Adivinha: qual foi a única força partidária espanhola ausente na manifestação da semana passada, em Madrid, contra o regime de Fidel Castro? Não chegam lá? Eu dou uma ajuda: IU..... Não, não foi a IURD. Foi a Izquierda Unida. Para quem a morte de um inocente civil cubano, às mãos 'del' comandante, vale incomensuravelmente menos que a morte de um civil no Iraque. Que digo: em Cuba já não há inocentes. Obviamente!
terça-feira, abril 29, 2003
OBVIAMENTE
Adivinha: qual foi a única força partidária espanhola ausente na manifestação da semana passada, em Madrid, contra o regime de Fidel Castro? Não chegam lá? Eu dou uma ajuda: IU..... Não, não foi a IURD. Foi a Izquierda Unida. Para quem a morte de um inocente civil cubano, às mãos 'del' comandante, vale incomensuravelmente menos que a morte de um civil no Iraque. Que digo: em Cuba já não há inocentes. Obviamente!
Adivinha: qual foi a única força partidária espanhola ausente na manifestação da semana passada, em Madrid, contra o regime de Fidel Castro? Não chegam lá? Eu dou uma ajuda: IU..... Não, não foi a IURD. Foi a Izquierda Unida. Para quem a morte de um inocente civil cubano, às mãos 'del' comandante, vale incomensuravelmente menos que a morte de um civil no Iraque. Que digo: em Cuba já não há inocentes. Obviamente!
PRONTO: JÁ EXISTE
O Blogue mais hilariante, divertido, iconoclasta e politicamente incorrecto da blogosfera está criado. Chama-se Gato Fedorento.
Eu avisei...
O Blogue mais hilariante, divertido, iconoclasta e politicamente incorrecto da blogosfera está criado. Chama-se Gato Fedorento.
Eu avisei...
QUE É FEITO DELA?
Revi Les innocents, de André Téchiné e lembrei-me: tinha dezoito anos e uma paixão chamada Sandrine Bonnaire...
Revi Les innocents, de André Téchiné e lembrei-me: tinha dezoito anos e uma paixão chamada Sandrine Bonnaire...
QUANDO O CINEMA ERA CINEMA
Excerto de um diálogo entre a inebriante Eva Marie Saint (Eve) e o senhor Cary Grant (Thornhill), no “North By Northwest” de Alfred Hitchcock. A cena passa-se no comboio, numa altura em que Roger O. Thornhill (Grant) foge da polícia e dos «bandidos».
Thornhill:
Well, here we are again.
Eve:
Yes
Thornhill:
Recommend anything?
Eve:
The brook trout. A little ‘trouty’ but quite good.
Thornhill:
Sold.
Thornhill:
I know. I look vaguely familiar to you.
Eve:
Yes
Thornhill:
You feel you’ve seen me somewhere before.
Eve:
Yes
Thornhill:
Funny how I have that effect on people wherever I go. Something about my face…
Eve:
It’s a nice face
Thornhill:
You really think so?
Eve:
I would never say it if I didn’t.
Thornhill:
Oh – you’re ‘that’ type.
Eve:
What type?
Thornhill:
Honest
Eve:
Not really.
Thornhill:
Good. Honest women frighten me.
Eve:
Why?
Thornhill:
I feel at a disadvantage with them.
Eve:
Because you are not honest with them.
Thornhill:
Exactly.
Eve:
Like that business about the seven parking tickets…
Thornhill:
What I meant is: the moment I meet an attractive girl, I have to start pretending that I’ve no desire to make love to her.
Eve:
What makes you think you have to conceal it?
Thornhill:
She might find the idea objectionable.
Eve:
And then again, she might not.
Thornhill:
Think how lucky I am to have been seated here.
Eve:
Luck had nothing to do with it.
Thornhill:
Fate?
Eve:
I tipped the steward five dollars to seat you here if you should come in.
Thornhill:
Is that a proposition?
Eve:
I never make love on an empty stomach.
Thornhill:
You’ve already eaten.
Eve:
But you haven’t.
Delicious!
Excerto de um diálogo entre a inebriante Eva Marie Saint (Eve) e o senhor Cary Grant (Thornhill), no “North By Northwest” de Alfred Hitchcock. A cena passa-se no comboio, numa altura em que Roger O. Thornhill (Grant) foge da polícia e dos «bandidos».
Thornhill:
Well, here we are again.
Eve:
Yes
Thornhill:
Recommend anything?
Eve:
The brook trout. A little ‘trouty’ but quite good.
Thornhill:
Sold.
Thornhill:
I know. I look vaguely familiar to you.
Eve:
Yes
Thornhill:
You feel you’ve seen me somewhere before.
Eve:
Yes
Thornhill:
Funny how I have that effect on people wherever I go. Something about my face…
Eve:
It’s a nice face
Thornhill:
You really think so?
Eve:
I would never say it if I didn’t.
Thornhill:
Oh – you’re ‘that’ type.
Eve:
What type?
Thornhill:
Honest
Eve:
Not really.
Thornhill:
Good. Honest women frighten me.
Eve:
Why?
Thornhill:
I feel at a disadvantage with them.
Eve:
Because you are not honest with them.
Thornhill:
Exactly.
Eve:
Like that business about the seven parking tickets…
Thornhill:
What I meant is: the moment I meet an attractive girl, I have to start pretending that I’ve no desire to make love to her.
Eve:
What makes you think you have to conceal it?
Thornhill:
She might find the idea objectionable.
Eve:
And then again, she might not.
Thornhill:
Think how lucky I am to have been seated here.
Eve:
Luck had nothing to do with it.
Thornhill:
Fate?
Eve:
I tipped the steward five dollars to seat you here if you should come in.
Thornhill:
Is that a proposition?
Eve:
I never make love on an empty stomach.
Thornhill:
You’ve already eaten.
Eve:
But you haven’t.
Delicious!
MAIS SEINFELD
“O problema com os parques de estacionamento dos centros comerciais é que tudo parece demasiado igual. Eles bem tentam diferenciar os níveis e os pisos. Colocam diferentes cores, diferentes números e letras. Mas é tudo igual. Eles deviam colocar pisos com nomes inesquecíveis, do tipo "A tua mãe é uma pu**". De certeza que nos lembraríamos deste. Chegada a hora, dirias: "Eu sei muito bem onde parqueamos o carro. Temos o carro no piso "A tua mãe é uma pu**"" e o teu amigo responderia: "Não senhor. Nós deixamos o carro no piso "O teu pai é um alcoólico"”.”
“O problema com os parques de estacionamento dos centros comerciais é que tudo parece demasiado igual. Eles bem tentam diferenciar os níveis e os pisos. Colocam diferentes cores, diferentes números e letras. Mas é tudo igual. Eles deviam colocar pisos com nomes inesquecíveis, do tipo "A tua mãe é uma pu**". De certeza que nos lembraríamos deste. Chegada a hora, dirias: "Eu sei muito bem onde parqueamos o carro. Temos o carro no piso "A tua mãe é uma pu**"" e o teu amigo responderia: "Não senhor. Nós deixamos o carro no piso "O teu pai é um alcoólico"”.”
SOCORRO: ESTOU A SER JULGADO!!
Um passarinho disse-me, ao ouvido, que o meu humilde blogue está a ser alvo de avaliação no Blogo.
Por favor: não votem. Dou-me muito mal com opiniões depreciativas.
Um passarinho disse-me, ao ouvido, que o meu humilde blogue está a ser alvo de avaliação no Blogo.
Por favor: não votem. Dou-me muito mal com opiniões depreciativas.
O NOVO PAPÃO DA ESQUERDA
Chama-se: neo-conservadorismo. Foi apresentado ao povo por Francisco Louçã, no Público, em artigo de opinião. Há uma esquerda que adora slogans e rótulos. E novas palavras (ia dizer neologismos, mas parece-me redundante...): neo-conservador, neo-liberal, neo-imperialismo, etc. etc. Contudo, teria sido útil, para a ralé (onde eu humildemente me incluo), se o Dr. Louçã tivesse explicado, pelo menos, duas coisas:
1ª. O que é, para ele, um neo-conservador;
2ª. O que destingue um neo-conservador de um conservador clássico/original.
Quanto ao contra-iluminismo, que ele aborda, importa dizer algumas coisas. Mas isso fica para amanhã. Pode ser?
Chama-se: neo-conservadorismo. Foi apresentado ao povo por Francisco Louçã, no Público, em artigo de opinião. Há uma esquerda que adora slogans e rótulos. E novas palavras (ia dizer neologismos, mas parece-me redundante...): neo-conservador, neo-liberal, neo-imperialismo, etc. etc. Contudo, teria sido útil, para a ralé (onde eu humildemente me incluo), se o Dr. Louçã tivesse explicado, pelo menos, duas coisas:
1ª. O que é, para ele, um neo-conservador;
2ª. O que destingue um neo-conservador de um conservador clássico/original.
Quanto ao contra-iluminismo, que ele aborda, importa dizer algumas coisas. Mas isso fica para amanhã. Pode ser?
e.e. cummings
pode nem sempre ser assim; e eu digo
que se os teus lábios, que amei, tocarem
os de outro, e os teus dedos fortes e meigos cingirem
o seu coração, como o meu em tempos não muito distantes;
se na face de outro os teus suaves cabelos repousarem
nesse silêncio que eu sei, ou nessas
palavras sublimes e estremecidas que, dizendo demasiado
ficam desamparadamente diante do espírito vozeando;
se assim for, eu digo se assim for –
tu do meu coração, manda-me um recado;
que eu posso ir junto dele, e tomar as suas mãos,
dizendo, Aceita toda a felicidade de mim.
Então hei-de voltar a cara, e ouvir um pássaro
cantar terrivelmente longe nas terras perdidas
pode nem sempre ser assim; e eu digo
que se os teus lábios, que amei, tocarem
os de outro, e os teus dedos fortes e meigos cingirem
o seu coração, como o meu em tempos não muito distantes;
se na face de outro os teus suaves cabelos repousarem
nesse silêncio que eu sei, ou nessas
palavras sublimes e estremecidas que, dizendo demasiado
ficam desamparadamente diante do espírito vozeando;
se assim for, eu digo se assim for –
tu do meu coração, manda-me um recado;
que eu posso ir junto dele, e tomar as suas mãos,
dizendo, Aceita toda a felicidade de mim.
Então hei-de voltar a cara, e ouvir um pássaro
cantar terrivelmente longe nas terras perdidas
sábado, abril 26, 2003
MEA CULPA, MAS...
Reparo que a minha querida amiga Ana ficou chateada porque, passo a citar, os meus companheiros de direita me vêm com as histórias do 25 de Abril, dizendo que a liberdade só chegou mesmo com o 25 de Novembro! Até é isso mesmo, mas...é preciso ser o Einstein para perceber que sem o de Abril o de Novembro não teria existido?
Ó Ana, em termos simbólicos estou com o 25 de Abril! Que não haja dúvidas. Mas em termos histórico-práticos, o 25 de Novembro tem um «quê» de especial... know what I mean?
Acalma-te, rapariga. Onde estão os «fundamentalismos mesquinhos»? Faço a pergunta ao contrário: se não usar um cravo, isso faz de mim um fascista? Please...
Reparo que a minha querida amiga Ana ficou chateada porque, passo a citar, os meus companheiros de direita me vêm com as histórias do 25 de Abril, dizendo que a liberdade só chegou mesmo com o 25 de Novembro! Até é isso mesmo, mas...é preciso ser o Einstein para perceber que sem o de Abril o de Novembro não teria existido?
Ó Ana, em termos simbólicos estou com o 25 de Abril! Que não haja dúvidas. Mas em termos histórico-práticos, o 25 de Novembro tem um «quê» de especial... know what I mean?
Acalma-te, rapariga. Onde estão os «fundamentalismos mesquinhos»? Faço a pergunta ao contrário: se não usar um cravo, isso faz de mim um fascista? Please...
sexta-feira, abril 25, 2003
O PODER DA TELEVISÃO, POR SEINFELD
(tradução: MacGuffin)
"A televisão tem demasiado poder. Sei do que estou a falar. Sei porque eu comprei a faca Ginsu. É verdade. Aliás, a Ginsu 2000. Ainda nem acredito que o fiz.
Não acredito que apontei o numero.
Não acredito que liguei.
Não acredito que tenha dado o meu numero de cartão de crédito.
Era já muito tarde. Comecei a observar o anuncio, nas tele-vendas, e tudo parecia bater certo. Tudo fazia sentido. O tipo com a faca cortava latas, madeira, cartão, tecidos e até sapatos. Foi então que pensei: "Aquilo é impecável." Não penso que consiga cortar ao meio nenhum sapato com qualquer das minhas facas. E se, de repente, eu tenho um nó nos atacadores, de tal forma apertado, que não consiga tirar o sapato?
O que é que eu faço?! Tenho de cortar o sapato! Eu preciso daquela faca!
Foi então que telefonei e, por incrível que pareça, proferi aquelas palavras. Disse: "Eu quero encomendar a faca Ginsu" E a senhora do outro lado respondeu-me: "Tem a certeza?" Parece que até o pessoal da Ginsu não acredita no produto que vende.
Bom, agora que já a tenho, só sei que tenho todos os meus sapatos cortados ao meio e já não me ponho a ver televisão até tão tarde."
in Seinlanguage
(tradução: MacGuffin)
"A televisão tem demasiado poder. Sei do que estou a falar. Sei porque eu comprei a faca Ginsu. É verdade. Aliás, a Ginsu 2000. Ainda nem acredito que o fiz.
Não acredito que apontei o numero.
Não acredito que liguei.
Não acredito que tenha dado o meu numero de cartão de crédito.
Era já muito tarde. Comecei a observar o anuncio, nas tele-vendas, e tudo parecia bater certo. Tudo fazia sentido. O tipo com a faca cortava latas, madeira, cartão, tecidos e até sapatos. Foi então que pensei: "Aquilo é impecável." Não penso que consiga cortar ao meio nenhum sapato com qualquer das minhas facas. E se, de repente, eu tenho um nó nos atacadores, de tal forma apertado, que não consiga tirar o sapato?
O que é que eu faço?! Tenho de cortar o sapato! Eu preciso daquela faca!
Foi então que telefonei e, por incrível que pareça, proferi aquelas palavras. Disse: "Eu quero encomendar a faca Ginsu" E a senhora do outro lado respondeu-me: "Tem a certeza?" Parece que até o pessoal da Ginsu não acredita no produto que vende.
Bom, agora que já a tenho, só sei que tenho todos os meus sapatos cortados ao meio e já não me ponho a ver televisão até tão tarde."
in Seinlanguage
quinta-feira, abril 24, 2003
O CONSERVADOR E A CARICATURA
A palavra a Alexandre, O Grande (O’Neill):
O adjectivo? Que horror
quanto não é incisivo,
quando atira para o vago
o pobre substantivo
A esquerda bloguista comete sempre dois pecados venais quando resolve dissertar sobre campos políticos estranhos ao seu: 1) confundir o substantivo com o adjectivo, tratando de desenquadrar semanticamente termos como “conservador” e “tradição”; 2) misturar o campo da política com todos os outros (previsível para quem pensa que tudo é política). Daí que, invariavelmente, a coisa lhe saia mal. O alvo é o porta-aviões mas o tiro quase sempre mergulha fundo nas águas da inconsciência política.
Para a maioria da esquerda indígena (sinal claro da ignorância em termos de ideário político e de um endémico atraso cultural) o “conservador” é mais ou menos uma figura sinistra, autoritário nos modos (de vara ou chicote na mão), amigo de fados e guitarradas, marialva e saudosista, que usa e abusa das patilhas, da bota cardada e das touradas, e que entoa recorrentemente o “Ó tempo, volta para trás...”. Um misto de Nuno da Câmara Pereira, João Braga e Basilio Horta, com uma pitada de disciplina marcial e outra de inconsciência «social». Tradição = estagnação = atraso = antiquado = ultrapassado = conservador = reaccionário, etc. etc. etc.
A esquerda vacila e treme, confusa, sempre que um tipo se apresenta como politicamente conservador e, ao mesmo tempo, demonstra gostos vanguardistas ou sofisticados. Não é por acaso que, quando isso acontece, levam sempre o caso para o terreno do «engano» e do «equívoco». Tudo em nome da defesa da ideia feita e do estereótipo. Alguma vez terão lido Oakeshott? Perceberão eles que o conservadorismo político não tem que ver com “reaccionarismo” ou “autoritarismo”? Entenderão, um dia, que o conservadorismo tem que ver, sobretudo, com uma atitude de desassombro, de humildade e de realismo face ao ser humano e ao mundo que nos rodeia?
A filosofia do conservadorismo é selectiva. Podem e devem existir coisas da «tradição», não todas, que vale a pena preservar. Em termos de princípio, e é disso que estamos a tratar, há um atributo na veneração dos conservadores pelo que é antigo e tradicional: a crença de que, por muito obsoleta que uma dada estrutura ou modus vivendi possa ser, pode existir nele uma função progressiva e ainda vital, de que o homem tira proveito psicológica e sociologicamente.
Olhadas uma a uma, nem todas as tradições são boas. Mas muitas delas são «tradição« por algum atributo (e por favor, parem de pensar em viras do Minho, touradas, pratinhos de barro pintados à mão e saloiices avulsas!). Deve haver ali alguma coisa que distingue essa prática das restantes, ao ponto de lhe chamar tradição. O quê? O factor tempo aliado ao «preconceito» (outro termo que ganhou conotação negativa, hoje em dia) no comportamento humano, onde se joga o tipo de conhecimento de que William James e Oakeshott falavam: um «conhecimento de» e não um «conhecimento acerca». O que muitas vezes está por detrás da tradição, e que é querido ao conservador, é um conhecimento adquirido simplesmente através da experiência e da revelação da vida, incapaz de ser transmitido «by the book». É esse aspecto prático, esse sentido de oportunidade, que é próximo do ideário conservador – e que colide com a maneira como o utopista e o reformista exercem uma devoção por regras, princípios e abstracções que levam a uma voragem e a uma vertigem por lidar com as massas, em vez de lidar com o povo tal como ele é: um conjunto heterogéneo de pais, interlocutores, trabalhadores, consumidores, eleitores, com diferentes aspirações, capacidades, motivações e objectivos. Daí que eu ache que o conservador seja absolutamente realista.
O conservador desconfia e recusa do espírito de inovação alicerçado no culto da mudança pela mudança. Ou seja, o conservador recusa-se a dar ênfase a essa necessidade, superficial, de excitação e motivação por meio de incessantes novidades; a fraqueza idiota de pensar que só na «reforma» e na «mudança» o homem se realiza. Da mesma forma que Disraeli declarou guerra aos estadistas que procuraram formar instituições políticas sobre princípios abstractos de ciência teórica, em vez de lhes permitir que brotassem do curso dos acontecimentos, o conservador percebe que o conhecimento e a organização de uma sociedade deve ser fruto de um processo lento e aturado, onde estão envolvidas pessoas, e não teorias ou modelos abstractos. E que esse processo é muitas vezes intergeracional. Uma espécie de contrato de continuidade (daí que lhe doa o coração quando aparece alguém que, de uma assentada e levianamente, extingue o que levou décadas ou séculos a construir), onde não é só o passado que importa, mas sim o presente e o futuro. Volto a Burke: «Society is indeed a contract. It becomes a partnership not only between those who are living, but between those who are living, those who are dead, and those who are to be born». Ora, isto é completamente acessório para o progressista ou para o utopista reformador. Para estes, o importante não é o que está feito, mas sim o que se vai fazer. Contudo, como disse um dia Falkland, «quando não é necessário mudar, é necessário não mudar». É este o contributo do conservador no mundo de hoje: colocar algumas pitadas de bom senso na cabeça de quem tenta mudar o mundo para melhor, chamando a atenção para o facto de já existirem experiências, vivências e resultados no terreno que funcionam e sobre os quais se deve continuar a tirar proveito.
O conservadorismo é, por vezes, contraditório. Incoerente. A questão é, precisamente, esta: o conservadorismo não existe para dar lições, lançar doutrinas, desbravar caminhos com régua e esquadro, sob a batuta da perfeição racionalista. Ponham isso na vossa cabeça!
A palavra a Alexandre, O Grande (O’Neill):
O adjectivo? Que horror
quanto não é incisivo,
quando atira para o vago
o pobre substantivo
A esquerda bloguista comete sempre dois pecados venais quando resolve dissertar sobre campos políticos estranhos ao seu: 1) confundir o substantivo com o adjectivo, tratando de desenquadrar semanticamente termos como “conservador” e “tradição”; 2) misturar o campo da política com todos os outros (previsível para quem pensa que tudo é política). Daí que, invariavelmente, a coisa lhe saia mal. O alvo é o porta-aviões mas o tiro quase sempre mergulha fundo nas águas da inconsciência política.
Para a maioria da esquerda indígena (sinal claro da ignorância em termos de ideário político e de um endémico atraso cultural) o “conservador” é mais ou menos uma figura sinistra, autoritário nos modos (de vara ou chicote na mão), amigo de fados e guitarradas, marialva e saudosista, que usa e abusa das patilhas, da bota cardada e das touradas, e que entoa recorrentemente o “Ó tempo, volta para trás...”. Um misto de Nuno da Câmara Pereira, João Braga e Basilio Horta, com uma pitada de disciplina marcial e outra de inconsciência «social». Tradição = estagnação = atraso = antiquado = ultrapassado = conservador = reaccionário, etc. etc. etc.
A esquerda vacila e treme, confusa, sempre que um tipo se apresenta como politicamente conservador e, ao mesmo tempo, demonstra gostos vanguardistas ou sofisticados. Não é por acaso que, quando isso acontece, levam sempre o caso para o terreno do «engano» e do «equívoco». Tudo em nome da defesa da ideia feita e do estereótipo. Alguma vez terão lido Oakeshott? Perceberão eles que o conservadorismo político não tem que ver com “reaccionarismo” ou “autoritarismo”? Entenderão, um dia, que o conservadorismo tem que ver, sobretudo, com uma atitude de desassombro, de humildade e de realismo face ao ser humano e ao mundo que nos rodeia?
A filosofia do conservadorismo é selectiva. Podem e devem existir coisas da «tradição», não todas, que vale a pena preservar. Em termos de princípio, e é disso que estamos a tratar, há um atributo na veneração dos conservadores pelo que é antigo e tradicional: a crença de que, por muito obsoleta que uma dada estrutura ou modus vivendi possa ser, pode existir nele uma função progressiva e ainda vital, de que o homem tira proveito psicológica e sociologicamente.
Olhadas uma a uma, nem todas as tradições são boas. Mas muitas delas são «tradição« por algum atributo (e por favor, parem de pensar em viras do Minho, touradas, pratinhos de barro pintados à mão e saloiices avulsas!). Deve haver ali alguma coisa que distingue essa prática das restantes, ao ponto de lhe chamar tradição. O quê? O factor tempo aliado ao «preconceito» (outro termo que ganhou conotação negativa, hoje em dia) no comportamento humano, onde se joga o tipo de conhecimento de que William James e Oakeshott falavam: um «conhecimento de» e não um «conhecimento acerca». O que muitas vezes está por detrás da tradição, e que é querido ao conservador, é um conhecimento adquirido simplesmente através da experiência e da revelação da vida, incapaz de ser transmitido «by the book». É esse aspecto prático, esse sentido de oportunidade, que é próximo do ideário conservador – e que colide com a maneira como o utopista e o reformista exercem uma devoção por regras, princípios e abstracções que levam a uma voragem e a uma vertigem por lidar com as massas, em vez de lidar com o povo tal como ele é: um conjunto heterogéneo de pais, interlocutores, trabalhadores, consumidores, eleitores, com diferentes aspirações, capacidades, motivações e objectivos. Daí que eu ache que o conservador seja absolutamente realista.
