Catalina Pestana resolveu falar ao país. Não concordo com o tom e o teor da sua intervenção (será que o Barnabé ficará incomodado se eu concordar com ele?). A inflexão da voz (melodramática), a forma como anunciou estar a falar em nome dos meninos, porque supostamente estes lhe pediram, e aquela frase do “somos todos culpados” estiveram mal. A Casa Pia pode ser uma instituição do Estado, mas o Estado não somos nós. É a velha atitude portuguesa: ou não há culpados ou fomos “todos nós”. Eu não fui culpado de nada. Nem eu nem milhões de portugueses. Para além dos autores materiais dos crimes, os responsáveis pelo sucedido encontrar-se-ão entre a tutela política e os que tinham a seu cargo a Casa Pia, durante os anos em que foram perpetrados os crimes de violação de menores.
sexta-feira, outubro 31, 2003
TODOS CULPADOS?
Catalina Pestana resolveu falar ao país. Não concordo com o tom e o teor da sua intervenção (será que o Barnabé ficará incomodado se eu concordar com ele?). A inflexão da voz (melodramática), a forma como anunciou estar a falar em nome dos meninos, porque supostamente estes lhe pediram, e aquela frase do “somos todos culpados” estiveram mal. A Casa Pia pode ser uma instituição do Estado, mas o Estado não somos nós. É a velha atitude portuguesa: ou não há culpados ou fomos “todos nós”. Eu não fui culpado de nada. Nem eu nem milhões de portugueses. Para além dos autores materiais dos crimes, os responsáveis pelo sucedido encontrar-se-ão entre a tutela política e os que tinham a seu cargo a Casa Pia, durante os anos em que foram perpetrados os crimes de violação de menores.
Catalina Pestana resolveu falar ao país. Não concordo com o tom e o teor da sua intervenção (será que o Barnabé ficará incomodado se eu concordar com ele?). A inflexão da voz (melodramática), a forma como anunciou estar a falar em nome dos meninos, porque supostamente estes lhe pediram, e aquela frase do “somos todos culpados” estiveram mal. A Casa Pia pode ser uma instituição do Estado, mas o Estado não somos nós. É a velha atitude portuguesa: ou não há culpados ou fomos “todos nós”. Eu não fui culpado de nada. Nem eu nem milhões de portugueses. Para além dos autores materiais dos crimes, os responsáveis pelo sucedido encontrar-se-ão entre a tutela política e os que tinham a seu cargo a Casa Pia, durante os anos em que foram perpetrados os crimes de violação de menores.
quinta-feira, outubro 30, 2003
GENERALIZAÇÕES DA TRETA
Sobre uma posta no Barnabé: 1) Todas as opiniões são subjectivas e pessoais; 2) Um blogue não é uma agência noticiosa. Quanto muito, (re)publica notícias no sentido de, posteriormente ou em momento anterior, expressar ou confirmar determinada posição do seu autor; 3) Os blogues não são «imprensa» nem pretendem substituir-se aos media tradicionais; 4) Eu não sou jornalista; 5) Ao contrário do Barnabé, no conflito israelo-palestiniano sou tendencial e assumidamente pró-Israel. Porque tenho memória. Mas não sou cego. Por exemplo, o Barnabé escreveu: ”As notícias são "de esquerda": (…) Sharon faz um muro à volta de Israel e implode prédios com pessoas lá dentro.” O facto de ele não ter referido, entre outras coisas, que os palestinianos matam indiscriminadamente civis inocentes e que Arafat é um hipócrita, permite-me concluir que o Barnabé é cego?; 6) Os cartoons da dupla Cox & Forkum não são feitos para serem subtis. São bastante claros e frontais. Tomam partido. Tal como o Barnabé; 7) o Barnabé ainda não percebeu que a questão não está no facto de as notícias serem “de esquerda" ou “de direita”. Está no facto de não se assumirem as tendências e as linhas editoriais.
Por último, pergunto-me: quando o Barnabé resume as coisas desta maneira…
“As notícias são "de esquerda": nelas o desemprego aumenta, Bush é pouco inteligente e diz disparates, a situação no Iraque é complicada, Sharon faz um muro à volta de Israel e implode prédios com pessoas lá dentro. Para escapar a esta terrível manipulação, os nossos amigos viram o mundo do avesso para encontrarem as verdadeiras notícias: nelas o governo governa bem, Bush tem uma inteligência moral fulgurante, as coisas correm bem no Iraque, e Sharon comanda, nas suas próprias palavras, "o exército mais moral do mundo". Schwarzenegger era um excelente actor que dará um político ainda melhor.”
…vale a pena discutir com ele? Nãã.
Sobre uma posta no Barnabé: 1) Todas as opiniões são subjectivas e pessoais; 2) Um blogue não é uma agência noticiosa. Quanto muito, (re)publica notícias no sentido de, posteriormente ou em momento anterior, expressar ou confirmar determinada posição do seu autor; 3) Os blogues não são «imprensa» nem pretendem substituir-se aos media tradicionais; 4) Eu não sou jornalista; 5) Ao contrário do Barnabé, no conflito israelo-palestiniano sou tendencial e assumidamente pró-Israel. Porque tenho memória. Mas não sou cego. Por exemplo, o Barnabé escreveu: ”As notícias são "de esquerda": (…) Sharon faz um muro à volta de Israel e implode prédios com pessoas lá dentro.” O facto de ele não ter referido, entre outras coisas, que os palestinianos matam indiscriminadamente civis inocentes e que Arafat é um hipócrita, permite-me concluir que o Barnabé é cego?; 6) Os cartoons da dupla Cox & Forkum não são feitos para serem subtis. São bastante claros e frontais. Tomam partido. Tal como o Barnabé; 7) o Barnabé ainda não percebeu que a questão não está no facto de as notícias serem “de esquerda" ou “de direita”. Está no facto de não se assumirem as tendências e as linhas editoriais.
Por último, pergunto-me: quando o Barnabé resume as coisas desta maneira…
“As notícias são "de esquerda": nelas o desemprego aumenta, Bush é pouco inteligente e diz disparates, a situação no Iraque é complicada, Sharon faz um muro à volta de Israel e implode prédios com pessoas lá dentro. Para escapar a esta terrível manipulação, os nossos amigos viram o mundo do avesso para encontrarem as verdadeiras notícias: nelas o governo governa bem, Bush tem uma inteligência moral fulgurante, as coisas correm bem no Iraque, e Sharon comanda, nas suas próprias palavras, "o exército mais moral do mundo". Schwarzenegger era um excelente actor que dará um político ainda melhor.”
…vale a pena discutir com ele? Nãã.
SOBRE A VAIA
O Cataláxia escreve:
"[A vaia] foi o tema do Forum TSF de hoje. Entre comentários e argumentos, todos os intervenientes, quase sem excepção, estiveram de acordo em aceitar que se tratou de uma manifestação de desagrado pelas políticas do governo, ou melhor, pela falta de políticas que resolvam "os reais problemas do país", como usa dizer-se.
A questão parece-nos, contudo, bem mais simples: em democracia, o prazo de validade dos governos é como o dos iogurtes: muito pequeno. Em democracia, num país pobre, subdesenvolvido e desesperado como o nosso, dira que esse prazo é mesmo curtíssimo."
Totalmente de acordo. Acrescentaria apenas duas coisas: 1.ª) a vaia ao primeiro-ministro de Portugal é, provavelmente, a prova de que este governo está no rumo certo. Para simpatias, recreação e desenfados bastou-nos o Eng. Guterres (que a bendita IS o entretenha por muitos e bons anos); 2.ª) o facto de a "vaia" servir de tema para um Forum TSF diz muito de nós.
O Cataláxia escreve:
"[A vaia] foi o tema do Forum TSF de hoje. Entre comentários e argumentos, todos os intervenientes, quase sem excepção, estiveram de acordo em aceitar que se tratou de uma manifestação de desagrado pelas políticas do governo, ou melhor, pela falta de políticas que resolvam "os reais problemas do país", como usa dizer-se.
A questão parece-nos, contudo, bem mais simples: em democracia, o prazo de validade dos governos é como o dos iogurtes: muito pequeno. Em democracia, num país pobre, subdesenvolvido e desesperado como o nosso, dira que esse prazo é mesmo curtíssimo."
Totalmente de acordo. Acrescentaria apenas duas coisas: 1.ª) a vaia ao primeiro-ministro de Portugal é, provavelmente, a prova de que este governo está no rumo certo. Para simpatias, recreação e desenfados bastou-nos o Eng. Guterres (que a bendita IS o entretenha por muitos e bons anos); 2.ª) o facto de a "vaia" servir de tema para um Forum TSF diz muito de nós.
INQUIETAÇÕES
Observo o tipo e qualidade dos jovens licenciados deste país e desanimo-me. Assim como desespero quando me apercebo da enorme dificuldade em contratar pessoal especializado em áreas mais técnicas. Canalizadores, mecânicos, electricistas, marceneiros, carpinteiros, pintores, pedreiros, são cada vez menos e cada vez piores.
Sobre a Grã-Bretanha, escrevia Melanie Phillips em 1996, no Observer:
”The expansion of the university has meant degrees are increasingly being substituted for essential craft or skills training on the job. Instead of high quality training in how to do or to make things, young people are being funnelled towards qualifications which mask their vocational deficiencies by increased social status (…). Attempting to fuse the vocational and the academic is a continuation of the doomed attempt to use education to rid Britain of its class divisions. It has little to do with equipping young people or the country with what is needed. It damages both academic and vocational standards by diluting the one and devaluing the other. Academic courses become mor and more skills-based and vocational, losing sight of the need to ring-fence a core of knowledge acquired for its one sake. At the same time, the drive for “professionalisation” means that the craft base is replaced by the abstract theorising.”
Tentem explicar isto numa sociedade marcadamente igualitarista, onde os papás e a mamãs sonham com o dia em que os seus rebentos lhes acenem com um canudo, para perceber a natureza quase subversiva e ofensiva deste texto aos olhos da sociedade portuguesa. Mas o comentário de Melanie Phillips não deixa de se aplicar, na perfeição, ao Portugal de hoje. Acrescente-se a este diagnóstico o facto de muito do que era genuinamente académico estar a ser invadido por pseudo-temáticas, e o facto de Portugal ter sido invadido por um sem número de cursos-de-formação-profissional-para-enganar-otários com as mais incríveis e insondáveis designações (“Curso de Multimédia”…). Talvez assim acompanhem os meus sobressaltos.
Observo o tipo e qualidade dos jovens licenciados deste país e desanimo-me. Assim como desespero quando me apercebo da enorme dificuldade em contratar pessoal especializado em áreas mais técnicas. Canalizadores, mecânicos, electricistas, marceneiros, carpinteiros, pintores, pedreiros, são cada vez menos e cada vez piores.
Sobre a Grã-Bretanha, escrevia Melanie Phillips em 1996, no Observer:
”The expansion of the university has meant degrees are increasingly being substituted for essential craft or skills training on the job. Instead of high quality training in how to do or to make things, young people are being funnelled towards qualifications which mask their vocational deficiencies by increased social status (…). Attempting to fuse the vocational and the academic is a continuation of the doomed attempt to use education to rid Britain of its class divisions. It has little to do with equipping young people or the country with what is needed. It damages both academic and vocational standards by diluting the one and devaluing the other. Academic courses become mor and more skills-based and vocational, losing sight of the need to ring-fence a core of knowledge acquired for its one sake. At the same time, the drive for “professionalisation” means that the craft base is replaced by the abstract theorising.”
Tentem explicar isto numa sociedade marcadamente igualitarista, onde os papás e a mamãs sonham com o dia em que os seus rebentos lhes acenem com um canudo, para perceber a natureza quase subversiva e ofensiva deste texto aos olhos da sociedade portuguesa. Mas o comentário de Melanie Phillips não deixa de se aplicar, na perfeição, ao Portugal de hoje. Acrescente-se a este diagnóstico o facto de muito do que era genuinamente académico estar a ser invadido por pseudo-temáticas, e o facto de Portugal ter sido invadido por um sem número de cursos-de-formação-profissional-para-enganar-otários com as mais incríveis e insondáveis designações (“Curso de Multimédia”…). Talvez assim acompanhem os meus sobressaltos.
A VOSSA ATENÇÃO, POR FAVOR
João Pereira Coutinho. Já ouviram falar? Não? Eu compreendo. As obras do Boaventura Sousa Santos, as crónicas do Eduardo Prado Coelho, os livros do José Luis Peixoto, as manobras no PS consomem-vos. Preenchem-vos como, em tempos não muito distantes, a Margarida Martins preenchia os vestidos XXXL da Fátima Lopes. Mas há solução. Emagreçam um pouco. Façam como a Margarida. Como? Filtrem, seleccionem, arrumem, whatever. Arranjem é tempo para visitar esta casa. Diariamente. Pela vossa saúde mental.
PS: e não percam a entrevista do João ao Alberto Gonçalves. Aqui.
João Pereira Coutinho. Já ouviram falar? Não? Eu compreendo. As obras do Boaventura Sousa Santos, as crónicas do Eduardo Prado Coelho, os livros do José Luis Peixoto, as manobras no PS consomem-vos. Preenchem-vos como, em tempos não muito distantes, a Margarida Martins preenchia os vestidos XXXL da Fátima Lopes. Mas há solução. Emagreçam um pouco. Façam como a Margarida. Como? Filtrem, seleccionem, arrumem, whatever. Arranjem é tempo para visitar esta casa. Diariamente. Pela vossa saúde mental.
PS: e não percam a entrevista do João ao Alberto Gonçalves. Aqui.
A MUDANÇA
Now is the time for all good men to come to the aid of the party
por Boris Johnson (in The Daily Telegraph, 30/10/2003)
“There was a total silence in the committee room as Iain Duncan Smith's fate was read out, as if we were all suddenly stunned by yet another Tory assassination, yet another regicide. Iain was a far better Tory leader than he was often given credit for.
He rescued the party's position in the polls; he promoted a host of new policies on health, education and welfare; he stormed to victory in the council elections. Over the last few days, as the crisis enveloped him, he showed considerable courage, character and elan.
Even among the 90 of us who voted to end his leadership, there was real sadness at his passing. I voted as I did, not because I had wanted a leadership contest, or precipitated one. I voted for change, with a heavy heart and a troubled conscience, because it seemed to me that it was better, once the crisis began, to finish the business now.
The alternative, once the 25 letters were in, was to let a wounded leader stagger on, having already sustained what would have been by any standards a major revolt against his authority.
Both options were ghastly; one offered fractionally more hope than the other. If the Tory party wants to avoid turning a crisis into a disaster, it must now find a way of choosing a successor as quickly and cleanly as possible.
Why should this question be pushed out to the membership again, to the poor bloody infantry? Perhaps the party in the country wants to spend three months, as we did last time, gnawing our entrails while Charlie Kennedy does his ridiculous act of impersonating the leader of the Opposition. I can't believe it.
As Iain Duncan Smith pointed out yesterday, there are big political events coming up. There is the Hutton report, where Blair has been caught out in at least one barefaced lie. He said that he had no hand in the leaking of the name of poor David Kelly.
That lie was nailed fair and square by Sir Kevin Tebbit, permanent secretary at the MoD. He amply confirmed prime ministerial involvement in pushing the name of David Kelly out to the press, a move which - and this is a heavy but irresistible conclusion - led to that man's tragic end.
Doesn't Blair deserve to be held to account for this? Indeed, when people have asked me, over the last few days, "whether I think the leader can survive", I say that it is quite astonishing that Tony Blair can remain in office, having tried so pathetically and so unnecessarily to cover up his actions.
We need someone who can expose the detail of that prime ministerial deception. We need a leader of forensic skill, and we need him fast. And when I say we, I don't just mean the Parliamentary Conservative Party. The whole country needs him.
Many people are now hugely over-borrowed, at a time when interest rates may be about to rise. The Government has made their position worse by raising taxes exorbitantly and failing to use the money wisely to improve public services.
Shouldn't someone explicate what Gordon Brown has done and hold him to account for his larceny? That is the job of the official Opposition, and we can't wait for three months while Tory members engage in disputations about who should step up to the plate.
The democratic system looked cool and modern and Scandinavian. Instead, it has led to a nightmare: first there was the business of the secret collection of 25 MPs' signatures, a dreadful game of blind shove-ha'penny in which conspirators egg on their colleagues to push the leader over the edge.
Then there is the demented system of asking activists to pronounce on the mettle of people they can only know by reputation.
Many party supporters have offered me all sorts of advice over the last few days. But no one has said they think the question should be remitted, once again, to the membership. Quite the reverse. The message I get is that this was a problem generated by the parliamentary party and the problem can be solved by the parliamentary party.
I do not mean that this is a job for the men in grey suits or a cabal of cigar-smoking whips. The whole parliamentary party, after all, is little more than a cabal. There are only 160-odd Tory MPs; we fit easily into Committee Room 14. Is it beyond the wit of man for us to sort this out by ourselves?
All it requires is a sense of selflessness by a very small number and a willingness to work for the good of the group. The point of being an opposition MP is not, surely, to exercise one's political virility by engaging in sporadic leadership contests. It is to help your party to get into power.
That is why whoever succeeds IDS should as a matter of urgency implore the following people to serve on the front bench. William Hague is too brilliant a politician to languish on the backbenches. Ken Clarke strikes fear in Labour hearts. Michael Portillo would add hugely to the party's strength. Is there no role that can be found, commensurate with their dignity? There are many others, new faces and old.
Now is the time for all good men, especially those who have so far ruled themselves out, to come to the aid of the party. It is a time for guts and determination and unity. Because believe me, this may be our last chance.”
Now is the time for all good men to come to the aid of the party
por Boris Johnson (in The Daily Telegraph, 30/10/2003)
“There was a total silence in the committee room as Iain Duncan Smith's fate was read out, as if we were all suddenly stunned by yet another Tory assassination, yet another regicide. Iain was a far better Tory leader than he was often given credit for.
He rescued the party's position in the polls; he promoted a host of new policies on health, education and welfare; he stormed to victory in the council elections. Over the last few days, as the crisis enveloped him, he showed considerable courage, character and elan.
Even among the 90 of us who voted to end his leadership, there was real sadness at his passing. I voted as I did, not because I had wanted a leadership contest, or precipitated one. I voted for change, with a heavy heart and a troubled conscience, because it seemed to me that it was better, once the crisis began, to finish the business now.
The alternative, once the 25 letters were in, was to let a wounded leader stagger on, having already sustained what would have been by any standards a major revolt against his authority.
Both options were ghastly; one offered fractionally more hope than the other. If the Tory party wants to avoid turning a crisis into a disaster, it must now find a way of choosing a successor as quickly and cleanly as possible.
Why should this question be pushed out to the membership again, to the poor bloody infantry? Perhaps the party in the country wants to spend three months, as we did last time, gnawing our entrails while Charlie Kennedy does his ridiculous act of impersonating the leader of the Opposition. I can't believe it.
As Iain Duncan Smith pointed out yesterday, there are big political events coming up. There is the Hutton report, where Blair has been caught out in at least one barefaced lie. He said that he had no hand in the leaking of the name of poor David Kelly.
That lie was nailed fair and square by Sir Kevin Tebbit, permanent secretary at the MoD. He amply confirmed prime ministerial involvement in pushing the name of David Kelly out to the press, a move which - and this is a heavy but irresistible conclusion - led to that man's tragic end.
Doesn't Blair deserve to be held to account for this? Indeed, when people have asked me, over the last few days, "whether I think the leader can survive", I say that it is quite astonishing that Tony Blair can remain in office, having tried so pathetically and so unnecessarily to cover up his actions.
We need someone who can expose the detail of that prime ministerial deception. We need a leader of forensic skill, and we need him fast. And when I say we, I don't just mean the Parliamentary Conservative Party. The whole country needs him.
Many people are now hugely over-borrowed, at a time when interest rates may be about to rise. The Government has made their position worse by raising taxes exorbitantly and failing to use the money wisely to improve public services.
Shouldn't someone explicate what Gordon Brown has done and hold him to account for his larceny? That is the job of the official Opposition, and we can't wait for three months while Tory members engage in disputations about who should step up to the plate.
The democratic system looked cool and modern and Scandinavian. Instead, it has led to a nightmare: first there was the business of the secret collection of 25 MPs' signatures, a dreadful game of blind shove-ha'penny in which conspirators egg on their colleagues to push the leader over the edge.
Then there is the demented system of asking activists to pronounce on the mettle of people they can only know by reputation.
Many party supporters have offered me all sorts of advice over the last few days. But no one has said they think the question should be remitted, once again, to the membership. Quite the reverse. The message I get is that this was a problem generated by the parliamentary party and the problem can be solved by the parliamentary party.
I do not mean that this is a job for the men in grey suits or a cabal of cigar-smoking whips. The whole parliamentary party, after all, is little more than a cabal. There are only 160-odd Tory MPs; we fit easily into Committee Room 14. Is it beyond the wit of man for us to sort this out by ourselves?
All it requires is a sense of selflessness by a very small number and a willingness to work for the good of the group. The point of being an opposition MP is not, surely, to exercise one's political virility by engaging in sporadic leadership contests. It is to help your party to get into power.
That is why whoever succeeds IDS should as a matter of urgency implore the following people to serve on the front bench. William Hague is too brilliant a politician to languish on the backbenches. Ken Clarke strikes fear in Labour hearts. Michael Portillo would add hugely to the party's strength. Is there no role that can be found, commensurate with their dignity? There are many others, new faces and old.
Now is the time for all good men, especially those who have so far ruled themselves out, to come to the aid of the party. It is a time for guts and determination and unity. Because believe me, this may be our last chance.”
quarta-feira, outubro 29, 2003
OUR MAN IN ANGOLA
O Anarcoconservador fala-nos da visita de Durão Barroso a Angola. Escreve JAC: "Faz-me mal ver o nosso primeiro ministro a visitar um assassino. José Eduardo dos Santos há anos que o é."
