O MacGuffin

sábado, abril 10, 2004

A MÁ-FÉ SEGUNDO DANIEL OLIVEIRA
Na última edição do É a Cultura, Estúpido!, Daniel Oliveira, do alto do seu moralismo e da sua proverbial clarividência, deu a todos os presentes uma lição sobre o que é a má-fé. Alegou o Daniel que Fernando Gil e Paulo Tunhas, no livro Impasses, ao acusarem certos detractores da intervenção americana no Iraque de agirem de má-fé, foram eles próprios usuários dessa má-fé – argumento cuja originalidade a todos deixou boquiabertos.

É o mesmo Daniel Oliveira que, agora, de há uma semana a esta parte, tem tido sérias dificuldades em esconder a sua satisfação por putativamente ter arranjando mais uns quantos argumentos de peso que provam, à saciedade, o desnorte dos norte-americanos no Iraque e a falência da intervenção. Temos assistido, no Barnabé, ao Daniel em todo o seu esplendor: cascando nos norte-americanos e amplificando o revés da coligação, em jeito de I told you so cassandriano, naquele que é já conhecido como o Oráculo de Oliveira.

Que o exército da coligação esteja a braços com um grupo radical xiita, cujos meios e estratégia são dos mais atrozes, canalhas e desleais, contrários ao bem estar da população; que a coligação esteja em fase decrescente para entregar o poder aos iraquianos e esteja a trabalhar, com estes, no sentido de fazer do Iraque um país minimamente organizado; que o pior que poderia acontecer ao Iraque seria a retirada das forças da coligação; e que, finalmente, o Iraque não virou, de um dia para o outro, um caos; nada disso excita ou comove o bom do Daniel. Não senhor. Ao Daniel importa, sobretudo, confirmar a «mentira» e o mau resultado da «mentira». Daí o regozijo latente, o gozo interior, as boquinhas supostamente incisivas e fulminantes, agora que os «gajos se estão a tramar». É que, para o Daniel, nada disto teria acontecido não fosse a teimosia e a «mentira» americanas. Para o Daniel, a culpa do que se está a passar não é dos radicais xiitas, tal como a culpa dos atentados de Madrid ou do 11 de Setembro não foi da Al Qaeda. A responsabilidade é, como sempre, dos EUA. São eles a causa de todos os males. Daí que nunca veremos o Daniel a torcer para que a coligação neutralize ou aniquile os radicais, mesmo que isso signifique um salto positivo para a estabilização do Iraque. Porque, de todas as soluções de «estabilização», o Daniel preferirá sempre, de longe, a retirada dos «mentirosos». De rabinho entre as pernas.

É caso para perguntar: quem é que falou em má-fé?

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