sexta-feira, maio 23, 2008
It's a bird... it's a plane...
Notícia Público:
Este é mais um caso (é, aliás, "o" caso) para a Super Ana Gomes!
Espera-se, a todo o momento, a «indignação», o «I told you so», o «a mim ninguém me engana», o «se não fosse eu a escarafunchar...», o «este PS é de direita e está feito com os déspotas e com o grande satã».
Governo confirmou passagem por Portugal de 56 voos de e para Guantánamo
Este é mais um caso (é, aliás, "o" caso) para a Super Ana Gomes!
Espera-se, a todo o momento, a «indignação», o «I told you so», o «a mim ninguém me engana», o «se não fosse eu a escarafunchar...», o «este PS é de direita e está feito com os déspotas e com o grande satã».
quinta-feira, maio 22, 2008
Sobre a Feira do Livro (ainda)
A referência que me ocorre:
AIsabelEIntelectual por Tiago Guillul
A Isabel é intelectual
porque perdeu a virgindade na Feira do Livro
E ela vê, ela lê, ela sabe de cor o ABC
quarta-feira, maio 21, 2008
Marquise é uma espécie de bolo, não é?
O Sr. LR diz que eu gozei com o Sr. Saramago. Disparate. Eu não gozei com o Sr. Saramago. Tentei, de forma provavelmente deficiente, dizer mal do Sr. Saramago. Coisa bem diferente. Repare-se: não se goza um Nobel. É aviltante fazê-lo. Pode dizer-se mal da obra de um Nobel, desferir um ataque ad hominem, tratá-lo abaixo de cão. Agora, «gozar»? Acho mal. É pouco digno. É falta de respeito.
Diz o Sr. LR que eu perorei sobre assunto que desconheço. O Sr. LR é um distraído. Ou fez-se de desentendido (típico no Sr. LR, companheiro de outras querelas). O que estava em causa no meu post não era o passado. O que esteve na mira do meu post foi a reacção do Sr. Saramago. Para o caso, não interessava saber se outras editoras tentaram no passado fazer o que a LeYa pretende no presente levar a cabo (ou se no passado houve proibições tenebrosas e agora não). O que me interessou, e divertiu, foi a canga das «classes» e da «feira democrática», a teoria do «caos» e o medo das «imponências» levado à cena pelo Sr. Saramago. O que me interessou foi o verdadeiro festival ideológico evidenciado em cada sílaba pelo Sr. Saramago. Sobre isso, o Sr. LR nada disse.
O Sr. LR acha que uma feira do livro é uma feira do livro. Ponto final. Dito de outra forma, a uma feira do livro só interessam os livros. Nada mais. O resto é paisagem. Ou folclore que conspurca e desvirtua o objecto-livro e alta cultura que lhe está subjacente. Acha ele, e mais uns quantos comentadores, que os livros devem viver afastados da confusão, do acessório, do espectáculo, do pó (eu também acho) e, provavelmente, da canalha da alta finança e do comércio, para quem um livro, um sabonete ou um pacote de batatas fritas são a mesma coisa. Nesse caso, o Sr. LR não gosta de feiras (como eu). Ou deveria ser indiferente ao seu formato (como eu). Nesse caso, o Sr. LR só deveria ir a livrarias, onde o silêncio, o recato, a apresentação, a temperatura e a fauna são superiores. Bem sei que, no caso das feiras, ao Sr. LR só lhe deverá interessar o bom do desconto. Mas esse é um argumento, ou um critério, pobre, comezinho e mesquinho. É o típico argumento de quem poupa na casa e aposta na marquise.
Diz o Sr. LR que eu perorei sobre assunto que desconheço. O Sr. LR é um distraído. Ou fez-se de desentendido (típico no Sr. LR, companheiro de outras querelas). O que estava em causa no meu post não era o passado. O que esteve na mira do meu post foi a reacção do Sr. Saramago. Para o caso, não interessava saber se outras editoras tentaram no passado fazer o que a LeYa pretende no presente levar a cabo (ou se no passado houve proibições tenebrosas e agora não). O que me interessou, e divertiu, foi a canga das «classes» e da «feira democrática», a teoria do «caos» e o medo das «imponências» levado à cena pelo Sr. Saramago. O que me interessou foi o verdadeiro festival ideológico evidenciado em cada sílaba pelo Sr. Saramago. Sobre isso, o Sr. LR nada disse.
O Sr. LR acha que uma feira do livro é uma feira do livro. Ponto final. Dito de outra forma, a uma feira do livro só interessam os livros. Nada mais. O resto é paisagem. Ou folclore que conspurca e desvirtua o objecto-livro e alta cultura que lhe está subjacente. Acha ele, e mais uns quantos comentadores, que os livros devem viver afastados da confusão, do acessório, do espectáculo, do pó (eu também acho) e, provavelmente, da canalha da alta finança e do comércio, para quem um livro, um sabonete ou um pacote de batatas fritas são a mesma coisa. Nesse caso, o Sr. LR não gosta de feiras (como eu). Ou deveria ser indiferente ao seu formato (como eu). Nesse caso, o Sr. LR só deveria ir a livrarias, onde o silêncio, o recato, a apresentação, a temperatura e a fauna são superiores. Bem sei que, no caso das feiras, ao Sr. LR só lhe deverá interessar o bom do desconto. Mas esse é um argumento, ou um critério, pobre, comezinho e mesquinho. É o típico argumento de quem poupa na casa e aposta na marquise.
segunda-feira, maio 19, 2008
Wright or wrong?
