QUANDO DEIXA DE VALER A PENA DISCUTIR COM QUEM NÃO NOS CONSIDERA APTO PARA DISCUTIR
Recebi mail de José Mário Silva:
“Caro Carlos,
Lamento que não tenhas compreendido o que pretendi dizer com o post em que citava uma peça de Antonio Tarantino. Para começar, a peça é muito interessante (aconselho-te vivamente a sua leitura) e, embora escrita por um simpatizante da causa palestiniana, disseca por dentro todas as muitas complexidades e contradições dessa luta. Não é, de maneira nenhuma, um texto que desculpabilize os atentados bombistas ou que glorifique os respectivos mártires. Lê e perceberás.
Quanto ao meu comentário, na sequência do repúdio que o Jorge expressou (e eu corroborei) pelas 16 bárbaras mortes em Israel, o que eu pretendi dizer, como é óbvio, não foi que os homens-bomba implicados «não estavam certos nem errados». Eles estão errados, sempre. Referia-me a nós, comentadores exteriores ao problema. Nós, observadores vendo as coisas de longe. À esquerda como à direita.
Ou seja, as minhas “certezas” sobre o assunto vacilam quando coisas destas acontecem. Espero que as tuas também, quando Sharon manda avançar os tanques sobre os campos de refugiados ou quando os helicópteros arrasam um prédio inteiro para matar um terrorista.
Recebe um abraço do
Zé Mário”
Caro Zé Mário,
Como é teu apanágio, esclareces a tua posição de forma cordata e educada, insistindo em elevar a discussão. Brindo a isso.
Reconheço que o timing e o enquadramento das tuas palavras (no rescaldo de mais um mortífero e abjecto atentado terrorista) não foram, de facto, os melhores. Achei demasiado difuso e excessivamente generalizado o “Ninguém está completamente certo, nem completamente errado, quando se fala da questão israelo-palestiniana”. Sobre a questão israelo-palestiniana, existem certezas irrefutáveis. Sabemos que os atentados terroristas que visam matar o maior número de civis inocentes não têm desculpa ou justificação. Sabemos que estes atentados têm uma organização e não são fruto de acções individuais motivadas pelo desespero «anónimo» (como parece transparecer da peça do Tarantino). Sabemos que a brutalidade, por vezes exercida pelos militares israelitas, é totalmente intolerável e criminosa. Sabemos que o povo israelita e palestiniano - os civis anónimos que observam diariamente este diálogo de surdos – têm, apesar de tudo, condições para se entender. Existem, portanto, certezas. Como, aliás, tu próprio referes quando dizes “Eles estão errados, sempre”. A questão está, assim, esclarecida.
Sobre a questão israelo-palestiniana, relembro, subscrevendo, o que escrevia Francisco José Viegas em Abril de 2002, na sua, então, Grande Reportagem:
“Constituem decisões inadiáveis a criação de um Estado palestiniano, com fronteiras e autoridades próprias e definidas internacionalmente, incluindo a soberania sobre a zona oriental de Jerusalém; o reconhecimento definitivo do Estado de Israel pelos Estados árabes da região (que mantêm a designação de «entidade sionista»), bem como o seu direito à segurança e à protecção contra agressões terroristas; o fim da ocupação de territórios da Cisjordânia e da faixa de Gaza por parte de Israel, bem como o reconhecimento do direito à segurança para as comunidades estabelecidas em regiões de fronteiras; a resolução definitiva da questão dos «refugiados». Estes princípios estavam definidos nos chamados acordos de Oslo e garantidos no protocolo que Ehud Barak e Yasser Arafat se preparavam para assinar no final de 2000.
São coisas banais? Pode ser que sim, e que apenas repitam a recente declaração da ONU sobre a matéria. Mas não é mais banal do que a própria banalização da morte, do terror no quotidiano, da violação dos direitos humanos mais básicos. Diante dessa banalização qualquer coisa há-de parecer extraordinária. Esse é o único caminho possível para a paz em Israel e para a criação de um Estado palestiniano, o mesmo que os Estados árabes se recusaram a criar em 1948. Também aqui o bom-senso é de alguma utilidade.”
