O MacGuffin: dezembro 2004

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Post scriptum (a propósito de uma conversa tida há minutos)

Para aqueles que pensaram que o meu anterior post não passou de uma forma mais ou menos difusa e levemente patética de chamar a atenção sobre a minha pessoa e o meu blogue, pedia o obséquio de mentalmente se tratarem. Pelo menos, lavem a cabeça.

PS: para que não haja confusões, o que acabei de escrever não tem nada que ver com o que o João Pereira Coutinho escreveu. São outras questões, outras pessoas, outros «domínios». Só posso agradecer ao João as suas amáveis (e exageradas) palavras.

Para quem não sabe - que é o mesmo que dizer “para quem nunca me tenha lido” – o João é das poucas pessoas que contínuo a respeitar incondicionalmente. A cumplicidade que com ele mantenho é, diria, única. Mais: mesmo à distância, tenho nutrido por ele uma grande amizade (que nunca, aliás, procurei saber se era correspondida: na amizade, repudio cobranças e cobradores). Talvez tudo isto explique a razão porque fiquei emocionalmente combalido com as suas palavras (coisa de «roto», eu sei, mas não há que escondê-lo), para além de speechless. Uppercut, seguido de hook com direito a beijar o chão. Terei, agora, com tempo, de encontrar as palavras certas para uma resposta/comentário à altura. Como vêem, não consigo parar. Não me deixam...




terça-feira, dezembro 21, 2004

Boas Festas e um queijinho da serra

(corrigido)
Caros leitores, amigos, colegas e afins,

Desejando a todos um santo Natal (recheado de colesterol e catalisadores de triglicéridos) e um próspero ano novo (2005, não é? O tempo voa... até parece que foi ontem que Santana Lopes chegou à cadeira do poder), aproveito a ocasião para, em jeito de balanço, agradecer, penhorado, a atenção e a paciência doadas a este blogue durante o estranho ano de 2004. Agradeço, também, a todos os blogues que lincaram o Contra a Corrente e a todos os bloggers e leitores que mantiveram acesa a chama da reciprocidade, no que respeita ao debate de ideias.

Pode sempre dizer-se que esta coisa dos blogues não passa de ardor egocêntrico - transitório, inconstante, acessório - que em pouco ou nada influi na vida de quem os faz. Acontece que, no meu caso, com o passar do tempo, o trabalho de manter um blogue começa a embater, amiúde, e por vezes de forma violenta, com a vida tal qual ela é. Ou seja, com a nobre e real 'vidinha'. Para usar uma expressão que é muito querida à Charlotte, o contínuo gettingalife em que estamos irremediavelmente metidos, leva-nos, mais tarde ou mais cedo, a enveredar por essa coisa chata e quadrada, embora incontornável, da «reavaliação de prioridades» - em nome, claro está, do bom comportamento e das benditas «responsabilidades».

Tempus fugit, já dizia Virgílio. Acrescente-se ao exposto o óbvio mais que ululante: a quantidade de livros que estão por ler, ou terminar; as revistas que gritam para ser lidas; as viagens adiadas vezes sem conta; a atenção a dar aos que a merecem; a solidariedade para com Jerónimo de Sousa. Tudo parece concorrer - como se de um insidioso plano se tratasse - para a formação de uma bizarra sensação de desconforto, própria de quem parece estar a ser observado, de dentro, mais pelo que não faz, ou está a deixar de fazer, do que pelo que faz. Um pequeníssimo mas ainda assim irritantemente perceptível sussurro do tipo “cut the fucking crap and do the right thing, dude!”. Ah, grandioso Lebowski, o quanto te invejo!

Vem isto a propósito do quê? Ah, já sei: de «reconsiderações». É tempo de reconsiderar se vale a pena continuar a expor publica e diariamente as nossas ideias, sensibilidades e opiniões sobre a espuma dos dias, fingindo que meio mundo está interessado em saber a nossa opinião sobre o Eng. Sócrates (é melhor não…), o Michael Bublé (um pastiche de não sei quem) ou o último filme do Terry Zwigoff (ainda não vi e é muito bom) - exposição esta, por sua vez, manhosa e caoticamente entremeada por entre relatórios, livros, reuniões, mapas de gestão, análises de sensibildiade, as solicitações da filhota, os anseios da namorada e os DVD's do Seinfeld.

Não sei, por isso, se voltarei a este espaço no próximo ano. Não sei se voltarei a escrever ou se o deixarei de fazer. Caso abandone a escrita – essa inebriante, ébria e infame actividade solitária - não sei se as saudades serão suficientemente fortes para voltar a debitar caracteres no personal computer e pressionar esse botão mágico que dá pelo nome de "Publish Post". Como diria Guterres: só fazendo as contas.

Portantos, pá, nada sei a não ser isto: vou parar. Por um momento. Se tudo correr de feição, voltarei. Ou talvez não.

Até para o ano. Se Deus quiser.

Next Year, Baby
(Jamie Cullum)

Next Year,
Things are gonna change,
Gonna drink less beer
And start all over again
Gonna read more books
Gonna keep up with the news
Gonna learn how to cook
And spend less money on shoes
Pay my bills on time
File my mail away, everyday
Only drink the finest wine
And call my Gran every Sunday
Resolutions
Well Baby they come and go
Will I do any of these things?
The answers probably no
But if there’s one thing, I must do,
Despite my greatest fears
I’m gonna say to you
How I’ve felt all of these years
Next Year, Next Year, Next Year

Provavelmente, a mais bela canção de desamor alguma vez escrita

À falta da melodia, aqui fica a letra:

Lover, You Should`ve Come Over
(Jeff Buckley)
Looking out the door i see the rain fall upon the funeral mourners
Parading in a wake of sad relations as their shoes fill up with water
And maybe i'm too young to keep good love from going wrong
But tonight you're on my mind so you never know

When i'm broken down and hungry for your love with no way to feed it
Where are you tonight, child you know how much i need it
Too young to hold on and too old to just break free and run

Sometimes a man gets carried away, when he feels like he should be having his fun
And much too blind to see the damage he's done
Sometimes a man must awake to find that really, he has no-one

So i'll wait for you... and i'll burn
Will I ever see your sweet return
Oh will I ever learn

Oh lover, you should've come over
'Cause it's not too late

Lonely is the room, the bed is made, the open window lets the rain in
Burning in the corner is the only one who dreams he had you with him
My body turns and yearns for a sleep that will never come

It's never over, my kingdom for a kiss upon her shoulder
It's never over, all my riches for her smiles when i slept so soft against her
It's never over, all my blood for the sweetness of her laughter
It's never over, she's the tear that hangs inside my soul forever

Well maybe i'm just too young
To keep good love from going wrong

Oh... lover, you should've come over
'Cause it's not too late

Well I feel too young to hold on
And i'm much too old to break free and run
Too deaf, dumb, and blind to see the damage i've done
Sweet lover, you should've come over
Oh, love well i'm waiting for you

Lover, you should've come over
'Cause it's not too late


segunda-feira, dezembro 20, 2004

Bom resumo

Da teoria política de Oakeshott. No Picuinhices.

(a talhe de foice, deixo alguns links de postas minhas sobre Michael Oakeshott: aqui, aqui, aqui e aqui.)

With compliments

Como assinante da revista The Economist, acabei de receber uma prendinha de Natal: The Economist Pocket Diary 2005 (capa em real leather). Nele ficamos a saber, entre outras coisas, que em Portugal se recomenda, para pernoitar, o Ritz Four Seasons, na Rua Rodrigo da Fonseca, e o Lapa Palace, na Rua do Pau de Bandeira. Precisamente.

Entretanto…

…o Grupo dos Amigos de Olivença (GAO) deseja-me um Feliz Natal. Feliz Natal para o Grupo dos Amigos de Olivença e para os amigos do Grupo dos Amigos de Olivença.

Para quem não sabe, o GAO, como aliás o próprio nome indica, é um grupo de cidadãos portugueses amigos da vila de Olivença (Espanha) que lutam, como amigos que são dos habitantes da vila de Olivença e dos amigos dos amigos de Olivença, para que Olivença não volte a ser portuguesa.

Corruption of the mind?

Um comentário? Oakeshott, Michael, Rationalism in Politics, Liberty Fund Inc (ISBN: 0865970955)

Não, caro Miguel...

...não é lapso.

Então foi assim...

Maradona, meu panel... amigo, o programa (Eixo do Mal) foi um bom programa. Mais: foi histórico. Caíram literalmente todos em cima do Daniel Oliveira e do seu Bloco de Esquerda (ainda deu para ouvir o Daniel, já em registo supostamente off, a lamentar o «incidente», a que não será alheio o facto de ele ter escrito o que escreveu, logo a seguir, sobre o Bloco).

Deixa-me, também, dizer-te que estou a adorar a forma como esse teu lado feminino (para não lhe chamar outra coisa) te leva a postar fotografias de tigrezinhos e passarões de bico cor-de-rosa (muito giro o albatroz).

domingo, dezembro 19, 2004

Prémios 'MacGuffin/2004'

Os melhores, na modesta opinião deste vosso criado.

