Um longo parêntesis *
Na mui nobre e não raras vezes achincalhada democracia representativa portuguesa, participei algumas vezes. Não muitas porque, com tempo, pendi para o grupelho dos irresponsáveis e perniciosos abstencionistas por convicção (e a «convicção» aqui é absolutamente pejorativa). Exceptuando as vezes em que votei no Miguel Esteves Cardoso (já não me lembro se uma ou duas vezes), votei sempre PSD. Nunca votei, por exemplo, no CDS ou no PP (ou no CDS-PP). Votei Cavaco (em 1987 e 1991), votei Fernando Nogueira (em 1995), votei Durão Barroso (em 2002) e, finalmente, votei novamente Cavaco (em 2006). Para além destes actos eleitorais, abstive-me sempre. Nalguns círculos, sou considerado um mau cidadão. Noutros, um pária. Seja como for, the damage is done. Não há nada a fazer.
Deixemos o ego e voltemos ao PSD. Em primeiro lugar, o óbvio: o PSD é um partido com uma ideologia difusa – como o são, ou tendem a ser, a generalidade dos partidos de poder, pertencentes ao denominado «centrão». À excepção do grupo dos apoiantes e militantes empedernidos da extrema-esquerda ou da extrema-direita - para quem o nível de afectos e o índice de cumplicidades com os seus partidos é matéria indiscutível - ninguém minimamente sério ou sóbrio poderá afirmar que se «identifica» totalmente com determinado partido. O que existe é, acima de tudo, um conjunto de «simpatias» ou «aproximações» que dão origem a uma espécie de curva de tendência que nos aproxima mais deste ou daquele partido. Dito isto, pode dizer-se, com relativa precisão, que sempre simpatizei – sobretudo por razões que se sobrepõe à mera morfologia ideológica – com o PSD, da mesma forma que, de quando em vez, me irrito (olha aí a úlcera, rapaz) ou me divirto com o que se passa dentro desse partido.
Pouco há a dizer sobre o que se passa actualmente no PSD. O partido entrou num longo parêntesis existencial, durante o qual dúzia e meia de crianças se diverte aos índios e cowboys. Entendamo-nos: por muito afável e «moderado» que Marques Mendes seja, não sairá dele nada de substancial ou relevante para o futuro do partido. Não sendo uma nulidade, é uma inconsequência. Por muito voluntarista, dinâmico ou «rijo» que Luis Felipe Menezes seja, ninguém dele espera grande seriedade programática ou um conjunto homogéneo de ideias com aplicação concreta. A retórica de ambos é, aliás, clarividente: nenhuma ideia de fundo – transformadora, diferenciadora do modo socrático, realista e com objectivos de médio-longo prazo – foi produzida. Nenhum deles apresenta um raciocínio coerente e estruturado. Pelo contrário: o conservadorismo medroso e cinzentão de um – Mendes – e a postura de liberal franco-atirador, circunstancial e acessória, de outro – Menezes – não deixam marca alguma a não ser a de um profundo vazio. Um vazio que ambos tentam preencher com o pior de ambos e o pior dos partidos: as guerrinhas internas, os temas mesquinhos, as vendettas alheias ao país e ao mundo.
O PSD vai ter que esperar. Quer queiram (como parece ser o caso), quer não queiram, Mendes e Menezes não passam de figuras menores. O PSD seguirá dentro de momentos.
* Publicado originalmente aqui.
Deixemos o ego e voltemos ao PSD. Em primeiro lugar, o óbvio: o PSD é um partido com uma ideologia difusa – como o são, ou tendem a ser, a generalidade dos partidos de poder, pertencentes ao denominado «centrão». À excepção do grupo dos apoiantes e militantes empedernidos da extrema-esquerda ou da extrema-direita - para quem o nível de afectos e o índice de cumplicidades com os seus partidos é matéria indiscutível - ninguém minimamente sério ou sóbrio poderá afirmar que se «identifica» totalmente com determinado partido. O que existe é, acima de tudo, um conjunto de «simpatias» ou «aproximações» que dão origem a uma espécie de curva de tendência que nos aproxima mais deste ou daquele partido. Dito isto, pode dizer-se, com relativa precisão, que sempre simpatizei – sobretudo por razões que se sobrepõe à mera morfologia ideológica – com o PSD, da mesma forma que, de quando em vez, me irrito (olha aí a úlcera, rapaz) ou me divirto com o que se passa dentro desse partido.
Pouco há a dizer sobre o que se passa actualmente no PSD. O partido entrou num longo parêntesis existencial, durante o qual dúzia e meia de crianças se diverte aos índios e cowboys. Entendamo-nos: por muito afável e «moderado» que Marques Mendes seja, não sairá dele nada de substancial ou relevante para o futuro do partido. Não sendo uma nulidade, é uma inconsequência. Por muito voluntarista, dinâmico ou «rijo» que Luis Felipe Menezes seja, ninguém dele espera grande seriedade programática ou um conjunto homogéneo de ideias com aplicação concreta. A retórica de ambos é, aliás, clarividente: nenhuma ideia de fundo – transformadora, diferenciadora do modo socrático, realista e com objectivos de médio-longo prazo – foi produzida. Nenhum deles apresenta um raciocínio coerente e estruturado. Pelo contrário: o conservadorismo medroso e cinzentão de um – Mendes – e a postura de liberal franco-atirador, circunstancial e acessória, de outro – Menezes – não deixam marca alguma a não ser a de um profundo vazio. Um vazio que ambos tentam preencher com o pior de ambos e o pior dos partidos: as guerrinhas internas, os temas mesquinhos, as vendettas alheias ao país e ao mundo.
O PSD vai ter que esperar. Quer queiram (como parece ser o caso), quer não queiram, Mendes e Menezes não passam de figuras menores. O PSD seguirá dentro de momentos.
* Publicado originalmente aqui.
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