O MacGuffin

sábado, setembro 04, 2004

INSISTO
A minha filha tem passado boa parte da temporada estival a pintar. Está agora numa fase impressionista, alinhavando a justaposição de pinceladas de cor pura, de modo a conferir ao quadro uma vibração luminosa. Baseando-se no meio natural que a rodeia, pintou, ontem, a carapaça do nosso cágado Chico, sobre um manto de ervas e flores. Sobre o Chico, haveria muito para contar – ele que foi por mim encontrado numa radiosa manhã de Primavera, tinha eu a modesta idade de sete anos e ele o tamanho de uma moeda de um tostão (daquelas que a malta colocava nos carris para o comboio cilindrar), e que, desde então, se tem revelado um animal com muito sangue frio, até pela forma como, ainda hoje, se consegue defender das investidas de um vigarista chamado Bécas (o nosso cocker), desferindo-lhe, volta e meia, com aquele ar blasé que o caracteriza (fazendo lembrar um Nobel da literatura), uma valente dentada na língua, quando este se arma em mete nojo, i. e., quando o chamamento da natureza apela ao sangue canídeo, sussurrando-lhe ao ouvido: “tu és um caçador, meu grande maricas!” (o Bécas esquece-se com frequência que o Chico já cá andava muito antes de ele aparecer). Mas vem isto a propósito do quê? Ah, já sei: da mistura de cores e de um post de Jorge Palinhos (juro que não é fixação).

A minha filha conseguiu ontem um impressionante tom de laranja que me levou a perguntar-lhe como o havia conseguido. “Ó pai: misturando vermelho com amarelo!” Simples, não é?

As críticas à política de Sharon (amarelo) serão diferentes do anti-semitismo (vermelho). De acordo. Eu nunca disse que o amarelo era vermelho ou que o vermelho era amarelo. Disse, e repito, que há por aí muita manifestação amarela tingida de laranja por influência de algum vermelho. E, nalguns casos, de um laranja já saturado de vermelho. Primário.

Repetindo-me, dado o tipo e natureza dos actos cometidos contra a comunidade judaica em França (incluindo os cometidos por árabes), vislumbro, nesse tipo de acções, no mínimo um tom laranja. Isso não significa que o amarelo não exista, seja laranja ou tenha passado a vermelho. A diferença encontra-se na paleta. Há quem jure a pés juntos que não, que tudo (incluindo o que se passa em França) não passa de amarelo. Sobretudo quando os agentes são de origem árabe. Há, depois, quem diga que o vermelho, na mistura, é marginal, com o amarelo a conseguir assegurar o tom. Há, ainda, quem diga que o laranja é já a cor dominante, ou seja, que a presença do vermelho é indelével. É este o meu caso. Espero não ter sido demasiado "inamovível" nos meus argumentos.

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