BLOGUES
Affinitas Maxima
(ordem alfabética)
  • A Causa Foi Modificada

  • Aviz

  • Babugem

  • Homem a Dias

  • João Pereira Coutinho (aka Caviar)

  • Roda Livre

  • Praise them for their grace and favour
    (ordem alfabética)
  • A Casa Encantada

  • A Memória Inventada

  • Impensável

  • Intermitente

  • Jaquinzinhos

  • Rua da Judiaria

  • Sem Emenda

  • Voz do Deserto

  • E ainda...
    (ordem alfabética)
  • Bomba Inteligente

  • Desesperada Esperança

  • Fora do Mundo

  • Miniscente

  • Mood Swing

  • O Acidental

  • O Anacleto

  • Touch Of Evil

  • Triciclo Feliz

  • Umbigo Niilista

  • Vitriolica Webb’s Ite

  • Rijos dos queixos
    (ordem alfabética)
  • Barnabé

  • Blogue de Esquerda

  • Pula Pula Pulga

  • Terras do Nunca

  • Deixam saudades
    (ordem alfabética)
  • Comprometido Espectador

  • Liberdade de Expressão

  • My Moleskine

  • Pastilhas

  • Menções Honrosas
    Luciano Amaral (O Acidental)
    João Miranda (Blasfémias)

    LIVROS (1)
    Alexander Waugh Fathers And Sons
    Rui Ramos Outra Opinião. Ensaios de História
    João Pereira Coutinho Vida Independente 1998-2003
    Millôr Fernandes Pif-Paf
    Alexandre O’Neill Coração Acordeão
    As Rimas de Petrarca (Trad. Vasco Graça Moura)
    Philip Larkin Further Requirements: Interviews, Broadcasts, Statements and Book Reviews 1952-1985
    Alain de Botton How Proust Can Change Your Life
    Jacques Barzun Da Alvorada à Decadência
    Phyllis Chesler The New Anti-Semitism
    Paul Franco Michael Oakeshott: An Introduction
    Gertrude Himmelfarb The Roads to Modernity
    Eça de Queirós, Ramalho Ortigão As Farpas (Coord. Maria Filomena Mónica)
    John Lukacs Five Days In London

    MEDIA
    The Spectator
    New Criterion
    The Times Literary Supplement
    The Atlantic
    Antena 2
    Sexy Hot

    MELHOR CRÓNICA DO ANO
    “A Christmas message to New labour: give up preaching class hatred” por Paul Johnson, Spectator 18/25 Dezembro Christmas Double Issue (reproduzida abaixo)

    MELHOR NÚMERO/EDIÇÃO DE UMA REVISTA
    The Spectator Christmas Double Issue

    CD’s (2)
    Bernardo Sassetti Indigo (Clean Feed)
    Modern Jazz From West Germany 1962-1968 (Sonar Kollektiv)
    Enrico Pieranunzi, Marc Johnson, Joey Baron Play Morricone vol. 2 (Cam Jazz)
    Bill Evans You Must Believe In Spring (reed. Rhino/Warner)
    Laura Veins Carbon Glacier (Bella Union)
    The Streets A Grand Don’t Come For Free (Pure Groove Music)
    A Naifa Canções Subterrâneas (Sony/Columbia)
    Magnetic Fields I (Nonesuch)
    Kings of Convenience Riot On An Empty Street (Source/Virgin)
    Morrisey You Are The Quarry (Attack Records)
    Elvis Costello The Delivery Man

    CINEMA (2)
    (Fiz o que um homem sensato deve fazer: ver pouco, rever muito.)
    Sofia Coppola Lost In Translation
    Night Shyamalan The Village
    The Incredibles: Os Super-Heróis

    DVD’s (2)
    Krzysztof Kieslowski Três Cores: Azul, Branco, Vermelho
    Caixa Jacques Tati
    Hayao Miyazaki Conan, O Rapaz do Futuro
    Seinfeld Séries 1, 2 e 3
    Gato Fedorento Série Fonseca
    Spike Lee A Última Hora
    Sim, Sr. Ministro Séries 1, 2 e 3
    Monty Python E Agora Algo Completamente Diferente
    Colecção Clássicos do Público

    RESTAURANTES E CASAS DE PASTO (3)
    Pap’Açorda (Lisboa)
    Luar de Janeiro (Évora)
    Botequim da Mouraria (Évora)
    O Chana (Redondo)
    O Barro (Redondo)
    Sueste (Ferragudo)
    Mercado do Peixe (Lisboa)
    XL (Lisboa)
    Tromba Rija (Leiria)
    Marisqueira “i” (Zambujeira do Mar)

    MELHOR PRATO/PETISCO
    Arroz de Cherne com Lagosta (Luar de Janeiro)
    Queijo Assado com Oregãos (Botequim da Mouraria)

    VINHAÇA (4)
    -Alvarinho:
    Deu La Deu 2003 (Adega Coop. De Monção)
    -Tintos:
    Quinta do Côtto 2000
    Quinta do Portal – Touriga Nacional 1999
    Chaminé
    Cortes de Cima
    Herdade Grande
    Vila Santa 2000
    Monsaraz-Reserva 2000

    AZEITE
    Azeite de Moura Virgem Extra (Coop.Agrícola Moura e Barrancos)

    MANTEIGA
    Président Meio-Sal (Caixa de Cartão)

    PÃO
    do Torrão
    da Vidigueira

    CEREAIS
    Multi Cheerios

    IOGURTE (4)
    Emmi

    COMPOTAS/MEL (4)
    Eco Terra (Viana do Alentejo)
    Meldelvas

    CHOCOLATE (4)
    Noir Intense 70% Cacau (Nestlé)
    Truffes Praline (Bernard Castelain)

    MASSAS (4)
    Delverde S.p.A.

    ERVAS AROMÁTICAS (4)
    Saravane Mélange d'Herbes Ciselées

    SAL
    Flor de Sal Bela Mandil, Necton SA

    COMIDA PARA CÃO (5)
    Hill’s

    CHAMPOO
    Babé

    GEL DE BANHO
    Babé

    PAPEL HIGIÉNICO
    Renova Progress Folha Dupla

    SAPATOS
    Prada
    Osklen

    TÉNIS
    Nike
    Puma

    PASTA DE DENTES
    Elmex

    CORTA-UNHAS
    Vitry

    MEIAS
    Timberland

    PRAIAS
    Falésia
    Pego

    LOJA
    Purificacion Garcia

    MÁNICA DE BARBEAR
    Braun

    PERFUME
    Comme des Garçons 71

    GAJAS (5)
    Scarlett Johansson
    Adriana Lima
    Valentina Zelaeva
    Julia Stegner

    1) Escutados e vistos em 2004
    2) Lidos em 2004
    3) Visitados em 2004
    4) Provados pela primeira vez em 2004
    5) Não provados em 2004

    Paul Johnson

    A Christmas message to New Labour: give up preaching class hatred
    por Paul Johnson in The Spectator
    "Christmas is a time of goodwill and I must, as usual, suspend my dislikes for the season. What are they? The list lengthens every year. It now includes Scotch announcers on the BBC and radio reporters who use what I call Elementary School Sing-song when reading their (often ungrammatical) dispatches. All footballers and their managers (and mistresses) and football fans. Men who shave their heads; Welshmen (not Welshwomen, far from it); TV producers, and especially their assistants who ring me up and ask me to appear on their beastly programmes and call me ‘Paul’; all New Labour MPs and life peers and, a fortiori, Social Democrats — David Owen, who knew, rightly called them ‘Labour with syphilis’; gossip columnists, whatever paper they work for; newspaper photographers, who waste my time and then connive with picture editors to show close-ups of me looking blind, toothless and senile; writers of Gobble Columns — not cookery writers and especially not Tamasin Day-Lewis, who is not only a brilliant stylist but a cuisinière of extraordinary skill — you should taste her caramel orange ice cream! I dislike Yags and Chromos, Lugs, Voidies and Snagereens; pushy people who are always grabbing the headlines, like Nigella Lawson, the Archbishop of Canterbury (and the Bishop of Oxford), Michael Winner, Richard Branson and Philip Green; anyone connected with the Turner and Booker Prizes, and so dedicated to the destruction of art and literature; nearly all intellectuals, and especially anti-American ones, who curse the United States, all its inhabitants and everything it stands for in one breath while puffing their way across the Atlantic with the next to collect their royalties from the generous Joe Public. I dislike mullahs who enjoy our hospitality and tolerance and plan to slit our throats; Jacques Chirac and his latest puppy-dog camp-follower, poodle and yes-man, the Spanish Prime Minister; anti-Semites who pretend they are anti-Zionists and who really want to begin again where Hitler left off — and a great many other monsters, real and imaginary, Dongerites, Toileys, Loabs and Somerset Shingoes. I particularly dislike the Secretary of State for Culture and her horrible fountain in Kensington Gardens. Indeed, I dislike all ministers except Tony Blair and the Home Secretary.

    Let me assure readers I am totally without prejudice. I do not prejudge. I have formed my dislikes on the basis of long experience. I tried explaining this once to James Baldwin, who complained to me that it was sheer race prejudice and homophobia which made people dislike him: ‘No, James, it is not prejudice, it is actual experience of how awful you are.’ He said, ‘What experience have you had of prejudice?’ I replied, ‘Listen, old sod, if, like me, you were born in England red-haired, left-handed and a Roman Catholic, there’s nothing you don’t know about prejudice.’ At this point he stumped off in a rage.

