O MacGuffin: setembro 2003

sábado, setembro 27, 2003

CONSTANÇA? SIM!
Esta rapaziada tem razão: a Constança Cunha e Sá está em excelente forma. A sua última crónica é um portento. Aqui fica um excerto:

"O Expresso é, hoje em dia, o melhor retrato do país que temos. Se aquele monte de papel é o nosso grande jornal de referência, então não há razão nenhuma para não estarmos na tal cauda da Europa donde todos os governos nos querem tirar."

PS: o link para o Independente é este. Infelizmente, ainda não estão disponíveis as crónicas de opinião.
O REGRESSO
Mais esperado. Pedro Lomba. O próprio.

Obrigado, Pedro.

sexta-feira, setembro 26, 2003

ÚLTIMOS DESENVOLVIMENTOS (eu sempre sonhei escrever isto)
No Público: "O Tribunal Constitucional deu razão aos advogados de Paulo Pedroso, que contestaram a decisão do Tribunal da Relação de Lisboa de não ter sequer apreciado o seu recurso contra a prisão preventiva do ex-ministro do PS, decretada pelo juiz Rui Teixeira.
A defesa de Paulo Pedroso tinha recorrido para o Tribunal da Relação de Lisboa depois de o juiz Rui Teixeira ter rejeitado a sua argumentação contra a medida de coacção aplicada ao ex-porta-voz do PS, a prisão preventiva. Mas este recurso chegou à Relação depois de o mesmo juiz ter antecipado a sua decisão de renovar a medida de prisão preventiva, o que levou o TRL a nem sequer apreciar o recurso.
Agora, segundo avança a SIC, o Tribunal Constitucional vem dizer que "foi violado um direito constitucional do arguido" e dá razão aos advogados de Paulo Pedroso."

Cá está: os juizes também erram. E as regras do «jogo» permitem que se repare o que foi erradamente decidido. O TC contradisse uma decisão do Juiz, a qual, por sua vez, tinha conduzido a que o TRL não se tivesse pronunciado sobre o pedido de recurso. Fair enough. Agora, não venham escrever, como eu já vi escrito, algures, que esta foi uma «derrota» para o Juiz. E espero que, esta decisão, não sirva de élan para se voltar a colocar em causa a credibilidade e imparcialidade do Juiz Rui Teixeira. Lembrem-se: a presunção da inocência dos arguidos deve ser acompanhada da presunção de competência e seriedade dos Juizes.

quinta-feira, setembro 25, 2003

TEMOS HOMEM!
Verifiquei ontem que existe mais um candidato à presidência do Benfica. Pelo que vi, julgo estarmos na presença de uma mistura bastante aceitável de Tom Jones, príncipe Vlad e Dom Corleone.
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NÃO, AGORA A SÉRIO
Estive esta noite na companhia deste disco. E cheguei a esta conclusão: uma discoteca sem esta obra não é digna desse nome.

NÃO ESTOU SOZINHO
Quando o fui ver ao cinema, sai de lá a levitar. Durante vários dias, telefonei aos meus amigos, gritando: "vão ver a porra do filme!". Escrevi, no Contra, sobre o dito. Contudo, com o passar dos dias, constatei: o filme tinha passado estupidamente despercebido.
Verifico, agora, que este excelente ser humano acompanha-me na devoção. "Punch-Drunk Love" é um portento.
PTA vintage.


O DOWN DO UP
Adoro quando os meus colegas economistas afirmam estas preciosidades: "o terceiro trimeste registou um crescimento negativo..."

quarta-feira, setembro 24, 2003

MAIS CORREIO
O meu amigo Metropolis escreveu-me:
”Os portugueses parecem ter encontrado no juiz Rui Teixeira um novo herói nacional. Nem o Contra-a-Corrente, um dos blogues mais interessantes e apetecíveis da Internet, escapa à moda: é o que se conclui da leitura de alguns dos teus posts mais recentes. Creio todavia que não tens razão nenhuma e basta referir aqui três razões para tanto. Primeiro, porque para ti, como para muitas pessoas, tudo o que provenha da boca de um qualquer becado é coisa sagrada e indiscutível, tal como o são as palavras do senhor padre cura para as beatas da província. Segundo, a ocultação pelo juiz das razões concretas de prisões que já se prolongam por mais de sete meses (!): seria interessante que explicasses como é que um presumível inocente pode exercer o seu direito de defesa quando nem sequer conhece os factos concretos (onde, como e quando) por que é acusado. Terceiro, a forma alarve, fraudulenta e injustificável como o magistrado privou o arguido Paulo Pedroso do seu direito fundamental de recurso, o que aliás já foi severamente criticado pelos nossos juristas mais autorizados! Por tudo isto, conclui-se que a actuação de Rui Teixeira tem sido tudo menos séria, rigorosa e imparcial. Manuel Alegre limitou-se (e muito bem!) a defender o seu amigo Paulo Pedroso e a criticar livremente um sistema judicial que é, neste campo, o menos transparente e democrático da União Europeia. As comparações com o fascismo não são levianas: basta referir que no Estado Novo a prisão preventiva sem acusação não podia exceder os 6 meses, enquanto que hoje, em plena democracia, pode atingir os 12 meses! Para mais desenvolvimentos, podes ler o meu longo e fastidioso texto 'Uma Casa pouco Pia e uma Justiça nada digna' no Fórum do Pastilhas.”

Caro Metropolis: há que desfazer alguns equívocos. Em primeiro lugar, eu nunca disse ou sugeri que tudo o que provém da boca de um magistrado é sagrado. Desde logo porque, da boca do Juiz Teixeira, ainda nada ouvi. Esqueces que o Juiz Teixeira não pode vir a terreiro defender a «sua dama» (ou seja, contestar as insinuações, boatos e incorrecções que por aí se vão proferindo), com a facilidade, leviandade e, por vezes, demagogia com quem outros «actores» deste processo o fazem. O Juiz Rui Teixeira não tem a faculdade de praticar algum do jogo «sujo» que se pratica, hoje em dia, nos media – arremessando bocas, denegrindo A ou B, despertando fantasmas, levantando poeira ou alimentando as eternas teorias da conspiração. Da mesma forma que devemos presumir a inocência dos arguidos, até trânsito em julgado, devemos, por uma questão de equidade e honestidade intelectual, presumir a competência, imparcialidade e seriedade do trabalho dos magistrados desta nação. Mesmo sabendo que eles são humanos, logo falíveis, etc. etc.
A questão é simples: porque razão devo desconfiar das razões que levaram o juiz a recusar o recurso a Paulo Pedroso se, o juiz, tem, supostamente (e quero admitir que sim) na sua posse, informação privilegiada e bem mais detalhada (do que eu, tu ou o comum dos mortais sonha ter), susceptível de sustentar a sua decisão? Podes dizer-me: mas os juizes erram. Pois erram. Também os advogados de defesa, o MP, os jornalistas, etc. etc. Quando afirmas, de forma tão peremptória e segura, que ” a actuação de Rui Teixeira tem sido tudo menos séria, rigorosa e imparcial”, baseias-te no quê? No facto de ter recusado o recurso a Paulo Pedroso? Não achas... insuficiente? Não achas que a forma como fazes tabula rasa do trabalho deste juiz (que não deve ser propriamente leve e fácil) é, também, uma posição parcial e pouco rigorosa?
Dizes, ainda, que Manuel Alegre se limitou a defender o seu amigo Paulo Pedroso. De acordo. Eu também gosto de defender os meus amigos. Mas, caso tivesse um amigo nessas condições, devo dizer-te que separaria as esferas. Publicamente, teria cuidado com as minhas declarações. Não por cobardia ou medo. Mas por prudência, respeito pela justiça ou simplesmente pudor.
Mesmo supondo que o Dr. Paulo Pedroso é inocente e que, como tal, sairá em liberdade; mesmo que se venha a reconhecer que Paulo Pedroso esteve injustamente preso; mesmo assim, eu digo: nada justifica o tipo de afirmações que Manuel Alegre proferiu. Vindas de uma pessoa com a notoriedade de Alegre, elas são irresponsáveis, injustas e injuriosas para com a democracia e o Estado de Direito português.
Existe uma salutar inquietação e uma crítica aceitável face ao estado da justiça em Portugal – no que respeita, por exemplo, à sua morosidade, à orgânica dos tribunais e, até, ao excesso de prisão perventiva. Mas essa é uma postura diametralmente oposta àquela a que, de tempos a tempos, temos assistido por parte de pessoas ligadas ao PS (e não só), as quais, perante a mediatização e o impacto deste caso, e algum desnorte causado pela proximidade que têm com as pessoas envolvidas, ousaram pôr tudo em causa, como se o nosso sistema judicial fosse gerido e servido por incompentes, levianos e, nalguns casos, idiotas chapados. Acresce, ainda, a novíssima constatação: o sistema actual é mais perverso e imperfeito do que o do tempo da ditadura. Obviamente, não há paciência.
Por último, devo dizer-te que já ouvi da boca de estudiosos (daqueles que se dedicam, há anos, a estudar comparativamente os diversos sistemas legais dos mais avançados países) este diagnóstico: o Código do Processo Penal português é um dos melhores do mundo.
CORREIO
De Jorge Bento:
“Li hoje o seu post sobre o Zé Luis e só gostaria de comentar o seguinte. Copiando a histeria fundamentalista do mundo árabe, que pela proibição de criticar os seus governos, apenas lhe resta a saída de criticar e imputar ao inimigo externo a responsabilidade do inferno em que vive, também a esquerda - confundida com a sociedade aberta em que vivemos, em que o eleitorado já não se revê nas suas utopias - procura ganhar o alento perdido em torno de uma causa comum, inventando o fantasma do inimigo externo (o imperialismo americano, ou seja, o outro modelo que se impôs ao socialismo utópico pela “força da violência, da opressão e da guerra “, como o diz o seu amigo Zé Luis, que deixa no ar a ameaça “nunca se irá esquecer “…). Se um dia os Zés Luis chegarem ao poder, já sabemos o que nos espera: a reeducação socialista. Com amigos desses… talvez seja melhor procurar outras companhias.
PS: Haveria muito mais a dizer sobre esta esquerda, que se reinventa diariamente com as novas roupagens do “socialismo democrático” mas isso seria dar-lhes demasiada importância , aos Zés Luis Sepúlvedas que por aí andam.”


Caro Jorge Bento: como deve calcular, o Zé Luis é meu amigo. E, neste contexto, estou com Nelson Rodrigues: “Quando os amigos deixam de jantar com os amigos por causa da ideologia, é porque o país está maduro para a carnificina”. Há um oceano de ideias (políticas) a separar-nos. Mas uma grande amizade a unir-nos (e gostos estéticos muito parecidos). O Zé Luis sempre respeitou a minhas ideias e eu as dele. Por isso nos damos bem, apesar das já famosas discussões.
O Zé Luis é uma pessoa inteligente. Só lamento que, de tempos a tempos, a sua retórica resvale para a pior esquerdite: a dos slogans maniqueístas, repletos de bons e maus.
Quanto à sua carta, subscrevo-a. Até porque o Zé Luis tem de levar na orelhas, de quando em vez. Como eu, aliás.
NÃO HÁ DIREITO!
Um dia, um gajo decidiu criar um blogue, anunciando, para o efeito, como principal fonte de inspiração: a verve, o humor, a coragem, a veia do grande Nelson Rodrigues. É o mesmo gajo que, de há cinco anos (altura em que o descobriu) a esta parte, vai lendo e relendo a quase totalidade da obra do Nelson Rodrigues, como se de uma obsessão se tratasse. No tal blogue, foram inúmeras as vezes em que transcreveu passagens dos livros de Nelson. Chegou mesmo a publicar, na íntegra, uma das suas crónicas, num longuíssimo 'post' em que saiu em defesa do Pedro Lomba e do Pedro Mexia (do tragicamente extinto Coluna Infame), criticando o genial Ricardo de Araújo Pereira. Escreveu sobre a vida e obra do dramaturgo/escritor/jornalista brasileiro, mais do que uma vez. Agora, este desgraçado diz que lançou o nome do Nelson Rodrigues na blogosfera, nem sequer fazendo uma referência ao blogue do gajo?!

