O MacGuffin: março 2006

sexta-feira, março 31, 2006

O país treme, o povo comove-se

terça-feira, março 28, 2006

No Público

O Público – pelo menos na edição online – publicou a foto de um judeu junto a uma mesa de voto, com a seguinte legenda:
Um judeu ultra-ortodoxo exerce o seu direito de voto numa escola de Jerusalém, durante a jornada eleitoral de hoje. Os israelitas elegem hoje o novo Knesset (Parlamento) num ambiente de grande incerteza quanto aos resultados. O Kadima será sempre o vencedor, mas está tudo em aberto sobre a futura coligação governamental.
Toca a aprender: os das trancinhas são os «ultra-ortodoxos» (fanáticos?).

Passatempo para anti-bushistas*

Poor Georgie

* anti-americanos ou não…

sábado, março 25, 2006

Bons pesadelos

De volta. Em grande forma. Nightmares on Wax


sexta-feira, março 24, 2006

"Death by water"

"Here is no water but only rock" *




* T. S. Eliot, in The Waste Land

“We, the dead”

The Dead
I see them crowd on crowd they walk the earth
Dry, leafless trees no Autumn wind laid bear;
And in their nakedness find cause for mirth,
And all unclad would winter’s rudeness dare;
No sap doth through their clattering branches flow,
Whence springing leaves and blossoms bright appear;
Their hearts the living God have ceased to know,
Who gives the spring time to th’expectant year;
They mimic life, as if from him to steal
His glow of health to paint the livid cheek;
They borrow words for thoughts they cannot feel,
That with a seeming heart their tongue may speak;
And in their show of life more dead they live
Than those that to the earth with many tears they give.

Jones Very, 1813-1880

Ora bolas

"República Checa já é mais rica do que Portugal"

Eh, pá, esta foi «à traição».

Inspirei-me em Brecht, sei lá

Fui objecto, ontem, de uma (pequena) intervenção cirúrgica que me obriga a permanecer deitado com o pé direito acima do nível do tronco. Aproveito para parabenizar o Sr. Nuno Ramos de Almeida pelos excelsos posts com que tem brindado o auditório, revelando ao povo, com notável lisura e franca tenacidade, a sua pueril propensão para a demagogia e para a mais gratuita obscenidade. Provavelmente, à falta de umas imagens de palestinianos esventrados, foi o que melhor soube arranjar. Ainda assim, parabéns.

PS: este post foi escrito com o pé ao peito. Não tentem fazê-lo em casa.

“Maybe we should strike for a shorter rioting week”

quarta-feira, março 22, 2006

Recomendar a recomendação

O João Pereira ‘nunca-responde-aos-sms’ Coutinho, refere Art Buchwald e eu, com a devida vénia, reafirmo a recomendação, repetindo a ligação.

Sobre a morte:

“The thing that is very important, and why I'm writing this, is that whether they like it or not, everyone is going to go.
The big question we still have to ask is not where we're going, but what were we doing here in the first place?”

É o capitalismo, sim, estúpido

No Expresso de há quatro dias, Miguel Sousa Tavares abriu-se ao país, dando conta das suas angústias. Achou-se «estúpido» perante a suposta euforia de um governo socialista face ao putativo dinamismo do sector financeiro e empresarial português – o qual, aparentemente, está vivo e recomenda-se, a avaliar pelas hostis mas excitantes OPAs (já duas, vejam bem). Miguel Sousa Tavares vê no exercício uma fatal contradição, senão de termos, pelo menos de princípios. Provavelmente, o jornalista-de-opinião não terá percebido que o socialismo, «esse» socialismo, não é o que, a ocidente, chega ao poder. A estirpe que chega ao poder, de «socialismo» já tem pouco. Graças a Deus, acrescentaria eu, pese embora os efeitos destrutivos que esses resquícios ainda por aí provocam, em sede de equilíbrio orçamental, divida pública, dependência face ao Estado-paizinho, etc.