    But what I said was, is, true, though perhaps less so now than in my salad days. If you are left-handed you are liable to be told you are aggressive and likely to live less long than the rest of humanity. Actually I don’t mind that. And, having had enlightened parents, I was spared the business of being forced to use my right hand and so turned into a hopeless stammerer, like poor King George VI. Of course his father, George V, did this because he thought ‘there’s no such thing as a first-class shot who shoots left-handed’. This view was once widely held in the army, especially in rifle regiments like mine. Your company sergeant-major was liable to thrust his enormous red-faced head to within an inch of your nose, so you could see last night’s beer-stains on his eyeballs, and roar, ‘Southpaw, are you? I’ll paw you, believe you me!’ Fortunately I had learnt to shoot right-handed at school, as well as with the left, but other folks were not so lucky, because in those days the King’s Royal Rifle Corps did not go in for Lee-Enfield 303s with a left-hand bolt-action. Latrine duties for them; and the army did not take Nicholas Serota’s view that a latrine is a supreme work of art, like a Michelangelo ceiling — just an object to be scrubbed, daily.

    Having red hair, in my experience, exposes you to the worst form of prejudice, worse by far than skin colour. And accusing red-haired boys of being belligerent is still approved of, especially on the Left. At my convent school, the delightful and warm-hearted Dominican nuns assured me that red hair was no stigma. Sister Mary Angela told me, ‘Many of the angels have red hair.’ But at boarding school it was not the same. My mother would not allow me to go away to school until I was 12, so I arrived at the big school not having attended the attached prep school. All the other boys had, so I was an exception. And my flaming curls drew attention to me. Shortly after my arrival I was attended by a delegation of boys, or perhaps surrounded would be a more accurate word. It essentially consisted of one large boy and his sycophants. He had a powerful voice and was known as Boomer, and was lock-forward in the under-14 XV. He surveyed me, up and down, and said, ‘You’re a new squit, aren’t you? And suffering from capillary inflammation, I see. Can you give me one good reason why you should not be beaten up?’ By a happy chance I had been taught boxing at my previous school, but I realised that Boomer’s height was an insuperable disadvantage unless I could reduce it. So I said, ‘Yes, Boomer, I have got a good reason, but I must whisper it.’ Hoping to hear something disgusting about me, which he could exploit, Boomer grinned and condescendingly lowered himself to listen. I instantly delivered what I believe to this day was an inspired and wholly justified uppercut to the side of his jaw, which caused him to yelp in pain, surprise and indignation. A general mêlée ensued, like a bar fight in an old-fashioned Western, and then, as if on cue, one of the masters arrived, took in the disgraceful scene at a glance, noticed my red hair and remarked in sorrowful tones, ‘Oh dear, Johnson, fighting already, I see.’ Then I knew that I lived in an unjust world.

    As I say, at Christmas time I suspend my dislikes, always in the hope that they will somehow, by a mysterious stroke of Divine Providence, disappear for good and never again cause me anger. I pray to this effect, regularly and not just at this festive season of goodwill. Only prayer will do it. Dislikes cannot be eradicated by law. Still less can we stamp out hatred by statute. We already have laws to make racism unlawful but there is more of it than ever. Now New Labour is trundling through Parliament a law to ban religious hatred. That will not work either. Indeed, religious sectarianism is only just beginning in England. And anyway how can the Labour party ban hatred in one form when it officially practises it in another? The Labour party was formed in 1900 to fight the class war, and it is still at it. Indeed, one of the MPs most closely associated with the law to ban hunting has just admitted that it has nothing to do with animals, but is a piece of class warfare aimed at what he calls ‘the gentry’. Why not put preaching class hatred in the same category as preaching race hatred or religious hatred? Now that’s a thought for this Christmas."

    sexta-feira, dezembro 17, 2004

    Eu gostava de acordar assim



    Weary

    Coisas de que gosto #1

    Encetar um Moleskine. Pautado.

    Ahhh!!

    César teve o seu Brutus, Carlos I teve o seu Cromwell, ao MacGuffin I saiu-lhe o FJV!!!

    Mas já que bufaste, caríssimo Francisco, deixa-me lembrar-te, em registo socratiano, Lady Mary Wortley Montagu (1) e Ovídio (2):

    (1) Peolple wish their enemies dead – but I do not; I say give them the gout, give them the stone!

    (2) Ipse docet quid agam; fas est et ab hoste doceri
    (qualquer coisa como « Ele próprio me ensina o que devo fazer ; é correcto ser ensinado pelo inimigo»)

    Mas... Ahhhh!!!

    PS: Talvez tudo isto explique isto e isto.

    Tempus lenit odium

    Caro Luís: No campo polistético a minha posição encerra, em sim mesma, uma espécie de quadratura do circulo ontologicamente monista que peripateticamente influi na recusa hermenêutica da desconstrução derridiana que a muitos ressoa como uma visão escatológica aninhada entre dois vórtices – o aristotélico e o platónico - que condicionam ut supra quaisquer elucubrações de natureza estetizada, as quais, hic et ubique, irromperão sempiternamente num devir senavogal mais devedor de Schelling do que de Humboldt. No campo estelítico é mais ou menos a mesma coisa.

    PS: para quando uma cafezada?

    quinta-feira, dezembro 16, 2004

    Mainardi

    Entrevista aqui (via Aviz). Excerto:

    Semana 3: Você acha as políticas culturais do governo importantes? Eu queria que você até falasse um pouco dos teus filmes, de como foi juntar dinheiro e tudo mais...
    Mainardi: Eu nunca aceitei dinheiro de leis de incentivo do Estado porque eu acho que o consumidor não é obrigado a financiar as minhas veleidades artísticas. Se eu tenho veleidades artísticas, problema meu. Se eu faço um filme que ninguém quer ver, problema meu. Se eu faço um filme que todo mundo quer ver, eu encho a botija de dinheiro (risos). É simples assim. Não deve haver política cultural, não deve haver ministro da cultura, não deve haver secretário da cultura, não tem que ter nada. Tem que ter gente que cuida do teatro municipal, que limpa tudo, que troca o revestimento das poltronas e toca pra frente. Se for pra não ter cultura, não vai ter cultura. O Estado corresponde por mais de 50% do mercado editorial brasileiro, das compras de livro. É uma inversão. Não existe isso. A gente lê menos, a gente não atribui importância à leitura, então paciência, fazer o quê? Não é o Estado que vai suprir isso. Eles não podem fazer o livro, a biblioteca e o leitor também.




    Ao cuidado da Sra. Dona Helena

    No contexto de um certeiro aviso/alerta sobre a natureza maquiavélica, diria antes pérfida (já está na hora de poupar o pobre Maquiavel), dessa tal de comadre (uma criatura cuja propensão para a má língua, a mentira e o boato é do mesmo grau da de Gomes da Silva para o burlesco), diz vossemecê que, e passo a citar, quando passo em Évora e vou ao Moinho, penso sempre: "aposto que o ilustre ainda não provou este gaspacho”. A minha cara amiga não só está equivocada (há anos que alimento o meu corpinho com os gaspachos do Moinho do Cú Torto), como seria de bom tom pensar:

    “Mais uma vez em Évora e mais uma vez me preparo para cometer a desfeita de nada dizer ao bom do MacGuffin.”

    Isso sim, é que seria bem pensado.

    Clive James

    Ainda a propósito do programa Prós e Contras e da generalidade dos programas televisivos, palco preferencial para declarações de idiotice e incompetência por parte de quem hoje dá a cara na têvê, lembrei-me desta pequena passagem de um discurso de Clive James sobre o fenómeno da desertificação na TV, no que há qualidade de fazedores de programas diz respeito, a que ele deu o nome de Bring Back the Overqualified:

    “Vilified from two directions, the older generation of mandarins lost some of their confidence, and the younger generation started off without it. There was a lost of belief, and especially in the area I am talking about tonight. The left wing’s simplistic loathing of paternalism, and the right wing’s disingenuous advocacy of the sovereign people, combined to produce a lasting, toxic residue: a fear of putting anyone on the screen for long who might look or sound as if he or she (especially she, sadly enough) has been blessed – whether by background, education or the hand of God – with an air of authority not shared by the viewers at home. One result was this fading away of the old soldiers. Another was their partial replacement by these disembodied voices. And perhaps the most disturbing result of all, visible in all too many fields of television now, has been the gradual but seemingly unstoppable emergence of fresh faces with nothing to say for themselves. I’m not here to mock them: not just because I don’t want them to mock me back for my own faults, but because I’m sure most of them are nice, honest people. I don’t belong to the school of thought that says Terry Christian was invented by the X-files special effects department. He looks to me like a brave young man struggling desperately against odds. What I question is the notion that television personalities chosen to be unthreatening present no threat.”

    Por cá, o Presidente trata desses assuntos

    Lord Butler, em entrevista à Spectator:

    P: On the whole, the country is well governed?
    Lord Butler: Well, I think we are a country where we suffer badly from Parliament not having sufficient control over the executive and that is a very grave flaw. We should be breaking away from the party whip. The executive is much too free to bring in a huge number of extremely bad Bills, a huge amount of regulation and to do whatever it likes – and whatever it likes is what will get the best headlines tomorrow. All that is part of what is bad government in this country.”

