Ainda a RTP
A propósito do que escrevi aqui sobre a RTP (o post revela a irritabilidade própria de quem anda f***** com o aquele clube da 2.ª Circular cujo estádio foi desenhado por uma estrela de home videos levemente eróticos da década de 80), o meu amigo e jornalista Paulo Nobre deixou o seguinte comentário:bom óptimo nome, agora posto em causa por este comentário que pretende «decapitar» este blogue.
Eu vou muito em «modas», de facto. Defendo - insisto, aliás - que não há que ter cuidado com «modas». As «modas» congregam, são identitárias, apelam às vagas de fundo e à paridade, inovando, primeiro, para de seguida uniformizarem. Como sabes, a uniformização é um remanso. No plano restrito do vocábulo, a moda é, actualmente, o augusto alimento com que satisfaço o apetite voraz do meu hipotálamo. Não perco um episódio do Project Runaway («as you know, in fashion one day you are in, the next day you’re out» e «make it work» são expressões que passei a utilizar regularmente) e o Fashion TV está sempre sintonizado, exceptuando os momentos em que a voz ou o bigode do Rui Tovar marcam presença no RTP Memória. Num plano mais «abrangente», mas desgraçadamente bem mais comezinho e, digamos, frívolo, embarquei, por exemplo, na «moda» de «dizer mal» (a maldita maledicência, meu caro, a infame e ingrata maledicência!) do Eng. José Sócrates. O Eng. José Sócrates é, como sabes, o primeiro-ministro de Portugal. Merece, por isso, todo o nosso respeito. Além disso, trata-se de um homem de carácter, de uma tolerância infindável e de uma postura democrática exemplar. Para além de ser, e isto é que é importante, competentíssimo. Mas, como disse, sou criatura de «modas». Não há volta a dar. E o que é da natureza, desculpa-se.
Quanto à RTP, não escrevi, afirmei ou sustentei que as privadas são sacrossantas ou que se recomendam cegamente. O problema, meu caro, é que eu pago as contas da RTP e, vê tu bem, tenho a estimável mas estúpida e, certamente, ingénua ideia ou esperança de que uma televisão pública que se arroga o dever de prestar um serviço público - supostamente isento (por exemplo, politica ou ideologicamente), de qualidade (e não escravo de audiências), transparente, contido e não despesista - devia rodear-se de alguns cuidados e cautelas. Sabes do que falo, certamente. Ora, a «minha» televisão, que é a pública, que é a tua e a dos contribuintes deste país, anda há décadas a fazer fretes a governos e à deriva no que respeita a critérios qualitativos (muito lixo tem passado por ali) e de identidade. E, nestes anos perdidos do socratismo, tudo se tem feito para provar à saciedade que a manipulação da tutela marca presença assídua na abordagem das notícias – por exemplo, no alinhamento das mesmas e em omissões providenciais. E estamos, hoje em dia, a falar de uma cadência diária de desinformação. Dou-te um exemplo crasso: a notícia das «escutas», referentes à primeira edição do Sol dedicada ao caso, foi para o ar vinte minutos depois da abertura do telejornal. Outro: ontem foram desencantar uma reportagem sobre as qualidades e os extraordinários atributos do Cartão do Cidadão. Fantástico, não é?
Tudo isto não significa que não haja boa gente (séria, não vendida) e bons profissionais na RTP. Que os há, como é óbvio. Significa, apenas, isto: se, como tu dizes, ninguém é impoluto e que de nenhuma estação de televisão se pode dizer estar a salvo de manipulações ou enviesamentos, o que se esperava da RTP (eu pelo menos) era que esta se mantivesse menos permeável aos ditames e às agendas do poder executivo ou dos grupos económicos, mantendo uma espécie de consistência moral e ética mínima, ao longo dos anos. Ora, meu caro Paulo, não é isso que se passa. E de pouco vale desculpar a RTP com o mal dos outros. Acho eu, que vou tanto em modas.
Podes ficar-te com a informação das privadas, que essa, de certezinha, não é influenciada pelo poder político.Antes de mais, gostaria de agradecer o comentário do Paulo. Em segundo lugar, cumpre-me avançar com algumas justificações que possam repor o meu
São totalmente dependentes da publicidade que recebem das grandes empresas dependentes do... Estado.
Logo portanto, mais vale ter uma informação dependente da publicidade das empresas dependentes do Estado que ter uma informação dependente do Estado.
Enviesamento e manipulação? Na TVI? Na SIC? Na TSF? No Correio da Manhã? Não! Só na RTP.
Cuidado com as modas!