João Pereira Coutinho in Expresso (17/05/2008)
Barack Obama
Ganhe ou perca contra McCain (e eu acredito que vai perder), Obama já ganhou a corrida para a nomeação democrata. Razões da vitória? Os deméritos de Hillary, que se resumem na arrogância com que a senhora se apresentou a concurso: Hillary acreditou que a candidatura seria um passeio triunfal (e, sobretudo, breve) em que a alegada "experiência" da antiga primeira-dama acabaria por afastar a concorrência.
Azar. O passeio não foi triunfal, não foi breve e a "experiência" de Hillary não foi vista como uma vantagem. Pelo contrário: saturados das dinastias Clinton e Bush, os americanos desejam outro apelido no boletim de voto. Sem falar do resto: ter votado a favor da guerra iraquiana é uma mancha que os democratas não esquecem nem perdoam; e as fantasias infantis fabricadas pela senhora (como ter estado sob fogo na Bósnia) relembraram à América que a mentira é um defeito de família.
E Obama? Obama é sobretudo um mistério - e já nem falo das "ideias". Nas últimas semanas, a candidatura do homem tremeu com as declarações do reverendo Jeremiah Wright. Quem é Wright? De acordo com o próprio Obama, um dos homens mais importantes da sua formação, para além de o ter casado e baptizado as filhas. O que se sabe de Wright, porém, chega e sobra para fazer tremer o mais crédulo dos crédulos: um extremista racial, para quem o governo americano teria fabricado o vírus do VIH com o sinistro propósito de exterminar a raça negra. Durante 20 anos, Obama viveu e conviveu com a criatura. Nunca se ter apercebido da faceta lunática de Wright desafia a credulidade.
Provavelmente, Wright voltará ao ataque até às eleições, provocando sangrias sempre que abrir o bico. Mas os problemas para Obama não estão simplesmente em Wright. Como se viu nas primárias decisivas da Carolina do Norte e de Indiana, Obama é cada vez mais o candidato dos jovens e, claro, da comunidade negra. Ao mesmo tempo, afasta-se do "centrão" moderado e já perdeu o voto religioso. "Sorry", rapazes. Não chega para ganhar em Novembro.
Do que nos livrámos
Uma notícia no Público dá-nos conta do pesar de Saramago sobre a possibilidade de coexistirem pavilhões «diferenciados» na Feira do Livro de Lisboa, a qual, como todos sabeis, era servida por barraquinhas uniformes:
Comunista dos sete costados (vamos pensar que sim), e provavelmente incomodado pelo facto da sua editora – a Caminho – ser agora propriedade do vampiro capitalista Paes do Amaral (grupo LeYa), Saramago não deixa os créditos igualitaristas em mãos alheias e alerta o mundo para o caos que aí vem se deixarem o homem à solta. Para Saramago, será um duro golpe no espírito comunitário e democrático da Feira do Livro, onde toda a minha gente se sujeitava, por hábito e amorfismo, à mediocridade vigente. Fazer diferente, e provavelmente melhor?! E os pequenos?! E os pobres, que não vão poder «acompanhar» os ricos?! Nem pensar, avisa Saramago. Isso estragaria a «festa». Há que nivelar por baixo. Há que refrear a diferença. Há que domar a diversidade. Há que ser utilitarista na adopção de proteccionismos. Há que boicotar essas novas ideias «progressistas». E eu penso: ainda bem que um certo “Abril” não se cumpriu.
(também publicado aqui)
”Referindo-se à autorização para pavilhões diferenciados, Saramago criticou a "diferença na apresentação dos livros de qualquer editora". "Não me parece bem. Se nos pavilhões cabiam as pequenas e as grandes editoras, podiam continuar a caber", defendeu o Nobel da Literatura. Para o escritor, esta "não foi uma boa solução" porque "abre portas a uma espécie de caos". José Saramago caracterizou a Feira do Livro como uma "festa democrática", onde a existência de pavilhões diferenciados e eventualmente "imponentes", "exibe uma diferença de classes".
Comunista dos sete costados (vamos pensar que sim), e provavelmente incomodado pelo facto da sua editora – a Caminho – ser agora propriedade do vampiro capitalista Paes do Amaral (grupo LeYa), Saramago não deixa os créditos igualitaristas em mãos alheias e alerta o mundo para o caos que aí vem se deixarem o homem à solta. Para Saramago, será um duro golpe no espírito comunitário e democrático da Feira do Livro, onde toda a minha gente se sujeitava, por hábito e amorfismo, à mediocridade vigente. Fazer diferente, e provavelmente melhor?! E os pequenos?! E os pobres, que não vão poder «acompanhar» os ricos?! Nem pensar, avisa Saramago. Isso estragaria a «festa». Há que nivelar por baixo. Há que refrear a diferença. Há que domar a diversidade. Há que ser utilitarista na adopção de proteccionismos. Há que boicotar essas novas ideias «progressistas». E eu penso: ainda bem que um certo “Abril” não se cumpriu.
