Não se discutem insultos
Vasco Pulido Valente, Público 16/12/2011
Espectros
"O pensamento da esquerda (se a palavra se aplica) sobre a crise da dívida deixou de ser inteligível. O PS, o PC, o Bloco e companheiros de caminho vão vertendo a sua indignação numa "língua de pau", para que não há entendimento, nem resposta. Comecemos pela parte mais fácil: a sra. Merkel, encarnação da Alemanha, e o sr. Sarkozy. A esquerda injuria a sra. Merkel, suponho que a título de argumento. Ela é irresponsável, incompetente, autoritária e oportunista; não tem imaginação, sofre do preconceito luterano (é de Leste) de que os maus merecem vigilância e castigo e até, como já idioticamente se insinua, se parece com Hitler. Quanto ao sr. Sarkozy, que os franceses não tarda nada porão na rua, não passa de um tonto. Que fazer nestas circunstâncias? Chorar, como a esquerda chora, pelos bons tempos de Schmidt, de Kohl e Delors, que tanto amavam a "Europa" e o seu admirável "modelo social".
Não ocorre à esquerda que a sra. Merkel e o sr. Sarkozy fazem o que o eleitorado lhes permite fazer; e que nada mudará quando se forem embora. De qualquer maneira, com ou sem eles, ficará sempre intacta a teoria das forças do mal: o "neo-liberalismo" (coisa obscena), o capitalismo "selvagem" (ou "de casino") e sobretudo essa fugidia espécie geralmente conhecida por "especuladores". A grande vantagem desta visão do mundo está, como no estalinismo, na indefinição dos conceitos. "Neoliberalismo", capitalismo "selvagem" (ou "de casino") e "especuladores" são insultos, não são ideias. Por pura inutilidade, não se discutem insultos, que só servem para melhorar o senso de virtude de quem insulta.
A esquerda gosta disto e julga, como de costume, que é a voz da razão. De resto, desde o princípio que viveu de espectros. Para quem não se lembra: o espectro do capitalismo (que depois da URSS não se atreve a recusar), o espectro dos monopólios, o espectro das 200 famílias (que nunca se encontraram), o espectro do proletariado (que nunca se percebeu onde começava e onde acabava e que, de resto, raramente votou em quem dizia que o representava), o espectro da "luta de classes", o espectro da revolução e por aí fora. Agora, a esquerda quer que o BCE pague a nossa dívida e a dívida da "Europa", emitindo moeda e bonds (com a respectiva inflação) e cada vez que a Alemanha e a França se recusam repete a sua nova ladainha. Continua na mesma."
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