    Por outro lado, olhando para o nosso parlamento…

    Uma resposta à letra

    (Dedicado aos simpáticos Esdrúxulos)

    Os dez mandamentos de um blogger de esquerda:

    1. Não perceberás que a demissão de um ministro pode não ser motivo para a dissolução da AR. Dito de outra forma, deverás enfatizar até à exaustão qualquer percalço de um governo de direita, para que passe a servir de pretexto não só a «indignações», mas sobretudo a «dissoluções»;

    2. Endeusarás o Dr. Soares, com direito a elogio fúnebre precoce, e esquecerás que ele não passa de um mero terráqueo, com defeitos e virtudes iguais a qualquer ser humano;

    3. Invocarás a constituição quando te der jeito, e esquecê-la-ás quando te for proveitoso;

    4. Acharás que a dissolução da AR nunca será grave em nenhuma circunstância (sobretudo na circunstância de um presidente de esquerda e de um governo de direita);

    5. Cultivarás um ódio de estimação pelo CDS/PP e pelo Portas dos «fatinhos à lord inglês»;

    6. Falarás mal dos boys da função pública só quando o governo for de direita, e nunca por um instante deverás perceber que a própria função pública, pela qual demonstrarás um afecto agudo e grave (nunca esdrúxulo), reflecte a pior face do teu país;

    7. Papaguearás contra a guerra do Iraque de forma corporativa, se possível arregimentando as tropas na “rua”, e não reconhecerás como pessoal, privada e intransmissível qualquer opinião de sentido contrário;

    8. Não desculparás Santana com Guterres, não só porque é estúpido fazê-lo mas, acima de tudo, porque, para além de seres amnésico, ainda poderás ter de premiar a solene incompetência deste com o teu voto para a presidência;

    9. Berrarás aos quatro ventos que a direita é «conservadora», «reaccionária» e está feita com os «interesses» do (grande) «capital», e arranjarás como sólido argumento para criticares a suposta falta de democraticidade dos gajos de direita, o facto dos seus blogues não terem caixa de comentários, mesmo que, sem querer, acabes por arrolar no grupo o André Belo e o Pedro Oliveira (que, infelizmente da pior maneira, perceberam agora a princípal razão porque a malta da direita é avessa às caixas de comentários);

    10. Baterás nos habituais ceguinhos (Delgado & Companhia), à falta de tema, argumentos e, eventualmente, inteligência.

    Down memory lane

    A propósito desta posta do Rui, recordo uma posta minha, escrita há bué (já está no dicionário da Academia).

    A esquerda e a cóltura
    Tenho amigos e «conhecidos» que, ao fim destes anos, continuam incrédulos em relação às minhas opções estéticas. A razão é simples: sendo supostamente «de direita» - conservador e/ou liberal - não deveria estar inclinado para certas tendências e gostos, muito menos apto a compreender certas manifestações culturais. Como é possível, questionam-se, um tipo não alinhado politicamente na grande famiglia da esquerda (da esquerda caviar à esquerda ‘tás-aqui-estás-em-Seattle-a-partir-montras, passando pela esquerda “cool as Miguel Sousa Tavares”) ter sensibilidade suficiente para apreciar Beckett e Ibsen, Italo Calvino e Dostoievski, Kieslowski e Moretti, Lynch e Truffaut, Durutti Column, Billy Bragg ou Smiths? Como é possível, a um amante de Bellini, Mahler, Bacon, Lucien Freud e Rothko, alinhar numa corrente política «insensível», «reaccionária» e, agora, «belicista»?

    Um leitor da Coluna Infame, questionava, há dias, Pedro Mexia pelo facto deste gostar de Sonic Youth. Segundo o leitor, tal gosto esbarra estrondosamente com as posições políticos do Pedro porque, como toda a gente sabe, os Sonic Youth são um eminente «grupo de esquerda». Eis o problema, cristalinamente escancarado: a esquerda não tem pejo em classificar e catalogar esta ou aquela manifestação artística como sua. Em boa verdade, continua a julgar-se no direito de pensar que tem o monopólio da cultura e das coisas do «espírito». Exibe, intermitentemente, o seu fétiche: politizar tudo o que toca. Há sempre que vislumbrar uma “mensagem”, um “recado”, uma ”posição”, um “desígnio” político para uma clientela eleita. Caso contrário não conta, não é elegível para pertencer à «sua» cultura, que é a «boa» cultura – aquela que é relatada no Acontece (bocejo) ou num qualquer pasquim venerado.

    O problema vai, no entanto, bem mais fundo. Há anos que as mais proeminentes figuras do ‘milieu’ cultural, como são o caso dos inefáveis e ‘deeply intellectuals’ Prado Coelho e Augusto M. Seabra, difundem ex-cathedra a doutrina da separação de águas, segundo a qual a cultura – a sua organização, selecção, escolha e divulgação – deve ser entregue aos verdadeiros guardiões do templo, sob pena de aparecerem certos figurões (Vasco Graça Moura, por exemplo) que venham subverter a lógica da coisa (porque a «boa» cultura não pode ser popular nem tradicionalista: tem de «rasgar», «incomodar», «questionar», «fazer avançar»). Vai daí, deitam mão das chamadas artes vivas (música, teatro, cinema, etc.) e tratam de: a) aglutinar, por um lado (escolhendo, para o seu lado, o que der jeito); e b) (re)criar, por outro (perante o crescente protagonismo da política como linguagem universal, o artista/autor é impelido a sair da sua solidão criadora para se prostituir com aquela).
    Quem do “lado de lá” abrace os «seus» artistas e respectivas obras, das duas uma: ou está distraído, ou está equivocado (na escolha ou no lado). Desta lógica resulta, para mim, um prazer meditativo: verificar como a esquerda, em abstracto, contínua convencida e altiva em relação ao seu putativo papel regulador e intervencionista sobre os gostos e opções das pessoas. No fundo, estamos hoje como estávamos há vinte, quarenta ou cem anos atrás.

    Voltando à questão inicial, porque temo que me tenha desviado irremediavelmente da rota, se me disserem que o Billy Bragg, o Thurston Moore, a Kim Gordon ou o Black Francis são de esquerda, tudo bem. Não vou negar essa evidência. Mas é bom não confundir as posições políticas dos autores/protagonistas, com a sua própria produção artística. É arriscado e, muitas vezes, errado. Em 99% dos casos, irrelevante. Os Durutti Column, por exemplo, foram buscar o seu nome ao revolucionário anarquista Buenaventura Durruti, e o próprio álbum “LC” não é mais do que a abreviatura de “Lotta Continua”, com evidentes ligações ao ideário esquerdista. Mas daí até se afirmar que a sua música é de «esquerda» vai uma enorme distância. O Billy Bragg, por exemplo, é provavelmente um dos mais auto-politizados músicos pop. As letras das suas músicas (“There is power in a Union”), os layouts e títulos dos álbuns (“Workers Playtime”) não enganam ninguém. Mas seria absurdo não reconhecer, na obra de Billy Bragg, uma qualidade e originalidade musical e lírica contagiante, já para não falar na beleza crua de dezenas de canções ligadas a temas não-políticos (amor, amizade, sexualidade, etc.). No caso dos Sonic Youth, é evidente que o “Teenage Riot” (incluído no sublime “Daydream Nation”) não é propriamente uma canção a inserir num coffe break de um seminário com Roger Scruton, mas ouvida no local próprio e com o espírito para aí virado, “ressoa-me pelo corpo e pelo coração”, como diria o Gonçalo Praça. À minha maneira, acrescento eu.

    O mundo não tem de ser das capelinhas ou das prateleiras estanques. Pode ser-se politicamente conservador (ou liberal) e esteticamente radical. Não vejo, francamente, grandes incompatibilidades entre uma coisa e outra. A não ser que se tenha uma visão caricatural e deturpada do que é o conservadorismo político. Ou, então, que se passe a vida inteira a olhar o mundo através de lunetas político-ideológicas.

    quarta-feira, dezembro 15, 2004

    Um ano de Roda Livre

    O Jorge Mourinha está de parabéns: o seu Roda Livre celebra um ano. De parabéns estão, também, os seus leitores: a coisa não vai ficar por aqui. Enquanto estiverem desse lado, acho que vou continuar a ter (muito) gosto em estar deste lado. É isso aí, Jorge.

    terça-feira, dezembro 14, 2004

    Parabéns a quem de direito

    Ao Ma-Schamba. Que passa a fazer parte dos "cá de casa". Um abraço ao JPT.

    Prós e Contras

    O programa de ontem, sobre o humor (há lá tema mais não-debatível?), foi penosíssimo. A chalaçazinha de ocasião, a moçoila a defender a revista, a apresentadora mais obtusa da televisão, os excelentíssimos dinossauros do “antigamente é que era bom!”, a obesa psicóloga dos “amanhãs que cantam” – tudo contribuiu para um difícil e desconfortável momento televisivo.

    Gostei do Solnado e de um tal de Ricardo Pereira. Mas com este nome, não estou a ver quem seja…

    As urnas encerraram

    Relembro o resultado final:

    A favor: 27
    Contra: 12
    Indecisos: 6
    Sem opinião: 9.999.956

    Resta-me agradecer a participação dos que participaram (muito bem escrito...), e lamentar, uma vez mais, o elevado nível de abstenção (por que razão não terei escrito "a elevada abstenção"? Resposta: porque sou uma besta), revelador do alheamento do povo português relativamente aos grandes temas (como diria Luis Osório "fracturantes").