(também publicado aqui)
sexta-feira, maio 16, 2008
No país das maravilhas
Esta notícia dá conta que o Parlamento aprovou ”com os votos favoráveis do PS, PSD, Bloco de Esquerda e sete deputados do CDS, o Segundo Protocolo do Acordo Ortográfico”. Manuel Alegre (PS), dois deputados do PP e Luísa Mesquita votaram contra.
Em nome de um vago e duvidoso interesse nacional, os dois Blocos (o Central e o de Esquerda) aprovaram um acordo que me envergonha. Não tanto pelas razões ortográficas (a que não sou insensível), mas acima de tudo por se tratar de um acordo absolutamente cretino e falacioso. Este acordo não vai adiantar um grama de utilidade à compreensão do português falado e escrito no Brasil. Este acordo vai lançar a confusão entre a população estudantil e as respectivas famílias (a minha filha de 12 anos vai sentir na pele a dicotomia tão ridiculamente explicada e irresponsavelmente acolhida por Sua Eminência o Cardeal coimbrão Carlos Reis, segundo o qual cada um escreverá como lhe aprouver porque, é verdade, o Acordo assim o permite). Este acordo vai criar uma sensação de instabilidade e desnorte pedagógico na classe docente.
Até o putativo contributo do Acordo para a cultura e para a economia dos bens culturais só pode ser levado a sério por duas espécies de obtusos: os que não enxergam a que nível se encontram as diferenças que pesam para o hipotético «fosso» linguístico entre Portugal e o Brasil (a sintaxe, o vocabulário, as expressões idiomáticas, etc.); os que, tendo interesses económicos no âmbito dos livros e afins, insistem na expectativa desesperada de uma pífia «abertura» que lhes permita vender mais uns obscuros opúsculos da Sra. Dona Lídia Jorge ou do sempre jovem Peixoto.
Há, finalmente, uma espécie de apoiantes do acordo cuja argumentação não se fundamenta nas supostas virtudes do mesmo, mas tão só no facto de vislumbrarem nos argumentos contrários e nas pessoas que os personificam, laivos bacocos de nacionalismo e neocolonialismo ou, pior, o pútrido perfume de tempos «orgulhosamente sós». Há gente para quem a política e a ideologia são tudo. Pena é que não vejam para além disso.
PS: Dispenso-me de comentar o argumento da «união dos povos» por razões óbvias (lirismos não, obrigado).
Em nome de um vago e duvidoso interesse nacional, os dois Blocos (o Central e o de Esquerda) aprovaram um acordo que me envergonha. Não tanto pelas razões ortográficas (a que não sou insensível), mas acima de tudo por se tratar de um acordo absolutamente cretino e falacioso. Este acordo não vai adiantar um grama de utilidade à compreensão do português falado e escrito no Brasil. Este acordo vai lançar a confusão entre a população estudantil e as respectivas famílias (a minha filha de 12 anos vai sentir na pele a dicotomia tão ridiculamente explicada e irresponsavelmente acolhida por Sua Eminência o Cardeal coimbrão Carlos Reis, segundo o qual cada um escreverá como lhe aprouver porque, é verdade, o Acordo assim o permite). Este acordo vai criar uma sensação de instabilidade e desnorte pedagógico na classe docente.
Até o putativo contributo do Acordo para a cultura e para a economia dos bens culturais só pode ser levado a sério por duas espécies de obtusos: os que não enxergam a que nível se encontram as diferenças que pesam para o hipotético «fosso» linguístico entre Portugal e o Brasil (a sintaxe, o vocabulário, as expressões idiomáticas, etc.); os que, tendo interesses económicos no âmbito dos livros e afins, insistem na expectativa desesperada de uma pífia «abertura» que lhes permita vender mais uns obscuros opúsculos da Sra. Dona Lídia Jorge ou do sempre jovem Peixoto.
Há, finalmente, uma espécie de apoiantes do acordo cuja argumentação não se fundamenta nas supostas virtudes do mesmo, mas tão só no facto de vislumbrarem nos argumentos contrários e nas pessoas que os personificam, laivos bacocos de nacionalismo e neocolonialismo ou, pior, o pútrido perfume de tempos «orgulhosamente sós». Há gente para quem a política e a ideologia são tudo. Pena é que não vejam para além disso.
