O MacGuffin

domingo, abril 06, 2003

PDL by PTA

Acabei de ver Punch-Drunk Love (“Embriagado de Amor”). Ainda levito. Paul Thomas Anderson volta a encantar. Adam Sandler (uma surpresa), Emily Watson (um doce), Luis Guzmán (impecável secundário, como sempre) e Philip Seymour Hoffman (grande, grande actor) dão corpo a um filme que faz vénia à beleza, ingenuidade, simplicidade e, até, porque não dizê-lo, idiotice do amor.
Punch-Drunk Love relata a história de Barry, um neurótico com ares de palhaço autista, que passou boa parte da sua vida sob o domínio do colo maternal de sete mulheres (irmãs) que o «esmagaram». Barry encontra-se num vazio existencial, num buraco negro. É o infeliz proprietário de um negócio indefinido e difuso, num qualquer armazém de uma qualquer zona industrial de LA. Invariavelmente, continua a ser bombardeado pelos telefonemas das «manas». Começa a perder o tacto e o sentido do que anda a fazer. A deriva a que chegou leva-o a fixar-se em pormenores como um suposto erro de marketing, na campanha de uma marca de produtos alimentares. De forma patética, Barry sonha em aproveitar o «bug» da campanha (a qual oferece viagens em troca de pontos) para «fugir» dali. É então que conhece Lena. E, com ela, o amor. Barry mergulha nesse amor (correspondido por Lena), como se essa entrega o libertasse de uma existência monocórdica e estupidificante. Existe ali muito amor para dar, como se ambos tivessem acabado embriagados por terem retido, durante muito tempo, essa necessidade de amar e ser amado.
Pelo meio, PTA volta à temática do sexo/pornografia, com a cena do telefonema erótico – acto que viria a despoletar problemas para Barry com o gang das chamadas eróticas, figurativo para uma má consciência, fruto de uma sexualidade reprimida (“querias ser perverso e não pagar?” pergunta-lhe a personagem de Hoffman, que Barry mais tarde domina quando a enfrenta, olhos nos olhos. Ao que Hoffman responde: “That’s it”, “deixo-te em paz”.).
O filme é pontuado por cenas hilariantes, bizarras, indizíveis. A intrusão da música e dos sons na mise en scène é sublime, na criação de ambientes provocadores de micro-palpitações.
Um filme simples, mas eficaz. Despretensioso, mas seguro. Uma espécie de sonho filmado, com a marca indelével de PTA.

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