Um homem imprudente e perigoso
António Lobo Xavier disse o óbvio: só por desatenção, engajamento político acrítico ou debilidade mental e moral, se poderia ficar surpreendido com o que as escutas publicadas pelo semanário Sol, vieram agora revelar. Há muito que a vida de José Sócrates daria um filme indiano. Ou melhor, siciliano. A entourage política do primeiro-ministro e a teia de ligações que o envolvem a ele e aos seus mais dilectos boys e colaboradores, deixam no ar mais do que suspeitas: a certeza de que o primeiro-ministro de Portugal é um homem que não olha a meios – humanos e materiais - para atingir os seus fins. José Sócrates é um homem obstinado e obcecado com o exercício do poder. E por isso imprudente. Os limites da lei, da moral e da prudência não lhes são desconhecidos: são antes pequenas barreiras que ele vai evitando, num slalom que percorre com especial gozo e notável determinação.
A equação metafísica de Jacinto de Tormes, louvada pela mocidade positiva do Odeon à Sorbona em 1866, era “Suma Ciência X Suma Potência = Suma Felicidade”. José Sócrates reescreveu-a e pratica, desde 2005, a sua própria equação metafísica: “Sumo Controlo X Suma Sobranceria = Sumo Poder”. Os distraídos perceberam agora isto. Mas não sei se perceberam que com este primeiro-ministro, Portugal caminha a passos largos para uma sociedade que só por aparência é livre. Esqueçam a «liberdade de expressão» ou a «liberdade de imprensa». Falem antes da Liberdade, tout court. Porque é essa que está a ser atacada. João Cândido da Silva dizia ontem, na SIC Notícias, que num inquérito realizado a empresários portugueses, apenas um tinha autorizado a publicação do seu nome. Os outros invocaram «receio de represálias». Basta falar com funcionários públicos, sobretudo os que exercem cargos de chefia, para perceber que a opção «caladinho» é a escolhida. Há jornalistas que, embora nunca tendo sido alvo de represálias ou de «controlo», auto-censuram os seus textos, dado o clima que se vive. Esta semana, no Fórum da TSF, um ouvinte começou por expressar a sua opinião sobre o caso das «escutas» citando, alegadamente, Fernando Pessoa com a frase «país de bananas governado por sacanas». A moderadora, notoriamente em pânico, impediu-o de continuar, aplicando-lhe, en passant, a reprimenda «pela escolha de linguagem não própria», passando, logo de seguida, a outro ouvinte. É este o caldo social em que vivemos.
A aposta deste primeiro-ministro, constatando as fragilidades e fraquezas sociais, económicas e morais endémicas, próprias de um povo amorfo e conformado, é a de aumentar a dependência da sociedade em relação ao Estado e ao poder executivo – dessa forma, enchendo as medidas de homem intolerante, arrogante, controleiro, egocêntrico. Com Sócrates, o Estado tenderá a ser tudo (pai, tutor, polícia, censor) e o Governo um colectivo de deuses, chefiado por um ser supremo que tudo vê e a tudo assiste. O corolário, não podia, nem pode, deixar de ser este: quem fala leva; quem aponta o dedo, é humilhado; quem denuncia, é afastado; quem critica, é censurado. Para José Sócrates, só por ingratidão ou má-fé se pode duvidar da sua boa vontade e das suas virtudes. O que é a doutrina da «maledicência», propalada pelo governo e pelo PS em peso, senão isto? A partir daqui, tudo pode vir a justificar-se.