É bom lembrar alguns factos. Angola é um dos países mais ricos de África. Só do negócio do petróleo, o governo angolano tem arrecadado em média, por ano, 3,5 biliões de dólares. A fazer fé nas últimas previsões, este número irá crescer substancialmente durante a próxima década. No entanto, segundo um dos últimos relatório da Global Witness (um pequeno grupo de pressão inglês), estas receitas têm contribuído mais para a destruição de Angola do que para o seu desenvolvimento. O FMI, por seu lado, tem assistido à continuada recusa, por parte de Luanda, em fornecer uma explicação clara sobre o verdadeiro destino do dinheiro. Ao que parece, o governo colocou um bypass eficaz no orçamento, que permite o desvio do grosso das receitas, directamente para as mãos da presidência. Apesar deste aparente secretismo, sabe-se que o dinheiro vai direitinho para a compra de armamento e para o financiamento da pesada e cada vez mais abastada oligarquia de Estado. Por outro lado, à medida que o dinheiro é gasto, as contas são reequilibradas com o recurso a onerosos empréstimos de curto prazo, nos quais a produção futura de petróleo tem servido de garantia. Graças a isso, estima-se que os lucros provenientes do petróleo dos próximos três anos estejam já completamente assimilados. Alheia a tudo isto, fora das cidades, encontramos uma população que trava diariamente uma batalha inglória pela sua própria sobrevivência, onde a miséria abunda, as condições de higiene são precárias, a assistência médica é escassa, os alimentos rareiam e os estropiados da inenarrável guerra entre a UNITA e o MPLA estão ainda à vista de todos. No centro deste mórbido cenário encontra-se um governo acéfalo, liderado por um «príncipe», que se limita a servir única e exclusivamente os seus interesses – os quais só por acaso coincidem com os da população.
Esta crónica e doentia situação tem servido de cenário para o «bom» e «saudável» relacionamento entre Portugal e Angola nos últimos anos, pelo menos no plano diplomático. Em nome de uma patética lusofonia, que ninguém sabe muito bem o que é, o Estado Português e a sua realpolitik-de-trazer-por-casa tem desviado o olhar do horror e tem convivido, alegre e descontraidamente, com os senhores da guerra. Em nome de uma má consciência ou de interesses económicos de meia-dúzia de empresários (aliás legítimos), adoptou uma estratégia hipócrita e cobarde que tem servido para sonegar aquilo que deveria ser revelado, discutido e denunciado: os gritantes casos de atropelo aos mais elementares direitos humanos, perpetrados por um regime que só muito aparentemente (estou a ser benevolente) se confunde com um Estado de direito e uma democracia. Sobre essa matéria, a esquerda de passeata portuguesa, sempre na linha da frente no que aos direitos humanos diz respeito, não solta um pio nem gasta a mínima sola.
Não é de admirar que elementos próximos do Governo de Angola – um ministro, um deputado e o jornal oficial do regime – tenham, no passado, caluniado o Dr. Mário Soares, quando ele denunciou a situação no Parlamento Europeu. Assim como não é surpresa que o inefável Jaime Gama, o previsível Guterres e, agora, Durão Barroso, muito ao jeito da doutrina do consenso e da tolerância, teimem em beijar a mão ao Sr. José Eduardo. O amorfismo, a falta de coragem e de determinação dos governos portugueses perante Angola é já longa e nem deveria espantar ninguém. O Sr. José Eduardo dos Santos vai continuar a fumar Português Suave.
O Anarcoconservador fala-nos da visita de Durão Barroso a Angola. Escreve JAC: "Faz-me mal ver o nosso primeiro ministro a visitar um assassino. José Eduardo dos Santos há anos que o é."
É bom lembrar alguns factos. Angola é um dos países mais ricos de África. Só do negócio do petróleo, o governo angolano tem arrecadado em média, por ano, 3,5 biliões de dólares. A fazer fé nas últimas previsões, este número irá crescer substancialmente durante a próxima década. No entanto, segundo um dos últimos relatório da Global Witness (um pequeno grupo de pressão inglês), estas receitas têm contribuído mais para a destruição de Angola do que para o seu desenvolvimento. O FMI, por seu lado, tem assistido à continuada recusa, por parte de Luanda, em fornecer uma explicação clara sobre o verdadeiro destino do dinheiro. Ao que parece, o governo colocou um bypass eficaz no orçamento, que permite o desvio do grosso das receitas, directamente para as mãos da presidência. Apesar deste aparente secretismo, sabe-se que o dinheiro vai direitinho para a compra de armamento e para o financiamento da pesada e cada vez mais abastada oligarquia de Estado. Por outro lado, à medida que o dinheiro é gasto, as contas são reequilibradas com o recurso a onerosos empréstimos de curto prazo, nos quais a produção futura de petróleo tem servido de garantia. Graças a isso, estima-se que os lucros provenientes do petróleo dos próximos três anos estejam já completamente assimilados. Alheia a tudo isto, fora das cidades, encontramos uma população que trava diariamente uma batalha inglória pela sua própria sobrevivência, onde a miséria abunda, as condições de higiene são precárias, a assistência médica é escassa, os alimentos rareiam e os estropiados da inenarrável guerra entre a UNITA e o MPLA estão ainda à vista de todos. No centro deste mórbido cenário encontra-se um governo acéfalo, liderado por um «príncipe», que se limita a servir única e exclusivamente os seus interesses – os quais só por acaso coincidem com os da população.
Esta crónica e doentia situação tem servido de cenário para o «bom» e «saudável» relacionamento entre Portugal e Angola nos últimos anos, pelo menos no plano diplomático. Em nome de uma patética lusofonia, que ninguém sabe muito bem o que é, o Estado Português e a sua realpolitik-de-trazer-por-casa tem desviado o olhar do horror e tem convivido, alegre e descontraidamente, com os senhores da guerra. Em nome de uma má consciência ou de interesses económicos de meia-dúzia de empresários (aliás legítimos), adoptou uma estratégia hipócrita e cobarde que tem servido para sonegar aquilo que deveria ser revelado, discutido e denunciado: os gritantes casos de atropelo aos mais elementares direitos humanos, perpetrados por um regime que só muito aparentemente (estou a ser benevolente) se confunde com um Estado de direito e uma democracia. Sobre essa matéria, a esquerda de passeata portuguesa, sempre na linha da frente no que aos direitos humanos diz respeito, não solta um pio nem gasta a mínima sola.
Não é de admirar que elementos próximos do Governo de Angola – um ministro, um deputado e o jornal oficial do regime – tenham, no passado, caluniado o Dr. Mário Soares, quando ele denunciou a situação no Parlamento Europeu. Assim como não é surpresa que o inefável Jaime Gama, o previsível Guterres e, agora, Durão Barroso, muito ao jeito da doutrina do consenso e da tolerância, teimem em beijar a mão ao Sr. José Eduardo. O amorfismo, a falta de coragem e de determinação dos governos portugueses perante Angola é já longa e nem deveria espantar ninguém. O Sr. José Eduardo dos Santos vai continuar a fumar Português Suave.
AS PRAXES
Pacheco Pereira, no seu habitual e sábio comentário no Jornal da Noite de domingo (SIC), tocou num ponto importante em relação às praxes académicas. Não é só a natureza imbecil e, muitas vezes, doentia dos que praticam as praxes que importa denunciar. É também a forma apática e estranhamente conformista como os caloiros se deixam violentar sem o mínimo protesto ou a mais leve contestação. Aflige-me verificar como jovens de dezoito anos - ou seja, jovens que, supostamente, já têm alguma noção dos seus direitos e capacidade para fazer escolhas (por exemplo, políticas) – não sabem dizer “Não!”. Eu, que não fui nem mais nem menos que os meus colegas no tempo em que frequentei a universidade, recusei ser figurino desse circo. Tive a consciência de que poderia escolher entre ser ou não ser humilhado ou maltratado. Por isso, ninguém me tocou.
Apetecia-me recorrer a Nelson Rodrigues para dissertar sobre estes «jovens» de agora. Mas não o faço. Digo apenas isto: não é só a bestialidade e a boçalidade dos pseudo-doutores praxistas que está aqui em causa. É também a total imaturidade, a latente letargia e a falta de sentido crítico que caracterizam, hoje em dia, os jovens acabados de entrar na maioridade. No fundo, muitos deles acabarão iguais aos «engraçadinhos» que agora praxam. Infelizmente, parece ser tudo farinha do mesmo saco.
Pacheco Pereira, no seu habitual e sábio comentário no Jornal da Noite de domingo (SIC), tocou num ponto importante em relação às praxes académicas. Não é só a natureza imbecil e, muitas vezes, doentia dos que praticam as praxes que importa denunciar. É também a forma apática e estranhamente conformista como os caloiros se deixam violentar sem o mínimo protesto ou a mais leve contestação. Aflige-me verificar como jovens de dezoito anos - ou seja, jovens que, supostamente, já têm alguma noção dos seus direitos e capacidade para fazer escolhas (por exemplo, políticas) – não sabem dizer “Não!”. Eu, que não fui nem mais nem menos que os meus colegas no tempo em que frequentei a universidade, recusei ser figurino desse circo. Tive a consciência de que poderia escolher entre ser ou não ser humilhado ou maltratado. Por isso, ninguém me tocou.
Apetecia-me recorrer a Nelson Rodrigues para dissertar sobre estes «jovens» de agora. Mas não o faço. Digo apenas isto: não é só a bestialidade e a boçalidade dos pseudo-doutores praxistas que está aqui em causa. É também a total imaturidade, a latente letargia e a falta de sentido crítico que caracterizam, hoje em dia, os jovens acabados de entrar na maioridade. No fundo, muitos deles acabarão iguais aos «engraçadinhos» que agora praxam. Infelizmente, parece ser tudo farinha do mesmo saco.
NELSON RODRIGUES
Um mail de Maria Martins:
"Sou uma fã da chamada blogosfera e leio diariamente 3 ou 4 blogues, entre os
quais o seu. Quando tenho tempo perco-me e leio os "outros"....:) Mas, o meu mail tem um objectivo: que livros tem publicados em Portugal o
Nelson Rodrigues e em que editora? sabe?
Já tinha ouvido falar do Nelson Rodrigues, Jornalista, através de um amigo
meu brasileiro, mas o escritor é tão falado no seu blogue que, confesso,
despertou-me a curiosidade.
Pode ajudar-me?"
Cara Maria: que eu saiba, não existem obras do Nelson Rodrigues editadas em Portugal. Mas não há problema. Pode encontrar grande parte da sua obra na editora brasileira Companhia das Letras (não confundir com Campo de Letras), com coordenação de Ruy Castro, e outra parte na editora brasileira Nova Fronteira. Grosso modo, as colectâneas de textos e crónicas estão na Companhia das Letras. O teatro completo na Nova Fronteira.
Da Companhia das Letras recomendo as seguintes obras:
O Óbvio Ululante
À sombra das chuteiras imortais: crónicas de futebol
A menina sem estrela
A pátria em chuteiras
A cabra vadia
O reaccionário
O remador de Ben-Hur
Flor de obsessão: as 1000 melhores frases de Nelson Rodrigues
Outra obra essencial, também com a chancela da Companhia das Letras, é a biografia de Nelson por Ruy Castro: O Anjo Pornográfico.
A distribuidora em Portugal da Companhia das Letras é a Dinalivro. É provável que encontre estes livros nas melhores livrarias do país. Mas se tiver dificuldades, ligue-se à livraria brasileira on-line Submarino.
Um abraço e escreva sempre.
PS: Nelson escreveu ainda com o pseudónimo de Suzana Flag.
Um mail de Maria Martins:
"Sou uma fã da chamada blogosfera e leio diariamente 3 ou 4 blogues, entre os
quais o seu. Quando tenho tempo perco-me e leio os "outros"....:) Mas, o meu mail tem um objectivo: que livros tem publicados em Portugal o
Nelson Rodrigues e em que editora? sabe?
Já tinha ouvido falar do Nelson Rodrigues, Jornalista, através de um amigo
meu brasileiro, mas o escritor é tão falado no seu blogue que, confesso,
despertou-me a curiosidade.
Pode ajudar-me?"
Cara Maria: que eu saiba, não existem obras do Nelson Rodrigues editadas em Portugal. Mas não há problema. Pode encontrar grande parte da sua obra na editora brasileira Companhia das Letras (não confundir com Campo de Letras), com coordenação de Ruy Castro, e outra parte na editora brasileira Nova Fronteira. Grosso modo, as colectâneas de textos e crónicas estão na Companhia das Letras. O teatro completo na Nova Fronteira.
Da Companhia das Letras recomendo as seguintes obras:
O Óbvio Ululante
À sombra das chuteiras imortais: crónicas de futebol
A menina sem estrela
A pátria em chuteiras
A cabra vadia
O reaccionário
O remador de Ben-Hur
Flor de obsessão: as 1000 melhores frases de Nelson Rodrigues
Outra obra essencial, também com a chancela da Companhia das Letras, é a biografia de Nelson por Ruy Castro: O Anjo Pornográfico.
A distribuidora em Portugal da Companhia das Letras é a Dinalivro. É provável que encontre estes livros nas melhores livrarias do país. Mas se tiver dificuldades, ligue-se à livraria brasileira on-line Submarino.
Um abraço e escreva sempre.
PS: Nelson escreveu ainda com o pseudónimo de Suzana Flag.
”PARA SOPHIA”
Sofia é o nome da minha filha. E é também o nome de uma grande poetisa. O leitor André Bonito chama-me a atenção para a crónica de Vasco Graça Moura sobre a Sophia. Vale a pena lê-la. À crónica e à Sophia de Mello Breyner Andresen.
Sofia é o nome da minha filha. E é também o nome de uma grande poetisa. O leitor André Bonito chama-me a atenção para a crónica de Vasco Graça Moura sobre a Sophia. Vale a pena lê-la. À crónica e à Sophia de Mello Breyner Andresen.
terça-feira, outubro 28, 2003
O REFERENDO
Eu acho que se deveria fazer um referendo para se saber se o povo português quer um referendo sobre a Constituição Europeia. De resto, e agora mais a sério, estou com o Pedro Lomba: eu não quero uma Constituição Europeia. Dizer isto não é ser contra a União Europeia, o Euro, o alargamento, etc. É, simplesmente, ser contra aquilo que esta ideia de Constituição esconde: uma Europa federada, liderada por ideólogos, tecnocratas e racionalistas encartados. Eu quero que as coisas surjam com tempo, sem precipitações e imposições by the book. Além do mais, sou um irremediável preconceituoso: detesto o Sr. Valéry e o Sr. Chirac.
Eu acho que se deveria fazer um referendo para se saber se o povo português quer um referendo sobre a Constituição Europeia. De resto, e agora mais a sério, estou com o Pedro Lomba: eu não quero uma Constituição Europeia. Dizer isto não é ser contra a União Europeia, o Euro, o alargamento, etc. É, simplesmente, ser contra aquilo que esta ideia de Constituição esconde: uma Europa federada, liderada por ideólogos, tecnocratas e racionalistas encartados. Eu quero que as coisas surjam com tempo, sem precipitações e imposições by the book. Além do mais, sou um irremediável preconceituoso: detesto o Sr. Valéry e o Sr. Chirac.
sábado, outubro 25, 2003
DESMANCHA PRAZERES
Hoje, no DNa, Pedro Rolo Duarte revelou a identidade do Sr. Pipi. E eu a pensar que era ele.
Hoje, no DNa, Pedro Rolo Duarte revelou a identidade do Sr. Pipi. E eu a pensar que era ele.
SLB
Observo o luxo do novo estádio do Benfica e alojam-se-me duas questões nas meninges:
1.ª) O SLB não estava em falência técnica?
2.ª) Por entre as salas de hidromassagem e de convívio, a sauna e os banhos turcos, como é que eles vão convencer os jogadores a sair dali para jogar à bola?
Observo o luxo do novo estádio do Benfica e alojam-se-me duas questões nas meninges:
1.ª) O SLB não estava em falência técnica?
2.ª) Por entre as salas de hidromassagem e de convívio, a sauna e os banhos turcos, como é que eles vão convencer os jogadores a sair dali para jogar à bola?
RETINOL
Ao Dr. Manuel Maria Carrilho recomendava-lhe o uso do Retinol Cleansing Lotion da Roc. O Retinol Cleansing Lotion é um leite desmaquilhante anti-rugas. Cada utilização ajuda a combater as rugas e as rídulas de expressão. Numa altura em que o Dr. Carrilho volta a ensaiar um novo número – recorrendo, para o efeito, ao pavoneamento televisivo e à redacção de um rol de trivialidades em tom inconclusivo e inconsequente - seria extremamente útil continuar a envergar uma tez limpa e pura depois da cosmética.
Ao Dr. Manuel Maria Carrilho recomendava-lhe o uso do Retinol Cleansing Lotion da Roc. O Retinol Cleansing Lotion é um leite desmaquilhante anti-rugas. Cada utilização ajuda a combater as rugas e as rídulas de expressão. Numa altura em que o Dr. Carrilho volta a ensaiar um novo número – recorrendo, para o efeito, ao pavoneamento televisivo e à redacção de um rol de trivialidades em tom inconclusivo e inconsequente - seria extremamente útil continuar a envergar uma tez limpa e pura depois da cosmética.
sexta-feira, outubro 24, 2003
AFINAL...
...não é que vexei o Sr. Prof. Doutor-por-extenso Eduardo Prado Coelho ao tratá-lo, simplória e simplesmente, por "Dr."? Agradeço ao Statler, sempre atento nestas andanças, o favor de me corrigir. E avisar. Mesmo assim, e uma vez que não corrijo ou apago o que escrevo, temo que cometi uma infracção, punível com coima e um acidental tabefe.
...não é que vexei o Sr. Prof. Doutor-por-extenso Eduardo Prado Coelho ao tratá-lo, simplória e simplesmente, por "Dr."? Agradeço ao Statler, sempre atento nestas andanças, o favor de me corrigir. E avisar. Mesmo assim, e uma vez que não corrijo ou apago o que escrevo, temo que cometi uma infracção, punível com coima e um acidental tabefe.
O SR. DR. EDUARDO PRADO COELHO
A crónica de ontem (quinta-feira) de Eduardo Prado Coelho é um portento épêcêniano. EPC consegue, uma vez mais, explicar o inexplicável, farejar o inescrutável, decifrar o indecifrável, dissecar o incognoscível. O juiz Rui Teixeira terá, supostamente, tratado Paulo Pedroso por “Senhor Paulo Pedroso”. Fim da história? Não. EPC explica:
”A utilização da fórmula "o senhor" está carregada de pressupostos ideológicos. Rui Teixeira pretende provar que, perante a justiça, todos são iguais: não há doutores nem meios-doutores, deputados nem meios-deputados. Mas acaba por provar o contrário. Vejamos porquê.
Em Portugal, a norma leva a tratar as pessoas pelos seus títulos: desde "o senhor guarda" até ao "senhor doutor", passando pelo "senhor engenheiro", o "senhor secretário-geral", o "senhor arquitecto", ou o "mister" com que são designados os treinadores de futebol. Lembro-me de mostrar a um funcionário administrativo francês a lista dos portugueses para uma determinada comissão mista para a cultura: do lado francês, todos eram apenas "monsieur"; do lado português só havia "doutores". Ora como em França os "doutores" são médicos, o meu interlocutor espantava-se com uma tão forte representação do corpo clínico. Já do lado da emigração havia situações divertidas: os membros da nossa comunidade tratavam respeitosamente o embaixador por "senhor embaixador", mas, depois, desabituados do tratamento por "o senhor", faziam uma tradução directa do "vous" e diziam "você". O embaixador cambaleava um pouco, mas depois recompunha-se perante aquele "você" que parecia agressivo mas não era.
Tratando um professor universitário e deputado por "o senhor Pedroso", o juiz Rui Teixeira não está a pôr todos no mesmo nível, mas a baixar o nível de Paulo Pedroso, porque cria para ele uma infracção à norma. Ser equitativo nas formas de tratamento é seguir a norma vigente numa língua. Transgredi-la é criar um efeito sobre o outro que, neste caso, é claramente vexatório.”
Eduardo Prado Coelho – perdão: Dr. Eduardo Prado Coelho (Deus me livre de incorrer num abaixamento do nível do Dr. Eduardo Prado Coelho) – conseguiu encontrar mais uma prova cabal da cabala, a acrescentar a tantas outras. E, claro, da má-fé do juiz Rui Teixeira. O Dr. Eduardo Prado Coelho (reparem como insisto no “Dr.” para não o vexar) não sabe se o juiz Rui Teixeira tratou Jorge Ritto, Hugo Marçal ou Ferreira Dinis por “Doutores”; não sabe se, ao longo da sua actividade como juiz, terá tratado outros “professores universitários” ou “licenciados” por “Doutores” ou, simplesmente, por “Senhores”. A haver diferenças de tratamento, só assim se poderia aventar a possibilidade, ela própria remota, de uma atitude descriminatória por parte de Rui Teixeira em relação a um arguido em concreto. Das duas uma: ou o Dr. Eduardo Prado Coelho arranjou, apressada mas diligentemente, mais um argumento para colocar em causa as intenções e o comportamento de Rui Teixeira enquanto juiz, ou, no fundo, o Dr. Eduardo Prado Coelho (pós-modernista encartado) aprecia e pretende ajudar a perpetuar a forma absolutamente patética e estupidamente reverencial como, no Portugal de hoje, nos passámos todos a tratar por “Doutores”. O que nos remete para outra questão: e se, em Portugal, se fizesse um back to basics de forma a desvalorizar um pouquinho a forma e a cosmética, para nos concentrarmos no que é essencial?
A crónica de ontem (quinta-feira) de Eduardo Prado Coelho é um portento épêcêniano. EPC consegue, uma vez mais, explicar o inexplicável, farejar o inescrutável, decifrar o indecifrável, dissecar o incognoscível. O juiz Rui Teixeira terá, supostamente, tratado Paulo Pedroso por “Senhor Paulo Pedroso”. Fim da história? Não. EPC explica:
”A utilização da fórmula "o senhor" está carregada de pressupostos ideológicos. Rui Teixeira pretende provar que, perante a justiça, todos são iguais: não há doutores nem meios-doutores, deputados nem meios-deputados. Mas acaba por provar o contrário. Vejamos porquê.
Em Portugal, a norma leva a tratar as pessoas pelos seus títulos: desde "o senhor guarda" até ao "senhor doutor", passando pelo "senhor engenheiro", o "senhor secretário-geral", o "senhor arquitecto", ou o "mister" com que são designados os treinadores de futebol. Lembro-me de mostrar a um funcionário administrativo francês a lista dos portugueses para uma determinada comissão mista para a cultura: do lado francês, todos eram apenas "monsieur"; do lado português só havia "doutores". Ora como em França os "doutores" são médicos, o meu interlocutor espantava-se com uma tão forte representação do corpo clínico. Já do lado da emigração havia situações divertidas: os membros da nossa comunidade tratavam respeitosamente o embaixador por "senhor embaixador", mas, depois, desabituados do tratamento por "o senhor", faziam uma tradução directa do "vous" e diziam "você". O embaixador cambaleava um pouco, mas depois recompunha-se perante aquele "você" que parecia agressivo mas não era.
Tratando um professor universitário e deputado por "o senhor Pedroso", o juiz Rui Teixeira não está a pôr todos no mesmo nível, mas a baixar o nível de Paulo Pedroso, porque cria para ele uma infracção à norma. Ser equitativo nas formas de tratamento é seguir a norma vigente numa língua. Transgredi-la é criar um efeito sobre o outro que, neste caso, é claramente vexatório.”
Eduardo Prado Coelho – perdão: Dr. Eduardo Prado Coelho (Deus me livre de incorrer num abaixamento do nível do Dr. Eduardo Prado Coelho) – conseguiu encontrar mais uma prova cabal da cabala, a acrescentar a tantas outras. E, claro, da má-fé do juiz Rui Teixeira. O Dr. Eduardo Prado Coelho (reparem como insisto no “Dr.” para não o vexar) não sabe se o juiz Rui Teixeira tratou Jorge Ritto, Hugo Marçal ou Ferreira Dinis por “Doutores”; não sabe se, ao longo da sua actividade como juiz, terá tratado outros “professores universitários” ou “licenciados” por “Doutores” ou, simplesmente, por “Senhores”. A haver diferenças de tratamento, só assim se poderia aventar a possibilidade, ela própria remota, de uma atitude descriminatória por parte de Rui Teixeira em relação a um arguido em concreto. Das duas uma: ou o Dr. Eduardo Prado Coelho arranjou, apressada mas diligentemente, mais um argumento para colocar em causa as intenções e o comportamento de Rui Teixeira enquanto juiz, ou, no fundo, o Dr. Eduardo Prado Coelho (pós-modernista encartado) aprecia e pretende ajudar a perpetuar a forma absolutamente patética e estupidamente reverencial como, no Portugal de hoje, nos passámos todos a tratar por “Doutores”. O que nos remete para outra questão: e se, em Portugal, se fizesse um back to basics de forma a desvalorizar um pouquinho a forma e a cosmética, para nos concentrarmos no que é essencial?
quinta-feira, outubro 23, 2003
SAMPAIO SERÁ SEMPRE SAMPAIO
Pela enésima vez na sua vida, fazendo uso da sua prosa redonda e mística, Jorge Sampaio discursou sobre assunto de «extrema gravidade». E pela enésima vez na sua vida, às massas disse nada e às instituições coisa nenhuma. E vice-versa.
Pela enésima vez na sua vida, fazendo uso da sua prosa redonda e mística, Jorge Sampaio discursou sobre assunto de «extrema gravidade». E pela enésima vez na sua vida, às massas disse nada e às instituições coisa nenhuma. E vice-versa.
O MEU MOMENTO “LUX”
ou Como Se Escreve Uma Feérica Notação Das Mil Apresentações e Reconhecimentos
Quarta-feira, 22 de Outubro de 2003. Munido de um convite recebido seis dias antes, deixei a minha querida terrinha por volta das 19:45 para assistir ao lançamento do livro O Meu Pipi, da autoria de um tipo chamado Anónimo. Como bom e casto provinciano, não estou habituado a estas andanças. À medida que deixava o ar puro alentejano e mergulhava na cortina bafienta de Lisboa e arredores, fui acometido de diversas arritmias e convulsões. Às 21:15, ao passar pela primeira vez junto à porta do local do evento (já lá iremos), tive, pela primeira vez, a noção clara de que o nível de nervosismo que se tinha apoderado de mim, começava a ser detectável numa escala de Richter. Como diria o Pipi, coisa de ‘roto’. Mas quem fala a verdade não merece castigo.
Primeiro embate da noite: o excelentíssimo Royal Maxime. Eis um estabelecimento nocturno a que serve que nem uma luva o epíteto démode de 'boîte'. Todas as boîtes deveriam ser assim: veludo carmim em abundância, alcatifas gastas, barmen com cara de poucos amigos, nichos acolhedores a cheirar a mofo, candelabros e talhas douradas um pouco por todo o lado, empregadas de mesa a entrarem na fase da recauchutagem, gin da marca Larios. Nada de decorações pós-modernas, mobiliário de assinatura, bebidas de marca (Absolut’s e coisas do género) ou a acidental manequim a servir-nos uma bebida minimamente decente. Uma casa destas tem um estatuto a preservar.
Uma vez lá dentro, pensei: acalma-te Mac, com um pouquinho de sorte passas incógnito. Este reconfortante e ingénuo pensamento durou sensivelmente cinco minutos, o tempo suficiente para ser reconhecido pela primeira cara simpática da noite. Abordou-me com uma pergunta fulminante: “Contra a Corrente, não é?” Ainda pensei em fugir ou esgrimir umas palavras em russo. Não fui suficientemente rápido a estancar a veia da sinceridade. O rapaz, de quem eu não me recordo o nome (ele, certamente, perdoar-me-á) era o autor do imprescindível Picuinhices (um dos blogues que mais aprecio). Disse-lhe que sim, que era eu. Como pessoa educada, apresentou-me a vários membros dessa organização ao serviço de interesses obscuros, que dá pelo nome de União dos Blogues Livres (da qual faço parte). Em boa verdade, a coisa foi de tal forma rápida que fiquei sem saber quem era quem, à excepção do Miguel Câmara, a quem disse “tu és mais novo do que eu pensava” - observação assaz estúpida vinda de quem tem igualmente uma eterna cara de puto (facto confirmado pela Clara).
Ultrapassado o segundo embate, controlada a incontinência e graças, ainda, ao caro Picuinhas, conheci o Pedro Mexia, o Pedro Lomba e reencontrei essa jóia de pessoa que dá pelo nome de Nuno Miguel Guedes (que tinha conhecido este Verão, em Évora). E foi então que surgiu o grande momento da noite. Pelo menos o que mais aguardava. O livro? A identidade do Pipi? Não. O facto de estar prestes a conhecer a Charlotte. Confirmei, finalmente, o que se dizia por aí, à socapa: a Carla é linda. Linda mesmo: por dentro e por fora. Uma daquelas pessoas que irradia simpatia e afinidades por onde quer que passa. Ainda não refeito, tive o prazer de apertar a mão ao grande Carlos Quevedo, que me perguntou, envergando um fácies de quem está a sofrer pelo outro: “Estás a pensar continuar a viver em Évora o resto da tua vida?”. Como diria o Francisco, só os primeiros quinze anos é que custam…
Conheci, também, o impagável e impecável Ricardo de Araújo Pereira (tive pena de não ter abordado o Zé Diogo); reencontrei o meu mano maradona; conheci outro dos míticos pastilhentos: o Hugo/Hank (outro gajo porreiríssimo); roubei um beijo à Papoila e à Iccima. Finalmente, enquanto o Rui Unas lia excertos do livro, tive tempo para dar um autografo a um tipo particularmente suspeito (obviamente, falsifiquei a assinatura).
Quanto ao livro... qual livro?
PS: descobri quem é o Pipi. Era o único que não tinha o badge.
PPS: comprem o livro.
ou Como Se Escreve Uma Feérica Notação Das Mil Apresentações e Reconhecimentos
Quarta-feira, 22 de Outubro de 2003. Munido de um convite recebido seis dias antes, deixei a minha querida terrinha por volta das 19:45 para assistir ao lançamento do livro O Meu Pipi, da autoria de um tipo chamado Anónimo. Como bom e casto provinciano, não estou habituado a estas andanças. À medida que deixava o ar puro alentejano e mergulhava na cortina bafienta de Lisboa e arredores, fui acometido de diversas arritmias e convulsões. Às 21:15, ao passar pela primeira vez junto à porta do local do evento (já lá iremos), tive, pela primeira vez, a noção clara de que o nível de nervosismo que se tinha apoderado de mim, começava a ser detectável numa escala de Richter. Como diria o Pipi, coisa de ‘roto’. Mas quem fala a verdade não merece castigo.
Primeiro embate da noite: o excelentíssimo Royal Maxime. Eis um estabelecimento nocturno a que serve que nem uma luva o epíteto démode de 'boîte'. Todas as boîtes deveriam ser assim: veludo carmim em abundância, alcatifas gastas, barmen com cara de poucos amigos, nichos acolhedores a cheirar a mofo, candelabros e talhas douradas um pouco por todo o lado, empregadas de mesa a entrarem na fase da recauchutagem, gin da marca Larios. Nada de decorações pós-modernas, mobiliário de assinatura, bebidas de marca (Absolut’s e coisas do género) ou a acidental manequim a servir-nos uma bebida minimamente decente. Uma casa destas tem um estatuto a preservar.
Uma vez lá dentro, pensei: acalma-te Mac, com um pouquinho de sorte passas incógnito. Este reconfortante e ingénuo pensamento durou sensivelmente cinco minutos, o tempo suficiente para ser reconhecido pela primeira cara simpática da noite. Abordou-me com uma pergunta fulminante: “Contra a Corrente, não é?” Ainda pensei em fugir ou esgrimir umas palavras em russo. Não fui suficientemente rápido a estancar a veia da sinceridade. O rapaz, de quem eu não me recordo o nome (ele, certamente, perdoar-me-á) era o autor do imprescindível Picuinhices (um dos blogues que mais aprecio). Disse-lhe que sim, que era eu. Como pessoa educada, apresentou-me a vários membros dessa organização ao serviço de interesses obscuros, que dá pelo nome de União dos Blogues Livres (da qual faço parte). Em boa verdade, a coisa foi de tal forma rápida que fiquei sem saber quem era quem, à excepção do Miguel Câmara, a quem disse “tu és mais novo do que eu pensava” - observação assaz estúpida vinda de quem tem igualmente uma eterna cara de puto (facto confirmado pela Clara).
Ultrapassado o segundo embate, controlada a incontinência e graças, ainda, ao caro Picuinhas, conheci o Pedro Mexia, o Pedro Lomba e reencontrei essa jóia de pessoa que dá pelo nome de Nuno Miguel Guedes (que tinha conhecido este Verão, em Évora). E foi então que surgiu o grande momento da noite. Pelo menos o que mais aguardava. O livro? A identidade do Pipi? Não. O facto de estar prestes a conhecer a Charlotte. Confirmei, finalmente, o que se dizia por aí, à socapa: a Carla é linda. Linda mesmo: por dentro e por fora. Uma daquelas pessoas que irradia simpatia e afinidades por onde quer que passa. Ainda não refeito, tive o prazer de apertar a mão ao grande Carlos Quevedo, que me perguntou, envergando um fácies de quem está a sofrer pelo outro: “Estás a pensar continuar a viver em Évora o resto da tua vida?”. Como diria o Francisco, só os primeiros quinze anos é que custam…
Conheci, também, o impagável e impecável Ricardo de Araújo Pereira (tive pena de não ter abordado o Zé Diogo); reencontrei o meu mano maradona; conheci outro dos míticos pastilhentos: o Hugo/Hank (outro gajo porreiríssimo); roubei um beijo à Papoila e à Iccima. Finalmente, enquanto o Rui Unas lia excertos do livro, tive tempo para dar um autografo a um tipo particularmente suspeito (obviamente, falsifiquei a assinatura).
Quanto ao livro... qual livro?
PS: descobri quem é o Pipi. Era o único que não tinha o badge.
PPS: comprem o livro.
quarta-feira, outubro 22, 2003
HITCHENS, CHRISTOPHER
Não precisava de ler o Observer para perceber que ele é one of the most brilliant journalists of our time. Christopher Hitchens volta a prová-lo no pequeno/grande livro que acabei de ler: A Long Short War: The postponed Liberation of Iraq (Plume Book, Junho 2003). Há que dizê-lo com toda a frontalidade: mesmo não concordando com tudo o que escreve, Christopher Hitchens merece todo o meu respeito.
A Long Short War reúne, em pouco mais de cem páginas, as mais contundentes, livres e certeiras crónicas sobre a guerra iraquiana que se puderam ler em 2003.
Sempre incisivo, witty e conhecedor do terreno que pisa, Hitchens decompõe, com particular mestria, alguns dos argumentos pró-intervenção mas, acima de tudo, muitos dos argumentos anti-intervenção que ainda hoje se fazem ouvir. Hitchens não só tem conhecimento do que fala como confere perspectiva histórica à sua análise, alcançando, dessa forma, a posição mais correcta e segura para desmontar algumas ideias feitas sobre as posturas de certas figuras e Estados, putativamente equilibradas e altruístas. É, por exemplo, o caso de Chirac e da França. Aconteça o que acontecer no Iraque, as companhias petrolíferas francesas vão continuar activas nesse país. Tal como, aliás, no passado. O governo francês continua a trabalhar arduamente para que tal aconteça. Não resisto a transcrever uma passagem sobre Chirac:
“Here is a man ([Chirac] who had to run for reelection last year partly in order to preserve his immunity from prosecution, on charges of corruption that were grave. Here is a man who helped Saddam Hussein build a nuclear reactor and who knew very well what he wanted it for. Here is a man at the head of France who is, in effect, openly for sale. He puts me in mind of the banker is Flaubert’s L’Education Sentimental: a man so habituated to corruption that he would happily pay for the pleasure of selling himself.”
Hitchens lembra, também, a descarada hipocrisia de Villepin quando anunciava, enfatuado, que “a força é sempre a solução de último recurso”. Vraiment?. O que fez a França quando, por exemplo, enviou tropas para o Ruanda com o intuito de salvar parte do friendly establishment (o tal que tinha encetado um genocídio contra os Tutsi)?
Este não é, seguramente, um livro aconselhável a quem vociferou contra a intervenção com base nos argumentos da praxe: que os EUA só queriam, e querem, o petróleo iraquiano; que se trata de uma acção unilateral, sem o aval da ONU, logo sumariamente condenável; que a intervenção só piorará a vida dos iraquianos; que a intervenção não foi mais do que a confirmação da natureza imperial dos EUA, etc. etc. Quem quiser continuar agarrado a essas ideias fixas não deve ler uma só linha deste pequeno livro. Quem, por outro lado, quiser compreender um pouco melhor o que está em jogo na intervenção militar que derrubou o regime de Saddam pode, e deve, ler o livrinho. Lê-se em três horas. Não custa nada. Tal como o refrigerante, este livro “dá-te asas”. Fiquem com a última crónica, intitulada Oleaginous:
“In the waning days of the argument over whether to intervene in Iraq, I came to think that I could, with a 99 percent chance of being bang! on target and inflicting no collateral damage, spot an obvious phony. At the meeting or the debate, someone would get up and announce that of course we'd all be better off without the "bad guy" Saddam Hussein. Having cleared his or her throat in this manner, the phony would go on to say what the real problem was (East Timor sometimes, or the imminent obliteration of tens of thousands of Baghdadi civilians, or Ariel Sharon's plan to expel all the inhabitants of the West Bank under cover of an American imperialist war).
None of these hysterical predictions came true, but now I can't open a bulletin from the reactionary right or the anti-war left without being told that Iraq is already worse off without Saddam Hussein. And how can we tell that Iraq is worse off? Because contracts for its reconstruction are being awarded to American corporations. Of the three feasible alternatives (that the contracts go to American capitalists, or to some unspecified non-American capitalists, or that Iraqi oil production stays as it was), the supposed radicals appear to prefer the last of the three.
This view, which admittedly expresses a wider concern, can stand some examination. The Iraqi oil industry was until March 2003 a fiefdom of the Baath Party. Its revenues were mysteriously apportioned but went to the upkeep of a militaristic and dictatorial regime. Its physical plant was much decayed, as a consequence of U.N. sanctions. The oil-for-food program was exploited in the most cynical manner by members and clients of the palatial Saddam regime, who used the semilegal trade to enrich themselves while starving and neglecting the population. (By the way, now that sanctions can be properly lifted, let us remember that their very imposition was opposed by the anti-war spokesmen, who would have scrapped them without conditions even though they had been imposed by the sacrosanct majority of the United Nations.) Meanwhile, vast contracts were awarded, on the basis of political favoritism, to Russian and French consortia. At moments when the Baathist authorities felt themselves insecure, they would threaten to set fire to the oil wells or—as in late March—would actually do so.
In front of me is a copy of the Arab Times, published in Kuwait City and picked up during my recent trip to the region. It gives a matter-of-fact account of the state of affairs in the Rumaila field, as of March 29. About 10 oil wells were ablaze, many fewer than had been feared. (A great number of bombs and charges had been laid, but either the local officers did not obey the order, or the order never came, or the fields were secured by British and American special forces too swiftly to allow the planned sabotage to occur.)
At any rate, a burning well is a tough proposition and an uncapped well—permitting a wholesale discharge—an even tougher one. The situation was being handled by Boots and Coots, a fire-control company with an almost parodically American name, which is based in Houston. Boots and Coots, which also worked in Kurdistan and Kuwait after the much worse conflagrations of 1991, is subcontracted for the task by Kellogg, Brown, and Root (another name Harold Pinter might have coined for an American oil company), which is in turn a subdivision of Halliburton. And "Halliburton," which admittedly sounds more British and toney than Boots and Coots, was once headed by—cue mood music of sinister corporate skyscraper as the camera pans up in the pretitle sequence—Vice President Dick Cheney.
Well, if that doesn't give away the true motive for the war, I don't know what does. But unless the anti-war forces believe Saddam's fires should be allowed to burn out of control indefinitely, they must presumably have an idea of which outfit should have got the contract instead of Boots and Coots. I think we can be sure that the contract would not have gone to some windmill-power concern run by Naomi Klein or the anti-Starbucks Seattle coalition, in the hope of just blowing out the flames or of extinguishing them with Buddhist mantras. The number of companies able to deliver such expertise is very limited. The chief one is American and was personified for years by "Red" Adair—the movie version of his exploits (played by John Wayne himself!) was titled Hellfighters. The other main potential bidder, according to a recent letter in the London Times, is French. But would it not also be "blood for oil" to award the contract in that direction? After all, didn't the French habitually put profits in Iraq ahead of human rights and human life? More to the point, don't they still?
I want to be the first to agree that transparency in the administration and allocation of oil revenues is of the highest importance. For example, there is a gigantic amount of money involved in the U.N.-administered oil-for-food program. Vast quantities of this surplus are still unspent and are backed up somewhere within a complex bureaucracy. The Kurdish people, for example, are still waiting to see how much of their hard-won cash will be released for the rebuilding of their desolated homeland. Escrow isn't enough. All we know is that many U.N. officials are sitting contentedly on the transfers and that the great undisclosed balance is held in a French bank. Here's a good cause for the humanitarians to take up, if they are willing to do some work and some digging instead of mouthing a few easy slogans.
If you are as persuaded of the materialist conception of history as, say, I am, then you owe it to yourself to study the dialectic and to avoid tautology. A theory that seems to explain everything is just as good at explaining nothing. In Guatemala in 1954, and in Iran at about the same time, and later in Chile in 1973, it is true that the United Fruit Co., and the Anglo-Iranian oil corporation, and Pepsi, and ITT all influenced regime change too much. Sometimes, politics really was like a Bertolt Brecht script where the fat man in a top hat pays the bills and pulls all the strings.
But in Iraq this proposed scenario is believed in only by the puerile. It's the baby-oil theory. It was for the sake of real oil and for the grim-faced Saudis that Saddam Hussein was kept as a favorite by Washington during the 1980s and saved from overthrow in 1991. It was not for the sake of oil that the risky decision to cease this corrupt coexistence was made. But at least now the Iraqi people have a chance of controlling their own main resource, and it will be our task to ensure that the funding and revenue are transparent instead of opaque. This couldn't have been left to the oil interests who ran the place until recently, and it couldn't even have been attempted if we'd listened to the peaceniks, who strike me now more than ever as … oleaginous.” (18/04/2003)
Não precisava de ler o Observer para perceber que ele é one of the most brilliant journalists of our time. Christopher Hitchens volta a prová-lo no pequeno/grande livro que acabei de ler: A Long Short War: The postponed Liberation of Iraq (Plume Book, Junho 2003). Há que dizê-lo com toda a frontalidade: mesmo não concordando com tudo o que escreve, Christopher Hitchens merece todo o meu respeito.
A Long Short War reúne, em pouco mais de cem páginas, as mais contundentes, livres e certeiras crónicas sobre a guerra iraquiana que se puderam ler em 2003.
Sempre incisivo, witty e conhecedor do terreno que pisa, Hitchens decompõe, com particular mestria, alguns dos argumentos pró-intervenção mas, acima de tudo, muitos dos argumentos anti-intervenção que ainda hoje se fazem ouvir. Hitchens não só tem conhecimento do que fala como confere perspectiva histórica à sua análise, alcançando, dessa forma, a posição mais correcta e segura para desmontar algumas ideias feitas sobre as posturas de certas figuras e Estados, putativamente equilibradas e altruístas. É, por exemplo, o caso de Chirac e da França. Aconteça o que acontecer no Iraque, as companhias petrolíferas francesas vão continuar activas nesse país. Tal como, aliás, no passado. O governo francês continua a trabalhar arduamente para que tal aconteça. Não resisto a transcrever uma passagem sobre Chirac:
“Here is a man ([Chirac] who had to run for reelection last year partly in order to preserve his immunity from prosecution, on charges of corruption that were grave. Here is a man who helped Saddam Hussein build a nuclear reactor and who knew very well what he wanted it for. Here is a man at the head of France who is, in effect, openly for sale. He puts me in mind of the banker is Flaubert’s L’Education Sentimental: a man so habituated to corruption that he would happily pay for the pleasure of selling himself.”
Hitchens lembra, também, a descarada hipocrisia de Villepin quando anunciava, enfatuado, que “a força é sempre a solução de último recurso”. Vraiment?. O que fez a França quando, por exemplo, enviou tropas para o Ruanda com o intuito de salvar parte do friendly establishment (o tal que tinha encetado um genocídio contra os Tutsi)?