    Aviso, «desde já» (expressão assaz e particularmente estúpida, pela sua manifesta redundância), que a versão definitiva do template é a actual, ou seja, a que se vos depara neste preciso momento (repare-se que, se eu mudar tudo daqui a 5 minutos, a frase anterior não só permanece válida como fará todo o sentido).

    Um recado, ainda, para os que se preocuparam (e foram muitos) com esta «deriva democrática», que me levou a auscultar o povo. Devo, «desde já», acalmar as hostes, deixando bem claro que quem manda nesta chafarrica sou eu e mais ninguém. Nunca tive a menor intenção de seguir os resultados (cof, cof...). O facto de ter ganhado o “a favor” é pura coincidência.

    Durante o processo conducente (está na moda "conducente") à validação do novo template, lixado fiquei com dois comentários de dois queridos leitores, de quem sou também fiel leitor. Passo a transcrevê-los:

    Do Tulius (ou do Difool, não sei nem arrisco nada): Muito muito mais "giro" e igualmente legível. Gostei da justificação tecnocrata para a mudança, mas escusavas de disfarçar a tua óbvia "metrossexualidade", meu!

    Da Batukada: Venho, por este meio, informar-te do facto de me parecer o antigo template absolutamente muito mais zero de cansativo e muito mais sem margem nenhuma para dúvidas cómodo. E sofisticado, e sofisticado. Ao contrário, na minha singela opinião, deste novo que nos apresentas. Portanto, pedia-te, por obséquio, que considerasses este um ponto "contra". PS: atenta, com suficiente concentração, como em instância alguma da minha mensagem eu utilizei quer o adjectivo "bonito", quer o adjectivo "giro". Poderia, em vários momentos, ter utilizado o adjectivo "sebem", mas achei que te pudesse passar pela cabeça que fazia parte do mesmo paradigma semântico do "bonito" e do "giro", e, portanto, calei-me. Ainda que não faça. De todo.

    Finalmente, não garanto que mantenha este template por muito tempo, pois tenho chorado baba e ranho com saudades do deep blue...


    segunda-feira, dezembro 13, 2004

    Novo Template

    Digam de vossa justiça. Para carlosccc@mail.telepac.pt

    (Atenção: a questão não está em saber qual dos templates é o mais «bonito» ou «giro». O que (me) interessa saber é qual dos dois (este ou o anterior) é mais user friendly. Ou seja, qual oferece ao leitor maior comodidade de visionamento. Ou seja, qual "cansa menos a vista, senhores!". Agradeço aos que já se pronunciaram e aos que venham a pronunciar-se.)

    Resultados (porque o povo é soberano):
    A favor: 27
    Contra: 11
    Indecisos: 6
    (actualizado minuto a minuto)

    Les Nuits

    O disco é um bom disco. Não, é um excelente disco. Mas a primeira faixa, Les Nuits, é um manifesto estilístico irrepreensível, histórico, irrepetível na carreira dos Nightmares On Wax (aka George "Herbs" Evelyn) e, seguramente, na de qualquer grupelho que navegue nas saturadas águas do trip-hop e do downtempo. O Moog, as strings, a discreta e sincopada batida, a envolvente linha de baixo e as vocalizações soul fazem de Les Nuits a melhor intro alguma vez criada para um disco. Para mim, a melhor faixa chill-out de sempre.


    Nightmares On Wax Carboot Soul (Warp Rec. 1999)

    Este Equipamento é Lindo


    sexta-feira, dezembro 10, 2004

    Tremoço, diz ele

    Um «tremoço», hem? A «qualidade» em vez da «quantidade», não é? Toca mas é a trabalhar, !


    As explicações

    Terá sido impressão minha ou, no habitual emaranhado do sampaiês, Sampaio disse nada, para além de coisa nenhuma?

    Se as razões mencionadas por Sampaio constituírem jurisprudência, ter-se-á aberto um precedente deveras interessante (para não dizer preocupante). Se um ministro de um futuro governo apresentar a demissão de forma estrepitante; se a maioria da opinião pública estiver zangada com o rumo da governação e o ritmo lento da retoma; se outro ministro disser umas bacoradas e revelar uma forte inclinação para o dislate; se as associações sectoriais apontarem o polegar para baixo; se a imagem do governo passar mal no circo mediático; se o primeiro-ministro tiver pose de playboy e comportamentos nocturnos erráticos; eu deixo o aviso: o próximo governo está ferrado.

    Coisa mailinda

    A Memória actualizou-se. Lavou a cara, despiu as vestes duvidosas, fez a barba, cortou as unhas (embora se mantenham bem afiadas) e vestiu fato Armani. Ou Zegna. Ou Maconde. Tanto faz. O bando de malucos que (re)inventa a Memória chegou à conclusão que mais vale diáfano e alvo, que negrume e cabalístico. Um dia destes, ainda faço o mesmo.

    quinta-feira, dezembro 09, 2004

    Sobre a decisão de Jorge

    Este governo andava doente. Sobre o assunto e as personagens nele envolvidas, já toda a gente tinha exercido o direito a descarregar a bílis (até eu, aqui). Rompida escabrosamente a linha de continuidade do projecto político de Durão Barroso (por muito difuso que fosse, sabíamos de uma ou duas paixões, já tínhamos ouvido falar em três ou quatro ideias reformistas, e seguíamos atentamente o correctíssimo espírito de contenção e reserva preconizado por Manuela Ferreira Leite), Santana Lopes foi incapaz de impor uma nova agenda e não soube explicar, talvez porque pouco ou nada soubesse, para onde ia e de que maneira o pretendia fazer. Em boa verdade, nunca se lhe conheceu, em quatro meses, uma só paixão, uma só ideia, um só projecto com princípio, meio e fim (para isso, uma semana bastava). Coordenação foi coisa que também nunca habitou em São Bento. O Orçamento, por sinal cozinhado por um dos seus mais competentes ministros, foi observado com desdém por todas as capelinhas que orbitam em redor do Sol (leia-se do “Estado”): empresários (do lusco-fusco e não só), sindicatos, associações patronais, desportivas, recreativas e pelo professor Marcelo. Semana após semana, os ecos dos sucessivos tiros no pé ecoaram em faustoso continuu (amplificados, é certo, por meios de comunicações que não tiveram pejo em revelar o seu desprezo pelo outrora enfant terrible do seu contentamento). Nos últimos tempos, reinava a bagunça e as golpadas palacianas acabaram por marcar presença – a primeira em Barcelos, contra o «parceiro», a segunda entre séquitos, entre um chá em São Bento e um beberete em Belém. De forma escrupulosamente sintomática, e como piéce de resistence, Santana Lopes, na qualidade de primeiro-ministro, dá à luz um discurso absolutamente surreal, para não lhe chamar descaradamente idiota, com referências a «incubadoras» e «estaladas» (ou seriam chapadas?) no menino (ou seria no bebé?).

    Dito isto, qual era a probabilidade de ser insultado em público se se achasse por bem defender o governo e a sua continuidade? Muita alta. Haveria, então, razões para o PR mostrar o peito e dissolver a AR? Tenho algumas dúvidas. Em primeiro lugar, o factor tempo. Pode sempre dizer-se que quatro meses é tempo mais que suficiente para um governo mostrar o que vale, se é que vale um cêntimo. Neste caso, julgo que não. Repare-se que este governo nem sequer chegou a aprovar um orçamento e a poder pôr em prática políticas concretas da sua lavra (por mais incógnitas que fossem). Em segundo lugar, a voz da rua ou a aparente deriva de um governo (ainda não confirmada como endémica), não podem, por si só, servir de justificação formal para um PR avançar para uma dissolução da AR. Lembremo-nos que, no passado, houve casos de igual desnorte governativo e de descontentamento popular (o caso mais recente aconteceu na segunda legislatura guterrista, que acabou com o chefe a dar às de vila-diogo) e nem por isso o PR, no caso Guterres o mesmo PR de agora, decidiu dissolver o que quer que fosse (pode sempre dizer-se que, no caso de Guterres, este se antecipou...). Se recuarmos ainda mais no tempo, lembremo-nos dos últimos dois anos do reinado cavaquista, repletos de tropelias, confusão e escandaleira. Finalmente, a forma e o timing nestas coisas têm peso. O momento escolhido por Sampaio não podia ter sido mais obtuso: nas vésperas da aprovação dum Orçamento de Estado (e não me venham com a putativa inocuidade dos duodécimos). Já quanto à forma, pouco ou nada há a dizer, a não ser isto: uma palhaçada. Enleado em formalismos protocolares, Sampaio ainda não foi capaz de explicar ao país as razões da dissolução. O povo não pedia muito, nem tudo de uma vez. Sampaio tinha a quase obrigação moral de explicar porque razão decidira dar inicio ao processo de auscultação conducente à dissolução da AR. Por culpa desse silêncio ensurdecedor e vergonhoso, chegámos à insólita situação de termos de confrontar a palavra de um primeiro-ministro (que jura que, dois dias antes da decisão, o PR lhe tinha dito que não demitia o governo) com a do PR (que responde, em surdina, que lhe havia dito que sim). Alguém mente, não sabemos é quem (Pacheco Pereira que me desculpe, mas, neste caso, eu não concedo o benefício da dúvida a ninguém). A única coisa que sabemos é que a confusão está lançada. Como é, aliás, habitual em Portugal.