Acrescento, apenas, algumas questões:
a) Estarão reunidas as condições que assegurem a segurança dos israelitas? Que garantias podem ser dadas, por parte dos responsáveis palestinianos?
b) Estarão os Estados árabes na disposição de reconhecer Israel como nação soberana?
c) Estarão os Estados árabes fronteiriços e as autoridades palestinianas, na disposição de contribuir para a resolução do problema dos refugiados (que não passa só por Israel)?
d) Haverá, em Israel, vontade política para pôr um termo à política de colonatos na Cisjordânia?
e) Com o fim da ocupação, o Hamas e as outras organizações terroristas deporão as armas? Passarão a dedicar-se à pastorícia?
Por último, lamento que, no Blogue de Esquerda, haja quem não consiga debater com elevação e faça questão em denunciar a sua própria má-fé e a vertigem para o insulto. Jorge Palinhos afirma: ”Já viste, Zé Mário, até uma humilde peça de teatro serve para o MacGuffin pôr atitudes racistas e críticas ao Governo israelita no mesmo saco. É melhor nem citarmos este livro para o bom velho MacGuffin não ir buscar a metralhadora”, afirmação perfeitamente injusta e desleal, uma vez que eu nunca disse que uma e outra são a mesma coisa (para além é, claro, de me passar um atestado de extremista com a referência da “metralhadora”). Luis Rainha diz: ”Não consigo imaginar motivos válidos para se ligar tanto a esse senhor.”, que não é mais do que uma presunçosa e, no mínimo, deselegante forma de desprestigiar uma opinião contrária, com base numa putativa «superioridade» que deveria servir de impedimento para o “bom e sofisticado” ligar ao “boçal”.
Julgava eu que as discussões que tenho mantido com Jorge Palinhos e Luis Rainha se pautavam pelo respeito e pela consideração mútua. Achava eu que a importância e a atenção que dedicava às opiniões de Jorge Palinhos e Luis Rainha eram por eles retribuídas. Santa ingenuidade.
Recebi mail de José Mário Silva:
“Caro Carlos,
Lamento que não tenhas compreendido o que pretendi dizer com o post em que citava uma peça de Antonio Tarantino. Para começar, a peça é muito interessante (aconselho-te vivamente a sua leitura) e, embora escrita por um simpatizante da causa palestiniana, disseca por dentro todas as muitas complexidades e contradições dessa luta. Não é, de maneira nenhuma, um texto que desculpabilize os atentados bombistas ou que glorifique os respectivos mártires. Lê e perceberás.
Quanto ao meu comentário, na sequência do repúdio que o Jorge expressou (e eu corroborei) pelas 16 bárbaras mortes em Israel, o que eu pretendi dizer, como é óbvio, não foi que os homens-bomba implicados «não estavam certos nem errados». Eles estão errados, sempre. Referia-me a nós, comentadores exteriores ao problema. Nós, observadores vendo as coisas de longe. À esquerda como à direita.
Ou seja, as minhas “certezas” sobre o assunto vacilam quando coisas destas acontecem. Espero que as tuas também, quando Sharon manda avançar os tanques sobre os campos de refugiados ou quando os helicópteros arrasam um prédio inteiro para matar um terrorista.
Recebe um abraço do
Zé Mário”
Caro Zé Mário,
Como é teu apanágio, esclareces a tua posição de forma cordata e educada, insistindo em elevar a discussão. Brindo a isso.