Este não é, seguramente, um livro aconselhável a quem vociferou contra a intervenção com base nos argumentos da praxe: que os EUA só queriam, e querem, o petróleo iraquiano; que se trata de uma acção unilateral, sem o aval da ONU, logo sumariamente condenável; que a intervenção só piorará a vida dos iraquianos; que a intervenção não foi mais do que a confirmação da natureza imperial dos EUA, etc. etc. Quem quiser continuar agarrado a essas ideias fixas não deve ler uma só linha deste pequeno livro. Quem, por outro lado, quiser compreender um pouco melhor o que está em jogo na intervenção militar que derrubou o regime de Saddam pode, e deve, ler o livrinho. Lê-se em três horas. Não custa nada. Tal como o refrigerante, este livro “dá-te asas”. Fiquem com a última crónica, intitulada Oleaginous:
“In the waning days of the argument over whether to intervene in Iraq, I came to think that I could, with a 99 percent chance of being bang! on target and inflicting no collateral damage, spot an obvious phony. At the meeting or the debate, someone would get up and announce that of course we'd all be better off without the "bad guy" Saddam Hussein. Having cleared his or her throat in this manner, the phony would go on to say what the real problem was (East Timor sometimes, or the imminent obliteration of tens of thousands of Baghdadi civilians, or Ariel Sharon's plan to expel all the inhabitants of the West Bank under cover of an American imperialist war).
None of these hysterical predictions came true, but now I can't open a bulletin from the reactionary right or the anti-war left without being told that Iraq is already worse off without Saddam Hussein. And how can we tell that Iraq is worse off? Because contracts for its reconstruction are being awarded to American corporations. Of the three feasible alternatives (that the contracts go to American capitalists, or to some unspecified non-American capitalists, or that Iraqi oil production stays as it was), the supposed radicals appear to prefer the last of the three.
This view, which admittedly expresses a wider concern, can stand some examination. The Iraqi oil industry was until March 2003 a fiefdom of the Baath Party. Its revenues were mysteriously apportioned but went to the upkeep of a militaristic and dictatorial regime. Its physical plant was much decayed, as a consequence of U.N. sanctions. The oil-for-food program was exploited in the most cynical manner by members and clients of the palatial Saddam regime, who used the semilegal trade to enrich themselves while starving and neglecting the population. (By the way, now that sanctions can be properly lifted, let us remember that their very imposition was opposed by the anti-war spokesmen, who would have scrapped them without conditions even though they had been imposed by the sacrosanct majority of the United Nations.) Meanwhile, vast contracts were awarded, on the basis of political favoritism, to Russian and French consortia. At moments when the Baathist authorities felt themselves insecure, they would threaten to set fire to the oil wells or—as in late March—would actually do so.
In front of me is a copy of the Arab Times, published in Kuwait City and picked up during my recent trip to the region. It gives a matter-of-fact account of the state of affairs in the Rumaila field, as of March 29. About 10 oil wells were ablaze, many fewer than had been feared. (A great number of bombs and charges had been laid, but either the local officers did not obey the order, or the order never came, or the fields were secured by British and American special forces too swiftly to allow the planned sabotage to occur.)
At any rate, a burning well is a tough proposition and an uncapped well—permitting a wholesale discharge—an even tougher one. The situation was being handled by Boots and Coots, a fire-control company with an almost parodically American name, which is based in Houston. Boots and Coots, which also worked in Kurdistan and Kuwait after the much worse conflagrations of 1991, is subcontracted for the task by Kellogg, Brown, and Root (another name Harold Pinter might have coined for an American oil company), which is in turn a subdivision of Halliburton. And "Halliburton," which admittedly sounds more British and toney than Boots and Coots, was once headed by—cue mood music of sinister corporate skyscraper as the camera pans up in the pretitle sequence—Vice President Dick Cheney.
Well, if that doesn't give away the true motive for the war, I don't know what does. But unless the anti-war forces believe Saddam's fires should be allowed to burn out of control indefinitely, they must presumably have an idea of which outfit should have got the contract instead of Boots and Coots. I think we can be sure that the contract would not have gone to some windmill-power concern run by Naomi Klein or the anti-Starbucks Seattle coalition, in the hope of just blowing out the flames or of extinguishing them with Buddhist mantras. The number of companies able to deliver such expertise is very limited. The chief one is American and was personified for years by "Red" Adair—the movie version of his exploits (played by John Wayne himself!) was titled Hellfighters. The other main potential bidder, according to a recent letter in the London Times, is French. But would it not also be "blood for oil" to award the contract in that direction? After all, didn't the French habitually put profits in Iraq ahead of human rights and human life? More to the point, don't they still?
I want to be the first to agree that transparency in the administration and allocation of oil revenues is of the highest importance. For example, there is a gigantic amount of money involved in the U.N.-administered oil-for-food program. Vast quantities of this surplus are still unspent and are backed up somewhere within a complex bureaucracy. The Kurdish people, for example, are still waiting to see how much of their hard-won cash will be released for the rebuilding of their desolated homeland. Escrow isn't enough. All we know is that many U.N. officials are sitting contentedly on the transfers and that the great undisclosed balance is held in a French bank. Here's a good cause for the humanitarians to take up, if they are willing to do some work and some digging instead of mouthing a few easy slogans.
If you are as persuaded of the materialist conception of history as, say, I am, then you owe it to yourself to study the dialectic and to avoid tautology. A theory that seems to explain everything is just as good at explaining nothing. In Guatemala in 1954, and in Iran at about the same time, and later in Chile in 1973, it is true that the United Fruit Co., and the Anglo-Iranian oil corporation, and Pepsi, and ITT all influenced regime change too much. Sometimes, politics really was like a Bertolt Brecht script where the fat man in a top hat pays the bills and pulls all the strings.
But in Iraq this proposed scenario is believed in only by the puerile. It's the baby-oil theory. It was for the sake of real oil and for the grim-faced Saudis that Saddam Hussein was kept as a favorite by Washington during the 1980s and saved from overthrow in 1991. It was not for the sake of oil that the risky decision to cease this corrupt coexistence was made. But at least now the Iraqi people have a chance of controlling their own main resource, and it will be our task to ensure that the funding and revenue are transparent instead of opaque. This couldn't have been left to the oil interests who ran the place until recently, and it couldn't even have been attempted if we'd listened to the peaceniks, who strike me now more than ever as … oleaginous.” (18/04/2003)
GRRR...
O Bruno anda a desbravar Nelson Rodrigues. Que inveja!
PS: Caro Bruno: O "Menina Sem Estrela" é um livro sublime. Mate a curiosidade rapidamente.
O Bruno anda a desbravar Nelson Rodrigues. Que inveja!
PS: Caro Bruno: O "Menina Sem Estrela" é um livro sublime. Mate a curiosidade rapidamente.
terça-feira, outubro 21, 2003
I KNEW THESE PEOPLE…
(a propósito de uma fotografia publicada no Dicionário do Diabo)
TRAVIS
I knew these people...
JANE
What people?
TRAVIS
These two people. They were in love with each other. The girl was... very young, about seventeen or eighteen, I guess. And the guy was... quite a bit older. He was kind of raggedy and wild. And she was very beautiful, you know?
JANE
Yeah.
TRAVIS
And together, they turned everything into a kind of adventure, and she liked that. Just an ordinary trip down to the grocery store was full of adventure. They were always laughing at stupid things. He liked to make her laugh. And they didn't much care for anything else because all they wanted to do was to be with each other. They were always together.
JANE
Sounds like they were very happy.
TRAVIS
Yes, they were. They were real happy. And he... he loved her more than he ever felt possible. He couldn't stand being away from her during the day when he went to work... so he'd quit. Just to be at home with her. Then he'd get another job when the money ran out, and then he'd quit again. But pretty soon, she started to worry.
JANE
About what?
TRAVIS
Money, I guess. Not having enough. Not knowing when the next check was coming in.
JANE
I know that feeling.
TRAVIS
So he started to get kind of... torn inside.
JANE
How do you mean?
TRAVIS
Well, he knew he had to work to support her, but he couldn't stand being away from her, either.
JANE
I see.
TRAVIS
And the more he was away from her, the crazier he got. Except now, he went really crazy. He started imagining all kinds of things.
JANE
Like what?
TRAVIS
He started thinking that she was seeing other men on the sly. He'd come home from work and accuse her of spending the day with somebody else. Then he'd yell at her and start smashing things in the trailer.
JANE
The trailer?
TRAVIS
Yes, they were living in a trailer home.
JANE
Excuse me, sir, but were you in to visit me the other day? I don't mean to pry.
TRAVIS
No.
JANE
Oh, I thought I recognized your voice for a minute.
TRAVIS
No, it wasn't me.
JANE
Uhm. Please go on.
TRAVIS
Anyway, he started to drink real bad. And he'd stay out late to test her.
JANE
What do you mean, "test her" ?
TRAVIS
To see if she'd get jealous.
JANE
Huh! Uhuh.
TRAVIS
He wanted her to get jealous, but she didn't. She was just worried about him, but that got him even madder.
JANE
Why?
TRAVIS
Because he thought that, if she'd never get jealous of him, she didn't really care about him. Jealousy was a sign of her love for him. And then, one night... one night, she told him she was pregnant. She was about three or four months pregnant, and he didn't even know. And then, suddenly, everything changed. He stopped drinking and got a steady job. He was convinced that she loved him now because she was carrying his child. And he was going to dedicate himself to making a home for her. But then a funny thing started to happen.
JANE
What?
TRAVIS
He didn't even notice it at first. She started to change. From the day the baby was born, she began to get irritated with everything around her. She got mad at everything. Even the baby seemed to be an injustice to her. He kept trying to make everything all right for her. Buy her things. Take her out to dinner once a week. But nothing seemed to satisfy her. For two years he struggled to pull them back together like they were when they first met, but finally he knew that it was never going to work out. So he hit the bottle again. But this time it got... mean. This time, when he came home late at night, drunk, she wasn't worried about him, or jealous, she was just enraged. She accused him of holding her captive by making her have a baby. She told him that she dreamed about escaping. That was all she dreamed about: escape. She saw herself at night running naked down a highway, running across fields, running down riverbeds, always running. And always, just when she was about to get away, he'd be there. He would stop her somehow. He would just appear and stop her. And when she told him these dreams, he believed them. He knew she had to be stopped or she'd leave him forever. So he ned a cow bell to her ankle so he could hear her at night if she tried to get out of bed. But she learned how to muffle the bell by stuffing a sock into it, and inching her way out of the bed and into the night. He caught her one night when the sock fell out and he heard her trying to run to the highway. He caught her and dragged her back to the trailer, and tied her to the stove with his belt.
He just left her there and went back to bed and lay there listening to her scream. And he listened to his son scream, and he was surprised at himself because he didn't feel anything anymore. All he wanted to do was sleep. And for the first time, he wished he were far away. Lost in a deep, vast country where nobody knew him. Somewhere without language or streets. He dreamed about this place without knowing its name. And when he woke up, he was on fire. There were blue flames burning the sheets of his bed. He ran through the flames toward the only two people he loved.... but they were gone.His arms were burning, and he threw himself outside and rolled on the wet ground. Then he ran. He never looked back at the fire. He just ran. He ran until the sun came up and he couldn't run any further. And when the sun went down, he ran again. For five days he ran like this until every sign of man had disappeared.
JANE
Travis?
TRAVIS
If you turn off the light in there, will you be able to see me?
JANE
I don't know. I never tried.
TRAVIS
Can you see me?
JANE
Yes.
TRAVIS
Do you recognize me?
JANE
Oh, Travis.
TRAVIS
I brought Hunter with me...
TRAVIS
Don't you want to see him ?
JANE
I wanted to see him so bad that I didn't even dare imagine him anymore. Anne kept sending me pictures of him until I asked her to stop. I couldn't stand the pain of seeing him grow up and missing it.
TRAVIS
Why didn't you keep him with you, Jane?
JANE
I couldn't, Travis. I didn't have what I knew he needed. And I didn't want to use him to fill up all my emptiness.
TRAVIS
Well, he needs you now, Jane. And he wants to see you.
JANE
He does?
TRAVIS
Yes. He's waiting for you.
JANE
Where?
TRAVIS
Downtown. In a hotel, The Meridian. Room 1520... 1520.
(a propósito de uma fotografia publicada no Dicionário do Diabo)
TRAVIS
I knew these people...
JANE
What people?
TRAVIS
These two people. They were in love with each other. The girl was... very young, about seventeen or eighteen, I guess. And the guy was... quite a bit older. He was kind of raggedy and wild. And she was very beautiful, you know?
JANE
Yeah.
TRAVIS
And together, they turned everything into a kind of adventure, and she liked that. Just an ordinary trip down to the grocery store was full of adventure. They were always laughing at stupid things. He liked to make her laugh. And they didn't much care for anything else because all they wanted to do was to be with each other. They were always together.
JANE
Sounds like they were very happy.
TRAVIS
Yes, they were. They were real happy. And he... he loved her more than he ever felt possible. He couldn't stand being away from her during the day when he went to work... so he'd quit. Just to be at home with her. Then he'd get another job when the money ran out, and then he'd quit again. But pretty soon, she started to worry.
JANE
About what?
TRAVIS
Money, I guess. Not having enough. Not knowing when the next check was coming in.
JANE
I know that feeling.
TRAVIS
So he started to get kind of... torn inside.
JANE
How do you mean?
TRAVIS
Well, he knew he had to work to support her, but he couldn't stand being away from her, either.
JANE
I see.
TRAVIS
And the more he was away from her, the crazier he got. Except now, he went really crazy. He started imagining all kinds of things.
JANE
Like what?
TRAVIS
He started thinking that she was seeing other men on the sly. He'd come home from work and accuse her of spending the day with somebody else. Then he'd yell at her and start smashing things in the trailer.
JANE
The trailer?
TRAVIS
Yes, they were living in a trailer home.
JANE
Excuse me, sir, but were you in to visit me the other day? I don't mean to pry.
TRAVIS
No.
JANE
Oh, I thought I recognized your voice for a minute.
TRAVIS
No, it wasn't me.
JANE
Uhm. Please go on.
TRAVIS
Anyway, he started to drink real bad. And he'd stay out late to test her.
JANE
What do you mean, "test her" ?
TRAVIS
To see if she'd get jealous.
JANE
Huh! Uhuh.
TRAVIS
He wanted her to get jealous, but she didn't. She was just worried about him, but that got him even madder.
JANE
Why?
TRAVIS
Because he thought that, if she'd never get jealous of him, she didn't really care about him. Jealousy was a sign of her love for him. And then, one night... one night, she told him she was pregnant. She was about three or four months pregnant, and he didn't even know. And then, suddenly, everything changed. He stopped drinking and got a steady job. He was convinced that she loved him now because she was carrying his child. And he was going to dedicate himself to making a home for her. But then a funny thing started to happen.
JANE
What?
TRAVIS
He didn't even notice it at first. She started to change. From the day the baby was born, she began to get irritated with everything around her. She got mad at everything. Even the baby seemed to be an injustice to her. He kept trying to make everything all right for her. Buy her things. Take her out to dinner once a week. But nothing seemed to satisfy her. For two years he struggled to pull them back together like they were when they first met, but finally he knew that it was never going to work out. So he hit the bottle again. But this time it got... mean. This time, when he came home late at night, drunk, she wasn't worried about him, or jealous, she was just enraged. She accused him of holding her captive by making her have a baby. She told him that she dreamed about escaping. That was all she dreamed about: escape. She saw herself at night running naked down a highway, running across fields, running down riverbeds, always running. And always, just when she was about to get away, he'd be there. He would stop her somehow. He would just appear and stop her. And when she told him these dreams, he believed them. He knew she had to be stopped or she'd leave him forever. So he ned a cow bell to her ankle so he could hear her at night if she tried to get out of bed. But she learned how to muffle the bell by stuffing a sock into it, and inching her way out of the bed and into the night. He caught her one night when the sock fell out and he heard her trying to run to the highway. He caught her and dragged her back to the trailer, and tied her to the stove with his belt.
He just left her there and went back to bed and lay there listening to her scream. And he listened to his son scream, and he was surprised at himself because he didn't feel anything anymore. All he wanted to do was sleep. And for the first time, he wished he were far away. Lost in a deep, vast country where nobody knew him. Somewhere without language or streets. He dreamed about this place without knowing its name. And when he woke up, he was on fire. There were blue flames burning the sheets of his bed. He ran through the flames toward the only two people he loved.... but they were gone.His arms were burning, and he threw himself outside and rolled on the wet ground. Then he ran. He never looked back at the fire. He just ran. He ran until the sun came up and he couldn't run any further. And when the sun went down, he ran again. For five days he ran like this until every sign of man had disappeared.
JANE
Travis?
TRAVIS
If you turn off the light in there, will you be able to see me?
JANE
I don't know. I never tried.
TRAVIS
Can you see me?
JANE
Yes.
TRAVIS
Do you recognize me?
JANE
Oh, Travis.
TRAVIS
I brought Hunter with me...
TRAVIS
Don't you want to see him ?
JANE
I wanted to see him so bad that I didn't even dare imagine him anymore. Anne kept sending me pictures of him until I asked her to stop. I couldn't stand the pain of seeing him grow up and missing it.
TRAVIS
Why didn't you keep him with you, Jane?
JANE
I couldn't, Travis. I didn't have what I knew he needed. And I didn't want to use him to fill up all my emptiness.
TRAVIS
Well, he needs you now, Jane. And he wants to see you.
JANE
He does?
TRAVIS
Yes. He's waiting for you.
JANE
Where?
TRAVIS
Downtown. In a hotel, The Meridian. Room 1520... 1520.
MENCKEN, H. L.
Sobre a raça humana:
"Man is a beautiful machine that works very badly. He is like a watch of which the most that can be said is that its cosmetic effect is good."
"Man is one of the toughest of animated creatures. Only the anthrax bacillus can stand so unfavourable an environment for so long a time."
"The human race has probably never produced a wholly admirable man. Such trite examples as Lincoln, Washington, Goethe and the holy saints are obviously very lame candidates. Even Jesus fails to meet any rational specification."
Está tudo no Minority Report (1956)
Sobre a raça humana:
"Man is a beautiful machine that works very badly. He is like a watch of which the most that can be said is that its cosmetic effect is good."
"Man is one of the toughest of animated creatures. Only the anthrax bacillus can stand so unfavourable an environment for so long a time."
"The human race has probably never produced a wholly admirable man. Such trite examples as Lincoln, Washington, Goethe and the holy saints are obviously very lame candidates. Even Jesus fails to meet any rational specification."
Está tudo no Minority Report (1956)
segunda-feira, outubro 20, 2003
O REGRESSO DO "É A CULTURA, ESTÚPIDO!"
No próximo dia 29 de Outubro. Às 18.30h. Local: o habitual (Jardim de Inverno do Teatro São Luiz). Com: Anabela Mota Ribeiro (apresentação), José Mario Silva e Pedro Mexia (críticos literários), João Miguel Tavares e Nuno Costa Santos (jornalistas), Daniel Oliveira vs. Pedro Lomba e o stand-up comedian Ricardo de Araújo Pereira. É preciso dizer mais?
No próximo dia 29 de Outubro. Às 18.30h. Local: o habitual (Jardim de Inverno do Teatro São Luiz). Com: Anabela Mota Ribeiro (apresentação), José Mario Silva e Pedro Mexia (críticos literários), João Miguel Tavares e Nuno Costa Santos (jornalistas), Daniel Oliveira vs. Pedro Lomba e o stand-up comedian Ricardo de Araújo Pereira. É preciso dizer mais?
JUSTIÇA FRANCESA
O leitor Jorge Bento enviou-me esta surreal notícia da Sapa-AFP:
Bordeaux, France - A French magistrate caught masturbating during a court session was locked up on Thursday and put under investigation, justice officials in the south-western city of Bordeaux said.
The head judge of the city's appeals court said "a penal inquiry ordered by the prosecutor of the republic is currently being carried out by the police" while a request for a psychiatric evaluation of the magistrate - who was not named - had been made.
He said the justice ministry had also been asked to temporarily suspend the magistrate while the matter was looked into.
According to La Charente Libre, a local newspaper who had a reporter in court at the time of the alleged offence, the magistrate had discreetly lifted up his ceremonial robe while a lawyer was presenting final arguments, undid his pants and "engaged in gestures that left nothing to the imagination".
O leitor Jorge Bento enviou-me esta surreal notícia da Sapa-AFP:
Bordeaux, France - A French magistrate caught masturbating during a court session was locked up on Thursday and put under investigation, justice officials in the south-western city of Bordeaux said.
The head judge of the city's appeals court said "a penal inquiry ordered by the prosecutor of the republic is currently being carried out by the police" while a request for a psychiatric evaluation of the magistrate - who was not named - had been made.
He said the justice ministry had also been asked to temporarily suspend the magistrate while the matter was looked into.
According to La Charente Libre, a local newspaper who had a reporter in court at the time of the alleged offence, the magistrate had discreetly lifted up his ceremonial robe while a lawyer was presenting final arguments, undid his pants and "engaged in gestures that left nothing to the imagination".
sábado, outubro 18, 2003
SEM COMENTÁRIOS
in Público
"Ontem, a SIC revelou mais detalhes das conversas: numa conversa telefónica entre António Costa e Paulo Pedroso na manhã do dia da detenção, o líder parlamentar do PS diz ao deputado "já fiz o contacto", ao que Pedroso respondeu "sim".
E António Costa continuou: "disse que ia falar imediatamente com o... procurador do processo... portanto, o Guerra... o receio que tem... é que a coisa já tenha... já esteja na mão do juiz... visto que é o juiz que tem de se dirigir à Assembleia... pá, talvez o teu irmão seja altura de procurar o Guerra...".
Já perto das 11h00, João Barroso contacta o irmão para lhe dizer que "o João Guerra está incontactável...". Paulo Pedroso responde: "O procurador-geral disse ao António que achava que já tinha ido tudo para o TIC...".
António Costa e Paulo Pedroso voltam a falar ao telefone, afirmando o líder parlamentar do PS: "[O procurador-geral] falou com o magistrado do Ministério Público... porque lá o dito Guerra tá lá com ele. E disse-lhe, Eh pá! O problema é que isso já está nas mãos do juiz".