    Moral da história: o nosso Jorge meteu-se em nova alhada. Parece, agora, ganhar tempo para reunir argumentos que expliquem beyond a reasonable doubt, de forma satisfatória e credível, a razão porque decidiu interromper uma legislatura a meio e empurrar o país para mais dois ou três meses em que o desporto favorito do povo será o de avaliar quem beija melhor a senhora das hortaliças num qualquer mercado deste país à beira-mar plantado. E eu acho que, desta vez, para efeitos de «explicações», ele vai ter de se esforçar muitíssimo.

    O máiór

    Se duvidas houvesse quanto a uma hipotética tendência de Miguel Sousa Tavares para a duplicidade de critérios e para a hipocrisia, o seu comentário na TVI, ao lado da Manela, sobre a operação “Apito Dourado”, tê-las-á dissipado. Tivesse estado no lugar do arguido Pinto da Costa um qualquer plesidente de um clube da capital, ou, sei lá, de Marco de Canaveses, teríamos assistido a um Sousa Tavares febril, demolidor, a chispar invectivas contra os caciques, a maralha da corrupção e a podridão no mundo da bola, qual impoluto mosqueteiro da verdade e dos bons costumes. Como foi o plesidente do seu amado Fê Cê Pê (e caro Francisco, que fique claro que nada tenho contra o teu mais que tudo!), as conclusões não se fizeram esperar: tudo não passa de uma farsa mal amanhada, que acabará por parir um rato medroso e merdoso. Mais do que presumidos inocentes, é tudo boa rapaziada. Goodfellas (a propósito, o Casino é melhor, ouviu?). O fim do processo? Não é preciso. O Miguel já viu o filme e deu-lhe bolinha preta.

    Às mil maravilhas

    Freitas do Amaral disse, à entrada para o jantar de comemoração do 80.º aniversário de Mário Soares (daqui lhe mando um abraço de parabéns), que o que o aproximava de Soares era o facto de ambos, ao longo das suas vidas, terem sempre dado mais importância ao que os unia, como pessoas, do que ao que os separava, como políticos. Bonito. Como prova disso, o Contra a Corrente teve acesso à gravação de uma recente conversa entre estes dois bons amigos:

    Freitas: o Bush lá ganhou.
    Soares: O Bush é estúpido.
    Freitas: Uma besta.
    Soares: De extrema-direita.
    Freitas: Um fanático religioso.
    Soares: Quer dominar o mundo.
    Freitas: A lata do idiota!
    Soares: Contra o Direito Internacional!
    Freitas: Contra a ONU. Se não nos pomos a pau…
    Soares: Acontece como aconteceu com o Hitler.
    Freitas: A gente distrai-se e…
    Soares: Ele pensa que é quem?
    Freitas: E a nossa Europa? E os europeus? Comparados com os americanos...
    Soares: Um bando de papalvos, comedores de hambúrgueres!
    Freitas: Vivem numa plutocracia!
    Soares: Embora o Bush seja bem pior que o Pluto.
    Freitas: Sem dúvida! É contra o Direito Internacional!
    Soares: Contra a ONU!
    Freitas: Se não formos nós, Mário…
    Soares: O que será do mundo, Diogo…
    Freitas: Olha, vem aí o Moore para o café.
    Soares: Ici Moore, pull yourself a chair. Capuccino?
    Moore: Yeh, dude.

    Ainda (e sempre) a globalização

    (corrigido, seguido de adenda)
    Via Technorati descubro isto. Segundo o seu autor, a forma como fiz eco das palavras de David Brooks são o exemplo da confusão que reina na minha cabeça sobre o que é a globalização, razão pela qual insisto em não perceber que “ela pode ser feita de outro modo”(sic).

    A sério? Eu acho que não. De «outro modo» como? O que significa «de outro modo»? O autor do blogue refere os nomes, já por mim citados, de Ana Drago, Mário Soares, Bono e Springsteen. Para quê? Esta gente já alguma vez apontou, em concreto, uma «outra via»? Do que é que falamos quando falamos de «outro modo»?

    De superestruturas que organizem o comércio e a industria à escala mundial, com direito a policiamento, e que substituam as tradicionais «organizações capitalistas»?

    De impedir que o sistema capitalista se instale e progrida em paragens exóticas?

    O «outro modo» é sinónimo da aplicação de uma suposta taxa salvífica, a incidir sobre as transacções financeiras internacionais, para descargo de consciências?

    Com o «outro modo» quer insinuar-se que os países a ocidente (os da União Europeia e os EUA) estão na disposição de acabar de vez com a hipocrisia, aligeirando ou cessando as políticas de embargo aos produtos do Terceiro Mundo (via subsídios às suas produções e a taxas e barreiras alfandegárias)?

    De «outro modo» significa que se deve barrar a entrada às multinacionais nos países pobres? Ou, pelo contrário, escancarar as fronteiras ao investimento externo?

    De «outro modo» significa que a verdade deve ser contada explicada, ou seja, que o investimento externo dos países ricos em países do Terceiro Mundo (o tal investimento que explora até ao tutano os pobrezinhos) é, afinal, e a meu ver infelizmente, diminuto e que, ao contrário do que se apregoa, as unidades de produção das multinacionais abroad, para além de darem emprego a quem o procura avidamente (sobretudo mulheres), são responsáveis pelo aumento do nível médio de remunerações domésticas?

    De «outro modo» quer dizer que os governos a ocidente, com a ajuda do Sr. Bono, do Dr. Soares e da doce Drago, serão os primeiros a dar as más notícias às suas populações, no que respeita ao aumento da taxa de desemprego, quando chegar a hora de deslocar investimentos para os países pobres (coisa que não se passa actualmente porque a esmagadora maioria dos investimentos externos faz-se dentro do círculo de países da OCDE e, quanto muito, na direcção de países remediados)?

    Lançado no ar, em tom redentor e esperançoso, o de outro modo nada significa. Não passa de conversa da treta.

    O que David Brooks quis dizer, e que eu subscrevo na íntegra, é que ao invés de procurar «outros modos» e anunciar «outras vias», seria bom que esses artistas, que promíscua e interesseiramente misturam o seu estatuto de stars com mensagens político-ideológicas, percebessem que o mundo é demasiado complexo para planificações da estaca zero. Já seria uma vitória se esses mosqueteiros olhassem para o que os factos nos indicam, de forma clara e sem rodeios: que os ganhos que a actual globalização produziu ao longo dos últimos cinquenta anos, em matéria de desenvolvimento e de combate à pobreza, são significativos.

    Just once, I'd like to see someone like Bono or Bruce Springsteen stand up at a concert and speak the truth to his fan base: that the world is complicated and there are no free lunches”, escreve David Brooks. É claro, demasiado claro para servir de bandeira, que nem tudo corre bem. É óbvio, demasiado óbvio para insultar a inteligência alheia, que a globalização traz consigo problemas e efeitos secundários que importa corrigir ou, no mínimo, vigiar. O que estes impolutos paladinos dos mais nobres interesses; o que estes sacrossantos que parecem carregar na barriga o rei da bondade; o que estes filantropos que adoram publicamente pavonear a sua «humanidade» e o seu «altruísmo» acabam por revelar, é a sua notória má consciência pelo facto de, eles próprios, sorverem que nem ursos o mel produzido pelo «ímpio sistema» de que fazem parte e ajudam a sustentar. Não que o «sistema» seja maligno ou consciente e ontologicamente funesto. A questão é que a rama assusta-os ao ponto de a confundir com a árvore. Misturam alhos com bugalhos. Observam as imagens de miúdos a serem explorados pela Nike no Butão e daí concluem, lestos e horrorizados, que a globalização é «aquilo». Resistem e recusam aceitar que os ganhos da globalização suplantam os problemas. Há ainda aqueles pseudo-moderados que tentam dar a volta ao texto, aliando à globalização (que eles juram adorar) a tese da «outra via». De que tudo, afinal, pode ser feito de «outro modo». Mas o ponto de partida é o mesmo: olham os maus exemplos e os problemas associados à globalização e cegam relativamente aos seus benefícios e ao seu inegável contributo para a redução da pobreza à escala mundial. “Ah, mas há cada vez mais pobres!”, gritam, confundindo valores absolutos com valores relativos. “Ah, mas o fosso entre os mais pobres e os mais ricos é agora maior!”, asseguram, sem se dar conta de que a volumosa e maioritária massa que se situa no meio está hoje exponencialmente melhor do que há cinquenta ou cem anos atrás.

    O mundo em que vivemos é imperfeito? Poderia, ou poderá, ser melhor? É importante denunciar excessos e prevenir abusos? Claro que sim. A situação está longe de ser perfeita. Não preciso – não precisamos – que os Dr. Soares e as Anas Dragos deste mundo me venham explicar o óbvio. Existem no mundo cerca de 800 milhões de pessoas a passar fome - um número assustador apesar de sabermos que a percentagem de famintos decresceu drasticamente nos últimos cinquenta anos. Vivem actualmente no mundo cerca de 1,2 milhões de pobres. É muito, mesmo que em termos relativos o nível de pobreza tenha diminuído acentuadamente. Nesta contabilidade, é importante que se refira o que esta civilização – que uns apelidam de disfuncional, abjecta, podre, esgotada, etc. – conseguiu alcançar por via do desenvolvimento industrial e tecnológico, do incremento das trocas comerciais, da mobilidade de pessoas e meios. Durante o século XX, a esperança média de vida mais do que duplicou: passou de 30, no início do século, para 67 anos. A proporção de pessoas que passam fome passou de 35% para 18%, e espera-se que em 2010 baixe para 12%. Segundo essa projecção, estaremos em 2010 a alimentar de forma adequada mais de 3 biliões de pessoas. O nível de iliteracia nos países do Terceiro Mundo, passou de 75% para 20%. Ou seja, algo de extraordinário foi alcançado com o actual «sistema», onde está incluída a proscrita globalização.

