Aguardam-se as refutações indignadas dos liberais.”
Por que carga de água se hão-de indignar os "liberais"? O modelo liberal, em ambos os lados do atlântico, e apesar das diferenças, está vivo e recomenda-se. Razões para “se indignar”, ou melhor, para “se lamentar”, terão os críticos do liberalismo e da globalização. Os EUA e a Europa são a prova provada de que o capitalismo e o liberalismo resultam.
Pondo de parte as dúvidas e reservas que certas conclusões de Rifkin suscitam (a questão da educação, do avanço tecnológico, os critérios de medição da produtividade, etc.), a mais objectiva das críticas que se pode e deve endereçar a estas tentativas sumárias, estáticas e simplistas de comparar blocos de países aos EUA (como se Portugal fosse comparável à Suécia, Grécia à Inglaterra, França à Albânia), prende-se com o facto destas comparações serem totalmente cegas relativamente à história dos factos económicos, aos movimentos sociais, à geografia e aos fenómenos e recursos naturais, etc. De onde vieram os EUA e a Europa? Que posição detinham no início do Sec. XX? O que seria hoje a Europa caso tivesse sido atingida pelas vagas de imigração a que foram sujeitos os EUA (e ainda são), ou das tensões raciais que afectaram a sociedade norte-americana, durante o Sec. XIX e o Sec. XX? E por aí fora. Não se trata de "refutar indignadamente" a obra de Rifkin. Trata-se, apenas, de aconselhar alguma prudência em matéria de conclusões e masturbações.
Jorge Palinhos, num post animado pela suposta constatação de que os EUA estão a perder terreno face à Europa (uba, uba), termina com uma emblemática frase: ”Aguardam-se as refutações indignadas dos liberais.”
Por que carga de água se hão-de indignar os "liberais"? O modelo liberal, em ambos os lados do atlântico, e apesar das diferenças, está vivo e recomenda-se. Razões para “se indignar”, ou melhor, para “se lamentar”, terão os críticos do liberalismo e da globalização. Os EUA e a Europa são a prova provada de que o capitalismo e o liberalismo resultam.
Pondo de parte as dúvidas e reservas que certas conclusões de Rifkin suscitam (a questão da educação, do avanço tecnológico, os critérios de medição da produtividade, etc.), a mais objectiva das críticas que se pode e deve endereçar a estas tentativas sumárias, estáticas e simplistas de comparar blocos de países aos EUA (como se Portugal fosse comparável à Suécia, Grécia à Inglaterra, França à Albânia), prende-se com o facto destas comparações serem totalmente cegas relativamente à história dos factos económicos, aos movimentos sociais, à geografia e aos fenómenos e recursos naturais, etc. De onde vieram os EUA e a Europa? Que posição detinham no início do Sec. XX? O que seria hoje a Europa caso tivesse sido atingida pelas vagas de imigração a que foram sujeitos os EUA (e ainda são), ou das tensões raciais que afectaram a sociedade norte-americana, durante o Sec. XIX e o Sec. XX? E por aí fora. Não se trata de "refutar indignadamente" a obra de Rifkin. Trata-se, apenas, de aconselhar alguma prudência em matéria de conclusões e masturbações.
CORREIO (2)
”(…)Ainda sobre o atentado em Israel, ouvi hoje de manhã uma peça da SICNotícias sobre o assunto em que a locutora afirmou, pelo menos por três vezes, que o atentado "acabou com a trégua" existente. Acho este um exemplo escandaloso de parcialidade deliberada e de propaganda nojenta, muito mais grave do que a dicotomia "morreram / matou" que costuma estar associada às notícias sobre as acções terroristas e as acções do exército israelita. Aqui temos uma mentira deliberada, de uma jornalista que está informada dos factos, repetida várias vezes, e que tenta fazer passar para as pessoas a ideia que existiria uma qualquer trégua por parte dos terroristas, quando o que existiu, durante vários meses, foi a incapacidade desses mesmos terroristas em atacarem Israel. Aliás isso é ainda mais evidente quando a justificação dos próprios terroristas para os atentados, igualmente referida na peça, é a morte de Yassin e de al Rantissi pelo exército israelita, há já alguns meses. Claro está que essa incapacidade resulta, em larga escala, das acções de Israel como sejam a busca e morte sistemática dos cabeçilhas dos grupos terroristas, as acções de destruição de fábricas metalúrgicas, as acções de detecção e selagem de túneis de contrabando de armamento, o maior controlo sobre as fronteiras ou a construção do muro de separação.
