O MacGuffin: agosto 2007

quinta-feira, agosto 23, 2007

Not so fast

Meu caro Ricardo: para além da provocação, insisto que insistes no erro. “De todos o maior”. Ao contrário dos seus detractores (Philip Larkin ou, mais recentemente, Clive James), não nego que Coltrane esteja entre os grandes da história do jazz. Mas a história do jazz é longa e os grandes são muitos. Referiste, no início, Coltrane como "o maior músico" (sic). Presumi que enquanto executante. Neste campo, e em matéria de originalidade, técnica e savoir faire, onde colocas Ben Webster? Segundo, terceiro? E Miles Davis? E Coleman Hawkins? E Art Tatum? E Bud Powell? E Paul Desmond, que criou um estilo inconfundível? Referes, agora, as qualidades de Coltrane enquanto compositor ou criador. E Edward Kennedy Ellington? Meu Deus, onde pões tu o Ellington: atrás do Coltrane?!

É óbvio, demasiado óbvio até, que estamos no plano das opiniões pessoalíssimas. Mas insisto que se trata de um erro apontar um «campeão» de entre uma galeria de notáveis e geniais criadores e/ou interpretes. Voltando ao Coltrane, considero, por exemplo, a sua fase Blue Train como a mais perfeita. Nota máxima, sem margem para dúvidas ou salamaleques. Mas confesso que, com o tempo, passei a distinguir este Coltrane de um Coltrane completamente alucinado que por vezes tocava de forma disparatada e histérica, passando do terreno da originalidade para o do 'eu já não sei muito bem o que estou para aqui a fazer'. Repito: é a minha opinião. Mas em matéria de jazz e da sua longa e gloriosa história, manda a prudência não cair na tentação de eleger um «monstro sagrado» ou uma «sumidade» inacessível. Por razões, para mim, óbvias. Até breve, então.

Ellington

quarta-feira, agosto 22, 2007

Abroad

Vou em trabalho para o estrangeiro. Regresso dentro de 7 dias. As minhas desculpas. Especialmente endereçadas ao Rodrigo, esse biltre obedientemente civilizado. Levo isto para me entreter:

Hazlittsmithsbook of ignorance

Só para chatear o Louçã

Então compadri, lendo o VPV, hã? Faz vossemecê muitíssimo bem.

O novo Bloco
por Vasco Pulido Valente (03.06.2007)

Segundo Francisco Louçã, o Bloco é socialista e anticapitalista, mas não revolucionário, e procura uma alternativa ao mercantilismo e ao liberalismo. Para um partido que saiu da UDP, do PSR e do PC esta mansidão é meritória. Até porque esconde muito mais do que revela. O socialismo e o anticapitalismo do Bloco, por exemplo, não passam da ideia de que o mercado não resolve "os problemas sociais" (coisa que ninguém discute) e da defesa (suponho que ardorosa) dos serviços públicos. De resto, o Bloco, rejeitada a revolução e, com ela, o marxismo, "procura" com modéstia uma "alternativa" ao "mercantilismo" (uma entidade indefinida e assaz misteriosa) e ao "liberalismo". Tudo visto e considerado, e tirando o seu velho ódio igualitário à gravata, o Bloco acabou tristemente na social-democracia e só não está ainda no "centrão" porque o PS não precisa dele.
Pior do que isso, nada ou quase nada do que diz Louçã o distingue de Paulo Portas, Sarkozy ou Cameron. Nem a preocupação com a saúde e o ensino; nem, como é óbvio, a "grande causa" do "ambiente", com que o Bloco se espera revestir de um arzinho de "modernidade". O "ambiente" serve sempre de programa a quem não tem programa, à esquerda e à direita. Claro que, na oposição, Louçã se pode dar ao luxo de bramir contra a política do Governo, o desemprego e o "precariado" (ou, se preferirem, o emprego precário). Infelizmente para ele, mesmo essa indignação profissional e parlamentar, que o CDS, o PSD e o PC partilham, não chega para restaurar a originalidade do antigo Bloco. Agora, também ele faz parte do clube.
E, naturalmente, adquiriu a obsessão essencial do clube: o "aparelho". Luís Fazenda anda por aí atrás de estudantes, de mulheres, de sindicalistas, do que vier à rede. A "implantação" cresce: aumentou o número de sedes (que não são de graça) e de comissões concelhias. Como qualquer partido que se preza, o Bloco quer a sua fatia de poder local e uns deputados mais na próxima Assembleia. Louçã insiste em que esse Bloco, já sobre o pesado, continua a ser um movimento "ideologicamente" aberto. Mas não interessa a maneira como Louçã o descreve (e se descreve), para puros fins de propaganda. Sem "causas" que ultrapassem a banalidade e o objectivo principal de reforçar o "aparelho", o Bloco é hoje um partido como outro. Um partido do regime, convencional e pobre e, como de costume, com um chefe perpétuo e um grupinho que protesta contra "a falta de democracia interna".