O conservador desconfia e recusa do espírito de inovação alicerçado no culto da mudança pela mudança. Ou seja, o conservador recusa-se a dar ênfase a essa necessidade, superficial, de excitação e motivação por meio de incessantes novidades; a fraqueza idiota de pensar que só na «reforma» e na «mudança» o homem se realiza. Da mesma forma que Disraeli declarou guerra aos estadistas que procuraram formar instituições políticas sobre princípios abstractos de ciência teórica, em vez de lhes permitir que brotassem do curso dos acontecimentos, o conservador percebe que o conhecimento e a organização de uma sociedade deve ser fruto de um processo lento e aturado, onde estão envolvidas pessoas, e não teorias ou modelos abstractos. E que esse processo é muitas vezes intergeracional. Uma espécie de contrato de continuidade (daí que lhe doa o coração quando aparece alguém que, de uma assentada e levianamente, extingue o que levou décadas ou séculos a construir), onde não é só o passado que importa, mas sim o presente e o futuro. Volto a Burke: «Society is indeed a contract. It becomes a partnership not only between those who are living, but between those who are living, those who are dead, and those who are to be born». Ora, isto é completamente acessório para o progressista ou para o utopista reformador. Para estes, o importante não é o que está feito, mas sim o que se vai fazer. Contudo, como disse um dia Falkland, «quando não é necessário mudar, é necessário não mudar». É este o contributo do conservador no mundo de hoje: colocar algumas pitadas de bom senso na cabeça de quem tenta mudar o mundo para melhor, chamando a atenção para o facto de já existirem experiências, vivências e resultados no terreno que funcionam e sobre os quais se deve continuar a tirar proveito.
O conservadorismo é, por vezes, contraditório. Incoerente. A questão é, precisamente, esta: o conservadorismo não existe para dar lições, lançar doutrinas, desbravar caminhos com régua e esquadro, sob a batuta da perfeição racionalista. Ponham isso na vossa cabeça!
quarta-feira, abril 23, 2003
DO MENCKEN PARA O MANEL (DO BLOG-DE-ESQUERDA)
(A propósito do que ele escreveu sobre a direita e o conservadorismo)
“A idealist is one who, on noticing that a rose smells better than a cabbage, concludes that it will also make better soup.”
É essa a diferença.
(A propósito do que ele escreveu sobre a direita e o conservadorismo)
“A idealist is one who, on noticing that a rose smells better than a cabbage, concludes that it will also make better soup.”
É essa a diferença.
MENCKEN, HENRY LOUIS
The Good Man
(in Smart Set, 1923)
Man, at his best, remains a sort of one-lunged animal, never completely rounded and perfect, as a cockroach, say, is perfect. If he shows one valuable quality, it is almost unheard of for him to show any other. Give him a head, and he lacks a heart. Give him a heart of a gallon capacity, and his head holds scarcely a pint. The artist, nine times out of ten, is a dead-beat and given to the debauching of virgins, so-called. The patriot is a bigot, and, more often than not, a bounder and a poltroon. The man of physical bravery is often on a level, intellectually, with a Baptist clergyman. The intellectual giant has bad kidneys and cannot thread a needle. In all my years of search in this world, from the Golden Gate in the West to the Vistula in the East, and from the Orkney Islands in the North to the Spanish Main in the South, I have never met a thoroughly moral man who was honourable.
The mind of Man
(in Smart Set, 1922)
The difference between a moral man and a man of honour is that the latter regrets a discreditable act, even when it has worked and he has not been caught.
The Good Man
(in Smart Set, 1923)
Man, at his best, remains a sort of one-lunged animal, never completely rounded and perfect, as a cockroach, say, is perfect. If he shows one valuable quality, it is almost unheard of for him to show any other. Give him a head, and he lacks a heart. Give him a heart of a gallon capacity, and his head holds scarcely a pint. The artist, nine times out of ten, is a dead-beat and given to the debauching of virgins, so-called. The patriot is a bigot, and, more often than not, a bounder and a poltroon. The man of physical bravery is often on a level, intellectually, with a Baptist clergyman. The intellectual giant has bad kidneys and cannot thread a needle. In all my years of search in this world, from the Golden Gate in the West to the Vistula in the East, and from the Orkney Islands in the North to the Spanish Main in the South, I have never met a thoroughly moral man who was honourable.
The mind of Man
(in Smart Set, 1922)
The difference between a moral man and a man of honour is that the latter regrets a discreditable act, even when it has worked and he has not been caught.
E AS GIRAFAS?
José Diogo Quintela agradece-me. Eis a explicação:
”Obrigado. Agora sei que somos pelo menos dois a preferir Londres a Marrocos, Barcelona ao Punjab. Vou mostrar o post a todos os meus amigos para ver se calo, de vez, bocas foleiras sobre a transformação que se opera em mim, assim que abandono a civilização. Mas, atenção: conto aqui também as vezes em que entro em praias portuguesas sobrepovoadas e em espaços comerciais fora dos dias úteis.
Caro Zé Diogo: como eu o compreendo! O que nos remete para outra questão: qual a melhor altura do ano para “sair” (para “dentro” ou para “fora”)? Pois é. Experimente-se dar um pulinho a Roma ou a Londres no pino do Verão e perceber-se-á porque razão “época alta” soa a piada de mau gosto... Até a Zambujeira do Mar começa a ficar insuportável nos meses «in».
Pois bem. Em “épocas alta”, o melhor mesmo é “ficar” em casebres ou escolher uma cidade ainda não suficientemente apelativa para grandes destinos turísticos. Estou a lembrar-me, por exemplo, de... Lisboa?
PS: ainda assim, caro Zé Diogo, Lisboa no Verão levanta-nos outro problema: o que fazer com a girafas?
José Diogo Quintela agradece-me. Eis a explicação:
”Obrigado. Agora sei que somos pelo menos dois a preferir Londres a Marrocos, Barcelona ao Punjab. Vou mostrar o post a todos os meus amigos para ver se calo, de vez, bocas foleiras sobre a transformação que se opera em mim, assim que abandono a civilização. Mas, atenção: conto aqui também as vezes em que entro em praias portuguesas sobrepovoadas e em espaços comerciais fora dos dias úteis.
Caro Zé Diogo: como eu o compreendo! O que nos remete para outra questão: qual a melhor altura do ano para “sair” (para “dentro” ou para “fora”)? Pois é. Experimente-se dar um pulinho a Roma ou a Londres no pino do Verão e perceber-se-á porque razão “época alta” soa a piada de mau gosto... Até a Zambujeira do Mar começa a ficar insuportável nos meses «in».
Pois bem. Em “épocas alta”, o melhor mesmo é “ficar” em casebres ou escolher uma cidade ainda não suficientemente apelativa para grandes destinos turísticos. Estou a lembrar-me, por exemplo, de... Lisboa?
PS: ainda assim, caro Zé Diogo, Lisboa no Verão levanta-nos outro problema: o que fazer com a girafas?
terça-feira, abril 22, 2003
FOI VOCÊ QUE PEDIU UM RELATIVISTA?
Cuba e Fidel, III parte
O José Luis responde ao repto:
”Acerca de Cuba e de Fidel gostaria de responder à tua "Pergunta". Não podemos esquecer que Fidel foi um lider político que lutou e sofreu nos anos 50, juntamente com outros como Che Guevara (que os cubanos veneram), para derrotar um regime que mais não fez do que vender o país aos desígnios e interesses do vizinho, qual potência colonial, traindo a memória de heróis nacionais como José Marti ou Camilo Cienfuegos. Fulgêncio Baptista, apesar de longe do requinte torcionário de um Pinochet (também ele idealizado, construído e apoiado pelos EUA), não era mais do que uma marioneta dos norte americanos, os quais além de usufruírem dos encantos turísticos do país, lhe estorquiam todos os seus recursos naturais e faziam da sua população um exército de mão de obra barata ao seu (deles) dispôr. No pós revolução, algum ressentimento, alguma cegueira ou parolismo político dos EUA (pátria do McCarthismo...), empurraram Fidel Castro para os braços da União Soviética com a qual estabeleceu um relacionamento extremamente favorável no aspecto económico, que permitiu um conjunto de realizações nomeadamente no campo da saúde e da educação que ainda hoje são o orgulho dos cubanos, em troca, claro, de um regime político de contornos socialistas, que num contexto de guerra fria e dada a sua localização geográfica constituía uma pérola para os soviéticos. Fidel ter-se-á acomodado à situação e assim deixado resvalar o seu país para uma enorme e nova dependência externa, da qual a monocultura de açucar será o aspecto mais emblemático,paralelamente foi deixando criar à sua volta um aparelho político extremamente burocrático, sedento de privilégios, característica comum aos regimes socialistas de então. A queda do muro de Berlim e principalmente o fim da União Soviética apanharam Fidel de surpresa e acabaram com cerca de 90% do seu comércio externo, deixando o país numa situação penosa. Poder-se-á afirmar que então Fidel parou no tempo, o que não deixa de ser verdade, mas qual sería a alternativa? um Boris Ieltsine de rum e charuto? A gangsterização, destruição e degradação compulsiva de todo país tal como sucedeu na Rússia?
Não gosto de totalitarismos e Fidel é um líder totalitário (satisfeito, amigo Carlos ?), contudo penso que ao olharmos para cada um dos pontos nucleares da história de Cuba no sec XX, descobrimos que as alternativas em cada um deles não seriam muito melhores, e vendo as coisas sob outro prisma até poderíamos elogiar a inteligência de Fidel na sua relação com a URSS, da qual beneficiou todo o povo cubano, ou a sua tenacidade em manter a soberania nacional no contexto do pós guerra fria. Cuba é talvez o melhor exemplo do quanto a existência de duas superpotências era bem melhor do que uma só, e também de que o fim da União Soviética apenas beneficiou alguns e prejudicou muitos, em primeiro lugar os próprios Russos (mas isso são contas de outro rosário...). Para terminar devo dizer que apesar de considerar Cuba um regime totalitário com uma gestão económica e política bastante duvidosa, como muitos outros, não me parece que se possa afirmar tratar-se de uma ditadura opressiva (oprimidos há-os em todo o lado, até em Portugal...), torcionária e sanguinária, e a este respeito é curioso que quando lá estive algumas das críticas que ouví ao regime fossem feitas por um responsável do Museu da Revolução em Havana, em pleno museu e na frente de várias pessoas o que demonstra que Cuba ao contrário do que é comum ouvir-se, não é um estado policial onde as pessoas se sintam amordaçadas (o problema pareceu-me ser mais a anarquia e as economias paralelas do que a ordem e o terror) . Da minha parte pude falar com toda a gente, ouvir falar do regime (bem e mal) e entrar em todo o lado sem sequer sentir qualquer tipo de observação mais desconfiada, ao contrário do que sucedeu em outros países que visitei como a bela mas politicamente obscura Tunísia (segundo os EUA uma dócil democracia ocidentalizada...) e até países acabadinhos de entrar na União Europeia como a Hungria, a Eslováquia, a República Checa ou a Polónia, onde se nota a todo o momento um tipo de policiamento um tanto repressivo (embora aquí acredite que sem contornos políticos) ao qual nós portugueses não estamos habituados."
Caro Zé Luis: quando acabei de ler o teu comentário, lembrei-me de lhe arranjar o título em epígrafe. Robert Nozick, na obra “Invariances”, no capítulo sobre a verdade e o relativismo, lembrava, a título de exemplo, que embora Hayek e Friedman tivessem produzido argumentos sólidos e fortíssimos sobre a falência dos sistemas socialistas e a estagnação económica daí resultante, pouco tardou até ao aparecimento, na esteira de Thomas Khun, dos «paradigmas» relativizantes para dar a volta ao texto. Bem-vindos ao admirável mundo da pós-modernidade! “Contra factos não há argumentos”? Nãã. Errado. Chão que já deu uvas. Contra factos há... «paradigmas». “Sinta-se seguro dentro do seu «paradigma político» - albergue ideal para todo o tipo de revisionismos e perspectivas históricas” podia ser o slogan.
Reconheço que é esforçada a forma como tentas «enquadrar», «contextualizar» e «relativizar» - numa palavra: justificar – o que se passou em Cuba (afinal de contas, como tu dizes, Histórias há muitas...). Mas o esforço é inglório, caro Zé Luis. Castro foi um ditador opressivo, ponto final parágrafo. Se, para ti, um autocrata que aniquilou milhares de pessoas, levou ao exílio milhões, manteve, durante décadas, milhares de presos políticos, utilizou métodos de tortura primários e silenciou vozes dissonantes, ainda pode não ser considerado «opressivo», valerá a pena responder-te?
O que essa cortina de fumo, em forma de explicação rosácea e arrumadinha, deixa à solta é um demónio descontrolado. É o demónio do relativismo, que abre portas à possibilidade de se poder a ele recorrer sempre que der «no jeito» – à esquerda, à direita, em cima, em baixo, etc. A partir do momento em que «contextualizas», «enquadras» e «compreendes» Fidel, abres caminho a «compreenderes», também, por exemplo, Pinochet. Onde está a diferença? No número de mortos? No tipo de instrumentos utilizados? No estilo? Um tinha barba, fumava Cohibas e bebia rum, o outro tinha bigode, fumava Romeu & Julieta importados e bebia Bombay Sapphire?
É bom não esquecer que Castro não foi o único opositor à ditadura de Batista. Mais: até à instituição da política de embargo à venda de armas, Castro tinha uma minoria de homens ao seu lado (nunca chegaram a ultrapassar os 3.000). Como bom oportunista e propagandista (era o próprio Che Guevara que dizia “a presença de jornalistas estrangeiros, de preferência americanos, é mais importante do que uma vitória militar”), Fidel Castro aproveitou o ‘gap’ momentâneo de liderança oposicionista para se instalar no poder. A sua principal intenção, longe do ideal de "libertação" e "esperança", romantizado pela intelligentsia ocidental (Herbert Mathews e o New York Times – grandes apoiantes de Castro nos EUA - viam-no como o T. E. Lawrence das Caraíbas), foi a da conquista desse mesmo poder.
Fidel Castro foi, e é, um ditador opressivo, leninista nos métodos e fascista nos dotes de oratória pública. Desde o inicio tratou de aniquilar e neutralizar as forças anti-Batista que não alinhavam consigo. Tratou de silenciar os liberais e os democratas do Directório Revolucionário. Aboliu por decreto todos os partidos políticos (“Há eleições todos os dias em Cuba. O regime revolucionário expressa a vontade popular” afirmou ele). Em Março de 1959 assassinou o que restava do “rule of law”, silenciando com chumbo o juiz do tribunal que tinha acabado de absolver, de crimes de guerra, 44 homens de Batista (posteriormente julgados por um juiz «amigo», desta vez com direito a 33 anos de prisão). A palavra a Castro: “A justiça revolucionária não tem por base preceitos legais mas sim convicções morais.” É engraçado falares em Camilo Cienfuegos: também ele não resistiu às purgas de Fidel, em finais de 1959. Mais tarde, com o desastre da Baia dos Porcos, acentuaram-se as campanhas de terror contra todos os focos de oposição – e desta vez com o apoio maciço da URSS. A grande maioria dos que se encontravam presos foram executados. Cerca de 100.000 foram encarcerados (só nos anos 60 mais de 1 milhão de cubanos abandonaram o seu país, provavelmente por causa do clima...). Em 1961 Cuba era, visto de qualquer perspectiva, um Estado socialista totalitário. Ao longo dos anos, Fidel teve ainda tempo e meios (URSS) para exportar a «revolução» para a América do Sul e Central, e enviar pelo menos três forças para África, para ajudar a política soviética nesse continente.
Não deixa de ser patética a forma como hoje, passados 44 anos, ainda haja quem alinhe no mesmo tipo de compreensão de quem, nos anos 70 e 80, olhava Fidel como o último reduto da força libertadora e igualitária do comunismo, à falta de Estaline e Mao (com o tempo desmascarados).
Perguntas-me se estou satisfeito. Não estou. Não posso estar enquanto, no seguimento de afirmações aparentemente pacíficas (“Fidel é um lider totalitário”), continue a surgir um “contudo”, um “mas”, um “no entanto” que abra caminho para justificar, absolver ou compreender ditaduras opressivas, que se perpetuaram no tempo com o beneplácito da intelligentsia ocidental, supostamente sofisticada. A mesma que tarda em dar o braço a torcer. Como poderei um dia explicar-te isto se, como tu próprio dizes, “oprimidos há-os por todo o lado, até em Portugal”...
Cuba e Fidel, III parte
O José Luis responde ao repto:
”Acerca de Cuba e de Fidel gostaria de responder à tua "Pergunta". Não podemos esquecer que Fidel foi um lider político que lutou e sofreu nos anos 50, juntamente com outros como Che Guevara (que os cubanos veneram), para derrotar um regime que mais não fez do que vender o país aos desígnios e interesses do vizinho, qual potência colonial, traindo a memória de heróis nacionais como José Marti ou Camilo Cienfuegos. Fulgêncio Baptista, apesar de longe do requinte torcionário de um Pinochet (também ele idealizado, construído e apoiado pelos EUA), não era mais do que uma marioneta dos norte americanos, os quais além de usufruírem dos encantos turísticos do país, lhe estorquiam todos os seus recursos naturais e faziam da sua população um exército de mão de obra barata ao seu (deles) dispôr. No pós revolução, algum ressentimento, alguma cegueira ou parolismo político dos EUA (pátria do McCarthismo...), empurraram Fidel Castro para os braços da União Soviética com a qual estabeleceu um relacionamento extremamente favorável no aspecto económico, que permitiu um conjunto de realizações nomeadamente no campo da saúde e da educação que ainda hoje são o orgulho dos cubanos, em troca, claro, de um regime político de contornos socialistas, que num contexto de guerra fria e dada a sua localização geográfica constituía uma pérola para os soviéticos. Fidel ter-se-á acomodado à situação e assim deixado resvalar o seu país para uma enorme e nova dependência externa, da qual a monocultura de açucar será o aspecto mais emblemático,paralelamente foi deixando criar à sua volta um aparelho político extremamente burocrático, sedento de privilégios, característica comum aos regimes socialistas de então. A queda do muro de Berlim e principalmente o fim da União Soviética apanharam Fidel de surpresa e acabaram com cerca de 90% do seu comércio externo, deixando o país numa situação penosa. Poder-se-á afirmar que então Fidel parou no tempo, o que não deixa de ser verdade, mas qual sería a alternativa? um Boris Ieltsine de rum e charuto? A gangsterização, destruição e degradação compulsiva de todo país tal como sucedeu na Rússia?
Não gosto de totalitarismos e Fidel é um líder totalitário (satisfeito, amigo Carlos ?), contudo penso que ao olharmos para cada um dos pontos nucleares da história de Cuba no sec XX, descobrimos que as alternativas em cada um deles não seriam muito melhores, e vendo as coisas sob outro prisma até poderíamos elogiar a inteligência de Fidel na sua relação com a URSS, da qual beneficiou todo o povo cubano, ou a sua tenacidade em manter a soberania nacional no contexto do pós guerra fria. Cuba é talvez o melhor exemplo do quanto a existência de duas superpotências era bem melhor do que uma só, e também de que o fim da União Soviética apenas beneficiou alguns e prejudicou muitos, em primeiro lugar os próprios Russos (mas isso são contas de outro rosário...). Para terminar devo dizer que apesar de considerar Cuba um regime totalitário com uma gestão económica e política bastante duvidosa, como muitos outros, não me parece que se possa afirmar tratar-se de uma ditadura opressiva (oprimidos há-os em todo o lado, até em Portugal...), torcionária e sanguinária, e a este respeito é curioso que quando lá estive algumas das críticas que ouví ao regime fossem feitas por um responsável do Museu da Revolução em Havana, em pleno museu e na frente de várias pessoas o que demonstra que Cuba ao contrário do que é comum ouvir-se, não é um estado policial onde as pessoas se sintam amordaçadas (o problema pareceu-me ser mais a anarquia e as economias paralelas do que a ordem e o terror) . Da minha parte pude falar com toda a gente, ouvir falar do regime (bem e mal) e entrar em todo o lado sem sequer sentir qualquer tipo de observação mais desconfiada, ao contrário do que sucedeu em outros países que visitei como a bela mas politicamente obscura Tunísia (segundo os EUA uma dócil democracia ocidentalizada...) e até países acabadinhos de entrar na União Europeia como a Hungria, a Eslováquia, a República Checa ou a Polónia, onde se nota a todo o momento um tipo de policiamento um tanto repressivo (embora aquí acredite que sem contornos políticos) ao qual nós portugueses não estamos habituados."
Caro Zé Luis: quando acabei de ler o teu comentário, lembrei-me de lhe arranjar o título em epígrafe. Robert Nozick, na obra “Invariances”, no capítulo sobre a verdade e o relativismo, lembrava, a título de exemplo, que embora Hayek e Friedman tivessem produzido argumentos sólidos e fortíssimos sobre a falência dos sistemas socialistas e a estagnação económica daí resultante, pouco tardou até ao aparecimento, na esteira de Thomas Khun, dos «paradigmas» relativizantes para dar a volta ao texto. Bem-vindos ao admirável mundo da pós-modernidade! “Contra factos não há argumentos”? Nãã. Errado. Chão que já deu uvas. Contra factos há... «paradigmas». “Sinta-se seguro dentro do seu «paradigma político» - albergue ideal para todo o tipo de revisionismos e perspectivas históricas” podia ser o slogan.
Reconheço que é esforçada a forma como tentas «enquadrar», «contextualizar» e «relativizar» - numa palavra: justificar – o que se passou em Cuba (afinal de contas, como tu dizes, Histórias há muitas...). Mas o esforço é inglório, caro Zé Luis. Castro foi um ditador opressivo, ponto final parágrafo. Se, para ti, um autocrata que aniquilou milhares de pessoas, levou ao exílio milhões, manteve, durante décadas, milhares de presos políticos, utilizou métodos de tortura primários e silenciou vozes dissonantes, ainda pode não ser considerado «opressivo», valerá a pena responder-te?
O que essa cortina de fumo, em forma de explicação rosácea e arrumadinha, deixa à solta é um demónio descontrolado. É o demónio do relativismo, que abre portas à possibilidade de se poder a ele recorrer sempre que der «no jeito» – à esquerda, à direita, em cima, em baixo, etc. A partir do momento em que «contextualizas», «enquadras» e «compreendes» Fidel, abres caminho a «compreenderes», também, por exemplo, Pinochet. Onde está a diferença? No número de mortos? No tipo de instrumentos utilizados? No estilo? Um tinha barba, fumava Cohibas e bebia rum, o outro tinha bigode, fumava Romeu & Julieta importados e bebia Bombay Sapphire?
É bom não esquecer que Castro não foi o único opositor à ditadura de Batista. Mais: até à instituição da política de embargo à venda de armas, Castro tinha uma minoria de homens ao seu lado (nunca chegaram a ultrapassar os 3.000). Como bom oportunista e propagandista (era o próprio Che Guevara que dizia “a presença de jornalistas estrangeiros, de preferência americanos, é mais importante do que uma vitória militar”), Fidel Castro aproveitou o ‘gap’ momentâneo de liderança oposicionista para se instalar no poder. A sua principal intenção, longe do ideal de "libertação" e "esperança", romantizado pela intelligentsia ocidental (Herbert Mathews e o New York Times – grandes apoiantes de Castro nos EUA - viam-no como o T. E. Lawrence das Caraíbas), foi a da conquista desse mesmo poder.
Fidel Castro foi, e é, um ditador opressivo, leninista nos métodos e fascista nos dotes de oratória pública. Desde o inicio tratou de aniquilar e neutralizar as forças anti-Batista que não alinhavam consigo. Tratou de silenciar os liberais e os democratas do Directório Revolucionário. Aboliu por decreto todos os partidos políticos (“Há eleições todos os dias em Cuba. O regime revolucionário expressa a vontade popular” afirmou ele). Em Março de 1959 assassinou o que restava do “rule of law”, silenciando com chumbo o juiz do tribunal que tinha acabado de absolver, de crimes de guerra, 44 homens de Batista (posteriormente julgados por um juiz «amigo», desta vez com direito a 33 anos de prisão). A palavra a Castro: “A justiça revolucionária não tem por base preceitos legais mas sim convicções morais.” É engraçado falares em Camilo Cienfuegos: também ele não resistiu às purgas de Fidel, em finais de 1959. Mais tarde, com o desastre da Baia dos Porcos, acentuaram-se as campanhas de terror contra todos os focos de oposição – e desta vez com o apoio maciço da URSS. A grande maioria dos que se encontravam presos foram executados. Cerca de 100.000 foram encarcerados (só nos anos 60 mais de 1 milhão de cubanos abandonaram o seu país, provavelmente por causa do clima...). Em 1961 Cuba era, visto de qualquer perspectiva, um Estado socialista totalitário. Ao longo dos anos, Fidel teve ainda tempo e meios (URSS) para exportar a «revolução» para a América do Sul e Central, e enviar pelo menos três forças para África, para ajudar a política soviética nesse continente.