Mas tem o comentarista razão quando, analisando as «idiossincrasias» (chamemos-lhe isso) do «mercado», coloca o dedinho na ferida, referindo-se à iniquidade do mesmo. Ou seja, de um mercado que nunca esteve a salvo de distorções, regras e esquemas mais ou menos obscuros, quase sempre com o patrocínio do Estado, a aquiescência dos partidos (clientes dilectos) e o aplauso dos «grandes» empresários (que adoram chupar na teta da vaquinha dos proteccionismos e dos apoios ao «tecido empresarial»). Em nome, é bom não esquecer, do «sentido patriota» ou da boa da «reserva estratégica». Mas se Sousa Tavares, no fim do artigo, retirou as conclusões certas, não conseguiu, ainda assim, deixar de resvalar para a mais pueril das ingenuidades. A espaços, o discurso deste fazedor de opinião revelou-se a fórmula de um cerimonial antigo e rocócó: Sousa Tavares lamenta, pesaroso, os «astronómicos lucros» da EDP, à custa, pensa ele, da ralé, chegando ainda a arremessar desdenhosamente à circulação a eloquente expressão «abutres financeiros». Já a caminho do agastamento e da úlcera péptica, arrisca aquela que lhe parece ser a pergunta idiopática: «não seria mais louvável que tivéssemos a electricidade mais barata, conforme foi solenemente prometido quando se privatizou a EDP?»

Sousa Tavares esquece que essas coisas não são alcançáveis por decreto ou filantropia corporativa. Não podemos querer que o capitalismo funcione em ambiente traiçoeiro ou numa atmosfera rarefeita, onde as Golden Shares pervertem, as leis laborais intimidam, os concursos «públicos» se ludibriam, a carga burocrática sufoca, o proteccionismo promove a mediocridade e a dimensão do dito mercado não entusiasma. É o mesmo que pôr o Ronaldinho a jogar de galochas, depois de inalar, de seguida, dez maços de cigarros, com o Olegário Benkerença a arbitrar (o ‘k’ é sugestão).

terça-feira, março 21, 2006

Perdão


Daring, n. One of the most conspicuous qualities of a man in security.

Geology, n. The science of the earth's crust - to which, doubtless, will be added that of its interior whenever a man shall come up garrulous out of a well. The geological formations of the globe already noted are catalogued thus: the Primary, or lower one, consists of rocks, bones of mired mules, gas-pipes, miner's tools, antique statues minus the nose, Spanish doubloons and ancestors. The Secondary is largely made up of red worms and moles. The Tertiary comprises railway tracks, patent pavements, grass, snakes, mouldy boots, beer bottles, tomato cans, intoxicated citizens, garbage, anarchists, snap-dogs and fools.

Responsibility, n. A detachable burden easily shifted to the shoulders of God, Fate, Fortune, Luck or one’s neighbour. In the days of astrology it was customary to unload it upon a star.

Self-esteem, n. An erroneous appraisement.

Ugliness, n. A gift of the gods to certain women, entailing virtue without humility.


Ambrose Bierce, in The Devil’s Dictionary

O ridículo

O Dr. Pinho e do Dr. Pereira andam por terras de Goethe e Beckenbauer a exaltar Portugal. O Mundial é (mais uma) «oportunidade». O Eng. mandou estas duas almas tratar do assunto. Armaram-se, para tal, com um autocarro pintado com as cores da selecção, inscrições da moda («força» ou «giro») e logo produzido pelo artista oficial do regime, por sua vez recheado (o autocarro, não o artista) de camisolas, bandeirinhas, garrafões de azeite, medas de cortiça e, suponho eu, conectividade de vária ordem. O objectivo? Acordar do sono da indiferença os incautos germânicos e banhar de conhecimento aqueles que, já despertos, insistem em não fruir do nosso ditoso povo por via do mais barroco apedeutismo.

Vem de longe esta saloia e cíclica inclinação para a promoção abroad da nossa bendita e sublime pátria, por meio de iluminações terminantes, bandeiras incisivas e gestos de grandeza homérica. Por distracção alheia e para azar nosso, a pátria tarda em «projectar-se». Não fosse ridículo, seria triste.

Bushmills

«Cobarde», «burro», «bêbado»: epítetos lançados por Hugo Chavez – um homem seríssimo - a Bush, depois de este o ter apelidado de «demagogo».

Do grego demagogos, o termo foi cunhado para descrever o típico orador ateniense que, no século V a.C., fazia das tripas coração para, por via dos dotes de oratória e da sistematização desta (a por todos conhecida retórica), granjear apoio suficiente na ecclesia. Se até à guerra do Peloponeso, e antes da morte de Péricles, o termo tinha sido poupado a uma carga negativa – destinado então a descrever os aristocratas e estrategas militares que brilhavam na assembleia -, no final do século V o termo evoluiu no sentido que hoje em dia lhe é atribuído, ou seja, para descrever aqueles que se aproveitavam da volatilidade das emoções do povo para, de forma irresponsável (irresponsabilidade de jure), retirarem dividendos políticos ou de natureza egocêntrica (por exemplo, para alimentarem a sua prosápia ou megalomania).

