domingo, outubro 31, 2004
PRESUNÇÃO E ÁGUA BENTA...
Editorial n'A Capital:
"A Capital assume, para com os seus leitores, uma linha editorial que defende a derrota de George W. Bush nas próximas eleições americanas. Um jornal referencial deve saber assumir, em situações-limite, uma posição clara e inequívoca em relação a assuntos que, pela sua importância, podem colocar em causa princípios básicos da civilização.
Alio-me ao Como Se Fosse Uma Baleia: "referencial"?! O Sr. Osório mais a sua soberba...
"A Capital assume, para com os seus leitores, uma linha editorial que defende a derrota de George W. Bush nas próximas eleições americanas. Um jornal referencial deve saber assumir, em situações-limite, uma posição clara e inequívoca em relação a assuntos que, pela sua importância, podem colocar em causa princípios básicos da civilização.
Alio-me ao Como Se Fosse Uma Baleia: "referencial"?! O Sr. Osório mais a sua soberba...
FEDERALISMOS
A ler, no indispensável Intermitente, o resumo da conferência de Richard Epstein, Professor de Direito na Universidade de Chigado, intitulada "American Federalism: Lessons for Britain And the EU".
sábado, outubro 30, 2004
EU, QUE NEM CONCORDEI COM O QUE BUTTIGLIONE DISSE...
No Público:
“O italiano Rocco Buttiglione anunciou hoje que desiste da sua candidatura a comissário europeu, na sequência da polémica provocada pelas suas posições em matéria de direitos das mulheres e dos homossexuais.
Em conferência de imprensa, a partir de Roma, Buttiglione explicou que desiste da sua candidatura "para que a comissão de Barroso possa seguir o seu caminho". O ministro italiano desejou sucesso à equipa de Durão Barroso "porque a Europa necessita de uma comissão forte".
O ex-sucessor de António Vitorino na Comissão de Justiça e Assuntos Internos considera-se uma "vítima inocente" escolhida pela humanidade, que "periodicamente decide purificar-se". "Desta vez fui eu o escolhido para essa função e não me queixo muito", afirmou.”
Sobre esta questão, Pedro Mexia escreveu, no Independente:
“Buttiglione fez considerações sobre a homossexualidade e o casamento que a esquerda considerou «reaccionárias» e inaceitáveis. E com alguma razão. É evidente que o italiano foi no mínimo inábil ao recorrer a um termo como “pecado” no contexto de uma audição parlamentar. Não está em causa o direito de um católico assumir publicamente as suas convicções; mas um conceito como “pecado” é notoriamente desadequado e problemático numa discussão sobre política europeia. (...) [O] que está em causa não é a manifestação de uma opinião privada, mas a escusada menção de convicções religiosas que jogam directamente com a matéria pública que Buttiglione teria entre as suas competências.”
Por uma vez, discordo do Pedro: o que está em causa é, precisamente, a possibilidade de assumir publicamente, após interpelação nesse sentido (e nesse sentido, importa questionar a razão de se levantaram questões do foro privado numa audiência parlamentar), as nossas convicções pessoais - religiosas, políticas, etc. - sem medo, receio ou angustia de qualquer tipo.
Pedro Mexia parece sugerir que o problema não esteve, propriamente, nas convicções do sr. Rocco, mas sim no facto de as ter dado a conhecer. Ou seja, Buttiglione podia pensar «aquilo» da homossexualidade, mas não o devia ter dito, uma vez que tais declarações colidiriam com a orientação oficial, tendencialmente jacobina, de uma Europa que, a cada passo, se revela cada vez mais hipócrita, intolerante, dúbia nos seus critérios, fazendo questão de mostrar que padece de uma crónica (ou anacrónica?) má consciência sobre os mais diversos domínios. Buttiglione devia, por isso, ter sido menos ingénuo e ficar calado. Assim, de mansinho, pela calada, talvez a coisa passasse.
Esta não é a questão. A questão está em saber se, na sofisticada e iluminista Europa da Constituição, ainda é permitido a alguém expressar a céu aberto as suas crenças e a leitura que faz do mundo por via das suas convicções religiosas (mesmo que essas convicções se revelem desajustadas, como eu penso que foram).
Já que Pedro Mexia refere a questão do «contexto», seria bom recordar as declarações de Buttiglione em todo o seu «contexto»:
“Eu posso pensar que a homossexualidade é um pecado e isso não tem que ter qualquer efeito na política, a não ser que eu diga que a homossexualidade é um crime.
O Estado não tem que meter o nariz nestas questões e ninguém pode ser descriminado com base na orientação sexual... É isso que está escrito na Carta dos Direitos Humanos, é isso que está escrito na Constituição [europeia] e eu jurei defender esta constituição”.
Esta Europa está a revelar-se intolerante para uns e tolerante para outros. Esta Europa recebe de braços abertos as comunidades muçulmanas, emudecendo face às suas práticas e aos seus preceitos (já pensaram informar-se sobre a opinião dos muçulmanos em relação à homossexualidade?); aceita, de bom grado, as confissões de cariz pedófilo de Cohn-Bendit; mas é incapaz de tolerar que um católico cometa o «deslize» de dizer o que pensa sobre a homossexualidade, mesmo quando esse católico faz questão de sublinhar tratar-se, apenas, de uma convicção pessoal, privada e não transmissível, e que nada do que disse tem que ver com «descriminação» ou «intolerância».
A Europa amiga das minorias e albergadora das mais estapafúrdias convicções de caracter político e religioso (basta dar uma volta pelo Parlamento Europeu), insiste na sua demanda purificadora pelo «secular», sobretudo contra o catolicismo, relegando para segundo plano questões como as da competência e consciência individuais.
A palavra ao João Pereira Coutinho, hoje, no Expresso:
“Não há comissão para ninguém. Por agora. O motivo é simples – e, como escrevi na passada semana, largamente esperado: com Rocco Buttiglione no barco, a Europa não avança. Duas alternativas: enxotar Buttiglione para outra pasta; ou, então, enxotar Buttiglione «tout court». Qualquer das opções não ilude o essencial: Durão Barroso trocou um país governável por uma Europa ingovernável. E, independentemente dos primeiros encómios, ofereceu ao mundo a triste imagem de fraqueza. Rocco Buttiglione foi confrontado com as suas crenças religiosas e respondeu em conformidade: a homossexualidade é um pecado; o casamento serve para que o homem proteja a mulher e os filhos. As opiniões do senhor são deselegantes e absurdas? Admito. Mas esse não é o problema – como efectivamente não seria se um político protestante, muçulmano ou budista fosse questionado sobre as suas privadas moralidades. O problema passa por saber se o Parlamento Europeu deve espiolhar a consciência alheia – e, perante as convicções de cada um, utilizar a fé como arma de arremesso e instrumento de guerrilha institucional. Pessoas ilustradas respondem sem esforço. Aliás, essa foi a principal conquista do cristianismo: um espaço íntimo, intocável e privado, onde a «polis» não entra. O episódio Buttilgione ficará como uma mancha. Uma mancha que definitivamente inaugura um sinistro precedente.”
Nem o bom do Brecht, desta vez, os salva - acrescento eu.
“O italiano Rocco Buttiglione anunciou hoje que desiste da sua candidatura a comissário europeu, na sequência da polémica provocada pelas suas posições em matéria de direitos das mulheres e dos homossexuais.
Em conferência de imprensa, a partir de Roma, Buttiglione explicou que desiste da sua candidatura "para que a comissão de Barroso possa seguir o seu caminho". O ministro italiano desejou sucesso à equipa de Durão Barroso "porque a Europa necessita de uma comissão forte".
O ex-sucessor de António Vitorino na Comissão de Justiça e Assuntos Internos considera-se uma "vítima inocente" escolhida pela humanidade, que "periodicamente decide purificar-se". "Desta vez fui eu o escolhido para essa função e não me queixo muito", afirmou.”
Sobre esta questão, Pedro Mexia escreveu, no Independente:
“Buttiglione fez considerações sobre a homossexualidade e o casamento que a esquerda considerou «reaccionárias» e inaceitáveis. E com alguma razão. É evidente que o italiano foi no mínimo inábil ao recorrer a um termo como “pecado” no contexto de uma audição parlamentar. Não está em causa o direito de um católico assumir publicamente as suas convicções; mas um conceito como “pecado” é notoriamente desadequado e problemático numa discussão sobre política europeia. (...) [O] que está em causa não é a manifestação de uma opinião privada, mas a escusada menção de convicções religiosas que jogam directamente com a matéria pública que Buttiglione teria entre as suas competências.”
Por uma vez, discordo do Pedro: o que está em causa é, precisamente, a possibilidade de assumir publicamente, após interpelação nesse sentido (e nesse sentido, importa questionar a razão de se levantaram questões do foro privado numa audiência parlamentar), as nossas convicções pessoais - religiosas, políticas, etc. - sem medo, receio ou angustia de qualquer tipo.
Pedro Mexia parece sugerir que o problema não esteve, propriamente, nas convicções do sr. Rocco, mas sim no facto de as ter dado a conhecer. Ou seja, Buttiglione podia pensar «aquilo» da homossexualidade, mas não o devia ter dito, uma vez que tais declarações colidiriam com a orientação oficial, tendencialmente jacobina, de uma Europa que, a cada passo, se revela cada vez mais hipócrita, intolerante, dúbia nos seus critérios, fazendo questão de mostrar que padece de uma crónica (ou anacrónica?) má consciência sobre os mais diversos domínios. Buttiglione devia, por isso, ter sido menos ingénuo e ficar calado. Assim, de mansinho, pela calada, talvez a coisa passasse.
Esta não é a questão. A questão está em saber se, na sofisticada e iluminista Europa da Constituição, ainda é permitido a alguém expressar a céu aberto as suas crenças e a leitura que faz do mundo por via das suas convicções religiosas (mesmo que essas convicções se revelem desajustadas, como eu penso que foram).
Já que Pedro Mexia refere a questão do «contexto», seria bom recordar as declarações de Buttiglione em todo o seu «contexto»:
“Eu posso pensar que a homossexualidade é um pecado e isso não tem que ter qualquer efeito na política, a não ser que eu diga que a homossexualidade é um crime.
O Estado não tem que meter o nariz nestas questões e ninguém pode ser descriminado com base na orientação sexual... É isso que está escrito na Carta dos Direitos Humanos, é isso que está escrito na Constituição [europeia] e eu jurei defender esta constituição”.
Esta Europa está a revelar-se intolerante para uns e tolerante para outros. Esta Europa recebe de braços abertos as comunidades muçulmanas, emudecendo face às suas práticas e aos seus preceitos (já pensaram informar-se sobre a opinião dos muçulmanos em relação à homossexualidade?); aceita, de bom grado, as confissões de cariz pedófilo de Cohn-Bendit; mas é incapaz de tolerar que um católico cometa o «deslize» de dizer o que pensa sobre a homossexualidade, mesmo quando esse católico faz questão de sublinhar tratar-se, apenas, de uma convicção pessoal, privada e não transmissível, e que nada do que disse tem que ver com «descriminação» ou «intolerância».
A Europa amiga das minorias e albergadora das mais estapafúrdias convicções de caracter político e religioso (basta dar uma volta pelo Parlamento Europeu), insiste na sua demanda purificadora pelo «secular», sobretudo contra o catolicismo, relegando para segundo plano questões como as da competência e consciência individuais.
A palavra ao João Pereira Coutinho, hoje, no Expresso:
“Não há comissão para ninguém. Por agora. O motivo é simples – e, como escrevi na passada semana, largamente esperado: com Rocco Buttiglione no barco, a Europa não avança. Duas alternativas: enxotar Buttiglione para outra pasta; ou, então, enxotar Buttiglione «tout court». Qualquer das opções não ilude o essencial: Durão Barroso trocou um país governável por uma Europa ingovernável. E, independentemente dos primeiros encómios, ofereceu ao mundo a triste imagem de fraqueza. Rocco Buttiglione foi confrontado com as suas crenças religiosas e respondeu em conformidade: a homossexualidade é um pecado; o casamento serve para que o homem proteja a mulher e os filhos. As opiniões do senhor são deselegantes e absurdas? Admito. Mas esse não é o problema – como efectivamente não seria se um político protestante, muçulmano ou budista fosse questionado sobre as suas privadas moralidades. O problema passa por saber se o Parlamento Europeu deve espiolhar a consciência alheia – e, perante as convicções de cada um, utilizar a fé como arma de arremesso e instrumento de guerrilha institucional. Pessoas ilustradas respondem sem esforço. Aliás, essa foi a principal conquista do cristianismo: um espaço íntimo, intocável e privado, onde a «polis» não entra. O episódio Buttilgione ficará como uma mancha. Uma mancha que definitivamente inaugura um sinistro precedente.”
Nem o bom do Brecht, desta vez, os salva - acrescento eu.
PARABÉNS AO NUNO
O Rua da Judiaria celebrou o seu primeiro aniversário. Eu gostaria aqui, «oficialmente», de celebrar o trabalho, a coragem, a serenidade, a sapiência de um blogue que importa preservar, acarinhar, percorrer. Como se diz agora, neste mundo sem memória e apressado, o blogue do Nuno é incontornável. Longa vida para o Rua da Judiaria. E obrigado ao Nuno por tudo o que tem feito.
AINDA O CASO QUE "ABALOU OS ALICERCES DA DEMOCRACIA PORTUGUESA" *
O elaboradíssimo Pula Pula Pulga afirma ter ficado surpreendido com o que escrevi, a propósito do caso Marcelo. Fico, obviamente, estarrecido. Surpreender alguém - pela negativa, entenda-se – tira-me o sono. Mais ainda no caso do Pula Pulga, um portento de rigor e sofisticação, onde se praticam, paternalmente, exercícios de apreciação de outros blogues.
Cometi, de facto, um erro, quando arrisquei parafrasear Daniel Oliveira. Não posso exigir que elaborados como o Pulga percebam que, no embalo da paráfrase, tenha escrito “no Parlamento” e não “na AACS”. Lapso, erro, distracção, gafe, deslize, whatever: perturbei o mundo, e quiçá o sono, do aprimorado Pulga. É grave e peço, desde já, clemência.
Marcelo não foi, de facto, ao Parlamento. Nem vai precisar, aliás. O show que deu na AACS foi definitivo, pungente, «uma lição». Sobre a questão, e se o esmerado Pulga me der licença (desde já lhe peço que corrija o eventual lapso ou a acidental saloiice), acrescento alguns pontos:
1. A conversa entre Marcelo e Paes do Amaral foi uma conversa de amigos, de fim de dia, no “bar de um hotel” (como disse Paes do Amaral). Isso faz toda a diferença. É óbvio que os idiotas da objectividade dirão que não faz diferença nenhuma. Faz, e muita. Numa conversa de amigos - informal, despretensiosa, ligeira, na qual o à-vontade é a nota dominante – a latitude do tom e o conteúdo não podem ser extrapolados gratuitamente para outro contexto. No espaço de uma conversa de amigos, Paes do Amaral pode ter dito mil e uma coisas que, retiradas desse contexto, torcidas e distorcidas aqui e acolá, podem resultar num sentido erróneo e desvirtuado. Dou de barato que Paes do Amaral tenha dito “Épá, vê lá se te moderas, Marcelo” ou “Acho que estás a ser excessivamente acutilante” ou “Não sei se me agrada a ideia de ver a minha estação colado à imagem de estação bandeira da oposição ao governo”. Por esta altura já todos deviam estar lembrados do “’tou-me cagando para o segredo de justiça” de Ferro Rodrigues. Retirada do seu contexto e tornado publico o que era do foro privado, a frase caiu mal. Daí a dizer-se que Ferro Rodrigues é contra o segredo de justiça, vai uma enorme distância. É para mim claro que, no caso Marcelo vs Paes do Amaral, estamos na presença de um inqualificável e desleal aproveitamento por parte de Marcelo de uma conversa coloquial, intima, tentando transformá-la em «lei», não sem antes distorcer aqui, amplificar acolá, omitir ali.
2. Dito isto, Paes do Amaral tem, ou não tem, o direito de fazer aquele tipo de observações sobre os comentários de Marcelo? Será legitimo que o faça? É óbvio que sim. Para além de amigo, Paes do Amaral é o presidente de uma estação de televisão privada. Paes do Amaral tem o direito de achar que determinada actuação ou comportamento de um contratado seu se está a revelar contrário à orientação preconizada para a sua empresa de comunicação. Por exemplo, Paes do Amaral tem o direito de achar que a opinião de Marcelo - e é bom lembrar que estamos a falar de uma opinião pessoal (passe o pleonasmo), subjectiva, circunstancial, e não da Verdade por um Deus ex machina - beliscava a imagem de contenção ou reserva idealizada em relação ao poder político ou, se quiserem, contrariava uma eventual estratégia de não-afrontamento continuado e deliberado do governo. O «patrão» da TVI é livre de pensar e de julgar que a sua estação, como estação generalista, não pode pecar por excesso de abespinhamento contra o poder executivo – pelo menos não daquela forma. Paes do Amaral tinha, certamente, o à-vontade suficiente para tocar no assunto com Marcelo (afinal de contas, era seu amigo), sem que isso significasse «censura», «condicionamento», um «convite à sua saída».
3. Marcelo disse que Paes do Amaral lhe terá dito que as televisões estão condicionadas no exercício das suas actividades por dependerem da concessão de licenças atribuídas pelo Estado. Juntemos a isso o facto de haver muita publicidade do Estado e do para-Estado que tem o seu peso na estrutura de receitas de qualquer estação de televisão. São elementos importantes que podem explicar a conversa de Paes do Amaral com o seu amigo Marcelo Rebelo de Sousa. E são, certamente, elementos que não podem ser ignorados na apreciação que qualquer gestor/patrão faz do contexto onde a sua organização está inserida, bem como dos factores exógenos que condicionam a sua actividade.
4. Questão de fundo, e mais interessante, é a de se saber até que ponto, em Portugal, certas actividades privadas dependem, em excesso, do condicionamento (in)directo do Estado. Infelizmente sim. Mas mesmo assim, não devemos ser ingénuos e definitivos na forma como abordamos estas questões. Mesmo em sociedades caracterizadas aberta e indiscutivelmente pela liberdade de expressão (como é o caso da nossa), os «interesses» e as «estratégias de coabitação» com o «poder» fazem parte do jogo. Fizeram no passado e continuarão a fazer, no futuro. É assim em todo o lado. O que interessa assegurar está assegurado: os espaços de opinião não se esgotam na TVI. Nem na SIC. Nem na RTP. E por aí fora. Marcelo foi, é e continuará a ser livre de dizer o que bem entender. Escusava era de se armar em vitima.
* ouvido no Fórum TSF
Cometi, de facto, um erro, quando arrisquei parafrasear Daniel Oliveira. Não posso exigir que elaborados como o Pulga percebam que, no embalo da paráfrase, tenha escrito “no Parlamento” e não “na AACS”. Lapso, erro, distracção, gafe, deslize, whatever: perturbei o mundo, e quiçá o sono, do aprimorado Pulga. É grave e peço, desde já, clemência.