Não deixa de ser patética a forma como hoje, passados 44 anos, ainda haja quem alinhe no mesmo tipo de compreensão de quem, nos anos 70 e 80, olhava Fidel como o último reduto da força libertadora e igualitária do comunismo, à falta de Estaline e Mao (com o tempo desmascarados).
Perguntas-me se estou satisfeito. Não estou. Não posso estar enquanto, no seguimento de afirmações aparentemente pacíficas (“Fidel é um lider totalitário”), continue a surgir um “contudo”, um “mas”, um “no entanto” que abra caminho para justificar, absolver ou compreender ditaduras opressivas, que se perpetuaram no tempo com o beneplácito da intelligentsia ocidental, supostamente sofisticada. A mesma que tarda em dar o braço a torcer. Como poderei um dia explicar-te isto se, como tu próprio dizes, “oprimidos há-os por todo o lado, até em Portugal”...
domingo, abril 20, 2003
DEMAGOGIA COM DEMAGOGIA SE PAGA
Clara Ferreira Alves , no Expresso, a propósito do “genial” (segundo ela) “Bowling for Columbine”, de Michael Moore: “Ainda bem que as filhas de Bush filho e os netos de Bush pai não ficaram queimados e órfãos e sem braços nas planuras ou nas ruas do Iraque”.
Eu acrescento: ainda bem que os familiares de Clara não foram gazeados em Halabja, assassinados nas planuras do Iraque, torturados nos calabouços de Bagdade, etc.
Clara Ferreira Alves , no Expresso, a propósito do “genial” (segundo ela) “Bowling for Columbine”, de Michael Moore: “Ainda bem que as filhas de Bush filho e os netos de Bush pai não ficaram queimados e órfãos e sem braços nas planuras ou nas ruas do Iraque”.
Eu acrescento: ainda bem que os familiares de Clara não foram gazeados em Halabja, assassinados nas planuras do Iraque, torturados nos calabouços de Bagdade, etc.
FÉRIAS
Não sou dos que alinham no pitiatismo das férias. Há algo de patético e deprimente na forma como a maioria das pessoas procura insistente e urgentemente um programa para ocupar o período de férias, sob pena de sentirem o sabor amargo da derrota e da frustração. Quando me perguntam “Onde foste nestas férias?” e recebem como resposta “A lado nenhum, fiquei por aqui”, vislumbro sempre um olhar de comiseração trocista. Não faz hoje qualquer sentido, sendo até sinal de infelicidade profunda, “ficar” quando é suposto “sair”. É incompreensível saber que se ocuparam os dias de férias a ler, em casa ou numa qualquer esplanada ou jardim, na mesma cidade onde se viveu (ou vegetou...) durante todo o ano.
Não percebo porquê. Será assim tão errado não alinhar na voragem vigente? Será sinal de doença do foro mental tentar fruir calma e prazenteiramente os dias de férias sem «rasgos» ou incómodos de natureza idílica, auto-infligidos por sugestão da Halcon ou da Agência Abreu?
Entendam-me: eu gosto de viajar, esporadicamente. Contudo, até aí jogo pelo seguro. Quando assim é, a minha costela snob marca pontos: a escolha é, invariavelmente, a de um destino minimamente «civilizado» (as aspas são a contribuição da semana para o politicamente correcto). A minha regra é simples: se é para sair, que se saia para onde a civilização humana marcou forte presença no passado e marca ainda no presente. Que se escolham sitios onde se possa continuar a comprar os jornais e as revistas habituais, desfrutar de bons museu, bons restaurantes e cafés, livrarias decentes e cinema e teatro capazes. E, é claro, com gente «normal» à mistura. Não me peçam para escolher retiros exóticos, com climas absurdamente húmidos e programas de pesca submarina, paredes meias com a pobreza e a mosquitagem. A minha consciência estética e moral não me permite assistir pacificamente à coabitação entre o luxo de uma estância turística e a dura realidade da fome e da indigência, mesmo ali ao lado. Para quê a «diferença», o «exotismo» e a «extravagância» se há sempre uma Veneza, uma Roma, uma Londres, uma Barcelona ou uma Paris, a escassas horas de distância?
Não sou dos que alinham no pitiatismo das férias. Há algo de patético e deprimente na forma como a maioria das pessoas procura insistente e urgentemente um programa para ocupar o período de férias, sob pena de sentirem o sabor amargo da derrota e da frustração. Quando me perguntam “Onde foste nestas férias?” e recebem como resposta “A lado nenhum, fiquei por aqui”, vislumbro sempre um olhar de comiseração trocista. Não faz hoje qualquer sentido, sendo até sinal de infelicidade profunda, “ficar” quando é suposto “sair”. É incompreensível saber que se ocuparam os dias de férias a ler, em casa ou numa qualquer esplanada ou jardim, na mesma cidade onde se viveu (ou vegetou...) durante todo o ano.
Não percebo porquê. Será assim tão errado não alinhar na voragem vigente? Será sinal de doença do foro mental tentar fruir calma e prazenteiramente os dias de férias sem «rasgos» ou incómodos de natureza idílica, auto-infligidos por sugestão da Halcon ou da Agência Abreu?
Entendam-me: eu gosto de viajar, esporadicamente. Contudo, até aí jogo pelo seguro. Quando assim é, a minha costela snob marca pontos: a escolha é, invariavelmente, a de um destino minimamente «civilizado» (as aspas são a contribuição da semana para o politicamente correcto). A minha regra é simples: se é para sair, que se saia para onde a civilização humana marcou forte presença no passado e marca ainda no presente. Que se escolham sitios onde se possa continuar a comprar os jornais e as revistas habituais, desfrutar de bons museu, bons restaurantes e cafés, livrarias decentes e cinema e teatro capazes. E, é claro, com gente «normal» à mistura. Não me peçam para escolher retiros exóticos, com climas absurdamente húmidos e programas de pesca submarina, paredes meias com a pobreza e a mosquitagem. A minha consciência estética e moral não me permite assistir pacificamente à coabitação entre o luxo de uma estância turística e a dura realidade da fome e da indigência, mesmo ali ao lado. Para quê a «diferença», o «exotismo» e a «extravagância» se há sempre uma Veneza, uma Roma, uma Londres, uma Barcelona ou uma Paris, a escassas horas de distância?
FIDEL, SARAMAGO & Cª Lda.
Comentário do leitor Fernando Branco, residente em New Jersey, USA, aos argumentos do José Luis:
Ah! O Sr. José Luís teve o prazer de visitar o paraíso idílico que é Cuba e de conhecer muitos cubanos e cubanas. Pois, Sr. José Luís, eu nunca visitei Cuba, mas conheço alguns cubanos. Conheço alguns cubanos que não têm medo de contar exactamente que tipo de paraíso o camarada Fidel mantém em Cuba. Conheço alguns cubanos que sempre que algum familiar deles em Cuba precisa de assistência médica, têm que lhes mandar álcool, gaze, algodão, adesivo,...enfim, todos os produtos básicos que qualquer agregado familiar num pais não comunista tem em casa. Além disso, porque será que todos os anos centenas de Cubanos arriscam a vida a atravessar o golfo do México em câmaras de ar de camião e em jangadas, para chegar aos Estados Unidos? (...) Ao fim ao cabo, não estarão eles a abandonar um pais em que todos são "iguais" para vir para um pais com grandes desigualdades? Será porque é melhor ser pobre com liberdade num pais rico do que ser pobre, sem liberdade, num pais de pobres? Não sei.
Nunca visitei Cuba, mas visitei a China (benefícios de ter casado com uma cidadã chinesa). Tive o prazer de ver pessoalmente a "igualdade" tão querida dos intelectuais de esquerda. Ao fim de duas semanas já conseguia destinguir os membros do partido pela roupa que vestiam e pelos carros que conduziam, do resto do povinho supostamente "igual". Talvez o sr. José Luís e o meu sogro devessem discutir os benefícios e vantagens de passar vários anos em campos agrícolas de "reforma".(...)
O Sr. José Luís (e o meu dentista) é da opinião que é preferível sermos
todos iguais na miséria do que termos diferentes graus de abundância. Mesmo assim, a verdade é que o Sr. José Luís não encontra esse tipo de igualdade em nenhum país comunista.
Por último, o facto da maioria dos países da América do Sul serem países pobres não é independente dos regimes políticos que tiveram, mas, antes, uma consequência directa. O que o Sr. José Luís se esqueceu de mencionar acerca desses países, é que todos tiveram um regime de ditadura, de esquerda ou de direita, na sua historia recente.
Acrescento um pequeno excerto do artigo de Rui Henriques Coimbra, no Expresso:
"(...) os tribunais do ditador impuseram sentenças aterradoras a uma mão-cheia de dissidentes. Entre os condenados, encontrava-se Marta Beatriz Roque, uma economista sem filiação partidária que teve a audácia de convidar para jantar o representante da missão americana em Cuba. Recebeu 25 anos de cadeia. Omar Rodriguez Saludes foi condenado a 27 anos de prisão. Que crime hediondo cometeu? Será que trazia granadas nos bolsos ou mantinha contactos secretos com o imperialismo ianque em Guantanamo? Não. Passava os dias a pedalar pela cidade fora, na sua bicicleta enferrujada, a recolher material para o seu jornalismo independente. Ao todo foram julgados 75 dissidentes em julgamentos relâmpago. Ninguém foi considerado inocente (...) Alguns dos condenados eram bibliotecários, ou seja, gente que se atreveu a amar os livros.
Felizmente, podemos sempre contar com uma vaga colossal de indignação pública de cada vez que um homem poderoso humilha, derrota e esmaga o espírito dos mais fracos. Da mesma maneira que, nas semanas que antecederam a guerra, a Europa se encheu de gente anti-Bush e anti-América e antiguerra, é um prazer verificar que as avenidas europeias, de Lisboa à Lapónia, ficaram apinhadas de pacifistas indignados com as prepotências do regime castrista. O quê? Não. Não pode ser. Estão a segredar-me ao ouvido que ando mal informado, que não houve manifestações nenhumas. Está bem, compreende-se. Os manifestantes também têm direito a tirar férias...."
Comentário do leitor Fernando Branco, residente em New Jersey, USA, aos argumentos do José Luis:
Ah! O Sr. José Luís teve o prazer de visitar o paraíso idílico que é Cuba e de conhecer muitos cubanos e cubanas. Pois, Sr. José Luís, eu nunca visitei Cuba, mas conheço alguns cubanos. Conheço alguns cubanos que não têm medo de contar exactamente que tipo de paraíso o camarada Fidel mantém em Cuba. Conheço alguns cubanos que sempre que algum familiar deles em Cuba precisa de assistência médica, têm que lhes mandar álcool, gaze, algodão, adesivo,...enfim, todos os produtos básicos que qualquer agregado familiar num pais não comunista tem em casa. Além disso, porque será que todos os anos centenas de Cubanos arriscam a vida a atravessar o golfo do México em câmaras de ar de camião e em jangadas, para chegar aos Estados Unidos? (...) Ao fim ao cabo, não estarão eles a abandonar um pais em que todos são "iguais" para vir para um pais com grandes desigualdades? Será porque é melhor ser pobre com liberdade num pais rico do que ser pobre, sem liberdade, num pais de pobres? Não sei.
Nunca visitei Cuba, mas visitei a China (benefícios de ter casado com uma cidadã chinesa). Tive o prazer de ver pessoalmente a "igualdade" tão querida dos intelectuais de esquerda. Ao fim de duas semanas já conseguia destinguir os membros do partido pela roupa que vestiam e pelos carros que conduziam, do resto do povinho supostamente "igual". Talvez o sr. José Luís e o meu sogro devessem discutir os benefícios e vantagens de passar vários anos em campos agrícolas de "reforma".(...)
O Sr. José Luís (e o meu dentista) é da opinião que é preferível sermos
todos iguais na miséria do que termos diferentes graus de abundância. Mesmo assim, a verdade é que o Sr. José Luís não encontra esse tipo de igualdade em nenhum país comunista.
Por último, o facto da maioria dos países da América do Sul serem países pobres não é independente dos regimes políticos que tiveram, mas, antes, uma consequência directa. O que o Sr. José Luís se esqueceu de mencionar acerca desses países, é que todos tiveram um regime de ditadura, de esquerda ou de direita, na sua historia recente.
Acrescento um pequeno excerto do artigo de Rui Henriques Coimbra, no Expresso:
"(...) os tribunais do ditador impuseram sentenças aterradoras a uma mão-cheia de dissidentes. Entre os condenados, encontrava-se Marta Beatriz Roque, uma economista sem filiação partidária que teve a audácia de convidar para jantar o representante da missão americana em Cuba. Recebeu 25 anos de cadeia. Omar Rodriguez Saludes foi condenado a 27 anos de prisão. Que crime hediondo cometeu? Será que trazia granadas nos bolsos ou mantinha contactos secretos com o imperialismo ianque em Guantanamo? Não. Passava os dias a pedalar pela cidade fora, na sua bicicleta enferrujada, a recolher material para o seu jornalismo independente. Ao todo foram julgados 75 dissidentes em julgamentos relâmpago. Ninguém foi considerado inocente (...) Alguns dos condenados eram bibliotecários, ou seja, gente que se atreveu a amar os livros.
Felizmente, podemos sempre contar com uma vaga colossal de indignação pública de cada vez que um homem poderoso humilha, derrota e esmaga o espírito dos mais fracos. Da mesma maneira que, nas semanas que antecederam a guerra, a Europa se encheu de gente anti-Bush e anti-América e antiguerra, é um prazer verificar que as avenidas europeias, de Lisboa à Lapónia, ficaram apinhadas de pacifistas indignados com as prepotências do regime castrista. O quê? Não. Não pode ser. Estão a segredar-me ao ouvido que ando mal informado, que não houve manifestações nenhumas. Está bem, compreende-se. Os manifestantes também têm direito a tirar férias...."
sábado, abril 19, 2003
ESTATÍSTICA
Recebo a informação estatística de que o meu querido Blog já foi visitado mais de 1.000 vezes, desde o dia 5 de Abril. O que dá uma média de... 71 visitas diárias.
Agradeço ao meu pai, à minha mãe e à minha namorada o facto de o terem colocado como 'Home Page' dos seus browser (yes, folks, that's the secret). Estou envergonha e eternamente grato.
Recebo a informação estatística de que o meu querido Blog já foi visitado mais de 1.000 vezes, desde o dia 5 de Abril. O que dá uma média de... 71 visitas diárias.
Agradeço ao meu pai, à minha mãe e à minha namorada o facto de o terem colocado como 'Home Page' dos seus browser (yes, folks, that's the secret). Estou envergonha e eternamente grato.
COMENTÁRIOS A PROPÓSITO DO SR. SARAMAGO
Do meu amigo Zé Luis, recebi o seguinte texto, que só hoje li:
“Acabei de ler os ultimos desenvolvimentos do teu Blog e verifiquei que continuas a manter a mesma aversão por um dos maiores vultos do nosso país, que juntamente com Álvaro Siza Vieira e Manoel de Oliveira, constitui, quer queiras quer não, o trio de portugueses mais brilhantes da nossa época.
O mais curioso é que quando as pessoas têm determinado ponto de vista são acusadas por isso, quando colocam esse ponto de vista em causa são acusadas da mesma forma.
Por que motivo não te congratulas pelo facto de José Saramago ter condenado, e bem, os fuzilamentos em Cuba??? Porque o criticas agora??
Estive em Cuba há 4 anos atrás, não apenas em Varadero como a maioria dos turistas mas também em Havana (a maior parte do tempo) bem como em diversas outras cidades como Santiago, Cienfuegos, Santa Clara, Matanzas, Trinitad etc. e procurei a todo o instante perceber o país, perceber a revolução, falei com dezenas de pessoas sempre que possível acerca de política e do regime, e a ideia com que fiquei foi a de um povo com um sentido nacionalista fortíssimo, que se mantém grato às conquistas da revolução, que têm a noção clara que a alternativa ao regime seria a colonização norte-americana, onde alguns, é certo, sairíam altamente beneficiados mas com a qual a esmagadora maioria da população nada teria a ganhar, antes pelo contrário.
Cuba é um país pobre como o são a Guatemala, as Honduras , El Salvador , Haiti, República Dominicana, Costa Rica e todos os outros da mesma região independentemente dos regimes políticos, com a agravante dum embargo de décadas, que apenas prejudica a população e serve de escudo protector a Fidel.
Também eu, tal como Saramago, fiquei surpreendido com estes fuzilamentos. Contudo gostava de saber se o motivo dos mesmos terá sido apenas "delito de opinião" ou se pelo contrário se tratou de conspirações, armadas ou não, contra o regime, e nesse caso gostava de saber como reagiria na conjuntura actual o regime norte americano em caso idêntico. Gostaria ainda de saber quantas pessoas executou George W. Bush enquanto era governador do Texas, sem falar dos milhares de mortos desta invasão do Iraque (certamente muitos mais do que os do atentado de 11 de Setembro em Nova Iorque, por sinal uma das suas justificações...).
Gostei de Cuba e dos Cubanos, passei momentos inesquecíveis naquele país em convívio com aquele maravilhoso povo, que não compete entre sí, que luta solidariamente e que apaixona quem com ele lide de perto.
Conhecí Cubanos (e já agora Cubanas...)que não mais esquecerei.
Não quero nem posso defender Fidel Castro, posso sim afirmar que tendo em conta o enquadramento histórico bem como a situação geográfica de Cuba, qualquer alternativa a este regime, passando necessariamente pela indesejada intromissão norte americana, nada de novo traria à maioria do seu povo.
Meu caro Zé Luis: em primeiro lugar, um reparo. Eu não crítico Saramago por ter dito o que disse. Eu só crítico Saramago por só agora, ingenuamente, ter descoberto a pólvora. De resto, eu sei que ele sabe que eu sei e tu sabes que ele sabe o que se tem passado na Cuba de Fidel. Só que o apego à ideologia impõe militancia cega e o exercício intermitente da mentira ou do silêncio.
Em segundo lugar, ao contrário do que dizes, acabaste por defender Fidel, por via indirecta. Da mesma forma que ficaste surpreendido com estes fuzilamentos, fiquei eu estupefacto com o teu comentário. Há nele uma passagem que é, desculpar-me-ás a sinceridade, uma verdadeira pérola de relativismo moral e cinismo: ”(...) gostava de saber se o motivo dos mesmos terá sido apenas "delito de opinião" ou se pelo contrário se tratou de conspirações, armadas ou não, contra o regime, e nesse caso gostava de saber como reagiria na conjuntura actual o regime norte americano em caso idêntico. Gostaria ainda de saber quantas pessoas executou George W. Bush enquanto era governador do Texas (...).” Tenho, inclusivamente, alguma dificuldade em responder a estas afirmações, aqui, em público.
Podia começar por dizer-te que os EUA são uma democracia (baseada numa sociedade liberal onde o respeito pela liberdade de expressão é um dado adquirido); que a pena de morte, onde vigora, é apoiada por 70% da população (sondagem feita já este ano); que, embora não concorde com a pena de morte, reconheço que as execuções praticadas no Estado de Bush estão legal e juridicamente sustentadas e previstas; que comparar a pena de morte, enquanto sentença de um estado de direito, onde o primado da lei é regra, com execuções sumárias, por delito de opinião, perpetradas por um regime ditatorial, é hilariante, etc. etc. etc. Mas não vou por aí. Vou antes por outro caminho, entrando no teu «jogo». Vamos supor que sim, que Bush é um monstro; que também ele mandou executar muitos inocentes; que os EUA são, no mínimo, uma plutocracia; que a intervenção no Iraque é uma «invasão» infame com intuitos estritamente económicos, na qual não houve o menor respeito pelas populações civis – ou seja, vamos supor que todas as teorias da conspiração, e os factos que as sustentam, se confirmam e que a natureza da administração Bush é maligna. Pergunto-te, então: servirá isso para desculpar o que se passou em Cuba, recentemente e nos últimos quarenta anos? Um acto brutal, atentatório dos mais elementares direitos humanos, poderá ser desvalorizado, desculpado ou justificado com o exemplo de outros? Será possível, um dia, ver os que sofrem de ‘esquerdite aguda’ discutir de cabeça limpa a realidade cubana, sem recorrer a exemplos comparativos altamente duvidosos, ou histórica e moralmente incomparáveis? Como é possível continuares a ser complacente para com o regime de Fidel, com base no simples facto de já teres lá estado (so what?) e teres constatado um forte sentimento nacionalista? Desde quando o orgulho de ser cubano (ou de pertencer a qualquer outro país) rima com uma adesão incondicional ao regime vigente? Quererás com isso dizer que os milhares de cubanos que tentaram fugir de Cuba, ao longo destas últimas décadas, não são patriotas? Não gostam do seu país? São traidores? Que confusão é essa entre regime/Estado e país/nação? Que comentários farás relativamente aos relatos e provas materiais que envolvem Fidel e o seu regime autocrático a milhares de assassinatos, à perseguição, clausura e tortura de cidadãos (incluindo a famosa «tortura limpa», utilizada na Alemanha de Leste) pelos simples facto de pensarem de forma diferente? Compreenderás que uma parte da população cubana já nasceu sob o jugo de Fidel, não tendo ainda saboreado o que é isso da “liberdade" (de expressão e não só)? Terás percebido que franjas há da população que servem abnegadamente o regime? Que os meios de propaganda de Estado são dos melhores, à boa maneira marxista-leninista? Porque te eriças tanto com Pinochet e emudeces com Fidel? Em suma: onde tens vivido nos últimos anos? A que fontes tens recorrido? (deixa-me adivinhar: Chomski, Ramonet, Hardt, Negri & Klein Lda.) Não tens lido, ao menos, os relatórios da A. I. sobre Cuba?
Por último, um comentário à seguinte afirmação: “Gostaria ainda de saber quantas pessoas executou George W. Bush enquanto era governador do Texas, sem falar dos milhares de mortos desta invasão do Iraque (certamente muitos mais do que os do atentado de 11 de Setembro em Nova Iorque, por sinal uma das suas justificações...) Recuso-me, como é evidente, a fazer a atroz contabilidade dos mortos. Considero intelectualmente desonesta a forma como tentas misturar conflitos para justificar ou desvalorizar o que se passou em Cuba. O que não é novidade em ti e nos teus correligionários. São vocês que passam o tempo todo a comparar o 11 de Setembro de 2001 com o de 1973 no Chile, com o Vietnam ou com as vitimas da Palestina. Porque não falar, também, das vitimas israelitas, do Afeganistão, de Angola, do Camboja, da Coreia do Norte? Ou noutras quaisquer? Há comparações absurdas. Há exercícios torpes e indignos. Misturar tudo com o intuito de amenizar ou contextualizar situações díspares é ofender a memória das vitimas, de todos os conflitos. É, aliás, a forma mais rápida para se chegar ao relativismo mais selvagem onde, no fundo, não há bem nem mal, certo ou errado.
Resta fazer-te “a” pergunta: para ti Fidel é ou não um ditador que oprime o seu povo e que beneficia, há décadas, da benevolência da intelligentsia ocidental? - a mesma que, entre um croissant numa esplanada parisiense, um bife da sola num qualquer restaurante chic, um passeio indignado pela Avenida da Liberdade, ou um mil-folhas na esplanada do CCB, lá vai achando imensa piada ao pitoresco de uma ilha situada algures nas Caraibas, achando que o povo nativo está bem melhor assim do que uma “indesejada intromissão”...
Recebe lá um abraço. Do MacGuffin.
PS: Saramago um dos maiores vultos do nosso país, juntamente com Siza e Oliveira? Ok. E depois? Desde quando um «vulto» está imune à hipocrisia, à estupidez, à duplicidade de critérios, etc. etc. Se fossemos à história do Sec. XX, quantos «vultos» não encontrarias tu a apoiar os “autores das proibições mais brutais”...
Do meu amigo Zé Luis, recebi o seguinte texto, que só hoje li:
“Acabei de ler os ultimos desenvolvimentos do teu Blog e verifiquei que continuas a manter a mesma aversão por um dos maiores vultos do nosso país, que juntamente com Álvaro Siza Vieira e Manoel de Oliveira, constitui, quer queiras quer não, o trio de portugueses mais brilhantes da nossa época.
O mais curioso é que quando as pessoas têm determinado ponto de vista são acusadas por isso, quando colocam esse ponto de vista em causa são acusadas da mesma forma.
Por que motivo não te congratulas pelo facto de José Saramago ter condenado, e bem, os fuzilamentos em Cuba??? Porque o criticas agora??
