O MacGuffin

terça-feira, dezembro 09, 2003

OS JOTAS
O jovem só pode ser levado a sério quando fica velho.
Nelson Rodrigues

Constança Cunha e Sá – tal como o vinho do Porto, está cada vez melhor – disserta esta semana no Independente sobre os ‘jotas’ e, em particular, a Juventude Centrista. Subscrevo na íntegra o que por ela foi escrito sobre o agregado.
O que é um ‘Jota’? Jota, s. m. f. jovem politico-entusiasta militante de partido a quem parte do cérebro foi formatada.
Fardas. À direita: sapatos com berloques, muito trapo Hilfiger e Sacoor, fatinho cinzento com gravata em tons de azul, monogramas a dar com um pau. À esquerda: sacola tiracolo enviesada (versão actualizada das pochetes de cabedal dos linces de Malcata dos anos 70), t-shirt Che nos dias mais festivos, camisa com uma cor que não conjuga com casaco manhoso de cor manhosa, camisa sem colarinho (à Judas) ou, então, camisa preta + calça preta + casaco preto.
De cada vez que oiço um ‘jota’ manifestar os seus conhecimentos de ciência política aplicados à realidade, apetece-me esfregar-lhe com um livro do Nelson Rodrigues nas fuças. Não me entendam mal: eu tenho a maior das esperanças no futuro da juventude e dos jovens. Por uma razão: sei que, com o tempo, eles chegarão a adultos.
O que me irrita – “irrita” talvez não seja o melhor termo - é presenciar a forma militante e absolutamente ignorante como os ‘jotas’ se referem a conceitos lidos à pressa em introduções escritas à pressa sobre ciência ou filosofia política. Para ser mais rigoroso, na maior parte dos casos nem sequer chegam a tanto. O típico 'jota', direitista ou esquerdista, baseia a sua cosmovisão do mundo em frases, estereótipos e preconceitos que «apanhou» no ar em discussões com os seus pares, por influência familiar ou de acordo com as instruções dos seus gurus de partido. Embora o tique seja mais notado nos 'jotas' esquerdistas, os 'jotas' usam e abusam dos slogans (no caso dos jotas esquerdistas, é vê-los encher a boca de termos como “modelos fascizantes”, “neo-liberalismo global”, “dominação capitalista”, “politicas imperialistas”, “politica reaccionária e populista”, etc. etc.). Contudo, como em tudo na vida, existem diferenças à direita e à esquerda. Regra geral, o jota de direita transpira mais ingenuidade. Consciente ou inconscientemente, tem a percepção da sua ignorância e vacuidade, embora isso não o impeça de também botar discurso «doutrinante» (teste de despistagem: peçam ao ‘jota’ de direita para explicar o que é isso do "conservadorismo"). O 'jota' de esquerda não. O gesto, o grito e o punho cerrado estão com ele. Não vale a pena dissuadi-lo do que quer que seja. Houve um tempo em que o silêncio estava com os idiotas. Hoje não. Os melhores emudecem e o espectáculo é levado à cena pelos ineptos.
Para além de se levar muito a sério, o 'jota' é incapaz, por um minuto que seja, de parar para pensar. O fervor é a palavra de ordem. O meu conselho? Trabalhem mais, estudem mais, doutrinem menos.

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