O MacGuffin: DR. PACHECO PEREIRA: NÃO LEVE A MAL A MINHA ABSURDIDADE

sexta-feira, outubro 08, 2004

DR. PACHECO PEREIRA: NÃO LEVE A MAL A MINHA ABSURDIDADE

Escreve Pacheco Pereira, no seu Abrupto: ”Uma das absurdidades que aqui se manifestam é a substituição do rigor, pela especiosidade, pela mania que nada se pode dizer, ou fazer antes de tudo se saber e, mesmo assim, se o que se sabe não serve, antes de se saber mais ainda. Esta espiral de precauções tem como único objectivo, não aceitar ou não querer tirar conclusões do que toda a gente afinal já sabe.
Vem isto a propósito da história das “pressões”. Querem-nos convencer que não se pode falar de pressões do governo sobre a TVI , sem a implausível comprovação pela TVI ou pelo governo. Bem podem esperar sentados. Nós, os comuns mortais, não precisamos de mais nada: “precipitamo-nos a tirar conclusões”, “com má fé”, porque quando um Ministro, próximo do Primeiro-ministro, um Ministro insisto, (ou isso não significa nada neste governo?), diz o que disse, não é preciso mais nada.
Em qualquer democracia o que ele fez são pressões. São pressões para Marcelo, são pressões para a Media Capital, são pressões para a AACS, são pressões para toda a gente, menos para os especiosos.
Ele não é um comentador, ele é o membro de um executivo. Executivo, reparem bem. Faz parte dos que mandam. Reparem bem. Não são só palavras, têm por trás a possibilidade de dar e de negar, de aprovar ou recusar, de fazer ou de desfazer, de empregar ou desempregar. É por isso que são pressões e não são inócuas.”


Que eu saiba, ninguém na blogosfera defendeu a lei da rolha, ou seja, o “não se pode dizer nada”. Que eu saiba, ninguém impediu ninguém de fazer o que quer que fosse, ou seja, o “nada fazer antes de tudo se saber”. Que eu saiba, ninguém acusou ninguém de “má-fé”. Que eu saiba, cada um é livre de dar a sua opinião, por mais «absurda» que seja. Lamento que Pacheco Pereira chame de «especioso» quem se recusa a comprar a tese da «Pressão & Censura» aplicada às infelizes declarações de um ministro. Lamento que Pacheco Pereira considere de «absurda» toda e qualquer opinião que não entenda como «pressão» as declarações do ministro – pressão que Pacheco Pereira acha que foi exercida sobre toda a gente: a Media Capital, a TVI, a AACS, o Prof. Rebelo de Sousa, o MacGuffin do Contra a Corrente, o JMF do Terras do Nunca, o Daniel Oliveira do Barnabé, o Sr. Ferrão dos jornais, a D. Alzira das fotocópias e o diabo a sete.

Pacheco Pereira lembra, dramaticamente, que o homem é “ministro”. Vejam bem “ministro”! Rui Gomes da Silva pode ser ministro, mas o exercício da liberdade de expressão e a consciência desse direito são superiores a qualquer governo. Já deveriamos estar carecas de saber isso. Rui Gomes da Silva podia ter-se imolado pelo fogo, que há direitos e garantias que nos permitiriam aproveitar o lume para assar castanhas. Todos devíamos saber isso antes de enveredarmos pela postura do «ofendidinho». Andamos muito sensíveis, por estes dias.

Ao contrário do que Pacheco Pereira pretende fazer crer, a questão não se resume, apenas, à existência, ou não, de «pressão» naquele tipo de declarações. São várias as questões: a) se as afirmações de Rui Gomes da Silva devem e podem ser entendidas como uma forma de pressão; b) se essa forma de pressão foi de tipo censório; c) se houve mais pressões de que não se teve conhecimento; d) se os intervenientes se sentiram pressionados pelas afirmações de Gomes da Silva; e) se as declarações justificavam, de per si, a saída de Marcelo Rebelo de Sousa do cargo de comentador (partindo do princípio de que Marcelo saiu contra a sua vontade); f) se o Eng. Paes do Amaral pressionou Marcelo Rebelo de Sousa, convidando-o a calar-se ou a sair; etc.

Se Pacheco Pereira me der licença e estiver na disposição de desculpar a minha «absurdidade», eu não acho que as declarações de Gomes da Silva (por quem, aliás, não tenho a mínima das simpatias) possam ser vistas como uma forma de «pressão». Não significa isso que eu concorde com o seu conteúdo (não concordo), com o seu tom (muito menos) ou com a postura complacente e amorfa de Santana Lopes nesta questão (também não).

Afinal de contas, o que disse Rui Gomes da Silva? 1.º) chamou Marcelo de mentiroso, acusando-o de destilar ódio sobre primeiro-ministro e de agir sem vergonha e com desfaçatez (afirmações deselegantes e despropositadas para um ministro); 2.º) apelou à AACS no sentido desta averiguar do cumprimento das regras (ou não há regras?) que asseguram um mínimo de pluralismo e de equilíbrio nos debates públicos (afirmação ainda assim imprudente para um Ministro dos Assuntos Parlamentares, para além de requentada). Perante isto, Pacheco Pereira pode achar que não cabe ao ministro dizer o que disse. Concordo. Pacheco Pereira pode achar que foram afirmações excessivas, a roçar a má educação. Concordo. Pacheco Pereira pode achar que não são dignas de um ministro. Mais uma vez, concordo. Pacheco pode dizer que aquelas afirmações, por si só, constituem uma forma de «pressão». Está no seu direito mas, neste caso, discordo. Se fossem uma forma de «pressão» censória, Alberto João Jardim já estaria preso e o Presidente da República (que há uns tempos atrás criticava em tom menos assanhado o modelo de comentário adoptado na TVI) teria no seu currículo uma tentativa de «pressão» do mesmo tipo. E, repare-se, eu nem discordo do modelo adoptado pela TVI.

Resta-nos, por isso, esperar. Quer Pacheco Pereira queira, quer não, há muita coisa por esclarecer. Resta saber se Marcelo foi pressionado. Resta saber se a Media Capital e a TVI foram pressionadas e, se o foram, se pressionaram Marcelo e como o pressionaram. Resta saber se as razões invocadas por Marcelo são razoáveis (leia-se «satisfatórias» no sentido de confirmarem a suposta «gravidade» da situação); e resta saber se, nos bastidores, houve ou não censura activa e/ou passiva. É aqui que, mais tarde ou mais cedo, Marcelo Rebelo de Sousa vai ter de entrar. Para já, e tendo em conta o comunicado de Eduardo Moniz na TVI, a estação nega ter exercido qualquer tipo de pressão sobre Marcelo. Fica a dúvida se foram pressionados nesse sentido.

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