Amigo: atenção que a distracção às vezes prejudica a clareza de raciocínio.
Eu vou muito em «modas», de facto. Defendo - insisto, aliás - que não há que ter cuidado com «modas». As «modas» congregam, são identitárias, apelam às vagas de fundo e à paridade, inovando, primeiro, para de seguida uniformizarem. Como sabes, a uniformização é um remanso. No plano restrito do vocábulo, a moda é, actualmente, o augusto alimento com que satisfaço o apetite voraz do meu hipotálamo. Não perco um episódio do Project Runaway («as you know, in fashion one day you are in, the next day you’re out» e «make it work» são expressões que passei a utilizar regularmente) e o Fashion TV está sempre sintonizado, exceptuando os momentos em que a voz ou o bigode do Rui Tovar marcam presença no RTP Memória. Num plano mais «abrangente», mas desgraçadamente bem mais comezinho e, digamos, frívolo, embarquei, por exemplo, na «moda» de «dizer mal» (a maldita maledicência, meu caro, a infame e ingrata maledicência!) do Eng. José Sócrates. O Eng. José Sócrates é, como sabes, o primeiro-ministro de Portugal. Merece, por isso, todo o nosso respeito. Além disso, trata-se de um homem de carácter, de uma tolerância infindável e de uma postura democrática exemplar. Para além de ser, e isto é que é importante, competentíssimo. Mas, como disse, sou criatura de «modas». Não há volta a dar. E o que é da natureza, desculpa-se.
Quanto à RTP, não escrevi, afirmei ou sustentei que as privadas são sacrossantas ou que se recomendam cegamente. O problema, meu caro, é que eu pago as contas da RTP e, vê tu bem, tenho a estimável mas estúpida e, certamente, ingénua ideia ou esperança de que uma televisão pública que se arroga o dever de prestar um serviço público - supostamente isento (por exemplo, politica ou ideologicamente), de qualidade (e não escravo de audiências), transparente, contido e não despesista - devia rodear-se de alguns cuidados e cautelas. Sabes do que falo, certamente. Ora, a «minha» televisão, que é a pública, que é a tua e a dos contribuintes deste país, anda há décadas a fazer fretes a governos e à deriva no que respeita a critérios qualitativos (muito lixo tem passado por ali) e de identidade. E, nestes anos perdidos do socratismo, tudo se tem feito para provar à saciedade que a manipulação da tutela marca presença assídua na abordagem das notícias – por exemplo, no alinhamento das mesmas e em omissões providenciais. E estamos, hoje em dia, a falar de uma cadência diária de desinformação. Dou-te um exemplo crasso: a notícia das «escutas», referentes à primeira edição do Sol dedicada ao caso, foi para o ar vinte minutos depois da abertura do telejornal. Outro: ontem foram desencantar uma reportagem sobre as qualidades e os extraordinários atributos do Cartão do Cidadão. Fantástico, não é?
Tudo isto não significa que não haja boa gente (séria, não vendida) e bons profissionais na RTP. Que os há, como é óbvio. Significa, apenas, isto: se, como tu dizes, ninguém é impoluto e que de nenhuma estação de televisão se pode dizer estar a salvo de manipulações ou enviesamentos, o que se esperava da RTP (eu pelo menos) era que esta se mantivesse menos permeável aos ditames e às agendas do poder executivo ou dos grupos económicos, mantendo uma espécie de consistência moral e ética mínima, ao longo dos anos. Ora, meu caro Paulo, não é isso que se passa. E de pouco vale desculpar a RTP com o mal dos outros. Acho eu, que vou tanto em modas.
1 Comentários:
O problema, mau caro, é que a RTP (como tudo o mais, de resto) é feita por pessoas. Homens e mulheres. Com diferentes ideias, olhares, concepções.
É muito bonito alegar isso do "serviço público". Serviço público é um mero texto (contrato) que permite tantas interpretações quantos os olhos lhe passem por cima.
Serviço público tanto pode ser agendar o jogo do Benfica para contentar milhões (preterindo o Sporting, para contento dos seus adeptos - isto é ferroada pessoal), ou o Festival da Canção e o Preço Certo.
Sobre o primeiro-ministro, subtraio considerações, pois tudo está à vista de todos.
Última questão:
Muitas vezes é preferível lançar o anátema do controlo exterior que assumir dislates, erros de percurso ou simplesmente (e esta é a perspectiva mais aterradora) anedotas de carácter.
Continua a marcar na agenda o Project Runaway e a sintonizar o Fashion TV, muito embora, meu caro, como te conheço, não será a falta destes que farão com que fiques old fashioned.
Paulo Nobre
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial