UM PAÍS ANORMAL
Só numa jovem e frágil democracia, onde a tradição liberal está pouco vincada e a consciência dos nossos direitos e garantias ainda se faz aos soluços; só num país ainda marcado pelos ecos do reverencial capachismo em torno das figuras de Estado; só numa sociedade suspensa do que diz ou não diz o senhor doutor; só assim se explica que uma calinada de um ministro – sim, uma asneira e um disparate – se possa equivaler a um «gravíssimo» acto de «pressão» sobre todos os portugueses, a uma manobra de censura sobre a comunicação social, ao prenúncio do fim do Estado de direito tal como o conhecemos.
Eis uma lição a retirar do «caso Marcelo»: somos um país de indignados, de virgens ofendidas, de florzinhas, para quem o exercício da liberdade ainda depende da aquiescência ou da indicação tácita de governos e governantes.
Num país normal, e partindo da hipótese perfeitamente plausível de que ninguém no governo tentou calar ninguém, num país normal, dizia, o ministro até podia fazer o pino ou berrar num megafone "Buááá! O comentador x é tão mauzinho para nós!": teria sido alvo de chacota e de sarcasmo na opinião pública e o primeiro-ministro limitar-se-ia a demiti-lo, por via das dúvidas e por via do embaraço. Mas não. Portugal não é um país normal. Em Portugal tinham de se vislumbrar nuvens negras sobre a democracia, ameaças directas ao «espírito de Abril», a incerteza face ao futuro. Em Portugal, o ministro não foi demitido, o comentador foi recebido pelo Presidente da República, o país inteiro vive suspenso do esclarecimento do comentador, que insiste em ficar calado. Ainda bem que vou a caminho de uma jantarada no Fialho.
Eis uma lição a retirar do «caso Marcelo»: somos um país de indignados, de virgens ofendidas, de florzinhas, para quem o exercício da liberdade ainda depende da aquiescência ou da indicação tácita de governos e governantes.
Num país normal, e partindo da hipótese perfeitamente plausível de que ninguém no governo tentou calar ninguém, num país normal, dizia, o ministro até podia fazer o pino ou berrar num megafone "Buááá! O comentador x é tão mauzinho para nós!": teria sido alvo de chacota e de sarcasmo na opinião pública e o primeiro-ministro limitar-se-ia a demiti-lo, por via das dúvidas e por via do embaraço. Mas não. Portugal não é um país normal. Em Portugal tinham de se vislumbrar nuvens negras sobre a democracia, ameaças directas ao «espírito de Abril», a incerteza face ao futuro. Em Portugal, o ministro não foi demitido, o comentador foi recebido pelo Presidente da República, o país inteiro vive suspenso do esclarecimento do comentador, que insiste em ficar calado. Ainda bem que vou a caminho de uma jantarada no Fialho.
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