O MacGuffin

domingo, abril 11, 2004

BARRETO, ANTÓNIO
"Sou ocidental, considero que a dita civilização do mesmo nome é a principal obreira, nos tempos modernos, da liberdade e da dignidade do indivíduo, sendo também a que, nos últimos séculos, mais contribuiu para o desenvolvimento da cultura e das ciências. Penso também que, mau grado horrores recentes conhecidos, pertencem a essa área do mundo praticamente todos os exemplos de vida decente. Sei que esta civilização está sob ameaça séria, dos seus próprios defeitos, com certeza, mas sobretudo dos seus inimigos, que a querem simplesmente destruir e conquistar. Por isso estimo, há alguns anos, que muitos desses inimigos, nomeadamente os gangs milionários dos produtores e dos distribuidores de petróleo e de droga, assim como os ditadores cleptocratas, muitos deles socorrendo-se do fanatismo islâmico, estão a precisar de uma lição, tanto em termos políticos como militares e económicos. E sou de opinião que as organizações terroristas, islâmicas ou não, devem ser combatidas com todos os meios, sem misericórdia nem complacência. Mas não me revejo na campanha americana no Próximo Oriente, da Palestina ao Iraque, nos desastres provocados e na incompetência política manifesta. Nem na hipoteca israelita da política americana. Nem na inútil passividade das Nações Unidas. Nem na covarde chantagem de alguns países europeus, como a França e a Alemanha. E receio os resultados da catástrofe em curso: ao contrário do Vietname, onde só os americanos perderam, com o Iraque, Israel e a Palestina, entre outros, perderemos todos, especialmente os ocidentais. Espero que se ponha um termo à política belicosa do Estado de Israel e se crie um Estado independente da Palestina. Como desejo que os americanos, com a colaboração dos Estados ocidentais e europeus, corrijam radicalmente as suas estratégias actuais, vençam as guerras contra o terrorismo e derrotem os Estados, os partidos e os movimentos que, sobretudo no universo islâmico, põem em perigo o ocidente e impedem a paz no mundo. O que não faz de mim um agente dos americanos, muito menos anti-americano ou anti-ocidental.

Sou europeu, fujo de todos os reflexos patrióticos, abomino o nacionalismo como chaga maior da idade contemporânea e vejo a integração europeia não só como uma possível obra-prima da política internacional, mas também como uma imperiosa necessidade para o desenvolvimento e a segurança do meu país. Mas não me identifico com a obsessão integradora e federalista da maioria dos dirigentes europeus, com a voracidade dos dirigentes das grandes potências europeias e seus apetites de dominar esta comunidade de Estados e nações e capazes de, por um desenho abstracto e artificial, pôr em causa a União. Não me revejo no frenesim unificador dos europeus ou na destruição da diversidade, traço maior da política e da cultura europeias. Nem me reconheço na hipocrisia suicida de grande parte dos políticos europeus que, perante o terrorismo e as ameaças contra o mundo ocidental, escolheram a complacência e a cedência como estratégia da sua eventual salvaguarda. Considero-os, europeus de direita e de esquerda, tão responsáveis quanto os americanos na catástrofe iraquiana e no impasse palestino e israelita. O que não faz de mim um anti-europeu."

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