Um longo parêntesis *
Deixemos o ego e voltemos ao PSD. Em primeiro lugar, o óbvio: o PSD é um partido com uma ideologia difusa – como o são, ou tendem a ser, a generalidade dos partidos de poder, pertencentes ao denominado «centrão». À excepção do grupo dos apoiantes e militantes empedernidos da extrema-esquerda ou da extrema-direita - para quem o nível de afectos e o índice de cumplicidades com os seus partidos é matéria indiscutível - ninguém minimamente sério ou sóbrio poderá afirmar que se «identifica» totalmente com determinado partido. O que existe é, acima de tudo, um conjunto de «simpatias» ou «aproximações» que dão origem a uma espécie de curva de tendência que nos aproxima mais deste ou daquele partido. Dito isto, pode dizer-se, com relativa precisão, que sempre simpatizei – sobretudo por razões que se sobrepõe à mera morfologia ideológica – com o PSD, da mesma forma que, de quando em vez, me irrito (olha aí a úlcera, rapaz) ou me divirto com o que se passa dentro desse partido.
Pouco há a dizer sobre o que se passa actualmente no PSD. O partido entrou num longo parêntesis existencial, durante o qual dúzia e meia de crianças se diverte aos índios e cowboys. Entendamo-nos: por muito afável e «moderado» que Marques Mendes seja, não sairá dele nada de substancial ou relevante para o futuro do partido. Não sendo uma nulidade, é uma inconsequência. Por muito voluntarista, dinâmico ou «rijo» que Luis Felipe Menezes seja, ninguém dele espera grande seriedade programática ou um conjunto homogéneo de ideias com aplicação concreta. A retórica de ambos é, aliás, clarividente: nenhuma ideia de fundo – transformadora, diferenciadora do modo socrático, realista e com objectivos de médio-longo prazo – foi produzida. Nenhum deles apresenta um raciocínio coerente e estruturado. Pelo contrário: o conservadorismo medroso e cinzentão de um – Mendes – e a postura de liberal franco-atirador, circunstancial e acessória, de outro – Menezes – não deixam marca alguma a não ser a de um profundo vazio. Um vazio que ambos tentam preencher com o pior de ambos e o pior dos partidos: as guerrinhas internas, os temas mesquinhos, as vendettas alheias ao país e ao mundo.
O PSD vai ter que esperar. Quer queiram (como parece ser o caso), quer não queiram, Mendes e Menezes não passam de figuras menores. O PSD seguirá dentro de momentos.
* Publicado originalmente aqui.