Snif... :-))

terça-feira, setembro 23, 2003

HUMOR@UK
Ainda a propósito de uma 'posta' da Charlotte, seria imperdoável não referir os Monty Python e a série Jeeves & Wooster, adaptação pela BBC das aventuras de Bertie Wooster e Jeeves escrita por P. G. Wodehouse.
Quanto à melhor série do Blackadder, escolheria a IV (Blackadder Goes Forth). Por ordem decrescente: IV, II e III (ex aequo), I.

Em suma, eis o top-6 (a ordem é aleatória):

Blackadder
Fawlty Towers
Keeping Up Appearances
The Fast Show
Monty Python's Flying Circus
Absolutely Fabulous

PS: e o Yes, Minister!!
BRIGHT YOUNG THINGS
O homem que já foi Oscar Wilde no cinema, o Melchett de Blackadder, o Jeeves da memorável série Jeeves & Wooster (P. G. Wodehouse justamente dignificado), o grande Stephen Fry estreia-se na realização com o filme Bright Young Things - adaptação para cinema do livro Vile Bodies de Evelyn Waugh. Com estas referências, é estar atento a um cinema perto de si. A estreia está prevista para 3 de Outubro.

DO MEU AMIGO JOSÉ LUIS...
Recebi uma carta a propósito do Luis Sepúlveda (a respeito do Chile de Allende vs Pinochet). E, também, sobre a cineasta Leni Riefenstahl. Tratei de entremear no texto os meus comentários:

”Com muita pena minha, não tenho tido tempo para acompanhar todos os temas discutidos no teu blog, ultimamente. Contudo, tendo efectuado por lá uma visitinha, não posso deixar de dar uma palavrinha acerca de duas personalidades focadas, que embora aparentemente não tenham nada que ver uma com a outra, numa observação mais cuidada representam duas faces da mesma moeda, a moeda do comprometimento político. Falo de Luís Sepúlveda e Leni Riefenstahl.
Quanto a Luís Sepúlveda tive o prazer de o ver no nosso Garcia de Resende, na passada segunda feira, e devo dizer-te que não me pareceu tão radical como tu julgas, como eu esperava e por ventura, como a evocação do 11 de Setembro o justificava.”

Caro Zé Luis: tive pena de não ter podido assistir ao «encontro». Tinha duas questões preparadas para colocar a Sepúlveda, as quais certamente contrastariam com o ambiente que, neste tipo de eventos nitidamente politizados, é proporcionado (descambando em comícios acríticos). Sobre o encontro com o escritor/activista político, colhi, apenas, ecos avulsos, agora confirmados pelo teu texto.

”Ouvi-o, a uma interpelação do auditório, dizer-se chocado com as condenações à morte ordenadas por Fidel Castro em Cuba, que o regime cubano fracassou no seu objectivo de edificar o socialismo, ouvi-o dizer que a União Soviética nunca foi o “seu” modelo, que a governação de Allende procurava seguir o modelo social da Europa nórdica e ainda que a figura de Pinochet lhe inspirava um sentimento de piedade, estando disponível para tudo perdoar caso houvesse um assumir de culpa da parte dos responsáveis pelo bárbaro regime que durante mais de 15 anos raptou, torturou, violou e assassinou milhares e milhares de chilenos.
Facto: em 1967 o partido de Allende emitiu o seguinte comunicado: "O Partido Socialista como uma organização Marxista-Leninista propõe a tomada do poder como objetivo estratégico a ser conquistado por esta geração, para estabelecer um estado revolucionário que irá libertar o Chile da dependência económica e cultural e iniciar o processo do socialismo. Violência revolucionária será inevitável e legítima. Constitui o único caminho para se chegar ao poder político e económico. A revolução socialista poderá ser consolidada apenas destruindo-se as estruturas burocráticas e militares do estado burguês."
Facto: em 1971, numa entrevista, Allende declarou: “nós precisamos expropriar os meios de produção que ainda estão em mãos privadas (...). O nosso objectivo é o socialismo marxista total e científico".
Facto: das 2.279 mortes constatadas durante os 17 anos do regime Pinochet (por mim inequívoca e peremptoriamente condenáveis), aproximadamente metade ocorreu logo após o golpe de 11 de setembro de 1973, a que não será alheio o facto de se ter vivido uma guerra civil e não uma onda indiscriminada de execuções sumárias.

”É certo que disse, e bem, que Pinochet foi repatriado não pelo seu peso político actual mas para evitar o julgamento da política externa americana, mas não o ouvi dizer, e podia ter dito, que os principais responsáveis pela manutenção desse regime foram , não só Nixon e Kissinger (que o idealizaram e isso é dos livros de história), mas também Reagan (já tem o castigo que merece...) e Thatcher ( figura vergonhosamente branqueada pela “história” e que ainda não teve o castigo que merecia...), que ao longo da década de oitenta, numa postura cega, fanática e irresponsável que lamentavelmente fez escola no mundo anglo-saxónico e da qual ainda hoje sofremos dramáticas consequências, foram armando militar e economicamente o sinistro general.
Se colocar no mesmo saco Thatcher, Reagan, Nixon e Pinochet (os bad boys), evocando iguais «castigos», não é maniqueísmo, vou ali e já venho...

”Quanto ao período em que Allende governou, ele também não disse e também poderia ter dito que o que então aconteceu foi, salvaguardando as distâncias, aquilo que tem acontecido com Hugo Chavez na Venezuela, que aconteceria em Portugal se por exemplo Carlos Carvalhas ganhasse umas eleições, e que espero não venha a acontecer no Brasil onde Lula as ganhou, ou seja, uma gigantesca ofensiva do grande capital e da comunicação social ( uma das suas faces) ferreamente unidos e aliados a todos os grandes e pequenos exploradores que rebuscando todas as suas forças nacionais e internacionais (essa gente não brinca em serviço) tudo fez para boicotar e sabotar a economia, gerando uma instabilidade constante que pudesse preparar o terreno para aquilo que veio a suceder, cativando simultaneamente alguns ingénuos apoiantes sedentos de ordem e estabilidade mesmo que conseguida com muitos litros de sangue.”
Facto: Em Janeiro de 1972, o Congresso aprovou democraticamente o impeachment do ministro do Interior, por falhar na protecção dos direitos à propriedade e à liberdade de expressão. Allende nomeou-o, de seguida, para Ministro de Defesa. Em Julho do mesmo ano, o novo ministro de Interior sofreu novo impeachment, tendo sido apontado por Allende para um alto cargo administrativo. Em Dezembro, o Ministro de Finanças também sofreu um impeachment por acções ilegais contra trabalhadores em greve, mas foi transformado em ministro da Economia. O desrespeito de Allende pelas regras do jogo, pela Constituição e pelo Congresso foi regular.
Facto: Em Julho de 1971, a Direcção Geral de Carabineiros apresentou um relatório ao Senado, dando a conhecer a ocupação ilegal de 339 indústrias, 658 herdades, 218 terrenos urbanos e 145 estabelecimentos educacionais, por parte dos extremistas. Acções que obtiveram da parte do governo de Allende uma anuência tácita (o sobrinho de Allende, Andres Pascal Allende, era um dos líderes do MIR).
Facto: registaram-se centenas de mortes durante o período de terror, ocorrido no mandato de Allende. Lembro as palavras de Baltazar Castro, socialista, escritor e apoiante de Allende, cuja propriedade foi atacada pelos extremistas: "O Chile foi destruído pela venalidade e mediocridade de Allende e seus colaboradores".

”Não percebo portanto porque é que Luís Sepúlveda tem sido alvo de tanta discussão.
Quanto aos onzes de setembro, o de 2001 sendo pretexto para duas guerras onde terão morrido muito mais seres humanos do que naquilo que as causou, acabou por ser tão trágico como o anterior. Curioso é que se somarmos as vítimas...

Lá está a habitual e atroz contabilidade dos mortos, tão ao jeito do relativismo e das comparações do que não se pode comparar...

...a esmagadora maioria do número de mortos de um e de outro processo teve a patrociná-la a mesma e já habitual bandeira. (a propósito, o Afeganistão continua sem electricidade, água potável e a produção de ópio triplicou desde que os EUA o invadiram, palavras do insuspeito “primeiro ministro” das forças de ocupação em entrevista ao insuspeito “Time”, reproduzida pela “Visão”).
A este propósito eu nunca me irei esquecer, no meu dia a dia, de quem no nosso país neste período da história esteve e está ao lado da violência, da opressão e da guerra (Durão Barroso, Paulo Portas, Luís Delgado, José Manuel Fernandes, José António Saraiva, Henrique Monteiro, António Ribeiro Ferreira, Pacheco Pereira e Inês Serra Lopes).

Tudo carniceiros, gente hedionda, ao serviço do capital e dos grandes interesses...

”Já agora uma pergunta: Qual foi na história universal a última guerra que não teve a participação directa ou indirecta de Americanos ou Judeus? Eu sinceramente de momento não me lembro...
Meu caro Zé Luis: o teu anti-semitismo é notório e já longo...

”Passando à cineasta alemã devo dizer que ao contrário do que frequentemente acontece contigo (Sepúlveda não será um bom exemplo, mas lembro-me de Saramago ou de Brecht...), consigo distinguir perfeitamente estética e política.
Leni Riefenstahl fez dois filmes esteticamente extraordinários, “O triunfo da vontade” e “Olimpia” que não fosse a causa que serviram seriam hoje considerados marcos na história da cinematografia mundial e mais um motivo de orgulho para a nossa Europa.
Provavelmente o que tinha de talento faltou-lhe em clarividência política para evitar que a sua figura ficasse ligada ao que ficou, mas não deve nem pode ser crucificada por isso. Quanto a mim quando se fala de Leni, não imagino à minha frente suásticas mas sim as maravilhosas imagens com que filmou, por exemplo, a maratona dos jogos olimpicos de Berlim em 1936, numa das mais belas sequências da história do cinema.
Não esquecer que Wagner foi, embora morto, também utilizado abusivamente pela propaganda nazi a propósito das suas opiniões acerca dos judeus (as quais eu até seria capaz de subscrever), e confundir a beleza de Parsifal, Lohengrin ou Tannhauser com a violência das SS ou os horrores de Auschwitz e Bierkenau (que por acaso já tive oportunidade de visitar) parece-me um completo absurdo.”


E pronto. Manda mais, Zé Luis.

domingo, setembro 21, 2003

AMO-A
Diz a Charlotte:
"Ontem comprei as séries 3 e 4 em DVD do Blackadder. O episódio em que Blackadder perde o manuscrito do Dicionário da Língua Inglesa, de Samuel Johnson, e que depois o rescreve numa noite é de génio. Blackadder é a minha série de humor favorita. Logo a seguir vem Fawlty Towers. Depois a série Fast Show e depois Absolutely Fabulous. E o que é que estes meus gostos dizem de mim?"

Assim de repente, dizem-me que a menina tem sentido de humor. E muuuuito bom gosto. Eu juntava-lhe outra: "Keeping Up Appearances". Para falarmos só nas inglesas...
A NATUREZA HUMANA
O meu amigo Hugo, criador de um dos mais bonitos espaços da blogosfera, escreveu-me, a propósito da minha 'posta' sobre as "Diferenças":
"Coincidências: andava eu, de há dois ou três dias para cá, a pensar nesse post do Mexia e na questão do pessimismo antropológico, e a esperar que alguém desenvolvesse o tema, que entendo ser fundamental para a definição política - e moral - das pessoas, quando, no "Contra a Corrente" leio o teu post "Diferenças", onde te debruças sobre o assunto, expondo muitíssimo bem a ideia da presença do mal na natureza humana. Mas se eu te perguntar "Achas, portanto, que a maldade é uma característica biológica, inata?", o que é que respondes? Afirmaste, claro, que "esta é uma característica intrínseca em todo o ser humano", pelo que depreendo que a resposta será "sim"; mas o mal (e o bem) não serão antes uma construção cultural? Não me parece que haja nem bondade nem maldade na natureza; a natureza existe, sobrevive e desenvolve-se sem consciência; a natureza não tem concepções morais. Ou estarei enganado?"

Meu caro Hugo, let me put it this way: mas nós não somos alfaces...
E mais não digo. Um abraço Hugo.
PARA A S.

O DESEJO
Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis no céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.

Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.

HERBERTO HELDER

sábado, setembro 20, 2003

DANIEL SAMPAIO EM TERRENOS APERTADOS
Daniel Sampaio, psicólogo, homem de esquerda, disserta sobre a Esquerda e a Direita em artigo na revista Xis (Público).
Diz Sampaio:
"Na educação, a direita estará sempre a falar da autoridade do professor e das medidas de controlo disciplinar, enquanto a esquerda acreditirá sempre na relação professor-aluno e na construção de um sentido para o trabalho escolar.
Na toxicodependência, a direita defenderá o internamento compulsivo dos «drogados» (como diz em surdina), enquanto a esquerda defenderá a metadona e as outras políticas de redução de riscos.
É por isso que chegámos à grande clivagem actual entre esquerda e direita: os direitos humanos. E assim a esquerda nunca poderá esquecer os presos, os toxicodependentes, os sem-abrigo, as vítimas de abuso sexual. Promoverá cada vez mais políticas de solidariedade social, que se traduzam numa efectiva diminuição da pobreza e da exclusão.
Estará atenta aos problemas das minorias sexuais. Elegerá, em definitivo e com prioridade, a melhoria da saúde e da educação."


Alguém tem paciência para dissecar este role de preconceitos esquerdistas, sob a capa de certezas absolutas aliadas à presunção? Eu não. Apenas digo: de uma vez por todas, seria bom que a esquerda pensasse que não é a proprietária da patente da justiça social, da bondade e das boas intenções. A esquerda não tem a exclusividade da sensibilidade e do altruismo. A esquerda não é a campeã dos direitos humanos e na luta contra a pobreza. Ao contrário e contra a direita - que continua a ser retratada como fria, insensível, egoista, comodista e pérfida. Quando é que a esquerda perderá a sua patética presunção? Receio que nunca...
AVISO
Novos discos de:
RUFUS WAINWRIGHT


DAVID SYLVIAN
SHARON VS ARAFAT
GRANDE ALBERTO
Alberto Gonçalves: a razão porque passei a comprar o Correio da Manhã, todas as sextas-feiras. Eis um excerto da última crónica:
"Certa esquerda aproveitou o segundo aniversário do 11 de Setembro para evocar o trigésimo aniversário de outro 11 de Setembro, o do golpe de Estado no Chile. É louvável o esforço de memória, que permitiu recuperar a ascensão de uma ditadura sangrenta terminada há anos, sobretudo vindo de quem, persistentemente, se esquece de lembrar outra ditadura, igualmente latina, muito mais sangrenta e ainda em franco exercício.
A comparação não será excessiva. Este mês, a título de exemplo, Cuba produziu seis novos grevistas de fome (entre a próspera comunidade de prisioneiros políticos). Ontem, mereceu uma carta aberta de três ex-presidentes de países europeus ("Cuba Livre", divulgada cá pelo "Público"), que alertam o Velho Continente para a necessidade de agir de acordo com os seus autoproclamados valores. Talvez, afirmam, a "liberdade" e os "direitos humanos" devam ser menos um ornamento de discursos ocos e mais um factor de acção concreta. Neste capítulo, há poucos anos, Portugal foi pioneiro e o Porto viu remodelada boa parte da zona histórica para receber o Sr. Fidel. Mas não sei se é a acções destas que os três ex-presidentes se referem."
GRANDE HELENA
Saudades de Esquerda
Por HELENA MATOS
PÚBLICO, 20 de Setembro de 2003
"A frase começou a ser dita cada vez com mais frequência: "Dantes era bem melhor!" Depois, como se tal fosse a coisa mais natural do mundo, uma espécie de consequência inevitável do confronto com o presente, começaram a deixar cair: "Isto é pior que o fascismo!" Em seguida entraram no processo de reabilitação da ditadura. Mas este "remake" do "Ó tempo volta para trás, dá-me tudo o que perdi" não é entoado por vozes como Kaúlza de Arriaga ou Rosa Casaco. Nada disso! É a esquerda, gente que sempre fez profissão de fé de antifascismo, alguns deles perseguidos pela PIDE, quem agora produz este nostálgico discurso. O próprio Manuel Alegre veio recentemente legitimar esta recuperação da ditadura declarando ao PÚBLICO: "Vivemos num clima mais perverso do que aquele que vivemos na ditadura. É muito desagradável dizer isto, mas é mais perverso: porque, na ditadura, eu sabia quem era o inimigo, sabia os riscos que corria, e, quando era preso, sabia por que é que era. Era uma situação clara. Neste momento, é uma situação perversa."
Estas declarações de Manuel Alegre exprimem, por um lado, a extraordinária desorientação a que o PS chegou com o caso Pedroso e, por outro, são reveladoras da incapacidade de uma esquerda que se formou na oposição ao salazarismo de aceitar a realidade da democracia por que tanto lutou e as inevitáveis mudanças que o tempo acarreta.
Este tipo de discurso começou a fazer-se ouvir, primeiro, nos sectores derrotados no 25 de Novembro de 1975. Alguns pretendiam que a situação saída desse golpe reinstituíra no país algo semelhante ao que se vivia antes do 25 de Abril de 1974. Mas ficavam-se geralmente por umas frases de lirismo "kitsch" sobre essa data - o tempo em que os sonhos se desfizeram; o fim dos dias em que tudo era possível... De qualquer forma não diziam ainda que o fascismo tinha sido melhor. Não só se mantinha viva como até em muitos casos se exacerbava o que fora a resistência à ditadura e, por outro lado, a estratégia de comunicação da esquerda afecta ao PCP passava sobretudo por agitar o espantalho do retorno do fascismo a qualquer alteração legislativa. O PS, durante os governos de Cavaco Silva, também ocasionalmente invocou o regresso do fascismo mas apostou mais no denegrir do presente, o "cavaquistão".
Anos depois, um dos sinais óbvios de que o PS tinha perdido a dinâmica do poder e consequentemente a vontade de fazer o presente aconteceu durante a última campanha autárquica, quando João Soares escolheu, num total desacerto com o tempo e o lugar, o "slogan" "Fascismo nunca mais"! para ganhar a Câmara de Lisboa. E agora que não só está na oposição como a sofrer o imenso desgaste do caso Casa Pia, o PS irmanou-se aos saudosos do PREC e outros vencidos da vida e, todos a uma só voz, choram de saudades dos bons velhos tempos. Exactamente esses em que Portugal foi uma ditadura. Ter-se-ão tornado fascistas? De modo algum, mas têm saudades desse tempo em que dividiam o mundo em bons e maus. Sendo que eles eram sempre bons fizessem o que fizessem. Durante a ditadura, a censura e a própria repressão policial permitiram a muitos iludirem a sua mediocridade imaginando sucessos e reconhecimento público que efectivamente não mereciam. Por isso, quando chegou a democracia e já não tinham o censor a dar-lhes importância nem a polícia a impedir-lhes as actividades e ficaram sós perante o público, o povo e, sobretudo, perante si mesmos, começaram por amaldiçoar o mercado, a competitividade e a concorrência. Em seguida, fizeram discursos sobre esse tempo em que todos se conheciam. Em que havia valores e ideais. Em que se faziam espectáculos de qualidade...
Depois, face a um presente cuja mudança não acompanham, face à chegada de novas gerações de políticos, autores, jornalistas..., começaram a sentir saudades daquele lápis azul que lhes dava tanta importância. Daquele censor seu espectador, leitor, ouvinte... enfim seguidor atento. Daí a balbuciarem que queriam a sua ditadura de volta foi um passo.
É certo que as democracias são injustas. É certo que podem estar detidos inocentes. É certo que as novelas da TVI têm mais audiência que as séries da RTP2. Mas não há qualquer comparação entre democracia e ditadura. Estas últimas são naturalmente perversas. Porque conferem um ignominioso estatuto de excepcionalidade a quem as governa mas também a quem se lhes opõe. Todos nós ouvimos falar da farsa que foi o julgamento dos membros do regime no caso Ballet Rose. Mas a farsa não acabava aí. A farsa é a ilusão de normalidade numa ditadura. Para o ditador, para aqueles que o rodeiam e para os que se lhe opõem. Por exemplo, caso um qualquer dirigente da oposição, durante a ditadura, tivesse sido acusado de abuso sexual de menores nunca ninguém acreditaria porque se tratava duma invenção da PIDE. Caso durante a ditadura um qualquer oposicionista fosse acusado de ter desviado dinheiro, isso seria sempre uma calúnia. Caso durante a ditadura um militante comunista ou de extrema-esquerda fosse acusado de ter assassinado alguém que consideravam dissidente, traidor ou informador da polícia, restava sempre a possibilidade de ter sido a PIDE... Por isso têm saudades desse tempo em que, como nas histórias infantis, os maus eram sempre maus e os bons sempre bons. Têm saudades desse tempo em que eles que agora assim falam, artistas, profissionais liberais e jornalistas de oposição, se sentiam investidos duma superioridade quase aristocrática. Ridicularizavam os censores e desprezavam os polícias. E estes últimos sabiam bem que nos calabouços não se tratava da mesma forma um trabalhador rural ou um frequentador da Brasileira.
É desse mundo em que tudo era perversamente familiar, em que a cunha da União Nacional coexistia, do outro lado, com o apoio cego e incondicional a quem se declarasse correlegionário, é desse mundo em que cada um sabia que o seu estatuto não seria beliscado, antes reforçado pela outra parte, de que a esquerda hoje tem saudades. É desse mundo em que a vida de cada um era condicionada e julgada pelo que se dizia ser e não pelo que de facto se era e fazia que a esquerda quer de volta. Tudo isto é muito triste e não creio que a culpa seja do fado."

sexta-feira, setembro 19, 2003

HÁ MUITO QUE NÃO O DIGO
Mas este blogue foi, é e continuará a ser obrigatório para a boa manutenção do nosso equilibrio mental e emocional. Porque rir é o melhor remédio, marretada neles! Eles andem nai

quinta-feira, setembro 18, 2003

A SRA. DONA JUDITE
Estou a ver Judite de Sousa, na RTP. Está a entrevistar o Juiz Cardoso. Pergunta, ou afirma, a jornalista: "Mas os juizes podem errar! Espera-se que errem muito pouco. Mas eles podem errar. São seres humanos iguais aos outros! Não acha?". O Juiz Cardoso olha, de forma complacente, para a inquietação da senhora. Arrisco o que lhe vai na cabeça: "Ó minha senhora, isso é evidente! Mas será útil, razoável, justo, equilibrado insistir neste tipo de perguntas idiotas e inconsequentes, descredibilizando sub-repticiamente os juizes e pondo em causa o sistema judicial?!"
Minutos depois, o Juiz Cardoso afirma: "Pode haver situações em que os jornalistas são manipulados para veicular determinadas opiniões e posições que interessam a uma das partes." Incomodada, Judite pergunta "O Sr. Dr. acha que estamos a viver num momento destes? Olhe que o Sr. Dr. está a lançar uma suspeita enorme sobre a comunicação social!?" Ah! Quando toca a sua classe, já não se coloca a hipótese "os jornalistas podem errar, são feitos de carne e osso"...

À medida que a entrevista avança, confirmo o que já suspeitava: Judite de Sousa é uma jornalista medíocre e tendenciosa.
DIFERENÇAS
Pedro Mexia escrevia, há dias, sobre a(s) diferença(s) entre a esquerda e a direita, explicando porque razão não era «canhoto». ”Sempre soube que não era de esquerda e que era de direita por uma razão evidente: sou um pessimista antropológico, e sem alguma crença na «Humanidade» não é possível perfilhar ideias de esquerda.”
Relembro o que escreveu Jaime Nogueira Pinto: “o pessimismo antropológico tem que ser entendido como uma posição filosófica e como uma atitude histórica de partida, sempre superada e superável no caso concreto. Não sendo transformista, a direita acredita que as boas instituições melhoram a sociedade e os homens, embora não transformem a natureza humana”.(1)

Em sede de filosofia política, se me pedissem para enumerar a grande diferença entre a «esquerda» e a «direita» (latu sensu, para simplificar) - para além da já clássica diferença de ponderação atribuida à liberdade e à igualidade - não hesitaria em referir, à cabeça, um elemento que continua a marcar indelevelmente a discussão em torno dessa dicotomia, no que respeita à percepção da natureza humana. Refiro-me à "Fé Iluminista".
O lImunismo estabeleceu e consolidou a ideia de que o predomínio do mal, em determinada área ou contexto (que os conservadores apontam como consequência de acções humanas autónomas e conscientes) é sinónimo de inconsciência e não-autonomia moral. Na Fé Iluminista, as boas escolhas e as boas acções são moralmente interpretadas como uma evidência da autonomia moral e da racionalidade dos seus agentes - ao contrário das escolhas erradas e das acções negativas e malévolas. Se as pessoas causam o mal, a explicação é encontrada numa deficiente organização política, que as corrompeu e as deixou à deriva. Se as pessoas agem correctamente, a razão nas boas opções políticas e nas já referidas racionalidade e autonomia moral.