Estive em Cuba há 4 anos atrás, não apenas em Varadero como a maioria dos turistas mas também em Havana (a maior parte do tempo) bem como em diversas outras cidades como Santiago, Cienfuegos, Santa Clara, Matanzas, Trinitad etc. e procurei a todo o instante perceber o país, perceber a revolução, falei com dezenas de pessoas sempre que possível acerca de política e do regime, e a ideia com que fiquei foi a de um povo com um sentido nacionalista fortíssimo, que se mantém grato às conquistas da revolução, que têm a noção clara que a alternativa ao regime seria a colonização norte-americana, onde alguns, é certo, sairíam altamente beneficiados mas com a qual a esmagadora maioria da população nada teria a ganhar, antes pelo contrário.
Cuba é um país pobre como o são a Guatemala, as Honduras , El Salvador , Haiti, República Dominicana, Costa Rica e todos os outros da mesma região independentemente dos regimes políticos, com a agravante dum embargo de décadas, que apenas prejudica a população e serve de escudo protector a Fidel.
Também eu, tal como Saramago, fiquei surpreendido com estes fuzilamentos. Contudo gostava de saber se o motivo dos mesmos terá sido apenas "delito de opinião" ou se pelo contrário se tratou de conspirações, armadas ou não, contra o regime, e nesse caso gostava de saber como reagiria na conjuntura actual o regime norte americano em caso idêntico. Gostaria ainda de saber quantas pessoas executou George W. Bush enquanto era governador do Texas, sem falar dos milhares de mortos desta invasão do Iraque (certamente muitos mais do que os do atentado de 11 de Setembro em Nova Iorque, por sinal uma das suas justificações...).
Gostei de Cuba e dos Cubanos, passei momentos inesquecíveis naquele país em convívio com aquele maravilhoso povo, que não compete entre sí, que luta solidariamente e que apaixona quem com ele lide de perto.
Conhecí Cubanos (e já agora Cubanas...)que não mais esquecerei.
Não quero nem posso defender Fidel Castro, posso sim afirmar que tendo em conta o enquadramento histórico bem como a situação geográfica de Cuba, qualquer alternativa a este regime, passando necessariamente pela indesejada intromissão norte americana, nada de novo traria à maioria do seu povo.
Meu caro Zé Luis: em primeiro lugar, um reparo. Eu não crítico Saramago por ter dito o que disse. Eu só crítico Saramago por só agora, ingenuamente, ter descoberto a pólvora. De resto, eu sei que ele sabe que eu sei e tu sabes que ele sabe o que se tem passado na Cuba de Fidel. Só que o apego à ideologia impõe militancia cega e o exercício intermitente da mentira ou do silêncio.
Em segundo lugar, ao contrário do que dizes, acabaste por defender Fidel, por via indirecta. Da mesma forma que ficaste surpreendido com estes fuzilamentos, fiquei eu estupefacto com o teu comentário. Há nele uma passagem que é, desculpar-me-ás a sinceridade, uma verdadeira pérola de relativismo moral e cinismo: ”(...) gostava de saber se o motivo dos mesmos terá sido apenas "delito de opinião" ou se pelo contrário se tratou de conspirações, armadas ou não, contra o regime, e nesse caso gostava de saber como reagiria na conjuntura actual o regime norte americano em caso idêntico. Gostaria ainda de saber quantas pessoas executou George W. Bush enquanto era governador do Texas (...).” Tenho, inclusivamente, alguma dificuldade em responder a estas afirmações, aqui, em público.
Podia começar por dizer-te que os EUA são uma democracia (baseada numa sociedade liberal onde o respeito pela liberdade de expressão é um dado adquirido); que a pena de morte, onde vigora, é apoiada por 70% da população (sondagem feita já este ano); que, embora não concorde com a pena de morte, reconheço que as execuções praticadas no Estado de Bush estão legal e juridicamente sustentadas e previstas; que comparar a pena de morte, enquanto sentença de um estado de direito, onde o primado da lei é regra, com execuções sumárias, por delito de opinião, perpetradas por um regime ditatorial, é hilariante, etc. etc. etc. Mas não vou por aí. Vou antes por outro caminho, entrando no teu «jogo». Vamos supor que sim, que Bush é um monstro; que também ele mandou executar muitos inocentes; que os EUA são, no mínimo, uma plutocracia; que a intervenção no Iraque é uma «invasão» infame com intuitos estritamente económicos, na qual não houve o menor respeito pelas populações civis – ou seja, vamos supor que todas as teorias da conspiração, e os factos que as sustentam, se confirmam e que a natureza da administração Bush é maligna. Pergunto-te, então: servirá isso para desculpar o que se passou em Cuba, recentemente e nos últimos quarenta anos? Um acto brutal, atentatório dos mais elementares direitos humanos, poderá ser desvalorizado, desculpado ou justificado com o exemplo de outros? Será possível, um dia, ver os que sofrem de ‘esquerdite aguda’ discutir de cabeça limpa a realidade cubana, sem recorrer a exemplos comparativos altamente duvidosos, ou histórica e moralmente incomparáveis? Como é possível continuares a ser complacente para com o regime de Fidel, com base no simples facto de já teres lá estado (so what?) e teres constatado um forte sentimento nacionalista? Desde quando o orgulho de ser cubano (ou de pertencer a qualquer outro país) rima com uma adesão incondicional ao regime vigente? Quererás com isso dizer que os milhares de cubanos que tentaram fugir de Cuba, ao longo destas últimas décadas, não são patriotas? Não gostam do seu país? São traidores? Que confusão é essa entre regime/Estado e país/nação? Que comentários farás relativamente aos relatos e provas materiais que envolvem Fidel e o seu regime autocrático a milhares de assassinatos, à perseguição, clausura e tortura de cidadãos (incluindo a famosa «tortura limpa», utilizada na Alemanha de Leste) pelos simples facto de pensarem de forma diferente? Compreenderás que uma parte da população cubana já nasceu sob o jugo de Fidel, não tendo ainda saboreado o que é isso da “liberdade" (de expressão e não só)? Terás percebido que franjas há da população que servem abnegadamente o regime? Que os meios de propaganda de Estado são dos melhores, à boa maneira marxista-leninista? Porque te eriças tanto com Pinochet e emudeces com Fidel? Em suma: onde tens vivido nos últimos anos? A que fontes tens recorrido? (deixa-me adivinhar: Chomski, Ramonet, Hardt, Negri & Klein Lda.) Não tens lido, ao menos, os relatórios da A. I. sobre Cuba?
Por último, um comentário à seguinte afirmação: “Gostaria ainda de saber quantas pessoas executou George W. Bush enquanto era governador do Texas, sem falar dos milhares de mortos desta invasão do Iraque (certamente muitos mais do que os do atentado de 11 de Setembro em Nova Iorque, por sinal uma das suas justificações...) Recuso-me, como é evidente, a fazer a atroz contabilidade dos mortos. Considero intelectualmente desonesta a forma como tentas misturar conflitos para justificar ou desvalorizar o que se passou em Cuba. O que não é novidade em ti e nos teus correligionários. São vocês que passam o tempo todo a comparar o 11 de Setembro de 2001 com o de 1973 no Chile, com o Vietnam ou com as vitimas da Palestina. Porque não falar, também, das vitimas israelitas, do Afeganistão, de Angola, do Camboja, da Coreia do Norte? Ou noutras quaisquer? Há comparações absurdas. Há exercícios torpes e indignos. Misturar tudo com o intuito de amenizar ou contextualizar situações díspares é ofender a memória das vitimas, de todos os conflitos. É, aliás, a forma mais rápida para se chegar ao relativismo mais selvagem onde, no fundo, não há bem nem mal, certo ou errado.
Resta fazer-te “a” pergunta: para ti Fidel é ou não um ditador que oprime o seu povo e que beneficia, há décadas, da benevolência da intelligentsia ocidental? - a mesma que, entre um croissant numa esplanada parisiense, um bife da sola num qualquer restaurante chic, um passeio indignado pela Avenida da Liberdade, ou um mil-folhas na esplanada do CCB, lá vai achando imensa piada ao pitoresco de uma ilha situada algures nas Caraibas, achando que o povo nativo está bem melhor assim do que uma “indesejada intromissão”...
Recebe lá um abraço. Do MacGuffin.
PS: Saramago um dos maiores vultos do nosso país, juntamente com Siza e Oliveira? Ok. E depois? Desde quando um «vulto» está imune à hipocrisia, à estupidez, à duplicidade de critérios, etc. etc. Se fossemos à história do Sec. XX, quantos «vultos» não encontrarias tu a apoiar os “autores das proibições mais brutais”...
quarta-feira, abril 16, 2003
SR. SARAMAGO: SÓ AGORA?
Parece que o estou a ver, sentado na ‘balcony’ de sua casa, com a paisagem lunar de Lanzarote à sua frente. Saramago, ainda de roupão, aguarda que Pilar, sua esposa devota, lhe sirva o pequeno almoço. Pilar chega, com torradas Panrico, leite Pascual e os jornais do dia. Antes de sorver um pouco de ‘leche’, Saramago folheia os jornais, com aquele ar blasé que tão bem o caracteriza. Depara-se com uma notícia que envolve o seu caro amigo Fidel num caso de execuções sumárias. Saramago lê e, em tom calmo e sereno, diz a Pilar: “Este Fidel afinal é um ditador. Passa-me aí a manteiga, Pilarzita.” Ao que Pilar responde: “Pois é. Andávamos enganados. Vou até Badajoz comprar caramelos. Queres de lá mais alguma coisa?” “Olha, traz-me uns sapatinhos Lotusse e o The Road To Serfdom do Hayek”.
O Sr. José Saramago terá despertado para a realidade cubana? Desculpem mas eu alinho nessa treta. Razões? Simplesmente esta: desde 1959 que Fidel perpetra atrocidades várias contra o seu povo e nunca antes Saramago havia proferido a mais leve crítica objectiva contra o regime de Fidel – um regime ditatorial ‘light’ que os esquerdistas adoram agitar como bandeira. Não que o Sr. Saramago não soubesse o que por lá se passava. O Sr. Saramago é apenas mais um intelectual ocidental (na esteira de Sartre) que, fora da sua actividade (neste caso de escritor), tem passado a vida inteira a fazer uma de duas coisas: ora a exercitar o mais canalha dos silêncios face às ditaduras de inspiração marxista-leninista, ora a comentar com complacência e despudor a natureza despótica desses mesmos regimes. Tudo em nome da ideologia e da luta contra o «inimigo» (os EUA, o capitalismo e o Ocidente, que o não compreende).
Eu tenho memória. Em 1998 – ou seja, há apenas 5 (cinco) anos atrás - o Sr. Saramago e o Sr. Vasco Gonçalves, numa viagem que fizeram a Cuba, esgrimiram algumas afirmações avulsas sobre a terrível sociedade ocidental. Que o comunismo estava vivo, que se recomendava e que apenas ele detinha a força e coerência necessárias para combater, sem tréguas, o capitalismo opressor e a submissão generalizada da humanidade face aos donos do capital (as balelas do costume). Nessa mesma entrevista, viraram-se para Cuba e para Fidel e apresentaram-no ao mundo como um exemplo vivo de solidariedade, justiça e liberdade. Em 1998 tinham passado 39 anos sobre a tomada do poder por Castro. Querem, portanto, convencer-me que só agora, 5 (cinco) anos após essa entrevista, e 44 (quarenta e quatro) anos depois, o Sr. Saramago terá despertado para a dura realidade cubana? Só agora o Sr. Saramago se terá inteirado das perseguições, torturas e aniquilamentos perpetrados ao longo dos anos de ditadura socialista Castrense? Só agora terá percebido que, desde 1959, mais de cem mil cubanos conheceram os campos de concentração, as prisões ou as frentes abiertas? Só agora terá tido conhecimento do fuzilamento de mais de quinze mil pessoas ao longo de todos estes anos? Só agora o Sr. Saramago terá ouvido falar do DSE - Departamento de Segurança do Estado, alcunhado de Gestapo Vermelha pelos cubanos? Só agora terá sabido que Castro promulgou uma lei, em 1978, segunda a qual se instituía a figura da “perigosidade pré-delituosa” em que um cubano, a partir de então, poderia ser preso desde que as autoridades considerassem que o indivíduo representava um perigo para a segurança do estado (mesmo que ele não tivesse praticado qualquer acto nesse sentido)? Não me lixem!
O Sr. Saramago disse o que disse porque, num mundo globalizado (bendita globalização!) em que tudo, mais tarde ou mais cedo, se sabe, seria obsceno e ridículo continuar a tapar o sol com a peneira. Há um limite a partir do qual a mentira se volta contra o mentiroso. O Sr. Saramago terá percebido isso porque ele não é parvo. Mais: o Sr. Saramago é um espertalhão. Numa época em que a ignorância em relação à História está instituída e a amnésia é profunda, querem apostar que ele ainda vai acabar como paladino da libertação do povo de Cuba? E, já agora, em Nobel da Paz?
Parece que o estou a ver, sentado na ‘balcony’ de sua casa, com a paisagem lunar de Lanzarote à sua frente. Saramago, ainda de roupão, aguarda que Pilar, sua esposa devota, lhe sirva o pequeno almoço. Pilar chega, com torradas Panrico, leite Pascual e os jornais do dia. Antes de sorver um pouco de ‘leche’, Saramago folheia os jornais, com aquele ar blasé que tão bem o caracteriza. Depara-se com uma notícia que envolve o seu caro amigo Fidel num caso de execuções sumárias. Saramago lê e, em tom calmo e sereno, diz a Pilar: “Este Fidel afinal é um ditador. Passa-me aí a manteiga, Pilarzita.” Ao que Pilar responde: “Pois é. Andávamos enganados. Vou até Badajoz comprar caramelos. Queres de lá mais alguma coisa?” “Olha, traz-me uns sapatinhos Lotusse e o The Road To Serfdom do Hayek”.
O Sr. José Saramago terá despertado para a realidade cubana? Desculpem mas eu alinho nessa treta. Razões? Simplesmente esta: desde 1959 que Fidel perpetra atrocidades várias contra o seu povo e nunca antes Saramago havia proferido a mais leve crítica objectiva contra o regime de Fidel – um regime ditatorial ‘light’ que os esquerdistas adoram agitar como bandeira. Não que o Sr. Saramago não soubesse o que por lá se passava. O Sr. Saramago é apenas mais um intelectual ocidental (na esteira de Sartre) que, fora da sua actividade (neste caso de escritor), tem passado a vida inteira a fazer uma de duas coisas: ora a exercitar o mais canalha dos silêncios face às ditaduras de inspiração marxista-leninista, ora a comentar com complacência e despudor a natureza despótica desses mesmos regimes. Tudo em nome da ideologia e da luta contra o «inimigo» (os EUA, o capitalismo e o Ocidente, que o não compreende).
Eu tenho memória. Em 1998 – ou seja, há apenas 5 (cinco) anos atrás - o Sr. Saramago e o Sr. Vasco Gonçalves, numa viagem que fizeram a Cuba, esgrimiram algumas afirmações avulsas sobre a terrível sociedade ocidental. Que o comunismo estava vivo, que se recomendava e que apenas ele detinha a força e coerência necessárias para combater, sem tréguas, o capitalismo opressor e a submissão generalizada da humanidade face aos donos do capital (as balelas do costume). Nessa mesma entrevista, viraram-se para Cuba e para Fidel e apresentaram-no ao mundo como um exemplo vivo de solidariedade, justiça e liberdade. Em 1998 tinham passado 39 anos sobre a tomada do poder por Castro. Querem, portanto, convencer-me que só agora, 5 (cinco) anos após essa entrevista, e 44 (quarenta e quatro) anos depois, o Sr. Saramago terá despertado para a dura realidade cubana? Só agora o Sr. Saramago se terá inteirado das perseguições, torturas e aniquilamentos perpetrados ao longo dos anos de ditadura socialista Castrense? Só agora terá percebido que, desde 1959, mais de cem mil cubanos conheceram os campos de concentração, as prisões ou as frentes abiertas? Só agora terá tido conhecimento do fuzilamento de mais de quinze mil pessoas ao longo de todos estes anos? Só agora o Sr. Saramago terá ouvido falar do DSE - Departamento de Segurança do Estado, alcunhado de Gestapo Vermelha pelos cubanos? Só agora terá sabido que Castro promulgou uma lei, em 1978, segunda a qual se instituía a figura da “perigosidade pré-delituosa” em que um cubano, a partir de então, poderia ser preso desde que as autoridades considerassem que o indivíduo representava um perigo para a segurança do estado (mesmo que ele não tivesse praticado qualquer acto nesse sentido)? Não me lixem!
O Sr. Saramago disse o que disse porque, num mundo globalizado (bendita globalização!) em que tudo, mais tarde ou mais cedo, se sabe, seria obsceno e ridículo continuar a tapar o sol com a peneira. Há um limite a partir do qual a mentira se volta contra o mentiroso. O Sr. Saramago terá percebido isso porque ele não é parvo. Mais: o Sr. Saramago é um espertalhão. Numa época em que a ignorância em relação à História está instituída e a amnésia é profunda, querem apostar que ele ainda vai acabar como paladino da libertação do povo de Cuba? E, já agora, em Nobel da Paz?
terça-feira, abril 15, 2003
NELSON RODRIGUES, X
O sexo, estritamente sexo, nada tem a ver com o pobre e degradado ser humano. É um problema dos bezerros, vira-latas e cabras.
O acto sexual é uma mijada.
Dizem que tenho, diante do sexo, uma reacção pânica de menino. É verdade. Mas o artista morre quando se faz adulto. Se ele é incapaz do espanto, do horror, do medo, que só as crianças têm, não escreverá uma linha válida.
O sexo é uma selva de epilépticos. O sexo nunca fez um santo. O sexo só faz canalhas.
O sexo, estritamente sexo, nada tem a ver com o pobre e degradado ser humano. É um problema dos bezerros, vira-latas e cabras.
O acto sexual é uma mijada.
Dizem que tenho, diante do sexo, uma reacção pânica de menino. É verdade. Mas o artista morre quando se faz adulto. Se ele é incapaz do espanto, do horror, do medo, que só as crianças têm, não escreverá uma linha válida.
O sexo é uma selva de epilépticos. O sexo nunca fez um santo. O sexo só faz canalhas.
NELSON RODRIGUES, IX
Ou o ministro é um Disraeli, um Bismarck, e o demostra, ou não passa de um contínuo. Sim, um contínuo com direito a cafézinho, agua gelada, casaca e carro oficial.
Ou o ministro é um Disraeli, um Bismarck, e o demostra, ou não passa de um contínuo. Sim, um contínuo com direito a cafézinho, agua gelada, casaca e carro oficial.
NELSON RODRIGUES, VIII
As cartas de Marx mostram que ele era imperialista, colonialista, racista, genocida, que queria a destruição dos povos miseráveis e “sem história”, os quais chama de “piolhentos”, de “anões”, de “suinos” e que não mereciam existir. Esse é o Marx de verdade, não o da nossa fantasia, não o do nosso delirio, mas o sem retoque, o Marx tragicamente autêntico.
Se me perguntassem quais seriam as minhas ultimas palavras, eu diria: - “Que besta graduada, o Carlos Marx!”
Eu quero que a História vá para o diabo que a carregue, e Marx que vá tomar banho.
As cartas de Marx mostram que ele era imperialista, colonialista, racista, genocida, que queria a destruição dos povos miseráveis e “sem história”, os quais chama de “piolhentos”, de “anões”, de “suinos” e que não mereciam existir. Esse é o Marx de verdade, não o da nossa fantasia, não o do nosso delirio, mas o sem retoque, o Marx tragicamente autêntico.
Se me perguntassem quais seriam as minhas ultimas palavras, eu diria: - “Que besta graduada, o Carlos Marx!”
Eu quero que a História vá para o diabo que a carregue, e Marx que vá tomar banho.
NELSON RODRIGUES, VII
Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos.
Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos.
NELSON RODRIGUES, VI
Na velha Rússia, dizia um possesso dostoievskiano: - “Se Deus não existe, tudo é permitido”. Hoje, a coisa não se coloca em termos sobrenaturais. Não mais. Tudo agora é permitido se houver uma ideologia.
Perguntaram a um amigo meu: - Você é de direita ou de esquerda?”. Ele calcou a brasa do cigarro no cinzeiro e respondeu: - “Não sou canalha”. Ninguém entendeu. Houve aquele ‘suspense’ irrespirável. Nova pergunta: - “Como assim?”. E o meu amigo: - “O canalha joga em qualquer posição”. E não disse nem mais uma palavra. Mas, se bem o entendi, ele insinuou o seguinte: - só o canalha precisa de uma ideologia, que o justifique e absolva.
Quando os amigos deixam de jantar com os amigos por causa da ideologia, é porque o país está maduro para a carnificina.
Na velha Rússia, dizia um possesso dostoievskiano: - “Se Deus não existe, tudo é permitido”. Hoje, a coisa não se coloca em termos sobrenaturais. Não mais. Tudo agora é permitido se houver uma ideologia.
Perguntaram a um amigo meu: - Você é de direita ou de esquerda?”. Ele calcou a brasa do cigarro no cinzeiro e respondeu: - “Não sou canalha”. Ninguém entendeu. Houve aquele ‘suspense’ irrespirável. Nova pergunta: - “Como assim?”. E o meu amigo: - “O canalha joga em qualquer posição”. E não disse nem mais uma palavra. Mas, se bem o entendi, ele insinuou o seguinte: - só o canalha precisa de uma ideologia, que o justifique e absolva.
Quando os amigos deixam de jantar com os amigos por causa da ideologia, é porque o país está maduro para a carnificina.
NELSON RODRIGUES, V
Eu amo a juventude como tal. O que eu abomino é o jovem idiota, o jovem inepto, que escreve nas paredes “É proibido proibir” e carrega cartazes de Mao, Lenin, Guevara e Fidel, autores das proibições mais brutais.
Eu amo a juventude como tal. O que eu abomino é o jovem idiota, o jovem inepto, que escreve nas paredes “É proibido proibir” e carrega cartazes de Mao, Lenin, Guevara e Fidel, autores das proibições mais brutais.
NELSON RODRIGUES, IV
Guimarães Rosa foi o menos político dos nossos autores e, repito, foi o mais autor dos nossos autores. Era só autor, era só escritor, era só estilista. Nunca o vimos carregando faixas e pinchando muros com vivas a Cuba. Se tivesse de pichar, daria vivas ao Brasil, aos Tenentes do Diabo, a Magé, à praça Sete, ao Flamengo.
Guimarães Rosa foi o menos político dos nossos autores e, repito, foi o mais autor dos nossos autores. Era só autor, era só escritor, era só estilista. Nunca o vimos carregando faixas e pinchando muros com vivas a Cuba. Se tivesse de pichar, daria vivas ao Brasil, aos Tenentes do Diabo, a Magé, à praça Sete, ao Flamengo.
NELSON RODRIGUES, III
No Brasil, só é intelectual, artista, cineasta, arquitecto, ciclista ou mata-mosquito com a aquiescência, com o aval das esquerdas.
Não há ninguém mais bobo do que um esquerdita sincero. Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer.
Historicamente, não existe mais esquerda. O que vemos, como socialismo, comunismo ou que nome tenha, é a direita na sua forma mais inumana, bestial, demoníaca.
No Brasil, só é intelectual, artista, cineasta, arquitecto, ciclista ou mata-mosquito com a aquiescência, com o aval das esquerdas.
Não há ninguém mais bobo do que um esquerdita sincero. Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer.
Historicamente, não existe mais esquerda. O que vemos, como socialismo, comunismo ou que nome tenha, é a direita na sua forma mais inumana, bestial, demoníaca.
NELSON RODRIGUES, II
O amor só começa depois dos instintos e contra os instintos.
A nossa tragédia começa quando separamos o sexo do amor. Os nossos males têm, quase sempre, esta origem fatal: - o sexo sem amor.
Não há solidão mais vil do que a do sexo sem amor.
Como, geralmente, a mulher escolhe o marido errado e o marido escolhe a mulher errada, aquele entusiasmo inicial dos primeiros oito dias – durante os quais até uma vibora, até uma lacraia ficam interessantes – cai em ponto morto e vem uma amizade que é apenas um hábito, uma rotina.
No fim de certo tempo, a relação erótica entre marido e mulher soa quase como incesto. É um escândalo que um homem deseje a mãe dos seus próprios filhos.