Quando as leis são injustas, diz ele

Nuno Ramos de Almeida considera que, ”em matérias ambientais” e ”quando as leis são injustas”, ”há lugar para a desobediência e até para alguma acção”. O Nuno ainda não percebeu duas ou três coisas. As leis podem ser injustas para ele, mas não lhe cabe a ele falar em nome de outrem ou do mundo. Os critérios do Nuno sobre o que é injusto ou deixa de ser, só a ele lhe pertencem. O Nuno Ramos de Almeida terá certamente o direito de se exprimir e, até, de accionar os mecanismos legais para combater o que julga ser uma injustiça. Dentro das regras de um Estado de Direito. Concordar com a «desobediência» e com «alguma acção» é abrir a porta à «desobediência» e à «acção» (lindo o eufemismo) dos que acham injusta uma lei que para o Nuno é justa. Parto do principio de que o Nuno é a favor das salas de chuto (eu, por exemplo, não tenho opinião formada). Mas há muita gente que as acha injustas. Pelo critério do Nuno, essas pessoas teriam, ou terão, direito a «agir» (é claro que, ardilosamente, o Nuno restringe a coisa às matérias «ambientais», em nome das quais tudo parece ser permitido). Para onde caminharíamos? Num Estado de Direito democrático, a lei baliza comportamentos e tenta agregar consensos para que a vida em sociedade se torne suportável e, vá lá, minimamente sã. A Lei incorpora princípios tão básicos como o velhinho “a minha liberdade acaba onde começa a tua”. Vandalizar uma propriedade privada em nome de uma suposta injustiça na lei é um dos vários caminhos para a barbárie. É claro que isto é coisa que jamais entrará na cabecinha de certa gente.

Caramba, plagiar por plagiar…

Consta que Menezes plagiou. Fonte: (mainly) Wikipédia. A escolha diz muito sobre a personagem. Sobretudo no campo da inteligência. Mas também da humildade. “Olha, Luis Filipe, presentes nesta garagem estão, entre outros, um Porsche 356 de 1952, um Jaguar E de 1961, o Mercedes 300 SL que correu a Mille Miglia de 1952. Rouba o que quiseres.” ”Levo o Morris Marina”.

Já cá canta

A edição é de 1902, o preço foi razoabilíssimo e a capa está esfrangalhada. Perfeito.

Hazlitt

A diferença


Mais do mesmo

Informa-me o compadre Rui Castro que Francisco Louçã é favorável a contestações (presume-se que da mesma natureza) contra multinacionais. Não é só xenofobia, Rui. É mais do mesmo. Embora recriadas, são ideias velhíssimas. Da mesma forma que Lenine e Estaline se aventuraram por uma espécie de «marxismo criativo» (Estaline usou esta mesma expressão em Agosto de 1917), também Louçã procura adaptar velhos dogmas a novas realidades. O ambientalismo e a ecologia são agora simultaneamente chão e adubo para novas sementeiras. Não sendo transgénica, a semente é a mesma. Há, agora, lugar a enxertos, para nos convencerem de que a coisa é «nova», «diferente», «fresca». Só mesmo os incautos para acreditar nisso.

Desobediência Civil my ass!

É claro que o Bloco de Esquerda está metido no assunto. Se não está, disfarça muito mal. Três exemplos.

As declarações de Miguel Portas roçam o patético e atentam contra a inteligência alheia. Falar em «desobediência civil» num caso destes é completamente cretino. O Thoreau limitou-se, no seu tempo, a deixar de pagar um imposto como forma de protesto contra a Fugitive Slave Law. A «desobediência civil» pressupõe a renúncia à violência como forma de luta contra potenciais ou reais injustiças. Gandhi percebeu-o. E percebeu que só assim faz sentido, sob pena da mesma se diluir no enorme caldeirão das formas de protesto injustas, criminosas, contrárias ao objectivo inicial. O que se passou naquela propriedade agrícola foi pura e simplesmente um acto de vandalismo. Nada mais há a acrescentar. Qualquer ponderação ou contextualização atenuadora é uma forma de benevolência cúmplice. A própria passividade da GNR é vergonhosa.

O distanciamento de Daniel Oliveira é pífio. Ainda que «difíceis», acaba a aceitar as teses de «desobediência civil»; coloca em hipótese «ponderar» sobre o vandalismo desde que devidamente emoldurado em «justificações» maiores, como seja a existência de «um consenso social sobre a matéria» (e quem o decreta: O Daniel? O Bloco de Esquerda?); e deixa no ar a ideia de que, dando de barato que o direito à propriedade não é um «direito absoluto», a acção só pecou por ser contraproducente.