PS: Dispenso-me de comentar o argumento da «união dos povos» por razões óbvias (lirismos não, obrigado).
quarta-feira, maio 14, 2008
terça-feira, maio 13, 2008
Earl Grey, I suppose
Eu adoraria tomar um chá com o Sr. Passos Coelho over political philosophy. Estou certo que o Sr. Passos Coelho leu, a seu tempo, Hayek, von Mises, Strauss, Friedman (o Thomas e o Milton) e, quiçá, Nozick. Ou seja: o cânone contemporâneo do «liberalismo». Estou certo que terá debatido calorosa e apaixonadamente com os seus pares, em universidades de verão ou fóruns organizados pelos jotas, as virtudes do liberalismo sobre o socialismo. Estou certo que, dos três ou quatro ou cinco ou dez candidatos a líderes do PSD, o Sr. Passos Coelho será aquele com quem se atingiria mais rapidamente a bitola da boa e amena cavaqueira em torno de tópicos tão sugestivos como ciência política, modelos de organização social e económica, regimes de protecção social ou o efeito das radiações UV sobre a pele. Acontece que o que está em causa no PSD não é a eleição do mais simpático e cool e eloquente e apresentável dos visionários e teóricos políticos do centro direita. O que está em causa é a eleição de uma figura (velha, nova, gorda, magra, homem ou mulher, gay ou straight) que tenha o instinto, a experiência de facto (a «experiência de» e não a «experiência acerca» como Oakeshott nos ensinou a distinguir) e a exacta noção da perfeita e trágica correlação de forças entre a realidade «real» e a exequibilidade dos ditos «modelos».
FFF
Por estes dias tenho-me apercebido que em matéria de evolução histórica e social este país ainda vegeta sob a égide dos três ‘F’: Fátima, Futebol e Fado. Não necessariamente por esta ordem, diga-se. O Sr. Passos Coelho deveria ter isso em conta. Aliás, o Sr. Passos Coelho - um político simpatiquíssimo - deveria ter em conta muita coisa. A começar pelo país em que vive. Até que ponto, a ideia de «liberalismo» do Sr. Passos Coelho encaixa no país da Liga dos Últimos, do Sr. Francisco Louçã e do Professor Doutor José Pureza?
domingo, maio 11, 2008
Digam o que disserem
Vasco Pulido Valente, in Público (28/03/2008)
Um adeus português
Foram esta semana a leilão o título e os bens de O Independente, para pagar uma dívida de quatro milhões. Ninguém deu nada nem por uma coisa, nem por outra. A oferta máxima pelo título não passou de 1.100 euros, provavelmente porque se julga que não atrai ninguém e até pode repelir uma certa espécie de opinião. O jornal saiu de cena como um resto pouco estimável de uma época morta. Verdade que o longo final tirou todo o dramatismo a um fim mais do que esperado. Mas nem sequer houve um sentimento de perda e melancolia. A televisão não disse nada, a imprensa, quando deu por isso, arrumou o caso com uma notícia desinteressada e curta. O Portugal de 2008 enterrou O Independente como quem enterra um primo de má vida e pior fama, que se deve esquecer. Como se calculará, não partilho esta atitude, que me parece hipócrita e suspeita. Fundado em 1988, O Independente é inseparável do «cavaquismo», ou seja, de uma época de esperança e prosperidade. Portugal não voltaria à «cauda da Europa» e tinha à sua frente um futuro de ouro. Quem não concordava com isto era, evidentemente, um «velho do Restelo». No ridículo entusiasmo em que se tornara a ortodoxia oficial, O Independente nunca se iludiu. Esteve sempre contra a arrogância e as certezas do Governo e (pelo menos, no primeiro mandato) contra a irresponsável retórica de Soares. Na oposição, só ele existia. O que o PS, reduzido a uma completa impotência, nunca no fundo conseguiu engolir e o que, infelizmente, levou Paulo Portas para a política e o CDS.
Mas falar de O Independente sem falar na liberdade que Miguel Esteves Cardoso trouxe ao jornalismo português não faz sentido. O Terceiro Caderno raspou a solenidade e a pompa de uma geração que, da esquerda ou da direita, herdara as tradições do «respeitinho» indígena. Depois do Terceiro Caderno não se escreveu mais como se escrevia antes. Claro que a iconoclastia empurra sempre para o excesso e que, de quando em quando, se pisou de facto o risco do bom senso e da simples decência. Resta que ler ou escrever no Indy foi um privilégio. Portugal precisava hoje de um terramoto igual. A mim o que me custa, naquele horrível leilão, é a facilidade com que se deita fora uma história exemplar, alegre e rara, na subserviência e na mesquinhez da cultura instalada.
sábado, maio 10, 2008
A arte da crónica (4)
Peter Simple
(Michael Wharton)Processed
The government is to spend more than £4 million on a scheme to give every primary and secondary school on this country a computer of its own. ‘Children entering primary schools now’, says Mr William Shelton, junior Education Minister, ‘will still be contributing to the productivity of this country in the year 2040. It is essential that they develop the tools of the future in the schools of today.’
Amid the roar of adult cheering, mingled with the shrill piping of the poor little monsters who have already been enslaved by this gadgets (which they naturally find great fun), I can hardly expect any words of mine to be heard or even processed.
But what does the government’s proposal really mean? It means that these instruments of auto-hypnosis will be furthering at school the tendency by which children, already seduced by menticidal flickering-machines at home, are to be robbed of their childhood – and thereby of then adulthood as well.
This is a scheme for producing a whole generations of morons and slaves of the machine, without a sense of wonder, without any true sense of the real world in which they live. In place of thoughts and sensations they will have numbers, symbols, formulae.