Marcelo não foi, de facto, ao Parlamento. Nem vai precisar, aliás. O show que deu na AACS foi definitivo, pungente, «uma lição». Sobre a questão, e se o esmerado Pulga me der licença (desde já lhe peço que corrija o eventual lapso ou a acidental saloiice), acrescento alguns pontos:
1. A conversa entre Marcelo e Paes do Amaral foi uma conversa de amigos, de fim de dia, no “bar de um hotel” (como disse Paes do Amaral). Isso faz toda a diferença. É óbvio que os idiotas da objectividade dirão que não faz diferença nenhuma. Faz, e muita. Numa conversa de amigos - informal, despretensiosa, ligeira, na qual o à-vontade é a nota dominante – a latitude do tom e o conteúdo não podem ser extrapolados gratuitamente para outro contexto. No espaço de uma conversa de amigos, Paes do Amaral pode ter dito mil e uma coisas que, retiradas desse contexto, torcidas e distorcidas aqui e acolá, podem resultar num sentido erróneo e desvirtuado. Dou de barato que Paes do Amaral tenha dito “Épá, vê lá se te moderas, Marcelo” ou “Acho que estás a ser excessivamente acutilante” ou “Não sei se me agrada a ideia de ver a minha estação colado à imagem de estação bandeira da oposição ao governo”. Por esta altura já todos deviam estar lembrados do “’tou-me cagando para o segredo de justiça” de Ferro Rodrigues. Retirada do seu contexto e tornado publico o que era do foro privado, a frase caiu mal. Daí a dizer-se que Ferro Rodrigues é contra o segredo de justiça, vai uma enorme distância. É para mim claro que, no caso Marcelo vs Paes do Amaral, estamos na presença de um inqualificável e desleal aproveitamento por parte de Marcelo de uma conversa coloquial, intima, tentando transformá-la em «lei», não sem antes distorcer aqui, amplificar acolá, omitir ali.
2. Dito isto, Paes do Amaral tem, ou não tem, o direito de fazer aquele tipo de observações sobre os comentários de Marcelo? Será legitimo que o faça? É óbvio que sim. Para além de amigo, Paes do Amaral é o presidente de uma estação de televisão privada. Paes do Amaral tem o direito de achar que determinada actuação ou comportamento de um contratado seu se está a revelar contrário à orientação preconizada para a sua empresa de comunicação. Por exemplo, Paes do Amaral tem o direito de achar que a opinião de Marcelo - e é bom lembrar que estamos a falar de uma opinião pessoal (passe o pleonasmo), subjectiva, circunstancial, e não da Verdade por um Deus ex machina - beliscava a imagem de contenção ou reserva idealizada em relação ao poder político ou, se quiserem, contrariava uma eventual estratégia de não-afrontamento continuado e deliberado do governo. O «patrão» da TVI é livre de pensar e de julgar que a sua estação, como estação generalista, não pode pecar por excesso de abespinhamento contra o poder executivo – pelo menos não daquela forma. Paes do Amaral tinha, certamente, o à-vontade suficiente para tocar no assunto com Marcelo (afinal de contas, era seu amigo), sem que isso significasse «censura», «condicionamento», um «convite à sua saída».
3. Marcelo disse que Paes do Amaral lhe terá dito que as televisões estão condicionadas no exercício das suas actividades por dependerem da concessão de licenças atribuídas pelo Estado. Juntemos a isso o facto de haver muita publicidade do Estado e do para-Estado que tem o seu peso na estrutura de receitas de qualquer estação de televisão. São elementos importantes que podem explicar a conversa de Paes do Amaral com o seu amigo Marcelo Rebelo de Sousa. E são, certamente, elementos que não podem ser ignorados na apreciação que qualquer gestor/patrão faz do contexto onde a sua organização está inserida, bem como dos factores exógenos que condicionam a sua actividade.
4. Questão de fundo, e mais interessante, é a de se saber até que ponto, em Portugal, certas actividades privadas dependem, em excesso, do condicionamento (in)directo do Estado. Infelizmente sim. Mas mesmo assim, não devemos ser ingénuos e definitivos na forma como abordamos estas questões. Mesmo em sociedades caracterizadas aberta e indiscutivelmente pela liberdade de expressão (como é o caso da nossa), os «interesses» e as «estratégias de coabitação» com o «poder» fazem parte do jogo. Fizeram no passado e continuarão a fazer, no futuro. É assim em todo o lado. O que interessa assegurar está assegurado: os espaços de opinião não se esgotam na TVI. Nem na SIC. Nem na RTP. E por aí fora. Marcelo foi, é e continuará a ser livre de dizer o que bem entender. Escusava era de se armar em vitima.
* ouvido no Fórum TSF
quinta-feira, outubro 28, 2004
quarta-feira, outubro 27, 2004
DANIEL OLIVEIRA: SEMPRE!
Escreve Daniel:
"1. Paes do Amaral mentiu ao Parlamento;
2. Paes do Amaeal pressionou Marcelo para mudar o conteúdo das suas intervenções;
3. Estas presssões estavam relacionadas com "diligências" necessárias por causa de um negócio com a RTL;
4. Marcelo Rebelo de Sousa considera que há uma relação entre as pressões de Peas do Amaral e as do Governo.
Antes de mais, Paes do Amaral terá muito para explicar. Depois, provavelmente, outros terão de começar a falar."
"Antes de mais", porque não "Marcelo Rebelo de Sousa mentiuno Parlamento na AACS"? Ah, já sei: Paes do Amaral é o homem do «capital», dos «negócios» e dos «interesses». Logo o mentiroso. Logo o homem das «diligências». «Muitíssimo grave».
"1. Paes do Amaral mentiu ao Parlamento;
2. Paes do Amaeal pressionou Marcelo para mudar o conteúdo das suas intervenções;
3. Estas presssões estavam relacionadas com "diligências" necessárias por causa de um negócio com a RTL;
4. Marcelo Rebelo de Sousa considera que há uma relação entre as pressões de Peas do Amaral e as do Governo.
Antes de mais, Paes do Amaral terá muito para explicar. Depois, provavelmente, outros terão de começar a falar."
"Antes de mais", porque não "Marcelo Rebelo de Sousa mentiu
CORREIO 2: E SE?
De Nuno Guilherme Costa:
Gostei muito do seu post sobre o significado da vitória de Kerry e sobre o que se ouviria então da parte da esquerda mundial.
Mas tudo pode ser ainda mais engraçado. Isto porque é até bastante provável que Bush venha a perder no colégio eleitoral e venha a ter mais votos em todos os Estados Unidos do que Kerry.
Hoje, no Washington Post, essa probabilidade é mesmo avaliada em 33% por um antigo responsável da campanha Kerry (aqui).
Não partilhando do seu «desejo» de que Bush perca, espero que, caso tal venha a acontecer, Bush acabe por ter mais votos.
Então,sim, ainda vamos ter boas razões para nos rirmos um bocado.
Com os melhores cumprimentos,
Nuno Guilherme Costa
Caro Nuno: caso isso suceda, tenho a certeza absoluta que a esquerda, em peso, tratará de lamentar a profunda injustiça do sistema eleitoral norte-americano, tal como o fez quando Gore perdeu para Bush. Será, inclusivamente, posta em causa a própria ideia de democracia por terras do tio Sam - no seguimento, aliás, do que vem sendo dito pelo Dr. Soares.
Hilariante, no mínimo.
PS: o meu candidato é, obviamente, Bush. Mas se Kerry ganhar, ganhará, para todos os efeitos e sob todos os aspectos, um homem muito à direita da imagem que a esquerda europeia mais tonta (repare-se no ridículo apoio d’ A Capital de Osório a Kerry) insiste em criar.
Gostei muito do seu post sobre o significado da vitória de Kerry e sobre o que se ouviria então da parte da esquerda mundial.
Mas tudo pode ser ainda mais engraçado. Isto porque é até bastante provável que Bush venha a perder no colégio eleitoral e venha a ter mais votos em todos os Estados Unidos do que Kerry.
Hoje, no Washington Post, essa probabilidade é mesmo avaliada em 33% por um antigo responsável da campanha Kerry (aqui).
Não partilhando do seu «desejo» de que Bush perca, espero que, caso tal venha a acontecer, Bush acabe por ter mais votos.
Então,sim, ainda vamos ter boas razões para nos rirmos um bocado.
Com os melhores cumprimentos,
Nuno Guilherme Costa
Caro Nuno: caso isso suceda, tenho a certeza absoluta que a esquerda, em peso, tratará de lamentar a profunda injustiça do sistema eleitoral norte-americano, tal como o fez quando Gore perdeu para Bush. Será, inclusivamente, posta em causa a própria ideia de democracia por terras do tio Sam - no seguimento, aliás, do que vem sendo dito pelo Dr. Soares.
Hilariante, no mínimo.
PS: o meu candidato é, obviamente, Bush. Mas se Kerry ganhar, ganhará, para todos os efeitos e sob todos os aspectos, um homem muito à direita da imagem que a esquerda europeia mais tonta (repare-se no ridículo apoio d’ A Capital de Osório a Kerry) insiste em criar.
CORREIO 1: AINDA JARDIM
Sobre o Alberto João da Madeira, uma missiva de Paulo Xardoné (em simultâneo para o Desesperada Esperança):
Sobre as vossas reflexões sobre o fenómeno Alberto João, há uma vertente que não é abordada por nenhum de vós e que precisa de ser sublinhada : o desenvolvimento que a Madeira tem tido, nos últimos 30 anos, sob os sucessivos governos Alberto João.
Por razões familiares, passei férias duas / três vezes por ano na Madeira, desde 1968 até aos dias de hoje.
A Madeira atrasada, rural, pobre, inacessível, que existia nessa altura, contrasta de uma forma impressionante com a Madeira de hoje. Aliás, basta ver que recentemente a Madeira como região atingiu os 75% da média europeia, em termos de rendimentos. Os madeirenses sabem que Alberto João contribuíu decisivamente para esse progresso e expressam o seu agradecimento em sucessivas vitórias eleitorais.
Visitei São Miguel há seis anos, e a primeira impressão que tive quando percorri Ponta Delgada foi que estava de volta ao Funchal .... de 1970. Isso diz alguma coisa sobre a impressionante capacidade que Alberto João teve (e, eventualmente, sobre a incapacidade de Mota Amaral e Carlos César).
Claro está que este progresso incontestável não apaga todos os defeitos que o personagem tem, mas há que sublinhar que estamos perante alguém com uma capacidade de realização notável e com muita obra feita.
Cumprimentos,
Paulo Xardoné
O bom povo pode, a espaços, ser estúpido, mas não é, no longo prazo, parvo. Em democracias plenas, os governantes não são reeleitos por truques de magia, manipulações dos media ou pelo populismo larvar ou descarado dos seus discursos – mesmo que disso sejam acusados. Os eleitores elegem quem os beneficia, quem os trata bem, quem faz e demonstra obra feita, quem condiciona pela positiva o seu quotidiano, ao longo de anos e não apenas de meses. Os eleitores estão-se nas tintas para a falta de «sofisticação» e «maneiras», para os «défices democráticos», para a acidental boçalidade ou a eventual arrogância, desde que vejam as suas vidas melhoradas e a sua terra desenvolvida. Tivesse Alberto João Jardim sido um governante medíocre, um presidente corrupto, obcecado unicamente em alimentar a sua restrita galeria de séquitos, e estaria agora a «chuchar no dedo». É claro que os seus mais fervorosos críticos continuam a achar que Jardim é reeleito porque restringe a liberdade de expressão, porque apela ao ódio contra o contenente, porque ensaia uma virginal pose de patriarca ferido e sofredor, na defesa dos interesses do bom povo da Madeira, e porque o governo central insiste em alimentar pecuniariamente toda a farsa. A esses, é óbvio que ainda lhes falta compreender o que é isto da democracia e de que forma o povo a observa e racionaliza.
Sobre as vossas reflexões sobre o fenómeno Alberto João, há uma vertente que não é abordada por nenhum de vós e que precisa de ser sublinhada : o desenvolvimento que a Madeira tem tido, nos últimos 30 anos, sob os sucessivos governos Alberto João.
Por razões familiares, passei férias duas / três vezes por ano na Madeira, desde 1968 até aos dias de hoje.
A Madeira atrasada, rural, pobre, inacessível, que existia nessa altura, contrasta de uma forma impressionante com a Madeira de hoje. Aliás, basta ver que recentemente a Madeira como região atingiu os 75% da média europeia, em termos de rendimentos. Os madeirenses sabem que Alberto João contribuíu decisivamente para esse progresso e expressam o seu agradecimento em sucessivas vitórias eleitorais.
Visitei São Miguel há seis anos, e a primeira impressão que tive quando percorri Ponta Delgada foi que estava de volta ao Funchal .... de 1970. Isso diz alguma coisa sobre a impressionante capacidade que Alberto João teve (e, eventualmente, sobre a incapacidade de Mota Amaral e Carlos César).
Claro está que este progresso incontestável não apaga todos os defeitos que o personagem tem, mas há que sublinhar que estamos perante alguém com uma capacidade de realização notável e com muita obra feita.
Cumprimentos,
Paulo Xardoné
O bom povo pode, a espaços, ser estúpido, mas não é, no longo prazo, parvo. Em democracias plenas, os governantes não são reeleitos por truques de magia, manipulações dos media ou pelo populismo larvar ou descarado dos seus discursos – mesmo que disso sejam acusados. Os eleitores elegem quem os beneficia, quem os trata bem, quem faz e demonstra obra feita, quem condiciona pela positiva o seu quotidiano, ao longo de anos e não apenas de meses. Os eleitores estão-se nas tintas para a falta de «sofisticação» e «maneiras», para os «défices democráticos», para a acidental boçalidade ou a eventual arrogância, desde que vejam as suas vidas melhoradas e a sua terra desenvolvida. Tivesse Alberto João Jardim sido um governante medíocre, um presidente corrupto, obcecado unicamente em alimentar a sua restrita galeria de séquitos, e estaria agora a «chuchar no dedo». É claro que os seus mais fervorosos críticos continuam a achar que Jardim é reeleito porque restringe a liberdade de expressão, porque apela ao ódio contra o contenente, porque ensaia uma virginal pose de patriarca ferido e sofredor, na defesa dos interesses do bom povo da Madeira, e porque o governo central insiste em alimentar pecuniariamente toda a farsa. A esses, é óbvio que ainda lhes falta compreender o que é isto da democracia e de que forma o povo a observa e racionaliza.
AH POIS É!
Thus Ate Zarathustra
por DAVID BROOKS (in The New York Times)
“Deep at the end of every election campaign, after all the issues have been beaten to death, when only the blowhards are still thundering, attention turns to the outcome. Who is going to win this thing already?
It is only now that the dinner party lion emerges to stake his claim to greatness. While others quiver with pre-election anxiety, their mood rising and collapsing with the merest flicker of the polls, he alone radiates certainty. He alone can read the internals, cross-tabs and trends, can parse Gallup and Zogby and emerge with clear answers. He alone can captivate a gathering, while men hang eagerly on his words and women undress him with their eyes.
He begins his dinner party performance with a combination of impressive name-dropping and crushing banality: "I was talking to Karl the other day - Karl Rove - and he mentioned that winning the most electoral votes is the key to winning the election. And when I bumped into Tim - Tim Russert - at Colin and Alma's place, he agreed."
Having established his place among the pantheon of Those Who Know, he unfurls a series of impressive, counterintuitive but probably meaningless factoids: "You know, historically, polls conducted during the third week in September have proved to be more accurate in predicting the final result than ones conducted closer to Election Day."
By this point soup will be cooling in the bowls. His dinner companions will be waiting for him to validate their highest hopes or underline their fears. The lion must be careful not to utter a final prediction too quickly.
Instead the suspense must build gradually but relentlessly. He runs through the bogus subdemographic groups that could swing the vote: cellphone-using creationists (undersampled by current survey methods) or African-American gun-owning deacons, who have been so intriguingly cross-pressured for several months.
This is followed by a bout of ostentatious historical parallelism - the pundit will remark upon astounding similarities between this election and that of 1884. At this point another person in the group, driven vicious with envy, may retort that actually, he would have thought the better comparison was to the 1916 election. The pundit should allow a forgiving smile to play upon his lips before riposting, "Yes, I can see why you would have thought that, but the campaigns' private polling suggests otherwise."
References to the private polling are like the neutron bombs of political discourse - quiet but devastating.
Now dominating the table, the pundit should indulge in the sort of storytelling beloved by swing-state-travel braggarts. He should speak in counties, about his trips through Cuyahoga, Macomb, Muscatine and Broward. If somebody mentions she has an aunt living in Ridgeville just south of Dayton, he should fondly recall the exceptional Waffle House there.
Donning the false modesty worn by Those Who Talk to Voters, he should describe how he humbly listens to the volk, while making it clear that only someone as brilliant as himself could discern national trends from 13 conversations.
Having studied the classic bildungsroman "How to Make Love Like a Pundit" (Universitat de Gemeinschaft, 1989), he should pretend the campaigns actually know what they are doing, and aren't dominated by sleep-deprived spinmeisters with attention spans like a potato grub's.
He must give broad hints of the hidden structures that shape the electorate. He must make sure his listeners do not recall that most voters have only the foggiest notions of what they are voting on. As a Cato Institute study reminds us, 70 percent of voters do not know about the new prescription drug benefit, 60 percent know little about the Patriot Act, and during the cold war, only 38 percent of voters knew that the Soviet Union was not a member of NATO.
These facts suggest that in close elections, the results are a crapshoot, which would undermine the pundit's claim to expertise. So he should conclude his peroration with mendacious specificity, about the remarkable shift in Lithuanian voters in northwest Pennsylvania, or the way the missing Iraqi munitions story is having a devastating effect on Bush leaners near Kenosha.
Then, having filled the air with 45 minutes of bogus pontification and pretentious gibberish, he should sagely declare that this election is just too close to call and that it would be irresponsible to make a prediction.
When his companions start throwing steak knives, he should retire for the evening.”
por DAVID BROOKS (in The New York Times)
“Deep at the end of every election campaign, after all the issues have been beaten to death, when only the blowhards are still thundering, attention turns to the outcome. Who is going to win this thing already?
It is only now that the dinner party lion emerges to stake his claim to greatness. While others quiver with pre-election anxiety, their mood rising and collapsing with the merest flicker of the polls, he alone radiates certainty. He alone can read the internals, cross-tabs and trends, can parse Gallup and Zogby and emerge with clear answers. He alone can captivate a gathering, while men hang eagerly on his words and women undress him with their eyes.
He begins his dinner party performance with a combination of impressive name-dropping and crushing banality: "I was talking to Karl the other day - Karl Rove - and he mentioned that winning the most electoral votes is the key to winning the election. And when I bumped into Tim - Tim Russert - at Colin and Alma's place, he agreed."
Having established his place among the pantheon of Those Who Know, he unfurls a series of impressive, counterintuitive but probably meaningless factoids: "You know, historically, polls conducted during the third week in September have proved to be more accurate in predicting the final result than ones conducted closer to Election Day."
By this point soup will be cooling in the bowls. His dinner companions will be waiting for him to validate their highest hopes or underline their fears. The lion must be careful not to utter a final prediction too quickly.
Instead the suspense must build gradually but relentlessly. He runs through the bogus subdemographic groups that could swing the vote: cellphone-using creationists (undersampled by current survey methods) or African-American gun-owning deacons, who have been so intriguingly cross-pressured for several months.
This is followed by a bout of ostentatious historical parallelism - the pundit will remark upon astounding similarities between this election and that of 1884. At this point another person in the group, driven vicious with envy, may retort that actually, he would have thought the better comparison was to the 1916 election. The pundit should allow a forgiving smile to play upon his lips before riposting, "Yes, I can see why you would have thought that, but the campaigns' private polling suggests otherwise."
References to the private polling are like the neutron bombs of political discourse - quiet but devastating.
Now dominating the table, the pundit should indulge in the sort of storytelling beloved by swing-state-travel braggarts. He should speak in counties, about his trips through Cuyahoga, Macomb, Muscatine and Broward. If somebody mentions she has an aunt living in Ridgeville just south of Dayton, he should fondly recall the exceptional Waffle House there.
Donning the false modesty worn by Those Who Talk to Voters, he should describe how he humbly listens to the volk, while making it clear that only someone as brilliant as himself could discern national trends from 13 conversations.
Having studied the classic bildungsroman "How to Make Love Like a Pundit" (Universitat de Gemeinschaft, 1989), he should pretend the campaigns actually know what they are doing, and aren't dominated by sleep-deprived spinmeisters with attention spans like a potato grub's.
He must give broad hints of the hidden structures that shape the electorate. He must make sure his listeners do not recall that most voters have only the foggiest notions of what they are voting on. As a Cato Institute study reminds us, 70 percent of voters do not know about the new prescription drug benefit, 60 percent know little about the Patriot Act, and during the cold war, only 38 percent of voters knew that the Soviet Union was not a member of NATO.
