HITLER E O TRATADO DE VERSALHES
Vem esta reflexão a propósito de uma conversa, há uns tempos atrás, com os meus amigos Maradona e JMF, na qual ambos defendiam a seguinte tese: foi por causa do Tratado de Versalhes que surgiu o fenómeno Hitler e a 2ª Guerra Mundial.
Em Junho de 1919, enquanto se davam por concluídos os trabalhos que deram origem ao tratado de Versalhes, um jovem chamado Adolfo Hitler recebia, em Munique, aulas sobre as glórias e feitos do povo alemão, e o carácter demoníaco do «capital» internacional, predominantemente nas mãos dos judeus. Muito provavelmente, para não dizer com toda a certeza, o jovem Adolfo terá sorvido Fichte, como quem sorve um batido de morango. Sobretudo o que Fichte escreveu durante a última fase das guerras napoleónicas, onde proclamava a supremacia intelectual e moral do povo alemão. Segundo Fichte, um povo escolhido pela Natureza, constituído por homens jovens, vigorosos, fortes e com um desígnio pela frente: a instituição de um Estado que desse largas à grandiosidade do seu povo. O Estado de Fichte era um Estado totalitário e maximalista, embora não revolucionário. O jovem Adolfo terá, também, lido Hegel, o qual, não sendo um teórico da raça e da Nação superiores, acreditava na existência de uma nação de consequências histórico-mundiais em cada época. Hitler terá assimilado todas essas doutrinas relativas à mais alta instância criada pelo homem, na forma como o Estado deveria ter absoluta autonomia no exercício do direito de procurar alcançar os seus objectivos, em nome do povo. Se necessário pela guerra (um pontapé na ideia de «paz perpétua» de Kant).
Há muita gente a defender que a 2ª Guerra Mundial foi consequência da «humilhação» do povo alemão, e das «injustiças» a que foi sujeito via Tratado de Versalhes. O próprio The Economist (revista muito cá de casa), numa edição dedicada ao segundo milénio, fazia referência ao “final crime” perpetrado pelo Tratado de Versalhes. Esta versão dos factos, compre-a quem quiser. Prefiro outra: o Tratado de Versalhes não passou de um utilíssimo bode-expiatório e de uma simpática figura de retórica para os objectivos de Hitler. Culpar o Tratado por ‘dá cá aquela palha’ é fácil e dispensa grandes raciocínios. Culpar o Tratado pela 2ª Guerra Mundial, é deitar no lixo os inúmeros esforços diplomáticos, políticos e militares levados a cabo entre 1919 e 1939. O mundo não parou depois de 1919 e muito menos a tentativa de manutenção de uma ordem mundial minimamente aceitável, embora precária e imperfeita (como qualquer «ordem» mundial). Basta ler a incontornável obra “The Origins of the Second World War” de A. J. P. Taylor, para perceber que há outras explicações, bem mais plausíveis, para o que sucedeu. A verdade é que, ao contrário do que se pensa, talvez tudo tivesse sido diferente se a Alemanha tivesse sido real e objectivamente derrotada e desarmada – coisa que o não foi. Ou se os EUA não tivessem retomado a sua trajectória isolacionista, após a 1ª Guerra Mundial. Ou, ainda, se a frança e a Grã-Bretanha não tivessem ficado tão depauperadas. Mesmo que à Alemanha tivessem sido devolvidas as suas velhas fronteiras, mesmo que se tivesse facilitado ainda mais o seu rearmamento ou permitido a ligação à Áustria, Hitler teria seguido o seu sonho, a «sua luta», o seu instinto: a proclamação prática, espacial e económica da superioridade do povo alemão, e a escravidão da restante ralé.
Desculpem a divagação.
Vem esta reflexão a propósito de uma conversa, há uns tempos atrás, com os meus amigos Maradona e JMF, na qual ambos defendiam a seguinte tese: foi por causa do Tratado de Versalhes que surgiu o fenómeno Hitler e a 2ª Guerra Mundial.
Em Junho de 1919, enquanto se davam por concluídos os trabalhos que deram origem ao tratado de Versalhes, um jovem chamado Adolfo Hitler recebia, em Munique, aulas sobre as glórias e feitos do povo alemão, e o carácter demoníaco do «capital» internacional, predominantemente nas mãos dos judeus. Muito provavelmente, para não dizer com toda a certeza, o jovem Adolfo terá sorvido Fichte, como quem sorve um batido de morango. Sobretudo o que Fichte escreveu durante a última fase das guerras napoleónicas, onde proclamava a supremacia intelectual e moral do povo alemão. Segundo Fichte, um povo escolhido pela Natureza, constituído por homens jovens, vigorosos, fortes e com um desígnio pela frente: a instituição de um Estado que desse largas à grandiosidade do seu povo. O Estado de Fichte era um Estado totalitário e maximalista, embora não revolucionário. O jovem Adolfo terá, também, lido Hegel, o qual, não sendo um teórico da raça e da Nação superiores, acreditava na existência de uma nação de consequências histórico-mundiais em cada época. Hitler terá assimilado todas essas doutrinas relativas à mais alta instância criada pelo homem, na forma como o Estado deveria ter absoluta autonomia no exercício do direito de procurar alcançar os seus objectivos, em nome do povo. Se necessário pela guerra (um pontapé na ideia de «paz perpétua» de Kant).
Há muita gente a defender que a 2ª Guerra Mundial foi consequência da «humilhação» do povo alemão, e das «injustiças» a que foi sujeito via Tratado de Versalhes. O próprio The Economist (revista muito cá de casa), numa edição dedicada ao segundo milénio, fazia referência ao “final crime” perpetrado pelo Tratado de Versalhes. Esta versão dos factos, compre-a quem quiser. Prefiro outra: o Tratado de Versalhes não passou de um utilíssimo bode-expiatório e de uma simpática figura de retórica para os objectivos de Hitler. Culpar o Tratado por ‘dá cá aquela palha’ é fácil e dispensa grandes raciocínios. Culpar o Tratado pela 2ª Guerra Mundial, é deitar no lixo os inúmeros esforços diplomáticos, políticos e militares levados a cabo entre 1919 e 1939. O mundo não parou depois de 1919 e muito menos a tentativa de manutenção de uma ordem mundial minimamente aceitável, embora precária e imperfeita (como qualquer «ordem» mundial). Basta ler a incontornável obra “The Origins of the Second World War” de A. J. P. Taylor, para perceber que há outras explicações, bem mais plausíveis, para o que sucedeu. A verdade é que, ao contrário do que se pensa, talvez tudo tivesse sido diferente se a Alemanha tivesse sido real e objectivamente derrotada e desarmada – coisa que o não foi. Ou se os EUA não tivessem retomado a sua trajectória isolacionista, após a 1ª Guerra Mundial. Ou, ainda, se a frança e a Grã-Bretanha não tivessem ficado tão depauperadas. Mesmo que à Alemanha tivessem sido devolvidas as suas velhas fronteiras, mesmo que se tivesse facilitado ainda mais o seu rearmamento ou permitido a ligação à Áustria, Hitler teria seguido o seu sonho, a «sua luta», o seu instinto: a proclamação prática, espacial e económica da superioridade do povo alemão, e a escravidão da restante ralé.
Desculpem a divagação.
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