    A questão levantada por Brooks prende-se com isto. Existe uma distância enorme entre a) reconhecer e reflectir sobre uma realidade «real» (passe o pleonasmo), avançando com soluções sensatas e exequíveis, não sem antes executar a devida «análise de sensibilidade» e reconhecer os méritos de um sistema que não pode ser, de todo, desprezado; e b) berrar acerca de questões sobre as quais pouco se sabe (simplificando e diabolizando), negando as evidências que saltam à vista e pensando que o mundo pode parar para que um grupo de iluminados indique o caminho. O mundo, está bom de ver, não pára. No momento em que escrevo estas linhas, tenho a certeza que existe gente a ser explorada de forma inumana por pessoas e organizações sem escrúpulos. Sei, também, que outros, ainda que sujeito a «exploração» à luz dos padrões laborais ocidentais (apregoados pelos Carvalhos da Silva), conseguem hoje matar a fome ao fim do dia e amealhar dinheiro para viver de forma mais ou menos digna, coisa impensável há uns anos atrás, antes da presença física das organizações capitalistas e «imperialistas» (mesmo levando em linha de conta que vivem imensos furos abaixo do ocidental típico - o tal que, num dia, pode esbanjar centenas de euros na FNAC em livros sobre a globalização). Outros há que estão a ser «explorados» de forma correcta e justa, em países que fizeram questão de escancarar as suas portas à livre iniciativa e ao comércio livre, fazendo hoje parte da engrenagem da «globalização».

    É sempre fácil recorrer à retórica do «anti-sistema» e das «novas vias». Difícil é, de dentro, reconhecer com desassombro e sem medo as qualidades e potencialidades do sistema, e ajudar construtivamente a corrigir o que não vai correndo de feição.

    Alonguei-me, eu sei. Para mais elucubrações sobre o assunto, e se ainda estiverem acordados, podem passar os olhos pelas minhas 'postas' passadas (aqui, aqui e aqui).

    Adenda: O André respondeu de forma verdadeiramente impecável aos meus encanitamentos. Fê-lo com classe, sem levar à letra os meus pontuais abespinhamentos. Afirma ele, agora, que eu agrupo as pessoas em dois grupos: pró e contra a globalização. É verdade. Nestas coisas, ou se é a favor ou se é contra. Não há aqui lugar a equidistâncias. Ou se acredita no sistema, para além dos seus defeitos, ou não. Aos «moderados», do tipo do André, faço questão de os alinhar no grupo dos pró-globalização. O problema são mesmo os falsos moderados, adeptos das meias-tintas e dos nins, incapazes de pensar para além da ideologia e dos maniqueísmos, e que se servem da árvore para iludir a floresta. Foram estes os visados do meu post. Quanto ao André, passa a ser cá de casa.

    segunda-feira, dezembro 06, 2004

    Vasco Pulido Valente

    in Público 5-12-2004
    "Desde 1820 que Portugal, como Cavaco, tenta perceber, angustiado, por que razão ou maldição temos tão maus políticos. Com o tempo, foram aparecendo várias teses. Nesta melancólica época de Santana e sarilhos, convém talvez recapitular. 1.ª Tese: A política, por não exigir qualquer espécie de qualificação substancial, e por ser uma forma de vadiagem reconhecida e glorificada, atrai os piores. 2.ª Tese: Os partidos políticos, que se regem pelo “princípio da fidelidade” e não da “qualidade”, repelem os melhores. 3.ª Tese: Um povo analfabeto, ignorante e primitivo, se o deixam votar, escolhe fatalmente a “canalha”. 4.ª Tese: Os políticos são maus, porque a elite é geralmente má. Não há bons políticos como não há bons jornalistas, bons professores, bons médicos, bons cozinheiros, bons químicos, nem, a falar com franqueza, qualquer outra classe profissional decente. 5.ª Tese: A elite é geralmente má, porque um ensino obsoleto e rígido não promove a independência e a critica. 6.ª Tese: A pobreza do país cria uma cultura de servilismo, mentira e manha, que os políticos fielmente reflectem. 7.ª Tese: A Igreja Católica Apostólica Romana educa os portugueses para a obediência e a hipocrisia. Os políticos, mesmo ateus, não se distinguem da manada.

    Como se vê teses não faltam para explicar a existência, e a persistência, de maus políticos. E também historicamente não faltaram soluções. 1.ª Solução: Acabar com a política. 2.ª Solução: Substituir os partidos por corporações. 3.ª Solução: Não permitir que o povo, ou a maior parte dele, votasse. 4.ª Solução: Aturar resignadamente a mediocridade do país, morrer ou emigrar. 5.ª Solução: Reformar o ensino (coisa que também decorre da Tese 3). 6.ª Solução: Fazer a “revolução” (liberal, republicana ou “socialista”) para tornar a nossa querida Pátria rica, orgulhosa e honesta ou, na absoluta impossibilidade disso, “mudar a mentalidade” da elite por métodos suasórios. 7.ª Solução: Perseguir a Igreja Católica Apostólica Romana e principalmente exterminar os padres. Dito isto, não seria decoroso esconder que aplicação repetida, simultânea e sucessiva destas soluções nunca produziu o efeito esperado: os maus políticos, como se sabe, continuam connosco. Mas também, até com maus políticos, temos dias lindos. Ou não?"

    Ele é tão louquinho, não é?

    Parece que o biltre voltou para casa (de onde, aliás, nunca devia ter saído), após umas gracinhas e umas palhaçadas (palhaço!). Foi muito divertido (eu já nem aguentava mais).

    Toca a actualizar os linques.

    Que fique bem claro: é a primeira e a última vez, ouviste ó?

    The revolution was not televised

    Grande repasto de confraternização (palavra linda, esta) entre os conspiradores do reino. Os meus agradecimentos. Acho que estivemos (modéstia à parte) muito bem. Em particular, um abraço para o Francisco. 5 (cinco) estrelas.

    Apetece-me dizer/fazer isto

    Lai lai, lai lai...

    Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzt...Buump!

    domingo, dezembro 05, 2004

    Demasiado subliminar (ou 'Too private')

    Desta vez, o «estímulo» ou o «processo» não atingiu o nível desejado, tendo passado despercebido e, infelizmente, «ferido» o seu autor. Falo do título de um recente post: “HEI-LO, DE VOLTA (O BILTRE)”. Desgraçadamente, não sou imune, embora seja avesso, a pontapés na gramática. Quando os prego, assumo-os, de cabeça erguida (como a selecção). Acontece que o “HEI-LO” foi propositado, isto porque, como toda a gente sabe, o biltre em causa tem por hábito queixar-se dos erros de ortografia e gramaticais. Vai daí, arrisquei a coisa. Apercebi-me, agora, que poucos a perceberam e houve, até, quem me tivesse tentado alertar para a “calinada”. Conclusão: as brincadeiras, na blogosfera, deve ser minimamente perceptíveis, or else...

    sábado, dezembro 04, 2004

    Modelo de carta a utilizar amiúde (vai dar muito jeito)

    [resposta de Auberon Waugh a Lionel Grigson (filho do poeta Geoffrey Grigson), depois de Lionel o ter atacado por causa de uma notícia no The Guardian, a qual incluía Auberon entre os signatários de uma carta aberta dirigida contra o Catholic Institute of International Relations, pelo seu (do instituto) pendor pró-guerrilha na Rodésia – carta transcrita na página 434 do livro ‘Fathers and Sons’ de Alexander Waugh, que acabei de ler enquanto aguardava a chegada de Maria Filomena Mónica ao Clube Bota Rasa, à Praça do Giraldo, para uma apresentação pública de As Farpas, leitura única e prazenteiramente interrompida por Luís Carmelo, que tomou a iniciativa de me interpelar para nos conhecermos finalmente!]

    Dear Mr Grigson,

    How queer that I have no recollection of signing any letter about Rhodesia and think it most unlikely that I did so, but as I have not seen the piece in the Guardian Diary to which you refer, I do not really know what you are talking about. I seem to remember signing a letter complaining about the impertinence of the Catholic Institute of International Relations in presuming to speak for the Catholic Church. I should also suppose that only a moral cretin would support terrorist activities in Rhodesia, however just their aims. But I have never written on the subject of Rhodesia, despite writing three articles a week on current affairs for the last ten years, for the good reason that, unlike you, I have never been able to decide the exact rights and wrongs of the situation there. So when you say you have noticed a pro-Rhodesia tendency in my writing, you are talking rubbish.
    You are right when you suggest that whatever gratitude I may owe to your father for his devotion to English literature over the last 50 years does not extend to his son, of whom I have never heard until this moment. I would write in stronger terms except that I suspect you may be mad, when you write these pompous, twerpish letters to complete strangers and sign them ‘Yours coldly’. So I will end with a cordial invitation to piss off, or as the Americans say, go fuck yourself.