These facts suggest that in close elections, the results are a crapshoot, which would undermine the pundit's claim to expertise. So he should conclude his peroration with mendacious specificity, about the remarkable shift in Lithuanian voters in northwest Pennsylvania, or the way the missing Iraqi munitions story is having a devastating effect on Bush leaners near Kenosha.
Then, having filled the air with 45 minutes of bogus pontification and pretentious gibberish, he should sagely declare that this election is just too close to call and that it would be irresponsible to make a prediction.
When his companions start throwing steak knives, he should retire for the evening.”
terça-feira, outubro 26, 2004
CAUSA-EFEITO
Um tipo diz mal de Santana Lopes e confessa ter o clandestino desejo de ver Kerry na cadeira de presidente dos EUA e o que é que acontece? Disparam as visits, as page views, os links e as sources.
Não procures mais, maradona: é este o segredo (e só agora Clive James?)
Não procures mais, maradona: é este o segredo (e só agora Clive James?)
O MEU MAIS RECÔNDITO DESEJO
Depois de aturado e apurado estudo, cheguei à conclusão de que são dois os resultados possíveis: ou ganha Bush, ou ganha Kerry. Palmas, por favor.
De acordo com Charlie Brooker, no The Guardian, o «mundo civilizado» reza para que Bush perca. Os incivilizados desejam o resultado oposto. Claro. Evidente.
Não sei se Bush ganhará. Não sei se merece ganhar. Apesar de politicamente ser o meu candidato, e de rezar para que os presunçosos e sofisticados calem a boca com a derrota de Kerry, tenho o recôndito e secreto desejo de ver Kerry eleito presidente dos EUA. Razões? Várias.
Em primeiro lugar, Michael Moore e quejandos perderiam, no curto prazo, as razões da sua nobilíssima actividade propagandista: sem «idiota» e sem «extremista» deixaria de haver circo.
Em segundo lugar, uma vitória de Kerry representaria um monumental anti-climax. É bom não esquecer que Bush foi a melhor coisa que aconteceu à esquerda nas últimas décadas. Sem Bush, ou seja, sem um «idiota» com quem zombar, sem um «mentiroso» para denunciar, sem um demónio na cadeira da mais poderosa nação do mundo para derrubar, a esquerda perderia os elementos que a atiçam, que a estimulam, que a excitam: as velhas lutas e as mais nobres causas contra um inimigo público preferencial, quase que feito à medida das suas obsessões.
Em terceiro lugar, seria de um gozo extremo assistir à vastíssima desilusão que representaria Kerry in action. Falo, obviamente, do momento em que a esquerda perceberia que, na prática, as semelhanças entre Bush e Kerry suplantariam, em muito, as diferenças que, actualmente, meio mundo inventa e a outra metade sonha. Levaria muito pouco tempo até à percepção do óbvio: Kerry a defender os ímpios interesses norte-americanos abroad; Kerry a levar a cabo a luta contra o terrorismo com o recurso à força; Kerry a apoiar Israel; Kerry a aprender, como bom aluno que é, que o seu masterplan de apaziguamento e concórdia não encaixa propriamente no tipo de interesses e propósitos da reabilitada «velha» Europa, de Chirac, Schröder e Zapatero; Kerry a constatar que, à excepção de Inglaterra, os camaradas das Nações Unidas não estão dispostos a sujar as manápulas no Iraque ou noutros pontos negros do globo terrestre.
Yes, folks, é esse o meu mais recôndito desejo: assistir à desilusão da esquerda e obrigá-la a estudar um pouco, só um pouco, da parte final da história do século passado (os anos de Clinton, por exemplo). Talvez então entendessem o que é que correu mal com o seu wonderboy Kerry.
Entretanto, nos Alfas de Évora – onde só costuma pontificar o mainstream do mainstream - estreou, esta semana, o Fahrenheit 9/11. Pura coincidência. As preces estão ao rubro.
De acordo com Charlie Brooker, no The Guardian, o «mundo civilizado» reza para que Bush perca. Os incivilizados desejam o resultado oposto. Claro. Evidente.
Não sei se Bush ganhará. Não sei se merece ganhar. Apesar de politicamente ser o meu candidato, e de rezar para que os presunçosos e sofisticados calem a boca com a derrota de Kerry, tenho o recôndito e secreto desejo de ver Kerry eleito presidente dos EUA. Razões? Várias.
Em primeiro lugar, Michael Moore e quejandos perderiam, no curto prazo, as razões da sua nobilíssima actividade propagandista: sem «idiota» e sem «extremista» deixaria de haver circo.
Em segundo lugar, uma vitória de Kerry representaria um monumental anti-climax. É bom não esquecer que Bush foi a melhor coisa que aconteceu à esquerda nas últimas décadas. Sem Bush, ou seja, sem um «idiota» com quem zombar, sem um «mentiroso» para denunciar, sem um demónio na cadeira da mais poderosa nação do mundo para derrubar, a esquerda perderia os elementos que a atiçam, que a estimulam, que a excitam: as velhas lutas e as mais nobres causas contra um inimigo público preferencial, quase que feito à medida das suas obsessões.
Em terceiro lugar, seria de um gozo extremo assistir à vastíssima desilusão que representaria Kerry in action. Falo, obviamente, do momento em que a esquerda perceberia que, na prática, as semelhanças entre Bush e Kerry suplantariam, em muito, as diferenças que, actualmente, meio mundo inventa e a outra metade sonha. Levaria muito pouco tempo até à percepção do óbvio: Kerry a defender os ímpios interesses norte-americanos abroad; Kerry a levar a cabo a luta contra o terrorismo com o recurso à força; Kerry a apoiar Israel; Kerry a aprender, como bom aluno que é, que o seu masterplan de apaziguamento e concórdia não encaixa propriamente no tipo de interesses e propósitos da reabilitada «velha» Europa, de Chirac, Schröder e Zapatero; Kerry a constatar que, à excepção de Inglaterra, os camaradas das Nações Unidas não estão dispostos a sujar as manápulas no Iraque ou noutros pontos negros do globo terrestre.
Yes, folks, é esse o meu mais recôndito desejo: assistir à desilusão da esquerda e obrigá-la a estudar um pouco, só um pouco, da parte final da história do século passado (os anos de Clinton, por exemplo). Talvez então entendessem o que é que correu mal com o seu wonderboy Kerry.
Entretanto, nos Alfas de Évora – onde só costuma pontificar o mainstream do mainstream - estreou, esta semana, o Fahrenheit 9/11. Pura coincidência. As preces estão ao rubro.
INFORMAÇÕES ÚTEIS (PARA QUEM VIVE EM ÉVORA)
Após muito esforço – que incluiu subornos, sevícias e muita, muita paciência – convenci o meu dealer de jornais e afins, a distribuir, em Évora, o TLS, a The Spectator e, se tudo correr bem, a The Atlantic (para quem não sabe, a melhor revista americana). Os dois primeiros já estão disponíveis no escaparate da Tabacaria Génesis (poiso do meu dealer, Sr. Ferrão de seu nome). A outra, se Deus quiser, virá a caminho.
Eu sei que, por este serviço prestado à minha cidade, mereceria este e o outro mundo – no mínimo uns jantarinhos no Fialho. Caríssimos conterrâneos: nada vou querer. Eu sou assim: um poço de generosidade.
PS: E que tal, amigo Luís?
Eu sei que, por este serviço prestado à minha cidade, mereceria este e o outro mundo – no mínimo uns jantarinhos no Fialho. Caríssimos conterrâneos: nada vou querer. Eu sou assim: um poço de generosidade.
PS: E que tal, amigo Luís?
ATÉ ONDE?
Tenho, confesso, alguma dificuldade em lidar com situações suscitadas por quem não se coíbe de mandar às malvas aquilo a que comummente se passou a designar de «honestidade intelectual» - uma expressão meio difusa mas cujo entendimento está mais ou menos assimilado entre pares.
JMF – para quem não sabe, um blogger que me costuma presentear com farpas e estilhaços e que, confrontado com o troco, gosta de adoptar uma pose híbrida, que mistura a de Calimero com a de virgem ofendida – insiste na equivalência entre as declarações de Rocco Buttiglione – por exemplo, de que a homossexualidade é, para ele, um pecado – e a frase “Hitler não fez bem o seu trabalho”.
Diz JMF que são “exactamente da mesma intolerância quando falamos da perseguição aos judeus e dos ataques aos homossexuais ou às mães solteiras pelo fanático Buttiglione”(sic). E termina com mais uma insinuaçãozinha a roçar a ofensa.
JMF escreveu um dia uma coisa carregada de ironia, a mim dirigida, a qual passo a transcrever: ”aconselharam-me hoje vivamente a não utilizar expressões do tipo «bardamerda» no blogue. Pelo que, além de não poder comemorar devidamente alguns eventos marcantes do PREC, fico claramente limitado no que respeita a um vasto conjunto de debates que alimentam a nossa blogosfera. É pena.” Ou seja, dizendo que não o devia dizer, disse-o na mesma. Atirou-me com a B-word.
É verdade: ainda há doze minutos atrás me aconselharam a não utilizar a B-word mas, como o próprio nome deste blogue indica, empurraram-me precisamente na direcção oposta.
Repito-me, então: mando daqui um bardamerda a quem não perceber o quão grotesca e desajustada foi, e é, aquela equivalência.
Relembro o que disse Buttiglione:
"I may think that homosexuality is a sin, and this has no effect on politics, unless I say that homosexuality is a crime."
"The state has no right to stick its nose into these things and nobody can be discriminated against on the basis of sexual orientation... this stands in the Charter of Human Rights, this stands in the Constitution and I have pledged to defend this constitution".
Pergunto: como é possível alguém comparar, equivalendo, as declarações de Butiglione – que não põem em causa a vida e a existência de ninguém - com a vontade expressa de ver mortos todos os judeus e de lamentar que Hitler não o tenha feito em tempo útil?
A sério: como é possível equivaler a frase «Hitler não fez bem o seu trabalho» a uma posição que advém de um preconceito religioso (considerar a homossexualidade um pecado), na qual ninguém sugere «perseguição», descriminação e muito menos o extermínio de outro ser humano?
São «intolerâncias» do mesmo tipo? Do mesmo tipo?! Considerar que a homossexualidade é um pecado – não um crime, não uma aberração da natureza, não uma anormalidade – é o mesmo que insinuar que todos os homossexuais devem ser perseguidos e exterminados por pertencerem a uma raça inferior? Um católico mais fervoroso, daqueles que leva mais à letra os preceitos religiosos, pode ser colocado no mesmo saco de nazis e racistas?
Até que profundidade se está disposto a ir em matéria de comparações, para servir mais uma retórica da treta?
JMF – para quem não sabe, um blogger que me costuma presentear com farpas e estilhaços e que, confrontado com o troco, gosta de adoptar uma pose híbrida, que mistura a de Calimero com a de virgem ofendida – insiste na equivalência entre as declarações de Rocco Buttiglione – por exemplo, de que a homossexualidade é, para ele, um pecado – e a frase “Hitler não fez bem o seu trabalho”.
Diz JMF que são “exactamente da mesma intolerância quando falamos da perseguição aos judeus e dos ataques aos homossexuais ou às mães solteiras pelo fanático Buttiglione”(sic). E termina com mais uma insinuaçãozinha a roçar a ofensa.
JMF escreveu um dia uma coisa carregada de ironia, a mim dirigida, a qual passo a transcrever: ”aconselharam-me hoje vivamente a não utilizar expressões do tipo «bardamerda» no blogue. Pelo que, além de não poder comemorar devidamente alguns eventos marcantes do PREC, fico claramente limitado no que respeita a um vasto conjunto de debates que alimentam a nossa blogosfera. É pena.” Ou seja, dizendo que não o devia dizer, disse-o na mesma. Atirou-me com a B-word.
É verdade: ainda há doze minutos atrás me aconselharam a não utilizar a B-word mas, como o próprio nome deste blogue indica, empurraram-me precisamente na direcção oposta.
Repito-me, então: mando daqui um bardamerda a quem não perceber o quão grotesca e desajustada foi, e é, aquela equivalência.
Relembro o que disse Buttiglione:
"I may think that homosexuality is a sin, and this has no effect on politics, unless I say that homosexuality is a crime."
"The state has no right to stick its nose into these things and nobody can be discriminated against on the basis of sexual orientation... this stands in the Charter of Human Rights, this stands in the Constitution and I have pledged to defend this constitution".
Pergunto: como é possível alguém comparar, equivalendo, as declarações de Butiglione – que não põem em causa a vida e a existência de ninguém - com a vontade expressa de ver mortos todos os judeus e de lamentar que Hitler não o tenha feito em tempo útil?
A sério: como é possível equivaler a frase «Hitler não fez bem o seu trabalho» a uma posição que advém de um preconceito religioso (considerar a homossexualidade um pecado), na qual ninguém sugere «perseguição», descriminação e muito menos o extermínio de outro ser humano?
São «intolerâncias» do mesmo tipo? Do mesmo tipo?! Considerar que a homossexualidade é um pecado – não um crime, não uma aberração da natureza, não uma anormalidade – é o mesmo que insinuar que todos os homossexuais devem ser perseguidos e exterminados por pertencerem a uma raça inferior? Um católico mais fervoroso, daqueles que leva mais à letra os preceitos religiosos, pode ser colocado no mesmo saco de nazis e racistas?
Até que profundidade se está disposto a ir em matéria de comparações, para servir mais uma retórica da treta?
domingo, outubro 24, 2004
DELIRIUM TREMENS?
JMF no Terras do Nunca:
”Imaginemos, então, caro MacGuffin, que Buttiglione, em vez de se atirar aos respeitáveis homossexuais, ou às não menos respeitáveis mães solteiras, se atirava aos igualmente respeitáveis judeus. Do estilo, «Hitler não fez bem o seu trabalho». Quão nefasto se revelaria, então, o «politicamente correcto».”
Fazer a equivalência entre as declarações de Buttiglione sobre os homossexuais e a afirmação “Hitler não fez bem o seu trabalho”, vai direitinho para o panteão das Comparações Mais Estúpidas De Que Há Memória Na Blogosfera. E a insinuação reles de que eu sou insensível a todas as questões excepto quando as mesmas envolvem judeus, merece, sei lá... olha, um bardamerda está bom?
”Imaginemos, então, caro MacGuffin, que Buttiglione, em vez de se atirar aos respeitáveis homossexuais, ou às não menos respeitáveis mães solteiras, se atirava aos igualmente respeitáveis judeus. Do estilo, «Hitler não fez bem o seu trabalho». Quão nefasto se revelaria, então, o «politicamente correcto».”
Fazer a equivalência entre as declarações de Buttiglione sobre os homossexuais e a afirmação “Hitler não fez bem o seu trabalho”, vai direitinho para o panteão das Comparações Mais Estúpidas De Que Há Memória Na Blogosfera. E a insinuação reles de que eu sou insensível a todas as questões excepto quando as mesmas envolvem judeus, merece, sei lá... olha, um bardamerda está bom?
sábado, outubro 23, 2004
LADIES AND GENTLEMEN…
I present you Mr Noam Chomsky:
”As for "Communism" -- meaning, the form of state-led extremely reactionary development instituted by Lenin and carried forward by Stalin and his successors -- it's true that the US did intervene, along with other Western powers, in 1918, and there is a complex relation since. The intervention was pretty much of the normal North-South variety (though different in scale, of course): The Bolsheviks were pursuing a path of independent development in what had been a virtual economic colony of the West, which is intolerable in itself, and furthermore, there was great fear, well into the 1960s, that development was so successful that it would serve as a model for others, even within the industrial countries.”
Comentários:
1. O comunismo começa por aparecer entre comas e é retratado como um modelo “de desenvolvimento extremamente reaccionário levado a cabo pelo Estado”. Prémio “Eu Sou Um Ás Na Utilização De Eufemismos”.
2. Segundo Chomsky, os EUA e outras forças ocidentais intervieram com o receio de que o tal modelo “extremamente reaccionário” alcançasse um tal sucesso que passaria a servir de modelo para outros países, incluindo os industrializados. Prémio “Eu Sou Capaz De Proferir As Maiores Barbaridades E Continuar Rodeado De Séquitos E Alegres Patetas”.
Conclusão inicial, imediata, certificada: o homem não está bom da cabeça.
”As for "Communism" -- meaning, the form of state-led extremely reactionary development instituted by Lenin and carried forward by Stalin and his successors -- it's true that the US did intervene, along with other Western powers, in 1918, and there is a complex relation since. The intervention was pretty much of the normal North-South variety (though different in scale, of course): The Bolsheviks were pursuing a path of independent development in what had been a virtual economic colony of the West, which is intolerable in itself, and furthermore, there was great fear, well into the 1960s, that development was so successful that it would serve as a model for others, even within the industrial countries.”
Comentários:
1. O comunismo começa por aparecer entre comas e é retratado como um modelo “de desenvolvimento extremamente reaccionário levado a cabo pelo Estado”. Prémio “Eu Sou Um Ás Na Utilização De Eufemismos”.
2. Segundo Chomsky, os EUA e outras forças ocidentais intervieram com o receio de que o tal modelo “extremamente reaccionário” alcançasse um tal sucesso que passaria a servir de modelo para outros países, incluindo os industrializados. Prémio “Eu Sou Capaz De Proferir As Maiores Barbaridades E Continuar Rodeado De Séquitos E Alegres Patetas”.
Conclusão inicial, imediata, certificada: o homem não está bom da cabeça.
sexta-feira, outubro 22, 2004
WAY OF THE WORLD
As reacções às afirmações de Buttiglione – o presidente dos socialistas do PE exige, por exemplo, o seu afastamento - revelam o quão estúpido, ridículo e, em última análise, nefasto se pode tornar o “politicamente correcto”.
RUMO AO PÚBLICO, ENTÃO
No Público: “Vasco Pulido Valente troca o Diário de Notícias pelo Público”.
PS: para breve as seguintes parangonas: “VPV foi silenciado pelo governo. Em causa estavam altos interesses económicos.”
PS: para breve as seguintes parangonas: “VPV foi silenciado pelo governo. Em causa estavam altos interesses económicos.”
APONTAMENTOS DE REPORTAGEM #9
(sobre a noite de quarta-feira na Aula Magna)
Este senhor afirma que este vosso criado se entreteve a discutir a problemática da "altura”(sic) com este outro rapaz, ao ponto de só conseguirem bilhetes para as “berças”(sic). Nada mais falso. “Alturas” há, diga-se, em que apetece denunciar na rua a mordacidade altiva que impregna estas afirmações. A questão, fique o senhor sabendo, é bem mais dramática e prosaica: uma vez mais não tivemos acesso aos cadeirões dos senhores doutores. O que está aqui em causa é um notório e patife exercício de segregação das massas pela velha e bruta mão invisível de um sistema que promove e engrandece uma nomenklatura de «eleitos» (alguns deles até escrevem nas revistas da moda) contra a ralé. Repare-se na forma como uns têm acesso aos melhores anfitriões de Lisboa - um luxo que foi e será sempre irradiado das classes desfavorecidas – ao passo que outros se gladiam com uma obtusa cadeira cujo conforto se assemelha ao de um Trabant aos saltos num qualquer troço de Arganil.
Apesar de tudo, valho-nos isso, não deixámos de ver o espectáculo. Quanto ao facto de ninguém nos ter visto, tal prende-se com a urgência e a necessidade de regressar (leia-se “de recolher”) aos arrabaldes, num caso (Trafaria), e à província, no outro (Évora).
Camarada Anacleto, o que tendes a dizer de tamanha e ímpia injustiça?