Reconheço que o timing e o enquadramento das tuas palavras (no rescaldo de mais um mortífero e abjecto atentado terrorista) não foram, de facto, os melhores. Achei demasiado difuso e excessivamente generalizado o “Ninguém está completamente certo, nem completamente errado, quando se fala da questão israelo-palestiniana”. Sobre a questão israelo-palestiniana, existem certezas irrefutáveis. Sabemos que os atentados terroristas que visam matar o maior número de civis inocentes não têm desculpa ou justificação. Sabemos que estes atentados têm uma organização e não são fruto de acções individuais motivadas pelo desespero «anónimo» (como parece transparecer da peça do Tarantino). Sabemos que a brutalidade, por vezes exercida pelos militares israelitas, é totalmente intolerável e criminosa. Sabemos que o povo israelita e palestiniano - os civis anónimos que observam diariamente este diálogo de surdos – têm, apesar de tudo, condições para se entender. Existem, portanto, certezas. Como, aliás, tu próprio referes quando dizes “Eles estão errados, sempre”. A questão está, assim, esclarecida.
Sobre a questão israelo-palestiniana, relembro, subscrevendo, o que escrevia Francisco José Viegas em Abril de 2002, na sua, então, Grande Reportagem:
“Constituem decisões inadiáveis a criação de um Estado palestiniano, com fronteiras e autoridades próprias e definidas internacionalmente, incluindo a soberania sobre a zona oriental de Jerusalém; o reconhecimento definitivo do Estado de Israel pelos Estados árabes da região (que mantêm a designação de «entidade sionista»), bem como o seu direito à segurança e à protecção contra agressões terroristas; o fim da ocupação de territórios da Cisjordânia e da faixa de Gaza por parte de Israel, bem como o reconhecimento do direito à segurança para as comunidades estabelecidas em regiões de fronteiras; a resolução definitiva da questão dos «refugiados». Estes princípios estavam definidos nos chamados acordos de Oslo e garantidos no protocolo que Ehud Barak e Yasser Arafat se preparavam para assinar no final de 2000.
São coisas banais? Pode ser que sim, e que apenas repitam a recente declaração da ONU sobre a matéria. Mas não é mais banal do que a própria banalização da morte, do terror no quotidiano, da violação dos direitos humanos mais básicos. Diante dessa banalização qualquer coisa há-de parecer extraordinária. Esse é o único caminho possível para a paz em Israel e para a criação de um Estado palestiniano, o mesmo que os Estados árabes se recusaram a criar em 1948. Também aqui o bom-senso é de alguma utilidade.”
Acrescento, apenas, algumas questões:
a) Estarão reunidas as condições que assegurem a segurança dos israelitas? Que garantias podem ser dadas, por parte dos responsáveis palestinianos?
b) Estarão os Estados árabes na disposição de reconhecer Israel como nação soberana?
c) Estarão os Estados árabes fronteiriços e as autoridades palestinianas, na disposição de contribuir para a resolução do problema dos refugiados (que não passa só por Israel)?
d) Haverá, em Israel, vontade política para pôr um termo à política de colonatos na Cisjordânia?
e) Com o fim da ocupação, o Hamas e as outras organizações terroristas deporão as armas? Passarão a dedicar-se à pastorícia?
Por último, lamento que, no Blogue de Esquerda, haja quem não consiga debater com elevação e faça questão em denunciar a sua própria má-fé e a vertigem para o insulto. Jorge Palinhos afirma: ”Já viste, Zé Mário, até uma humilde peça de teatro serve para o MacGuffin pôr atitudes racistas e críticas ao Governo israelita no mesmo saco. É melhor nem citarmos este livro para o bom velho MacGuffin não ir buscar a metralhadora”, afirmação perfeitamente injusta e desleal, uma vez que eu nunca disse que uma e outra são a mesma coisa (para além é, claro, de me passar um atestado de extremista com a referência da “metralhadora”). Luis Rainha diz: ”Não consigo imaginar motivos válidos para se ligar tanto a esse senhor.”, que não é mais do que uma presunçosa e, no mínimo, deselegante forma de desprestigiar uma opinião contrária, com base numa putativa «superioridade» que deveria servir de impedimento para o “bom e sofisticado” ligar ao “boçal”.
Julgava eu que as discussões que tenho mantido com Jorge Palinhos e Luis Rainha se pautavam pelo respeito e pela consideração mútua. Achava eu que a importância e a atenção que dedicava às opiniões de Jorge Palinhos e Luis Rainha eram por eles retribuídas. Santa ingenuidade.
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