Tradicionalmente, a esquerda é optimista em relação à natureza humana, acreditando que os homens só não agirão correctamente se estiverem a ser alvo de uma nefasta influência ou ingerência externa, a qual, invariavelmente, lhes toldará a razão e os colocará numa situação de vazio moral (como se fossem forçados a agir irreflectidamente, contra a sua vontade). Ou seja, por culpa de circunstâncias externas, alheias às suas motivações e concepções, o homem pode perder a sua consciência e a capacidade para distinguir o bem do mal. É este, por exemplo, o raciocínio presente na interpretação, por parte da esquerda, do fenómeno do terrorismo (o terrorismo como consequência da injustiça e do sofrimento) e da globalização (como resultado de um neo-liberalismo selvagem e de uma dominação global de uma super-potência). Ou na concepção marxista que coloca a condição social das pessoas como o único factor de formação da consciência e da moralidade individuais.
Do outro lado, encontramos, por exemplo no conservadorismo, uma visão distinta que colide com a Fé Iluminista e as concepções rosseaunianas. Uma visão que recusa transferir para terceiros, de forma metódica e automática, a culpa de comportamentos desviantes, errados, malévolos.
Quando Theodore Dalrymple tenta explicar, com conhecimento de causa e de forma contundente, que na maioria dos casos é a consciência dos homens que determina e condiciona a sua condição social, estamos perante uma visão completamente oposta. Para a direita, a natureza humana não é única nem aprioristicamente benigna. A humanidade, como conceito sociológico, não existe. A humanidade é constituída por conjuntos e sub-conjuntos heterogéneos, nos quais as motivações e os objectivos de uns diferem dos de outros. Para a direita, é absolutamente claro que o homem tem autonomia moral para praticar o mal, i. e., de forma consciente e com um objectivo claro, racional, determinado. Por exemplo, os terroristas e as organizações que os suportam podem estar ao serviço dos seus interesses, os quais podem colidir de forma estrondosa com a tese de um hipotético ímpeto irreflectido e desesperado. Ou seja, a direita admite que pode haver autonomia e consciência moral no terrorismo. Quando a Al Qaeda decidiu estourar com as Twin Towers, massacrando milhares de pessoas, é imperativo perceber que esse acto pode não ter sido um acto de desespero, consequência da más condições de vida dos seus autores, ou como corolário de uma deformação moral (à luz da ocidental).

Muitas vezes, a diferença entre a esquerda e a direita encontra-se aí. A esquerda acreditará sempre na ideia de que, se as pessoas escolherem e agirem sem qualquer influência política errada; se não tiverem de enfrentar a pobreza, o crime, a discriminação e outras doenças sociais; se não forem ignorantes, preconceituosas, doentes da mente e do corpo; se não se encontrarem revoltadas perante a injustiça; se tiverem tempo para pensar em paz nas suas escolhas e nas suas acções - então aí elas optarão por fazer o bem, e não o mal.
Para a direita, isto é absolutamente ingénuo e inconclusivo. O «pessimismo antropológico», aliado a um apurado sentido da realidade (tantas vezes confundido com uma putativa defesa do status quo), conduz a que se observe a propensão humana para praticar o mal como uma característica permanente e indissociável da vida moral. Apesar de esta poder sofrer a influencia das disposições e da organização políticas (para o bem e para o mal), esta é uma característica intrínseca a todo o ser humano. As tais disposições e a tal organização política podem, na prática, alterar o nível de prevalência do mal. Mas nem mesmo as melhores políticas conseguem bani-lo.

(Num dos seus mais brilhantes textos, Dalrymple pega no exemplo neo-zelandês, que ele conhece bem: um altíssimo nível de vida, condições naturais e ambientais à beira da perfeição, um sistema de apoio social de luxo (o Estado Providência neo-zelandês é dos mais antigos do mundo), um sistema de ensino e um sistema judicial de fazer inveja. Reunidas estas condições - que fazem da sociedade neo-zelandesa uma sociedade próspera, democrática e igualitária - esperar-se-ia que, segundo a Fé Iluminista, a taxa de crimes e de violência fosse marginal, irrisória, ridícula. Mas isso não acontece. Em termos relativos, a Nova Zelândia apresentou, ao longo de todo o Sec. XX, taxas de crime iguais e por vezes superiores às da sua nação-mãe: a Grã Bretanha).

A direita, sendo pessimista, não rejeita a ideia de que se podem alcançar melhorias derivadas das boas opções e das melhores disposições políticas. A direita tem consciência de que a vida em sociedade pode melhorar. Mas tem também a noção do Iago, em Otelo: Men are men, the best sometimes forget. A organização e as escolhas políticas são feitas pelos mesmos homens. Não saem da esteira de sábios intocáveis, de autómatos perfeccionistas. A tal propensão intrínseca para o mal, para o erro, para a mediocridade - ao fim ao cabo a falibilidade humana - estão também presentes no legislador, no político, no burocrata e tecnocrata. Daí que a direita pessimista, pelo menos a mais conservadora, insista na defesa das instituições tradicionais (escrutinadas pelo tempo), no bom senso dos cépticos, no apuramento gradual das experiências adquiridas - ao invés de se concentrar numa busca incerta e difusa de modelos abrangentes, supostamente salvifícos, produto de mentes brilhantes ao serviço do bem comum.

(1) “A Direita e as Direitas”, Jaime Nogueira Pinto, Difel 1996
LEIAM
Excelente 'post' de Pedro Mexia, sobre a blogosfera, a ascensão e queda da Coluna Infame, a «direita» vs. a «esquerda». Uma coisa parece certa: teremos de estar realmente atentos ao que escreverá no Indy, na (nova) Grande Reportagem e no DN.
TALKING IN BED
Talking in bed ought to be easiest,
Lying together there goes back so far,
An emblem of two people being honest.

Yet more and more time passes silently.
Outside, the wind's incomplete unrest
Builds and disperses clouds about the sky,

And dark towns heap up on the horizon.
None of this cares for us. Nothing shows why
At this unique distance from isolation

It becomes still more difficult to find
Words at once true and kind,
Or not untrue and not unkind.

PHILIP LARKIN
in The Whitsun Weddings (1964)
ÉPI BARSEDEI TU IU
Parabéns à Charlotte
Nesta data querida
Muitas felicidades
Muitos anos de vida!

Toma lá uma prendinha:

quarta-feira, setembro 17, 2003

TRISTE ALEGRE
“Vivemos num clima mais perverso do que na ditadura.” É esta opinião do Sr. Manuel Alegre, em entrevista ao Público de 17 de Setembro.
Carlos Câmara Leme, jornalista do Público, começa por perguntar: “O clima Orweliano que o país vive – sobretudo para alguém que sofreu com a ditadura e é escritor – não é um excelente tema de ficção?” Assim, sem mais. Nem menos. Como se de um dado adquirido e insofismável se tratasse, o jornalista parte do princípio de que se vive num clima “Orweliano”. Um clima que, está bom de ver, só poderá ser vislumbrado por gente com um sentido apurado da vida – ou seja, por quem sofreu com a ditadura. Aliás, quem “sofreu com a ditadura” parece ter adquirido uma legitimidade para dizer as maiores barbaridades, sob a capa da putativa clarividência de quem “já viu tudo”. Manuel Alegre fala como se envergasse um «livre trânsito» para pôr em causa tudo o que até à data foi conquistado.
“Estamos a viver uma situação quase kafkiana”, afirma Alegre. Mais à frente, Carlos Câmara Leme volta a deixar a deixa (ele, que parece estar ao serviço do seu entrevistado), perguntando: “Não sente uma espécie de “melancolia democrática”, próxima da impotência?” Alegre responde: “De certo modo, sim. Vivemos num clima mais perverso do que aquele que vivemos na ditadura. É muito desagradável dizer isto, mas é mais perverso porque, na ditadura, eu sabia quem era o inimigo, sabia os riscos que corria, e, quando era preso, sabia por que é que era. Era uma situação clara. Neste momento é uma situação perversa.” (sic).
É muito desagradável dizer isto, mas o Sr. Manuel Alegre devia ter vergonha na cara. É revoltante ouvir um encartado anti-fascista dizer que “então é que era, agora é bem pior”. Desculpem o desabafo, mas das duas umas: ou o Sr. Manuel Alegre enlouqueceu, ou tornou-se num hipócrita irresponsável.
E qual a razão para esta inquietação? Nada mais, nada menos do que o processo Casa pia e, ‘en passant’, a «problemática» das escutas telefónicas. De forma despudorada, Alegre parece não hesitar em nos fazer crer que o actual sistema judicial não só não oferece garantias de imparcialidade e protecção aos cidadãos nele envolvidos como, bem pior, está ao serviço de «inimigos». Como em qualquer regime totalitário.
Que eu saiba ninguém foi torturado; ninguém foi preso por delito de opinião; todos os que foram detidos sabem porque lá estão (por muito que os seus advogados tentem lançar a suspeita de que nada sabem); a lei está a ser escrupulosamente cumprida; o MP, os magistrados e o sistema judicial português (há especialistas a colocá-lo entre os melhores do mundo) não são “inimigos” de ninguém, nem estão ao serviço de uns contra outros. Quem é Manuel Alegre?
No fundo, esta “melancolia democrática”, presente em Alegre e também em Soares, não é mais do que um sinal claro de que um certo modelo político e organizacional, idealizado algures após o 25 de Abril, tem os seus dias contados. Um modelo povoado de engajamentos, amigalhaços, influências certas, intocabilidades, secretismos e paninhos quentes.
Com todos os seus defeitos, eu tenho orgulho na democracia portuguesa. Vivo em liberdade. Construo a minha vida e faço as minhas opções sem pressões, constrangimentos ou censura. Seria incapaz de alinhavar comparações absurdas, estúpidas, potencialmente perigosas. Há quem tenha a nostalgia do antigamente. Há quem melancolicamente suspire pelos “amanhãs que cantam” - à direita e, agora, à esquerda. A esses sugiro: emigrem. Deixem-nos entregue a estas perversidades kafkianas. Não se preocupem: a malta cá se amanhará.
INSISTÊNCIA
António Ramos voltou a escrever-me:
“Ainda a propósito da Riefenstahl, desculpe lá ter-lhe atribuído uma afirmação que não é sua. Mas aqui para nós, olhe que aquele texto é mesmo um bocado disparatado. Deixo-lhe mais uma pergunta: não será um bocado cansativo e limitado (pois é, eu disse limitado) reservar o resto da vida para ler os clássicos do “cânone”? leia lá um bocadinho do Sepúlveda, homem, só para ver como é! E, já agora, passe também os olhos pela Margarida Rebelo Pinto, que você, não sei porquê (sei, sei), “casou” com o Sepúlveda. Como você sabe, até basta ler o primeiro parágrafo para se fazer um juízo sobre um livro. Mas porque é que será que as pessoas ganharam este hábito bizarro de falar do que não conhecem? E ainda por cima, com orgulho de não conhecerem! Há lá coisa mais parva do que dizer “não li e não gosto”? Pronto, não se zangue comigo.”