Ao início da tarde, a alguns minutos da conferência de imprensa de Paulo Pedroso na Assembleia da República, numa conversa entre Ferro Rodrigues e Jorge Coelho, o secretário-geral do PS diz que "o almoço não serve para nada".
Segundo a SIC, que cita o Ministério Público, o almoço em causa é entre o Presidente da República e o procurador-geral da República.
António Costa e Ferro Rodrigues voltam a falar ao telefone perto das 19h30, tendo o primeiro indicado que estava a chegar "a casa do Júdice" e que sabe que há "uma testemunha da judiciária não é fiável".
Já no final do dia, Ferro Rodrigues diz a António Costa: "tou-me cagando para o segredo de justiça"."
in Público
"Ontem, a SIC revelou mais detalhes das conversas: numa conversa telefónica entre António Costa e Paulo Pedroso na manhã do dia da detenção, o líder parlamentar do PS diz ao deputado "já fiz o contacto", ao que Pedroso respondeu "sim".
E António Costa continuou: "disse que ia falar imediatamente com o... procurador do processo... portanto, o Guerra... o receio que tem... é que a coisa já tenha... já esteja na mão do juiz... visto que é o juiz que tem de se dirigir à Assembleia... pá, talvez o teu irmão seja altura de procurar o Guerra...".
Já perto das 11h00, João Barroso contacta o irmão para lhe dizer que "o João Guerra está incontactável...". Paulo Pedroso responde: "O procurador-geral disse ao António que achava que já tinha ido tudo para o TIC...".
António Costa e Paulo Pedroso voltam a falar ao telefone, afirmando o líder parlamentar do PS: "[O procurador-geral] falou com o magistrado do Ministério Público... porque lá o dito Guerra tá lá com ele. E disse-lhe, Eh pá! O problema é que isso já está nas mãos do juiz".
Ao início da tarde, a alguns minutos da conferência de imprensa de Paulo Pedroso na Assembleia da República, numa conversa entre Ferro Rodrigues e Jorge Coelho, o secretário-geral do PS diz que "o almoço não serve para nada".
Segundo a SIC, que cita o Ministério Público, o almoço em causa é entre o Presidente da República e o procurador-geral da República.
António Costa e Ferro Rodrigues voltam a falar ao telefone perto das 19h30, tendo o primeiro indicado que estava a chegar "a casa do Júdice" e que sabe que há "uma testemunha da judiciária não é fiável".
Já no final do dia, Ferro Rodrigues diz a António Costa: "tou-me cagando para o segredo de justiça"."
sexta-feira, outubro 17, 2003
LOMBA DIXIT
"UM ANO: A Coluna Infame fez um ano há dias. Muitos a lembraram. Pela minha parte, agradeço a todos. Eu lembro com saudade um certo fim-de-semana em Oxford em que a Coluna nasceu, quando eu, o Pedro e o João fomos o que sempre fomos e o que jamais deixaremos de ser: homens livres."
Saudades da Coluna Infame. E do João, que tarda em lançar o seu site.
"UM ANO: A Coluna Infame fez um ano há dias. Muitos a lembraram. Pela minha parte, agradeço a todos. Eu lembro com saudade um certo fim-de-semana em Oxford em que a Coluna nasceu, quando eu, o Pedro e o João fomos o que sempre fomos e o que jamais deixaremos de ser: homens livres."
Saudades da Coluna Infame. E do João, que tarda em lançar o seu site.
O RAPAZ DA NOVA DEMOCRACIA
Manuel Monteiro, mentor e escultor da Nova Democracia (brevemente em exibição) afirmou que, a bem da nação, a ND (não confundir com "Notável Demagogia") não tem nas suas fileiras suspeitos de pedofilia. As suas palavras foram, ipsis verbis, estas (via Público): "Este partido não tem suspeitos de pedofilia e ainda bem. Que se juntem todos no Parque Eduardo VII ou nos Jerónimos e resolvam tudo". Comentários? É melhor não.
Manuel Monteiro, mentor e escultor da Nova Democracia (brevemente em exibição) afirmou que, a bem da nação, a ND (não confundir com "Notável Demagogia") não tem nas suas fileiras suspeitos de pedofilia. As suas palavras foram, ipsis verbis, estas (via Público): "Este partido não tem suspeitos de pedofilia e ainda bem. Que se juntem todos no Parque Eduardo VII ou nos Jerónimos e resolvam tudo". Comentários? É melhor não.
A EUROPA, O REFERENDO E A CONSTITUIÇÃO
We should all worry about the Euro-constitution
por Catherine Meyer
(Daily telegraph, 17/10/2003)
It is no surprise that the Queen is concerned about the new European constitution, as The Telegraph revealed yesterday. We all should be.
The Queen is said to be concerned by provisions in the constitution that would make EU law supreme over national law. She is said to be worried that this would make the EU constitution, not Parliament (of which she is a pillar), the ultimate source of authority.
It is not only the Queen who is deeply worried about the new constitution. Sir Stephen Wall, head of the Cabinet Office Secretariat and one of the Prime Minister's leading advisers, has told Tony Blair that he must do a U-turn on his decision not to hold a referendum on the constitution. Sir Stephen believes it must have the consent of the people and told Mr Blair that his current stance on the issue was "untenable".
Even Jean-Pierre Raffarin, the French prime minister, has warned the Prime Minister that he could not be a "true European" without holding a vote.
But it isn't only heads of state and government who should be behind a referendum. The European constitution will affect everyone in the country in the minutiae of our daily lives. It would affect the legal system and the police. It would give the EU powers over the sentences criminals receive. It would give the EU the ability to co-ordinate the economic and social policies of member states. Under the constitution, we would give up our right to veto EU asylum policies under one great over-arching EU "common asylum policy".
Opponents of a referendum say that calls for a referendum are premature because long and arduous negotiations lie ahead before a constitution is finally agreed. The Government assures us that it will hold fast to essential British interests. Judge us, they say, on the outcome, not on the proposals made by Valéry Giscard d'Estaing, the head of the constitutional convention. And Mr Blair has put off calls for a referendum by saying: "Lots of countries have traditions of holding referendums on these issues - but we do not."
These excuses will not wash. Just because we haven't had exactly this sort of referendum before doesn't mean we shouldn't have one now on such a crucial issue. And, whatever the status of the Giscard d'Estaing proposals, they are still the basis for the negotiations and will be the core of the new constitution. During those negotiations, some EU countries will want to centralise; others will want to apply the brakes. The result, inevitably, will be a compromise - and Britain will be part of it. As in previous negotiations over the past 30 years, we will never be able to get everything we want.
So, it is no argument to say that we do not know the outcome of the negotiations on Giscard's draft. We do not have to. However the negotiations come out, the accumulation of changes since 1975, enshrined in the new constitution, will mark a massive qualitative advance over the past 28 years. The plain truth is that the EU of 2003 is already profoundly different from the Common Market of 1975. If it was right to hold a referendum on Britain's membership in 1975, it must logically be right to hold one on the new constitution, which will fix our national destiny for decades to come.
This is not an argument against the constitution, or EU membership. It is a position to which Europhiles and Euro-sceptics alike can rally. A referendum, properly framed and debated, should subsume the Government's promise to hold one on the euro. It would also put an end to the endless debate about Britain's role in the European Union.
Some argue that a referendum would undermine our tradition of parliamentary democracy. But there are moments in our history when the matter in hand is of such great importance that it is right to consult the people directly. Certainly, several European countries have reached the same conclusion.
Others say that the constitution is too complicated for a referendum; that the voters will not understand. This is about as arrogant, patronising and undemocratic as you can get. The draft constitution opens with the ringing words - "Reflecting the will of the citizen". How else can you reflect the citizens' will if the citizens are not consulted?
People are not stupid. They understand the issues all too well when these are explained in plain language. For too long the affairs of Brussels, Luxembourg, Strasbourg and Frankfurt have been surrounded by impenetrable walls of bureaucracy, jargon and secrecy. No wonder the EU arouses so much apathy, even hostility, among ordinary Europeans. Enormous damage is being done at the moment to the standing of the EU when the Commission refuses to make public its investigations into the corrupt wastage of taxpayers' money.
So a referendum would serve several purposes: it would bring the fresh air of democracy into the corridors and meeting rooms of the union. It would force the Government to start explaining to us exactly what is at stake in these negotiations. And it would reconnect ordinary people to the EU.
It was recently reported that the Prime Minister would seek to reassert his authority and popularity by creating an agency to co-ordinate the digging up of our roads. I am sure that we would all be much happier if there were fewer road works. But this initiative is hardly worthy of a Prime Minister who repeatedly claims that his Government and party are at their best when they are at their boldest.
So, let us see if Mr Blair can walk the walk, as well as talk the talk. Let the people have their say. Let the people have their referendum - our polls show that more than 80 per cent of Britons want one.
This would be a bold reassertion of the best democratic traditions of Britain and of Europe. Our country deserves nothing less as we stand on the threshold of an irreversible departure from 1,000 years of history.
We should all worry about the Euro-constitution
por Catherine Meyer
(Daily telegraph, 17/10/2003)
It is no surprise that the Queen is concerned about the new European constitution, as The Telegraph revealed yesterday. We all should be.
The Queen is said to be concerned by provisions in the constitution that would make EU law supreme over national law. She is said to be worried that this would make the EU constitution, not Parliament (of which she is a pillar), the ultimate source of authority.
It is not only the Queen who is deeply worried about the new constitution. Sir Stephen Wall, head of the Cabinet Office Secretariat and one of the Prime Minister's leading advisers, has told Tony Blair that he must do a U-turn on his decision not to hold a referendum on the constitution. Sir Stephen believes it must have the consent of the people and told Mr Blair that his current stance on the issue was "untenable".
Even Jean-Pierre Raffarin, the French prime minister, has warned the Prime Minister that he could not be a "true European" without holding a vote.
But it isn't only heads of state and government who should be behind a referendum. The European constitution will affect everyone in the country in the minutiae of our daily lives. It would affect the legal system and the police. It would give the EU powers over the sentences criminals receive. It would give the EU the ability to co-ordinate the economic and social policies of member states. Under the constitution, we would give up our right to veto EU asylum policies under one great over-arching EU "common asylum policy".
Opponents of a referendum say that calls for a referendum are premature because long and arduous negotiations lie ahead before a constitution is finally agreed. The Government assures us that it will hold fast to essential British interests. Judge us, they say, on the outcome, not on the proposals made by Valéry Giscard d'Estaing, the head of the constitutional convention. And Mr Blair has put off calls for a referendum by saying: "Lots of countries have traditions of holding referendums on these issues - but we do not."
These excuses will not wash. Just because we haven't had exactly this sort of referendum before doesn't mean we shouldn't have one now on such a crucial issue. And, whatever the status of the Giscard d'Estaing proposals, they are still the basis for the negotiations and will be the core of the new constitution. During those negotiations, some EU countries will want to centralise; others will want to apply the brakes. The result, inevitably, will be a compromise - and Britain will be part of it. As in previous negotiations over the past 30 years, we will never be able to get everything we want.
So, it is no argument to say that we do not know the outcome of the negotiations on Giscard's draft. We do not have to. However the negotiations come out, the accumulation of changes since 1975, enshrined in the new constitution, will mark a massive qualitative advance over the past 28 years. The plain truth is that the EU of 2003 is already profoundly different from the Common Market of 1975. If it was right to hold a referendum on Britain's membership in 1975, it must logically be right to hold one on the new constitution, which will fix our national destiny for decades to come.
This is not an argument against the constitution, or EU membership. It is a position to which Europhiles and Euro-sceptics alike can rally. A referendum, properly framed and debated, should subsume the Government's promise to hold one on the euro. It would also put an end to the endless debate about Britain's role in the European Union.
Some argue that a referendum would undermine our tradition of parliamentary democracy. But there are moments in our history when the matter in hand is of such great importance that it is right to consult the people directly. Certainly, several European countries have reached the same conclusion.
Others say that the constitution is too complicated for a referendum; that the voters will not understand. This is about as arrogant, patronising and undemocratic as you can get. The draft constitution opens with the ringing words - "Reflecting the will of the citizen". How else can you reflect the citizens' will if the citizens are not consulted?
People are not stupid. They understand the issues all too well when these are explained in plain language. For too long the affairs of Brussels, Luxembourg, Strasbourg and Frankfurt have been surrounded by impenetrable walls of bureaucracy, jargon and secrecy. No wonder the EU arouses so much apathy, even hostility, among ordinary Europeans. Enormous damage is being done at the moment to the standing of the EU when the Commission refuses to make public its investigations into the corrupt wastage of taxpayers' money.
So a referendum would serve several purposes: it would bring the fresh air of democracy into the corridors and meeting rooms of the union. It would force the Government to start explaining to us exactly what is at stake in these negotiations. And it would reconnect ordinary people to the EU.
It was recently reported that the Prime Minister would seek to reassert his authority and popularity by creating an agency to co-ordinate the digging up of our roads. I am sure that we would all be much happier if there were fewer road works. But this initiative is hardly worthy of a Prime Minister who repeatedly claims that his Government and party are at their best when they are at their boldest.
So, let us see if Mr Blair can walk the walk, as well as talk the talk. Let the people have their say. Let the people have their referendum - our polls show that more than 80 per cent of Britons want one.
This would be a bold reassertion of the best democratic traditions of Britain and of Europe. Our country deserves nothing less as we stand on the threshold of an irreversible departure from 1,000 years of history.
quinta-feira, outubro 16, 2003
GULP!
Acabo de falar com uma amiga a quem ofereci, há três dias atrás, o Koba O Terrível de Martin Amis, por alturas do seu aniversário. A minha amiga é de esquerda. Pergunto-lhe: “Então, gostaste do livro?”. Resposta enfurecida: “Detestei! Nem sequer o vou ler. Ofereces-me um livro com o Estaline na capa? Agora acusas-me de Estalinista, é?”
Há reacções que nos emudecem.
Acabo de falar com uma amiga a quem ofereci, há três dias atrás, o Koba O Terrível de Martin Amis, por alturas do seu aniversário. A minha amiga é de esquerda. Pergunto-lhe: “Então, gostaste do livro?”. Resposta enfurecida: “Detestei! Nem sequer o vou ler. Ofereces-me um livro com o Estaline na capa? Agora acusas-me de Estalinista, é?”
Há reacções que nos emudecem.
AINDA O HIP-HOP
Comentário de Ricardo Gross:
”Quanto à questão da morte do hip-hop, embora não na condição de especialista, recomendo-lhe a audição dos CDs do Common "Like Water for Chocolate"; do Mos Def "Black on Both Sides"; do Talib Kweli "Quality"; do Asheru & Blue Back of the Unspoken Heard "Soon Come"; dos The Roots "Things Fall Apart" e dos Black Star (projecto constituído pelo Mos Def e o Talib Kweli).”
Do Common tenho apenas o último, intitulado Electric Circus. Tem uma música fantástica: Come Close (com Mary J. Blige). Não deixa de ser um disco interessante (houve, até, quem, exageradamente, o tivesse comparado a 3 Feet High And Rising). Mas, infelizmente, it’s not my cup of tea. Dos The Roots, tenho o disco Phrenology. Impressões? Uma grande desilusão. Os restantes, não conheço. Mas vou investigar.
Obrigado pelos conselhos, caro Ricardo. Escreva sempre.
Comentário de Ricardo Gross:
”Quanto à questão da morte do hip-hop, embora não na condição de especialista, recomendo-lhe a audição dos CDs do Common "Like Water for Chocolate"; do Mos Def "Black on Both Sides"; do Talib Kweli "Quality"; do Asheru & Blue Back of the Unspoken Heard "Soon Come"; dos The Roots "Things Fall Apart" e dos Black Star (projecto constituído pelo Mos Def e o Talib Kweli).”
Do Common tenho apenas o último, intitulado Electric Circus. Tem uma música fantástica: Come Close (com Mary J. Blige). Não deixa de ser um disco interessante (houve, até, quem, exageradamente, o tivesse comparado a 3 Feet High And Rising). Mas, infelizmente, it’s not my cup of tea. Dos The Roots, tenho o disco Phrenology. Impressões? Uma grande desilusão. Os restantes, não conheço. Mas vou investigar.
Obrigado pelos conselhos, caro Ricardo. Escreva sempre.
COÇADO
Gosto de coisas usadas e gastas. Coisas com história. Coisas que provaram ser úteis, no passado, e estão ainda para as curvas, no presente. Gosto de continuar a tirar partido delas ou, então, de as consertar, para que voltem a cumprir a sua função. Detesto essa estúpida obsessão pelo que é novo, aliada à (pseudo e superficial) necessidade de substituir levianamente o que já está velho ou coçado. A cedência à exaltação e à instigação pós-moderna pelo “topo de gama”, pelo “último modelo”, pela novidade inútil e estéril, pela forma sumária como se descartam coisas que cumpriam com dignidade o seu papel, é um dos mais óbvios sinais da nossa decadência civilizacional.
Gosto de coisas usadas e gastas. Coisas com história. Coisas que provaram ser úteis, no passado, e estão ainda para as curvas, no presente. Gosto de continuar a tirar partido delas ou, então, de as consertar, para que voltem a cumprir a sua função. Detesto essa estúpida obsessão pelo que é novo, aliada à (pseudo e superficial) necessidade de substituir levianamente o que já está velho ou coçado. A cedência à exaltação e à instigação pós-moderna pelo “topo de gama”, pelo “último modelo”, pela novidade inútil e estéril, pela forma sumária como se descartam coisas que cumpriam com dignidade o seu papel, é um dos mais óbvios sinais da nossa decadência civilizacional.
O (MEU) MOMENTO “MARCELO REBELO DE SOUSA”
Directamente da minha mesinha de cabeceira, recomendo, em doses cavalares, leituras e/ou releituras de:
Reflections on a Ravaged Century, de Robert Conquest (o mesmo de The Great Terror, The Harvest of Sorrow e V. I. Lenini) (John Murray Publishers)
The Sense of Reality de Isaiah Berlin (Pimlico)
From Subsistence to Exchange de Peter Bauer (New Forum, Princeton University Press)
É tudo.
Directamente da minha mesinha de cabeceira, recomendo, em doses cavalares, leituras e/ou releituras de:
Reflections on a Ravaged Century, de Robert Conquest (o mesmo de The Great Terror, The Harvest of Sorrow e V. I. Lenini) (John Murray Publishers)
The Sense of Reality de Isaiah Berlin (Pimlico)
From Subsistence to Exchange de Peter Bauer (New Forum, Princeton University Press)
É tudo.
CONDIÇÃO: HUMANA
Um blogger da nossa praça teve a amabilidade de me enviar um hate mail, impregnado de impropérios dirigidos ao autor do Contra a Corrente – moi même – em resposta a uma inquietação deste, dada a conhecer, também por e-mail, dois dias antes: que razões o levavam a embirrar com o Contra.
O excelso blogger – que, é bom que se diga, não é autor de nenhum dos blogues aqui referenciados ao lado – puxou da sua notória presunção para me acusar, num tom reles e paternalmente altivo, de “narcísico”, “reaccionário”, “vulgar”, “um Zé” autor de “afirmações gratuitas e desajustadas”, saídas da “botica de alguma sede partidária, ou do vestíbulo de um qualquer bar em manhã solarenga”.
Está visto que o caro blogger me conhece. Saídas à noite, a bares e antros do género, são habituais. São inúmeras as vezes em que, no regresso a casa, me cruzo com a minha filha a caminho da escola. Há muito que frequento os mais badalados vestíbulos da movida eborense – mas, diga-se, em abono da verdade, sem grandes resultados práticos no campo da política. Sedes partidárias? São um dos meus fétiches. Tenho um pezinho em todas (não vá o diabo tecê-las). Narcísico? Padeço, infelizmente, desse mal, ao contrário, claro está, do meu caro colega blogger. Sou assolado, ciclicamente, por aspirações cesarianas. O facto de usar um pseudónimo é para disfarçar. Faço minhas as palavras do Nelson Rodrigues: sou um narcisista relapso, muito relaxado na administração da minha glória. Tiros ao lado? Apenas um: o meu nome próprio é Carlos, não José.
Convém, contudo, deixar de lado a ironia para confessar algumas fraquezas. A primeira, a imediata e mais brutal: sou precipitado a escrever. Erro e arrependo-me com frequência. Sinto que, por vezes, sou injusto. Mas não apago. Outra: penso que quem me lê me conhece minimamente. Esqueço que não: há quem possa interpretar às avessas o tom e o teor do que aqui é escrito. Ainda outra: tenho o mau hábito de escrever o que penso sem filtros, paninhos quentes ou cosmética. Contradições? São às dezenas. Sou um portento de falibilidade. Lembro-me sempre do Captain Leith, no Bitter Victory (esse fabuloso filme de Ray): I always contradict myself (evocando, também, Whitman). Eis um lindo epitáfio. Alguém tomou nota?
Um blogger da nossa praça teve a amabilidade de me enviar um hate mail, impregnado de impropérios dirigidos ao autor do Contra a Corrente – moi même – em resposta a uma inquietação deste, dada a conhecer, também por e-mail, dois dias antes: que razões o levavam a embirrar com o Contra.
O excelso blogger – que, é bom que se diga, não é autor de nenhum dos blogues aqui referenciados ao lado – puxou da sua notória presunção para me acusar, num tom reles e paternalmente altivo, de “narcísico”, “reaccionário”, “vulgar”, “um Zé” autor de “afirmações gratuitas e desajustadas”, saídas da “botica de alguma sede partidária, ou do vestíbulo de um qualquer bar em manhã solarenga”.
Está visto que o caro blogger me conhece. Saídas à noite, a bares e antros do género, são habituais. São inúmeras as vezes em que, no regresso a casa, me cruzo com a minha filha a caminho da escola. Há muito que frequento os mais badalados vestíbulos da movida eborense – mas, diga-se, em abono da verdade, sem grandes resultados práticos no campo da política. Sedes partidárias? São um dos meus fétiches. Tenho um pezinho em todas (não vá o diabo tecê-las). Narcísico? Padeço, infelizmente, desse mal, ao contrário, claro está, do meu caro colega blogger. Sou assolado, ciclicamente, por aspirações cesarianas. O facto de usar um pseudónimo é para disfarçar. Faço minhas as palavras do Nelson Rodrigues: sou um narcisista relapso, muito relaxado na administração da minha glória. Tiros ao lado? Apenas um: o meu nome próprio é Carlos, não José.