Ena, o alcoólatra do Bush acertou em cheio.

O financiamento dos partidos

Tema não-quente, eu sei – ou, como se costuma dizer, fora da «agenda». Mas não posso deixar de transcrever uma pequena nota sobre o assunto, da autoria de Charles Moore (última Spectator):

“When you think about it, the suggestion that the cure for corruption over payments to political parties is state funding is the most amazing cheek. The argument essentially is that they, the parties, are so incapable of behaving properly about this that we, the people, should take away their freedom to raise money privately and give them lots of ours instead. It is precisely because party funding is so endemically, habitually corrupt that it should never be taken on to the state payroll. If it were, that corruption would be transferred and institutionalised, not abolished. Turning into a cartel against the public interest, parties would conspire with one another to get more money for themselves and divide the spoils. This process has crept forward for many years now, in the form of ever bigger allowances to MPs, secure and large pensions, more cars for ministers and so on. If our parties were state-funded, they would, in effect, be state-owned. It is a much better system when people, rich and poor, feel some moral obligation to help the party they support to get elected. And when the corruption enters in, as it so often does, the fact that private money is involved makes it easier to detect.”

maradona, biltrezinho

Como deves calcular, isso nunca vai acontecer. Não dessa forma. Por esta simples razão: 420 cavalos, 4,2 segundos (repara como, graciosa e caprichosamente, os números parecem repetir-se). Va bene?

domingo, março 19, 2006

As notícias sobre o óbito foram manifestamente exageradas

Dia 19 de Março: dia do pai. O meu dia.

Dia 19 de Março de 2006: dia em que o Contra a Corrente faz três anos.

Lamento desiludir os que vislumbraram no teaser “Faltam x dias”, a dramaturgia da queda ou o prenúncio de algo aparatoso e espectacular, género “Contra a Corrente lança OPA sobre O Espectro”. Nada disso. Anuncio ao auditório algo simples e sem importância: o Contra a Corrente está de volta. Para o bem e para o mal.



Calling All Bores
Next Tuesday, Tedium House, headquarters of the British Boring Board of control (BBBC), will be the Mecca for all aficionados of the yawn game. Once again its majestic indoor arena will be the venue for the Christmas tournament in which paladins of the comatose art do battle for the Herbert Trance Trophy, named, of course, after our revered president, Sir Herbert Trance.
As well as top class British ennui maestros, there will be wizards of lethargy from the four corners of the earth: Jean-Pierre Cafard of Canada, Grant Coma Jr of the United States, Antonin Bvorak of the Czech Republic, Bengt Snorresen of Sweden, R.S. Nattarcharya of India and, last but not least, Shloime ben Chloroform (“Glorious Shloime”) wonder bore of Israel.
The set theme this year is “The Future of the Tory Party”. How will foreign champions, for whom this will be mostly uncharted territory, deploy their artistry to weave enchanted webs of tedium and reduce the cognoscenti to semi-conscious delight? Truly a battle of the Titans!
Will they use the fashionable “gay rights” gambit which enterprising bores are now deploying to such devastating effect? Long banned by diehard elements in the BBBC top brass, this gambit, particularly when combined with Tory politics, can deliver a knockout dose of ennui from which bores on the losing end may take days to recover.
The climax of next week’s proceedings will be the traditional Grand Bal. Masqué, held in the great chandelier-infested ballroom of Tedium House, when devotees of Morpheus will revolve in stately saraband or caper in lively polka until the daylight hours. All proceeds go to Yawnaway, the BBBC’s Home for Retired Bores at Redhill, Surrey – a most worthy cause.”

Michael Wharton, aka Peter Simple

sábado, março 18, 2006

Falta...

1 dia.

quarta-feira, março 01, 2006

Dear Mr Bernard

Dear Mr Bernard

I read with interest your letter asking for information as to your behaviour and whereabouts between the years 1960-1974.

On a certain evening in September 1969, you rang my mother to inform her that you were going to murder her only son.

If you would like further information, I can put you in touch with many people who have enjoyed similar bizarre experiences in your company.

Yours sincerely,

Michael J Molloy
(do Daily Mirror)


Bruce Bernard, Terry Jones and Jeffrey Bernard, c.1956
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