Na Teoria dos Sentimentos Morais, Adam Smith escrevia, no capítulo dedicado ao «carácter da virtude», que o homem prudente estuda séria e determinadamente para entender o que professa entender, e não apenas para persuadir os outros de que entende; nem tampouco se esforça para se impor por via de expedientes próprios de um impostor astuto, ou pelos ares arrogantes de um pretenso pedante, nem pelas afirmações confiantes de um pretendente superficial e impudente. Ou seja, o homem prudente é sempre sincero e sente horror ao mero pensamento de se expor à desgraça que se segue à descoberta da falsidade. José Sócrates é um homem imprudente: mente, esconde, movimenta-se nos bastidores e na sombra. Mas é também um homem perigoso: por ele não perpassa a mais leve aragem do que são os limites. José Sócrates é o primeiro-ministro do meu país. Coisa que me envergonha.
A equação metafísica de Jacinto de Tormes, louvada pela mocidade positiva do Odeon à Sorbona em 1866, era “Suma Ciência X Suma Potência = Suma Felicidade”. José Sócrates reescreveu-a e pratica, desde 2005, a sua própria equação metafísica: “Sumo Controlo X Suma Sobranceria = Sumo Poder”. Os distraídos perceberam agora isto. Mas não sei se perceberam que com este primeiro-ministro, Portugal caminha a passos largos para uma sociedade que só por aparência é livre. Esqueçam a «liberdade de expressão» ou a «liberdade de imprensa». Falem antes da Liberdade, tout court. Porque é essa que está a ser atacada. João Cândido da Silva dizia ontem, na SIC Notícias, que num inquérito realizado a empresários portugueses, apenas um tinha autorizado a publicação do seu nome. Os outros invocaram «receio de represálias». Basta falar com funcionários públicos, sobretudo os que exercem cargos de chefia, para perceber que a opção «caladinho» é a escolhida. Há jornalistas que, embora nunca tendo sido alvo de represálias ou de «controlo», auto-censuram os seus textos, dado o clima que se vive. Esta semana, no Fórum da TSF, um ouvinte começou por expressar a sua opinião sobre o caso das «escutas» citando, alegadamente, Fernando Pessoa com a frase «país de bananas governado por sacanas». A moderadora, notoriamente em pânico, impediu-o de continuar, aplicando-lhe, en passant, a reprimenda «pela escolha de linguagem não própria», passando, logo de seguida, a outro ouvinte. É este o caldo social em que vivemos.
A aposta deste primeiro-ministro, constatando as fragilidades e fraquezas sociais, económicas e morais endémicas, próprias de um povo amorfo e conformado, é a de aumentar a dependência da sociedade em relação ao Estado e ao poder executivo – dessa forma, enchendo as medidas de homem intolerante, arrogante, controleiro, egocêntrico. Com Sócrates, o Estado tenderá a ser tudo (pai, tutor, polícia, censor) e o Governo um colectivo de deuses, chefiado por um ser supremo que tudo vê e a tudo assiste. O corolário, não podia, nem pode, deixar de ser este: quem fala leva; quem aponta o dedo, é humilhado; quem denuncia, é afastado; quem critica, é censurado. Para José Sócrates, só por ingratidão ou má-fé se pode duvidar da sua boa vontade e das suas virtudes. O que é a doutrina da «maledicência», propalada pelo governo e pelo PS em peso, senão isto? A partir daqui, tudo pode vir a justificar-se.
Na Teoria dos Sentimentos Morais, Adam Smith escrevia, no capítulo dedicado ao «carácter da virtude», que o homem prudente estuda séria e determinadamente para entender o que professa entender, e não apenas para persuadir os outros de que entende; nem tampouco se esforça para se impor por via de expedientes próprios de um impostor astuto, ou pelos ares arrogantes de um pretenso pedante, nem pelas afirmações confiantes de um pretendente superficial e impudente. Ou seja, o homem prudente é sempre sincero e sente horror ao mero pensamento de se expor à desgraça que se segue à descoberta da falsidade. José Sócrates é um homem imprudente: mente, esconde, movimenta-se nos bastidores e na sombra. Mas é também um homem perigoso: por ele não perpassa a mais leve aragem do que são os limites. José Sócrates é o primeiro-ministro do meu país. Coisa que me envergonha.
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