Convém, contudo, deixar de lado a ironia para confessar algumas fraquezas. A primeira, a imediata e mais brutal: sou precipitado a escrever. Erro e arrependo-me com frequência. Sinto que, por vezes, sou injusto. Mas não apago. Outra: penso que quem me lê me conhece minimamente. Esqueço que não: há quem possa interpretar às avessas o tom e o teor do que aqui é escrito. Ainda outra: tenho o mau hábito de escrever o que penso sem filtros, paninhos quentes ou cosmética. Contradições? São às dezenas. Sou um portento de falibilidade. Lembro-me sempre do Captain Leith, no Bitter Victory (esse fabuloso filme de Ray): I always contradict myself (evocando, também, Whitman). Eis um lindo epitáfio. Alguém tomou nota?
AUTUMN LEAVES
A propósito da minha declarada devoção a Johnny Mercer e, em particular, ao tema Autumn Leaves, o João, do Anarcoconservador, aconselha-me a escutar a versão de Eva Cassidy, nos discos Songbird ou Live at Blues Alley. Não conheço, mas vou tratar de conhecer. Ao João, aconselhava-lhe a versão de Paula Cole, incluída na BSO do filme Midnight int the garden of Good and Evil, do grande Clint Eastwood.
A propósito da minha declarada devoção a Johnny Mercer e, em particular, ao tema Autumn Leaves, o João, do Anarcoconservador, aconselha-me a escutar a versão de Eva Cassidy, nos discos Songbird ou Live at Blues Alley. Não conheço, mas vou tratar de conhecer. Ao João, aconselhava-lhe a versão de Paula Cole, incluída na BSO do filme Midnight int the garden of Good and Evil, do grande Clint Eastwood.
quarta-feira, outubro 15, 2003
HIP-HOP & RAP
Durante anos assisti, desconfiado e pouco ou nada entusiasmado, à ascensão do Hip-Hop. Reconhecia-lhe algum mérito na forma como, nalguns casos (muito poucos), se servia do Jazz como fonte de inspiração, repescando temas e passagens da grande tradição Donaldsoniana do Groove, Funk, Jazz & Breakbeat. Mas nada mais do que isso. Havia militância racial a mais para o meu gosto e uma pobreza espiritual irreconciliável.
Eis que, um belo dia, em 1989, o meu amigo Pedro empresta-me um disco intitulado 3 Feet High And Rising. Eu, que vinha da escola Joy Division, New Order, Durutti Column, A Certain Ratio, Smiths, Tuxedomoon, da série Made To Measure da Crammed Discs, etc. etc. etc., passei, algo atónito, dias seguidos sem descolar desse seminal disco dos De La Soul. 3 Feet High and Rising foi a primeira e mais irrefutável prova de como o Hip-Hop/Rap podia constituir um riquíssimo caleidoscópio de ritmos, referências e sensibilidades, construído de forma inteligente: com sentido de humor, bom gosto e uma notável capacidade reinventiva. Na mesma linha, seguiram-se-lhe People’s Instinctive Travels And The Paths Of Rhythm (1990) e The Low End Theory (1991) dos A Tribe Called Quest, Qui Séme Le Vent Récolte Le Tempo (1991) de MC Solaar, Reachin’ (a new refutation of time and space) (1993) dos Digable Planets, Jazzmatazz (1993) de Guru, Atout... Point de Vue (1993) de Soon E MC, Hand on the Torch (1993) dos US 3, Prose Combat (1994) de MC Solaar, Ill Communication (1994) dos Beastie Boys. Mais recentemente, Very Mercenary (1999) dos Herbaliser. E pouco mais.
Retirando estes discos da historiografia do Rap/Hip-hop, e mesmo correndo o risco de ser injusto para com uma ou outra obra, o Hip-hop não mais voltou a produzir nada de relevante. Hoje? Eminem, 50 Cent, Missy Elliot e outros quejandos reinam. O Hip-hop morreu.
Durante anos assisti, desconfiado e pouco ou nada entusiasmado, à ascensão do Hip-Hop. Reconhecia-lhe algum mérito na forma como, nalguns casos (muito poucos), se servia do Jazz como fonte de inspiração, repescando temas e passagens da grande tradição Donaldsoniana do Groove, Funk, Jazz & Breakbeat. Mas nada mais do que isso. Havia militância racial a mais para o meu gosto e uma pobreza espiritual irreconciliável.
Eis que, um belo dia, em 1989, o meu amigo Pedro empresta-me um disco intitulado 3 Feet High And Rising. Eu, que vinha da escola Joy Division, New Order, Durutti Column, A Certain Ratio, Smiths, Tuxedomoon, da série Made To Measure da Crammed Discs, etc. etc. etc., passei, algo atónito, dias seguidos sem descolar desse seminal disco dos De La Soul. 3 Feet High and Rising foi a primeira e mais irrefutável prova de como o Hip-Hop/Rap podia constituir um riquíssimo caleidoscópio de ritmos, referências e sensibilidades, construído de forma inteligente: com sentido de humor, bom gosto e uma notável capacidade reinventiva. Na mesma linha, seguiram-se-lhe People’s Instinctive Travels And The Paths Of Rhythm (1990) e The Low End Theory (1991) dos A Tribe Called Quest, Qui Séme Le Vent Récolte Le Tempo (1991) de MC Solaar, Reachin’ (a new refutation of time and space) (1993) dos Digable Planets, Jazzmatazz (1993) de Guru, Atout... Point de Vue (1993) de Soon E MC, Hand on the Torch (1993) dos US 3, Prose Combat (1994) de MC Solaar, Ill Communication (1994) dos Beastie Boys. Mais recentemente, Very Mercenary (1999) dos Herbaliser. E pouco mais.
Retirando estes discos da historiografia do Rap/Hip-hop, e mesmo correndo o risco de ser injusto para com uma ou outra obra, o Hip-hop não mais voltou a produzir nada de relevante. Hoje? Eminem, 50 Cent, Missy Elliot e outros quejandos reinam. O Hip-hop morreu.
terça-feira, outubro 14, 2003
SOBRE A DRA. ANA GOMES
A propósito da minha posta sobre a Dra. Ana Gomes (a quem eu apelidei, com um sorriso nos lábios, de La Passionara), André Bonito escreveu-me:
”Ai que feio o post " Dr.isto dr.aquilo mandem calar a passionara " (suponho
Ana Gomes).
O verniz pseudo democrático começa a estalar... E também mandarás calar a Time, o The New York Times, o Le Point, o Euro Notícias, a Sky, a SIC, a TVI, e o Spectator ? Já agora o Asahi Shimbum, a Far Eastern Review, o Wall Street Journal....
Shalom.”
Caro André: há quem se esforce por ler nas entrelinhas o que não está escrito, inventando. É óbvio, para quem me vai conhecendo, que eu não pretendo, nem alguma vez pretendi, calar quem quer que seja. A Dra. Ana Gomes tem todo o direito do mundo em falar o que bem entender. Mas até eu, que não sou propriamente um apoiante do Partido Socialista Português, tremo quando a observo e/ou escuto. As mais recentes aparições de Ana Gomes na TV, sobre o caso Paulo Pedroso, são um erro crasso para o PS. Até António Costa veio a terreiro, ontem, para pedir contenção aos dirigentes socialistas. Acredita: estava a fazê-lo com base no que se passou ontem.
A Dra. Ana Gomes está a prestar um péssimo serviço ao seu partido por uma razão simples: não só está a politizar a justiça como a sentar o PS no banco dos réus. Ora, quem está em causa é o cidadão Paulo Pedroso, não o dirigente político. E muito menos o PS. O PS é um partido importante, referência do Portugal democrático. A Dra. Ana Gomes é o exemplo acabado do que não se deveria fazer. Tal como, aliás, explicou Helena Matos na sua crónica de sábado no Público:
“A melhor forma que encontro para definir esta incapacidade do PS de manifestar solidariedade a Paulo Pedroso sem lhe hipotecar o partido é uma frase do jornalista e diplomata Augusto de Castro, proferida a propósito do falecimento da mãe do escritor Júlio Dantas. Em 1941, no quadro das comemorações da descoberta do Brasil, Portugal enviou àquele país uma embaixada diplomática e cultural em que se incluíam nomes como o médico e historiador de arte Reinaldo dos Santos, o jornalista e diplomata Augusto de Castro e o escritor Júlio Dantas. Do grupo também fazia parte Marcelo Caetano, que registou nas suas memórias alguns pormenores dessa viagem a bordo do navio "Serpa Pinto", nomeadamente os que resultavam do carácter exacerbado de Júlio Dantas e da ironia de Augusto de Castro. Um dos acontecimentos que proporcionou que cada um destes dois homens desse largas às suas idiossincrasias foi a morte da mãe de Júlio Dantas, ainda a viagem ia no seu segundo dia. Júlio Dantas deu uma tal dimensão nacional a esse facto da sua vida familiar que as autoridades brasileiras se propunham receber a embaixada portuguesa com uma missa de "requiem", na igreja da Candelária.
Augusto de Castro, ao perceber que a representação portuguesa na comemoração da descoberta do Brasil, mal desembarcasse no Rio de Janeiro, ia para uma missa de finados, não se conteve e imediata e certeiramente observou: "Eles no Rio estão equivocados: quem morreu foi a mãe do Dantas, não foi a mãe da embaixada..."
Parafraseando Augusto de Castro, eles no PS estão equivocados. Quem foi preso, quem é arguido é Paulo Pedroso, não é o PS! Mas na forma como o PS reagiu à libertação de Paulo Pedroso sobressai, tal como já havia sobressaído na sua detenção, esta bizarra intenção de atrelar o PS ao desfecho do caso Pedroso.
Mais uma vez reagiram como se fosse o PS, e não um seu militante, que tivesse saído da prisão preventiva. O que quer dizer que, quando o julgamento começar, o PS, se não arrepiar caminho desta estratégia, se vai sentar também no tribunal. Donde, seja qual for a sentença, nunca sairá bem. Porque se Paulo Pedroso for considerado culpado, o PS também o será. E se Paulo Pedroso for considerado inocente, assistiremos ao "remake", em versão "hard", do que se viu esta semana na Assembleia da República: um partido em rota de colisão com o poder judicial.”
Ou, ainda, José Manuel Fernandes no seu editorial de hoje:
”Ferro Rodrigues indignou-se contra o jornalismo populista que, disse, é quase igual à extrema-direita. É pena que não tivesse sido mais concreto pois, se o tivesse feito, talvez tivesse evitado que Ana Gomes tivesse ido para uma sessão do PS em Aljustrel cavalgar exactamente um tipo de jornalismo populista que nem em Portugal se pratica.
Na verdade, o texto publicado pela revista francesa "Le Point" sobre o escândalo da pedofilia dificilmente poderia ser editado em Portugal nos termos em que foi em França. Não porque em Portugal, ao longo do processo da Casa Pia, não se tenham cometido graves atropelos à ética jornalística e muitos abusos - mas porque até ao momento ninguém se atreveu ainda a imprimir em letra de forma os milhares de boatos que circulam pelos corredores das redacções.
Ninguém, perdão: esses boatos já tiveram pouso público na Internet, através de um blogue denominado "muitomentiroso". Aí podíamos encontrar boatos como aqueles a que o "Le Point" deu publicidade e muitos outros, acumulados de forma desordenada e sem nexo aparente. Todos eles poderiam ter sido objecto de investigação pelas autoridades competentes e não sei se o foram. Alguns deles iam até mais longe do que a revista francesa pois esta, ao contrário do que Ana Gomes disse, não acusava ministros de pedofilia mas sim de frequentarem jovens prostitutos num parque lisboeta (o que não é exactamente a mesma coisa).
Ao repetir os boatos do "Le Point" - boatos que por certo não sabe se são verdadeiros ou se são caluniosos -, Ana Gomes optou pelo populismo mais incendiário. Mais: utilizou como arma de arremesso política insinuações que não andam muito longe das que enchiam o odioso blogue já desaparecido. E, por fim, contribuiu para aquilo que a própria definiu como sendo sintomas dos males do país: "uma absoluta desconfiança dos cidadãos e de abandalhamento e infiltração das instituições por esquemas perversos".
Tais declarações - ontem retomadas aos microfones da TSF - causam natural embaraço ao PS e acentuam uma deriva perigosa quer para o partido, quer para a saúde democrática das nossas instituições: o choque frontal entre a principal força da oposição e o Ministério Público.
A semana passada, quer alguns líderes socialistas, quer o procurador geral da República, Souto Moura, falaram demais. Comentaram o acórdão do Tribunal da Relação de forma desequilibrada, disseram apenas meias verdades e esqueceram-se das responsabilidades institucionais que têm. Ajudaram com isso à criação de um clima quer de politização da justiça, quer de judicialização da política.
Ora todos, ao seguirem por esse caminho, acabam por ficar prisioneiros dos desenvolvimentos de um processo cuja matéria de facto está muito longe de estar estabilizada. Basta recordar que, como aqui escrevia Miguel Sousa Tavares na passada sexta-feira, a justiça é humana e, no caso de Paulo Pedroso, quanto à presunção de culpabilidade, os juízes dividiram-se ao meio: de um lado dois juízes da relação, do outro o terceiro juiz da relação e o juiz de instrução. E se isso já de si é perturbante e gera dúvidas, os tiros trocados entre o PS e a Procuradoria só aumentam essa perturbação e essas dúvidas, ajudando a transferir a decisão dos tribunais para a mais aleatória e injusta das arenas: o julgamento na praça pública.
Convinha por isso mais contenção e, sobretudo, muito mais bom senso.”
Quanto ao resto, caro André, nós que já nos vamos conhecendo um pouco, surpreende-me muito pensares que eu quero literal e objectivamente calar alguém. Citares nomes de jornais e revistas, entra já no domínio do delirio a roçar o insulto. Mas eu vou tentar explicar: o “calar” na minha frase, foi no sentido do conselho, não no sentido da censura ou do impedimento da mais importante das liberdades: a de expressão. Se ofendi alguém, peço desculpas.
Shalom.
A propósito da minha posta sobre a Dra. Ana Gomes (a quem eu apelidei, com um sorriso nos lábios, de La Passionara), André Bonito escreveu-me:
”Ai que feio o post " Dr.isto dr.aquilo mandem calar a passionara " (suponho
Ana Gomes).
O verniz pseudo democrático começa a estalar... E também mandarás calar a Time, o The New York Times, o Le Point, o Euro Notícias, a Sky, a SIC, a TVI, e o Spectator ? Já agora o Asahi Shimbum, a Far Eastern Review, o Wall Street Journal....
Shalom.”
Caro André: há quem se esforce por ler nas entrelinhas o que não está escrito, inventando. É óbvio, para quem me vai conhecendo, que eu não pretendo, nem alguma vez pretendi, calar quem quer que seja. A Dra. Ana Gomes tem todo o direito do mundo em falar o que bem entender. Mas até eu, que não sou propriamente um apoiante do Partido Socialista Português, tremo quando a observo e/ou escuto. As mais recentes aparições de Ana Gomes na TV, sobre o caso Paulo Pedroso, são um erro crasso para o PS. Até António Costa veio a terreiro, ontem, para pedir contenção aos dirigentes socialistas. Acredita: estava a fazê-lo com base no que se passou ontem.
A Dra. Ana Gomes está a prestar um péssimo serviço ao seu partido por uma razão simples: não só está a politizar a justiça como a sentar o PS no banco dos réus. Ora, quem está em causa é o cidadão Paulo Pedroso, não o dirigente político. E muito menos o PS. O PS é um partido importante, referência do Portugal democrático. A Dra. Ana Gomes é o exemplo acabado do que não se deveria fazer. Tal como, aliás, explicou Helena Matos na sua crónica de sábado no Público:
“A melhor forma que encontro para definir esta incapacidade do PS de manifestar solidariedade a Paulo Pedroso sem lhe hipotecar o partido é uma frase do jornalista e diplomata Augusto de Castro, proferida a propósito do falecimento da mãe do escritor Júlio Dantas. Em 1941, no quadro das comemorações da descoberta do Brasil, Portugal enviou àquele país uma embaixada diplomática e cultural em que se incluíam nomes como o médico e historiador de arte Reinaldo dos Santos, o jornalista e diplomata Augusto de Castro e o escritor Júlio Dantas. Do grupo também fazia parte Marcelo Caetano, que registou nas suas memórias alguns pormenores dessa viagem a bordo do navio "Serpa Pinto", nomeadamente os que resultavam do carácter exacerbado de Júlio Dantas e da ironia de Augusto de Castro. Um dos acontecimentos que proporcionou que cada um destes dois homens desse largas às suas idiossincrasias foi a morte da mãe de Júlio Dantas, ainda a viagem ia no seu segundo dia. Júlio Dantas deu uma tal dimensão nacional a esse facto da sua vida familiar que as autoridades brasileiras se propunham receber a embaixada portuguesa com uma missa de "requiem", na igreja da Candelária.
Augusto de Castro, ao perceber que a representação portuguesa na comemoração da descoberta do Brasil, mal desembarcasse no Rio de Janeiro, ia para uma missa de finados, não se conteve e imediata e certeiramente observou: "Eles no Rio estão equivocados: quem morreu foi a mãe do Dantas, não foi a mãe da embaixada..."
Parafraseando Augusto de Castro, eles no PS estão equivocados. Quem foi preso, quem é arguido é Paulo Pedroso, não é o PS! Mas na forma como o PS reagiu à libertação de Paulo Pedroso sobressai, tal como já havia sobressaído na sua detenção, esta bizarra intenção de atrelar o PS ao desfecho do caso Pedroso.
Mais uma vez reagiram como se fosse o PS, e não um seu militante, que tivesse saído da prisão preventiva. O que quer dizer que, quando o julgamento começar, o PS, se não arrepiar caminho desta estratégia, se vai sentar também no tribunal. Donde, seja qual for a sentença, nunca sairá bem. Porque se Paulo Pedroso for considerado culpado, o PS também o será. E se Paulo Pedroso for considerado inocente, assistiremos ao "remake", em versão "hard", do que se viu esta semana na Assembleia da República: um partido em rota de colisão com o poder judicial.”
Ou, ainda, José Manuel Fernandes no seu editorial de hoje:
”Ferro Rodrigues indignou-se contra o jornalismo populista que, disse, é quase igual à extrema-direita. É pena que não tivesse sido mais concreto pois, se o tivesse feito, talvez tivesse evitado que Ana Gomes tivesse ido para uma sessão do PS em Aljustrel cavalgar exactamente um tipo de jornalismo populista que nem em Portugal se pratica.
Na verdade, o texto publicado pela revista francesa "Le Point" sobre o escândalo da pedofilia dificilmente poderia ser editado em Portugal nos termos em que foi em França. Não porque em Portugal, ao longo do processo da Casa Pia, não se tenham cometido graves atropelos à ética jornalística e muitos abusos - mas porque até ao momento ninguém se atreveu ainda a imprimir em letra de forma os milhares de boatos que circulam pelos corredores das redacções.
Ninguém, perdão: esses boatos já tiveram pouso público na Internet, através de um blogue denominado "muitomentiroso". Aí podíamos encontrar boatos como aqueles a que o "Le Point" deu publicidade e muitos outros, acumulados de forma desordenada e sem nexo aparente. Todos eles poderiam ter sido objecto de investigação pelas autoridades competentes e não sei se o foram. Alguns deles iam até mais longe do que a revista francesa pois esta, ao contrário do que Ana Gomes disse, não acusava ministros de pedofilia mas sim de frequentarem jovens prostitutos num parque lisboeta (o que não é exactamente a mesma coisa).
Ao repetir os boatos do "Le Point" - boatos que por certo não sabe se são verdadeiros ou se são caluniosos -, Ana Gomes optou pelo populismo mais incendiário. Mais: utilizou como arma de arremesso política insinuações que não andam muito longe das que enchiam o odioso blogue já desaparecido. E, por fim, contribuiu para aquilo que a própria definiu como sendo sintomas dos males do país: "uma absoluta desconfiança dos cidadãos e de abandalhamento e infiltração das instituições por esquemas perversos".
Tais declarações - ontem retomadas aos microfones da TSF - causam natural embaraço ao PS e acentuam uma deriva perigosa quer para o partido, quer para a saúde democrática das nossas instituições: o choque frontal entre a principal força da oposição e o Ministério Público.
A semana passada, quer alguns líderes socialistas, quer o procurador geral da República, Souto Moura, falaram demais. Comentaram o acórdão do Tribunal da Relação de forma desequilibrada, disseram apenas meias verdades e esqueceram-se das responsabilidades institucionais que têm. Ajudaram com isso à criação de um clima quer de politização da justiça, quer de judicialização da política.
Ora todos, ao seguirem por esse caminho, acabam por ficar prisioneiros dos desenvolvimentos de um processo cuja matéria de facto está muito longe de estar estabilizada. Basta recordar que, como aqui escrevia Miguel Sousa Tavares na passada sexta-feira, a justiça é humana e, no caso de Paulo Pedroso, quanto à presunção de culpabilidade, os juízes dividiram-se ao meio: de um lado dois juízes da relação, do outro o terceiro juiz da relação e o juiz de instrução. E se isso já de si é perturbante e gera dúvidas, os tiros trocados entre o PS e a Procuradoria só aumentam essa perturbação e essas dúvidas, ajudando a transferir a decisão dos tribunais para a mais aleatória e injusta das arenas: o julgamento na praça pública.
Convinha por isso mais contenção e, sobretudo, muito mais bom senso.”
Quanto ao resto, caro André, nós que já nos vamos conhecendo um pouco, surpreende-me muito pensares que eu quero literal e objectivamente calar alguém. Citares nomes de jornais e revistas, entra já no domínio do delirio a roçar o insulto. Mas eu vou tentar explicar: o “calar” na minha frase, foi no sentido do conselho, não no sentido da censura ou do impedimento da mais importante das liberdades: a de expressão. Se ofendi alguém, peço desculpas.
