Vasco Pulido Valente
in Público 5-12-2004
"Desde 1820 que Portugal, como Cavaco, tenta perceber, angustiado, por que razão ou maldição temos tão maus políticos. Com o tempo, foram aparecendo várias teses. Nesta melancólica época de Santana e sarilhos, convém talvez recapitular. 1.ª Tese: A política, por não exigir qualquer espécie de qualificação substancial, e por ser uma forma de vadiagem reconhecida e glorificada, atrai os piores. 2.ª Tese: Os partidos políticos, que se regem pelo “princípio da fidelidade” e não da “qualidade”, repelem os melhores. 3.ª Tese: Um povo analfabeto, ignorante e primitivo, se o deixam votar, escolhe fatalmente a “canalha”. 4.ª Tese: Os políticos são maus, porque a elite é geralmente má. Não há bons políticos como não há bons jornalistas, bons professores, bons médicos, bons cozinheiros, bons químicos, nem, a falar com franqueza, qualquer outra classe profissional decente. 5.ª Tese: A elite é geralmente má, porque um ensino obsoleto e rígido não promove a independência e a critica. 6.ª Tese: A pobreza do país cria uma cultura de servilismo, mentira e manha, que os políticos fielmente reflectem. 7.ª Tese: A Igreja Católica Apostólica Romana educa os portugueses para a obediência e a hipocrisia. Os políticos, mesmo ateus, não se distinguem da manada.
Como se vê teses não faltam para explicar a existência, e a persistência, de maus políticos. E também historicamente não faltaram soluções. 1.ª Solução: Acabar com a política. 2.ª Solução: Substituir os partidos por corporações. 3.ª Solução: Não permitir que o povo, ou a maior parte dele, votasse. 4.ª Solução: Aturar resignadamente a mediocridade do país, morrer ou emigrar. 5.ª Solução: Reformar o ensino (coisa que também decorre da Tese 3). 6.ª Solução: Fazer a “revolução” (liberal, republicana ou “socialista”) para tornar a nossa querida Pátria rica, orgulhosa e honesta ou, na absoluta impossibilidade disso, “mudar a mentalidade” da elite por métodos suasórios. 7.ª Solução: Perseguir a Igreja Católica Apostólica Romana e principalmente exterminar os padres. Dito isto, não seria decoroso esconder que aplicação repetida, simultânea e sucessiva destas soluções nunca produziu o efeito esperado: os maus políticos, como se sabe, continuam connosco. Mas também, até com maus políticos, temos dias lindos. Ou não?"
"Desde 1820 que Portugal, como Cavaco, tenta perceber, angustiado, por que razão ou maldição temos tão maus políticos. Com o tempo, foram aparecendo várias teses. Nesta melancólica época de Santana e sarilhos, convém talvez recapitular. 1.ª Tese: A política, por não exigir qualquer espécie de qualificação substancial, e por ser uma forma de vadiagem reconhecida e glorificada, atrai os piores. 2.ª Tese: Os partidos políticos, que se regem pelo “princípio da fidelidade” e não da “qualidade”, repelem os melhores. 3.ª Tese: Um povo analfabeto, ignorante e primitivo, se o deixam votar, escolhe fatalmente a “canalha”. 4.ª Tese: Os políticos são maus, porque a elite é geralmente má. Não há bons políticos como não há bons jornalistas, bons professores, bons médicos, bons cozinheiros, bons químicos, nem, a falar com franqueza, qualquer outra classe profissional decente. 5.ª Tese: A elite é geralmente má, porque um ensino obsoleto e rígido não promove a independência e a critica. 6.ª Tese: A pobreza do país cria uma cultura de servilismo, mentira e manha, que os políticos fielmente reflectem. 7.ª Tese: A Igreja Católica Apostólica Romana educa os portugueses para a obediência e a hipocrisia. Os políticos, mesmo ateus, não se distinguem da manada.
Como se vê teses não faltam para explicar a existência, e a persistência, de maus políticos. E também historicamente não faltaram soluções. 1.ª Solução: Acabar com a política. 2.ª Solução: Substituir os partidos por corporações. 3.ª Solução: Não permitir que o povo, ou a maior parte dele, votasse. 4.ª Solução: Aturar resignadamente a mediocridade do país, morrer ou emigrar. 5.ª Solução: Reformar o ensino (coisa que também decorre da Tese 3). 6.ª Solução: Fazer a “revolução” (liberal, republicana ou “socialista”) para tornar a nossa querida Pátria rica, orgulhosa e honesta ou, na absoluta impossibilidade disso, “mudar a mentalidade” da elite por métodos suasórios. 7.ª Solução: Perseguir a Igreja Católica Apostólica Romana e principalmente exterminar os padres. Dito isto, não seria decoroso esconder que aplicação repetida, simultânea e sucessiva destas soluções nunca produziu o efeito esperado: os maus políticos, como se sabe, continuam connosco. Mas também, até com maus políticos, temos dias lindos. Ou não?"
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