Work in Progress
Andam a pintar o meu prédio. O serviço foi adjudicado em Agosto do ano passado. Começaram a empresa na segunda quinzena de Outubro, numa altura em que as condições climatéricas – chuva – e atmosféricas – humidade -, faziam prever uma carga de trabalhos. “Ainda não chove”, terá pensado o encarregado. Vieram as primeiras chuvas, uma semana após o início dos trabalhos. Os valentes pintores (umas vezes um, outras vezes dois, nunca mais do que três) não se deram por vencidos: continuaram. Um deles com qualidades de trapezista. Alguém, entretanto, os avisou que não dava para pintar à chuva. A tinta é uma coisa que, acabadinha de aplicar, tende a «escorrer» quando lhe é projectada H2O. É da física. Perceberam isso quando se aperceberam do caudal meio leitoso espalhado ao longo do prédio, contaminando já a via pública. Interromperam-se, então, os trabalhos. Retomaram-se, passadas duas semanas. Nova interrupção. Causa: chuva. Andamos nisto há meses. E andamos todos muito divertidos com o fenómeno. Há umas semanas, tivemos duas semanas de bom tempo, leia-se sem chuva. Os pintores? Viste-los. Ontem, enquanto chovia, avistei-os. Deviam estar a estudar a estratégia. Começa a notar-se uma compatibilidade endémica e tocante entre a disponibilidade de uns - pintores - e os caprichos de outra - a chuva. Temo que, por este andar, vamos poder assistir à reforma, por velhice, de uns; à reforma, por incapacidade permanente, do trapezista; à chegada de uma nova geração de pintores (provavelmente filhos destes), tintas (à prova de chuva, por exemplo) e trapezistas (Cirque du Soleil). Há já quem pense, lá no prédio, em acolher alguns na família. Os laços de solidariedade estão ao rubro. Assim que o tempo melhorar, arriscarei um churrasco. Não vá a coisa dar-se por terminada.
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