O MacGuffin

quarta-feira, setembro 17, 2003

INSISTÊNCIA
António Ramos voltou a escrever-me:
“Ainda a propósito da Riefenstahl, desculpe lá ter-lhe atribuído uma afirmação que não é sua. Mas aqui para nós, olhe que aquele texto é mesmo um bocado disparatado. Deixo-lhe mais uma pergunta: não será um bocado cansativo e limitado (pois é, eu disse limitado) reservar o resto da vida para ler os clássicos do “cânone”? leia lá um bocadinho do Sepúlveda, homem, só para ver como é! E, já agora, passe também os olhos pela Margarida Rebelo Pinto, que você, não sei porquê (sei, sei), “casou” com o Sepúlveda. Como você sabe, até basta ler o primeiro parágrafo para se fazer um juízo sobre um livro. Mas porque é que será que as pessoas ganharam este hábito bizarro de falar do que não conhecem? E ainda por cima, com orgulho de não conhecerem! Há lá coisa mais parva do que dizer “não li e não gosto”? Pronto, não se zangue comigo.”

Caro António: zangar-me consigo? Porque carga de água? Contudo, não posso de lhe apontar um tique: o meu caro leitor tem tendência para ler o que não está escrito. Vou, por isso, repetir-me: eu não disse “não li e não gosto”. O que disse, várias vezes, foi “não li, logo não sei se gosto”. Completamente diferente. Não gosto, e isso afirmei-o, do Sepúlveda activista político. Não sei se gosto do Sepúlveda ficcionista, porque não conheço. Ponto final, parágrafo. É assim tão difícil perceber?
Quanto ao cânones, se quer que lhe diga (mesmo não querendo eu digo-lhe), tenho-me dado muito bem com eles. Eu e o Harold Bloom. O que é que quer que eu lhe faça? É o tempo, caro António. Ou a falta dele. Nestas, como noutras coisas, gosto de jogar pelo seguro...

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