O amor só começa depois dos instintos e contra os instintos.
A nossa tragédia começa quando separamos o sexo do amor. Os nossos males têm, quase sempre, esta origem fatal: - o sexo sem amor.
Não há solidão mais vil do que a do sexo sem amor.
Como, geralmente, a mulher escolhe o marido errado e o marido escolhe a mulher errada, aquele entusiasmo inicial dos primeiros oito dias – durante os quais até uma vibora, até uma lacraia ficam interessantes – cai em ponto morto e vem uma amizade que é apenas um hábito, uma rotina.
No fim de certo tempo, a relação erótica entre marido e mulher soa quase como incesto. É um escândalo que um homem deseje a mãe dos seus próprios filhos.
NELSON RODRIGUES, I
Eu me dou o direito de ser contra quaisquer usos, costumes, instituições, ideias, cultos. Penso como quero e não admito, nem aceito, que me ponham limites nos meus pontos de vista.
Eu me dou o direito de ser contra quaisquer usos, costumes, instituições, ideias, cultos. Penso como quero e não admito, nem aceito, que me ponham limites nos meus pontos de vista.
domingo, abril 13, 2003
O LIXO E O LUXO
Domingo, 13 de Abril de 2003, 23 horas e 30 minutos. Na RTP 1: Operação Triunfo. Na SIC: Herman SIC. Na TVI: Saber Amar. Na RTP2: Francis Bacon em discurso directo.
Domingo, 13 de Abril de 2003, 23 horas e 30 minutos. Na RTP 1: Operação Triunfo. Na SIC: Herman SIC. Na TVI: Saber Amar. Na RTP2: Francis Bacon em discurso directo.
sexta-feira, abril 11, 2003
ABROAD
Casal amigo esteve, esta semana, em Basileia e Genebra, no Salão Internacional de Alta Relojoaria (SIHH). Gostaram imenso e voltaram com um conselho: o nosso país seria bem melhor se os nossos dirigentes (autarcas, ministros, secretários de estado, plesidentes da junta, etc.) viajassem mais (pois...). De preferência, que fossem para fora “lá fora”. Bom, nalguns casos, eu diria mesmo: vão e não voltem...
Pormenor da viagem: alugaram um táxi, conduzido por um tipo chamado Morais.
Casal amigo esteve, esta semana, em Basileia e Genebra, no Salão Internacional de Alta Relojoaria (SIHH). Gostaram imenso e voltaram com um conselho: o nosso país seria bem melhor se os nossos dirigentes (autarcas, ministros, secretários de estado, plesidentes da junta, etc.) viajassem mais (pois...). De preferência, que fossem para fora “lá fora”. Bom, nalguns casos, eu diria mesmo: vão e não voltem...
Pormenor da viagem: alugaram um táxi, conduzido por um tipo chamado Morais.
MIGUEL: OS PASTILHENTOS ESTÃO INCONTROLÁVEIS!!
Mais notícias do Wilde Bunch (leia-se “pastilhentos”): as queridas (He)Lena e Ana Albergaria marcam já presença na blogosfera. Sigam-nas de perto. Pela vossa saúde. Mental.
Mais notícias do Wilde Bunch (leia-se “pastilhentos”): as queridas (He)Lena e Ana Albergaria marcam já presença na blogosfera. Sigam-nas de perto. Pela vossa saúde. Mental.
NOT ANYMORE
O mote foi dado pelo Maradona e eu recebi-o como se de uma estalada (sub-tipo: “acorda meu camelo”) se tratasse. Eu, MacGuffin, rasgando elogios aos manos Silva do Blog de Esquerda neste humilde fachoblog, de seu nome “Contra a Corrente”? Agradeço ao meu mano o desfazer de equívocos. Torpor, adeus, tu és o elo mais fraco. Not anymore!
Escreve o José Mario: “não vejo ninguém na direita (oficial ou bloguística) a preocupar-se com as condições degradantes em que estão os prisioneiros do Campo Raio X, ao passo que a esquerda (oficial e bloguística) condenou imediatamente a perseguição do regime de Fidel Castro aos oposicionistas.”
Caro José Mário: ”condenou”? “imediatamente”? “a esquerda oficial e bloguística”? “É essa a diferença entre a esquerda e a direita”? Está a brincar, não está? Se for esse o caso, dou-lhe os meus parabéns. Um pouco de ironia na auto-critica caí sempre bem.
PS1: Quanto a Guantanamo, posso dizer-lhe que já escrevi sobre o assunto, embora noutro espaço não virtual. Só uma pessoa insensível e cega poderá deixar de criticar a forma como se cometeram excessos, e violaram regras, no decurso do aprisionamento de terroristas da Al Qaeda e de militantes Talibans (não se sabe muito bem em que estatuto ali estão). Mas, usando um pouco do seu veneno, também não vi na esquerda a mesma veemência na critica (se é que houve critica) ao mau trato infligido nos prisioneiros americanos e à transmissão de imagens dos mesmos, por parte do regime iraquiano (tanto agora como há doze anos atrás), em manifesta violação material do estipulado em Haia e Genebra... Ah, pois, já sei: dos regimes «supostamente» (as aspas são muitas utilizadas pela esquerda, nestes casos) democráticos espera-se o respeito pela lei, dos outros há que condescender, coitados...
PS2: Maradona: estive bem?
O mote foi dado pelo Maradona e eu recebi-o como se de uma estalada (sub-tipo: “acorda meu camelo”) se tratasse. Eu, MacGuffin, rasgando elogios aos manos Silva do Blog de Esquerda neste humilde fachoblog, de seu nome “Contra a Corrente”? Agradeço ao meu mano o desfazer de equívocos. Torpor, adeus, tu és o elo mais fraco. Not anymore!
Escreve o José Mario: “não vejo ninguém na direita (oficial ou bloguística) a preocupar-se com as condições degradantes em que estão os prisioneiros do Campo Raio X, ao passo que a esquerda (oficial e bloguística) condenou imediatamente a perseguição do regime de Fidel Castro aos oposicionistas.”
Caro José Mário: ”condenou”? “imediatamente”? “a esquerda oficial e bloguística”? “É essa a diferença entre a esquerda e a direita”? Está a brincar, não está? Se for esse o caso, dou-lhe os meus parabéns. Um pouco de ironia na auto-critica caí sempre bem.
PS1: Quanto a Guantanamo, posso dizer-lhe que já escrevi sobre o assunto, embora noutro espaço não virtual. Só uma pessoa insensível e cega poderá deixar de criticar a forma como se cometeram excessos, e violaram regras, no decurso do aprisionamento de terroristas da Al Qaeda e de militantes Talibans (não se sabe muito bem em que estatuto ali estão). Mas, usando um pouco do seu veneno, também não vi na esquerda a mesma veemência na critica (se é que houve critica) ao mau trato infligido nos prisioneiros americanos e à transmissão de imagens dos mesmos, por parte do regime iraquiano (tanto agora como há doze anos atrás), em manifesta violação material do estipulado em Haia e Genebra... Ah, pois, já sei: dos regimes «supostamente» (as aspas são muitas utilizadas pela esquerda, nestes casos) democráticos espera-se o respeito pela lei, dos outros há que condescender, coitados...
PS2: Maradona: estive bem?
quinta-feira, abril 10, 2003
O MEU PROBLEMA COM MANUEL MONTEIRO
Do leitor João Carvalho Fernandes: ”Tenho lido o seu Contra a Corrente com interesse. No entanto há uma coisa que me intriga: periodicamente demonstra detestar o Manuel Monteiro. É alguma questão pessoal? Importa-se de esclarecer?
Caro João: é tudo menos pessoal. Não conheço o senhor e nunca me senti incomodado directamente por ele. Mas é, confesso, uma questão física, química, estética e política. Se quiser chame-lhe embirração primária. Que seja. A pose é enjoativa, o olhar de falcão amestrado, os gestos rígidos e as manifestações de insatisfação petulantes – coisas que não inspiram confiança e apenas auguram o pior. Há, em Manuel Monteiro, inabilidade, «tacticismo» e demagogia a mais para o meu gosto. Falta-lhe naturalidade e espontaneidade. Por outro lado, não lhe conheço uma só ideia política sólida. Politicamente, o homem é o quê? É sobretudo um franco-atirador que dispara conforme o vento e a toada. E, agora, deu para a megalomania. “Fundar um novo partido”, “iniciar um novo debate”, “erigir uma nova vaga”, tudo objectivos que soam à politiquice da aglutinação e do aproveitamento reles das franjas da sociedade insatisfeitas com o “sistema”. Não que o sistema esteja bem. Mas bem mais difícil, e honesto, é tentar melhorá-lo por dentro, com contenção e sensatez, e não através da difamação e bestialização demagógica (um pouco à imagem do Bloco de Esquerda). Toda a estratégia Monteirista nos remete para o ressurgimento dos partidos radicais – quer à esquerda, quer à direita – que proclamam, altivos, a sua asséptica incompatibilidade com o status quo. Irritar-me-á sempre essa postura pró-activa de “desalinhado”, como se a realidade pudesse ser desprezada ou modificada de um dia para o outro.
Também lhe digo, caro João: a coisa vai morrer por ali. Não vislumbro em Manuel Monteiro estatuto ou talento para grandes voos. As pessoas não são estúpidas.
Esperando não ter ofendido a sua sensibilidade ou uma eventual simpatia pela figura de Monteiro, agradeço a sua participação.
Do leitor João Carvalho Fernandes: ”Tenho lido o seu Contra a Corrente com interesse. No entanto há uma coisa que me intriga: periodicamente demonstra detestar o Manuel Monteiro. É alguma questão pessoal? Importa-se de esclarecer?
Caro João: é tudo menos pessoal. Não conheço o senhor e nunca me senti incomodado directamente por ele. Mas é, confesso, uma questão física, química, estética e política. Se quiser chame-lhe embirração primária. Que seja. A pose é enjoativa, o olhar de falcão amestrado, os gestos rígidos e as manifestações de insatisfação petulantes – coisas que não inspiram confiança e apenas auguram o pior. Há, em Manuel Monteiro, inabilidade, «tacticismo» e demagogia a mais para o meu gosto. Falta-lhe naturalidade e espontaneidade. Por outro lado, não lhe conheço uma só ideia política sólida. Politicamente, o homem é o quê? É sobretudo um franco-atirador que dispara conforme o vento e a toada. E, agora, deu para a megalomania. “Fundar um novo partido”, “iniciar um novo debate”, “erigir uma nova vaga”, tudo objectivos que soam à politiquice da aglutinação e do aproveitamento reles das franjas da sociedade insatisfeitas com o “sistema”. Não que o sistema esteja bem. Mas bem mais difícil, e honesto, é tentar melhorá-lo por dentro, com contenção e sensatez, e não através da difamação e bestialização demagógica (um pouco à imagem do Bloco de Esquerda). Toda a estratégia Monteirista nos remete para o ressurgimento dos partidos radicais – quer à esquerda, quer à direita – que proclamam, altivos, a sua asséptica incompatibilidade com o status quo. Irritar-me-á sempre essa postura pró-activa de “desalinhado”, como se a realidade pudesse ser desprezada ou modificada de um dia para o outro.
Também lhe digo, caro João: a coisa vai morrer por ali. Não vislumbro em Manuel Monteiro estatuto ou talento para grandes voos. As pessoas não são estúpidas.
Esperando não ter ofendido a sua sensibilidade ou uma eventual simpatia pela figura de Monteiro, agradeço a sua participação.
MAIS COMENTÁRIOS
Ainda sobre o DIV no BI, escreve a minha querida amiga Zazie:
"Pois olhe menino Macguffinho e senhor Aqua- eu acho bem que haja de tudo. Solteiros, casadoiras e casadoiros, casados e bem casados, casados e em vias de deixar de o ser; bem divorciados; divorciados à espera de deixar de o ser; viúvos (esperemos que não por desejo de o ser) viúvos bem alegres e casadoiros; eternos solteirões; eternos casadões; e mesmo os eternos cenobíticos com todos os desejos de experimentarem umas das condições. Só é pena a vida às vezes não chegar para tudo e nem sempre se poder “virar o conta-quilómetros”
E, ainda, ”... e as situações não são reversíveis, que nisto a natureza é determinística - tudo tem um preço! E quem é que era capaz de discutir o preço de realizar um sonho? Acho bem que o casamento anule a possibilidade de se voltar a ser solteiro. Faz parte da entrega e, já agora, da lei das compensações”/
Mas Zazie: a questão aqui não será a diversidade (que é desejável), mas sim a ‘marca’. O ‘ferro’. No resto, estou de acordo consigo. Mande mais Zazie, mande mais.
Ainda sobre o DIV no BI, escreve a minha querida amiga Zazie:
"Pois olhe menino Macguffinho e senhor Aqua- eu acho bem que haja de tudo. Solteiros, casadoiras e casadoiros, casados e bem casados, casados e em vias de deixar de o ser; bem divorciados; divorciados à espera de deixar de o ser; viúvos (esperemos que não por desejo de o ser) viúvos bem alegres e casadoiros; eternos solteirões; eternos casadões; e mesmo os eternos cenobíticos com todos os desejos de experimentarem umas das condições. Só é pena a vida às vezes não chegar para tudo e nem sempre se poder “virar o conta-quilómetros”
E, ainda, ”... e as situações não são reversíveis, que nisto a natureza é determinística - tudo tem um preço! E quem é que era capaz de discutir o preço de realizar um sonho? Acho bem que o casamento anule a possibilidade de se voltar a ser solteiro. Faz parte da entrega e, já agora, da lei das compensações”/
Mas Zazie: a questão aqui não será a diversidade (que é desejável), mas sim a ‘marca’. O ‘ferro’. No resto, estou de acordo consigo. Mande mais Zazie, mande mais.
COMENTÁRIOS
Lina Silva sobre Mário Soares:
“Parece-me mais cegueira, porque o homem diz que VÊ na TV francesa. Mas tanto quanto eu sei ele é o único a ver "centenas de milhares de vítimas" e todas as outras bestialidades de que fala.
Aquela coisa do "Conselho de Sábios" ainda existe? É que se sim, estamos mal governados com estes sábios. Se o nosso é como é e os outros, por exclusão de partes, forem similares os meus cabelos põem-se de pé. Vejo tudo negro à minha frente e tenho dois filhos a quem deixar este mundo por herança.
Cegueira, senilidade, whatever. É, sobretudo, tristemente cómico.
Lina Silva sobre Mário Soares:
“Parece-me mais cegueira, porque o homem diz que VÊ na TV francesa. Mas tanto quanto eu sei ele é o único a ver "centenas de milhares de vítimas" e todas as outras bestialidades de que fala.
Aquela coisa do "Conselho de Sábios" ainda existe? É que se sim, estamos mal governados com estes sábios. Se o nosso é como é e os outros, por exclusão de partes, forem similares os meus cabelos põem-se de pé. Vejo tudo negro à minha frente e tenho dois filhos a quem deixar este mundo por herança.
Cegueira, senilidade, whatever. É, sobretudo, tristemente cómico.
MAIS UM
A brigada do Pastilhas adensa-se na blogosfera. Desta vez é o inigualável Alter-lego. De Madrid dará notícias. Bom trabalho amigo Lego. Que a força esteja contigo.
Saudades, Mac.
PS: actualizando o que disse a Charlotte: Miguel, criaste cinco monstros!
A brigada do Pastilhas adensa-se na blogosfera. Desta vez é o inigualável Alter-lego. De Madrid dará notícias. Bom trabalho amigo Lego. Que a força esteja contigo.
Saudades, Mac.
PS: actualizando o que disse a Charlotte: Miguel, criaste cinco monstros!
O P.C.
Entretanto, em Évora, o Partido Comunista Português tratou de conspurcar as praças e ruas da cidade museu, com a sua habitual prática de afixação de cartazes [utilizando o critério terminológico avançado pelo Pedro Mexia, os "esquerdistas" do PC, BE e CGTP são incansáveis nessa matéria]. Desta vez, o slogan é: “Pela Paz Já!”. Pois, pois, antes que a guerra acabe...
Entretanto, em Évora, o Partido Comunista Português tratou de conspurcar as praças e ruas da cidade museu, com a sua habitual prática de afixação de cartazes [utilizando o critério terminológico avançado pelo Pedro Mexia, os "esquerdistas" do PC, BE e CGTP são incansáveis nessa matéria]. Desta vez, o slogan é: “Pela Paz Já!”. Pois, pois, antes que a guerra acabe...
BLOG DE ESQUERDA
Nunca antes havia proferido qualquer comentário sobre o espaço de opinião que os «manos» Silva (perdoar-me-ão o tom coloquial) mantêm no universo da blogosfera. Embora ninguém me a tivesse pedido, e pondo de parte o lado presunçoso do exercício, gostaria de dizer o seguinte: sou assíduo frequentador do Blog de Esquerda e apraz-me verificar que é gente (José Mário e Manuel Silva) decente. São cultos, inteligentes e têm savoir-faire. Em termos políticos, estou a milhas de concordar com a generalidade do que é escrito, mas seria injusto não reconhecer que a honestidade intelectual marca presença.A blogosfera não seria a mesma sem eles. Pena é que, de quando em vez, coloquem no ar algumas opiniões, de alguns leitores, um tanto ou quanto assanhadas e a roçar a incorrecção. Mas quem é que está imune a essa fraqueza? Como diria o Joe E. Brown: “Well, nobody’s perfect”.
Nunca antes havia proferido qualquer comentário sobre o espaço de opinião que os «manos» Silva (perdoar-me-ão o tom coloquial) mantêm no universo da blogosfera. Embora ninguém me a tivesse pedido, e pondo de parte o lado presunçoso do exercício, gostaria de dizer o seguinte: sou assíduo frequentador do Blog de Esquerda e apraz-me verificar que é gente (José Mário e Manuel Silva) decente. São cultos, inteligentes e têm savoir-faire. Em termos políticos, estou a milhas de concordar com a generalidade do que é escrito, mas seria injusto não reconhecer que a honestidade intelectual marca presença.A blogosfera não seria a mesma sem eles. Pena é que, de quando em vez, coloquem no ar algumas opiniões, de alguns leitores, um tanto ou quanto assanhadas e a roçar a incorrecção. Mas quem é que está imune a essa fraqueza? Como diria o Joe E. Brown: “Well, nobody’s perfect”.
T.S.F.?
A TSF, que é capaz do melhor e do pior, não deixa, contudo, de surpreender. Há dias, numa daquelas tardes indizíveis, ligo o Tivoli e, tentando fugir do lixo radiofónico da paróquia, paro na dita estação. Ouvia-se “How soon is now?”. T.S.F.=Todos Somos Fedayn? Não. T.S.F.=The Smiths Forever.
A TSF, que é capaz do melhor e do pior, não deixa, contudo, de surpreender. Há dias, numa daquelas tardes indizíveis, ligo o Tivoli e, tentando fugir do lixo radiofónico da paróquia, paro na dita estação. Ouvia-se “How soon is now?”. T.S.F.=Todos Somos Fedayn? Não. T.S.F.=The Smiths Forever.
COMPLEXO
O João Noronha referiu um eventual complexo do Maradona em relação à sua altura. Não é eventual: é real. O rapaz tem apenas 1,72 m. Eh eh eh eh
MacGuffin, do alto dos seus 170 cm...
PS: "sniff", seguido de “buááááááá”
O João Noronha referiu um eventual complexo do Maradona em relação à sua altura. Não é eventual: é real. O rapaz tem apenas 1,72 m. Eh eh eh eh
MacGuffin, do alto dos seus 170 cm...
PS: "sniff", seguido de “buááááááá”
HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM
“This is an amazing victory, a victory over a monster who gassed civilians, jailed children, sent millions into fruitless wars, harbored poisonous weapons to threaten free peoples, tortured thousands, and made alliances with every two-bit opportunist on the planet. It's a victory over those who marched in the millions to stop this liberation, over the endless media cynics, over the hate-America crowd, and the armchair generals. It's a victory for the two countries in the world that have always made freedom possible and who have now brought it to another corner of the world made dark by terror. It's a victory for the extraordinary servicemen and women who performed this task with such skill, cool, courage and restraint. It's a victory for optimism over pessimism, the righting of past wrongs, the assertion of universal truths against postmodern excuses, and of political leadership over appeasement. Celebrate it. Don't let the whiners take this away from you or from the people of Iraq.- Andrew Sullivan. Who else?
“This is an amazing victory, a victory over a monster who gassed civilians, jailed children, sent millions into fruitless wars, harbored poisonous weapons to threaten free peoples, tortured thousands, and made alliances with every two-bit opportunist on the planet. It's a victory over those who marched in the millions to stop this liberation, over the endless media cynics, over the hate-America crowd, and the armchair generals. It's a victory for the two countries in the world that have always made freedom possible and who have now brought it to another corner of the world made dark by terror. It's a victory for the extraordinary servicemen and women who performed this task with such skill, cool, courage and restraint. It's a victory for optimism over pessimism, the righting of past wrongs, the assertion of universal truths against postmodern excuses, and of political leadership over appeasement. Celebrate it. Don't let the whiners take this away from you or from the people of Iraq.- Andrew Sullivan. Who else?
PRÉMIO: VAI DAR BANHO AO CÃO
"We would like to express our sympathy that France has with the British people. I would like to reiterate our support for many of the things that Tony Blair has been saying. We have also indicated our hope that the war in Iraq will be finished as soon as possible. Also, we would like to stress the urgency when it comes to the humanitarian effort in the Gulf that we all work together and that the international community plays an important role." - Dominique de Villepin.
"We would like to express our sympathy that France has with the British people. I would like to reiterate our support for many of the things that Tony Blair has been saying. We have also indicated our hope that the war in Iraq will be finished as soon as possible. Also, we would like to stress the urgency when it comes to the humanitarian effort in the Gulf that we all work together and that the international community plays an important role." - Dominique de Villepin.
PRÉMIO: ESTUPIDEZ AD NAUSEAM
“Dear friends, It appears that the Bush administration will have succeeded in colonizing Iraq sometime in the next few days. This is a blunder of such magnitude - and we will pay for it for years to come. It was not worth the life of one single American kid in uniform, let alone the thousands of Iraqis who have died, and my condolences and prayers go out to all of them ... Can I share with you what it's been like for me since I used my time on the Oscar stage two weeks ago to speak out against Bush and this war? I hope that, in reading what I'm about to tell you, you'll feel a bit more emboldened to make your voice heard in whatever way or forum that is open to you. When "Bowling for Columbine" was announced as the Oscar winner for Best Documentary at the Academy Awards, the audience rose to its feet. It was a great moment, one that I will always cherish. They were standing and cheering for a film that says we Americans are a uniquely violent people, using our massive stash of guns to kill each other and to use them against many countries around the world.” - Michael Moore.
“Dear friends, It appears that the Bush administration will have succeeded in colonizing Iraq sometime in the next few days. This is a blunder of such magnitude - and we will pay for it for years to come. It was not worth the life of one single American kid in uniform, let alone the thousands of Iraqis who have died, and my condolences and prayers go out to all of them ... Can I share with you what it's been like for me since I used my time on the Oscar stage two weeks ago to speak out against Bush and this war? I hope that, in reading what I'm about to tell you, you'll feel a bit more emboldened to make your voice heard in whatever way or forum that is open to you. When "Bowling for Columbine" was announced as the Oscar winner for Best Documentary at the Academy Awards, the audience rose to its feet. It was a great moment, one that I will always cherish. They were standing and cheering for a film that says we Americans are a uniquely violent people, using our massive stash of guns to kill each other and to use them against many countries around the world.” - Michael Moore.
COMENTÁRIO, SEGUIDO DE MEA CULPA
Do leitor Aqua, que enviou um mail com o assunto “Só pode ser cansaço”:
“Como já lhe disse, sou um leitor atento aos seus comentários. Este último do “DiV”... Sempre pensei nisso e até sofro do mesmo problema. Eu sou solteiro porque me divorciei. Estou divorciado, mas não sou divorciado. Sou solteiro. Até se poderia resolver o problema da seguinte forma: casados e não casados. Sim, porque ainda temos os problemas dos viúvos. Porque não serão solteiros também? E já agora, para os casados, porque não se averba o nome das suas mulheres nos B.I's? Mas esse é o problema de haver bilhetes de identidade... Quanto ao motivo do cabeçalho deste e-mail... você conjugou mal o verbo trazer. "Trás a mulher". Eu também costumo fazer um erro inexplicável. Muitas vezes escrevo "ouvir" com "h", ou seja "houvir". Mas tenho conseguido corrigir a tempo. Mas só pode ter sido cansaço.