And how does Mr Shelton know that computers will be the tools of the future? The tools of the future may be the spade, the fork and the scythe. How does he know what life in the year 2040 will be like? Why does he think the children of today should be systematically processed for a future which nobody can possible forsee?
A computer in every school? Can it be that the ‘midless vandals’ who specialise in dealing with schools will prove to be the unconscious friends and benefactors of humanity, at least throwing the occasional spanner in the wheel of computerised progress even if they cannot stop it altogether?A terrible Thought
As I read a report of a debate in the Commons on rules about immigration, with Mr Hattersley, the Shadow Home Secretary, in full flood and accusations of ‘racism’ flying about the place, a terrible thought came into my mind.
What is ‘racism’ (or ‘racialism’, as it was called before it became, according to the liberal consensus, the one sin which may not be forgiven either in this world or the next)? If it means ‘racial discrimination’ it can be anything form the crankish theories of Alfred Rosenburg, the Nazi expert on ‘racial science’, to an instinctive and generally harmless human preference for people of one’s own kind; a belief, until recently unquestioned by the sane, that there are differences, not necessarily implying superiority or inferiority, between one race and another.
In this latter sense almost everybody in the world is a ‘racist’. My terrible thought was this: that one day, just once, as one of the periodical orgies of cant on this subject was raging, some Member of the Parliament might get to his feet and say: ‘I am a racist. And so, you hypocrites, are you’.
It might be the end of the world. On the other hand, it might make everybody feel a great deal better.Bedroom Horrors
According to a survey, 46 per cent of homes in this country have two or more television sets and a majority of their owners have their second sets in their bedrooms. Six per cent of this people said that bedroom television ‘inhibited sexual intercourse’. They were men and women in roughly equal numbers but mainly of the lower middle class.
Seventeen per cent, found that other bedroom activities inhibited by television were, firstly, reading, followed by games of Scrabble, knitting and pillow-fighting. As for the programmes, horror films were said to be more popular in the bedrooms of the Midlands, documentaries in London and Scotland and old films in the North of England.
What is one to make of such findings (an even more horrific one emerged in another survey which showed that 18 per cent of children had their own television sets)?
Here is a picture of a nation debauched by continual, passive exposure to visual and verbal rubbish and in danger of being reduced to total, drooling imbecility. What hope is there of stopping or reversing this process?
Many – soon perhaps a majority – of the children are already lost. Nor is it much comfort that some of these doomed people manage to read, play Scrabble, knit and have pillow-fights in their bedrooms while the television set is on, and that some manage to have sexual intercourse. What proportion, by the way, do all these things at the same time, and what class do they belong?
As for those, mainly of the lower middle class, who cannot have sexual intercourse while watching television, this may be a blessing. Even today, and even among the lower middle class, or so experts believe, sexual intercourse sometimes results in conception and the birth of children.
Are people of the lower middle class who are so addicted to television, the worst of modern evils, that they have allowed it to invade their bedrooms, fit to have children, let alone bring them up?
A arte da crónica (3)
A única natureza é a humana por Miguel Esteves Cardoso
Verão. Não é só calor – é a luz. Odeio a Luz. Como toda a natureza, aliás. Quero que ela exista, claro, mas longe de mim. As únicas coisas interessantes neste mundo são as que as pessoas fizeram. O mar, que até tem uma certa graça, nada é ao pé do que se escreveu acerca dele. Até a palavra mar é melhor que o mar em si. As paisagens podem ser impressionantes, para aí durante trinta segundos, depois de três horas de viagem de carro, mas são entediantes e inferiores às pinturas, às fotografias, às descrições. As rochas e as montanhas são uma seca, comparadas (se é que, sequer, podem comparar-se) às construções humanas, às catedrais, às cabanas, às casas.
As ervas naturais são, em boa verdade, uma bela porcaria. Crescem e pouco mais. Em contrapartida, as grandes empresas de farmacêuticos, nas quais as pessoas investigam e descobrem excelentes medicamentos, são a prova de que a natureza é verdadeiramente selvagem e ineficaz. Troco todos os chás à face da terra por um bom Lexotan. Aliás, os defensores das coisas «naturais» esquecem-se sempre que elas são apenas pontos de partida ou matérias-primas para aperfeiçoamentos humanos. A pedra é pedra. Miguel Ângelo é Miguel Ângelo.
Até o ser humano, como expressão física, é facilmente ultrapassado em beleza, perenidade e utilidade, pela maneira como foi desenhado, escrito, imaginado, pensado. Compare-se a existência em si com o pensamento acerca dele. A vida é pobre, a filosofia é rica. Ou menos pobre, pelo menos.
Bem sei que sou um caso extremo – prefiro uma lâmpada eléctrica à lua -, mas começo a desesperar com este irritantemente reincidente «regresso à natureza». A veneração do estado bruto das coisas existentes é cada vez mais popular. Estamos cada vez mais primitivos. A religião é que é bonita. Tudo o que abdica do humano é feio.