Caro António: zangar-me consigo? Porque carga de água? Contudo, não posso de lhe apontar um tique: o meu caro leitor tem tendência para ler o que não está escrito. Vou, por isso, repetir-me: eu não disse “não li e não gosto”. O que disse, várias vezes, foi “não li, logo não sei se gosto”. Completamente diferente. Não gosto, e isso afirmei-o, do Sepúlveda activista político. Não sei se gosto do Sepúlveda ficcionista, porque não conheço. Ponto final, parágrafo. É assim tão difícil perceber?
Quanto ao cânones, se quer que lhe diga (mesmo não querendo eu digo-lhe), tenho-me dado muito bem com eles. Eu e o Harold Bloom. O que é que quer que eu lhe faça? É o tempo, caro António. Ou a falta dele. Nestas, como noutras coisas, gosto de jogar pelo seguro...
RESERVOIR DOGS

JOE: Okay, let me introduce everybody to everybody. But once again, at the risk of being redundant, if I even think I hear somebody telling or referring to somebody by their Christian name... you won't be you. Okay, quickly. Mr Brown, Mr White, Mr Blonde, Mr Blue, Mr Orange and Mr Pink.

MR PINK: Why am I Mr Pink?

JOE:'Cause you're a faggot.

Everybody laughs.

MR PINK: Why can't we pick out our own color?
JOE: I tried that once, it don't work. You get four guys fighting over who's gonna be Mr Black. Since nobody knows anybody else, nobody wants to back down. So forget it, I pick. Be thankful you're not Mr Yellow.

MR BROWN: Yeah, but Mr Brown? That's too close to Mr Shit.

Everybody laughs.

MR PINK: Yeah, Mr Pink sounds like Mr Pussy. Tell you what, let me be Mr Purple. That sounds good to me, I'm Mr Purple.

JOE: You're not Mr Purple, somebody from another job's Mr Purple. You're Mr Pink.

MR WHITE: Who cares what your name is? Who cares if you're Mr Pink, Mr Purple, Mr Pussy, Mr Piss...

MR PINK: Oh, that's really easy for you to say, you're Mr White. You gotta cool-sounding name. So tell me, Mr White, if you think 'Mr Pink' is no big deal, you wanna trade?

JOE: Nobody's trading with anybody! Look, this ain't a goddamn fuckin' city council meeting. Listen up Mr Pink. We got two ways here, my way or the highway. And you can go down either of'em. So what's it gonna be, Mr Pink?

MR PINK: Jesus Christ, Joe. Fuckin' forget it. This is beneath me. I'm Mr Pink, let's move on.

JOE: I'll move on when I feel like it. All you guys got the goddamn message? I'm so goddamn mad I can hardly talk. Let's go to work."


CONTABILIDADE
O 'Contra a Corrente' ultrapassou as 20.000 "page-views" e "visits". Obrigado.
NOVO BLOGUE
O João de Sousa prescreve-nos Vitamina C.
QUERIDA PUBLICIDADE
À conta do anúncio de um telemóvel Siemens a&%f$, e da excelente performance da cabeça Ortofon do meu gira-discos Pro-Ject, aqui em casa dança-se, agora, ao som de Marvin Gaye. Let's Get It On...

É O QUÊ?
Este rapaz está a gozar, não está?
MAIS CORREIO
Do Vitor:
”O Sepúlveda até tem dois ou três livros interessantes - «O Velho
que lia romances de amor», «As Rosas de Atacama» ou o «Patagonia Express».
Apenas porque tem uma escrita jornalística solta e descreve muito bem
os universos fascinantes e mal conhecidos do Grande Sul argentino e chileno,
apesar de, nesta área, não chegar aos calcanhares do Francisco Coloane.
Quanto às suas posições sobre o Fidel, pois... estive recentemente em Cuba,
duas semanas. Com um rent-a-car, percorri o país quase todo, meti o nariz na
Cuba profunda e a revolução, apesar de embargada pelos americanos, está também embargada pelo próprio Fidel.
Uma família de camponeses - no cu de Judas - reuniu-se à volta de um simples
sabonete que lhes ofereci à falta das «lapiseras» pedidas (já tinham sido
todas despachada numa escola primária). Foi profundamente triste assistir
àquela cena e perceber que pouco podia fazer por eles. Foi estranhíssimo
sentir a censura, a repressão, a falta de liberdade - para mim que nasci 9
anos antes do 25 de Abril, foi uma experiência limite. A dignidade dos
cubanos e de qualquer ser humano merece mais. As multinacionais americanas
dispensam-se mas se calhar serão a merda do preço que os cubanos terão de
pagar pela liberdade e pela justiça no seu próprio país. O mundo está
assim...

AINDA O SEPÚLVEDA, O PINOCHET E O ALLENDE
Do leitor/visitante José Teixeira, recebi a seguinte missiva:
”Escrevo-lhe a propósito de Sepúlveda, já que diz nunca o ter lido. Aquele a quem impele a ir dar banho ao cão. Está o escritor por jornais e blogs variados, os trinta anos de Pinochet ajudam, o sucesso dele sublinha. Sobre a actividade política do homem nada tenho a dizer, neste mundo louco cada um como cada qual.
Aliás cada vez mais me irritam os escribas que menosprezam os ditadores de direita para sublinharem críticas à esquerda.
Aliás cada vez mais me irritam os escribas que menosprezam os ditadores de esquerda para sublinharem críticas à direita.
E ainda mais me irritam valorizações ou desvalorizações de escritores
baseadas nas suas opiniões e actividades políticas. De escritores e dos
outros. E ainda mais as direitas e as esquerdas, quando surdas e imbecis. Ou seja (excessivamente) preconceituosas.
Não é disso que gostaria de lhe falar. O que me leva a escrever-lhe é mesmo o facto de V. afirmar que nunca o leu e que alguns lhe dizem ser um grande escritor.
Permita-me dizer-lhe que em nada me ofendem as actividades políticas de
Sepúlveda, um pouco lá para a esquerda direi eu do sítio calmo onde me
encontro. Acho alguma da histeria bloguistica contra o homem um bocado um chic parolo de quem se quer afirmar de outras cores políticas (um chic de direita, se o quiser) - não se amofine, a ironia grosseira não é a si
dirigida. Ou seja , enquadro-o, proveniente de sociedade que não a nossa e
que lhe terá moldado sensibilidade, retórica, amores e ódios algo diferentes
(apesar de tudo) dos nossos. Como vê não tenho nenhum preconceito político contra o homem. Comprei e li vários (4,5) dos seus livros. Pequenos e baratos, já agora, a colecção de bolso da Asa. Rápidos de ler. Nos aviões, em esplanadas solarengas, em momentos de relativo cansaço. Textos curtos, alguns interessantes e/ou bonitos, outros não tanto. Viagens, Às vezes, episódios do quotidiano, amores e desamores. Revoluções também. Não ofende (ao ler o que escrevi parece que o estou a tornar literatura light, mas não será o caso). Mas daí a grande escritor... Francamente. Há um abismo (como entre Allende e Pinochet, ironia cruel reconheço).
Eu diria até que daí a bom escritor, francamente. Mas como quase todos que publicam são ditos bons escritores, retiro esta última reserva. Enfim, deixa-se ler. Cá para mim nem o escritor Sepúlveda nem o activista Sepúlveda merecem tanto resmungo nem tanto elogio. Que coisa. Que falta de assunto andará por esse Portugal.”


Caro leitor, repito o que já disse: nada tenho contra o escritor/ficcionista Sepúlveda. Como nada tenho contra... sei lá... Margarida Rebelo Pinto. Pura e simplesmente porque não conheço as suas obras.
“O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, e o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto o tempo o tempo tem”. Esta lenga-lenga, que a minha filha apelida de “destrava línguas”, faz referência à principal razão porque não os conheço: o tempo. A sucessão dos anos, dos dias, das horas, etc., que envolve, para o homem, a noção de presente, passado e futuro. Ou o momento ou a ocasião disponível para que uma coisa se realize. Na gestão que faço do meu tempo, nunca se «realizou» pegar num livro do Sepúlveda. Como deve entender, a vida é feita de escolhas. E eu decidi não ler Luis Sepúlveda. Posso, um dia, vir a lê-lo. Mas como o tempo se me escapa hora a hora, minuto a minuto, segundo a segundo, interrogo-me: o que me falta ler de Tchekhov, Doistoievski, Shakespeare, Beckett, Calvino, Cervantes, Dickens, Roth? Tanta coisa! Eis a razão porque (ainda) não li Sepúlveda.

Dito isto, vamos à razão acessória: decidi não ler o Sepúlveda também pela sua postura pública, aliada a questões políticas. Luis Sepúlveda é o protótipo do escritor engajado que decidiu um dia abandonar a sua solidão criadora para se prostituir com a política. Em boa verdade, nunca se sabe onde acaba um (o escritor/ficcionista) e começa outro (o activista e ideólogo político). Um verdadeiro escritor de causas. Bem me podem dizer que todos os seres humanos são animais políticos; que, ao fim ao cabo, tudo é política; blá, blá, blá. Acontece que eu não consigo (já tentei, acredite) apreciar a forma como certos escritores, perante o crescente protagonismo da política como linguagem universal, decidiram abraçar a causa política. Não gosto da forma como, com total despudor, esses autores vêm a público defender a tese da «intervenção» política, normalmente de forma parcial, cega, hipócrita. Estamos a falar da estafada categoria do autor-intelectual-intervencionista, que continuam a considerar imperativa a necessidade de exibir a sua bandeira ideológica ou a sua simpatia por determinada causa. É-lhes difícil resistir ao apelo, à vaidade e ao capital de notoriedade que lhes poderá advir desse tipo de posições.
Longe vão os tempos em que um político era um político, um escritor «apenas» um escritor. Autores que sabiam ou mantinham espontaneamente a distância – em nome da discrição, do pudor, da humildade e, acima de tudo, na defesa da sua própria obra.
Em boa verdade, o caso de Luis Sepúlveda não é o mais grave, no sentido em que nunca enganou ninguém. Ainda assim, o que eu não perdoou ao escritor-activista Sepúlveda é o facto de misturar o seu estatuto de escritor com o de activista político, aproveitando-se do primeiro para desenvolver o segundo. O que é perigoso e desonesto na atitude da generalidade dos escritores engajados – à direita e à esquerda – é a tentativa de vender o seu peixe com o recurso a um estatuto paralelo. Entram na casa das pessoas, enquanto ficcionistas; são convidados para falar em público da criação literária e das personagens de ficção que povoam as suas obras. Mas aproveitam o ensejo para ir «mais além». “Minha senhora, agora que comprou e apreciou a minha obra, deixe-me falar-lhe das vantagens da garoupa...”.
Luis Sepúlveda é livre para escrever o que quiser. Inclusivamente sobre Pinochet e Allende. Agora, é bom que os seus leitores e o público em geral percebam que: 1) Luis Sepúvelda é um comunista ortodoxo; 2) Luis Sepúlveda foi sempre um defensor de Fidel e do regime Castrista; 3) Luis Sepúlveda, e alguns do seus amigos, foram vitimas da brutalidade do regime de Pinochet. Ou seja, estão reunidos os ingredientes para que o livrinho de Sepúlveda, sobre os trinta anos do golpe de Estado no Chile, seja tudo menos imparcial e rigoroso (e não estou a pedir que Sepúlveda seja benevolente para com Pinochet). Daí que Sepúlveda acabe a endeusar e a canonizar Allende, ao mesmo tempo que diaboliza Pinochet. Em Évora, por exemplo, fez questão de dizer que o Chile de Allende era um modelo de prosperidade, paz e liberdade; que Allende tentou implementar um modelo político-social à imagem do “Sueco”(sic); que nunca passou pela cabeça de Allende implementar no Chile um modelo marxista-leninista, etc. etc. O que é lamentável, embora previsível, é ver como um escritor enceta um périplo mundial com o intuito de escancarar a natureza totalitária do regime de Pinochet e, ao mesmo tempo, martirizar um «herói» e fazer a apologia de um modelo político que deu ao mundo os piores ditadores. O regime de Pinochet foi, de facto, um regime ditatorial e violento. Convenhamos que bater em Pinochet é fácil. Mas começa a ser patética a forma como se insiste na tese de um inocente e mártir Allende. A História foi bem mais complexa.
Diz o leitor que não se ofende com as posições políticas de Sepúlveda. De acordo. Eu também não. Cada qual toma a suas. Agora, já me fará um pouquinho de comichão ver como um homem se deu ao trabalho de escrever e, posteriormente, falar sobre o regime totalitário de Pinochet - exigindo justiça, ou seja, exigindo a sua prisão - ao mesmo tempo que se sabe que, esse mesmo homem, considera Fidel um herói e o seu regime um exemplo para a humanidade. Estamos a falar de um escritor que, ainda recentemente, veio a público criticar Saramago por este ter condenado as execuções de que foram alvo alguns cubanos (entre eles jornalistas). Tem razão o leitor: “cada vez mais me irritam os escribas que menosprezam os ditadores de direita para sublinharem críticas à esquerda”. E vice-versa.

