É o capitalismo, sim, estúpido
No Expresso de há quatro dias, Miguel Sousa Tavares abriu-se ao país, dando conta das suas angústias. Achou-se «estúpido» perante a suposta euforia de um governo socialista face ao putativo dinamismo do sector financeiro e empresarial português – o qual, aparentemente, está vivo e recomenda-se, a avaliar pelas hostis mas excitantes OPAs (já duas, vejam bem). Miguel Sousa Tavares vê no exercício uma fatal contradição, senão de termos, pelo menos de princípios. Provavelmente, o jornalista-de-opinião não terá percebido que o socialismo, «esse» socialismo, não é o que, a ocidente, chega ao poder. A estirpe que chega ao poder, de «socialismo» já tem pouco. Graças a Deus, acrescentaria eu, pese embora os efeitos destrutivos que esses resquícios ainda por aí provocam, em sede de equilíbrio orçamental, divida pública, dependência face ao Estado-paizinho, etc.
Mas tem o comentarista razão quando, analisando as «idiossincrasias» (chamemos-lhe isso) do «mercado», coloca o dedinho na ferida, referindo-se à iniquidade do mesmo. Ou seja, de um mercado que nunca esteve a salvo de distorções, regras e esquemas mais ou menos obscuros, quase sempre com o patrocínio do Estado, a aquiescência dos partidos (clientes dilectos) e o aplauso dos «grandes» empresários (que adoram chupar na teta da vaquinha dos proteccionismos e dos apoios ao «tecido empresarial»). Em nome, é bom não esquecer, do «sentido patriota» ou da boa da «reserva estratégica». Mas se Sousa Tavares, no fim do artigo, retirou as conclusões certas, não conseguiu, ainda assim, deixar de resvalar para a mais pueril das ingenuidades. A espaços, o discurso deste fazedor de opinião revelou-se a fórmula de um cerimonial antigo e rocócó: Sousa Tavares lamenta, pesaroso, os «astronómicos lucros» da EDP, à custa, pensa ele, da ralé, chegando ainda a arremessar desdenhosamente à circulação a eloquente expressão «abutres financeiros». Já a caminho do agastamento e da úlcera péptica, arrisca aquela que lhe parece ser a pergunta idiopática: «não seria mais louvável que tivéssemos a electricidade mais barata, conforme foi solenemente prometido quando se privatizou a EDP?»
Sousa Tavares esquece que essas coisas não são alcançáveis por decreto ou filantropia corporativa. Não podemos querer que o capitalismo funcione em ambiente traiçoeiro ou numa atmosfera rarefeita, onde as Golden Shares pervertem, as leis laborais intimidam, os concursos «públicos» se ludibriam, a carga burocrática sufoca, o proteccionismo promove a mediocridade e a dimensão do dito mercado não entusiasma. É o mesmo que pôr o Ronaldinho a jogar de galochas, depois de inalar, de seguida, dez maços de cigarros, com o Olegário Benkerença a arbitrar (o ‘k’ é sugestão).
Mas tem o comentarista razão quando, analisando as «idiossincrasias» (chamemos-lhe isso) do «mercado», coloca o dedinho na ferida, referindo-se à iniquidade do mesmo. Ou seja, de um mercado que nunca esteve a salvo de distorções, regras e esquemas mais ou menos obscuros, quase sempre com o patrocínio do Estado, a aquiescência dos partidos (clientes dilectos) e o aplauso dos «grandes» empresários (que adoram chupar na teta da vaquinha dos proteccionismos e dos apoios ao «tecido empresarial»). Em nome, é bom não esquecer, do «sentido patriota» ou da boa da «reserva estratégica». Mas se Sousa Tavares, no fim do artigo, retirou as conclusões certas, não conseguiu, ainda assim, deixar de resvalar para a mais pueril das ingenuidades. A espaços, o discurso deste fazedor de opinião revelou-se a fórmula de um cerimonial antigo e rocócó: Sousa Tavares lamenta, pesaroso, os «astronómicos lucros» da EDP, à custa, pensa ele, da ralé, chegando ainda a arremessar desdenhosamente à circulação a eloquente expressão «abutres financeiros». Já a caminho do agastamento e da úlcera péptica, arrisca aquela que lhe parece ser a pergunta idiopática: «não seria mais louvável que tivéssemos a electricidade mais barata, conforme foi solenemente prometido quando se privatizou a EDP?»
Sousa Tavares esquece que essas coisas não são alcançáveis por decreto ou filantropia corporativa. Não podemos querer que o capitalismo funcione em ambiente traiçoeiro ou numa atmosfera rarefeita, onde as Golden Shares pervertem, as leis laborais intimidam, os concursos «públicos» se ludibriam, a carga burocrática sufoca, o proteccionismo promove a mediocridade e a dimensão do dito mercado não entusiasma. É o mesmo que pôr o Ronaldinho a jogar de galochas, depois de inalar, de seguida, dez maços de cigarros, com o Olegário Benkerença a arbitrar (o ‘k’ é sugestão).
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