Só isto explica que os famosos "banhos de sangue" que os terroristas anunciram depois da morte de Yassin e depois da morte de al Rantissi não tenham de facto acontecido. Mas isso é irrelevante para a jornalista da SICNotícias, ou para o Público, ou para JMF, ou para toda essa fauna bem pensante que nos ilumina com os seus brilhantes raciocínios, sem sequer terem o pudor de observar um momento de nojo (no duplo sentido) pelo resultado do apoio à causa palestiniana.”
Paulo Xardoné
”(…)Ainda sobre o atentado em Israel, ouvi hoje de manhã uma peça da SICNotícias sobre o assunto em que a locutora afirmou, pelo menos por três vezes, que o atentado "acabou com a trégua" existente. Acho este um exemplo escandaloso de parcialidade deliberada e de propaganda nojenta, muito mais grave do que a dicotomia "morreram / matou" que costuma estar associada às notícias sobre as acções terroristas e as acções do exército israelita. Aqui temos uma mentira deliberada, de uma jornalista que está informada dos factos, repetida várias vezes, e que tenta fazer passar para as pessoas a ideia que existiria uma qualquer trégua por parte dos terroristas, quando o que existiu, durante vários meses, foi a incapacidade desses mesmos terroristas em atacarem Israel. Aliás isso é ainda mais evidente quando a justificação dos próprios terroristas para os atentados, igualmente referida na peça, é a morte de Yassin e de al Rantissi pelo exército israelita, há já alguns meses. Claro está que essa incapacidade resulta, em larga escala, das acções de Israel como sejam a busca e morte sistemática dos cabeçilhas dos grupos terroristas, as acções de destruição de fábricas metalúrgicas, as acções de detecção e selagem de túneis de contrabando de armamento, o maior controlo sobre as fronteiras ou a construção do muro de separação.
Só isto explica que os famosos "banhos de sangue" que os terroristas anunciram depois da morte de Yassin e depois da morte de al Rantissi não tenham de facto acontecido. Mas isso é irrelevante para a jornalista da SICNotícias, ou para o Público, ou para JMF, ou para toda essa fauna bem pensante que nos ilumina com os seus brilhantes raciocínios, sem sequer terem o pudor de observar um momento de nojo (no duplo sentido) pelo resultado do apoio à causa palestiniana.”
Paulo Xardoné
CORREIO (1)
”Ana Gomes escreve, "Dizem que até já fez o reconhecimento do Parque Eduardo VII, jardins de Belém e outros pontos do país suspeitos de serem instrumentais para actos de pedofilia".
Caro amigo, a prosa seria de mau gosto se escrevesse outra coisa. A isto chamo injuria e difamação, Ana Gomes sugere, com a habitual falta de senso, comportamentos pedófilos.
Concordo com o que Moita de Deus já escreveu, no Acidental, de cada vez que se chama extrema-direita ao CDS-PP, de cada vez que chamam ditador a Paulo Portas e não há uma resposta vigorosa a mentira ganha mais peso.
Ana Gomes faz mais que isso, ofende e imputa uma actuação criminosa a outro. Não acho que deva ficar sem reposta.
Estarei sozinho?"
Afonso
”Ana Gomes escreve, "Dizem que até já fez o reconhecimento do Parque Eduardo VII, jardins de Belém e outros pontos do país suspeitos de serem instrumentais para actos de pedofilia".
Caro amigo, a prosa seria de mau gosto se escrevesse outra coisa. A isto chamo injuria e difamação, Ana Gomes sugere, com a habitual falta de senso, comportamentos pedófilos.
Concordo com o que Moita de Deus já escreveu, no Acidental, de cada vez que se chama extrema-direita ao CDS-PP, de cada vez que chamam ditador a Paulo Portas e não há uma resposta vigorosa a mentira ganha mais peso.
Ana Gomes faz mais que isso, ofende e imputa uma actuação criminosa a outro. Não acho que deva ficar sem reposta.
Estarei sozinho?"
Afonso