Este senhor afirma que este vosso criado se entreteve a discutir a problemática da "altura”(sic) com este outro rapaz, ao ponto de só conseguirem bilhetes para as “berças”(sic). Nada mais falso. “Alturas” há, diga-se, em que apetece denunciar na rua a mordacidade altiva que impregna estas afirmações. A questão, fique o senhor sabendo, é bem mais dramática e prosaica: uma vez mais não tivemos acesso aos cadeirões dos senhores doutores. O que está aqui em causa é um notório e patife exercício de segregação das massas pela velha e bruta mão invisível de um sistema que promove e engrandece uma nomenklatura de «eleitos» (alguns deles até escrevem nas revistas da moda) contra a ralé. Repare-se na forma como uns têm acesso aos melhores anfitriões de Lisboa - um luxo que foi e será sempre irradiado das classes desfavorecidas – ao passo que outros se gladiam com uma obtusa cadeira cujo conforto se assemelha ao de um Trabant aos saltos num qualquer troço de Arganil.
Apesar de tudo, valho-nos isso, não deixámos de ver o espectáculo. Quanto ao facto de ninguém nos ter visto, tal prende-se com a urgência e a necessidade de regressar (leia-se “de recolher”) aos arrabaldes, num caso (Trafaria), e à província, no outro (Évora).
Camarada Anacleto, o que tendes a dizer de tamanha e ímpia injustiça?
DESCULPEM, MAS EU TENHO DE DIZER ISTO (PERDOEM-ME A LINGUAGEM)
(corrigido, aumentado, etc.)
Este governo é uma merda. Santana Lopes uma merda é. Tirando Mexia, Bagão, Nobre Guedes, Monteiro e Sanches, este governo desiludiu-me para além do permitido.
Inicialmente, ainda accionei uma coisa que dá pelo nome de “benefício da dúvida”. Mas não pude deixar de reparar que o pontapé de saída do governo tinha acertado em cheio no elemento de esperança que o tal «benefício» encerra em sim mesmo. Por entre promessas de «continuidade» e «estabilidade», Santana Lopes punha na alheta 99% do anterior executivo. Neste particular, tenho de admitir que JMF estava certo. Eu estava errado. Fui ingénuo em acreditar que as alterações seriam de pormenor, ou seja, que a maioria dos ministros e das equipas seriam recolocadas, até por uma questão de accountability.
Para que não me restassem dúvidas, de lá para cá assisti a um pouco de tudo: um dos mais lamentáveis e paupérrimos discursos de que há memória na ONU, pela mão de Santana Lopes; um ministro (Gomes da Silva) que faz questão de saltar de calinada em calinada sem que lhe calcem uns patins; uma comunicação ao país onde tudo estava errado, desde o estilo à pose, passando pelo gestos e pelo conteúdo redondo e populista da «prosperidade», ao invés do recato e do reconhecimento desassombrado do período de austeridade; Santana Lopes, de mão dada com Schröder, a dizer que o pacto de estabilidade tem de ser aligeirado, reformado, flexibilizado. Uma tristeza.
Abstenho-me de chamar àcoacção colação os «incidentes» relacionados com a colocação dos professores, ou o putativo afastamento de Marcelo, que estupidamente alguns insistem em rotular de «censura» e fazer do caso o Watergate da Picheleira. Também não compro a típica tese da típica esquerda portuguesa - demagógica e histriónica - segundo a qual andam por aí aos saltos tiques «ditatoriais», de «autoritarismo», de «extrema-direita». E recuso-me a comentar as cabalas de uns (da esquerda) contra as cabalas de outros (do governo, ou melhor, do Sr. da Silva).
O lamentável da situação prende-se com a gritante falta de rumo, com a notória falta de uma estratégia, de uma ideia abrangente e aglutinadora. Não me refiro, obviamente, à publicitação de promessas, ao anúncio de propósitos, nem sequer à laudatória proclamação da obra feita. As promessas eleitorais não significam nada. A retórica da «explicação» das políticas e das «medidas» aos papalvos é uma pantomina inconsequente, que os governos gostam de ensaiar para dar a sensação de que o eleitorado é importante e controla a «acção» governativa. “Words, words, words”, como diria Hamlet. Há gente a mais a falar neste governo. Ao excesso de justificação está a aliar-se o excesso de hesitação, de ziguezagues, de meias-tintas. Diz-se um dia uma coisa, para no outro dia dizer-se outra. Invoca-se o desastre do guterrismo, e nem sequer se repara que se anda a trilhar igual caminho. O défice vai inteirinho para a discrição, para a serenidade, para a sensatez, para a acção independente das sondagens e da vox populi.
O que está a faltar é a indicação tácita de um rumo e de uma estratégia por via de medidas concretas, de princípios orientadores irrepreensíveis, de exemplos que devem partir de cima. Sem folclore, sem barulho, sem paninhos quentes, sem hesitações, sem conversas de comadres.
O que está a acontecer remete-nos para uma incómoda e perniciosa sensação de que tudo e todos estão à deriva. De que cada um navega o seu barco, sem carta e sem pingo de instrumentação. E nem um farol se vislumbra para, no mínimo, evitar o desastre.
Quanto à alternativa Sócrates/Tó-Zé Seguro/José Magalhães? Não me lixem, está bem?
Este governo é uma merda. Santana Lopes uma merda é. Tirando Mexia, Bagão, Nobre Guedes, Monteiro e Sanches, este governo desiludiu-me para além do permitido.
Inicialmente, ainda accionei uma coisa que dá pelo nome de “benefício da dúvida”. Mas não pude deixar de reparar que o pontapé de saída do governo tinha acertado em cheio no elemento de esperança que o tal «benefício» encerra em sim mesmo. Por entre promessas de «continuidade» e «estabilidade», Santana Lopes punha na alheta 99% do anterior executivo. Neste particular, tenho de admitir que JMF estava certo. Eu estava errado. Fui ingénuo em acreditar que as alterações seriam de pormenor, ou seja, que a maioria dos ministros e das equipas seriam recolocadas, até por uma questão de accountability.
Para que não me restassem dúvidas, de lá para cá assisti a um pouco de tudo: um dos mais lamentáveis e paupérrimos discursos de que há memória na ONU, pela mão de Santana Lopes; um ministro (Gomes da Silva) que faz questão de saltar de calinada em calinada sem que lhe calcem uns patins; uma comunicação ao país onde tudo estava errado, desde o estilo à pose, passando pelo gestos e pelo conteúdo redondo e populista da «prosperidade», ao invés do recato e do reconhecimento desassombrado do período de austeridade; Santana Lopes, de mão dada com Schröder, a dizer que o pacto de estabilidade tem de ser aligeirado, reformado, flexibilizado. Uma tristeza.
Abstenho-me de chamar à
O lamentável da situação prende-se com a gritante falta de rumo, com a notória falta de uma estratégia, de uma ideia abrangente e aglutinadora. Não me refiro, obviamente, à publicitação de promessas, ao anúncio de propósitos, nem sequer à laudatória proclamação da obra feita. As promessas eleitorais não significam nada. A retórica da «explicação» das políticas e das «medidas» aos papalvos é uma pantomina inconsequente, que os governos gostam de ensaiar para dar a sensação de que o eleitorado é importante e controla a «acção» governativa. “Words, words, words”, como diria Hamlet. Há gente a mais a falar neste governo. Ao excesso de justificação está a aliar-se o excesso de hesitação, de ziguezagues, de meias-tintas. Diz-se um dia uma coisa, para no outro dia dizer-se outra. Invoca-se o desastre do guterrismo, e nem sequer se repara que se anda a trilhar igual caminho. O défice vai inteirinho para a discrição, para a serenidade, para a sensatez, para a acção independente das sondagens e da vox populi.
O que está a faltar é a indicação tácita de um rumo e de uma estratégia por via de medidas concretas, de princípios orientadores irrepreensíveis, de exemplos que devem partir de cima. Sem folclore, sem barulho, sem paninhos quentes, sem hesitações, sem conversas de comadres.
O que está a acontecer remete-nos para uma incómoda e perniciosa sensação de que tudo e todos estão à deriva. De que cada um navega o seu barco, sem carta e sem pingo de instrumentação. E nem um farol se vislumbra para, no mínimo, evitar o desastre.
Quanto à alternativa Sócrates/Tó-Zé Seguro/José Magalhães? Não me lixem, está bem?
quinta-feira, outubro 21, 2004
O QUE ESTÁ DE ERRADO NESTE CARTOON?
in The Economist
Nada, dirão alguns. Representa, na perfeição, o que de errado se passa no médio-oriente, dirão outros. Genial, dirão, ainda, os mais entusiastas desta mui nobre arte.
Lamento. Há algo de profundamente errado neste cartoon. Do ponto de vista da tese do «ciclo vicioso», o cartoon é perfeito. Muito bom. Mas ele representa o paradigma do tipo de percepção que a ocidente se tem do conflito, dando conta do avançado estado de miopia de que padecem os media ocidentais, incluindo os melhores (é o caso do The Economist).
O que nos mostra o cartoon? Comecemos pelo inicio:
(1) Terrorists attack Israel
(2) Israel cracks down on terror
(3) Civilians are hit in the crackdown (com a imagem da patinha de Sharon a esmagar, em pose de dor e agonia, alguns civis).
Paremos aqui. O cartonista, pessoa de imenso talento, faz aquilo que comum e erradamente se faz (e, sabe Deus, continua a constituir uma fonte inesgotável do que de perverso e injusto se conclui do conflito israelo-palestiniano): olhar os ataques terroristas a Israel como actos padronizados de violência contra uma entidade abstracta, abrangente, que dá pelo nome de “Israel”. Repare-se: o cartonista faz questão de colocar uns bonequinhos a serem esmagados pela pata de Sharon, mas os atentados bombistas iniciais (ponto 1) parecem ser contra um alvo difuso, indefinido, como disse «abstracto». O cartonista omite, entre o ponto 1 e o ponto 2, o que não omite mais à frente, ou seja, uma passagem intermédia, concreta, indelével, brutal: o assassínio de civis inocentes israelitas. Retira-nos essa perspectiva, como se “Israel” fosse, ele próprio, uma individualidade esvaziada de pessoas de carne e osso ou, na pior das hipóteses, recheada de «carne para canhão».
Ao colocar em evidência o esmagamento de civis por parte de Sharon, o cartonista acaba por transmitir, também, a ideia de que é a vontade cega e gratuita de matar civis que move Sharon e o seu governo. O correcto seria: Israel cracks down on terror aiming terrorists but civilians are hit in the crackdown. Uma diferença nada insignificante que não vislumbramos neste cartoon. Nem todos os civis palestinianos são, na prática, «civis» (infelizmente não existe uma exército formal do lado palestiniano a quem apontar e exigir responsabilidades). E quanto ao ”terrorists attack Israel”, seria bom afinar os ouvidos: os gritos mudos das vitimas e o choro dos que sofrem a sua perda, soam bem alto. Para quem estiver disposto a ouvi-los, claro.
APONTAMENTOS DE REPORTAGEM #1
(sobre a noite de quarta-feira na Aula Magna)
Ninguém canta o amor e os seus arredores como Stephin Merritt. Ninguém nos põe a rir, a sorrir ou de nó na garganta assim: arranhando com o polegar, em pose blasé, uma espécie de cavaquinho (uke), sobre um som gutural-monocórdico, quase liberto de emoção e afinado in extremis.
Ninguém canta o amor e os seus arredores como Stephin Merritt. Ninguém nos põe a rir, a sorrir ou de nó na garganta assim: arranhando com o polegar, em pose blasé, uma espécie de cavaquinho (uke), sobre um som gutural-monocórdico, quase liberto de emoção e afinado in extremis.
APONTAMENTOS DE REPORTAGEM #2
(sobre a noite de quarta-feira na Aula Magna)
Quando um dia me disserem “aprecio sobremaneira o minimalismo de Reich e Glass”, já poderei dizer, como o fazia Morrissey em relação a Wilde em Cemetry Gates, “no meu caso é mais o minimalismo Merrittiano”.
Quando um dia me disserem “aprecio sobremaneira o minimalismo de Reich e Glass”, já poderei dizer, como o fazia Morrissey em relação a Wilde em Cemetry Gates, “no meu caso é mais o minimalismo Merrittiano”.
APONTAMENTOS DE REPORTAGEM #3
(sobre a noite de quarta-feira na Aula Magna)
As canções de Merritt são pequenas peças de filigrana, tecidas cuidadosa e pacientemente sob a égide do que de patético, trágico, ridículo e cómico tem o amor. Pérolas que brilharão intemporalmente (também eu um dia hei-de conseguir escrever sem advérbios de modo).
As canções de Merritt são pequenas peças de filigrana, tecidas cuidadosa e pacientemente sob a égide do que de patético, trágico, ridículo e cómico tem o amor. Pérolas que brilharão intemporalmente (também eu um dia hei-de conseguir escrever sem advérbios de modo).
APONTAMENTOS DE REPORTAGEM #5
(sobre a noite de quarta-feira na Aula Magna)
Sobre a presença dest'outro senhor não me apraz dizer nada. Mesmo.
Sobre a presença dest'outro senhor não me apraz dizer nada. Mesmo.
APONTAMENTOS DE REPORTAGEM #7
(sobre a noite de quarta-feira na Aula Magna)
Ai, Claudia, Claudia... (“metia-te na cesta”, como dizia a outra)
Ai, Claudia, Claudia... (“metia-te na cesta”, como dizia a outra)
APONTAMENTOS DE REPORTAGEM #6
(sobre a noite de quarta-feira na Aula Magna)
John Woo, Sam Davol: competentíssimos!
John Woo, Sam Davol: competentíssimos!
APONTAMENTOS DE REPORTAGEM #8
(sobre a noite de quarta-feira na Aula Magna)
Uma noite mágica. Inesquecível. Regressei a Évora, sob nevoeiro intenso, ao som de 69 Love Songs. Com um sorriso de felicidade estampado na cara. Aparvalhado como, aliás, costumo e gosto de andar.
Uma noite mágica. Inesquecível. Regressei a Évora, sob nevoeiro intenso, ao som de 69 Love Songs. Com um sorriso de felicidade estampado na cara. Aparvalhado como, aliás, costumo e gosto de andar.
quarta-feira, outubro 20, 2004
"OLÁ, SÔ ARTUR! ENTÃO TAMBÉM SE VAI ATÉ LISBOA?" *
Há qualquer coisa de enternecedor, de heróico até, quando alguém assume publicamente a sua condição, revelando ser dono de uma consciência sadia e rija, que lhe permite, entre outras coisas (que não sabe jogar à bola, por exemplo), saber o que é (comadre) e o que anda cá a fazer (ou a aprontar). Brindo a isso, de lágrima no canto no olho. Soubessem todos, neste país, ser assim. A começar por Santana Lopes e pelo Bispo de Setúbal.
E agora, se me dão licença, parto rumo à capital, qual Arturzinho Corvelo.
* in A Capital, Eça de Queiroz
E agora, se me dão licença, parto rumo à capital, qual Arturzinho Corvelo.
* in A Capital, Eça de Queiroz
I WISH I HAD AN EVIL TWIN
I wish I had an evil twin
running ’round doing people in
I wish I had a very bad
and evil twin to do my will
to call and conquer, cut and kill
just like I would
if I weren’t good
and if I knew where to begin
down and down we go
how low no one would know
sometimes the good life wears thin
I wish I had an evil twin
my evil twin would lie and steal
and he would stink of sex appeal
all men would writhe
beneath his scythe
he’d send the pretty ones to me
and they would think that I was he
I’d hurt them and I’d go scot free
I’d get no blame and feel no shame
’cause evil’s not my cup of tea
down and down we go
how low one would not need to know
all my life there should have been
an evil twin
THE MAGNETIC FIELDS
running ’round doing people in
I wish I had a very bad
and evil twin to do my will
to call and conquer, cut and kill
just like I would
if I weren’t good
and if I knew where to begin
down and down we go
how low no one would know
sometimes the good life wears thin
I wish I had an evil twin
my evil twin would lie and steal
and he would stink of sex appeal
all men would writhe
beneath his scythe
he’d send the pretty ones to me
and they would think that I was he
I’d hurt them and I’d go scot free
I’d get no blame and feel no shame
’cause evil’s not my cup of tea
down and down we go
how low one would not need to know
all my life there should have been
an evil twin
THE MAGNETIC FIELDS
terça-feira, outubro 19, 2004
NEM MAIS (COMENTÁRIO ASSUMIDA E MILITANTEMENTE SNOB)
Jorge Mourinha: "É precisamente por causa de jogos como o de ontem que me recuso a gostar de futebol: qualquer jogo que ponha milhares de pessoas a portarem-se como perfeitos anormais, como adolescentes imberbes que ainda nem entraram na puberdade, não merece realmente que nos interessemos por ele. Se aquilo é um "clássico", então o classicismo, claramente, já não é o que era."
Acrescento o óbvio: no grupo dos "perfeitos anormais" deverão incluir-se os dirigentes.
Acrescento o óbvio: no grupo dos "perfeitos anormais" deverão incluir-se os dirigentes.
JÁ ESTÁ UM POUQUINHO MELHOR
Este rapaz (1,71 m muito por favor) já escreveu (ou repetiu), sobre o The Searchers, "o filme é bom". Ah, bom! Serei magnânimo: vou deixá-lo rever por, digamos, mais duas vezes (para já) esse portento fordiano, solicitando, on the side, o favor de não reclamar Taxis Drivers para onde eles não são chamados (*). Depois voltaremos a falar. Calma e serenamente (embora, por precaução, leve o Colt). Não achas, Mr Vargas, que, com o tempo, ele vai lá? (eu, um pessimista empedernido, tenho a certeza que sim)
* mentira...
* mentira...
segunda-feira, outubro 18, 2004
QUEM É, QUEM É?
Agora, adivinhem: quem é que vai ver o magnificente, generoso, excelso e solidariamente minorca Stephin Merritt, quarta-feira, na Aula Magna? Quem é? Ah pois é!
O TIO ALBERTO
Diz o Bruno (morada, sff): “O que se passa na Madeira não é um exemplo de uma aberração. É um exemplo da fragilidade da democracia. E perceber isto é o primeiro passo para manter uma democracia saudável...”
Concordo: a Madeira não é, de facto, uma aberração. Discordo: não sei se Alberto João Jardim é um “exemplo da fragilidade da democracia”. Não é, certamente, um sinal de moléstia ou enfermidade. Por definição, a democracia é frágil. Além disso, Alberto João Jardim não se leva tão a sério como fazem questão de o levar no contenente. O “Alberto João” é uma caricatura que o próprio cultiva com especial gozo e que os media adoram retratar. No fundo, o tio Alberto é profundamente português. Há qualquer coisa no seu olhar e no seu sorriso que me impedem de o abominar. Pelo menos como o abominam os mais sérios opinion makers cá do burgo, antevendo a falência do «sistema democrático». Agora, prestem atenção: eu não estou a defender o modus operandi do tio Alberto. Para que conste.
Concordo: a Madeira não é, de facto, uma aberração. Discordo: não sei se Alberto João Jardim é um “exemplo da fragilidade da democracia”. Não é, certamente, um sinal de moléstia ou enfermidade. Por definição, a democracia é frágil. Além disso, Alberto João Jardim não se leva tão a sério como fazem questão de o levar no contenente. O “Alberto João” é uma caricatura que o próprio cultiva com especial gozo e que os media adoram retratar. No fundo, o tio Alberto é profundamente português. Há qualquer coisa no seu olhar e no seu sorriso que me impedem de o abominar. Pelo menos como o abominam os mais sérios opinion makers cá do burgo, antevendo a falência do «sistema democrático». Agora, prestem atenção: eu não estou a defender o modus operandi do tio Alberto. Para que conste.
UMA LIÇÃO E UM LEMBRETE
“My various solutions to the problems which beset the nation are intended as suggestions to be thrown around in pubs, clubs and dining rooms. If the Government adopted even a tenth of them, catastrophe would surely result. … The essence of journalism is that it should stimulate its readers for a moment, possibly open their minds to some alternative perception of events, and then be thrown away, with all its clever conundrums, its prophecies and comminations, in the great wastepaper basket of history.”