O erro é pensar que as pessoas são capazes de ser muito piores que a natureza (nenhum bicho é tão mau como uma pessoa má) e concluir que o melhor é ficar quieto. O que distingue o ser humano é ser capaz de bem ou de mal. De resto, a natureza, que é estúpida e material, também pode ser muito má (terramotos, etc.). Só que, como não se sabe, não se pode culpar ou castigar. Coitada. Ser pelas cidades, preferir Manhattan ao Grand Canyon, ou o Aqueduto das Águas Livres e o sistema de canalizações ao rio Tejo, não quer dizer que não haja cidades ou invenções sinistras (a grande maioria) – quer dizer que o ser humano é sempre capaz de melhor. Há péssimos vinhos e azeites, piores que comer uvas ou azeitonas – mas os resultados das uvas e das azeitonas bem usadas pelos seres humanos são não apenas melhores, mas têm outra ordem de grandeza. Comer tudo cru é um atentado, não só gastronómico, como à cultura.
A arte não «imita» a vida – a arte tem a capacidade de ser uma vida superior. O problema da actividade humana é que, em 99,9 por cento dos casos, falha e é, por conseguinte, pior que a natureza que modifica. Mas isso não quer dizer que as pessoas realmente bondosas ou sábias ou justas não sejam superiores ao animal mais nobre (até porque o protegem e se preocupam com ele, dedicando-lhe a vida se for preciso, coisa que os animais não fazem, não porque não sejam bons, mas porque não são capazes).
A obra dos grandes filósofos, teólogos, artistas e cientistas é melhor que os seres humanos que a produziram e ultrapassa a vida – ou, melhor, atinge a vida mais alta e preciosa que pode existir. As ideias religiosas e políticas que permitem que, em certas partes pequenas do Mundo, graças à intervenção de pessoas inspiradas por elas, a vida seja melhor do que seria se estivéssemos sozinhos, são sublimes porque são úteis. A solidariedade humana é uma ideia. É impossível comparar a bondade previsível dos animais (aquela gata que salvou os quatro filhotes do incêndio) com as consequências sociais dos pensamentos altruístas de muitos filósofos gregos ou dos sábios judeus do Talmude, de onde provém todo o pensamento e prática que acabam (começam) por criar (em pequenos recantos do Mundo) condições (mínimas) de assistência social.
É por ser capaz de se exceder que o ser humano é tantas vezes tão nocivo e tão mau. As ideias más são muito mais perigosas que a animalidade humana. Mas isso não defende a animalidade. O que é sublime no ser humano é, sendo mau, ser capaz de pensar o bem. A natureza não é boa nem má – é natural. Só o ser humano pode salvar (ou destruir) a humanidade, o planeta, e por aí fora. Por outras palavras, usá-lo para não subjugar os outros, sejam humanos ou não.
A ignorância humana é certamente mais nefasta que a consciência limitada dos outros animais ou a inconsciência dos outros seres vivos – mas a capacidade humana de se ultrapassar é também a grande esperança. No dia em que se consiga fazer a síntese da religião e da filosofia, praticamente aplicável, como há tantos séculos se vem tentando fazer, o Mundo poderá ser mais do que é.
O erro é abdicar do estudo, do pensamento, da devoção – o maior perigo é a facilidade. E a natureza é a coisa mais fácil e enganadora de todas. A única natureza é a humana.
sexta-feira, maio 09, 2008
quinta-feira, maio 08, 2008
"...m'espanto às vezes, outras m'avergonho..."
O Abrupto perfez cinco anos de vida. Ao José Pacheco Pereira os meus parabéns.
terça-feira, maio 06, 2008
A arte da crónica (2)
The French Solution by Auberon Waugh
For a beleaguered Englishman, wrestling with the fact that the pound is only worth 8.3 francs and a glass of orangeade in a bar therefore costs 42p or eight and sixpence, there is certain comfort to be derived from the discovery that large parts of French society, too, are going mad. I first began to suspect this at the seaside when I noticed that most Frenchwomen now bathe topless. For five weeks now I have been brooding and puzzling over this. A few women look quite charming in this state, although once it is common property even the most perfectly formed breast becomes no more erotic than a well-turned ankle or finely chiselled nostril. But most of the women were old enough to know better and looked extremely silly.
Whatever considerations drove them to this behaviour they cannot have included the traditional nudist argument that it is somehow healthier and more natural to expose one’s private parts. Without exception they kept their lower parts covered. Yet by demystifying her breasts, the human female renounces one of the most formidable weapons in her sexual armoury. Curiosity is the trigger mechanism to the whole chain of male sexual response – a chain both in the sense of progression and in the sense of shackle or confinement. Curiosity is not heightened by this premature exposure, but diminished. Perhaps it was their intention to discourage or repel bathers of the opposite sex, but I am almost sure this was not the case. The simplest and most obvious explanation for this loss of modesty is surely the true one – they have gone mad.