PS: recomendo a leitura do artigo de Claudio Tellez "O Golpe de 1970 no Chile". E mais este.
RIEFENSTAHL
António Ramos, da Lousã, coloca-me uma questão:
Caro Carlos,
A propósito do seu post sobre a morte da Leni Riefenstahl, esclareça-me uma coisa que me deixou intrigado: o que é estar ligado ao regime nazi "apenas pela via artística e intelectual"? Será o mesmo que dizer que o Gorki e Aragon estavam ligados ao regime estalinista "apenas" pela via artística e intelectual? Que raio, desculpe-me a expressão, quererá isso dizer?


Caro António: em primeiro lugar, a ‘posta’ sobre a Leni Riefenstahl não foi da minha autoria, mas sim do leitor Fernando Gomes da Costa (FGC). Aparte esse infeliz “apenas”, creio que FGC colocou o dedo na ferida: tivesse Leni Riefenstahl estado ao serviço de um qualquer ditador filo-comunista e teríamos assistido a elogiosas referências à sua obra (não arrisco “à vida e obra”).

sábado, setembro 13, 2003

MORREU

SOBRE LENI RIEFENSTAHL
Escreve Fernando Gomes da Costa:
"Sempre que desaparece alguém que marcou a Arte, os meios de comunicação social, em especial as televisões, costumam dedicar-lhes algum tempo de antena, quer através de programas biográficos quer, quase sempre no caso dos cineastas, pela transmissão de um ou mais filmes marcantes da sua obra.
Como é sabido, morreu no dia 8 de Setembro a cineasta Leni Riefenstahl. É unanimemente considerada como um expoente e uma força da arte cinematográfica. Tendo no entanto estado ligada (apenas pela via artística e intelectual) ao regime nazi e aproveitada por este para as suas acções de propaganda, foi objecto do ostracismo das classes intelectuais dominantes, por sua vez dominadas pela retórica esquerdista. Por exemplo, Eduardo Prado Coelho, um cinéfilo atento a tudo o que está ligado à 7ª Arte não lhe dedicou uma linha que fosse...talvez por ser ainda mais atento às directivas politicamente correctas. Azar dela o não ter estado ao serviço do estalinismo ou de uma qualquer das muitas ditaduras filo-comunistas passadas ou presentes.
Nas televisões, para além de uma breve nota nos noticiários, houve apenas o ignorar do facto. Filmes como "Triumph des Willens" (o Triunfo da Vontade) e "Olympia", que mesmo os mais empedernidos cinéfilos de esquerda reconhecem como sendo obras primas do cinema, não passarão nunca das televisões. Como mais uma vez se comprova, a mentalidade do lápis azul não desapareceu. Apenas tem agora tons avermelhados, que lhe dão mais credibilidade e aceitação."
OLHA, OLHA...
O Ricardo de Araújo Pereira foi pai? Muito parabéns meu caro Ricardo! E felicidades para a menina Rita.
MARTIN AMIS ON LIFE
“The trouble with life is its amorphousness, its ridiculous fluidity. Look at it: thinly plotted, largely themeless, sentimental and ineluctably trite. The dialogue is poor, or at least violently uneven. The twists are either predictable or sensationalist. And it’s always the same beginning; and the same ending…”
JUIZ RUI TEIXEIRA FICA
Yessss!!!!!!
SOBRE O NINE-ELEVEN
Sobre a efeméride, recupero uma pequena-grande crónica de Vasco Pulido Valente (que é feito de ti Vasco?), escrita a 7 de Novembro de 2002. Um ano e uma guerra depois, nada parece ter mudado. As palavras do Vasco voltam a aplicar-se com total pertinência.

O 9 do 11
“Um ano depois do 11 de Setembro, como vão as coisas? Na altura, toda a gente (ou quase toda a gente) se comoveu e jurou guerra santa ao terrorismo. Já nessa altura a hipocrisia, pelo menos na "Europa" (e tirando, como sempre, a Inglaterra), era manifesta. Só se aprovava a guerra na condição de não a fazer. Os peritos previam um desastre no Afeganistão e o levantamento geral do mundo islâmico perante um ataque aos talibãs. Como lhes competia, erraram. Os talibãs foram removidos sem esforço e o mundo islâmico, dividido e corrupto, pouco se mexeu. Resta que a Al-Qaeda, embora enfraquecida, sobrevive e que não se conseguiu apanhar Ben Laden (suponho que ele continua vivo). Isto põe ao Presidente Bush um problema crucial. O 11 de Setembro demonstrou a vulnerabilidade do território americano. Pior ainda: o massacre artesanal com aviões roubados pode ser agora tentado em larga escala com armas de destruição maciça. À Al-Qaeda (e organizações da espécie) não falta dinheiro e países cúmplices para preparar o exercício. Os meios tradicionais, como a espionagem e a polícia, não chegam para impedir uma nova catástrofe. A única solução está - desde o princípio - em inverter os termos da questão, mostrando o preço do apoio ao terrorismo. Principalmente a Estados que são eles mesmos terroristas, como o Iraque, e que pretendem adquirir uma capacidade militar química, biológica ou atómica. A "Europa", que não sente a ameaça (e que, de facto, por enquanto não corre qualquer risco), já esqueceu o 11 de Setembro e condena o "belicismo" americano. Mas, para Bush, não há maneira de assistir inerme a uma segunda ofensiva. A guerra, que na "Europa" se toma como figura de retórica, é infelizmente real. E não acabará tão cedo.”

Vasco Pulido Valente
SEPÚLVEDA: ESCLARECIMENTOS
Para que não restem dúvidas, eis a minha posição face a Luis Sepúlveda. Na qualidade de escritor, não posso criticar, elogiar, engrandecer ou reprovar Luis Sepúlveda. Pura e simplesmente porque não li uma única linha de um único livro do escritor chileno. Dizem-me que é um grande escritor – um dos maiores vivos. Esse epíteto pouco ou nada significa para mim. Com o tempo, habituei-me a não confiar no gosto e nas escolhas dos outros (mesmo quando incluem os laureados pelas melhores academias e instituições literárias). Confio na minha sensibilidade, no meu gosto (pessoal) e na minha experiência. Recorro, de quando em vez, a dois ou três críticos literários do meu contentamento (com os quais mantenho grandes afinidades). Ou seja: como não li, não posso fazer a minha particular e intransmissível avaliação do escritor Luis Sepúlveda.
Quanto ao Sepúlveda “activista político” (o qual, infelizmente, teima em confundir-se com o “escritor”), aí o caso pia mais fino. Nunca poderei dar a mínima credibilidade a uma pessoa que, no passado e ainda no presente, tem revelado uma hipócrita dualidade de critérios na análise da História e do mundo contemporâneo. Nesse campo estaremos a falar de um Luis Sepúlveda que tem recorrentemente revelado uma complacência e uma indulgência obscena para com a Cuba de Fidel, ou para com outros regimes de inspiração marxista-leninista. Aí, meu caro Luis Sepúlveda, mesmo sabendo que a minha opinião vale o que vale – ou seja, pouco ou nada – só posso dizer-te: vai dar banho ao cão.

sexta-feira, setembro 12, 2003

OS 11 DE SETEMBRO
Do leitor Jorge Bento:
“Aos que procuram misturar Pinochet com o 11/09 faço a seguinte pergunta: a aviação do Pinochet (apoiada pelos EUA) desviou 2 aviões cheios de civis e fê-los colidir com 2 torres cheias de civis, tendo resultado na morte de mais de 3.000 pessoas? Não deixem que o ódio vos tolde a razão. Se querem falar das ditaduras sul-americanas e compará-las entre si, podem falar do Pinochet e do Castro. Comparem quanto tempo durou uma e outra e quantas vítimas resultaram de uma e outra. Independentemente das conclusões a que chegarem, estarão a falar de coisas comparáveis. Agora , usarem o Pinochet para desculpabilizar as vítimas do 11/09 ou de outros atentados recentes fica-vos mal e é revelador de uma mentalidade distorcida. Por muito ideológica que possa ser uma discussão ela nunca deve resvalar para sentimentos de ódio, do tipo “ foi muito bem-feito, eles estavam a merecer “. Porque “eles” somos nós: pessoas como que se levantam todos os dias, levam os filhos à escola, vão para o trabalho e procuram ser felizes.
P.S. Podem falar do Pinochet todos os dias e até fazerem um abaixo assinado para a sua extradição para Espanha, que eu subscrevo. Mas, por favor, não demonstrem alegria pelas vítimas do 11/09 , se têm alguma humanidade dentro de vós.”


Tal como o meu caro leitor, eu sei quem é, e quem foi, Pinochet. Foi um ditador que suprimiu as liberdades individuais e perpetrou assassinatos políticos. Isso basta-me para não ter a mais leve simpatia ou a mínima benevolência para com essa sinistra personagem - independentemente de saber que a história do golpe de Estado no Chile é bem mais complexa do que: "Inocente primeiro-ministro eleito pelo povo é brutalmente deposto por militares com o apoio da CIA". Sobre essa questão, não posso deixar de sorrir quando observo certos esquerdistas encherem a boca para dizer que "Allende foi eleito democraticamente!". Logo eles que intermitentemente descartam a «democracia» e o «parlamentarismo»... E, convenhamos, pedir a certa gente, como ao escritor Luis Sepúlveda, que compare Castro a Pinochet é perda de tempo. Castro permanecerá um herói na luta contra o imperialismo ianqui.
Como sugere Jorge Bento, colocar em cima da mesa o 11 de Setembro de 2001 e o 11 de Setembro de 1973, para efeitos de comparação, não é só absurdo (aquela capa do Público foi lamentável). É um exercício imoral e canalha. Comparar o incomparável com o intuito de justificar o tal "estavam a pedi-las", dirigido ao «grande Satã», só pode vir de gente cega que se alimenta do ódio, da hipocrisia e do relativismo moral. Ao fim ao cabo, os mesmos que, no ocidente, justificam, legitimando, o terrorismo.
MÁRIO SOARES VS. PACHECO PEREIRA
Ontem, o programa “Duelos Imprevistos” (SIC Notícias) colocou frente-a-frente Mário Soares e Pacheco Pereira. Pouco ou nada há a dizer sobre o episódio. Digo apenas que o «notável» sentido da realidade de Mário Soares fez o seu regresso televisivo, voltando a ser confrangedor. Por várias vezes me senti envergonhado por verificar como um homem daquela idade se presta, ainda, àquelas figuras. Não é de admirar. Eu não me esqueço que Mário Soares, há um ano atrás, escreveu no Expresso preciosidades deste calibre: “o regime soviético implantado nada tinha de Esquerda” (sic); “os socialistas são os intransigentes defensores da liberdade” (sic); “o património da Esquerda é inseparável da liberdade – as ditaduras são sempre de Direita” (sic); “Kerensky era «menchevique»” (sic). Já não deveria espantar ninguém ouvir da sua boca coisas como “o mal do mundo advém da exploração universal” (sic); nós, europeus, vamos ser “escravos do império” (sic); “o mundo está pior hoje do que no tempo do colapso do regime soviético” (sic). Pelo meio disse que “a natureza do terrorismo global [da Al Qaeda] é igual “à natureza da administração norte-americana”. Razões? Porque, muita atenção, “Bush fala em Deus, no bem e no mal”.
Sinceramente, e com todo o respeito que tenho por Mário Soares, seria um favor que lhe prestavam se o não voltassem a convidar para comentar o mundo. À esquerda há gente bem mais capacitada para o fazer. E nós, tele-espectadores, seriamos poupados a tamanhas iniquidades.
Por último, umas palavras sobre Pacheco Pereira. Decompôs, com simplicidade e paciência, os argumentos do seu interlocutor (não era difícil, diga-se de passagem). Esteve seguro e expôs com clareza as suas posições. E levantou várias questões que importa repetir. Porque razão, para a esquerda, o 11 de Setembro de 2001 já pouco ou nada significa? Porque razão os esquerdistas, quando falam do Iraque de hoje, se esquecem de mencionar e enquadrar os milhares de corpos encontrados em valas comuns e o facto de se ter confirmado que Saddam Hussein foi um dos mais brutais ditadores do Sec. XX? Porque razão não conseguem perceber que o terrorismo do Sr. Bin Laden e de outros grupelhos avulsos, não é o braço armado dos «danados da fome», nem sequer se baseia numa hipotética luta pelo bem estar das populações ou o desenvolvimento dos países que supostamente representa? Repito o que escrevi há dias: o terrorismo serve uma lógica enviesada, um misto de ressabiamento ideológico, fundamentalismo religioso e sede de poder. O terrorismo não sai da esteira de um desinteressado grupo de injustiçados anónimos. Não representa um grito de raiva espontâneo. O terrorismo tem uma marca e uma organização. E tem como alvo o occidental way of life e tudo o que ele representa: a laicidade do Estado, a liberdade de expressão e de culto, a igualdade entre homens e mulheres, a Lei separada da religião, etc. etc.
Só lamento que, passados dois anos do atentado às Twin Towers, onde pereceram mais de três mil pessoas de várias nacionalidades, a memória seja curta e que a «velha» e cínica Europa pouco ou nada tenha feito para ajudar os EUA na luta contra os terroristas. Muito provavelmente, Mário Soares convidá-los-ia a tomar um chá na Lapa para debater o mundo e tentar compreender os seus problemas existenciais...