    Yours sincerely,
    Auberon Waugh

    UMA GRANDE SENHORA

    Eu era já um fã incondicional de Maria Filomena Mónica. Há anos que pedia ao Luis e à Anabela (da livraria eborense Som das Letras) que tomassem diligências no sentido de a trazer até Évora. Desta vez a coisa concretizou-se e eu só posso ficar eternamente grato aos meus amigos por me terem proporcionado o deleite de ver e escutar Maria Filomena Mónica dissertando sobre Eça, as Farpas, a geração de 70 e o Portugal da segunda metade do século XIX, e o prazer de conhecer pessoalmente uma grande Senhora - dona de uma simpatia irrepreensível, de uma energia e de um sentido de humor contagiantes, de uma cultura imensa. Enriqueci um pouquinho mais.

    sexta-feira, dezembro 03, 2004

    MIGUEL, LI E...

    ...não esperava outra coisa. Não só porque os trâmites burocráticos e «aparelhísticos» não permitem substituir caras tão rapidamente, mas também, e sobretudo, porque é de toda a conveniência levar Santana Lopes a eleições (tipo cozedura em lume brando). Só perante uma derrota eleitoral (que eu não sei se será assim tão certa) Santana poderá recolher ao lugar que lhe está fadado – o de eterno enfant terrible e acidental agitador de congressos – para que, depois, no PSD se possa varrer, dos lugares mais proeminentes, gente de escassas qualidades (políticas e humanas). António Borges poderá, e deverá, não ser o D. Sebastião ou o messias, mas dará, certamente, um novo élan a um partido que precisa urgentemente de se credibilizar aos olhos do povo, sob pena de ficar arredado, nos próximos oito anos, do poder. Assim os barões e os influentes lhe dêem a mão (sem isso nada feito) e que, logo a seguir, não o estraguem. Ou seja, que o deixem entregue à sua inocência empreendedora para que, dentro do prazo de validade, ele reforme, reforme e reforme. Com cojones.

    (Parece que não vai ser bem assim porque, segundo o Carlos Amorim, o homem "não tem gabarito político" e ainda "não patenteou qualquer ideia estratégica para o país" - ao contrário, claro, de Sócrates, Santana, Guterres, Portas, Monteiro, Vitorino e Vasco Gonçalves).

    quinta-feira, dezembro 02, 2004

    HEI-LO*, DE VOLTA (O BILTRE)

    O novo poiso do maradona é aqui. (http://youcanstealmysoulbutnotmylackofmotivation.blogspot.com/)

    (*Obviamente "ei-lo". Ver explicação mais à frente).

    HÁ DIAS QUE ANDO PARA DIZER ISTO

    Foi insidiosa e injusta a forma como se «bateu» no Pedro Mexia (a propósito do seu artigo sobre o CDS), tentando, de passagem, colá-lo à Esquerda. O Pedro Mexia pode ter pecado, aqui e acolá, por falta de objectividade, na sua crítica ao PP de Paulo Portas (embora, em traços gerais, concorde com ele), mas houve quem pecasse por excesso de encanitamento, como se Pedro Mexia tivesse críticado, ou se tivesse demarcado, da Direita.

    Seria conveniente deixar bem claro que existe hoje, como existe desde há séculos, uma dicotomia que, a partir da Revolução Francesa), se achou por bem designar de esquerda vs. direita. Apesar de ciclicamente se anunciar a sua morte, ela subsiste de forma bem clara, e perdurará por muito mais tempo. É facilmente identificável nos mais diversos assuntos: da educação à economia, da organização do trabalho à política externa, da cultura à concepção da natureza humana. Mas importa perceber que, dentro de cada campo, há diferenças. Ou seja, não existe uma direita e uma esquerda. Lembro o que escreveu, em tempos, Maria Filomena Mónica:

    “...É, de facto, no plural [esquerdas e direitas] que estas palavras se têm de usar, uma vez que, no interior de ambas, há várias subdivisões, a mais importante das quais relacionada com a atitude em relação ao Estado...”

    Direitas há muitas. Há, por exemplo, uma direita autoritária e uma direita liberal, assim como há uma esquerda autoritária e uma esquerda liberal. Mais: do lado da Direita, o liberalismo “clássico” (historicamente identificável, por exemplo, em Inglaterra) alguma vez assentou arraiais por terras lusas? Fez escola? Produziram-se obras em torno do mesmo? Deixou marcas no modus operandi de governos e governados? Não. E os princípios políticos do conservadorismo, algumas vezes se vislumbraram no espectro político-partidário português? Também não, apesar de se pensar, erradamente, que Salazar e o seu Estado Novo eram uma produção «conservadora».

    O CDS de hoje, tal como o de ontem, não é o magno representante da Direita. Insinuar que alguém possa não ser de Direita por ter criticado Portas - independentemente do estilo e da argumentação utilizada - não lembra ao diabo. "Ah!, mas ele assim faz o jogo da esquerda!" Não faz nada. Pensem nisto: estas discussões não serão a prova da vantagem da Direita sobre a Esquerda?

    quarta-feira, dezembro 01, 2004

    AO CUIDADO DE BONO, BRUCE SPRINGSTEEN, ANA DRAGO E DR. SOARES

    Good News About Poverty
    por DAVID BROOKS
    I hate to be the bearer of good news, because only pessimists are regarded as intellectually serious, but we're in the 11th month of the most prosperous year in human history. Last week, the World Bank released a report showing that global growth "accelerated sharply" this year to a rate of about 4 percent.

    Best of all, the poorer nations are leading the way. Some rich countries, like the U.S. and Japan, are doing well, but the developing world is leading this economic surge. Developing countries are seeing their economies expand by 6.1 percent this year - an unprecedented rate - and, even if you take China, India and Russia out of the equation, developing world growth is still around 5 percent. As even the cautious folks at the World Bank note, all developing regions are growing faster this decade than they did in the 1980's and 90's.

    This is having a wonderful effect on world poverty, because when regions grow, that growth is shared up and down the income ladder. In its report, the World Bank notes that economic growth is producing a "spectacular" decline in poverty in East and South Asia. In 1990, there were roughly 472 million people in the East Asia and Pacific region living on less than $1 a day. By 2001, there were 271 million living in extreme poverty, and by 2015, at current projections, there will only be 19 million people living under those conditions.

    Less dramatic declines in extreme poverty have been noted around the developing world, with the vital exception of sub-Saharan Africa. It now seems quite possible that we will meet the United Nations' Millennium Development Goals, which were set a few years ago: the number of people living in extreme poverty will be cut in half by the year 2015. As Martin Wolf of The Financial Times wrote in his recent book, "Why Globalization Works": "Never before have so many people - or so large a proportion of the world's population - enjoyed such large rises in their standard of living."
    As other research confirms, these rapid improvements at the bottom of the income ladder are contributing to and correlating with declines in illiteracy, child labor rates and fertility rates. The growth in the world's poorer regions also supports the argument that we are seeing a drop in global inequality.

    Economists have been arguing furiously about whether inequality is increasing or decreasing. But it now seems likely that while inequality has grown within particular nations, it is shrinking among individuals worldwide. The Catalan economist Xavier Sala-i-Martin looked at eight measures of global inequality and found they told the same story: after remaining constant during the 70's, inequality among individuals has since declined.

    What explains all this good news? The short answer is this thing we call globalization. Over the past decades, many nations have undertaken structural reforms to lower trade barriers, shore up property rights and free economic activity. International trade is surging. The poor nations that opened themselves up to trade, investment and those evil multinational corporations saw the sharpest poverty declines. Write this on your forehead: Free trade reduces world suffering.
    Of course, all the news is not good. Plagued by bad governments and AIDS, sub-Saharan Africa has not joined in the benefits of globalization. Big budget deficits in the U.S. and elsewhere threaten stable growth. High oil prices are a problem. Trade produces losers as well as winners, especially among less-skilled workers in the developed world.

    But especially around Thanksgiving, it's worth appreciating some of the things that have gone right, and not just sweeping reports like the one from the World Bank under the rug.

    It's worth reminding ourselves that the key task ahead is spreading the benefits of globalization to Africa and the Middle East. It's worth noting this perhaps not too surprising phenomenon: As free trade improves the lives of people in poor countries, it is viewed with suspicion by more people in rich countries.

    Just once, I'd like to see someone like Bono or Bruce Springsteen stand up at a concert and speak the truth to his fan base: that the world is complicated and there are no free lunches. But if you really want to reduce world poverty, you should be cheering on those guys in pinstripe suits at the free-trade negotiations and those investors jetting around the world. Thanks, in part, to them, we are making progress against poverty. Thanks, in part, to them, more people around the world have something to be thankful for.

    TINHA DE SER

    Este blogue deixou de pertencer ao meu bom amigo maradona (com minúscula, se faz favor). Por opção do próprio, entregou-o ao povo. Como o génio, o humor e os palavrões do mano (sim, porque os palavrões na boca de outros passam mesmo a palavrões) já não habitam aquele espaço, só me resta deslincá-lo. Aguardarei, serena e convictamente, o seu regresso.
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