Começo pelo fim. Tem toda a razão, meu caro Aqua. E não é cansaço: é precipitação, aliada à distracção. Não é a primeira vez, nem provavelmente a última. Levo um pouco o blog ‘na desportiva’ e, confesso, sou um tanto ou quanto preguiçoso no trabalho de revisão dos textos (se reparar faço muitas correcções dias após a publicação dos ‘posts’, quando, finalmente, leio o que escrevo). Mas isto não pode servir de desculpa. Um erro é um erro. Agradeço a sua chamada de atenção. Para o canto da sala, já! (desta vez já não vou a tempo de editar e corrigir...)
Quanto ao “Div ou não Div, eis a questão”, reparo que também é sensível ao assunto. Não que o pormenor nos afecte objectivamente, mas não deixa de ser incompreensível e discriminatória a existência dessa classificação. Mas deve haver, por aí, algures, uma explicação qualquer. Das fulminantes...
Um abraço e escreva sempre.
PS: prometo estar mais atento à sintaxe, ortografia, gramática, etc.
Do leitor Aqua, que enviou um mail com o assunto “Só pode ser cansaço”:
“Como já lhe disse, sou um leitor atento aos seus comentários. Este último do “DiV”... Sempre pensei nisso e até sofro do mesmo problema. Eu sou solteiro porque me divorciei. Estou divorciado, mas não sou divorciado. Sou solteiro. Até se poderia resolver o problema da seguinte forma: casados e não casados. Sim, porque ainda temos os problemas dos viúvos. Porque não serão solteiros também? E já agora, para os casados, porque não se averba o nome das suas mulheres nos B.I's? Mas esse é o problema de haver bilhetes de identidade... Quanto ao motivo do cabeçalho deste e-mail... você conjugou mal o verbo trazer. "Trás a mulher". Eu também costumo fazer um erro inexplicável. Muitas vezes escrevo "ouvir" com "h", ou seja "houvir". Mas tenho conseguido corrigir a tempo. Mas só pode ter sido cansaço.
Começo pelo fim. Tem toda a razão, meu caro Aqua. E não é cansaço: é precipitação, aliada à distracção. Não é a primeira vez, nem provavelmente a última. Levo um pouco o blog ‘na desportiva’ e, confesso, sou um tanto ou quanto preguiçoso no trabalho de revisão dos textos (se reparar faço muitas correcções dias após a publicação dos ‘posts’, quando, finalmente, leio o que escrevo). Mas isto não pode servir de desculpa. Um erro é um erro. Agradeço a sua chamada de atenção. Para o canto da sala, já! (desta vez já não vou a tempo de editar e corrigir...)
Quanto ao “Div ou não Div, eis a questão”, reparo que também é sensível ao assunto. Não que o pormenor nos afecte objectivamente, mas não deixa de ser incompreensível e discriminatória a existência dessa classificação. Mas deve haver, por aí, algures, uma explicação qualquer. Das fulminantes...
Um abraço e escreva sempre.
PS: prometo estar mais atento à sintaxe, ortografia, gramática, etc.
MÁRIO SOARES: O COMEDIANTE
(ou Lê-se e Não Se Acredita)
Roubo esta do Valete de Fratres.
Mário Soares comentando, para a TSF, as imagens de hoje:
“Pois, eu tenho visto na televisão francesa as imagens desde há vários dias: as centenas de milhares de vítimas (sic), o disparo contra o hotel palestina, os jornalistas com lágrimas nos olhos e velas nas mãos. Pois, foram distribuídas armas a toda a população...as poucas armas que eles tinham. Se fosse vontade deles, eles podiam, com essas armas, ter deposto o regime. O que me surpreendeu foi a grande resistência aos americanos."
Insiste a jornalista: "Mas considera que este é um dia histórico ?"
Resposta do ex-PR:
"Não, o regime ainda não caiu, o Saddam só desapareceu,..."
senilidade s. f. qualidade ou estado de senil; decrepitude; estado de enfraquecimento fisiológico e sobretudo mental, que ultrapassa de maneira notória o grau normal de involução.
(ou Lê-se e Não Se Acredita)
Roubo esta do Valete de Fratres.
Mário Soares comentando, para a TSF, as imagens de hoje:
“Pois, eu tenho visto na televisão francesa as imagens desde há vários dias: as centenas de milhares de vítimas (sic), o disparo contra o hotel palestina, os jornalistas com lágrimas nos olhos e velas nas mãos. Pois, foram distribuídas armas a toda a população...as poucas armas que eles tinham. Se fosse vontade deles, eles podiam, com essas armas, ter deposto o regime. O que me surpreendeu foi a grande resistência aos americanos."
Insiste a jornalista: "Mas considera que este é um dia histórico ?"
Resposta do ex-PR:
"Não, o regime ainda não caiu, o Saddam só desapareceu,..."
senilidade s. f. qualidade ou estado de senil; decrepitude; estado de enfraquecimento fisiológico e sobretudo mental, que ultrapassa de maneira notória o grau normal de involução.
IMAGENS DO ANO
A estátua de Saddam a ser derrubada. Uma criança distribuindo tabefes na cabeça dessa mesma estátua, enquanto a mesma era arrastada pelo chão, perante o júbilo da população. Cidadãos de Bagdad oferecendo flores aos soldados americanos. Um soldado acendendo o cigarro a um velho iraquiano. Gritos de “We love Bush” por entre a populaça. By the way: será que é desta que alguns comentadores e especialistas vão aprender?
A estátua de Saddam a ser derrubada. Uma criança distribuindo tabefes na cabeça dessa mesma estátua, enquanto a mesma era arrastada pelo chão, perante o júbilo da população. Cidadãos de Bagdad oferecendo flores aos soldados americanos. Um soldado acendendo o cigarro a um velho iraquiano. Gritos de “We love Bush” por entre a populaça. By the way: será que é desta que alguns comentadores e especialistas vão aprender?
SERVIÇO PÚBLICO
João Noronha, no seu blog Valete Fratres, tem sido incansável na divulgação das «outras» notícias da guerra, ou seja, das que não chegam às rádios e televisões “Bagdad”. O seu trabalho de selecção passou a ser de extrema utilidade a quem procura outros factos, também reais, bem como versões diferentes da mesma história. Bem haja.
João Noronha, no seu blog Valete Fratres, tem sido incansável na divulgação das «outras» notícias da guerra, ou seja, das que não chegam às rádios e televisões “Bagdad”. O seu trabalho de selecção passou a ser de extrema utilidade a quem procura outros factos, também reais, bem como versões diferentes da mesma história. Bem haja.
MANUELA 'BOCA' GUEDES
Alguém deveria avisar Manuela Moura Guedes da triste figura que anda a fazer. Alguém deveria aconselhá-la a rever as mais elementares regras da profissão que exerce. O jornalismo não se coaduna com «bocas», «recados» e «gracinhas». Um jornalista deve tentar a isenção e a imparcialidade. A Sra. Manuela Moura Guedes pode detestar o Sr. Bush, odiar a intervenção no Iraque e achar que só agora as crianças no Iraque começaram a sofrer, mas a jornalista Manuela Moura Guedes não está ali para veicular opinião. Não está ali para exibir trejeitos, distribuir sorrisinhos irónicos ou despachar «boquinhas». Acima de tudo, deve respeitar quem, do lado de cá, está à espera de factos e notícias. Não de um jornalismo de causas.
Alguém deveria avisar Manuela Moura Guedes da triste figura que anda a fazer. Alguém deveria aconselhá-la a rever as mais elementares regras da profissão que exerce. O jornalismo não se coaduna com «bocas», «recados» e «gracinhas». Um jornalista deve tentar a isenção e a imparcialidade. A Sra. Manuela Moura Guedes pode detestar o Sr. Bush, odiar a intervenção no Iraque e achar que só agora as crianças no Iraque começaram a sofrer, mas a jornalista Manuela Moura Guedes não está ali para veicular opinião. Não está ali para exibir trejeitos, distribuir sorrisinhos irónicos ou despachar «boquinhas». Acima de tudo, deve respeitar quem, do lado de cá, está à espera de factos e notícias. Não de um jornalismo de causas.
OSSOS DO OFÍCIO
Não resisto a contar que senti algum gozo enquanto Carlos Fino contava que tinha apanhado um valente susto e levado umas vergastadas. Digo isto porque, felizmente, tudo acabou bem. Longe de mim desejar o mal a quem quer que seja (excluindo ditadores, neo-nazis e Manuel Monteiro). Reconheço a coragem de Carlos Fino e de todos os outros jornalistas no Iraque. E é óbvio que se deve respeitar o seu trabalho (que é nobre e essencial). Mas não deixa de ser risível assistir ao queixume de certos jornalistas. Caramba: uma guerra é uma guerra. Os riscos são evidentes, a logística complexa e o ambiente adverso. O que é que esperavam?
Não resisto a contar que senti algum gozo enquanto Carlos Fino contava que tinha apanhado um valente susto e levado umas vergastadas. Digo isto porque, felizmente, tudo acabou bem. Longe de mim desejar o mal a quem quer que seja (excluindo ditadores, neo-nazis e Manuel Monteiro). Reconheço a coragem de Carlos Fino e de todos os outros jornalistas no Iraque. E é óbvio que se deve respeitar o seu trabalho (que é nobre e essencial). Mas não deixa de ser risível assistir ao queixume de certos jornalistas. Caramba: uma guerra é uma guerra. Os riscos são evidentes, a logística complexa e o ambiente adverso. O que é que esperavam?
quarta-feira, abril 09, 2003
A MARCA
Sempre que observo o meu Bilhete de Identidade, medito na questão: a inscrição "DIV." no quadradinho do "Estado Civil" do meu BI significará "Diversos"? Dito de outra forma: porque razão um divorciado não é, de novo, um "Solteiro"? Um gajo tem mesmo de ficar marcado com o "DIV.", como se de um sinal de aviso se tratasse, género "cuidado: ele não é de confiança" ou "cuidado: esse gajo tráz uma ex com ele"?
Sempre que observo o meu Bilhete de Identidade, medito na questão: a inscrição "DIV." no quadradinho do "Estado Civil" do meu BI significará "Diversos"? Dito de outra forma: porque razão um divorciado não é, de novo, um "Solteiro"? Um gajo tem mesmo de ficar marcado com o "DIV.", como se de um sinal de aviso se tratasse, género "cuidado: ele não é de confiança" ou "cuidado: esse gajo tráz uma ex com ele"?
CRITÉRIOS
Confesso que tenho uma enorme dificuldade em respeitar os clamores de paz vindos de quem só agora se lembrou das crianças do Iraque. Há qualquer coisa de obsceno e imoral na forma como certas pessoas enchem a boca de “paz”, em sinal de revolta contra a guerra e a morte de civis inocentes, quando no passado, e no presente, se calaram em relação a outras mortandades. Ah, pois!, parece que os estou a ouvir: “Mas nós preocupamo-nos com todos! Nós somos pela paz! Nós somos pela vida!”. (Experimentem resolver os problemas do mundo, falando isso aos ouvidos dos ditadores mais sangrentos. Talvez percebam que tipo de linguagem eles realmente entendem.) Eu, que também me preocupo e também prefiro a paz à guerra, pergunto: não perceberão que as crianças que agora sofrem, sofreram durante décadas às mãos de Saddam? Onde estavam eles quando Saddam massacrou milhares de civis em Halabja, com armas químicas? Onde estavam eles quando Saddam massacrou aldeias inteiras no aftermath de 1991, por terem mostrado sinais de revolta contra o regime (boa parte na sequência da cobardia da coligação de então)? Porquê agora esta preocupação e porquê em relação a este conflito em concreto se, ainda há pouco dias, no nordeste da República Democrática do Congo, foram massacradas 1000 pessoas num só dia (como bem lembrou o meu amigo Maradona)? Se arremessam veementemente o argumento de que muitas outras ditaduras há no mundo, para não considerar justificável esta intervenção, então aceitem este argumento e respondam: porque razão se preocupam tanto, agora e desta forma, com as crianças iraquianas? E as outras – as que morreram no passado e as que morrem agora? Deve ser o mesmo tipo de critério que conduz à organização de vigílias em nome das vitimas palestinianas e nem um só gesto de conforto e de «solidariedade» para com as vitimas civis israelitas... Vai uma apostinha?
Confesso que tenho uma enorme dificuldade em respeitar os clamores de paz vindos de quem só agora se lembrou das crianças do Iraque. Há qualquer coisa de obsceno e imoral na forma como certas pessoas enchem a boca de “paz”, em sinal de revolta contra a guerra e a morte de civis inocentes, quando no passado, e no presente, se calaram em relação a outras mortandades. Ah, pois!, parece que os estou a ouvir: “Mas nós preocupamo-nos com todos! Nós somos pela paz! Nós somos pela vida!”. (Experimentem resolver os problemas do mundo, falando isso aos ouvidos dos ditadores mais sangrentos. Talvez percebam que tipo de linguagem eles realmente entendem.) Eu, que também me preocupo e também prefiro a paz à guerra, pergunto: não perceberão que as crianças que agora sofrem, sofreram durante décadas às mãos de Saddam? Onde estavam eles quando Saddam massacrou milhares de civis em Halabja, com armas químicas? Onde estavam eles quando Saddam massacrou aldeias inteiras no aftermath de 1991, por terem mostrado sinais de revolta contra o regime (boa parte na sequência da cobardia da coligação de então)? Porquê agora esta preocupação e porquê em relação a este conflito em concreto se, ainda há pouco dias, no nordeste da República Democrática do Congo, foram massacradas 1000 pessoas num só dia (como bem lembrou o meu amigo Maradona)? Se arremessam veementemente o argumento de que muitas outras ditaduras há no mundo, para não considerar justificável esta intervenção, então aceitem este argumento e respondam: porque razão se preocupam tanto, agora e desta forma, com as crianças iraquianas? E as outras – as que morreram no passado e as que morrem agora? Deve ser o mesmo tipo de critério que conduz à organização de vigílias em nome das vitimas palestinianas e nem um só gesto de conforto e de «solidariedade» para com as vitimas civis israelitas... Vai uma apostinha?
A ESQUERDA E A CÓLTURA
Tenho amigos e «conhecidos» que, ao fim destes anos, continuam incrédulos em relação às minhas opções estéticas. A razão é simples: sendo supostamente «de direita» - conservador e/ou liberal - não deveria estar inclinado para certas tendências e gostos, muito menos apto a compreender certas manifestações culturais. Como é possível, questionam-se, um tipo não alinhado politicamente na grande famiglia da esquerda (da esquerda caviar à esquerda ‘tás-aqui-estás-em-Seattle-a-partir-montras, passando pela esquerda “cool as Miguel Sousa Tavares”) ter sensibilidade suficiente para apreciar Beckett e Ibsen, Italo Calvino e Dostoievski, Kieslowski e Moretti, Lynch e Truffaut, Durutti Column, Billy Bragg ou Smiths? Como é possível, a um amante de Bellini, Mahler, Bacon, Lucien Freud e Rothko, alinhar numa corrente política «insensível», «reaccionária» e, agora, «belicista»?
Um leitor da Coluna Infame, questionava, há dias, Pedro Mexia pelo facto deste gostar de Sonic Youth. Segundo o leitor, tal gosto esbarra estrondosamente com as posições políticos do Pedro porque, como toda a gente sabe, os Sonic Youth são um eminente «grupo de esquerda». Eis o problema, cristalinamente escancarado: a esquerda não tem pejo em classificar e catalogar esta ou aquela manifestação artística como sua. Em boa verdade, continua a julgar-se no direito de pensar que tem o monopólio da cultura e das coisas do «espírito». Exibe, intermitentemente, o seu fétiche: politizar tudo o que toca. Há sempre que vislumbrar uma “mensagem”, um “recado”, uma ”posição”, um “desígnio” político para uma clientela eleita. Caso contrário não conta, não é elegível para pertencer à «sua» cultura, que é a «boa» cultura – aquela que é relatada no Acontece (bocejo) ou num qualquer pasquim venerado.
O problema vai, no entanto, bem mais fundo. Há anos que as mais proeminentes figuras do ‘milieu’ cultural, como são o caso dos inefáveis e ‘deeply intellectuals’ Prado Coelho e Augusto M. Seabra, difundem ex-cathedra a doutrina da separação de águas, segundo a qual a cultura – a sua organização, selecção, escolha e divulgação – deve ser entregue aos verdadeiros guardiões do templo, sob pena de aparecerem certos figurões (Vasco Graça Moura, por exemplo) que venham subverter a lógica da coisa (porque a «boa» cultura não pode ser popular nem tradicionalista: tem de «rasgar», «incomodar», «questionar», «fazer avançar»). Vai daí, deitam mão das chamadas artes vivas (música, teatro, cinema, etc.) e tratam de: a) aglutinar, por um lado (escolhendo, para o seu lado, o que der jeito); e b) (re)criar, por outro (perante o crescente protagonismo da política como linguagem universal, o artista/autor é impelido a sair da sua solidão criadora para se prostituir com aquela).
Quem do “lado de lá” abrace os «seus» artistas e respectivas obras, das duas uma: ou está distraído, ou está equivocado (na escolha ou no lado). Desta lógica resulta, para mim, um prazer meditativo: verificar como a esquerda, em abstracto, contínua convencida e altiva em relação ao seu putativo papel regulador e intervencionista sobre os gostos e opções das pessoas. No fundo, estamos hoje como estávamos há vinte, quarenta ou cem anos atrás.
Voltando à questão inicial, porque temo que me tenha desviado irremediavelmente da rota, se me disserem que o Billy Bragg, o Thurston Moore, a Kim Gordon ou o Black Francis são de esquerda, tudo bem. Não vou negar essa evidência. Mas é bom não confundir as posições políticas dos autores/protagonistas, com a sua própria produção artística. É arriscado e, muitas vezes, errado. Em 99% dos casos, irrelevante. Os Durutti Column, por exemplo, foram buscar o seu nome ao revolucionário anarquista Buenaventura Durruti, e o próprio álbum “LC” não é mais do que a abreviatura de “Lotta Continua”, com evidentes ligações ao ideário esquerdista. Mas daí até se afirmar que a sua música é de «esquerda» vai uma enorme distância. O Billy Bragg, por exemplo, é provavelmente um dos mais auto-politizados músicos pop. As letras das suas músicas (“There is power in a Union”), os layouts e títulos dos álbuns (“Workers Playtime”) não enganam ninguém. Mas seria absurdo não reconhecer, na obra de Billy Bragg, uma qualidade e originalidade musical e lírica contagiante, já para não falar na beleza crua de dezenas de canções ligadas a temas não-políticos (amor, amizade, sexualidade, etc.). No caso dos Sonic Youth, é evidente que o “Teenage Riot” (incluído no sublime “Daydream Nation”) não é propriamente uma canção a inserir num coffe break de um seminário com Roger Scruton, mas ouvida no local próprio e com o espírito para aí virado, “ressoa-me pelo corpo e pelo coração”, como diria o Gonçalo Praça. À minha maneira, acrescento eu.
O mundo não tem de ser das capelinhas ou das prateleiras estanques. Pode ser-se politicamente conservador (ou liberal) e esteticamente radical. Não vejo, francamente, grandes incompatibilidades entre uma coisa e outra. A não ser que se tenha uma visão caricatural e deturpada do que é o conservadorismo político. Ou, então, que se passe a vida inteira a olhar o mundo através de lunetas político-ideológicas.
Tenho amigos e «conhecidos» que, ao fim destes anos, continuam incrédulos em relação às minhas opções estéticas. A razão é simples: sendo supostamente «de direita» - conservador e/ou liberal - não deveria estar inclinado para certas tendências e gostos, muito menos apto a compreender certas manifestações culturais. Como é possível, questionam-se, um tipo não alinhado politicamente na grande famiglia da esquerda (da esquerda caviar à esquerda ‘tás-aqui-estás-em-Seattle-a-partir-montras, passando pela esquerda “cool as Miguel Sousa Tavares”) ter sensibilidade suficiente para apreciar Beckett e Ibsen, Italo Calvino e Dostoievski, Kieslowski e Moretti, Lynch e Truffaut, Durutti Column, Billy Bragg ou Smiths? Como é possível, a um amante de Bellini, Mahler, Bacon, Lucien Freud e Rothko, alinhar numa corrente política «insensível», «reaccionária» e, agora, «belicista»?
Um leitor da Coluna Infame, questionava, há dias, Pedro Mexia pelo facto deste gostar de Sonic Youth. Segundo o leitor, tal gosto esbarra estrondosamente com as posições políticos do Pedro porque, como toda a gente sabe, os Sonic Youth são um eminente «grupo de esquerda». Eis o problema, cristalinamente escancarado: a esquerda não tem pejo em classificar e catalogar esta ou aquela manifestação artística como sua. Em boa verdade, continua a julgar-se no direito de pensar que tem o monopólio da cultura e das coisas do «espírito». Exibe, intermitentemente, o seu fétiche: politizar tudo o que toca. Há sempre que vislumbrar uma “mensagem”, um “recado”, uma ”posição”, um “desígnio” político para uma clientela eleita. Caso contrário não conta, não é elegível para pertencer à «sua» cultura, que é a «boa» cultura – aquela que é relatada no Acontece (bocejo) ou num qualquer pasquim venerado.
O problema vai, no entanto, bem mais fundo. Há anos que as mais proeminentes figuras do ‘milieu’ cultural, como são o caso dos inefáveis e ‘deeply intellectuals’ Prado Coelho e Augusto M. Seabra, difundem ex-cathedra a doutrina da separação de águas, segundo a qual a cultura – a sua organização, selecção, escolha e divulgação – deve ser entregue aos verdadeiros guardiões do templo, sob pena de aparecerem certos figurões (Vasco Graça Moura, por exemplo) que venham subverter a lógica da coisa (porque a «boa» cultura não pode ser popular nem tradicionalista: tem de «rasgar», «incomodar», «questionar», «fazer avançar»). Vai daí, deitam mão das chamadas artes vivas (música, teatro, cinema, etc.) e tratam de: a) aglutinar, por um lado (escolhendo, para o seu lado, o que der jeito); e b) (re)criar, por outro (perante o crescente protagonismo da política como linguagem universal, o artista/autor é impelido a sair da sua solidão criadora para se prostituir com aquela).
Quem do “lado de lá” abrace os «seus» artistas e respectivas obras, das duas uma: ou está distraído, ou está equivocado (na escolha ou no lado). Desta lógica resulta, para mim, um prazer meditativo: verificar como a esquerda, em abstracto, contínua convencida e altiva em relação ao seu putativo papel regulador e intervencionista sobre os gostos e opções das pessoas. No fundo, estamos hoje como estávamos há vinte, quarenta ou cem anos atrás.
Voltando à questão inicial, porque temo que me tenha desviado irremediavelmente da rota, se me disserem que o Billy Bragg, o Thurston Moore, a Kim Gordon ou o Black Francis são de esquerda, tudo bem. Não vou negar essa evidência. Mas é bom não confundir as posições políticas dos autores/protagonistas, com a sua própria produção artística. É arriscado e, muitas vezes, errado. Em 99% dos casos, irrelevante. Os Durutti Column, por exemplo, foram buscar o seu nome ao revolucionário anarquista Buenaventura Durruti, e o próprio álbum “LC” não é mais do que a abreviatura de “Lotta Continua”, com evidentes ligações ao ideário esquerdista. Mas daí até se afirmar que a sua música é de «esquerda» vai uma enorme distância. O Billy Bragg, por exemplo, é provavelmente um dos mais auto-politizados músicos pop. As letras das suas músicas (“There is power in a Union”), os layouts e títulos dos álbuns (“Workers Playtime”) não enganam ninguém. Mas seria absurdo não reconhecer, na obra de Billy Bragg, uma qualidade e originalidade musical e lírica contagiante, já para não falar na beleza crua de dezenas de canções ligadas a temas não-políticos (amor, amizade, sexualidade, etc.). No caso dos Sonic Youth, é evidente que o “Teenage Riot” (incluído no sublime “Daydream Nation”) não é propriamente uma canção a inserir num coffe break de um seminário com Roger Scruton, mas ouvida no local próprio e com o espírito para aí virado, “ressoa-me pelo corpo e pelo coração”, como diria o Gonçalo Praça. À minha maneira, acrescento eu.