Por último, Francisco Louçã vestiu a habitual casaca de virgem ofendida e, puxando do seu hiper-moralismo de pacotilha, revelou uma violência verbal que o coloca a pouca distância intelectual dos artistas que organizaram o suposto acto de «desobediência civil». Pronto, está bem: o BE não tem nada que ver com o assunto. Acredite quem quiser.

terça-feira, agosto 21, 2007

Reflexões de um déspota

Wikipeida

Notícia «choque» (no Público):
Página de Sócrates na Wikipédia alterada num computador do Governo

Um cibernauta anónimo usou um computador do Governo para retirar da página da Wikipédia dedicada ao primeiro-ministro todas as referências ao caso da licenciatura na Universidade Independente (UnI). A descoberta foi feita com uma ferramenta criada recentemente por um doutorando americano e foi publicada no blogue colectivo de esquerda Zero de Conduta.


Três comentários, se me dão licença:

1.º O facto de qualquer marmanjo poder alterar entradas na Wikipédia, diz muito sobre o carácter fidedigno e o nível de rigor da própria. Não querendo estraçalhar o sentimento dos que piamente acreditam nas fantásticas e revolucionárias virtudes da Internet em matéria de conhecimento, está na altura de perceber o que é a Wikipédia: é um «sítio». Nada mais.

2.º O acesso à Wikipédia é livre. É livre para detractores de fulano ou sicrano, saudosistas empedernidos deste ou daquele regime, simpatizantes ou seguidores canídeos do líder x do partido y, e até membros operosos e diligentes de governos no activo.

3.º O facto de alguém próximo do actual governo se dar ao trabalho de reescrever páginas de informação, suprimir parágrafos ou incluir mensagens sub-reptícias de propaganda política, atesta na perfeição o carácter paranóico e «controleiro» do governo de José Sócrates – mais concretamente da central de informação que trabalha arduamente para aniquilar focos de «instabilidade» do regime (onde se incluem despautérios, comentários «jocosos», simples má-língua ou factos incómodos). Na era socrática, tudo é passado a pente fino. Há, aliás, uma metodologia que faz lembrar, por exemplo, o modus operandi estalinista, ou não fosse grande parte do governo constituído por gente que nos seus verdes anos foi educada e instruída nas melhores escolas da extrema-esquerda.

segunda-feira, agosto 20, 2007

Série “Pronto, lá está o gajo armado em mete-nojo (vulgo cagão)”

Então é assim: ou se tem coragem, espírito, bom gosto e algum dinheiro para se investir na aquisição e manutenção de um original - logo, revelando, também, inteligência - ou irremediavelmente faz-se figura de pindérico e burro (os «novos» dentro de vinte anos não valem um tremoço). Esta moda do «ai o novo não sei quê» é degradante. Basta olhar.

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domingo, agosto 19, 2007

Take it easy

Sabes, Ricardo, essa coisa do ”maior músico de jazz de todos os tempos” é muuuuito discutível. Digo-o não só, mas também, porque Évora está apenas a uma hora de distância. Com o tempo aprende-se que as declarações definitivas são contrárias ao próprio tempo. Deus sabe como eu sempre louvei Coltrane. Mas, com o passar das horas, dos dias, dos meses e dos anos, (lá está, o tempo), um gajo descobre o filão Webster ou o filão Hawkins e… Entendes-me, não entendes? (estou certo que este senhor me perceberá na perfeição.)

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"Não se quiseram render, não se quiseram demitir"

"Vocês ocupam e a lei há-de vir"

"Porque quem legaliza é o povo."

sábado, agosto 18, 2007

Max Roach (1924-2007)


segunda-feira, agosto 13, 2007

Quem lê o quê

Don't mention the war

Quando Hitler passou por Inglaterra


Lição de História


domingo, agosto 12, 2007

Sabedoria popular vs. Catequese Estupidificante

Doutrinador: Isto é da cooperativa! Tudo isto é da cooperativa! Não é tua, nem é deste, nem é minha: é da cooperativa!!
Camponês: É da cooperativa... E os outros que não trazem ferramenta nenhuma, a ferramenta deles é da casa deles, a minha fica da cooperativa...

(...)

Camponês: Daqui nada, o que eu visto e o que eu calço é da cooperativa!
Doutrinador: É isso, é isso mesmo.
Camponês: Amanhã tiram-me as botas e fica a ser da cooperativa. Fica a ser da cooperativa. Fica a ser da cooperativa e eu fico nu!
Doutrinador: É essa a nossa finalidade.

Monty Python, The Fast Show, Gato Fedorento: ficariam a milhas. Mais hilariante não há.

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