quarta-feira, setembro 10, 2003

SOCORRO!
Évora, cidade eterna onde eternamente pouco ou nada acontece, vai receber no Teatro Garcia de Resende, dia 15 às 18:30, o escritor chileno Luis Sepúlveda. A organização está a cargo da Livraria Som das Letras (facto que não perdoo ao Luis e à Anabela). O 'milieu' intelectual e cultural eborense já fervilha, de emoção. Não é todos os dias que um grandioso escritor vem a Évora, não é?
Segundo o comunicado distribuido na imprensa local, o amigo chileno vem falar do seu último livro, sobre o 11 de Setembro. Perguntam-me vocês: o de há dois anos? Não queriam mais nada, não?! Allende For Ever!
DO IMAGINÁRIO DE UM CINÉFILO


«Here’s Johnny!»
Jack Torrance (Jack Nicholson) in The Shining

«You talkin’ to me?»
Travis Bickle (Robert de Niro) in Taxi Driver

«I’ll have what she’s having»
Senhora idosa sentada na mesa ao lado, depois de assistir a um simulacro de um orgasmo por parte da personagem de Meg Ryan, in When Harry Met Sally

«All right, Mr. DeMille, I’m ready for my close-up.»
Norma Desmond (Gloria Swanson) in Sunset Boulevard

«Well, nobody’s perfect.»
Osgood Fielding III (Joe E. Brown) in Some Like it Hot, depois da personagem de Jack Nicholson (noiva de Osgood) confessar que era um homem.

«I love the smell of napalm in the morning.»
Colonel Kilgore (Robert Duvall) in Apocalypse Now

«Don’t you fuckin’ look at me!»
Frank Booth (Dennis Hopper) in Blue Velvet

«You know how to whistle, don’t you, Steve? You just put your lips together and blow.»
Marie Browning (Lauren Bacall) in To Have and have Not

«Go, get the butter.»
Paul (Marlon Brando) in Last Tango in Paris

«Fluoridation is the most monstrously conceived and dangerous communist plot we have ever had to face.»
General Jack D. Ripper (Sterling Hayden) in Dr. Strangelove

«Gentleman, you can’t fight here! This is the war room!»
President Merkin Muffley (Peter Sellers) in Dr. Strangelove

«I’m not saying we wouldn’t get our hair mussed, but I do say no more than ten to twenty million killed, tops!»
General Buck Turgidson (George C. Scott) in Dr. Strangelove

«Mein Führer! I can walk!»
Dr. Strangelove (Peter Sellers) in Dr. Strangelove

«Hey, don’t knock masturbation – it’s sex with someone I love»
Alvy Singer (Woody Allen) in Annie Hall

«You shouldn’t ask me fo advice. When it comes to relationships with women, I’m the winner of the August Strindberg award.»
Isaac Davis (Woody Allen) in Manhattan

«The horror.... the horror....»
Colonel Kurtz (marlon Brando) in Apocalypse Now

«You know, you haven’t stopped talking since I came here? You must have been vaccinated with a phonograph needle.»
Groucho Marx in Duck Soup

«Remeber, you’re fighting for this woman’s honor, which is probably more than she ever did.»
Groucho in Duck Soup

«I’ll make him an offer he can’t refuse.»
Don Vito Corleone (Marlon Brando) in The Godfather

«Louis, I think this is the beginning of a beautiful friendship.»
Rick Blaine (Humphrey Bogart) in Casablanca

«Of all the gin joints in all the towns in all the world, she walks into mine.»
Rick Blaine (Bogart) in Casablanca

«I’m afraid Mr. De Witt would find me boring before too long.»
«You won’t bore him, honey. You won’t even get a chance to talk.»
Eve Harrington (Anne Baxter) para Miss Caswell (Marilyn Monroe) in All About Eve

«Mmmmmmm-hmmmm! This is a tasty burger!»
Jules (samuel L. Jackson) in Pulp Fiction

«A census taker once tried to test me. I ate is liver with some fava beans and a nice chianti.»
Hannibal Lecter (Anthony Hopkins) in Silence of the Lambs

terça-feira, setembro 09, 2003

A ESQUERDA IN EXTREMIS
Recentemente, no show da rentrée, Ferro Rodrigues, sob a batuta do mestre escola Soares, tratou de reabilitar um enviesado grito de guerra à lá Zola. “J’Accuse”, gritou Ferro, apontando todo o seu aparato bélico para um grupelho de extremistas, liderados por Paulo Portas. Segundo Ferro, este sinistro grupo tem vindo insistente e insidiosamente a contaminar o governo de Durão Barroso, não só influenciando perniciosamente a política do actual executivo como, desgraça das desgraças, tomando de assalto o seu modus operandi. Avisa-nos paternalmente Ferro que, esta espécie de organização mafiosa (onde, supõe-se, se incluem os ministros que saíram das fileiras do PP), está interessada em inculcar uma visão passadista, retrógrada, reaccionária e neo-fascista da vida em sociedade e da política em geral. Germina no seio do governo uma semente maligna, da mesma estirpe que deu origem a um Haider e a um Le Pen. Ferro avisa os mais distraídos: o «Paulinho» das feiras não passa de um frio “neo-fascista” e de um irresponsável “neo-liberal”.
Não fosse patética e demagógica, a insinuação seria hilariante. No fundo, espelha bem a falta de cultura política dos dirigentes políticos em Portugal. Só uma pessoa demagógica – habituada a olhar as «massas» como um bando de ignorantes que engolem qualquer patranha – ou ignorante – para quem os conceitos são estranhos, estando ao serviços dos slogans - poderá acusar outro seu semelhante de “neo-fascista” e “neo-liberal”, ao mesmo tempo. Que eu saiba, ou se é (neo) fascista, ou se é (neo) liberal. Juntar as duas coisas é um pouco como dizer que fulano tal é um “comunista Nozickiano”.
Aparte esse «pequeníssimo» pormenor, a tese de Ferro, dissecada até ao tutano, não colhe. Eu peço ao auditório da blogosfera o seguinte exercício: tentemos recolher os indícios do caracter extremista de Paulo Portas que possam corroborar ou sustentar a suspeita.
Terá sido o putativo afrontamento das chefias militares? Não me parece. Noutro tempo e noutro contexto, seria a própria esquerda a aplaudir este aparente braço de ferro entre a esfera militar e a esfera política, com vantagem para esta última. Bem analisado, parece constituir um saudável aviso à navegação: são os militares que estão sob a alçada de uma tutela política, e não o contrário.
Terá sido a presença de Portas na cerimónia fúnebre de Maggiolo Gouveia e o seu fugaz contraditório relativamente às diatribes da Dra. Ana Gomes? Fraco. Em primeiro lugar, foi o socialista Rui Pena que deu o aval ao acto. Paulo Portas quis estar presente (nada de extraordinário) e, como bom católico, entrou na igreja, seguindo o seu ritual (facto que não tem que envergonhar ninguém). Seria de esperar que as câmaras estivessem lá e, como também é sabido, quem hoje em dia se benza ou beije a cruz é peremptoriamente acusado de «beato» ou «passadista». Sinal dos tempos. É certo que Portas deveria ter resistido à tentação de fingir não comentar, comentando (truque retórico muito próprio dos políticos). Mas a própria Ana Gomes foi bem mais radical nas suas observações. No fundo, provocou e recebeu o troco. Fair enough.
Será que podemos associar uma eventual pose autoritária – com o dedinho em riste e o olhar intimidador – a um prenúncio de radicalismo de direita? Frouxo. Ferro Rodrigues também vocifera, de forma muitas vezes teatral. Também estica o dedo e grita. No caso Paulo Pedroso, fez uma triste figura de si mesmo.
Terá sido o populismo larvar nas suas intervenções como líder partidário? A avaliar pelo discurso político da generalidade dos lideres partidários, de há uns anos a esta parte, parece-me desleal colocar o acento tónico nesse aspecto, uma vez que todos, intermitentemente, fazem uso do mesmo. Entendamo-nos: nos seus dias mais inspirados, Francisco Louçã não é um populista encartado? E Ferro Rodrigues, quando grita aqueles slogans e comenta os incêndios da forma como o fez no discurso da rentrée, não está a ser populista?
Será o fatinho às riscas tipo ‘Lord inglês’, a pose snob e o facto de ter pilotado, durante uns meses, um jaguar? Talvez, porque a esquerda vive desses preconceitos. Ainda assim, não me parece que justifique nada.
Será o caso Moderna? Não estou a ver que a ligação entre Paulo Portas e um caso de gestão danosa seja, por si só, um sinal de fascismo ou de neo-liberalismo. Uma coisa nada tem a ver com outra. Se Paulo Portas é fascista por estar alegadamente ligado, ainda que de forma relativa, a um caso de peculato, José Luis Judas será o quê? Mussolini?