O mundo não tem de ser das capelinhas ou das prateleiras estanques. Pode ser-se politicamente conservador (ou liberal) e esteticamente radical. Não vejo, francamente, grandes incompatibilidades entre uma coisa e outra. A não ser que se tenha uma visão caricatural e deturpada do que é o conservadorismo político. Ou, então, que se passe a vida inteira a olhar o mundo através de lunetas político-ideológicas.
COMENTÁRIOS
Do leitor Abel Campos, sobre o "PDL by PTA":
“Ena, já desesperava ! Depois de tantas visitas (ocasionais, confesso) a este fachoblog, até que enfim que concordo em absoluto com um post. Grande filme (embora menor e despretensioso, como muito bem apontou) e grande realizador. Mas em matéria de bom gosto cinéfilo, quer-me parecer que não se esperaria outra coisa de alguém com um nick como o seu.”
Meu caro Abel: fique então sabendo que os fachos também gostam de coisas apreciadas por estalinistas. E tem razão: o meu nick não engana ninguém... Obrigado pelo seu comentário e escreva sempre. E vá por aqui passando. De vez em quando... nunca se sabe.
PS: se há defeito que se possa apontar ao Magnólia (não há filmes perfeitos) é este: ligeiramente pretensioso. Às vezes, são em momentos despretensiosos, sem grande aparato, que os realizadores rubricam pequenos portentos. A história do cinema está cheia de exemplos desses. Do meu Hitchy, recordo “Rope” ou "Lifeboat"
Do leitor Abel Campos, sobre o "PDL by PTA":
“Ena, já desesperava ! Depois de tantas visitas (ocasionais, confesso) a este fachoblog, até que enfim que concordo em absoluto com um post. Grande filme (embora menor e despretensioso, como muito bem apontou) e grande realizador. Mas em matéria de bom gosto cinéfilo, quer-me parecer que não se esperaria outra coisa de alguém com um nick como o seu.”
Meu caro Abel: fique então sabendo que os fachos também gostam de coisas apreciadas por estalinistas. E tem razão: o meu nick não engana ninguém... Obrigado pelo seu comentário e escreva sempre. E vá por aqui passando. De vez em quando... nunca se sabe.
PS: se há defeito que se possa apontar ao Magnólia (não há filmes perfeitos) é este: ligeiramente pretensioso. Às vezes, são em momentos despretensiosos, sem grande aparato, que os realizadores rubricam pequenos portentos. A história do cinema está cheia de exemplos desses. Do meu Hitchy, recordo “Rope” ou "Lifeboat"
ATENÇÃO: NOVO BLOG. DESTA VEZ DO MANO
A blogosfera enriqueceu repentinamente. Causa: o novo blog do meu querido amigo Maradona. O meu “mano” (é assim que nos tratamos) tratou de aderir a este maravilhoso novo mundo e eu quero desde já enviar-lhe os meus parabéns e as maiores felicidades. Que fique sabendo que
A Causa Foi Modificada faz já parte dos Favoritos, ombreando com o Andrew Sullivan, Arts & Letters, Spectator, etc. É obra!
PS: devo ao Miguel Esteves Cardoso o privilégio de ter conhecido o Maradona. Ficar-lhe-ei eternamente grato. Não é todos os dias que se descobre um irmão.
A blogosfera enriqueceu repentinamente. Causa: o novo blog do meu querido amigo Maradona. O meu “mano” (é assim que nos tratamos) tratou de aderir a este maravilhoso novo mundo e eu quero desde já enviar-lhe os meus parabéns e as maiores felicidades. Que fique sabendo que
A Causa Foi Modificada faz já parte dos Favoritos, ombreando com o Andrew Sullivan, Arts & Letters, Spectator, etc. É obra!
PS: devo ao Miguel Esteves Cardoso o privilégio de ter conhecido o Maradona. Ficar-lhe-ei eternamente grato. Não é todos os dias que se descobre um irmão.
segunda-feira, abril 07, 2003
AMOR E A PAIXÃO por MIGUEL ESTEVES CARDOSO
“O amor começa pelo amor. É o céu. O céu foi criado primeiro. A paixão é um simples impulso físico, material, mensurável, explicável por todas as ciências da atracção. É o mar. O mar está mais perto de nós. Podemos chegar ao fundo dele. A diferença entre o amor e a paixão é como a diferença entre a cosmologia e a oceanografia. O mar tem fim, tem peso, tem vida. O céu não tem limite. O céu é dos astrónomos e dos poetas, que sabem que hão-de morrer sem percebê-lo. O mar é dos cientistas e dos observadores, que podem passar a vida dentro dele, sabendo que é finito e perceptível. O céu, como o amor, tem Deus acima dele. O mar, como a paixão, tem o Homem lá dentro. Compare-se o efeito que os anjos têm sobre nós com o que têm as sereias e perceber-se-á a distância entre a religião e a mitologia. A religião é uma coisa de Deus, do amor – a mitologia é uma coisa de pessoas-feitas-deuses, de paixão.”
O Miguel continua a escrever no DNa, todos os Sábados. É essencial continuar a ler e a acompanhar o Miguel. Nós, que gostamos tanto dele, por vezes esquecemo-nos de um pormenor: ele é um dos maiores escritores de língua portuguesa vivos. E quando me vêm falar dos Mias Coutos, faço um esforço enorme para não desesperar.
“O amor começa pelo amor. É o céu. O céu foi criado primeiro. A paixão é um simples impulso físico, material, mensurável, explicável por todas as ciências da atracção. É o mar. O mar está mais perto de nós. Podemos chegar ao fundo dele. A diferença entre o amor e a paixão é como a diferença entre a cosmologia e a oceanografia. O mar tem fim, tem peso, tem vida. O céu não tem limite. O céu é dos astrónomos e dos poetas, que sabem que hão-de morrer sem percebê-lo. O mar é dos cientistas e dos observadores, que podem passar a vida dentro dele, sabendo que é finito e perceptível. O céu, como o amor, tem Deus acima dele. O mar, como a paixão, tem o Homem lá dentro. Compare-se o efeito que os anjos têm sobre nós com o que têm as sereias e perceber-se-á a distância entre a religião e a mitologia. A religião é uma coisa de Deus, do amor – a mitologia é uma coisa de pessoas-feitas-deuses, de paixão.”
O Miguel continua a escrever no DNa, todos os Sábados. É essencial continuar a ler e a acompanhar o Miguel. Nós, que gostamos tanto dele, por vezes esquecemo-nos de um pormenor: ele é um dos maiores escritores de língua portuguesa vivos. E quando me vêm falar dos Mias Coutos, faço um esforço enorme para não desesperar.
domingo, abril 06, 2003
COMENTÁRIOS
Do meu amigo Zé Luis: “Introduzindo um pouco de polémica na conversa, aquela de comparares o Mia Couto ao rato Mickey é que não lembra ao diabo. Será por o Mia Couto ser de esquerda? A propósito, lembro-me de também desdenhares do José Saramago, talvez pelo mesmo motivo (experimenta a ler por exemplo "O ano da morte de Ricardo Reis", para mim o seu melhor romance, e estou à vontade para falar pois já os lí todos). Que dizes então do Gabriel Garcia Marquez, que esteve na base de várias iniciativas de apoio a Fidel Castro? Será que não tem por isso qualidade literária? Não te deixes cair no erro de confundir estética com ideologia, e tal como eu não deixo de ler Borges, Vargas Llosa ou Celine, não desprezes aqueles com os quais discordas pois és tu quem fica a perder. A propósito de Gabo, aconselho vivamente o primeiro volume da sua autobiografia que estou a ler no momento e me parece delicioso, tal como a maioria dos seus livros aliás, dos quais me permito destacar "O Amor nos Tempos de Cólera", seguramente um dos melhores romances que lí em toda a minha vida e para mim, ao contrário da opinião generalizada ("Cem anos de solidão"), o seu melhor livro.
Meu caro ZL: que existe uma estética ou, neste caso, uma literatura que permite o acesso a alegorias ou projecções político-ideológicas, disso não tenho dúvidas. Agora, seria um total disparate deixar de ler este ou aquele escritor, enquanto autor de ficção, ou este ou aquele poeta, pela simples razão de ele ter posições políticas contrárias à minha. Isso sim, seria totalmente idiota. Confesso, contudo, que não encaixo bem na forma como certos escritores, sob a capa da «ficção», insinuaram sub-repticiamente os seus manifestos políticos. Bem diferente dos que, honestamente, escreveram à luz de uma alegoria política. Assumida e objectivamente (Orwell, por exemplo).
Voltando ao teu comentário, a razão porque não gosto de Saramago ou de Mia Couto (embora Saramago seja melhor escritor que Couto), é sobretudo uma questão de estilo. Aliás, o Mia, tal como, por exemplo, o jovem Peixoto, escrevem, sobretudo, para servir o «style», esquecendo o verdadeiro fim da escrita: contar qualquer coisa (uma história, de preferência). Com factos verosímeis, uma escrita escorreita e livre de malabarismos linguísticos duvidosos, imagens ou figuras de estilo que rocem o disparate. No fundo, que escrevam bem. E, já agora, que deixem de olhar para os seus umbigos.
Portanto, caro ZL, não me obrigues a ter de gostar do Saramago, do Couto ou do jovem Peixoto só para provar a A ou B que não misturo as coisas, que não sou preconceituoso, etc. Va bene?
(PS: do que li do Gabriel gostei.)
Do meu amigo Zé Luis: “Introduzindo um pouco de polémica na conversa, aquela de comparares o Mia Couto ao rato Mickey é que não lembra ao diabo. Será por o Mia Couto ser de esquerda? A propósito, lembro-me de também desdenhares do José Saramago, talvez pelo mesmo motivo (experimenta a ler por exemplo "O ano da morte de Ricardo Reis", para mim o seu melhor romance, e estou à vontade para falar pois já os lí todos). Que dizes então do Gabriel Garcia Marquez, que esteve na base de várias iniciativas de apoio a Fidel Castro? Será que não tem por isso qualidade literária? Não te deixes cair no erro de confundir estética com ideologia, e tal como eu não deixo de ler Borges, Vargas Llosa ou Celine, não desprezes aqueles com os quais discordas pois és tu quem fica a perder. A propósito de Gabo, aconselho vivamente o primeiro volume da sua autobiografia que estou a ler no momento e me parece delicioso, tal como a maioria dos seus livros aliás, dos quais me permito destacar "O Amor nos Tempos de Cólera", seguramente um dos melhores romances que lí em toda a minha vida e para mim, ao contrário da opinião generalizada ("Cem anos de solidão"), o seu melhor livro.
Meu caro ZL: que existe uma estética ou, neste caso, uma literatura que permite o acesso a alegorias ou projecções político-ideológicas, disso não tenho dúvidas. Agora, seria um total disparate deixar de ler este ou aquele escritor, enquanto autor de ficção, ou este ou aquele poeta, pela simples razão de ele ter posições políticas contrárias à minha. Isso sim, seria totalmente idiota. Confesso, contudo, que não encaixo bem na forma como certos escritores, sob a capa da «ficção», insinuaram sub-repticiamente os seus manifestos políticos. Bem diferente dos que, honestamente, escreveram à luz de uma alegoria política. Assumida e objectivamente (Orwell, por exemplo).
Voltando ao teu comentário, a razão porque não gosto de Saramago ou de Mia Couto (embora Saramago seja melhor escritor que Couto), é sobretudo uma questão de estilo. Aliás, o Mia, tal como, por exemplo, o jovem Peixoto, escrevem, sobretudo, para servir o «style», esquecendo o verdadeiro fim da escrita: contar qualquer coisa (uma história, de preferência). Com factos verosímeis, uma escrita escorreita e livre de malabarismos linguísticos duvidosos, imagens ou figuras de estilo que rocem o disparate. No fundo, que escrevam bem. E, já agora, que deixem de olhar para os seus umbigos.
Portanto, caro ZL, não me obrigues a ter de gostar do Saramago, do Couto ou do jovem Peixoto só para provar a A ou B que não misturo as coisas, que não sou preconceituoso, etc. Va bene?
(PS: do que li do Gabriel gostei.)
PDL by PTA
Acabei de ver Punch-Drunk Love (“Embriagado de Amor”). Ainda levito. Paul Thomas Anderson volta a encantar. Adam Sandler (uma surpresa), Emily Watson (um doce), Luis Guzmán (impecável secundário, como sempre) e Philip Seymour Hoffman (grande, grande actor) dão corpo a um filme que faz vénia à beleza, ingenuidade, simplicidade e, até, porque não dizê-lo, idiotice do amor.
Punch-Drunk Love relata a história de Barry, um neurótico com ares de palhaço autista, que passou boa parte da sua vida sob o domínio do colo maternal de sete mulheres (irmãs) que o «esmagaram». Barry encontra-se num vazio existencial, num buraco negro. É o infeliz proprietário de um negócio indefinido e difuso, num qualquer armazém de uma qualquer zona industrial de LA. Invariavelmente, continua a ser bombardeado pelos telefonemas das «manas». Começa a perder o tacto e o sentido do que anda a fazer. A deriva a que chegou leva-o a fixar-se em pormenores como um suposto erro de marketing, na campanha de uma marca de produtos alimentares. De forma patética, Barry sonha em aproveitar o «bug» da campanha (a qual oferece viagens em troca de pontos) para «fugir» dali. É então que conhece Lena. E, com ela, o amor. Barry mergulha nesse amor (correspondido por Lena), como se essa entrega o libertasse de uma existência monocórdica e estupidificante. Existe ali muito amor para dar, como se ambos tivessem acabado embriagados por terem retido, durante muito tempo, essa necessidade de amar e ser amado.
Pelo meio, PTA volta à temática do sexo/pornografia, com a cena do telefonema erótico – acto que viria a despoletar problemas para Barry com o gang das chamadas eróticas, figurativo para uma má consciência, fruto de uma sexualidade reprimida (“querias ser perverso e não pagar?” pergunta-lhe a personagem de Hoffman, que Barry mais tarde domina quando a enfrenta, olhos nos olhos. Ao que Hoffman responde: “That’s it”, “deixo-te em paz”.).
O filme é pontuado por cenas hilariantes, bizarras, indizíveis. A intrusão da música e dos sons na mise en scène é sublime, na criação de ambientes provocadores de micro-palpitações.
Um filme simples, mas eficaz. Despretensioso, mas seguro. Uma espécie de sonho filmado, com a marca indelével de PTA.
Acabei de ver Punch-Drunk Love (“Embriagado de Amor”). Ainda levito. Paul Thomas Anderson volta a encantar. Adam Sandler (uma surpresa), Emily Watson (um doce), Luis Guzmán (impecável secundário, como sempre) e Philip Seymour Hoffman (grande, grande actor) dão corpo a um filme que faz vénia à beleza, ingenuidade, simplicidade e, até, porque não dizê-lo, idiotice do amor.
Punch-Drunk Love relata a história de Barry, um neurótico com ares de palhaço autista, que passou boa parte da sua vida sob o domínio do colo maternal de sete mulheres (irmãs) que o «esmagaram». Barry encontra-se num vazio existencial, num buraco negro. É o infeliz proprietário de um negócio indefinido e difuso, num qualquer armazém de uma qualquer zona industrial de LA. Invariavelmente, continua a ser bombardeado pelos telefonemas das «manas». Começa a perder o tacto e o sentido do que anda a fazer. A deriva a que chegou leva-o a fixar-se em pormenores como um suposto erro de marketing, na campanha de uma marca de produtos alimentares. De forma patética, Barry sonha em aproveitar o «bug» da campanha (a qual oferece viagens em troca de pontos) para «fugir» dali. É então que conhece Lena. E, com ela, o amor. Barry mergulha nesse amor (correspondido por Lena), como se essa entrega o libertasse de uma existência monocórdica e estupidificante. Existe ali muito amor para dar, como se ambos tivessem acabado embriagados por terem retido, durante muito tempo, essa necessidade de amar e ser amado.
Pelo meio, PTA volta à temática do sexo/pornografia, com a cena do telefonema erótico – acto que viria a despoletar problemas para Barry com o gang das chamadas eróticas, figurativo para uma má consciência, fruto de uma sexualidade reprimida (“querias ser perverso e não pagar?” pergunta-lhe a personagem de Hoffman, que Barry mais tarde domina quando a enfrenta, olhos nos olhos. Ao que Hoffman responde: “That’s it”, “deixo-te em paz”.).
O filme é pontuado por cenas hilariantes, bizarras, indizíveis. A intrusão da música e dos sons na mise en scène é sublime, na criação de ambientes provocadores de micro-palpitações.
Um filme simples, mas eficaz. Despretensioso, mas seguro. Uma espécie de sonho filmado, com a marca indelével de PTA.
sábado, abril 05, 2003
MAIS UM BLOG IRMÃO
Chama-se Fora da Lei. É recente mas já mexe. Parabéns ao Samuel e votos de bom trabalho.
Chama-se Fora da Lei. É recente mas já mexe. Parabéns ao Samuel e votos de bom trabalho.
UM NOJO
O texto publicado no Público da autoria de Pedro M. Almeida, sobre o holocausto e os judeus, é, a todos os títulos, um nojo. Leiam a resposta de Esther Mucznick.
O texto publicado no Público da autoria de Pedro M. Almeida, sobre o holocausto e os judeus, é, a todos os títulos, um nojo. Leiam a resposta de Esther Mucznick.
O RIDÍCULO MATA
Por razões inauditas, conversei, durante a semana que agora finda, com três radialistas desta mui nobre cidade de Évora. Persegue-me uma inquietação: porque razão esta gente fala sempre com a voz colocada e nasalada, mesmo quando não estão no desempenho das suas funções? Ele há coisas...
Por razões inauditas, conversei, durante a semana que agora finda, com três radialistas desta mui nobre cidade de Évora. Persegue-me uma inquietação: porque razão esta gente fala sempre com a voz colocada e nasalada, mesmo quando não estão no desempenho das suas funções? Ele há coisas...
DE LARKIN
Para um desterrado em Nova Iorque.
No, I have never found
The place where I could say
This is my proper ground,
Here I shall stay;
Nor met that special one
Who has an instant claim
On everything I own
Down to my name;
Um abraço V
Para um desterrado em Nova Iorque.
No, I have never found
The place where I could say
This is my proper ground,
Here I shall stay;
Nor met that special one
Who has an instant claim
On everything I own
Down to my name;
Um abraço V
COMENTE. NÃO SE ACANHE.
Este blog está aberto a comentários. Para esse efeito, tome nota: carlosccc@mail.telepac.pt. Serão publicadas observações, criticas, desabafos, correcções, cumplicidades, análises, you name it. Ficarão de fora os insultos gratuitos e os elogios sinceros. Estes, por uma questão de pudor, permanecerão privados.
Este blog está aberto a comentários. Para esse efeito, tome nota: carlosccc@mail.telepac.pt. Serão publicadas observações, criticas, desabafos, correcções, cumplicidades, análises, you name it. Ficarão de fora os insultos gratuitos e os elogios sinceros. Estes, por uma questão de pudor, permanecerão privados.
sexta-feira, abril 04, 2003
HITLER E O TRATADO DE VERSALHES
Vem esta reflexão a propósito de uma conversa, há uns tempos atrás, com os meus amigos Maradona e JMF, na qual ambos defendiam a seguinte tese: foi por causa do Tratado de Versalhes que surgiu o fenómeno Hitler e a 2ª Guerra Mundial.
Em Junho de 1919, enquanto se davam por concluídos os trabalhos que deram origem ao tratado de Versalhes, um jovem chamado Adolfo Hitler recebia, em Munique, aulas sobre as glórias e feitos do povo alemão, e o carácter demoníaco do «capital» internacional, predominantemente nas mãos dos judeus. Muito provavelmente, para não dizer com toda a certeza, o jovem Adolfo terá sorvido Fichte, como quem sorve um batido de morango. Sobretudo o que Fichte escreveu durante a última fase das guerras napoleónicas, onde proclamava a supremacia intelectual e moral do povo alemão. Segundo Fichte, um povo escolhido pela Natureza, constituído por homens jovens, vigorosos, fortes e com um desígnio pela frente: a instituição de um Estado que desse largas à grandiosidade do seu povo. O Estado de Fichte era um Estado totalitário e maximalista, embora não revolucionário. O jovem Adolfo terá, também, lido Hegel, o qual, não sendo um teórico da raça e da Nação superiores, acreditava na existência de uma nação de consequências histórico-mundiais em cada época. Hitler terá assimilado todas essas doutrinas relativas à mais alta instância criada pelo homem, na forma como o Estado deveria ter absoluta autonomia no exercício do direito de procurar alcançar os seus objectivos, em nome do povo. Se necessário pela guerra (um pontapé na ideia de «paz perpétua» de Kant).
Há muita gente a defender que a 2ª Guerra Mundial foi consequência da «humilhação» do povo alemão, e das «injustiças» a que foi sujeito via Tratado de Versalhes. O próprio The Economist (revista muito cá de casa), numa edição dedicada ao segundo milénio, fazia referência ao “final crime” perpetrado pelo Tratado de Versalhes. Esta versão dos factos, compre-a quem quiser. Prefiro outra: o Tratado de Versalhes não passou de um utilíssimo bode-expiatório e de uma simpática figura de retórica para os objectivos de Hitler. Culpar o Tratado por ‘dá cá aquela palha’ é fácil e dispensa grandes raciocínios. Culpar o Tratado pela 2ª Guerra Mundial, é deitar no lixo os inúmeros esforços diplomáticos, políticos e militares levados a cabo entre 1919 e 1939. O mundo não parou depois de 1919 e muito menos a tentativa de manutenção de uma ordem mundial minimamente aceitável, embora precária e imperfeita (como qualquer «ordem» mundial). Basta ler a incontornável obra “The Origins of the Second World War” de A. J. P. Taylor, para perceber que há outras explicações, bem mais plausíveis, para o que sucedeu. A verdade é que, ao contrário do que se pensa, talvez tudo tivesse sido diferente se a Alemanha tivesse sido real e objectivamente derrotada e desarmada – coisa que o não foi. Ou se os EUA não tivessem retomado a sua trajectória isolacionista, após a 1ª Guerra Mundial. Ou, ainda, se a frança e a Grã-Bretanha não tivessem ficado tão depauperadas. Mesmo que à Alemanha tivessem sido devolvidas as suas velhas fronteiras, mesmo que se tivesse facilitado ainda mais o seu rearmamento ou permitido a ligação à Áustria, Hitler teria seguido o seu sonho, a «sua luta», o seu instinto: a proclamação prática, espacial e económica da superioridade do povo alemão, e a escravidão da restante ralé.
Desculpem a divagação.
Vem esta reflexão a propósito de uma conversa, há uns tempos atrás, com os meus amigos Maradona e JMF, na qual ambos defendiam a seguinte tese: foi por causa do Tratado de Versalhes que surgiu o fenómeno Hitler e a 2ª Guerra Mundial.
Em Junho de 1919, enquanto se davam por concluídos os trabalhos que deram origem ao tratado de Versalhes, um jovem chamado Adolfo Hitler recebia, em Munique, aulas sobre as glórias e feitos do povo alemão, e o carácter demoníaco do «capital» internacional, predominantemente nas mãos dos judeus. Muito provavelmente, para não dizer com toda a certeza, o jovem Adolfo terá sorvido Fichte, como quem sorve um batido de morango. Sobretudo o que Fichte escreveu durante a última fase das guerras napoleónicas, onde proclamava a supremacia intelectual e moral do povo alemão. Segundo Fichte, um povo escolhido pela Natureza, constituído por homens jovens, vigorosos, fortes e com um desígnio pela frente: a instituição de um Estado que desse largas à grandiosidade do seu povo. O Estado de Fichte era um Estado totalitário e maximalista, embora não revolucionário. O jovem Adolfo terá, também, lido Hegel, o qual, não sendo um teórico da raça e da Nação superiores, acreditava na existência de uma nação de consequências histórico-mundiais em cada época. Hitler terá assimilado todas essas doutrinas relativas à mais alta instância criada pelo homem, na forma como o Estado deveria ter absoluta autonomia no exercício do direito de procurar alcançar os seus objectivos, em nome do povo. Se necessário pela guerra (um pontapé na ideia de «paz perpétua» de Kant).