Shalom.
sábado, outubro 11, 2003
O CONFLITO ISRAELO-PALESTINIANO: CAPÍTULO 289.254
Escreveu-me Jorge Bento:
"Não tenho tido muito tempo para acompanhar a blogosfera, mas é impressão minha ou a recusa do primeiro ministro palestiniano em formar governo e a sua demissão por “desentendimentos” com Arafat passou em branco na blogosfera ? Afinal os israelitas têm razão quando dizem que Arafat é neste momento o principal obstáculo à paz ? Depois das acusações de traição feitas por Arafat ao anterior primeiro ministro palestiniano , que levaram à sua queda , e que foram transformadas na imprensa como resultado das politicas do diabólico Sharon, qual a desculpa para esta nova demissão?"
Sobre o assunto, deixo um artigo de Mark Steyn (já citado no Desesperada Esperança):
"One of the most enduring vignettes of the Great War is the story of its first Christmas - December 1914 - when Germans and British put up banners to wish the other the season's greetings, sang "Silent Night" in both languages, and eventually scrambled up from their opposing trenches to play a Christmas Day football match in No Man's Land and share German beer and English plum jam. After Christmas, they went back to killing each other.
The many films, books, and plays inspired by that No Man's Land truce are all convinced of the story's central truth - that our common humanity transcends the temporary hell of war. When the politicians and generals have done with us, those who are left will live in peace, playing soccer, singing songs, as they did for a moment in the midst of carnage.
Now cross to Haifa on Saturday, when 19 diners were killed in a busy restaurant by a 23-year-old female suicide-bomber, her hair attractively tied in a western-style ponytail, to judge from the detached head she left as her calling card. Try to find the common humanity between the participants in this war. Try to imagine the two sides kicking a ball around, swapping songs. The only place in the modern Middle East where Arabs and Jews coexist is in Israel, especially in Haifa. The restaurant young Hanadi Jaradat blew apart had been owned by an Arab family and a Jewish family for 40 years. It would be interesting to know whether it was targeted for that very reason, in the same way that, in Northern Ireland, the IRA took to killing the caterers and cleaners who worked at army bases. But the intifada is too primal for anything that thought out. It's more likely that once Miss Jaradat had slipped into Israel proper through a gap in the unfinished security fence the European Union and Colin Powell so deplore - any target would do. She was busting to blow.
The Palestinian death cult negates all the assumptions of western sentimental pacifism: If only the vengeful old generals got out of the way, there'd be no war. But such common humanity as one can find on the West Bank resides, if only in their cynicism, in the leadership: old Arafat may shower glory and honor on his youthful martyrs but he's human enough to keep his own kid in Paris, well away from the suicide-bomber belts. It's hard to picture Saeb Erekat or Hanan Ashrawi or any of the other aging terror apologists who hog the airwaves at CNN and the BBC celebrating the death of their own loved ones the way Miss Jaradat's brother did. "We are receiving congratulations from people," said Thaher Jaradat. "Why should we cry? It is like her wedding day, the happiest day for her."
I spent a short time on the West Bank earlier this spring. I would have spent longer, but to be honest it creeped me out, and I was happy to scram across the Allenby Bridge and on through Jordan to Iraq. Say what you like about the Sunni Triangle and RPG Alley, but I never once felt I was in a wholly diseased environment. On the West Bank, almost all the humdrum transactions of daily life take place in a culture that glorifies depravity: you walk down a street named after a suicide bomber to drop your child in a school that celebrates suicide-bombing and then pick up some groceries in a corner store whose walls are plastered with portraits of suicide bombers.
Nothing good grows in toxic soil. You cannot have a real peace with such people; you cannot even have the cold peace that exists between Israel and Jordan, where King Abdullah, host of the Arab-American-Israeli summit at the start of the road map, did not dare display the flag of the Zionist Entity, lest it provoke his subjects.
The problem is not the security fence, but the psychological fence - a chasm really - that separates a sizable proportion of the Palestinian population from all Jews.
AT THE time of that summit, I supported the road map because it seemed to me the best thing to be done was to thrust a state upon the Palestinians as quickly as possible. The present neither-one-thing-nor-the-other Palestinian Authority gives Arafat and company all the advantages of controlling their own territory with none of the responsibilities. Its anomalous status enshrines the Palestinians' victim status and means Israel gets a far worse press internationally than if it were dealing with a sovereign state.
But the main reason for conjuring up a Palestinian state would be to call their bluff. For six decades, nothing the Palestinians have done has made sense if the objective is to secure a state of their own. But, if the objective is to kill Jews, it all makes perfect sense. That's why, in West Bank towns, you see no evidence of nationalist fervor, only of Jew-killing fervor.
The Arab League's decision three decades ago to anoint a murder organization as the sole legitimate repository of Palestinian aspirations was perhaps the critical move in the terrorist annexation of whatever legitimacy this cause once had.
Today Arafat is received by the UN as a head of state, subsidized by the EU and, under Oslo, physically installed in a pseudo-presidential compound. Yet he shows absolutely no desire to run anything other than a murder operation. Ten years ago, the Palestinian Authority was given powers that fell somewhere between those of the Province of Quebec and the Irish Free State. In 1922 in Dublin, the shrewder chaps recognized that the dynamic in the situation would only move one way: once you proved you could run an all-but-fully-independent state, the all-buts would quickly fade away, as one by one they all did. Not in the Palestinian Authority. Arafat is a head of state in no hurry to get a state to head: having to attend to trade and highways and so forth only cuts into his core business. That may be all the more reason to burden him with it.
But the bloody toll of Saturday's bombing reminds us that there's another consideration. Before the Iraq war, I didn't give a hoot about WMD or any of the other lines peddled by Blair and Bush when they were auditioning justifications at the UN. The only reason for getting rid of Saddam was that America couldn't afford not to get rid of him: it was necessary to prick the Middle Eastern terrorist bubble, of which he was the most successful manifestation. There's a similar calculation to be made here: if America is serious about confronting Middle Eastern terrorism, it's hard to see what possible interest it has in rewarding the Arafat squat with nationhood.
Indeed, just as toppling Saddam pour encourager les autres is all the reason you need, so the fact that the sewer regimes of Araby use the Palestinian question as a catch-all excuse for their own failures ought to be the only reason you need for not buying into it. The Palestinian Authority is part of America's war on terror in exactly the way Saddam was: whether or not there are any specific links to al-Qaida is irrelevant; it's part of the same murky waters.
Unfortunately, few members of the Bush administration and no members of the British government recognize that.
So there will be more suicide bombings, and more condemnations of Israel's fence."
Escreveu-me Jorge Bento:
"Não tenho tido muito tempo para acompanhar a blogosfera, mas é impressão minha ou a recusa do primeiro ministro palestiniano em formar governo e a sua demissão por “desentendimentos” com Arafat passou em branco na blogosfera ? Afinal os israelitas têm razão quando dizem que Arafat é neste momento o principal obstáculo à paz ? Depois das acusações de traição feitas por Arafat ao anterior primeiro ministro palestiniano , que levaram à sua queda , e que foram transformadas na imprensa como resultado das politicas do diabólico Sharon, qual a desculpa para esta nova demissão?"
Sobre o assunto, deixo um artigo de Mark Steyn (já citado no Desesperada Esperança):
"One of the most enduring vignettes of the Great War is the story of its first Christmas - December 1914 - when Germans and British put up banners to wish the other the season's greetings, sang "Silent Night" in both languages, and eventually scrambled up from their opposing trenches to play a Christmas Day football match in No Man's Land and share German beer and English plum jam. After Christmas, they went back to killing each other.
The many films, books, and plays inspired by that No Man's Land truce are all convinced of the story's central truth - that our common humanity transcends the temporary hell of war. When the politicians and generals have done with us, those who are left will live in peace, playing soccer, singing songs, as they did for a moment in the midst of carnage.
Now cross to Haifa on Saturday, when 19 diners were killed in a busy restaurant by a 23-year-old female suicide-bomber, her hair attractively tied in a western-style ponytail, to judge from the detached head she left as her calling card. Try to find the common humanity between the participants in this war. Try to imagine the two sides kicking a ball around, swapping songs. The only place in the modern Middle East where Arabs and Jews coexist is in Israel, especially in Haifa. The restaurant young Hanadi Jaradat blew apart had been owned by an Arab family and a Jewish family for 40 years. It would be interesting to know whether it was targeted for that very reason, in the same way that, in Northern Ireland, the IRA took to killing the caterers and cleaners who worked at army bases. But the intifada is too primal for anything that thought out. It's more likely that once Miss Jaradat had slipped into Israel proper through a gap in the unfinished security fence the European Union and Colin Powell so deplore - any target would do. She was busting to blow.
The Palestinian death cult negates all the assumptions of western sentimental pacifism: If only the vengeful old generals got out of the way, there'd be no war. But such common humanity as one can find on the West Bank resides, if only in their cynicism, in the leadership: old Arafat may shower glory and honor on his youthful martyrs but he's human enough to keep his own kid in Paris, well away from the suicide-bomber belts. It's hard to picture Saeb Erekat or Hanan Ashrawi or any of the other aging terror apologists who hog the airwaves at CNN and the BBC celebrating the death of their own loved ones the way Miss Jaradat's brother did. "We are receiving congratulations from people," said Thaher Jaradat. "Why should we cry? It is like her wedding day, the happiest day for her."
I spent a short time on the West Bank earlier this spring. I would have spent longer, but to be honest it creeped me out, and I was happy to scram across the Allenby Bridge and on through Jordan to Iraq. Say what you like about the Sunni Triangle and RPG Alley, but I never once felt I was in a wholly diseased environment. On the West Bank, almost all the humdrum transactions of daily life take place in a culture that glorifies depravity: you walk down a street named after a suicide bomber to drop your child in a school that celebrates suicide-bombing and then pick up some groceries in a corner store whose walls are plastered with portraits of suicide bombers.
Nothing good grows in toxic soil. You cannot have a real peace with such people; you cannot even have the cold peace that exists between Israel and Jordan, where King Abdullah, host of the Arab-American-Israeli summit at the start of the road map, did not dare display the flag of the Zionist Entity, lest it provoke his subjects.
The problem is not the security fence, but the psychological fence - a chasm really - that separates a sizable proportion of the Palestinian population from all Jews.
AT THE time of that summit, I supported the road map because it seemed to me the best thing to be done was to thrust a state upon the Palestinians as quickly as possible. The present neither-one-thing-nor-the-other Palestinian Authority gives Arafat and company all the advantages of controlling their own territory with none of the responsibilities. Its anomalous status enshrines the Palestinians' victim status and means Israel gets a far worse press internationally than if it were dealing with a sovereign state.
But the main reason for conjuring up a Palestinian state would be to call their bluff. For six decades, nothing the Palestinians have done has made sense if the objective is to secure a state of their own. But, if the objective is to kill Jews, it all makes perfect sense. That's why, in West Bank towns, you see no evidence of nationalist fervor, only of Jew-killing fervor.
The Arab League's decision three decades ago to anoint a murder organization as the sole legitimate repository of Palestinian aspirations was perhaps the critical move in the terrorist annexation of whatever legitimacy this cause once had.
Today Arafat is received by the UN as a head of state, subsidized by the EU and, under Oslo, physically installed in a pseudo-presidential compound. Yet he shows absolutely no desire to run anything other than a murder operation. Ten years ago, the Palestinian Authority was given powers that fell somewhere between those of the Province of Quebec and the Irish Free State. In 1922 in Dublin, the shrewder chaps recognized that the dynamic in the situation would only move one way: once you proved you could run an all-but-fully-independent state, the all-buts would quickly fade away, as one by one they all did. Not in the Palestinian Authority. Arafat is a head of state in no hurry to get a state to head: having to attend to trade and highways and so forth only cuts into his core business. That may be all the more reason to burden him with it.
But the bloody toll of Saturday's bombing reminds us that there's another consideration. Before the Iraq war, I didn't give a hoot about WMD or any of the other lines peddled by Blair and Bush when they were auditioning justifications at the UN. The only reason for getting rid of Saddam was that America couldn't afford not to get rid of him: it was necessary to prick the Middle Eastern terrorist bubble, of which he was the most successful manifestation. There's a similar calculation to be made here: if America is serious about confronting Middle Eastern terrorism, it's hard to see what possible interest it has in rewarding the Arafat squat with nationhood.
Indeed, just as toppling Saddam pour encourager les autres is all the reason you need, so the fact that the sewer regimes of Araby use the Palestinian question as a catch-all excuse for their own failures ought to be the only reason you need for not buying into it. The Palestinian Authority is part of America's war on terror in exactly the way Saddam was: whether or not there are any specific links to al-Qaida is irrelevant; it's part of the same murky waters.
Unfortunately, few members of the Bush administration and no members of the British government recognize that.
So there will be more suicide bombings, and more condemnations of Israel's fence."
MAIS UMA VEZ
Lembro: a K está de volta (melhor, está a ser republicada). A revista onde trabalhavam Alberto Castro Nunes, António Cerveira Pinto, António Maria Braga, Francisco Sande e Castro, Graça Lobo, João Bénard da Costa, Manuel Hermínio Monteiro, Pedro Ayres de Magalhães, Pedro Rolo Duarte, Vasco Rosa, Agustina Bessa-Luís, Maria Filomena Molder, Leonardo Ferraz de Carvalho, Paulo Portas, Vasco Pulido Valente, Inês Gonçalves, Álvaro Rosendo, Augusto Brázio, entre outros. E, claro, o núcleo duro: Miguel Esteves Cardoso, Nuno Miguel Guedes, Carlos Quevedo e Rui Henriques Coimbra.
Lembro: a K está de volta (melhor, está a ser republicada). A revista onde trabalhavam Alberto Castro Nunes, António Cerveira Pinto, António Maria Braga, Francisco Sande e Castro, Graça Lobo, João Bénard da Costa, Manuel Hermínio Monteiro, Pedro Ayres de Magalhães, Pedro Rolo Duarte, Vasco Rosa, Agustina Bessa-Luís, Maria Filomena Molder, Leonardo Ferraz de Carvalho, Paulo Portas, Vasco Pulido Valente, Inês Gonçalves, Álvaro Rosendo, Augusto Brázio, entre outros. E, claro, o núcleo duro: Miguel Esteves Cardoso, Nuno Miguel Guedes, Carlos Quevedo e Rui Henriques Coimbra.
sexta-feira, outubro 10, 2003
PACHECO PEREIRA DIXIT
"Uma das vitórias de influência de Paulo Portas, director do Independente, foi introduzir na análise política uma verdadeira obsessão com o julgamento moral. Como era inevitável, if you live by the press you die by the press, ele foi (é) uma das vítimas dessa obsessão e ameaça, aliás, tornar-se a vítima mais simbólica da eficácia dos seus próprios julgamentos. Mas a arrogância moral fez escola e é um dos elementos que hoje define a ecologia do jornalismo português (e de parte da blogosfera, onde a passagem de julgamentos morais taxativos e cortantes é do dia a dia de muitos blogues). Digo português, porque essa vaga já teve momentos mais altos no resto do mundo, no jornalismo anglo-saxónico por exemplo, e percebeu-se que um dos seus efeitos é voltar-se contra os seus autores.
Se há coisa que eu não suporto é essa mentalidade self righteous. Não a suportei em Eanes e no PRD, não a suportei no meu partido quando se quiseram pôr a armar ao “Deus, pátria e família”, não a suportei no PSN de Manuel Sérgio (de que Monteiro e Portas herdaram parte dos votos), não a suportei no Independente, não a suportei na banda Monteiro-Portas contra os “políticos”, não a suportei quando foi da questão da “transparência”, e não a suporto em geral.
Do que eu gosto é da habitual moralidade das pessoas comuns, com qualidades e defeitos, que não se acham melhores do que os outros e que sabem que certas coisas não se fazem porque não se devem fazer, e, mesmo assim, de vez em quando enganam-se, que não andam todos os dias a debitar julgamentos morais sobre tudo e sobre todos. Tenho como certo que o moralismo das elites (e jornalistas e políticos são membros das elites) é um instrumento do cinismo e não da virtude, mas nem por isso deixa de ser eficaz porque comunica com o justicialismo populista. É uma das principais barreiras contra qualquer reforma e qualquer modernização de Portugal. E é pouco saudável … moralmente.Uma das vitórias de influência de Paulo Portas, director do Independente, foi introduzir na análise política uma verdadeira obsessão com o julgamento moral. Como era inevitável, if you live by the press you die by the press, ele foi (é) uma das vítimas dessa obsessão e ameaça, aliás, tornar-se a vítima mais simbólica da eficácia dos seus próprios julgamentos. Mas a arrogância moral fez escola e é um dos elementos que hoje define a ecologia do jornalismo português (e de parte da blogosfera, onde a passagem de julgamentos morais taxativos e cortantes é do dia a dia de muitos blogues). Digo português, porque essa vaga já teve momentos mais altos no resto do mundo, no jornalismo anglo-saxónico por exemplo, e percebeu-se que um dos seus efeitos é voltar-se contra os seus autores."
Volto a assinar por baixo.
"Uma das vitórias de influência de Paulo Portas, director do Independente, foi introduzir na análise política uma verdadeira obsessão com o julgamento moral. Como era inevitável, if you live by the press you die by the press, ele foi (é) uma das vítimas dessa obsessão e ameaça, aliás, tornar-se a vítima mais simbólica da eficácia dos seus próprios julgamentos. Mas a arrogância moral fez escola e é um dos elementos que hoje define a ecologia do jornalismo português (e de parte da blogosfera, onde a passagem de julgamentos morais taxativos e cortantes é do dia a dia de muitos blogues). Digo português, porque essa vaga já teve momentos mais altos no resto do mundo, no jornalismo anglo-saxónico por exemplo, e percebeu-se que um dos seus efeitos é voltar-se contra os seus autores.
Se há coisa que eu não suporto é essa mentalidade self righteous. Não a suportei em Eanes e no PRD, não a suportei no meu partido quando se quiseram pôr a armar ao “Deus, pátria e família”, não a suportei no PSN de Manuel Sérgio (de que Monteiro e Portas herdaram parte dos votos), não a suportei no Independente, não a suportei na banda Monteiro-Portas contra os “políticos”, não a suportei quando foi da questão da “transparência”, e não a suporto em geral.
Do que eu gosto é da habitual moralidade das pessoas comuns, com qualidades e defeitos, que não se acham melhores do que os outros e que sabem que certas coisas não se fazem porque não se devem fazer, e, mesmo assim, de vez em quando enganam-se, que não andam todos os dias a debitar julgamentos morais sobre tudo e sobre todos. Tenho como certo que o moralismo das elites (e jornalistas e políticos são membros das elites) é um instrumento do cinismo e não da virtude, mas nem por isso deixa de ser eficaz porque comunica com o justicialismo populista. É uma das principais barreiras contra qualquer reforma e qualquer modernização de Portugal. E é pouco saudável … moralmente.Uma das vitórias de influência de Paulo Portas, director do Independente, foi introduzir na análise política uma verdadeira obsessão com o julgamento moral. Como era inevitável, if you live by the press you die by the press, ele foi (é) uma das vítimas dessa obsessão e ameaça, aliás, tornar-se a vítima mais simbólica da eficácia dos seus próprios julgamentos. Mas a arrogância moral fez escola e é um dos elementos que hoje define a ecologia do jornalismo português (e de parte da blogosfera, onde a passagem de julgamentos morais taxativos e cortantes é do dia a dia de muitos blogues). Digo português, porque essa vaga já teve momentos mais altos no resto do mundo, no jornalismo anglo-saxónico por exemplo, e percebeu-se que um dos seus efeitos é voltar-se contra os seus autores."
Volto a assinar por baixo.
AINDA PAULO PEDROSO
De Teresa Bento recebi a seguinte missiva:
..."não ilibou Paulo Pedroso de nada."
E devia ter sido ilibado de quê? Que me recorde não há, de momento, qualquer despacho de acusação. Há um inquérito a correr, está indiciado, mas não pode ser ilibado daquilo de que não foi acusado.
No entanto..... se quisermos ser realistas.... ai não que não foi acusado, julgado e condenado! A leviandade nos comportamentos não é, neste caso, exclusiva de ninguém.
E, para terminar, utilizando abusivamente algo que vi citado algures:
"Liberty is liberty, not equality or fairness or justice or human happiness or a quiet conscience." ISAIAH BERLIN
( não sou prima, vizinha, amiga, conhecida do Paulo Pedroso e também não sou militante do Partido Socialista. Sou advogada e incomodam-me algumas coisas. Pormenores....Kafkianos, mas pormenores.....)
Agradecendo o seu comentário, queria esclarecer alguns pontos:
1.º) Paulo Pedroso não tinha de ser ilibado de nada. Obviamente. Mas a verdade é que assistimos a reacções, comentários e gestos que se enquadravam numa espécie de celebração sobre uma decisão «ilibatória». Foram os amigos e pares de Paulo Pedroso que quiseram transmitir essa ideia: “eis um homem injustamente acusado que saiu agora em liberdade por ter sido ilibado”. Foi essa a sensação que trespassou de todo aquele espectáculo. Um espectáculo que só ajudou a confundir as pessoas (repare-se na reacção de muitos cidadãos nos diversos fóruns que se seguiram). Foi nesse contexto que empreguei o termo “ilibado”. Paulo Pedroso não foi “ilibado”, porque não tinha de o ser. Mas houve quem se tivesse esforçado para insinuar isso mesmo. Houve quem se tivesse esfoçado – até mais do que o próprio – para passar uma espécie de esponja sobre um processo que, por muito que custe admiti-lo, ainda o indicia.
2.º) Nunca aqui escrevi uma só palavra que, objectiva ou subjectivamente, acusasse ou condenasse Paulo Pedroso do que quer que fosse. Escrevi-o mais do que uma vez, e volto a fazê-lo: Paulo Pedroso deve ser presumido inocente até trânsito em julgado. Saiu agora em liberdade, com termo de residência, e eu respeito isso. Porque continuo a respeitar e a confiar na justiça portuguesa. Aliás: esta decisão do Tribunal da Relação é a prova de que o sistema funciona e que os cidadãos não estão à «mercê» de uma justiça fechada, corporativa, cega, incapaz de reconhecer os seus próprios erros processuais.