AUBERON WAUGH
AUBERON WAUGH
domingo, outubro 17, 2004
SHAME, DISGUST, PREJUDICE
Delicioso artigo de Roger Kimball, na New Criterion, sobre o livro de Martha Nussbaum Hiding from Humanity: Disgust, Shame and the Law.
O que defende Nussbaum? Que a Lei nos deve proteger do preconceito (não directamente do crime, mas do preconceito) e que da mesma se deve extirpar todo e qualquer sentido que advenha de convenções sociais baseadas na ideia de «vergonha», «aversão», «desgosto» ou «nojo».
Martha Nussbaum reconhece que uma pessoa sem resquício de vergonha dificilmente poderá ser um bom cidadão, um bom amigo ou um bom amante. Reconhece, também, que a aversão e o nojo desempenham um papel valioso na nossa evolução. Mas não deixa de os considerar conceitos ilusórios na medida em que apontam para a (im)possibilidade da imortalidade, da pureza ou da não-animalidade. Nussbaum é, sobretudo, contra o contexto colectivo/público destes preconceitos e contra o facto deles ainda impregnarem, nalguns casos, a própria Lei. Dito de outra forma, Nussbaum acha que a Lei se deve emancipar da ideia de pecado, produto de uma visão moral de justiça.
Partindo de uma frase de Patrick Devlin - ”No society can do without intolerence, indignation and disgust” - e de um aforismo de Burke - ”Prejudice renders a man’s virtue his habit” - Kimball põe em causa a carga negativa atribuída por Nussbaum ao papel da vergonha, da aversão e do nojo - em última análise, do preconceito - nas sociedades contemporâneas. Kimball não só considera tratar-se de um debate desnecessário nos dias de hoje (basta observar o mundo para perceber que ninguém mais tem vergonha de nada), como lembra um facto insofismável: toda a civilização ocidental está alicerçada no preconceito e, ao contrário da voz corrente – que é a voz do politicamente correcto - o preconceito não tem de ser, necessariamente, algo de mau ou aviltante (ler Auberon Waugh, s.f.f.). Como Burke parece querer sugerir, se tivermos uma predisposição (preconceito) para algo que é certo e correcto, mais facilmente o incorporaremos nos nossos hábitos e na nossa própria pele, para benefício individual e, até, colectivo.
Ter vergonha de, ou envergonhar alguém por, é uma manifestação perfeitamente natural do ponto de vista do comportamento social. É algo que nos distingue dos animais. Nelson Rodrigues costumava dizer que o homem só foi homem depois dos instintos e contra o instintos. A vergonha, a aversão e o nojo constituem poderosos filtros comportamentais, responsáveis por ainda nos podermos aplicar o epíteto de «civilizados». É certo que o problema se agudiza num plano mais teórico. O pecado, a vergonha, o nojo, são sentimentos «extraordinários», quase que irracionais, que resultam na prática mas cuja explicação teórica padece de complexidade. Seja como for, e ao contrário do que diz Nussbaum, os sentimentos de vergonha e de repulsa são elementos que nos rementem para a nossa condição de seres imperfeitos, frágeis, mortais. Kimball recorda o que disse o filósofo Leszek Kolakowski: “We do not assent to our moral beliefs by admitting ‘this is true’, but by feeling guilty if we fail to comply with them… We are dealing with an act of questioning one’s own status in the cosmic order, …an anxiety following transgression not of a law but of a taboo.”
Nussbaum acha, por exemplo, inadmissível que um tribunal decrete a afixação de um sinal de aviso na casa de um pedófilo; ou que um condutor embriagado seja obrigado a colar no seu carro um autocolante alertando as pessoas para esse facto (sentenças, aliás, já proferidas em tribunais norte-americanos). E cita, a este propósito, a American Civil Liberties Union, que os considera actos de “humilhação gratuita”. Não contestando, nem deixando de contestar, a eventual crítica à decisão judicial, Kimball chama a atenção para o óbvio: poderão ser tudo menos «gratuitos». E o facto de não serem «gratuitos» explica muita coisa. Mais: mesmo que o sinal não seja afixado na casa do pedófilo, existirá sempre uma espécie de sinalética mental, não tangível, que produzirá os mesmos efeitos. A pequena comunidade onde o crime de pedofilia foi cometido fará o favor de «marcar» a casa, o carro, a bicicleta do perpetrador. Para Nussbaum isto é mau. Para Kimball, esse comportamento é natural, inevitável, second nature e, nalguns casos, benéfico. Totalmente de acordo.
O que defende Nussbaum? Que a Lei nos deve proteger do preconceito (não directamente do crime, mas do preconceito) e que da mesma se deve extirpar todo e qualquer sentido que advenha de convenções sociais baseadas na ideia de «vergonha», «aversão», «desgosto» ou «nojo».
Martha Nussbaum reconhece que uma pessoa sem resquício de vergonha dificilmente poderá ser um bom cidadão, um bom amigo ou um bom amante. Reconhece, também, que a aversão e o nojo desempenham um papel valioso na nossa evolução. Mas não deixa de os considerar conceitos ilusórios na medida em que apontam para a (im)possibilidade da imortalidade, da pureza ou da não-animalidade. Nussbaum é, sobretudo, contra o contexto colectivo/público destes preconceitos e contra o facto deles ainda impregnarem, nalguns casos, a própria Lei. Dito de outra forma, Nussbaum acha que a Lei se deve emancipar da ideia de pecado, produto de uma visão moral de justiça.
Partindo de uma frase de Patrick Devlin - ”No society can do without intolerence, indignation and disgust” - e de um aforismo de Burke - ”Prejudice renders a man’s virtue his habit” - Kimball põe em causa a carga negativa atribuída por Nussbaum ao papel da vergonha, da aversão e do nojo - em última análise, do preconceito - nas sociedades contemporâneas. Kimball não só considera tratar-se de um debate desnecessário nos dias de hoje (basta observar o mundo para perceber que ninguém mais tem vergonha de nada), como lembra um facto insofismável: toda a civilização ocidental está alicerçada no preconceito e, ao contrário da voz corrente – que é a voz do politicamente correcto - o preconceito não tem de ser, necessariamente, algo de mau ou aviltante (ler Auberon Waugh, s.f.f.). Como Burke parece querer sugerir, se tivermos uma predisposição (preconceito) para algo que é certo e correcto, mais facilmente o incorporaremos nos nossos hábitos e na nossa própria pele, para benefício individual e, até, colectivo.
Ter vergonha de, ou envergonhar alguém por, é uma manifestação perfeitamente natural do ponto de vista do comportamento social. É algo que nos distingue dos animais. Nelson Rodrigues costumava dizer que o homem só foi homem depois dos instintos e contra o instintos. A vergonha, a aversão e o nojo constituem poderosos filtros comportamentais, responsáveis por ainda nos podermos aplicar o epíteto de «civilizados». É certo que o problema se agudiza num plano mais teórico. O pecado, a vergonha, o nojo, são sentimentos «extraordinários», quase que irracionais, que resultam na prática mas cuja explicação teórica padece de complexidade. Seja como for, e ao contrário do que diz Nussbaum, os sentimentos de vergonha e de repulsa são elementos que nos rementem para a nossa condição de seres imperfeitos, frágeis, mortais. Kimball recorda o que disse o filósofo Leszek Kolakowski: “We do not assent to our moral beliefs by admitting ‘this is true’, but by feeling guilty if we fail to comply with them… We are dealing with an act of questioning one’s own status in the cosmic order, …an anxiety following transgression not of a law but of a taboo.”
Nussbaum acha, por exemplo, inadmissível que um tribunal decrete a afixação de um sinal de aviso na casa de um pedófilo; ou que um condutor embriagado seja obrigado a colar no seu carro um autocolante alertando as pessoas para esse facto (sentenças, aliás, já proferidas em tribunais norte-americanos). E cita, a este propósito, a American Civil Liberties Union, que os considera actos de “humilhação gratuita”. Não contestando, nem deixando de contestar, a eventual crítica à decisão judicial, Kimball chama a atenção para o óbvio: poderão ser tudo menos «gratuitos». E o facto de não serem «gratuitos» explica muita coisa. Mais: mesmo que o sinal não seja afixado na casa do pedófilo, existirá sempre uma espécie de sinalética mental, não tangível, que produzirá os mesmos efeitos. A pequena comunidade onde o crime de pedofilia foi cometido fará o favor de «marcar» a casa, o carro, a bicicleta do perpetrador. Para Nussbaum isto é mau. Para Kimball, esse comportamento é natural, inevitável, second nature e, nalguns casos, benéfico. Totalmente de acordo.
DECONSTRUCTING DERRIDA
Há muito, muito tempo atrás, numa conferência em Cambridge, um infeliz jornalista teve a veleidade de perguntar a Derrida “resuma, em poucas palavras (in a nutshell), o que é o descontrutivismo”. Talvez por faltarem a Derrida, no momento, as palavras adequadas (et pour cause...), um discípulo de Derrida apressou-se (um descontrutivista não pode ser apanhado sem resposta) a dizer que a utilização do termo nutshell era inepto na medida em que ”encerrava e fechava”, “protegia e abrigava”, “reduzia e simplificava” – ao fim e ao cabo, o contrário do que se pretendia alcançar com a empresa desconstrutivista: abrir, expor, complicar, expandir, quebrar fronteiras, transgredir limites e normas, implodir invólucros e embalagens teóricas.
No universo Derridiano encontramos uma superabundância e uma superfluidez de significados incompatível com a ideia, por exemplo, de uma frase significar apenas o que nela se encontra escrito. O universo Derridiano é um espaço aberto à suspeição e à desconfiança, no qual a linguagem adquire uma dinâmica e vida próprias. Cada palavra passa a ser assombrada pela fantasmagórica ausência das que dela diferem.
O papel do desconstrutivista é o de remover a trela que a sociedade impôs à linguagem, fazendo com que os conceitos mentais dependam da multiplicidade de significados. Resultado imediato? Adeus ao bom e velho Logos pré-socrático: o saber ancestral e metafísico, produto de significados transcendentais, já era. Se o «normal», o «consensual», o que é «comummente aceite» são critérios para a verdade, então toca a colocar ao largo, e o mais possível, esse pragmatismo castrador. Só assim se pode pôr termo à tentativa de exclusão dos elementos marginais que ajudam a contradizer os «consensos» e as «convenções», e que abrem caminho a uma nova «estrutura», a um novo «esqueleto».
O desconstrutivismo lançou a ideia de que, tal como Deus, a Verdade e a Falsidade estão mortas. E que obsoletas estão também as noções de humanismo e individualismo. O desconstrutivismo relegou a ideia de verdade para territórios longínquos e enredou-se em intermináveis jogos que permitissem à escrita gerar mais escrita, à interpretação gerar mais interpretação, etc. etc.
Fazendo minhas as palavras do João e do Alberto, sou incapaz de alinhar com quaisquer tentativas de subversão (leia-se «desconstrução») da verdade. Para além do eventual aspecto lúdico, o edíficio Derridiano disse-me absoluta e objectivamente nada. Rien. Nicles.
Agora, amigo Luís, venham de lá essas «críticas» – na certeza, porém, de que não passarão de «interpretações» do meu post, o qual não passa de uma «interpretação» do universo Derridiano, universo este que não passa, por sua vez, de uma «interpretação» do... (e por aí fora).
No universo Derridiano encontramos uma superabundância e uma superfluidez de significados incompatível com a ideia, por exemplo, de uma frase significar apenas o que nela se encontra escrito. O universo Derridiano é um espaço aberto à suspeição e à desconfiança, no qual a linguagem adquire uma dinâmica e vida próprias. Cada palavra passa a ser assombrada pela fantasmagórica ausência das que dela diferem.
O papel do desconstrutivista é o de remover a trela que a sociedade impôs à linguagem, fazendo com que os conceitos mentais dependam da multiplicidade de significados. Resultado imediato? Adeus ao bom e velho Logos pré-socrático: o saber ancestral e metafísico, produto de significados transcendentais, já era. Se o «normal», o «consensual», o que é «comummente aceite» são critérios para a verdade, então toca a colocar ao largo, e o mais possível, esse pragmatismo castrador. Só assim se pode pôr termo à tentativa de exclusão dos elementos marginais que ajudam a contradizer os «consensos» e as «convenções», e que abrem caminho a uma nova «estrutura», a um novo «esqueleto».
O desconstrutivismo lançou a ideia de que, tal como Deus, a Verdade e a Falsidade estão mortas. E que obsoletas estão também as noções de humanismo e individualismo. O desconstrutivismo relegou a ideia de verdade para territórios longínquos e enredou-se em intermináveis jogos que permitissem à escrita gerar mais escrita, à interpretação gerar mais interpretação, etc. etc.
Fazendo minhas as palavras do João e do Alberto, sou incapaz de alinhar com quaisquer tentativas de subversão (leia-se «desconstrução») da verdade. Para além do eventual aspecto lúdico, o edíficio Derridiano disse-me absoluta e objectivamente nada. Rien. Nicles.
Agora, amigo Luís, venham de lá essas «críticas» – na certeza, porém, de que não passarão de «interpretações» do meu post, o qual não passa de uma «interpretação» do universo Derridiano, universo este que não passa, por sua vez, de uma «interpretação» do... (e por aí fora).
O EXPRESSO ADIANTA-SE
“O Expresso vai distribuir, com a edição de 30 de Outubro, o DVD Fahrenheit 9/11. (...) A edição com 40 mil exemplares de tiragem, a que os leitores do Expresso vão ter a oportunidade de ter acesso em primeira mão, coincide com a semana das eleições presidenciais americanas”.
Os Republicanos estão feitos: o Expresso declarou-se anti-Bushista.
Os Republicanos estão feitos: o Expresso declarou-se anti-Bushista.
YOU JUST MADE MY DAY, BUSTER!
”[The Searchers]Tem até alguns pormenores que o torna melhor que muitos westerns...”.
Tem até alguns pormenores?! Alguns pormenores!? Amigo Bruno: onde moras? (cidade, rua, número, andar, se fizeres favor).
Tem até alguns pormenores?! Alguns pormenores!? Amigo Bruno: onde moras? (cidade, rua, número, andar, se fizeres favor).
AS ENTREVISTAS
Entrevista de Paes do Amaral à revista Sábado:
Considera que a intervenção e as críticas do ministro Rui Gomes da Silva tiveram alguma influência na decisão do professor?
Terá de perguntar ao professor Marcelo Rebelo de Sousa.
Ficou claro no seu comunicado que não abordou na conversa com o professor as declarações do ministro. Não se pode interpretar essa omissão como falta de apoio a Marcelo Rebelo de Sousa depois do ataque a que foi sujeito?
A gestão do Grupo Media Capital não anda ao sabor de timigns políticos; é sabido (desde os tempos do semanário O Independente) que não sou nem nunca fui pressionável, pelo que as declarações que menciona não foram para mim, nem para a TVI, um facto relevante.
Tentou convencê-lo a voltar atrás com a demissão?
Tentei, sem sucesso.
Sente que os profissionais da TVI estão revoltados ou desiludidos consigo? Porquê?
Os jornalistas não me pediram explicações, solicitaram-me, de forma correcta e justificada, face ao turbilhão de especulações disparatadas que se seguiram ao referido episódio, um conjunto de esclarecimentos que foram fácil e rapidamente respondidos.
Pode garantir que nunca foi alvo de qualquer pressão por parte de algum governante ou de alguém próximo do poder?
Os governos dos últimos três primeiros-ministros – eng. Guterres, dr. Durão Barroso e dr. Santana Lopes – nunca me submeteram à mais ínfima pressão, nem directa, nem indirectamente.
Entretanto, Marcelo Rebelo de Sousa, em conversa com jornalistas, explicou as razões da sua saída, falando numa “opção de consciência em função dos princípios e dos valores”.
Estou esclarecido.
Considera que a intervenção e as críticas do ministro Rui Gomes da Silva tiveram alguma influência na decisão do professor?
Terá de perguntar ao professor Marcelo Rebelo de Sousa.
Ficou claro no seu comunicado que não abordou na conversa com o professor as declarações do ministro. Não se pode interpretar essa omissão como falta de apoio a Marcelo Rebelo de Sousa depois do ataque a que foi sujeito?
A gestão do Grupo Media Capital não anda ao sabor de timigns políticos; é sabido (desde os tempos do semanário O Independente) que não sou nem nunca fui pressionável, pelo que as declarações que menciona não foram para mim, nem para a TVI, um facto relevante.
Tentou convencê-lo a voltar atrás com a demissão?
Tentei, sem sucesso.
Sente que os profissionais da TVI estão revoltados ou desiludidos consigo? Porquê?
Os jornalistas não me pediram explicações, solicitaram-me, de forma correcta e justificada, face ao turbilhão de especulações disparatadas que se seguiram ao referido episódio, um conjunto de esclarecimentos que foram fácil e rapidamente respondidos.
Pode garantir que nunca foi alvo de qualquer pressão por parte de algum governante ou de alguém próximo do poder?
Os governos dos últimos três primeiros-ministros – eng. Guterres, dr. Durão Barroso e dr. Santana Lopes – nunca me submeteram à mais ínfima pressão, nem directa, nem indirectamente.
Entretanto, Marcelo Rebelo de Sousa, em conversa com jornalistas, explicou as razões da sua saída, falando numa “opção de consciência em função dos princípios e dos valores”.
Estou esclarecido.
sábado, outubro 16, 2004
JÁ ME ESQUECIA
Este rapaz disse-me que torce o nariz aos westerns. E disse mais: disse que o The Searchers não era "nada de especial". Que o filme nada, ou muito pouco, lhe tinha dito.
Talvez tenha sido do vinho. Talvez tenha sido do bacalhau. Seja como for, eu tenho um problema com este rapaz. Que terei de resolver um dia destes, antes do pôr do sol. Até lá, tratarei de afinar o Colt
Talvez tenha sido do vinho. Talvez tenha sido do bacalhau. Seja como for, eu tenho um problema com este rapaz. Que terei de resolver um dia destes, antes do pôr do sol. Até lá, tratarei de afinar o Colt
NÃ, JAQUIM
O Casino é melhor que o Goodfellas (tese, aliás, também defendida aqui).
No confronto Sharon Stone vs Lorraine Bracco, esta é melhor actriz, mas aquela é melhor atrás.
Por último, o Senhor Ministro pediu, obviamente, com IVA.
No confronto Sharon Stone vs Lorraine Bracco, esta é melhor actriz, mas aquela é melhor atrás.
Por último, o Senhor Ministro pediu, obviamente, com IVA.
sexta-feira, outubro 15, 2004
BEM OBSERVADO
A Lena tem outra versão dos factos:
Ele, Castelo Branco, é uma ela, e ela, Betty, é uma ele. Ao longo dos anos foram fazendo plásticas e ficando progressivamente ambíguos. Por isso é que ambos se parecem com o Michael Jackson.
(por email)
Ele, Castelo Branco, é uma ela, e ela, Betty, é uma ele. Ao longo dos anos foram fazendo plásticas e ficando progressivamente ambíguos. Por isso é que ambos se parecem com o Michael Jackson.
(por email)
IMORALIDADES
"So now we know the truth. Forget the row about Saddam's non-existent weapons stockpiles. That, after all, should never have been the justification for war in the first place. The proper casus belli for regime change in Baghdad was Saddam's non-compliance with 17 United Nations resolutions over a period of more than 12 years.
The real scandal contained in the long-awaited report of the Iraq Survey Group (ISG) that was published last week concerns the fecklessness of the United Nations, not to mention the treacherous conduct of some of its security council members, in its dealings with Saddam's regime between the end of the 1991 Gulf war and last year's Operation Iraqi Freedom.
In the diplomatic build-up to last year's war to remove Saddam Hussein from power, the two most vociferous opponents of military action were Russia and France. Even though Presidents Putin and Chirac reluctantly signed up to UN Security Council resolution 1441 in November 2002 - which threatened Saddam with "serious consequences" if he did not fully comply - they were at the forefront of the international campaign to block military action.