Confirmation is available form other sources that this same crisis of modernism which, in the space of twenty years, has destroyed the Roman Catholic Church and left Europe virtually defenceless to Russia is now afflicting many parts of French society with madness. The chief of these is French television, and the most extreme example of French television is a programme called Les Grandes Personnes. It shows children talking to adults . In effect, this means that a single-haired youth, pubescent and epicene, is interviewed by any of a number of middle aged, vasectomised pederasts with horrible, wrinkled, understanding faces and smug, left-wing views. The interview seems interminable, but probably doesn’t take more than thirty minutes. Under the indulgent eye of the pederast the ‘boy’ trots out a little library of left-wing views about his school and the modern world – how he is disenchanted with capitalism, how religion means nothing to him and is only for his parents, how they are not taught enough at school about things which really interest them, like racism and neo-imperialism in the third world. The pederast beams at him and draws a little closer. ‘Yes, yes’, he says understandingly, ‘religion was, shall we say, a romantic invention for the times’, and the plump, androgynous mannikin smirks gratefully back.
These are the new goody-goodies, the children who at my school would have been teachers’ pets, sitting at the front of the class with the right answer to every question. It would be easy to be alarmed by the fact that the entire younger generation in France – or at any rate, all those under twenty-five who might, in happier times, have been capable of mastering the Christian catechism - have now been brainwashed – or ‘educated’ – into a rejection of the capitalist system. Whatever silly things the French may say to each other in their schools and on television, however dramatic their apparent rejection of the system under which they live, the fact remains that capitalism is in an amazingly healthy state in France. Even the French Communist Party is a long way to the right of our own beloved Conservatives on such vital matters as wealth, inheritance and personal taxation.
Yet in England where education has scarcely been politicised at all, capitalism is in ruins. Our educational policy, designed to accommodate the backward or inept pupil has produced a generation of politically apathetic sluggards. The French educated system, which is the fiercest and most competitive in the world, has produced an élite dedicated to the destruction of capitalism, which continued to thrive. The English education system, surely the wettest and sloppiest outside America, has produced a generation of ignorant woolly-minded idlers who have all but destroyed capitalism at home.
Our problem is not insanity so much as feeble-mindedness, a refusal to think things out at all. We watch Bruce Forsyth instead. Last week’s news that he had been signed up to make twelve new programmes for £180,000 – to stand in front of the cameras for 1800 minutes at £100 a minute – filled me with unutterable gloom. Of course, there is no reason to be jealous. The same vacant-minded audience who will gasp with delight every time he says ‘Nice to see you, to see you nice’ will also demand £83 per minute in income tax form his earnings (the maximum rate of income tax was reduced by Mrs Thatcher’s government to 60 per cent). I do not envy him his horrible house or the bogus Tudor bar inside it, or his pasty-faced new wife or his new plasticine baby or his nasty new moustache or even the genuine affection and respect in which he is plainly held by the British public. Apart from an intense personal loathing for the man I have no particular interest to declare. But last week’s confirmation of the fact that in order to capture the attention of the British public, one must show them Bruce Forsyth does rather illustrate my point that the English are being encouraged to replace into imbecility. It is not the sex or violence of British television which is worrying, still less its Marxist bias – just its vulgarity and stupidity. Where the French are going mad from the excitement of their intellectual process, we are consciously and deliberately opting for the Stupid Society, where working class tastes will determine our culture and working class ineptitude will determine the level of our prosperity.
If we are to decide where we would stand in the great late-night debates of our time, we must do so in the privacy of our own libraries, studies or bathrooms because nobody is going to hold them with us. So sit a little closer, dear reader, and let’s begin.
The trouble with capitalism, especially efficient capitalism, is that it not only makes the working class rich and free to exercise their loathsome consumer choices to the detriment of civilisation as we know it, it also make the working class powerful. When, in the exercise of this power, various inalienable characteristics of a working class are brought to bear – its brutal stupidity as well as its natural greed, is vindictive bloody-mindedness as well as its natural idleness (what the French call la sale mentalité ouvrière) - one sees how capitalism must carry within itself the seeds of its own destruction.
The trouble with socialism is that in the process of keeping the workers poor, oppressed and docile it must depart so far from its own sustaining rhetoric of liberty, equality, fraternity, prosperity and workers’ control as to create a psychotic society requiring mass imprisonment.
So we are left with a shaky, unthought-out belief in inefficient or mixed capitalism as our only protection against the drift into proletarian ineptitude and brutality. The French solution, of adopting the rhetoric of socialism while practising tooth-and-claw capitalism, carries with it the risk that our womenfolk will stand barking like dogs and exposing their breasts. That may be all right for the French, but it isn’t really what we want to see at Bognor Regis.
2.9.1978
segunda-feira, maio 05, 2008
A arte da crónica (1)
Train in Spain by Jeffrey Bernard
It’s widely claimed that it was W.C. Fields who uttered the immortal words ‘Never give a sucker an even break’, but it isn’t so. God murmured them during an afternoon nap on the seventh day. A few million years later the Arabs coined the proverb, ‘One minute, life is in your hand. The next minute, it’s up your arse.’ And three weeks ago I was kept awake all night by two nightingales who were singing in an orange tree outside the bedroom window of my Spanish villa. Well, it’s not my villa actually, but you’d think a man could remove the nightingales before he lent you a few nights in the gardens of Spain. Keats, Granados, de Falla? Don’t make me laugh.