3.º) A frase de Berlin, sobre a liberdade, está manifestamente desenquadrada neste contexto. A ser evocada, deverá sê-lo neste sentido: eu, a Teresa Bento e todos os cidadãos livres têm o direito de exprimir as suas opiniões (eu sempre publiquei no Contra todas as opiniões contrárias à minha). Nesse sentido, volto a expressar a minha modesta opinião: achei triste e indecoroso tudo o que se passou após a libertação de Paulo Pedroso. Dizer isto é bem diferente de dizer que estou em desacordo com a sua libertação. Não estou. Agora, por uma questão de sensibilidade e de princípio, assiste-me o direito de pensar que o Parlamento deveria ter sido poupado a tudo aquilo. O local escolhido foi o pior. Por uma razão muito simples: o perigo de se misturarem esferas que, manifestamente, não podem ser misturadas. O Processo Casa Pia é um processo jurídico/criminal, não é um processo político. Para já não falar nas afirmações de certos dirigentes partidários. Essas sim, levianas e irresponsáveis.
4.º) Nunca fui militante partidário. Não sou primo, vizinho ou amigo de militantes do PP ou do PSD. Gosto de discutir política, não politiquice - que, regra geral, é produzida pelos aparelhos partidários. Também não sou advogado, mas isso não invalida que eu possa dar a minha opinião. De há uns dez anos a esta parte, sou um abstencionista militante. Ou seja, não sofro, nem nunca sofri, de clubite aguda. Quanto muito, sofro na mesma medida que sofrem aqueles que, de tempos a tempos, me vão acusado disso.
Escreva sempre, cara Teresa.
De Teresa Bento recebi a seguinte missiva:
..."não ilibou Paulo Pedroso de nada."
E devia ter sido ilibado de quê? Que me recorde não há, de momento, qualquer despacho de acusação. Há um inquérito a correr, está indiciado, mas não pode ser ilibado daquilo de que não foi acusado.
No entanto..... se quisermos ser realistas.... ai não que não foi acusado, julgado e condenado! A leviandade nos comportamentos não é, neste caso, exclusiva de ninguém.
E, para terminar, utilizando abusivamente algo que vi citado algures:
"Liberty is liberty, not equality or fairness or justice or human happiness or a quiet conscience." ISAIAH BERLIN
( não sou prima, vizinha, amiga, conhecida do Paulo Pedroso e também não sou militante do Partido Socialista. Sou advogada e incomodam-me algumas coisas. Pormenores....Kafkianos, mas pormenores.....)
Agradecendo o seu comentário, queria esclarecer alguns pontos:
1.º) Paulo Pedroso não tinha de ser ilibado de nada. Obviamente. Mas a verdade é que assistimos a reacções, comentários e gestos que se enquadravam numa espécie de celebração sobre uma decisão «ilibatória». Foram os amigos e pares de Paulo Pedroso que quiseram transmitir essa ideia: “eis um homem injustamente acusado que saiu agora em liberdade por ter sido ilibado”. Foi essa a sensação que trespassou de todo aquele espectáculo. Um espectáculo que só ajudou a confundir as pessoas (repare-se na reacção de muitos cidadãos nos diversos fóruns que se seguiram). Foi nesse contexto que empreguei o termo “ilibado”. Paulo Pedroso não foi “ilibado”, porque não tinha de o ser. Mas houve quem se tivesse esforçado para insinuar isso mesmo. Houve quem se tivesse esfoçado – até mais do que o próprio – para passar uma espécie de esponja sobre um processo que, por muito que custe admiti-lo, ainda o indicia.
2.º) Nunca aqui escrevi uma só palavra que, objectiva ou subjectivamente, acusasse ou condenasse Paulo Pedroso do que quer que fosse. Escrevi-o mais do que uma vez, e volto a fazê-lo: Paulo Pedroso deve ser presumido inocente até trânsito em julgado. Saiu agora em liberdade, com termo de residência, e eu respeito isso. Porque continuo a respeitar e a confiar na justiça portuguesa. Aliás: esta decisão do Tribunal da Relação é a prova de que o sistema funciona e que os cidadãos não estão à «mercê» de uma justiça fechada, corporativa, cega, incapaz de reconhecer os seus próprios erros processuais.
3.º) A frase de Berlin, sobre a liberdade, está manifestamente desenquadrada neste contexto. A ser evocada, deverá sê-lo neste sentido: eu, a Teresa Bento e todos os cidadãos livres têm o direito de exprimir as suas opiniões (eu sempre publiquei no Contra todas as opiniões contrárias à minha). Nesse sentido, volto a expressar a minha modesta opinião: achei triste e indecoroso tudo o que se passou após a libertação de Paulo Pedroso. Dizer isto é bem diferente de dizer que estou em desacordo com a sua libertação. Não estou. Agora, por uma questão de sensibilidade e de princípio, assiste-me o direito de pensar que o Parlamento deveria ter sido poupado a tudo aquilo. O local escolhido foi o pior. Por uma razão muito simples: o perigo de se misturarem esferas que, manifestamente, não podem ser misturadas. O Processo Casa Pia é um processo jurídico/criminal, não é um processo político. Para já não falar nas afirmações de certos dirigentes partidários. Essas sim, levianas e irresponsáveis.
4.º) Nunca fui militante partidário. Não sou primo, vizinho ou amigo de militantes do PP ou do PSD. Gosto de discutir política, não politiquice - que, regra geral, é produzida pelos aparelhos partidários. Também não sou advogado, mas isso não invalida que eu possa dar a minha opinião. De há uns dez anos a esta parte, sou um abstencionista militante. Ou seja, não sofro, nem nunca sofri, de clubite aguda. Quanto muito, sofro na mesma medida que sofrem aqueles que, de tempos a tempos, me vão acusado disso.
Escreva sempre, cara Teresa.
quinta-feira, outubro 09, 2003
JOHN MARTIN ALOYSIUS FEENEY
Há livros cujo prazer proporcionado pela sua leitura nos deixam meio basbaques. Aos amigos começa-se por dizer “estou a ler uma obra fantástica”, para logo a seguir se emudecer, aparvalhado. Insistem eles: “Muito bem. E?”. Tentam esgrimir-se uns quantos argumentos mas só saem niquices e miudezas.
Esta introdução é, ela própria, parte de um artefacto retórico para disfarçar a falta de ideias que podiam servir o fim pretendido. Que é este: aconselhar a todos os meus leitores e amigos a leitura de “Searching for John Ford”, de Joseph McBride - a mais completa, fascinante e justa biografia de um dos mais inescrutáveis e geniais realizadores de cinema (edição St. Martin’s Griffin, ISBN 0312310110).
Há livros cujo prazer proporcionado pela sua leitura nos deixam meio basbaques. Aos amigos começa-se por dizer “estou a ler uma obra fantástica”, para logo a seguir se emudecer, aparvalhado. Insistem eles: “Muito bem. E?”. Tentam esgrimir-se uns quantos argumentos mas só saem niquices e miudezas.
Esta introdução é, ela própria, parte de um artefacto retórico para disfarçar a falta de ideias que podiam servir o fim pretendido. Que é este: aconselhar a todos os meus leitores e amigos a leitura de “Searching for John Ford”, de Joseph McBride - a mais completa, fascinante e justa biografia de um dos mais inescrutáveis e geniais realizadores de cinema (edição St. Martin’s Griffin, ISBN 0312310110).
HAJA (ALGUM) PUDOR
O sistema judicial português funcionou. Da mesma forma que havia funcionado anteriormente. Hoje, Paulo Pedroso foi libertado, por decisão do Tribunal da Relação. Decidiu-se que os pressupostos que conduziram à decisão inicial, do Tribunal de 1.ª Instância, de aplicar a medida de prisão preventiva, não eram suficientes. Foi, por isso, tomada a decisão (não unânime, aliás) de contrariar a aplicação da medida de coacção máxima. Tudo bem.
Mas é bom lembrar alguns factos. Neste momento, e nesta decisão, não estiveram em causa os indícios ou o «core business» do processo. Paulo Pedroso é, ainda, um arguido. Da mesma forma que não está provada a sua culpa, o facto de ter saído hoje em liberdade não prova a sua inocência – embora deva continuar a ser presumida. O facto de se ter levantado a medida de coacção máxima (prisão preventiva), não ilibou Paulo Pedroso de nada.
Nesse sentido, o que se passou hoje, após a libertação de Paulo Pedroso, foi degradante. Pareceu-me perfeitamente obscena a forma quase triunfal como Pedroso se pavoneou, vestindo a pele de protagonista de um espectáculo montado pelos seus pares, como se sobre Pedroso tivesse sido lavrada uma decisão definitiva quanto às suas ligações aos casos de pedófilia. O facto de ele ter saído da prisão directamente para a Assembleia da República, foi um acto, desde logo, premonitório. O que se passou a seguir foi de uma total falta de decoro, por parte de Pedroso (que associou esta decisão a mais uma prova da sua inocência) e dos dirigentes do Partido Socialista – os quais, mais uma vez, não se coibiram de prestar mais uma tantas declarações lamentáveis sobre o processo (Manuel Alegre chegou mesmo a atacar a Dra. Catalina Pestana). Pela enésima vez, as orelhas do Juiz Rui Teixeira voltaram a ficar rubras.
Daqui se conclui que, na alegria e na tristeza, o PS salta de espectáculo em espectáculo. Serenidade e ponderação são substantivos desconhecidos no Largo do Rato. É pena.
O sistema judicial português funcionou. Da mesma forma que havia funcionado anteriormente. Hoje, Paulo Pedroso foi libertado, por decisão do Tribunal da Relação. Decidiu-se que os pressupostos que conduziram à decisão inicial, do Tribunal de 1.ª Instância, de aplicar a medida de prisão preventiva, não eram suficientes. Foi, por isso, tomada a decisão (não unânime, aliás) de contrariar a aplicação da medida de coacção máxima. Tudo bem.
Mas é bom lembrar alguns factos. Neste momento, e nesta decisão, não estiveram em causa os indícios ou o «core business» do processo. Paulo Pedroso é, ainda, um arguido. Da mesma forma que não está provada a sua culpa, o facto de ter saído hoje em liberdade não prova a sua inocência – embora deva continuar a ser presumida. O facto de se ter levantado a medida de coacção máxima (prisão preventiva), não ilibou Paulo Pedroso de nada.
Nesse sentido, o que se passou hoje, após a libertação de Paulo Pedroso, foi degradante. Pareceu-me perfeitamente obscena a forma quase triunfal como Pedroso se pavoneou, vestindo a pele de protagonista de um espectáculo montado pelos seus pares, como se sobre Pedroso tivesse sido lavrada uma decisão definitiva quanto às suas ligações aos casos de pedófilia. O facto de ele ter saído da prisão directamente para a Assembleia da República, foi um acto, desde logo, premonitório. O que se passou a seguir foi de uma total falta de decoro, por parte de Pedroso (que associou esta decisão a mais uma prova da sua inocência) e dos dirigentes do Partido Socialista – os quais, mais uma vez, não se coibiram de prestar mais uma tantas declarações lamentáveis sobre o processo (Manuel Alegre chegou mesmo a atacar a Dra. Catalina Pestana). Pela enésima vez, as orelhas do Juiz Rui Teixeira voltaram a ficar rubras.
Daqui se conclui que, na alegria e na tristeza, o PS salta de espectáculo em espectáculo. Serenidade e ponderação são substantivos desconhecidos no Largo do Rato. É pena.
quarta-feira, outubro 08, 2003
E SE...
"Estudantes manifestam-se em Évora...", "Aveiro foi uma das cidades onde os alunos realizaram acções de protesto", "Alunos do ISCSP fecham Faculdade e criticam valor da propina", "Universidade de Évora fechada a cadeado"...
E se... estudassem?
"Estudantes manifestam-se em Évora...", "Aveiro foi uma das cidades onde os alunos realizaram acções de protesto", "Alunos do ISCSP fecham Faculdade e criticam valor da propina", "Universidade de Évora fechada a cadeado"...
E se... estudassem?
terça-feira, outubro 07, 2003
QUEM QUISER NOMEAR O PAPA PARA SAIR DA CASA, LIGUE O 800 000 005
Vivemos numa época em que o povo (onde eu humildemente me incluo) passou a ser (tele) consultado por dá cá aquela palha. Há sondagens para todos os gostos, inquéritos ao virar da esquina, fóruns para «dar voz». A «Praça Pública» tornou-se no grande circo mediático, onde todos podem dizer de sua justiça. Vai daí, o nosso éter passou a ser intermitentemente soterrado pela boçalidade, iniquidade e pelo insulto dos nossos pequenos «especialistas» - que opinam, ex cathedra, sobre decisões políticas, a condição física do Figo, as nódoas negras da Sra. Pinto da Costa, o sistema judicial português ou as movimentações nocturnas na casa mais famosa do país.
Agora, chegou a vez do Papa. Acho curioso, para não dizer sinistro, escutar a douta opinião de ateus e não-católicos sobre o Papa João Paulo II. Salvo raríssimas excepções, estamos em presença de observações de esguelha, a roçar o preconceito, a abusar da mais cega objectividade e do mais pateta anacronismo.
Acontece que o Vaticano não é um clube de futebol, um partido ou a casa Big Brother. É bom lembrar que a Igreja Católica tem as suas idiossincrasias, regras e timings. Tem uma longa história e vem de uma tradição milenar. É a casa do catolicismo e de tudo o que ele representa. Quer se goste ou não.
Hoje de manhã, o Sr. Baptista Bastos afirmava numa rádio, em tom raivoso: “este Papa é contra o progresso, contra a Razão, contra a ciência, contra o prazer, contra o socialismo...”. The usual stuff. O Sr. Baptista Bastos é um ateu e um socialista, que detesta a igreja católica e, está visto, não perdoa o Papa pela queda do socialismo. Entrevistar o Sr. Baptista Bastos sobre o Papa é o mesmo que pedir a opinião do Sr. Louçã sobre W. Bush. Do que é que estavam à espera?
Vivemos numa época em que o povo (onde eu humildemente me incluo) passou a ser (tele) consultado por dá cá aquela palha. Há sondagens para todos os gostos, inquéritos ao virar da esquina, fóruns para «dar voz». A «Praça Pública» tornou-se no grande circo mediático, onde todos podem dizer de sua justiça. Vai daí, o nosso éter passou a ser intermitentemente soterrado pela boçalidade, iniquidade e pelo insulto dos nossos pequenos «especialistas» - que opinam, ex cathedra, sobre decisões políticas, a condição física do Figo, as nódoas negras da Sra. Pinto da Costa, o sistema judicial português ou as movimentações nocturnas na casa mais famosa do país.
Agora, chegou a vez do Papa. Acho curioso, para não dizer sinistro, escutar a douta opinião de ateus e não-católicos sobre o Papa João Paulo II. Salvo raríssimas excepções, estamos em presença de observações de esguelha, a roçar o preconceito, a abusar da mais cega objectividade e do mais pateta anacronismo.
Acontece que o Vaticano não é um clube de futebol, um partido ou a casa Big Brother. É bom lembrar que a Igreja Católica tem as suas idiossincrasias, regras e timings. Tem uma longa história e vem de uma tradição milenar. É a casa do catolicismo e de tudo o que ele representa. Quer se goste ou não.
Hoje de manhã, o Sr. Baptista Bastos afirmava numa rádio, em tom raivoso: “este Papa é contra o progresso, contra a Razão, contra a ciência, contra o prazer, contra o socialismo...”. The usual stuff. O Sr. Baptista Bastos é um ateu e um socialista, que detesta a igreja católica e, está visto, não perdoa o Papa pela queda do socialismo. Entrevistar o Sr. Baptista Bastos sobre o Papa é o mesmo que pedir a opinião do Sr. Louçã sobre W. Bush. Do que é que estavam à espera?
segunda-feira, outubro 06, 2003
SOLIDARIEDADE
O AG está em apuros. Uma gripe que provoca uma inusitada vontade de ocupar a tarde de Sábado com três mantas e cinco episódios do «Love Boat», na Sic Gold, não é brincadeira.
As melhoras, Alberto!
O AG está em apuros. Uma gripe que provoca uma inusitada vontade de ocupar a tarde de Sábado com três mantas e cinco episódios do «Love Boat», na Sic Gold, não é brincadeira.
As melhoras, Alberto!
RODRIGUES, NELSON
"Aí está o milagre da multidão, ainda que seja pequena. Há um fulminante nivelamento intelectual por baixo. O sujeito que se mete no meio de trezentos idiotas será um deles.
Como entender as multidões se elas não falam, não pensam, não sabem e vivem da pura e irresponsável euforia numérica?
Eu era uma das quase 200 mil pessoas presentes. Aconteceu, então, que perdi qualquer sentimento da minha própria identidade. Tornei-me também multidão. Se, de repente, o povo começasse a virar cambalhotas, e a equilibrar laranjas, e a ventar fogo, eu faria exactamente como os demais. E, então, senti que a multidão não só é desumana, como desumaniza."
"Aí está o milagre da multidão, ainda que seja pequena. Há um fulminante nivelamento intelectual por baixo. O sujeito que se mete no meio de trezentos idiotas será um deles.
Como entender as multidões se elas não falam, não pensam, não sabem e vivem da pura e irresponsável euforia numérica?
Eu era uma das quase 200 mil pessoas presentes. Aconteceu, então, que perdi qualquer sentimento da minha própria identidade. Tornei-me também multidão. Se, de repente, o povo começasse a virar cambalhotas, e a equilibrar laranjas, e a ventar fogo, eu faria exactamente como os demais. E, então, senti que a multidão não só é desumana, como desumaniza."
DE VOLTA AO “MUNDO FANTASMA”
Ghost World é um daqueles filmes que entra, directa e irremediavelmente, para a categoria de “filme de culto”, sem sequer passar pela casa partida (ou seja, sem grande esforço). Primeira razão: é fidedignamente baseado na famosa BD de Daniel Clowes, facto que lhe confere uma imediata aura de «outsider». Mas há outras razões: excelente trabalho de casting, irrepreensível direcção e escolha de actores (Buscemi, Birch e Johansson estão sublimes), banda sonora assombrosa, fotografia discretamente inovadora.
Sucintamente, estamos na presença de uma comédia de sabor amargo: um retrato atípico e extremamente inteligente de um universo que, intermitentemente, tem sido responsável por muito do lixo hollywoodesco. Convenhamos: não é fácil retratar o angst juvenil sem cair nas soluções da praxe - fantasiosas e ficcionadas. Zwigoff e Clowes conseguem-no. Mas Ghost World não é apenas um filme sobre duas raparigas de 18 anos, na encruzilhada da maioridade.
Pelos olhos de Enid (Birch), passamos a observar um mundo recheado de idiotas, freaks, loucos, patetas alegres (as coleguinhas da escola e o próprio pai de Enid), impotentes do desejo e excêntricos (Seymour/Steve Buscemi). São estas as personagens que pontuam a vida de Enid e Rebecca (Scarlett Johansson), acabadas de chegar a uma espécie de limbo existencial. Sabem de onde vieram e sabem para onde não querem ir. Mas parecem não saber o que fazer das suas vidas. No fundo, Ghost World é uma fábula de realismo moderno, sobre o desconforto perante o crescente cretinismo no relacionamento humano, presente num mundo em decomposição onde nada mais é certo (o idoso que espera a carreira habitual do autocarro, entretanto desactivada, é disso um exemplo). Enid é, ela própria, um ser humano deslocado. É demasiado sincera para um mundo que premeia o cinismo e a hipocrisia. É demasiado realista para entrar na histeria e no delírio dos seus colegas quanto ao futuro. Não que não haja futuro. Ele existe, só que é sobeja e entediantemente conhecido. E formatado. Daí que o espectador acabe por vestir a pele da «anormal» Enid, observando o tal mundo fantasma: um mundo em desconstrução e declínio, tomado de assalto pela norma do politicamente correcto (a cena final com o cartaz da Coon Chicken Inn é paradigmática), do igualitarismo forçado, da competição desenfreada, da incerteza quanto às certezas formatadas.
Lê-se na apresentação do filme: “Alguma vez pensou ver o mundo de maneira diferente?” Vejam o filme.
Ghost World é um daqueles filmes que entra, directa e irremediavelmente, para a categoria de “filme de culto”, sem sequer passar pela casa partida (ou seja, sem grande esforço). Primeira razão: é fidedignamente baseado na famosa BD de Daniel Clowes, facto que lhe confere uma imediata aura de «outsider». Mas há outras razões: excelente trabalho de casting, irrepreensível direcção e escolha de actores (Buscemi, Birch e Johansson estão sublimes), banda sonora assombrosa, fotografia discretamente inovadora.
Sucintamente, estamos na presença de uma comédia de sabor amargo: um retrato atípico e extremamente inteligente de um universo que, intermitentemente, tem sido responsável por muito do lixo hollywoodesco. Convenhamos: não é fácil retratar o angst juvenil sem cair nas soluções da praxe - fantasiosas e ficcionadas. Zwigoff e Clowes conseguem-no. Mas Ghost World não é apenas um filme sobre duas raparigas de 18 anos, na encruzilhada da maioridade.
Pelos olhos de Enid (Birch), passamos a observar um mundo recheado de idiotas, freaks, loucos, patetas alegres (as coleguinhas da escola e o próprio pai de Enid), impotentes do desejo e excêntricos (Seymour/Steve Buscemi). São estas as personagens que pontuam a vida de Enid e Rebecca (Scarlett Johansson), acabadas de chegar a uma espécie de limbo existencial. Sabem de onde vieram e sabem para onde não querem ir. Mas parecem não saber o que fazer das suas vidas. No fundo, Ghost World é uma fábula de realismo moderno, sobre o desconforto perante o crescente cretinismo no relacionamento humano, presente num mundo em decomposição onde nada mais é certo (o idoso que espera a carreira habitual do autocarro, entretanto desactivada, é disso um exemplo). Enid é, ela própria, um ser humano deslocado. É demasiado sincera para um mundo que premeia o cinismo e a hipocrisia. É demasiado realista para entrar na histeria e no delírio dos seus colegas quanto ao futuro. Não que não haja futuro. Ele existe, só que é sobeja e entediantemente conhecido. E formatado. Daí que o espectador acabe por vestir a pele da «anormal» Enid, observando o tal mundo fantasma: um mundo em desconstrução e declínio, tomado de assalto pela norma do politicamente correcto (a cena final com o cartaz da Coon Chicken Inn é paradigmática), do igualitarismo forçado, da competição desenfreada, da incerteza quanto às certezas formatadas.
Lê-se na apresentação do filme: “Alguma vez pensou ver o mundo de maneira diferente?” Vejam o filme.