At the time it was felt that their main motivation was to protect their lucrative trade ties with Baghdad. In late 2002, Saddam still owed the Russians some $10 billion, mainly for illegal arms deals. France came next in the trade rankings.
Even so, Moscow and Paris tried to claim that they were opposing the war as a matter of principle. That was certainly the impression Mr Chirac sought to give when he announced that he would veto any second UN resolution that authorised military action. Mr Putin also opposed the invasion of Iraq and, just as hostilities were about to commence, even dispatched Yevgeny Primakov, his trusty former KGB colleague, to Baghdad on a last-ditch mission to persuade Saddam to comply and avoid war.
Thanks to the efforts of the ISG team, we now know that there was another, even less palatable, explanation for their duplicity. Far from seeking to protect their lucrative trade ties, the real explanation for the opposition of France and Russia to the war was that both countries' political establishments were deeply implicated in a lucrative scam to divert the profits of the UN's oil-for-food programme into their own private coffers.
From the moment the oil-for-food programme was introduced in 1996, Saddam concentrated all his energies on attempting to subvert it. The complex oil-for-food programme was introduced so that the profits from UN-supervised Iraqi oil sales would pay for essential healthcare supplies. The programme was conceived, it should be remembered, to counter the mounting effectiveness of the propaganda campaign of hard-Left activists such as George Galloway, the former Labour MP, who argued that the wide-ranging UN sanctions introduced following the Gulf war were responsible for the deaths of thousands of innocent Iraqi children.
But as the ISG report clearly demonstrates, Saddam skilfully worked the system so that the profits were diverted to fund his regime rather than feed his people. An important element of this fraud was that a significant percentage of the funds was diverted to set up a voucher system that could be used to bribe a wide network of international politicians who could be counted upon to do Saddam's bidding.
Between them, France and Russia received 45 per cent of the vouchers, with China coming third. In late 2002 and early 2003, France, Russia and China led the anti-war movement at the UN. In France, the vouchers were given to a number of politicians with close links to Mr Chirac, while in Russia they were paid directly to Mr Putin's private office, providing him with his own ready-made slush fund.
Saddam's clever manipulation of the voucher system was a brilliant success: it not only caused a deep split within the security council, it helped him to make irrelevant the much-vaunted policy of containment that was supposed to prevent him from re-emerging as a dominant force the the Middle East. It also enabled him to fund illicit imports of weapons and the technology needed to resume production of weapons of mass destruction, which was his declared aim once the sanctions had been lifted.
By November 2001 - just two months after the 9/11 attacks - Saddam was so confident of breaking the UN's sanctions stranglehold that Baghdad hosted a trade fair that attracted hundreds of foreign companies in the expectation that they would soon be able to establish lucrative trade links with Saddam's regime. As Charles Duelfer, the author of the ISG report commented, by 2001 Saddam's "long struggle to outlast the containment policy seemed tantalisingly close".
The 9/11 attacks ended his hopes of survival as the West, or rather Washington and London, finally found the will to force the Iraqi leader to comply with the ceasefire obligations that he committed himself to at the end of the first Gulf war.
While the ISG report provides embarrassing reading for all those who actively participated in Saddam's scam, the real victim is the UN itself, whose claim to the moral high ground when confronting rogue regimes and dictators now lies in tatters.
Indeed, the failure of the UN to confront the error of its ways - Kofi Annan, the secretary-general, still refuses to make public the findings of his oil-for-food inquiry - poses a serious problem for those countries that remain committed to prosecuting the war on terror.
The sanctions regime against Saddam may have been a failure, but the threat of sanctions nevertheless remains an important first step in trying to persuade rogue states to reform. If Iran, for example, continues to defy the International Atomic Energy Agency over its nuclear programme, the logical response would be for the UN to impose sanctions against Teheran. But after the UN's Iraq debacle, it is highly unlikely that anyone - least of all Iran - could take such a threat seriously."
in THE DAILY TELEGRAPH
quinta-feira, outubro 14, 2004
ESCLARECIMENTO
Lê-se no Público: Fora de si, Scolari despediu-se com um "vão-se f...!".
Cumprindo uma das suas funções – a de serviço público - o Contra a Corrente informa que o “vão-se f…!” significa “vão-se foder!”.
Cumprindo uma das suas funções – a de serviço público - o Contra a Corrente informa que o “vão-se f…!” significa “vão-se foder!”.
quarta-feira, outubro 13, 2004
ESQUERDA, DIREITA, VOLVER
Segunda-feira passada, no programa Prós e Contras (RTP1), debatia-se a dicotomia esquerda/direita. De um lado (da esquerda), o demagogo de serviço (o irmão Anacleto Louçã), do outro (da direita) o básico de serviço (Nuno Magalhães, do CDS). Resultado: confusão. Entre alguma ignorância declarada (Manuel Alegre, por exemplo, nunca tinha percebido que, historicamente, o economicismo, na política, foi uma ideia de esquerda) e a tentativas estupidamente desajustadas de associar acontecimentos e fenómenos actuais a correntes ideológicas (“ser contra o aborto é de direita”, “Guantanamo é de direita”, etc.), a discussão serviu, acima de tudo, para confirmar que a visão que se tem da direita é, ainda hoje, resultado da forma como a esquerda a pensa e julga. Em Portugal, a direita nunca aprendeu a falar de si própria ou, como se costuma dizer, a «marcar a sua própria agenda».Tem, aliás, imensa dificuldade em explicar-se, deixando-se enredar na teia que a sua «antagonista» habilmente tece, e que vai dar sempre ao mesmo: "nós é que somos bondosos", "nós é que somos amigos dos pobres", "nós é que somos pela liberdade", "nós é que somos contra o autoritarismo e a favor da tolerância", "nós é que somos progressistas", etc. etc. etc. Resultado: a direita é observada e discutida à luz de paradigmas aprioristicamente formatados pela esquerda. E, defeito habitual, confunde-se a praxis do lider A ou do governo B (só porque são de direita) com a ideologia - é sabido, nem sempre coincidem. Daí a propensão para a caricatura, para o simplismo, para o disparate. Manuel Alegre, por exemplo, encheu o peito para tossir um anátema: a direita, coitada - burra, estúpida, antiquada - é “tradicionalista”. Mas nem por um minuto explicou o que entende por «tradição» (outra palavra tão mal explicada) e em que medida e circunstância esta surge no espaço da direita.
À excepção de Jaime Nogueira Pinto, Pedro Lomba (certeiro, seguro e revelando excelente sentido de humor) e, a espaços, Manuel Alegre, o debate serviu para arremesso de meia dúzia de clichés e slogans politiqueiros, com Louçã, por exemplo, a regurgitar as bandeiras e as denúncias do costume. Por incrível que pareça, até a história da reforma de Mira Amaral veio à baila (Louçã ter-se-á esquecido que a reforma de Mira Amaral é filha, afinal, do seu querido Estado Providência?).
Uma ultima nota sobre Luis Osório. Er… bem, é melhor não. Este blogue prima pela polidez e civilidade.
À excepção de Jaime Nogueira Pinto, Pedro Lomba (certeiro, seguro e revelando excelente sentido de humor) e, a espaços, Manuel Alegre, o debate serviu para arremesso de meia dúzia de clichés e slogans politiqueiros, com Louçã, por exemplo, a regurgitar as bandeiras e as denúncias do costume. Por incrível que pareça, até a história da reforma de Mira Amaral veio à baila (Louçã ter-se-á esquecido que a reforma de Mira Amaral é filha, afinal, do seu querido Estado Providência?).
Uma ultima nota sobre Luis Osório. Er… bem, é melhor não. Este blogue prima pela polidez e civilidade.
A GENTE É QUE NÃO ESTÁ A VER O FILME
A Nobel da Paz, para além de aparentemente ter reflorestado a totalidade do continente africano, é também conhecida pelo tipo de afirmações que normalmente excitam os membros da academia sueca.
Diz a Sra. Maathai que o vírus da SIDA foi criado por cientistas brancos com o intuito de destruir a raça negra. E diz mais:
”Us black people are dying more than any other people in this planet.[sic] It's true that there are some people who create agents to wipe out other people. If there were no such people, we could have not have invaded Iraq. We invaded Iraq because we believed that Saddam Hussein had made, or was in the process of creating agents of biological warfare. In fact it [o virus HIV] is created by a scientist for biological warfare. Why has there been so much secrecy about AIDS? When you ask where did the virus come from, it raises a lot of flags. That makes me suspicious.”
A Sra. Maathai acha, também, que todo o mal do mundo tem origem no diabólico imperialismo americano. Até os fundamentalistas muçulmanos de origem árabe, que levam a cabo genocídios em Darfur e noutras paragens da Africa subsariana, saem incólumes na boca da Sra. Maathai:
”The carnage goes on in Somalia, Rwanda, Liberia and in the streets of many cities. People of Africa continue to be sacrificed so that some factories may stay open, earn capital and save jobs.”
É por demais evidente que a Sra. Maathai é uma alienada e a academia um albergue de meninos ricos que precisam recorrentemente desta ladainha para sossegar a sua insana má consciência.
Diz a Sra. Maathai que o vírus da SIDA foi criado por cientistas brancos com o intuito de destruir a raça negra. E diz mais:
”Us black people are dying more than any other people in this planet.[sic] It's true that there are some people who create agents to wipe out other people. If there were no such people, we could have not have invaded Iraq. We invaded Iraq because we believed that Saddam Hussein had made, or was in the process of creating agents of biological warfare. In fact it [o virus HIV] is created by a scientist for biological warfare. Why has there been so much secrecy about AIDS? When you ask where did the virus come from, it raises a lot of flags. That makes me suspicious.”
A Sra. Maathai acha, também, que todo o mal do mundo tem origem no diabólico imperialismo americano. Até os fundamentalistas muçulmanos de origem árabe, que levam a cabo genocídios em Darfur e noutras paragens da Africa subsariana, saem incólumes na boca da Sra. Maathai:
”The carnage goes on in Somalia, Rwanda, Liberia and in the streets of many cities. People of Africa continue to be sacrificed so that some factories may stay open, earn capital and save jobs.”
É por demais evidente que a Sra. Maathai é uma alienada e a academia um albergue de meninos ricos que precisam recorrentemente desta ladainha para sossegar a sua insana má consciência.
segunda-feira, outubro 11, 2004
WE'RE DRINKING MY FRIEND
To the end of a brief episode,
Make it one for my baby
and one more for the road.
Bem-vindos ao Ritz.
Make it one for my baby
and one more for the road.
Bem-vindos ao Ritz.
A LER
Excelente artigo de Luciano Amaral, no Público: O Fim Da História Económica?. Excerto:
"A tradicional concepção liberal de justiça (que podemos encontrar em autores clássicos como John Locke ou Adam Smith) organiza-se em torno dos seguintes princípios: os indivíduos prescindem do exercício da coerção privada para a delegarem no Estado, mas protegem-se da possível coerção excessiva do monopolizador legítimo dela criando uma esfera que ele não pode ultrapassar. Em John Locke, essa esfera tem o nome de "Propriedade" e não se limita à propriedade de bens materiais (já que inclui as tradicionais liberdades civis e políticas), mas compreende-a também. E dentro da propriedade de bens materiais, não se limita à propriedade da terra ou de uma empresa, mas inclui toda a forma de rendimentos legítimos. Para Locke, a propriedade é, acima de tudo, aquilo que o trabalho (a partir do nada, ou do mero potencial) transforma em riqueza. E é isso que cabe ao Estado proteger, i.e. a propriedade vista desta forma, ou seja, o trabalho criador. Não significa isto que o Estado (representando a "comunidade") se deixe de preocupar com aqueles que tentam criar riqueza mas a quem os azares da vida impedem de o conseguir. Deve, porém, servir apenas de amparo, em caso de queda, mais do que de garante universal de um rendimento individual. O Estado só pode ser esse garante se violar o seu princípio básico: o de protector da propriedade, pois só violando-a pode ele constituir-se em administrador dos fundos necessários ao fornecimento universal desse rendimento.
Ora, é o desrespeito pela tradicional "propriedade" liberal que marca o funcionamento do dito "modelo social europeu". Desse desrespeito resulta aquilo a que estamos assistindo: o crescimento da diferença na criação de riqueza entre a Europa e os EUA. Porque, como vimos, a tradicional concepção liberal de justiça associa esta ao mecanismo institucional que permite criar riqueza. Já a concepção do chamado "modelo social europeu" assenta na dissociação institucional entre a criação de riqueza e a realização da justiça. O que é defensável, mas convém ser assumido. E, ao ser assumido, convém saber se resulta: será que o preço a pagar em crescimento mais lento é justificado por uma maior igualdade social? Neste momento, sobre isso, tal como vejo as coisas e as estatísticas (mesmo nos próprios termos colocados pelos defensores do "modelo social europeu"), o júri ainda está fora da sala a deliberar.
Gostava de moderar um pouco a comparação transatlântica: nem os EUA são um paraíso liberal, nem a Europa é inteiramente um inferno iliberal. Mas, por agora, servem para o propósito comparativo. E servirão cada vez mais se a tendência dos últimos anos persistir nas próximas décadas. Como o processo de atraso da economia europeia é recente, talvez não sejam (por enquanto) visíveis diferenças de monta nos níveis de bem-estar deste e do outro lado do Atlântico - embora quem tenha viajado recentemente entre as duas margens note do lado de lá uma "aisance" que por vezes falha do lado de cá. Contudo, se o processo continuar sustentadamente no futuro, será que se vai abrir um fosso de desenvolvimento entre a Europa e os EUA? Será que a Europa se satisfaz por ter atingido uma espécie de "fim da história económica" ou, para utilizar uma linguagem que os economistas preferem, um "estado estacionário", onde o crescimento agregado da riqueza deixou de ser motivo de preocupação? E será que está a alcançar os objectivos de "justiça" que se propôs alcançar?
Convém notar que as "preocupações sociais" não estão ausentes da reflexão liberal. O que esta diz é que para as concretizar não se devem violar certos princípios constituintes da liberdade, como a propriedade, por exemplo. O que ela diz é que esses princípios deverão ser violados apenas com o consentimento dos seus detentores, não para promover a "igualdade de condições", mas para impedir a queda dos membros mais desafortunados da comunidade na destituição material. A concepção liberal de justiça aceita a desigualdade. O que não aceita é a miséria. É uma concepção de justiça. Não a ausência dela."
"A tradicional concepção liberal de justiça (que podemos encontrar em autores clássicos como John Locke ou Adam Smith) organiza-se em torno dos seguintes princípios: os indivíduos prescindem do exercício da coerção privada para a delegarem no Estado, mas protegem-se da possível coerção excessiva do monopolizador legítimo dela criando uma esfera que ele não pode ultrapassar. Em John Locke, essa esfera tem o nome de "Propriedade" e não se limita à propriedade de bens materiais (já que inclui as tradicionais liberdades civis e políticas), mas compreende-a também. E dentro da propriedade de bens materiais, não se limita à propriedade da terra ou de uma empresa, mas inclui toda a forma de rendimentos legítimos. Para Locke, a propriedade é, acima de tudo, aquilo que o trabalho (a partir do nada, ou do mero potencial) transforma em riqueza. E é isso que cabe ao Estado proteger, i.e. a propriedade vista desta forma, ou seja, o trabalho criador. Não significa isto que o Estado (representando a "comunidade") se deixe de preocupar com aqueles que tentam criar riqueza mas a quem os azares da vida impedem de o conseguir. Deve, porém, servir apenas de amparo, em caso de queda, mais do que de garante universal de um rendimento individual. O Estado só pode ser esse garante se violar o seu princípio básico: o de protector da propriedade, pois só violando-a pode ele constituir-se em administrador dos fundos necessários ao fornecimento universal desse rendimento.
Ora, é o desrespeito pela tradicional "propriedade" liberal que marca o funcionamento do dito "modelo social europeu". Desse desrespeito resulta aquilo a que estamos assistindo: o crescimento da diferença na criação de riqueza entre a Europa e os EUA. Porque, como vimos, a tradicional concepção liberal de justiça associa esta ao mecanismo institucional que permite criar riqueza. Já a concepção do chamado "modelo social europeu" assenta na dissociação institucional entre a criação de riqueza e a realização da justiça. O que é defensável, mas convém ser assumido. E, ao ser assumido, convém saber se resulta: será que o preço a pagar em crescimento mais lento é justificado por uma maior igualdade social? Neste momento, sobre isso, tal como vejo as coisas e as estatísticas (mesmo nos próprios termos colocados pelos defensores do "modelo social europeu"), o júri ainda está fora da sala a deliberar.
Gostava de moderar um pouco a comparação transatlântica: nem os EUA são um paraíso liberal, nem a Europa é inteiramente um inferno iliberal. Mas, por agora, servem para o propósito comparativo. E servirão cada vez mais se a tendência dos últimos anos persistir nas próximas décadas. Como o processo de atraso da economia europeia é recente, talvez não sejam (por enquanto) visíveis diferenças de monta nos níveis de bem-estar deste e do outro lado do Atlântico - embora quem tenha viajado recentemente entre as duas margens note do lado de lá uma "aisance" que por vezes falha do lado de cá. Contudo, se o processo continuar sustentadamente no futuro, será que se vai abrir um fosso de desenvolvimento entre a Europa e os EUA? Será que a Europa se satisfaz por ter atingido uma espécie de "fim da história económica" ou, para utilizar uma linguagem que os economistas preferem, um "estado estacionário", onde o crescimento agregado da riqueza deixou de ser motivo de preocupação? E será que está a alcançar os objectivos de "justiça" que se propôs alcançar?
Convém notar que as "preocupações sociais" não estão ausentes da reflexão liberal. O que esta diz é que para as concretizar não se devem violar certos princípios constituintes da liberdade, como a propriedade, por exemplo. O que ela diz é que esses princípios deverão ser violados apenas com o consentimento dos seus detentores, não para promover a "igualdade de condições", mas para impedir a queda dos membros mais desafortunados da comunidade na destituição material. A concepção liberal de justiça aceita a desigualdade. O que não aceita é a miséria. É uma concepção de justiça. Não a ausência dela."
O ÚNICO GAJO QUE O PODIA EXPLICAR ACABOU DE MORRER
Falo, obviamente, de Derrida. Mas explicar o quê, perguntarão os mais ansiosos. Quereis saber? Aqui vai: a problemática da «primeira vez» na vida deste vosso criado.
Há mais de trinta anos que lido com esse anátema, com essa espécie de estigma que ciclicamente me assola e invariavelmente me empurra na direcção de Heraclito, mas sem resultados práticos (o devir não me é, de todo, satisfatório). O meu problema com a «primeira vez» está para a minha vida como as cuecas ‘fio dental’ do Castelo Branco estão para a televisão: não há explicação (agora, sem Derrida, irremediavelmente).
Nas horas que costumam preceder qualquer «primeira vez» (a primeira vez que conheço alguém, o primeiro jogo de um qualquer torneio de ténis, a primeira vez numa relação amorosa, a primeira vez que me dirijo a uma plateia, etc.), costumo olhar-me no espelho e acreditar-me confiante, descontraído, calmo mas determinado, contemplativo mas despreocupado. Por vezes, chego a falar comigo mesmo: “MacGuffin, meu caro, deixa-te de merdas. Lembra-te do que aprendeste com o Dale Carnegie, o Richard Bach e o Paulo Coelho”. Sempre que se proporciona, emborco o acidental gin tónico ao som do inevitável Chopin. Depois, parto. Parto esperançado que nem um Lleyton Hewitt, convencido que nem Schumacher, alegre que nem um Ronaldinho Gaúcho. O problema é que saio de lá vilipendiado que nem um João Cunha e Silva, aborrecido que nem um Lamy, acabrunhado que nem um Pinilha. E nem me atrevo a falar no durante até ao calvário final - período no qual as palavras se enleiam nas cordas vocais, a timidez não permite que uma única tirada veja a luz do dia, as perguntas acabam retidas para averiguações, por tempo obviamente indeterminado. E, last but not least, tudo isto com um sorriso de desespero estampado numa fácies já meio esverdeada de tanto transtorno. Sim, caríssimos leitores e amigos: um espectáculo indigno de se ver.
