O que mais espanta nas declarações de José Sócrates, não são as declarações em si (patetas e básicas, logo verosímeis tendo em conta o sujeito e o predicado), mas o tom indulgente e casto de algumas reacções. A taça vai inteirinha para um (ir)reconhecível
Pedro Marques Lopes (o Daniel Oliveira é, nesta matéria, um inimputável): no Eixo do Mal (SIC-N), bradou contra a corja dos «broncos e ignorantes» (vulgo «taxistas») que, obcecados com José Sócrates, teimaram em não perceber que o homem-engenheiro tinha, afinal, regurgitado umas banalidades muito acertadas (daquelas que se estudam no primeiro ano da faculdade).
Não perceber que: a) ninguém, em parte alguma, sugeriu, dissertou, aconselhou ou brincou com a ideia de pagar a dívida de uma só vez (esvaziando de sentido a referência de José Sócrates sobre o assunto); e b) José Sócrates deveria ser a última pessoa à face da Terra a poder preleccionar sobre o tema da dívida; reflecte limpidamente o desnorte que por aí vai, catalisado pelo despudor de uns e a intermitente candura dos «indignados» (incluindo os mais improváveis) que, quais baratas tontas, obliteram as causas e o estado do país, como se «troika», «bancarrota», «despesa» e «dívida» fossem termos de uma
opera buffa, para não levar a sério.