Há muita gente a defender que a 2ª Guerra Mundial foi consequência da «humilhação» do povo alemão, e das «injustiças» a que foi sujeito via Tratado de Versalhes. O próprio The Economist (revista muito cá de casa), numa edição dedicada ao segundo milénio, fazia referência ao “final crime” perpetrado pelo Tratado de Versalhes. Esta versão dos factos, compre-a quem quiser. Prefiro outra: o Tratado de Versalhes não passou de um utilíssimo bode-expiatório e de uma simpática figura de retórica para os objectivos de Hitler. Culpar o Tratado por ‘dá cá aquela palha’ é fácil e dispensa grandes raciocínios. Culpar o Tratado pela 2ª Guerra Mundial, é deitar no lixo os inúmeros esforços diplomáticos, políticos e militares levados a cabo entre 1919 e 1939. O mundo não parou depois de 1919 e muito menos a tentativa de manutenção de uma ordem mundial minimamente aceitável, embora precária e imperfeita (como qualquer «ordem» mundial). Basta ler a incontornável obra “The Origins of the Second World War” de A. J. P. Taylor, para perceber que há outras explicações, bem mais plausíveis, para o que sucedeu. A verdade é que, ao contrário do que se pensa, talvez tudo tivesse sido diferente se a Alemanha tivesse sido real e objectivamente derrotada e desarmada – coisa que o não foi. Ou se os EUA não tivessem retomado a sua trajectória isolacionista, após a 1ª Guerra Mundial. Ou, ainda, se a frança e a Grã-Bretanha não tivessem ficado tão depauperadas. Mesmo que à Alemanha tivessem sido devolvidas as suas velhas fronteiras, mesmo que se tivesse facilitado ainda mais o seu rearmamento ou permitido a ligação à Áustria, Hitler teria seguido o seu sonho, a «sua luta», o seu instinto: a proclamação prática, espacial e económica da superioridade do povo alemão, e a escravidão da restante ralé.
Desculpem a divagação.
ONDE?
Observo a comunicação social e a cobertura da guerra e lembro-me de T. S. Eliot, em The Rock:
Where is the wisdom we have lost in knowledge?
Where is the knowledge we have lost in information?
Observo a comunicação social e a cobertura da guerra e lembro-me de T. S. Eliot, em The Rock:
Where is the wisdom we have lost in knowledge?
Where is the knowledge we have lost in information?
A GUERRA, II
Quem, por esta altura, aterre no planeta Terra e ligue as televisões, chegará a esta conclusão: existe um conflito bélico num país do médio-oriente, onde uma coligação anglo-americana está a levar uma «coça» de um exercito liderado pelo seu grande líder Saddam Hussein. Constatará, igualmente, que a esmagadora maioria dos mísseis da coligação erram o alvo, acertando em população civis («danos colaterais» é o termo em voga), não se sabendo se de propósito ou se por azelhice. Finalmente, constatará que, para a coligação, o conflito já deveria estar arrumado há uma semana, não fosse a «coça» a que entretanto foram sujeitos.
Falando um pouco mais a sério, não deixa de ser patética a forma como as opiniões públicas, em geral, consideram a guerra, hoje em dia, como algo asséptico, cientifico e de rápida resolução. Embora nenhum militar ou responsável militar norte-americano ou inglês, tivesse dito, uma vez que fosse, que esta guerra seria de curta duração e que não haveria erros, a verdade é que a opinião pública ocidental achou por bem concluir que esta guerra seria «limpa», duraria uma semana (afinal Saddam estava desarmado, não estava?), e que a população iraquiana saudaria, desde o primeiro dia, a chegada dos libertadores.
É essencial perceber que uma ditadura de décadas deixa a marca das suas patas na população. Existe sempre uma franja assinalável da mesma que serve a ditadura, alimentado-se sob o seu tecto. Isto é particularmente aplicável nas grandes e médias cidades, onde o regime tem os seus pilares de propaganda instalados. Alie-se a isto uma propaganda de décadas onde os americanos foram, e são, retratados como animais, demónios e ladrões (de petróleo), o receio das populações em aderir ao lado contrário quando são bombardeadas diariamente com notícias de que o «inimigo» está a ser derrotado, e talvez se perceba o que se passa no terreno. Deixemo-nos, pois, de afirmações de espanto. As coisas são o que são e a realidade é bem mais dura e concreta que meia dúzia de parágrafos de uma dúzia de «opinion makers» que, refastelados na sua chaise-longue, de guerra pouco ou nada percebem.
Esta guerra está unicamente a durar o que está a durar (que não é pouco nem muito), porque a estratégia é evitar ao máximo o número de vitimas civis. Estivesse a Rússia à frente da operação com os meios de que dispõe a coligação e, talvez, já tivéssemos assistido, tal como em Grozny, à «vitaminização» do ar (vitaminas B1, B2 e B52), a aplicar indiscriminadamente sobre toda a população. Mas não. Por muito que custe aceitar aos anti-americanistas mais ferrenhos, há que reconhecer que este conflito tem sido travado com pézinhos de lã, por parte da coligação. Os erros, lamentáveis mas inevitáveis, são mínimos, se os compararmos a conflitos anteriores.
Mas o que se poderia esperar de uma comunicação social que, à conversa com Sérgio Vieira de Melo, Alto Comissário da ONU, lhe perguntava se ele estava apreensivo com a forma como os prisioneiros iraquianos estariam a ser tratados, esquecendo que são os militares iraquianos que têm vindo a quebrar de forma indecorosa o estabelecido na convenção de Genebra? O que esperar de uma comunicação social que repete, ad nauseam, as imagens de um erro de bombardeamento da coligação, quando as notícias de assassinatos, perpetrados pelo militares iraquianos contra quem mostrou vontade de desertar ou apoiar as tropas anglo-americanas, nem sequer têm eco? O que dizer de uma comunicação social quando um repórter, no local onde tinha erradamente caído um míssil da coligação, e após o anuncio de um inquérito para averiguar o incidente, afirmava, sem margem para dúvidas, que restava apenas saber se o bombardeamento tinha sido o resultado de um erro ou a face mais visível da deliberada estratégia de terror sobre populações civis, como resposta aos reveses da guerra? Pouco há a dizer a não ser isto: a coligação pode estar a ganhar clara e inequivocamente a guerra no terreno, mas os EUA e a Inglaterra há muito que a perderam na comunicação social. Só mesmo um milagre poderá inverter esta tendência.
Quem, por esta altura, aterre no planeta Terra e ligue as televisões, chegará a esta conclusão: existe um conflito bélico num país do médio-oriente, onde uma coligação anglo-americana está a levar uma «coça» de um exercito liderado pelo seu grande líder Saddam Hussein. Constatará, igualmente, que a esmagadora maioria dos mísseis da coligação erram o alvo, acertando em população civis («danos colaterais» é o termo em voga), não se sabendo se de propósito ou se por azelhice. Finalmente, constatará que, para a coligação, o conflito já deveria estar arrumado há uma semana, não fosse a «coça» a que entretanto foram sujeitos.
Falando um pouco mais a sério, não deixa de ser patética a forma como as opiniões públicas, em geral, consideram a guerra, hoje em dia, como algo asséptico, cientifico e de rápida resolução. Embora nenhum militar ou responsável militar norte-americano ou inglês, tivesse dito, uma vez que fosse, que esta guerra seria de curta duração e que não haveria erros, a verdade é que a opinião pública ocidental achou por bem concluir que esta guerra seria «limpa», duraria uma semana (afinal Saddam estava desarmado, não estava?), e que a população iraquiana saudaria, desde o primeiro dia, a chegada dos libertadores.
É essencial perceber que uma ditadura de décadas deixa a marca das suas patas na população. Existe sempre uma franja assinalável da mesma que serve a ditadura, alimentado-se sob o seu tecto. Isto é particularmente aplicável nas grandes e médias cidades, onde o regime tem os seus pilares de propaganda instalados. Alie-se a isto uma propaganda de décadas onde os americanos foram, e são, retratados como animais, demónios e ladrões (de petróleo), o receio das populações em aderir ao lado contrário quando são bombardeadas diariamente com notícias de que o «inimigo» está a ser derrotado, e talvez se perceba o que se passa no terreno. Deixemo-nos, pois, de afirmações de espanto. As coisas são o que são e a realidade é bem mais dura e concreta que meia dúzia de parágrafos de uma dúzia de «opinion makers» que, refastelados na sua chaise-longue, de guerra pouco ou nada percebem.
Esta guerra está unicamente a durar o que está a durar (que não é pouco nem muito), porque a estratégia é evitar ao máximo o número de vitimas civis. Estivesse a Rússia à frente da operação com os meios de que dispõe a coligação e, talvez, já tivéssemos assistido, tal como em Grozny, à «vitaminização» do ar (vitaminas B1, B2 e B52), a aplicar indiscriminadamente sobre toda a população. Mas não. Por muito que custe aceitar aos anti-americanistas mais ferrenhos, há que reconhecer que este conflito tem sido travado com pézinhos de lã, por parte da coligação. Os erros, lamentáveis mas inevitáveis, são mínimos, se os compararmos a conflitos anteriores.
Mas o que se poderia esperar de uma comunicação social que, à conversa com Sérgio Vieira de Melo, Alto Comissário da ONU, lhe perguntava se ele estava apreensivo com a forma como os prisioneiros iraquianos estariam a ser tratados, esquecendo que são os militares iraquianos que têm vindo a quebrar de forma indecorosa o estabelecido na convenção de Genebra? O que esperar de uma comunicação social que repete, ad nauseam, as imagens de um erro de bombardeamento da coligação, quando as notícias de assassinatos, perpetrados pelo militares iraquianos contra quem mostrou vontade de desertar ou apoiar as tropas anglo-americanas, nem sequer têm eco? O que dizer de uma comunicação social quando um repórter, no local onde tinha erradamente caído um míssil da coligação, e após o anuncio de um inquérito para averiguar o incidente, afirmava, sem margem para dúvidas, que restava apenas saber se o bombardeamento tinha sido o resultado de um erro ou a face mais visível da deliberada estratégia de terror sobre populações civis, como resposta aos reveses da guerra? Pouco há a dizer a não ser isto: a coligação pode estar a ganhar clara e inequivocamente a guerra no terreno, mas os EUA e a Inglaterra há muito que a perderam na comunicação social. Só mesmo um milagre poderá inverter esta tendência.
NOVO BLOG
Da minha querida amiga Charlotte chega-nos o Blog Bomba Inteligente. Obrigatório. Parabéns à Charlotte!
Da minha querida amiga Charlotte chega-nos o Blog Bomba Inteligente. Obrigatório. Parabéns à Charlotte!
COMENTÁRIOS
De Manuel Pinheiro, do Blog DeDireita:
”Posto de uma forma realista, e tendo por base as universidades portuguesas, podemos afirmar que as universidades inglesas são de outro planeta e as americanas de outra dimensão (4ª ou 5ª).
Eu estudei nas três frentes (Tugolândia, Inglaterra e EUA) e para conversar
a sério sobre o tema, teríamos de tirar 6 meses e recrutar os "bloguistas"
todos. De qualquer forma, utilizando um exemplo famoso, só o orçamento de Harvard excede em duas vezes (sim, x 2) o somatório do investimento em ensino superior da França.
Há verdades cruéis.”
Caro Manuel: há verdades cruéis e mediocridade militante. Provavelmente, o problema não passa só pelos orçamentos. Estes devem ser, e são, dimensionados face à realidade de cada país (eu não esperava que num país como Portugal uma universidade tivesse de gerir um orçamento de 8,5 biliões de euros). O problema estará mais na organização e qualidade das licenciaturas e doutoramentos, na mentalidade e predisposição de professores e outros agentes «internos», na incapacidade de intrusão com a chamada sociedade civil e numa tradição escolástica castradora e reaccionária. Conheço dois casos de doutorados «abroad», que regressaram ao seu país para leccionar e acabaram por ser escorraçados por colegas e corpo directivo. Supostamente, não encaixavam no “modus operandi” e vieram “armados em bons”. O habitual...
De Manuel Pinheiro, do Blog DeDireita:
”Posto de uma forma realista, e tendo por base as universidades portuguesas, podemos afirmar que as universidades inglesas são de outro planeta e as americanas de outra dimensão (4ª ou 5ª).
Eu estudei nas três frentes (Tugolândia, Inglaterra e EUA) e para conversar
a sério sobre o tema, teríamos de tirar 6 meses e recrutar os "bloguistas"
todos. De qualquer forma, utilizando um exemplo famoso, só o orçamento de Harvard excede em duas vezes (sim, x 2) o somatório do investimento em ensino superior da França.
Há verdades cruéis.”
Caro Manuel: há verdades cruéis e mediocridade militante. Provavelmente, o problema não passa só pelos orçamentos. Estes devem ser, e são, dimensionados face à realidade de cada país (eu não esperava que num país como Portugal uma universidade tivesse de gerir um orçamento de 8,5 biliões de euros). O problema estará mais na organização e qualidade das licenciaturas e doutoramentos, na mentalidade e predisposição de professores e outros agentes «internos», na incapacidade de intrusão com a chamada sociedade civil e numa tradição escolástica castradora e reaccionária. Conheço dois casos de doutorados «abroad», que regressaram ao seu país para leccionar e acabaram por ser escorraçados por colegas e corpo directivo. Supostamente, não encaixavam no “modus operandi” e vieram “armados em bons”. O habitual...
DROGA
Em tempos de maior agitação e stress, para acalmar os nervos, costumo recorrer a uma droga que, no meu caso, tem uma eficácia perturbadora. Não, não se chama “Pazolan”, Lexotan”, “Xanax” ou “Valium”. O seu nome vai mudando, consoante o dia e a hora. Umas vezes apresenta-se sob uma forma matematicamente caótica, metodicamente desordeira e obtusa. Nesses dias chama-se “Thelonious Monk”. Há dias em que se apresenta em registo «cool», elegante mas complexo, designando-se “Miles Davis”. Noutras ocasiões é sincopada, discretamente saltitante e de grande fôlego, com a denominação “Duke Ellington”. Noutros, ainda, é errática, obscura, original e vibrante, apelidando-se “Coltrane, John”. Uma coisa é certa: não sei o que seriam os meus nervos sem essa droga.
Em tempos de maior agitação e stress, para acalmar os nervos, costumo recorrer a uma droga que, no meu caso, tem uma eficácia perturbadora. Não, não se chama “Pazolan”, Lexotan”, “Xanax” ou “Valium”. O seu nome vai mudando, consoante o dia e a hora. Umas vezes apresenta-se sob uma forma matematicamente caótica, metodicamente desordeira e obtusa. Nesses dias chama-se “Thelonious Monk”. Há dias em que se apresenta em registo «cool», elegante mas complexo, designando-se “Miles Davis”. Noutras ocasiões é sincopada, discretamente saltitante e de grande fôlego, com a denominação “Duke Ellington”. Noutros, ainda, é errática, obscura, original e vibrante, apelidando-se “Coltrane, John”. Uma coisa é certa: não sei o que seriam os meus nervos sem essa droga.
quinta-feira, abril 03, 2003
PAUL JOHNSON DIXIT
”The task of rebuilding a decent society will have to begin from the roots. But miracles are not unknown, especially in the Middle East, which invented them. Perhaps a great nation-builder will appear from Iraq’s silent millions, a creator and justiciar whom the Americans and British can support.
I trust they will do all they can to keep out the troublemakers who have tried to maintain Saddam in power, especially France, which has signed $60 billion-worth of contract with him, and Russia, whose policy aim is to keep the oil price, and with it the value of Russia’s oil exports, as high as possible. Putin and Chirac stand in the lowest rank of the hierarchy of villains – petty creatures. Chirac’s fingers itch for the till; indeed, he may well end his days in jail. But for the present his strong suit is humbug, and his appeal to the very worst instincts of the French – posturing, cultural and moral pride, verbal fantasising and grandiose delusions – has put him in the line of those political mountenbanks like Louis Philippe and Napolean III who briefly enjoyed the favour of the streets. Like them, he will end up here when the French turn against him.”
Good old Johnson!
”The task of rebuilding a decent society will have to begin from the roots. But miracles are not unknown, especially in the Middle East, which invented them. Perhaps a great nation-builder will appear from Iraq’s silent millions, a creator and justiciar whom the Americans and British can support.
I trust they will do all they can to keep out the troublemakers who have tried to maintain Saddam in power, especially France, which has signed $60 billion-worth of contract with him, and Russia, whose policy aim is to keep the oil price, and with it the value of Russia’s oil exports, as high as possible. Putin and Chirac stand in the lowest rank of the hierarchy of villains – petty creatures. Chirac’s fingers itch for the till; indeed, he may well end his days in jail. But for the present his strong suit is humbug, and his appeal to the very worst instincts of the French – posturing, cultural and moral pride, verbal fantasising and grandiose delusions – has put him in the line of those political mountenbanks like Louis Philippe and Napolean III who briefly enjoyed the favour of the streets. Like them, he will end up here when the French turn against him.”
Good old Johnson!
COMENTÁRIOS
De Lina Silva: ”O que esta raivosa anti-belicista condena às sucessivas mas em especial, e devido ao peso das circunstâncias, a esta administração americana é o facto de, sendo uma democracia que se ajusta à descrição de J. S. Mill, estar a agir precisamente da maneira contrária à que o discurso deste autor prevê. Da ditadura de Saddam não podemos esperar mais do que acções ditatoriais. À democracia americana temos de exigir acções democráticas. E confesso que me mete medo e apreensão pelo nosso futuro uma democracia começar a agir internacionalmente como se de uma ditadura se tratasse, ao mesmo tempo que exige ser vista e tratada como democrática,estatuto que perde pela sua actuação no exterior. Lá dentro, nos EUA, a administração continuar a agir democràticamente como é suposto numa democracia e eu gostaria que a comunidade internacional não se deixasse confundir, ofuscar e iludir por esse facto.
Cara Lina: se reparar, eu não disse que todos os que são contra a guerra apelidam preconceituosamente os outros de “belicistas”, “bushistas” ou “insensíveis”. Existe, e a Lina concordará comigo, quem tenha uma noção deturpada do que é o pluralismo. A frase de Mill remete-nos para a questão da liberdade de expressão, condenando tentativas mais ou menos explicitas de calar ou bestializar quem pensa de forma diferente. Sinceramente, depois de ler o que escreveu, não julgo ser esse o seu caso. A Lina sabe discutir, de forma cordial e fundamentada, a questão da guerra. Bem haja por isso.
Quanto aos EUA, é bom não esquecer que eles foram alvo de um ataque soez, sem precedentes, no dia 11 de Setembro de 2001 (que muitos, patética e ingenuamente, identificaram como o grito de revolta dos desfavorecidos do mundo). Para o bem e para o mal, o 11 de Setembro marcou indelevelmente a forma de olhar o mundo por parte dos responsáveis norte-americanos, tendo precipitado algumas decisões. Existe, na região do médio oriente, uma forte instabilidade política e social, servida pelo fanatismo religioso e por um ódio doentio ao mundo Ocidental – cuja explicação pode e deve ser encontrada não nas acções do Ocidente, mas sim no retrocesso civilizacional ou na estagnação de uma outrora grande civilização, fruto da inacção, incompetência e estupidez de muitos dos seus lideres (que a propaganda de Estado/religiosa tentou sonegar, apontando o dedo para o exterior). No Iraque, Saddam Hussein foi, por exemplo, um dos mais brutais ditadores do Sec. XX, responsável por dois conflitos armados, pela aniquilação de milhares de iraquianos e pelo atraso económico do seu pais a um nível vergonhoso, para um país riquíssimo em reservas petrolíferas.
Perante este cenário, os EUA consideraram que, ficar indiferente, numa posição de contemplação, seria, num futuro próximo, bem mais perigoso do que agir. Os responsáveis americanos e ingleses olharam para Saddam e julgaram ser bastante provável, dada a conjuntura internacional e a história do regime iraquiano, a ideia de Saddam voltar a pôr em prática os seus propósitos megalómanos e, da mesma forma que já apoiava o terrorismo dos grupos radicais palestinianos, poder vir a servir grupos terroristas «globais» (como é o caso da Al Qaeda), com armas de destruição maciça. Decidiram não confiar mais na política de embargo imposta ao Iraque (a qual prejudicava essencialmente as populações civis, mas não o regime), nem no trabalho dos inspectores da ONU (há doze anos que Saddam os vinha ludibriando, violando materialmente várias resoluções da ONU). Optaram por agir, não no sentido da cruzada utópica, mas com objectivos práticos de natureza geo-política, aliados a uma questão moral. Confesso-lhe uma convicção e um ‘wishful thinking’: esta intervenção pode dar origem a outras «reformas», incluindo a resolução do problema israelo-palestiniano. Mas sobre a guerra em curso leia os meu próximos ‘posts’. Obrigado pelo seu comentário.
De Lina Silva: ”O que esta raivosa anti-belicista condena às sucessivas mas em especial, e devido ao peso das circunstâncias, a esta administração americana é o facto de, sendo uma democracia que se ajusta à descrição de J. S. Mill, estar a agir precisamente da maneira contrária à que o discurso deste autor prevê. Da ditadura de Saddam não podemos esperar mais do que acções ditatoriais. À democracia americana temos de exigir acções democráticas. E confesso que me mete medo e apreensão pelo nosso futuro uma democracia começar a agir internacionalmente como se de uma ditadura se tratasse, ao mesmo tempo que exige ser vista e tratada como democrática,estatuto que perde pela sua actuação no exterior. Lá dentro, nos EUA, a administração continuar a agir democràticamente como é suposto numa democracia e eu gostaria que a comunidade internacional não se deixasse confundir, ofuscar e iludir por esse facto.
Cara Lina: se reparar, eu não disse que todos os que são contra a guerra apelidam preconceituosamente os outros de “belicistas”, “bushistas” ou “insensíveis”. Existe, e a Lina concordará comigo, quem tenha uma noção deturpada do que é o pluralismo. A frase de Mill remete-nos para a questão da liberdade de expressão, condenando tentativas mais ou menos explicitas de calar ou bestializar quem pensa de forma diferente. Sinceramente, depois de ler o que escreveu, não julgo ser esse o seu caso. A Lina sabe discutir, de forma cordial e fundamentada, a questão da guerra. Bem haja por isso.
Quanto aos EUA, é bom não esquecer que eles foram alvo de um ataque soez, sem precedentes, no dia 11 de Setembro de 2001 (que muitos, patética e ingenuamente, identificaram como o grito de revolta dos desfavorecidos do mundo). Para o bem e para o mal, o 11 de Setembro marcou indelevelmente a forma de olhar o mundo por parte dos responsáveis norte-americanos, tendo precipitado algumas decisões. Existe, na região do médio oriente, uma forte instabilidade política e social, servida pelo fanatismo religioso e por um ódio doentio ao mundo Ocidental – cuja explicação pode e deve ser encontrada não nas acções do Ocidente, mas sim no retrocesso civilizacional ou na estagnação de uma outrora grande civilização, fruto da inacção, incompetência e estupidez de muitos dos seus lideres (que a propaganda de Estado/religiosa tentou sonegar, apontando o dedo para o exterior). No Iraque, Saddam Hussein foi, por exemplo, um dos mais brutais ditadores do Sec. XX, responsável por dois conflitos armados, pela aniquilação de milhares de iraquianos e pelo atraso económico do seu pais a um nível vergonhoso, para um país riquíssimo em reservas petrolíferas.
Perante este cenário, os EUA consideraram que, ficar indiferente, numa posição de contemplação, seria, num futuro próximo, bem mais perigoso do que agir. Os responsáveis americanos e ingleses olharam para Saddam e julgaram ser bastante provável, dada a conjuntura internacional e a história do regime iraquiano, a ideia de Saddam voltar a pôr em prática os seus propósitos megalómanos e, da mesma forma que já apoiava o terrorismo dos grupos radicais palestinianos, poder vir a servir grupos terroristas «globais» (como é o caso da Al Qaeda), com armas de destruição maciça. Decidiram não confiar mais na política de embargo imposta ao Iraque (a qual prejudicava essencialmente as populações civis, mas não o regime), nem no trabalho dos inspectores da ONU (há doze anos que Saddam os vinha ludibriando, violando materialmente várias resoluções da ONU). Optaram por agir, não no sentido da cruzada utópica, mas com objectivos práticos de natureza geo-política, aliados a uma questão moral. Confesso-lhe uma convicção e um ‘wishful thinking’: esta intervenção pode dar origem a outras «reformas», incluindo a resolução do problema israelo-palestiniano. Mas sobre a guerra em curso leia os meu próximos ‘posts’. Obrigado pelo seu comentário.