Há anos que sonho com uma experiência à Phil Connors/Bill Murray, ou seja, com a possibilidade de passar por uma «primeira vez» faz-de-conta, uma espécie de «volta de aquecimento», na qual eu ficaria a conhecer os meus interlocutores, o sítio e as condições climáticas, as minhas reacções a certas observações e olhares, i.e., todas as variáveis exógenas e endógenas que me permitissem, uma vez estudadas, voltar à normalidade, descer à terra, levar o mais do que justificado murro nas trombas, por via das dúvidas. Então sim: partiria como na realidade sou para a minha «segunda vez» («primeira vez» do ponto de vista dos outros desgraçados).
E o que me lixa é que, desta vez, eu nem sequer arranjei forças para explicar porque carga de água disse o que disse, ou seja, que o Casino é superior ao Goodfellas, para grande espanto (nalguns casos indignação) dos ilustres convivas e companheiros conspiradores. ‘Da-se!
Há mais de trinta anos que lido com esse anátema, com essa espécie de estigma que ciclicamente me assola e invariavelmente me empurra na direcção de Heraclito, mas sem resultados práticos (o devir não me é, de todo, satisfatório). O meu problema com a «primeira vez» está para a minha vida como as cuecas ‘fio dental’ do Castelo Branco estão para a televisão: não há explicação (agora, sem Derrida, irremediavelmente).
Nas horas que costumam preceder qualquer «primeira vez» (a primeira vez que conheço alguém, o primeiro jogo de um qualquer torneio de ténis, a primeira vez numa relação amorosa, a primeira vez que me dirijo a uma plateia, etc.), costumo olhar-me no espelho e acreditar-me confiante, descontraído, calmo mas determinado, contemplativo mas despreocupado. Por vezes, chego a falar comigo mesmo: “MacGuffin, meu caro, deixa-te de merdas. Lembra-te do que aprendeste com o Dale Carnegie, o Richard Bach e o Paulo Coelho”. Sempre que se proporciona, emborco o acidental gin tónico ao som do inevitável Chopin. Depois, parto. Parto esperançado que nem um Lleyton Hewitt, convencido que nem Schumacher, alegre que nem um Ronaldinho Gaúcho. O problema é que saio de lá vilipendiado que nem um João Cunha e Silva, aborrecido que nem um Lamy, acabrunhado que nem um Pinilha. E nem me atrevo a falar no durante até ao calvário final - período no qual as palavras se enleiam nas cordas vocais, a timidez não permite que uma única tirada veja a luz do dia, as perguntas acabam retidas para averiguações, por tempo obviamente indeterminado. E, last but not least, tudo isto com um sorriso de desespero estampado numa fácies já meio esverdeada de tanto transtorno. Sim, caríssimos leitores e amigos: um espectáculo indigno de se ver.
Há anos que sonho com uma experiência à Phil Connors/Bill Murray, ou seja, com a possibilidade de passar por uma «primeira vez» faz-de-conta, uma espécie de «volta de aquecimento», na qual eu ficaria a conhecer os meus interlocutores, o sítio e as condições climáticas, as minhas reacções a certas observações e olhares, i.e., todas as variáveis exógenas e endógenas que me permitissem, uma vez estudadas, voltar à normalidade, descer à terra, levar o mais do que justificado murro nas trombas, por via das dúvidas. Então sim: partiria como na realidade sou para a minha «segunda vez» («primeira vez» do ponto de vista dos outros desgraçados).
E o que me lixa é que, desta vez, eu nem sequer arranjei forças para explicar porque carga de água disse o que disse, ou seja, que o Casino é superior ao Goodfellas, para grande espanto (nalguns casos indignação) dos ilustres convivas e companheiros conspiradores. ‘Da-se!
domingo, outubro 10, 2004
DOS ENTAS
Parabéns ao Nuno!! Um grande abraço do Mac.
E, para comemorar, espero que acabes o dia de hoje assim, doing something illicit:
E, para comemorar, espero que acabes o dia de hoje assim, doing something illicit:
sábado, outubro 09, 2004
UM PAÍS ANORMAL
Só numa jovem e frágil democracia, onde a tradição liberal está pouco vincada e a consciência dos nossos direitos e garantias ainda se faz aos soluços; só num país ainda marcado pelos ecos do reverencial capachismo em torno das figuras de Estado; só numa sociedade suspensa do que diz ou não diz o senhor doutor; só assim se explica que uma calinada de um ministro – sim, uma asneira e um disparate – se possa equivaler a um «gravíssimo» acto de «pressão» sobre todos os portugueses, a uma manobra de censura sobre a comunicação social, ao prenúncio do fim do Estado de direito tal como o conhecemos.
Eis uma lição a retirar do «caso Marcelo»: somos um país de indignados, de virgens ofendidas, de florzinhas, para quem o exercício da liberdade ainda depende da aquiescência ou da indicação tácita de governos e governantes.
Num país normal, e partindo da hipótese perfeitamente plausível de que ninguém no governo tentou calar ninguém, num país normal, dizia, o ministro até podia fazer o pino ou berrar num megafone "Buááá! O comentador x é tão mauzinho para nós!": teria sido alvo de chacota e de sarcasmo na opinião pública e o primeiro-ministro limitar-se-ia a demiti-lo, por via das dúvidas e por via do embaraço. Mas não. Portugal não é um país normal. Em Portugal tinham de se vislumbrar nuvens negras sobre a democracia, ameaças directas ao «espírito de Abril», a incerteza face ao futuro. Em Portugal, o ministro não foi demitido, o comentador foi recebido pelo Presidente da República, o país inteiro vive suspenso do esclarecimento do comentador, que insiste em ficar calado. Ainda bem que vou a caminho de uma jantarada no Fialho.
Eis uma lição a retirar do «caso Marcelo»: somos um país de indignados, de virgens ofendidas, de florzinhas, para quem o exercício da liberdade ainda depende da aquiescência ou da indicação tácita de governos e governantes.
Num país normal, e partindo da hipótese perfeitamente plausível de que ninguém no governo tentou calar ninguém, num país normal, dizia, o ministro até podia fazer o pino ou berrar num megafone "Buááá! O comentador x é tão mauzinho para nós!": teria sido alvo de chacota e de sarcasmo na opinião pública e o primeiro-ministro limitar-se-ia a demiti-lo, por via das dúvidas e por via do embaraço. Mas não. Portugal não é um país normal. Em Portugal tinham de se vislumbrar nuvens negras sobre a democracia, ameaças directas ao «espírito de Abril», a incerteza face ao futuro. Em Portugal, o ministro não foi demitido, o comentador foi recebido pelo Presidente da República, o país inteiro vive suspenso do esclarecimento do comentador, que insiste em ficar calado. Ainda bem que vou a caminho de uma jantarada no Fialho.
TU TEM LÁ PACIÊNCIA!
Ó amigo Luis: já ninguém tem paciência para aturar a Bjork! (bom, pelo menos falo por mim e pelo velhote do Terras do Nunca...)
SIZE MATTERS
Interessante o texto de João Pereira Coutinho sobre as presidências nos EUA. Do alto dos meus 169,95 cm, já percebi que o meu futuro não passa por uma candidatura a presidente dos EUA. Como eu te compreendo, Marques Mendes...
O QUE DIREI EU
Este rapaz diz que "tem cara de puto". Está visto que ainda não me viu a "tromba" (private joke).
AUTOCENSURA
Enquanto Marcelo Rebelo de Sousa não falar, este blogue não voltará a tocar no incidente "Marcelo Sai Da TVI".
Adenda 1: Parece certo que, com a minha opinião sobre o caso Marcelo, acabei irremediavelmente: a) conotado a esse “bando de gente sem escrúpulos” (Santana Lopes e os santanistas); b) adepto da “falta de rigor” e da “absurdidade”; praticante da “politiquinha”; membro do grupo dos “cínicos”, incapazes de gritar contra “censura”; e por aí fora. De facto, triste país este em que vivemos.
Adenda 2: se se provar que Paes do Amaral encostou Marcelo Rebelo de Sousa à parede, da forma como, por exemplo, vem hoje descrita no Expresso (e cadê a fonte?), acho que Marcelo Rebelo de Sousa fez muito bem em retirar-se e que Paes do Amaral acaba muito mal na fotografia. Restará saber se este condicionou Marcelo por livre iniciativa, entendendo estar assim a defender os seus interesses particulares (o que sugere promiscuidade com o poder ou, no mínimo, total insensatez por parte do patrão da Media Capital) ou se o fez por ter sido pressionado/intimidado directamente por alguém do governo (situação ainda mais grave, a exigir o cabal apuramento de responsabilidades e a eventual intervenção de Jorge Sampaio).
Adenda 1: Parece certo que, com a minha opinião sobre o caso Marcelo, acabei irremediavelmente: a) conotado a esse “bando de gente sem escrúpulos” (Santana Lopes e os santanistas); b) adepto da “falta de rigor” e da “absurdidade”; praticante da “politiquinha”; membro do grupo dos “cínicos”, incapazes de gritar contra “censura”; e por aí fora. De facto, triste país este em que vivemos.
Adenda 2: se se provar que Paes do Amaral encostou Marcelo Rebelo de Sousa à parede, da forma como, por exemplo, vem hoje descrita no Expresso (e cadê a fonte?), acho que Marcelo Rebelo de Sousa fez muito bem em retirar-se e que Paes do Amaral acaba muito mal na fotografia. Restará saber se este condicionou Marcelo por livre iniciativa, entendendo estar assim a defender os seus interesses particulares (o que sugere promiscuidade com o poder ou, no mínimo, total insensatez por parte do patrão da Media Capital) ou se o fez por ter sido pressionado/intimidado directamente por alguém do governo (situação ainda mais grave, a exigir o cabal apuramento de responsabilidades e a eventual intervenção de Jorge Sampaio).
sexta-feira, outubro 08, 2004
DR. PACHECO PEREIRA: NÃO LEVE A MAL A MINHA ABSURDIDADE
Escreve Pacheco Pereira, no seu Abrupto: ”Uma das absurdidades que aqui se manifestam é a substituição do rigor, pela especiosidade, pela mania que nada se pode dizer, ou fazer antes de tudo se saber e, mesmo assim, se o que se sabe não serve, antes de se saber mais ainda. Esta espiral de precauções tem como único objectivo, não aceitar ou não querer tirar conclusões do que toda a gente afinal já sabe.
Vem isto a propósito da história das “pressões”. Querem-nos convencer que não se pode falar de pressões do governo sobre a TVI , sem a implausível comprovação pela TVI ou pelo governo. Bem podem esperar sentados. Nós, os comuns mortais, não precisamos de mais nada: “precipitamo-nos a tirar conclusões”, “com má fé”, porque quando um Ministro, próximo do Primeiro-ministro, um Ministro insisto, (ou isso não significa nada neste governo?), diz o que disse, não é preciso mais nada.
Em qualquer democracia o que ele fez são pressões. São pressões para Marcelo, são pressões para a Media Capital, são pressões para a AACS, são pressões para toda a gente, menos para os especiosos.
Ele não é um comentador, ele é o membro de um executivo. Executivo, reparem bem. Faz parte dos que mandam. Reparem bem. Não são só palavras, têm por trás a possibilidade de dar e de negar, de aprovar ou recusar, de fazer ou de desfazer, de empregar ou desempregar. É por isso que são pressões e não são inócuas.”
Que eu saiba, ninguém na blogosfera defendeu a lei da rolha, ou seja, o “não se pode dizer nada”. Que eu saiba, ninguém impediu ninguém de fazer o que quer que fosse, ou seja, o “nada fazer antes de tudo se saber”. Que eu saiba, ninguém acusou ninguém de “má-fé”. Que eu saiba, cada um é livre de dar a sua opinião, por mais «absurda» que seja. Lamento que Pacheco Pereira chame de «especioso» quem se recusa a comprar a tese da «Pressão & Censura» aplicada às infelizes declarações de um ministro. Lamento que Pacheco Pereira considere de «absurda» toda e qualquer opinião que não entenda como «pressão» as declarações do ministro – pressão que Pacheco Pereira acha que foi exercida sobre toda a gente: a Media Capital, a TVI, a AACS, o Prof. Rebelo de Sousa, o MacGuffin do Contra a Corrente, o JMF do Terras do Nunca, o Daniel Oliveira do Barnabé, o Sr. Ferrão dos jornais, a D. Alzira das fotocópias e o diabo a sete.
Pacheco Pereira lembra, dramaticamente, que o homem é “ministro”. Vejam bem “ministro”! Rui Gomes da Silva pode ser ministro, mas o exercício da liberdade de expressão e a consciência desse direito são superiores a qualquer governo. Já deveriamos estar carecas de saber isso. Rui Gomes da Silva podia ter-se imolado pelo fogo, que há direitos e garantias que nos permitiriam aproveitar o lume para assar castanhas. Todos devíamos saber isso antes de enveredarmos pela postura do «ofendidinho». Andamos muito sensíveis, por estes dias.
Ao contrário do que Pacheco Pereira pretende fazer crer, a questão não se resume, apenas, à existência, ou não, de «pressão» naquele tipo de declarações. São várias as questões: a) se as afirmações de Rui Gomes da Silva devem e podem ser entendidas como uma forma de pressão; b) se essa forma de pressão foi de tipo censório; c) se houve mais pressões de que não se teve conhecimento; d) se os intervenientes se sentiram pressionados pelas afirmações de Gomes da Silva; e) se as declarações justificavam, de per si, a saída de Marcelo Rebelo de Sousa do cargo de comentador (partindo do princípio de que Marcelo saiu contra a sua vontade); f) se o Eng. Paes do Amaral pressionou Marcelo Rebelo de Sousa, convidando-o a calar-se ou a sair; etc.
Se Pacheco Pereira me der licença e estiver na disposição de desculpar a minha «absurdidade», eu não acho que as declarações de Gomes da Silva (por quem, aliás, não tenho a mínima das simpatias) possam ser vistas como uma forma de «pressão». Não significa isso que eu concorde com o seu conteúdo (não concordo), com o seu tom (muito menos) ou com a postura complacente e amorfa de Santana Lopes nesta questão (também não).
Afinal de contas, o que disse Rui Gomes da Silva? 1.º) chamou Marcelo de mentiroso, acusando-o de destilar ódio sobre primeiro-ministro e de agir sem vergonha e com desfaçatez (afirmações deselegantes e despropositadas para um ministro); 2.º) apelou à AACS no sentido desta averiguar do cumprimento das regras (ou não há regras?) que asseguram um mínimo de pluralismo e de equilíbrio nos debates públicos (afirmação ainda assim imprudente para um Ministro dos Assuntos Parlamentares, para além de requentada). Perante isto, Pacheco Pereira pode achar que não cabe ao ministro dizer o que disse. Concordo. Pacheco Pereira pode achar que foram afirmações excessivas, a roçar a má educação. Concordo. Pacheco Pereira pode achar que não são dignas de um ministro. Mais uma vez, concordo. Pacheco pode dizer que aquelas afirmações, por si só, constituem uma forma de «pressão». Está no seu direito mas, neste caso, discordo. Se fossem uma forma de «pressão» censória, Alberto João Jardim já estaria preso e o Presidente da República (que há uns tempos atrás criticava em tom menos assanhado o modelo de comentário adoptado na TVI) teria no seu currículo uma tentativa de «pressão» do mesmo tipo. E, repare-se, eu nem discordo do modelo adoptado pela TVI.
Resta-nos, por isso, esperar. Quer Pacheco Pereira queira, quer não, há muita coisa por esclarecer. Resta saber se Marcelo foi pressionado. Resta saber se a Media Capital e a TVI foram pressionadas e, se o foram, se pressionaram Marcelo e como o pressionaram. Resta saber se as razões invocadas por Marcelo são razoáveis (leia-se «satisfatórias» no sentido de confirmarem a suposta «gravidade» da situação); e resta saber se, nos bastidores, houve ou não censura activa e/ou passiva. É aqui que, mais tarde ou mais cedo, Marcelo Rebelo de Sousa vai ter de entrar. Para já, e tendo em conta o comunicado de Eduardo Moniz na TVI, a estação nega ter exercido qualquer tipo de pressão sobre Marcelo. Fica a dúvida se foram pressionados nesse sentido.
Vem isto a propósito da história das “pressões”. Querem-nos convencer que não se pode falar de pressões do governo sobre a TVI , sem a implausível comprovação pela TVI ou pelo governo. Bem podem esperar sentados. Nós, os comuns mortais, não precisamos de mais nada: “precipitamo-nos a tirar conclusões”, “com má fé”, porque quando um Ministro, próximo do Primeiro-ministro, um Ministro insisto, (ou isso não significa nada neste governo?), diz o que disse, não é preciso mais nada.
Em qualquer democracia o que ele fez são pressões. São pressões para Marcelo, são pressões para a Media Capital, são pressões para a AACS, são pressões para toda a gente, menos para os especiosos.
Ele não é um comentador, ele é o membro de um executivo. Executivo, reparem bem. Faz parte dos que mandam. Reparem bem. Não são só palavras, têm por trás a possibilidade de dar e de negar, de aprovar ou recusar, de fazer ou de desfazer, de empregar ou desempregar. É por isso que são pressões e não são inócuas.”
Que eu saiba, ninguém na blogosfera defendeu a lei da rolha, ou seja, o “não se pode dizer nada”. Que eu saiba, ninguém impediu ninguém de fazer o que quer que fosse, ou seja, o “nada fazer antes de tudo se saber”. Que eu saiba, ninguém acusou ninguém de “má-fé”. Que eu saiba, cada um é livre de dar a sua opinião, por mais «absurda» que seja. Lamento que Pacheco Pereira chame de «especioso» quem se recusa a comprar a tese da «Pressão & Censura» aplicada às infelizes declarações de um ministro. Lamento que Pacheco Pereira considere de «absurda» toda e qualquer opinião que não entenda como «pressão» as declarações do ministro – pressão que Pacheco Pereira acha que foi exercida sobre toda a gente: a Media Capital, a TVI, a AACS, o Prof. Rebelo de Sousa, o MacGuffin do Contra a Corrente, o JMF do Terras do Nunca, o Daniel Oliveira do Barnabé, o Sr. Ferrão dos jornais, a D. Alzira das fotocópias e o diabo a sete.
Pacheco Pereira lembra, dramaticamente, que o homem é “ministro”. Vejam bem “ministro”! Rui Gomes da Silva pode ser ministro, mas o exercício da liberdade de expressão e a consciência desse direito são superiores a qualquer governo. Já deveriamos estar carecas de saber isso. Rui Gomes da Silva podia ter-se imolado pelo fogo, que há direitos e garantias que nos permitiriam aproveitar o lume para assar castanhas. Todos devíamos saber isso antes de enveredarmos pela postura do «ofendidinho». Andamos muito sensíveis, por estes dias.
Ao contrário do que Pacheco Pereira pretende fazer crer, a questão não se resume, apenas, à existência, ou não, de «pressão» naquele tipo de declarações. São várias as questões: a) se as afirmações de Rui Gomes da Silva devem e podem ser entendidas como uma forma de pressão; b) se essa forma de pressão foi de tipo censório; c) se houve mais pressões de que não se teve conhecimento; d) se os intervenientes se sentiram pressionados pelas afirmações de Gomes da Silva; e) se as declarações justificavam, de per si, a saída de Marcelo Rebelo de Sousa do cargo de comentador (partindo do princípio de que Marcelo saiu contra a sua vontade); f) se o Eng. Paes do Amaral pressionou Marcelo Rebelo de Sousa, convidando-o a calar-se ou a sair; etc.