A forma como, do lado da esquerda, certas eminências pardas – com Soares à cabeça – tentam relançar uma espécie de anacrónico conflito entre mundos ideológicos opostos, espelha bem o desespero e o desnorte estratégico de um dos quadrantes da contenda. Num mundo em mutação continua e acelerada, num mundo onde circulam livremente bens, conhecimentos e informação, num mundo onde os conceitos se confundem, as práticas convergem e se estabelecem consensos mais ou menos alargados sobre a inevitabilidade de uma sociedade de génese liberal e capitalista, continua a assistir-se a um certa esquerda presa, acossada, deslocada e incomodada com o mundo - como se essa fosse a única postura consonante com a eterna insatisfação de quem o quer mudar. Para melhor, entenda-se. No fundo, assiste-se a uma constante e romântica inquietação da esquerda face a um mundo que teima em fugir ao ideal de construção por ela preconizado. Facto que a baralha e a leva a perder a cabeça e fazer uso de uma cassete já gasta.
Ainda há um ano atrás, em plena Silly Season, o tema predilecto tinha sido as desventuras da Esquerda. Fatal como o destino. De tempos a tempos, os mais dignos representantes da esquerda produzem, no espaço dos jornais, autênticas teses de doutoramento sobre os maravilhosos e exclusivos atributos da Esquerda e o seu futuro, tratando, en passant, de separar as águas. Para esse efeito, as figuras de backoffice trabalham que nem formiguinhas na busca de um novo discurso, de uma nova retórica, para que a voz do líder se faça ouvir.
Esta boa gente é incapaz de perceber que os eternos chavões da Esquerda, apregoados no mundo de hoje em jeito de aspiração difusa e sem explicação plausível de ordem prática, estão desacreditados. Parecem não querer perceber que os slogans contra a ‘desigualdade’, a ‘pobreza’, a ‘opressão’, os ‘privilégios’ e a favor da ‘justiça social’, deixaram de estar associados a um contexto ou conteúdo político-social. Ou seja, a Esquerda e a Direita competem irremediavelmente no mesmo campo, com discursos e práticas que se confundem – porque a evolução do mundo assim o ditou. Em boa verdade, combater a exclusão ou a pobreza não pertencem hoje, se é que alguma vez pertenceram, ao domínio exclusivo da Esquerda. São questões centrais, pragmáticas, que a realidade empurrou para fora do âmbito do discurso ideológico, e que são objecto da acção de qualquer governo democrático.
Estas discussões sobre o papel da Esquerda são, sobretudo, um sintoma sério de como esta se desenquadrou do mundo, levando-a a invocar paradigmas da era da industrialização, com trejeitos de paranóia face às novas tecnologias e à mobilidade de meios humanos e materiais. É precisamente esta falta de ‘encaixe’ que tem sido fatal para a Esquerda. Daí o recurso, em desespero de causa, a novas frentes de combate: o anti-americanismo, a anti-globalização, o anti-(neo)liberalismo e o fundamentalismo ambientalista.
Por outro lado, a forma como a Esquerda teima em empurrar presunçosamente os assuntos para a sua área, insistindo na ideia de uma ‘Solução’ e presumindo estar na vanguarda de tudo e todos, vem dar razão a Oakeshott, Camus e Popper, na sua crítica às ideologias. Popper criticou a tentativa de encontrar certezas na história e na produção de previsões a partir de modelos supostamente cientificos, quando isso se baseava num erro de lógica: a ideia de que a história e a evolução das sociedades podem ser transformadas numa ciência. E Oakeshott alertou-nos para o papel do Racionalismo acrítico na política, tão próprio das ideologias.
Em Portugal, por força de uma hegemonia cultural de Esquerda, maioritariamente francófona, e ainda com os ecos do antifascismo a fazerem-se ouvir, muito boa gente continua a olhar a Esquerda como a campeã na luta contra os males do mundo – ao contrário da ímpia Direita. Este fim-de-semana ouvia Gerónimo de Sousa, do PCP, e dei comigo a pensar: eu oiço esta cassete há vinte anos. Para estas pessoas não interessa mais nada, a não ser isto: a Esquerda foi e será sempre a solitária, firme e hirta representante dos bons sentimentos e das boas intenções - e bem tramado está quem disser o contrário ou quem ousar «roubar» os nobres fins da “justiça” ou da “coesão” sociais (como se a Esquerda tivesse comprado essa patente). Ora, é precisamente isto que está em causa, no plano prático: são os meios e não os fins que devem ser discutidos. Mas isso é difícil de explicar a quem continua a viver num mundo maniqueísta de “imperialismos” e “subjugados”.
Em último recurso de retórica, os arautos da Esquerda insistem no facto de que “ser de Esquerda” se trata, sobretudo, de uma «atitude», de uma «cultura» e de uma «estética». É bom lembrar que este retiro para a área da «estética», e a adopção do que é virtualmente um código privado de neo-marxismo, antecipou e alimentou a evasão pós-modernista da realidade e, por consequência, o desviar do olhar sobre o mundo «real» - cuja complexidade e diversidade baralha e confunde as suas meditações - e a concentrar a reflexão da Esquerda na órbita do seu umbigo.
No fundo, a Esquerda vive, hoje, com o recurso a habilidades linguísticas (os «tumores» de Soares, os slogans de Ferro, as demonizações de Ana Gomes, os chavões de Louçã) que lhe permitem continuar a falar, pensar e teorizar sobre questões de interesse prático vago, ignorando a evidência de que, por exemplo, o socialismo está, em todo o lado, num estado de declínio terminal. Não é por acaso que a Esquerda, pelo menos a mais empedernida, tem relutância e até vergonha em reconhecer o contributo do sistema capitalista nas democracias ocidentais, no aumento do nível de vida à escala mundial e na consolidação das liberdades individuais. Basta observar a forma como perverte o tema da Globalização.
Por último, observemos como a supostamente esclarecida e vanguardista elite académica europeia e americana, que se alimenta das mordomias capitalistas como a abelha do mel, está impregnada de um Marxismo Rocócó (a expressão é de Tom Wolfe) que mete dó. É a mesma elite académica, aparentemente letrada em filosofia política e história, que nunca leu uma linha de Oakeshott, Berlin, von Mises, Hayek, Schumpeter, Popper, Friedman, Aron ou Strauss, e que se atreve a classificar os livros “Empire” ou “No Logo” como sendo “a primeira grande síntese do novo milénio” e “uma obra de intensidade visionária”. O que, bem vistas as coisas, diz tudo.
Seria bom que a Esquerda e os seus acérrimos representantes perdem-se a presunção e a arrogância de pensar que o mundo gira à volta dos seus modelos e que o resto é paisagem. Não é. As conquistas de que hoje as sociedades ocidentais usufruem - ao nível da liberdade individual, da democracia, da liberdade de expressão, da livre associação civil – nasceram da luta do homem «individual» contra o despotismo e tirania de regimes totalitários, quer à esquerda, quer à direita. Já era altura de os esquerdistas mais empedernidos perceberem que existem outras propostas, outras visões válidas, sendo certo que muitas delas se baseiam mais no pragmatismo do que na ideologia – o que, em meu entender, faz a diferença.
E seria bom que o seu discurso fosse um discurso sério, não demagógico. Que fosse minimamente rigoroso do ponto de vista da política formal – mesmo que o da direita assim não seja. Que não tentasse criar fantasmas onde eles não existem. E que evitasse o facilitismo dos slogans generalistas. Ao contrário do que se possa pensar, a malta não é assim tão parva.
O IRAQUE, MAIS UMA VEZ
O António do A Quinta Coluna resolveu comentar a minha 'posta' sobre o Iraque. O que fez muito bem – com urbanidade e com argumentos. Contudo, lamento que tenha insistido na história do «pitróleo». Pensar que, por causa dos alegados 10% das reservas mundiais de petróleo, os EUA encetaram uma guerra gastando, para o efeito, biliões de dólares, não pega. E não pega porque, desde o início e até à data, a administração Bush afirmou que, uma vez estabilizada a situação, sairá do Iraque. O Iraque será dos iraquianos, incluindo o seu petróleo. Agora, seria ingénuo pensar que, quando isso acontecer, as relações económicas entre os EUA e a administração iraquiana serão nulas. Não serão. Vão ser estabelecidos contratos de exploração do 'ouro negro'. So what? A francesa Elf não está no Iraque há décadas? Que eu saiba, os sucessivos governos franceses fizeram tudo o que estava ao seu alcance para que a «sua» companhia singrasse por terras de Saddam (eis a boa ética europeia, repleta de telhados de vidro). Não tenho dúvidas de que os EUA beneficiarão com o petróleo iraquiano. É claro que sim. Mas irão pagá-lo. Como pagam o proveniente da Arábia Saudita e do Kuwait. De uma vez por todas, deixemos de lado essa ideia fixa de vislumbrar, por todo o Iraque, um complexo sistema de pipelines, que servirá de bypass para sugar toda a riqueza do país directamente para o rancho do texano estúpido. Estamos em presença de Business, as usual. Ou "É a economia estúpido". A mesma economia onde a «velha» Europa também joga as suas cartadas. Repito: é redutor pensar que a intervenção norte-americana e inglesa no Iraque teve como móbil o petróleo. Em minha opinião, questões bem mais importantes e complexas a explicaram e justificaram. Mas é apenas uma opinião.

segunda-feira, setembro 08, 2003

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sábado, setembro 06, 2003

OPINION.TELEGRAPH.CO.UK

Iraq is everyone's war
(Filed: 06/09/2003)
“It is hard to resist a sense of déjà vu in the melancholy spectacle of French and German leaders once again threatening to block an American draft Security Council resolution on Iraq. Having failed to sabotage the war, they now seem bent on sabotaging the peace.
Not only is "Old Europe" unwilling to commit its own troops; it also seems determined to prevent other nations from doing so, at any rate under the UN umbrella. One can only guess at the motives of Jacques Chirac and Gerhard Schröder, but they appear to have more to do with pique and Schadenfreude than any professed concern for the Iraqi people.
There are, however, grounds for hope that a UN resolution will eventually pass. The Russians signalled yesterday that they, while dissatisfied with the American draft, are ready to negotiate. The Germans, too, are eager to mend fences with Washington, and in any case have no veto
A stick-and-carrot approach to both these powers might well reveal surprising flexibility. Only the French are ready to risk diplomatic isolation in order to thwart the Anglo-American coalition. They, of course, not only have a veto, but are also quite willing to use it.
America, for its part, has been reluctant to cede even notional influence to the UN. This is understandable. Having expended blood and treasure in the liberation of Iraq, America is not about to yield control to allies who have hitherto been mere spectators, and hostile ones at that.
It is, though, clear that Iraq has now become the principal theatre of the global war against terrorism, and that the coalition needs reinforcements. American public opinion is reluctant to denude its forces elsewhere. If the Russians, French and Germans are to make a useful contribution to the occupation, they will demand a seat at the top table.
The diplomatic challenge is to find a compromise that would keep ultimate authority in American hands, while conceding enough influence to the allies (in the shape of the UN) to satisfy their amour propre and prepare the way for eventual Iraqi self-government.
Brokering such a deal is a task for which nobody is better suited than Tony Blair. His experience of pre-war shuttle diplomacy has, however, taught him not to underestimate the wiliness of Putin, the weakness of Schröder and the sheer bloody-mindedness of Chirac.
Yet it is surely not beyond Mr Blair's considerable powers of persuasion to bring home to them that the "strategic failure" of which Jack Straw warns would not be in their interests, either; in fact, it would unleash a new wave of Islamist terrorism against, among others, Europe and Russia.
Nor would it serve French interests to be seen as the dog in the manger at the Security Council. Now is the moment when the Americans need the Europeans most. The present security crisis may well be temporary; for when Saddam is found, many of his supporters will give up the unequal struggle.
If the French, having tried to prevent the liberation of Iraq, now seek to obstruct its reconstruction process, they will never be forgiven: not only by the Americans, but also by the Iraqis.”

A atitude dos governos francês e alemão é a prova insofismável da má fé e da hipocrisia com que sempre discutiram a questão iraquiana. “Já que fizeram a guerra sem o nosso aval, que se aguentem agora com as suas consequências” parecem dizer Schroeder e Chirac. Como se, num caso em que estão envolvidas vidas humanas, que todos os dias são ceifadas, se pudesse fazer o jogo do empurra, da teimosia e da birrinha. É esta a lógica retorcida que Schroeder e Chirac parecem revelar, demonstrando o mesmo tipo de desprezo pelo povo iraquiano revelado antes da guerra. Nessa altura, como agora, o povo iraquiano era o que menos importava. O que eram as milhares de execuções perpetradas por Saddam, a brutalidade errática, o genocidio de franjas da população, ao pé da altivez e da presunção franco-alemã? Hoje, o que volta a importar é o braço de ferro, o joguinho de interesses, a tentativa patética de mostrar que “nós podemos fazer-lhes frente”. Até nesse aspecto, Schroeder e Chirac revelam estupidez. Se fossem espertos, esta seria uma oportunidade para, uma vez aprovada uma resolução, se poder afirmar “eis a prova de como a ONU faz falta”. Mas não. Schroeder e Chirac estão cegos pela obsessão de fazer frente à «superpotência imperial». Eis a superioridade moral do velho eixo franco-alemão.
YOU DON’T KNOW WHAT LOVE IS
(Don Raye/Gene DePaul)

You don’t know what love is
Until you learned the meaning of the blues
Until you loved the love you had to lose
You don’t know what love is

You don’t know how lips hurt
Until you kissed and had to pay the cost
Until you’ve flipped your heart and you have lost
You don’t know what love is

Do you know how lost hearts fears
The thought of suffering
And the lips that taste of tears
Lose their taste for kissing

You don’t know how hearts burn
For love that cannot live yet never dies
Until you reached each dawn with sleepless nights
You don’t know what love is

How do you know how lost hearts fears
The thought of suffering
And how lips that taste of tears
Lose their taste for kissing

You don’t know what love is
Until you learned the meaning of the blues
Until you learned the love you had to lose
You don’t know what love is
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