But to start at the beginning, they said, ‘Don’t fly all the way. See Spain. Get the train from Madrid and see the countryside.’ What they didn’t say was, ‘If you go by train the journey will take 13 hours and you’ll be surrounded by Moroccan shepherds shitting on the floor.’ Now I know that last bit may sound a little like a drunk with denture problems trying to sing a carol, but it’s quite true. They’re really amazing, are these people. Take me to the Race Relations Board if you like, but I’m here to tell you that the Arabs are quite ghastly. I don’t mind them shoplifting in Marks and Spencer with £5.000 in their pockets – money should be reserved for self-indulgences – and I don’t mind them squatting on the pavement outside my front door munching melons, but, when they’ve watched their flocks and then sold them I wish they’d go home by car. Anyway, I’d taken my right lung to Spain for an airing and that journey took another year off its life.
But I recovered over the next two days and, by a private pool in the sun that overlooked cork tree forests that went down to the shimmering sea, I gazed at the blue mountains of Africa beyond ,full, no doubt, of shepherds shitting by their flocks. It was a heavenly sight; but God, omnipresent and not wanting to be outdone by his own work, had put a couple of vultures overhead in that heaven purely for my benefit. If it’s not nightingales then it’s vultures. Why I’d been picked on like this was my main preoccupation for the next few days as I loafed among the bars of Tarifa. It also accurred to me that if Norman put morsels of octopus, chorizo and salads on the bar in the Coach & Horses and if he also sold quadruple vodkas for 45p to the accompaniment of strumming guitars and clacking castanets then he wouldn’t be a half bad bloke.
It was by the pool – put there by Him because I can’t swim – one afternoon that I met Helen, the resident English widowperson. A delightful and friendly lady, she had merely two faults that I could sea and hear: she said ‘Well, this is it’ in reply to everything I said, and she was accompanied everywhere by a dog called Roy. As Alan Rawsthorne once told me, ‘Never trust a dog with an unsuitable name.’ How right he was. Roy was right up Keats’, Grandado’s and de Falla’s streets and he took up barking when the nightingales came off the night shift. But she was potty about dogs was Helen and there was a stray one nearby that she fed every day. She’d park her car precariously on the mountain road every morning, get out and whistle and the feed left-over French bread rolls to this thing that would come wagging out of the rocks. I mean, you just don’t feed french bread to a dog. You might as well offer a cat a sandwich. Anyway, that was the routine every morning and after that she’d drive us to the market in Tarifa, or along the coast to a hotel owned by Nazi war criminals, where I’d have cocktails while she took Roy to the beach to bark at the bare breasts of tourists. I don’t think anyone liked Roy very much.
So there I was getting a healthy tan in the middle of a scenic, culinary and alcoholic idyll when He Who Must Be Loved played his last card of the holiday. I was sitting by the pool one afternoon wondering if any of the local oranges would end up on Charlies’s stall in Berwick Street when I suddenly got this God-awful pain in my chest. I guessed it might cost about £500 a week to be ill in Spain and anyway I want to be scattered in England and not fed to vultures or Roy. The only way I could get back to London was via Malaga and the only way I could get to Malaga as by taxi. Would you believe 160 kilometres in a taxi? It made my wallet break out in a sweat. Then the additional air fare to Madrid on top of that. Still, better than Moroccan shepherd smells. When I did get back I felt better. All a bit of a cockup, but that’s life, or, as Helen would say, this is it.
Reaparições (2)
Guterres desceu à terra, com direito a entrada toponímica, banda filarmónica e repasto entre os local peasants (grupo de que Guterres já fez orgulhosamente parte, embora pertencendo à burguesia). Durante o «evento», houve tempo para desabafos: de semblante carregado e olhar semicerrado, Guterres garante que «o mundo assim não vai lá». A culpa, claro, é da «comunidade internacional», essa utilíssima entidade mística e fantasmagórica, companheira de quem, de quando em vez, se pretende aliviar de angústias de vária ordem. Na maior parte dos casos, é eufemismo para «Estados Unidos da América». Provavelmente não foi esse o caso (sou um ingénuo). Seja como for, a pergunta que importa fazer é: a que se deve esta súbita reaparição de Guterres? Há que estar atento: em Portugal, os políticos têm sete vidas.
Reaparições (1)
Os McCann regressaram. Em força. Múltiplas entrevistas com choro à mistura e declarações grandiloquentes. À pergunta sobre os motivos da insistência na tese de que Maddie está viva, Gerry atira com o aparente óbvio ululante: "que pai poderá desistir de procurar uma filha desaparecida?". Qualquer pai compreenderá os McCann, diz Gerry. Suponho que até Josef Fritzl concordará. Isto apesar de gente próxima da PJ garantir que a menina está morta, sem margem para dúvidas. Aproxima-se, entretanto, a data do levantamento do segredo de justiça e a possibilidade de consultar o processo. Coincidências? A campanha (em curso) de absolvição de Kate e Gerry tem como objectivo amortecer o choque das eventuais revelações negativas (para os McCann) contidas no processo ou, pelo contrário, servirá de catalisador para um colectivo sorry provocado pela constatação de que a investigação da Policia Judiciária tem mais buracos que um queijo gruyer?