Se Pacheco Pereira me der licença e estiver na disposição de desculpar a minha «absurdidade», eu não acho que as declarações de Gomes da Silva (por quem, aliás, não tenho a mínima das simpatias) possam ser vistas como uma forma de «pressão». Não significa isso que eu concorde com o seu conteúdo (não concordo), com o seu tom (muito menos) ou com a postura complacente e amorfa de Santana Lopes nesta questão (também não).
Afinal de contas, o que disse Rui Gomes da Silva? 1.º) chamou Marcelo de mentiroso, acusando-o de destilar ódio sobre primeiro-ministro e de agir sem vergonha e com desfaçatez (afirmações deselegantes e despropositadas para um ministro); 2.º) apelou à AACS no sentido desta averiguar do cumprimento das regras (ou não há regras?) que asseguram um mínimo de pluralismo e de equilíbrio nos debates públicos (afirmação ainda assim imprudente para um Ministro dos Assuntos Parlamentares, para além de requentada). Perante isto, Pacheco Pereira pode achar que não cabe ao ministro dizer o que disse. Concordo. Pacheco Pereira pode achar que foram afirmações excessivas, a roçar a má educação. Concordo. Pacheco Pereira pode achar que não são dignas de um ministro. Mais uma vez, concordo. Pacheco pode dizer que aquelas afirmações, por si só, constituem uma forma de «pressão». Está no seu direito mas, neste caso, discordo. Se fossem uma forma de «pressão» censória, Alberto João Jardim já estaria preso e o Presidente da República (que há uns tempos atrás criticava em tom menos assanhado o modelo de comentário adoptado na TVI) teria no seu currículo uma tentativa de «pressão» do mesmo tipo. E, repare-se, eu nem discordo do modelo adoptado pela TVI.
Resta-nos, por isso, esperar. Quer Pacheco Pereira queira, quer não, há muita coisa por esclarecer. Resta saber se Marcelo foi pressionado. Resta saber se a Media Capital e a TVI foram pressionadas e, se o foram, se pressionaram Marcelo e como o pressionaram. Resta saber se as razões invocadas por Marcelo são razoáveis (leia-se «satisfatórias» no sentido de confirmarem a suposta «gravidade» da situação); e resta saber se, nos bastidores, houve ou não censura activa e/ou passiva. É aqui que, mais tarde ou mais cedo, Marcelo Rebelo de Sousa vai ter de entrar. Para já, e tendo em conta o comunicado de Eduardo Moniz na TVI, a estação nega ter exercido qualquer tipo de pressão sobre Marcelo. Fica a dúvida se foram pressionados nesse sentido.
AH POIS PASSA
O blogue Conta Natura regressa em força. A equipa mete respeito. “Os objectivos são os mesmos (a biologia vista de todos os ângulos), só que com dinâmica de grupo”. Passa obrigatoriamente a ser “cá de casa”.
DEPOIS EU É QUE ASSOBIO PARA O LADO...
Eu juro que ainda vou descobrir que tipo de substâncias alucinogénias envolvem, de vez em quando, as little grey cells do produtor, realizador e actor do Terras do Nunca - para além da infeliz divertida constatação de que ele se dedica ao Contra a Corrente nas alturas em que está mais high, colocando-me invariavelmente low quando lê o que não está escrito e tenta alcançar o incognoscível.
Na expectativa de ele estar, por agora, mais sóbrio, gostaria de explicar o meu post. Eu não escrevi que “a bandalheira que assola o país não tem salvação por causa das Novas Fronteiras” do Eng. Sócrates. O que eu escrevi é que, dada a piroseira da expressão “Novas Fronteiras”, a qual insinua a mais do que notória paranóia de Sócrates pelas novas tecnologias (obsessão que faz todo o sentido num país com estradas que parecem caminhos de cabras, escolas a meter água no Inverno, bibliotecas públicas a desfazerem-se, um rácio de museus per capita parecido ao da Albânia, e por aí fora), não me parece que a “bandalheira actual” possa vir a ser substituída pela “ordem e seriedade futuras”, forjadas na montanha do homo socraticus.
Vá lá, JMF, não assobies tu para o lado. E olha que essa merda cria dependência. A propósito de dependência, já ouviste os Kings Of Convenience?
Na expectativa de ele estar, por agora, mais sóbrio, gostaria de explicar o meu post. Eu não escrevi que “a bandalheira que assola o país não tem salvação por causa das Novas Fronteiras” do Eng. Sócrates. O que eu escrevi é que, dada a piroseira da expressão “Novas Fronteiras”, a qual insinua a mais do que notória paranóia de Sócrates pelas novas tecnologias (obsessão que faz todo o sentido num país com estradas que parecem caminhos de cabras, escolas a meter água no Inverno, bibliotecas públicas a desfazerem-se, um rácio de museus per capita parecido ao da Albânia, e por aí fora), não me parece que a “bandalheira actual” possa vir a ser substituída pela “ordem e seriedade futuras”, forjadas na montanha do homo socraticus.
Vá lá, JMF, não assobies tu para o lado. E olha que essa merda cria dependência. A propósito de dependência, já ouviste os Kings Of Convenience?
O PIGLET E O IGOR
O JMF tem razão: o “ninguém está a imaginar” é excessivo. Neste país, há sempre alguém a imaginar qualquer coisa. O que é bom porque, às tantas, acerta-se. Até lá, percorrem-se as mil e uma teorias da conspiração. Veja-se, por exemplo, o caso do inefável Luis Osório, para quem este caso se insere numa estratégia de terra queimada engendrada por Pedro Santana Lopes para destruir o governo e sair dos escombros como vitima e herói. De facto, há sempre alguém.
De resto, eu até dou de barato que o Dr. Paes do Amaral tenha dito ao tio Marcelo “Ó tio, modere-se lá, se faz favor. Olhe que estes tipos da Alta Autoridade são lixados e eu até quero manter as melhores relações com o poder” (comentário circunstancial perfeitamente normal, ou pensarão V. Exas. que estas coisas não se falam? Em que mundo é que vivem?). Mas se isto é censura, eu sou o Piglet e o JMF o Igor.
E já agora, caro JMF, se não for pedir muito, agradecia que o meu amigo, ao retirar frases do contexto, tentasse, ao menos, abarcar o sentido do parágrafo. É que logo a seguir ao “Ninguém está a imaginar o Dr. Paes do Amaral, presidente de um grupo privado, a ceder a eventuais pressões de membros do governo no sentido de despedir o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa da cadeira de comentador” estava escrito: “Seria o cúmulo da insensatez de uns e de outros”.
De resto, eu até dou de barato que o Dr. Paes do Amaral tenha dito ao tio Marcelo “Ó tio, modere-se lá, se faz favor. Olhe que estes tipos da Alta Autoridade são lixados e eu até quero manter as melhores relações com o poder” (comentário circunstancial perfeitamente normal, ou pensarão V. Exas. que estas coisas não se falam? Em que mundo é que vivem?). Mas se isto é censura, eu sou o Piglet e o JMF o Igor.
E já agora, caro JMF, se não for pedir muito, agradecia que o meu amigo, ao retirar frases do contexto, tentasse, ao menos, abarcar o sentido do parágrafo. É que logo a seguir ao “Ninguém está a imaginar o Dr. Paes do Amaral, presidente de um grupo privado, a ceder a eventuais pressões de membros do governo no sentido de despedir o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa da cadeira de comentador” estava escrito: “Seria o cúmulo da insensatez de uns e de outros”.
quinta-feira, outubro 07, 2004
CORREIO
De R. Camilo recebi a seguinte missiva:
“Com o seu post sobre Marcelo Rebelo de Sousa, V.Exa. mostrou de vez que é mais papista que o papa. Ou seja, defende cegamente tudo que cheire vagamente a 'direita', não interessa quem seja ou o que pense. Basta que esteja mais à direita que o outro lado! Ainda vamos ver um post a defender as declarações de Rui Gomes da Silva...
Atentamente,
RC”
Camilo, leitor amigo, acalme-se: o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa e o Dr. Gomes da Silva são livres de dizer o que quiserem. No que respeita às declarações de Gomes da Silva, considerei-as “desastradas e estapafúrdias” (quer o quê: que mate o homem?). Quanto à atitude de Marcelo Rebelo de Sousa, acho-a pouco ou nada inocente (partindo do pressuposto, mais do que provável, de que não houve censura). Lembre-se, leitor Camilo: Marcelo Rebelo de Sousa é Marcelo Rebelo de Sousa.
Se o objectivo de Gomes da Silva é o de se imiscuir, a título particular ou na qualidade de ministro, no exercício da liberdade de expressão de um comentador, ou no rumo editorial de uma estação de televisão privada, passarei a achar essa conduta inaceitável e patética. Se o objectivo de Gomes da Silva é o de chamar a atenção para alguma falta de pluralidade, e até de deslealdade, face ao modelo adoptado na TVI (comentário em registo de monólogo), não vejo mal ao mundo que assim seja, embora, repito, me pareçam declarações excessivas (não só porque se trata de um canal privado, mas também porque no tempo em que Marcelo era simpático para com o governo de Barroso ninguém se queixou de falta de pluralismo).
Por outro lado, não posso deixar de concordar com Marcelo na crítica que faz ao governo sobre a questão das «pontes», embora pense que as declarações da discórdia digam respeito a outra questão, na qual Marcelo afirma ”O ‘Expresso’ não diz que existe um acordo pré-eleitoral (...), mas sim que tinham uma combinação para juntarem os dois partidos numa coligação, independentemente do resultado das eleições. A informação foi desmentida pelo secretário-geral do PSD, Miguel Relvas, e pelo líder do PP, Paulo Portas, mas quem ler a notícia com rigor só poderá chegar à conclusão que foi uma fonte “muito alta” do PSD a transmitir este tipo de informação” - declarações, aliás, típicas de um fazedor nato de factos políticos chamado Marcelo Rebelo de Sousa.
De resto, ninguém é intocável. Nem o Prof. Rebelo de Sousa. Nem o Dr. Gomes da Silva.
Estamos entendidos, estimado leitor?
“Com o seu post sobre Marcelo Rebelo de Sousa, V.Exa. mostrou de vez que é mais papista que o papa. Ou seja, defende cegamente tudo que cheire vagamente a 'direita', não interessa quem seja ou o que pense. Basta que esteja mais à direita que o outro lado! Ainda vamos ver um post a defender as declarações de Rui Gomes da Silva...
Atentamente,
RC”
Camilo, leitor amigo, acalme-se: o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa e o Dr. Gomes da Silva são livres de dizer o que quiserem. No que respeita às declarações de Gomes da Silva, considerei-as “desastradas e estapafúrdias” (quer o quê: que mate o homem?). Quanto à atitude de Marcelo Rebelo de Sousa, acho-a pouco ou nada inocente (partindo do pressuposto, mais do que provável, de que não houve censura). Lembre-se, leitor Camilo: Marcelo Rebelo de Sousa é Marcelo Rebelo de Sousa.
Se o objectivo de Gomes da Silva é o de se imiscuir, a título particular ou na qualidade de ministro, no exercício da liberdade de expressão de um comentador, ou no rumo editorial de uma estação de televisão privada, passarei a achar essa conduta inaceitável e patética. Se o objectivo de Gomes da Silva é o de chamar a atenção para alguma falta de pluralidade, e até de deslealdade, face ao modelo adoptado na TVI (comentário em registo de monólogo), não vejo mal ao mundo que assim seja, embora, repito, me pareçam declarações excessivas (não só porque se trata de um canal privado, mas também porque no tempo em que Marcelo era simpático para com o governo de Barroso ninguém se queixou de falta de pluralismo).
Por outro lado, não posso deixar de concordar com Marcelo na crítica que faz ao governo sobre a questão das «pontes», embora pense que as declarações da discórdia digam respeito a outra questão, na qual Marcelo afirma ”O ‘Expresso’ não diz que existe um acordo pré-eleitoral (...), mas sim que tinham uma combinação para juntarem os dois partidos numa coligação, independentemente do resultado das eleições. A informação foi desmentida pelo secretário-geral do PSD, Miguel Relvas, e pelo líder do PP, Paulo Portas, mas quem ler a notícia com rigor só poderá chegar à conclusão que foi uma fonte “muito alta” do PSD a transmitir este tipo de informação” - declarações, aliás, típicas de um fazedor nato de factos políticos chamado Marcelo Rebelo de Sousa.
De resto, ninguém é intocável. Nem o Prof. Rebelo de Sousa. Nem o Dr. Gomes da Silva.
Estamos entendidos, estimado leitor?
NÃO VAI LÁ
No dia em que Morais Sarmento anunciou a «ponte», e com Sócrates a arredondar o discurso, percebi que Portugal não vai lá.
"Novas Fronteiras"? Está bem, Abelha...
"Novas Fronteiras"? Está bem, Abelha...
UMA QUESTÃO DE CONVENIÊNCIA
Se ainda não o disse, digo-o agora: o álbum Riot On An Empty Street, dos Kings Of Convenience, é das coisas mais frescas e apetitosas que a pop produziu este ano. E tem mais: por causa dele voltei a, preparem-se, Colossal Youth dos Young Marble Giants (vá se lá saber porquê).
CALMA, MUITA CALMA
E pronto: Portugal vive mais um momento de comoção. A oposição (que, no caso do governo de Santana, é todo o espectro político), já vislumbrou um encadeamento de acontecimentos que provam, à saciedade, tratar-se de um ímpio caso de censura. Ou seja, ainda ninguém sabe ao certo o que se terá passado, mas o bom e velho swing dos aproveitamentos políticos, das indignações e desmaios e das virgens ofendidas, não se fez esperar.
Se formos minimamente objectivos (e eu não estou a pedir muito), depressa chegaremos à conclusão de que a tese da “censura” é a menos verosímil. Não digo que seja impossível, mas é, seguramente, a menos provável. Ninguém está a imaginar o Dr. Paes do Amaral, presidente de um grupo privado, a ceder a eventuais pressões de membros do governo no sentido de despedir o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa da cadeira de comentador. Seria o cúmulo da insensatez de uns e de outros. Nem sequer estou a ver o Prof. Marcelo a sucumbir a pressões directas de colegas seus de partido.
Por outro lado, Marcelo Rebelo de Sousa não é propriamente um santinho. Sabe o que diz e sabe o que faz. Estamos a falar de um político experiente, habituado a dar e a receber pontapés bem mais certeiros. Ao longo de mais de quatro anos no posto de comentador político (que a oposição agora venera e antes detestava), Marcelo Rebelo de Sousa ter-se-á habituado aos mais diversos epítetos - embora, provavelmente, não tão desastrados e estapafúrdios como os agora proferidos por essa enigmática figura que dá pelo nome de Rui Gomes da Silva (que se esqueceu que Santana Lopes andou na SIC a fazer o mesmo tipo de comentários sem pingo de «contraditório»). Ou seja, podemos estar na presença de um excesso de arrebatamento afectivo por parte de Marcelo Rebelo de Sousa. Resta saber com que objectivos.
As únicas pessoas que poderão desvendar o mistério chamam-se Paes do Amaral e Marcelo Rebelo de Sousa. O primeiro já disse que a ideia de “censura” é ridícula (e eu estou tentado a concordar). O segundo vai ter de falar, mais tarde ou mais cedo, para sossegar o povo numa altura em que perde a sua homilia dominical (momento televisivo, aliás, único no mundo).
Quer-me parecer que se trata de mais um intricado caso, tipicamente português, de much ado about nothing. Ou seja, o Prof. Marcelo terá ficado leve, mediana ou fortemente ofendido, aproveitando a situação para tirar umas férias, atingindo, en passant, o seu «amigo» Santana e criando espaço para novas lutas de poleiro no seio do PSD. Vai uma aposta?
Se formos minimamente objectivos (e eu não estou a pedir muito), depressa chegaremos à conclusão de que a tese da “censura” é a menos verosímil. Não digo que seja impossível, mas é, seguramente, a menos provável. Ninguém está a imaginar o Dr. Paes do Amaral, presidente de um grupo privado, a ceder a eventuais pressões de membros do governo no sentido de despedir o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa da cadeira de comentador. Seria o cúmulo da insensatez de uns e de outros. Nem sequer estou a ver o Prof. Marcelo a sucumbir a pressões directas de colegas seus de partido.
Por outro lado, Marcelo Rebelo de Sousa não é propriamente um santinho. Sabe o que diz e sabe o que faz. Estamos a falar de um político experiente, habituado a dar e a receber pontapés bem mais certeiros. Ao longo de mais de quatro anos no posto de comentador político (que a oposição agora venera e antes detestava), Marcelo Rebelo de Sousa ter-se-á habituado aos mais diversos epítetos - embora, provavelmente, não tão desastrados e estapafúrdios como os agora proferidos por essa enigmática figura que dá pelo nome de Rui Gomes da Silva (que se esqueceu que Santana Lopes andou na SIC a fazer o mesmo tipo de comentários sem pingo de «contraditório»). Ou seja, podemos estar na presença de um excesso de arrebatamento afectivo por parte de Marcelo Rebelo de Sousa. Resta saber com que objectivos.
As únicas pessoas que poderão desvendar o mistério chamam-se Paes do Amaral e Marcelo Rebelo de Sousa. O primeiro já disse que a ideia de “censura” é ridícula (e eu estou tentado a concordar). O segundo vai ter de falar, mais tarde ou mais cedo, para sossegar o povo numa altura em que perde a sua homilia dominical (momento televisivo, aliás, único no mundo).
Quer-me parecer que se trata de mais um intricado caso, tipicamente português, de much ado about nothing. Ou seja, o Prof. Marcelo terá ficado leve, mediana ou fortemente ofendido, aproveitando a situação para tirar umas férias, atingindo, en passant, o seu «amigo» Santana e criando espaço para novas lutas de poleiro no seio do PSD. Vai uma aposta?
quarta-feira, outubro 06, 2004
ELE HÁ COISAS
Uma das 28 razões que explicam a perene permanência do duplo vinil The Frank Sinatra Collection (compilação da riquíssima nata capitoliana, editada em Portugal pela Valentim de Carvalho) no gira-discos cá de casa, chama-se You Go To My Head - sublime canção de Haven Gillespie e Fred Coots que o Sr. Francisco Alberto terá gravado entre 1945 e 1960 para a já referida Capitol. Já comprei mil e uma compilações em CD e, até à data, não voltei a encontrar a dita canção na voz da Voz. O que me lixa sobremaneira, porque a versão de Sinatra de You Go To My Head (canção mais porteriana das não escritas por Porter) fez dela uma das canções da minha vida.
Alguém sabe de algum cêdê que contenha esta pérola?
You Go To My Head
Words & Music by Haven Gillespie & J. Fred Coots
You go to my head
You go to my head,
And you linger like a haunting refrain
And I find you spinning round in my brain
Like the bubbles in a glass of champagne.
You go to my head
Like a sip of sparkling burgundy brew
And I find the very mention of you
Like the kicker in a julep or two.
The thrill of the thought
That you might give a thought
To my plea casts a spell over me
Still I say to myself: get a hold of yourself
Can't you see that it can never be?
You go to my head
With smile that makes my temperature rise
Like a summer with a thousand Julys
You intoxicate my soul with your eyes
Tho I'm certain that this heart of mine
Hasn't a ghost of a chance in this crazy romance,
You go to my head.
Alguém sabe de algum cêdê que contenha esta pérola?
You Go To My Head
Words & Music by Haven Gillespie & J. Fred Coots
You go to my head
You go to my head,
And you linger like a haunting refrain
And I find you spinning round in my brain
Like the bubbles in a glass of champagne.
You go to my head
Like a sip of sparkling burgundy brew
And I find the very mention of you
Like the kicker in a julep or two.
The thrill of the thought
That you might give a thought
To my plea casts a spell over me
Still I say to myself: get a hold of yourself
Can't you see that it can never be?
You go to my head
With smile that makes my temperature rise
Like a summer with a thousand Julys
You intoxicate my soul with your eyes
Tho I'm certain that this heart of mine
Hasn't a ghost of a chance in this crazy romance,
You go to my head.