HERE WE GO AGAIN
No Barnabé «bate-se» em Maria Filomena Mónica. Confirmam a sua qualidade de “elitista” e “estrangeirada”. E acrescentam-lhe o epíteto de “reaccionária” (ver o comentário de André Belo).
Maria Filomena Mónica (MFM) pode ser reaccionária, elitista, sulista, trapezista ou budista, mas não pode ser acusada de faltar à verdade. Só um cego, distraído ou engajado pode criticar MFM pelo que escreveu (ver post anterior). E o que MFM escreveu é um retrato meticulosamente fidedigno do estado actual do ensino superior em Portugal.
Pode custar às classes (a dos “professores universitários” e a dos “alunos universitários”) serem apontadas a dedo. Ninguém gosta de o ser. Podem sempre queixar-se das generalizações. Mas estas generalizações existem por alguma razão. Bem podemos dizer que a culpa da actual situação pode ser repartida por todos: alunos, professores, orientadores, reitores, governo, empregadas de limpeza, o Tio Patinhas e o Winnie The Pooh. Mas, “há que dizê-lo com toda a frontalidade”, cabe aos professores uma boa fatia. O que não será de admirar: a maior parte deles são já o produto da ineficiência e mediocridade do ensino em Portugal. A esmagadora maioria dos actuais docentes universitários são os filhos dos filhos de Rousseau. São os filhos das reformas curriculares que pioraram ainda mais a situação. São os filhos do laxismo e da incompetência do ensino público em Portugal. São os filhos do jargão do eduquês e das políticas de educação progressistas e politicamente correctas (a fazerem justiça à famosa frase do grande Groucho: a política é a de arte de procurar os problemas, de os diagnosticar de forma errada e de lhes aplicar os remédios errados). Reconhecer isto não é crucificar alguém ou culminar uma caça às bruxas. É tão só reconhecer e explicar o que vai mal.
Doa quem doer, e eu peço desculpas aos professores universitários que não merecem que se diga isto, a verdade é esta: muitos professores universitários não prestam. Não sei se são a maioria, mas sei que são muitos. São tecnicamente inaptos e pedagogicamente fracos (e o “pedagogicamente” vai no sentido lato do termo). Não sabem dar aulas, transmitem mal os seus conhecimentos, não impõem a disciplina e o método de trabalho. Talvez por isso, não sabem exigir e marcar uma agenda que rompa com o laxismo e as meias-tintas. Porque a regra sempre foi e será esta: os bons professores são aqueles que exigem porque têm razão para exigir. São aqueles que são elitistas porque apostam na excelência. São aqueles que nos dão luta e nos fazem sentir pequeninos. São aqueles que nos ficam na memória. E são, também, dramaticamente poucos (eu, do meu tempo de universitário, conto quatro). Em boa verdade, o retrato de Vasco Pulido Valente, há 25 anos atrás, continua a aplicar-se: “Os professores dividem-se em duas categorias fundamentais: os que deviam ser com urgência promovidos a alunos e os aceitáveis como professores. Os primeiros dividem-se ainda em duas espécies: os que confessam e os que disfarçam. Os que confessam costumam propor aos alunos «estudarem juntos» ou «vencerem juntos as dificuldades», mas raramente receberem juntos o ordenado. Os que disfarçam em vez de «darem» uma «cadeira», «dão» um livro e, nos apertos, armam uma confusão verbal para cobrir a retirada.”. Eu acrescentaria um ponto, comum às duas sub-classes: o facto de eles próprios reconhecerem as suas fragilidades ao sentirem-se «tristes» com as suas carreiras e ao deixarem-se soterrar por uma mar de questões e problemas acessórios, normalmente relacionadas com a carreira, o «estatuto» do professor universitário, a gestão do economato, a fiabilidade da ligação à Internet, as rifas para a quermesse de Natal e a guerra no Iraque. Contactos com o exterior (o país real e o estrangeiro) são escassos e medrosos. Têm o mérito de permitir sustentar as estatísticas que apontam para o crescimento do índice de licenciados e para o relativo e crescente nível de sucesso escolar. No entanto, convém perceber o porquê deste aparente cenário rosáceo: se não fosse o facilitismo que imprimem no ensino e na avaliação dos seus alunos, se não fosse a mediocridade uma questão de quase militância, Portugal não teria licenciados. Ou seja, no fundo o problema vem de trás. Eles limitam-se a cumprir a «tradição». Percebe-se, então, que o problema é um problema-tipo «ciclo vicioso». A mediocridade alimenta-se da mediocridade. Daí que todos se queixem de todos. Os alunos, coitados, queixam-se da falta de «condições» (ai se eles estudassem há quinze ou vinte anos atrás…) e do governo que lhes quer sugar o dinheirinho para a farra; os professores queixam-se dos alunos e do governo; o governo queixa-se dos professores e dos alunos; os reitores do ministro e dos alunos; e eu queixo-me do treinador do Sporting Clube de Portugal. Se Portugal morresse hoje, ao dia 9 de Dezembro de 2003, eis um lindo epitáfio: “Aqui jaz um país de queixosos e de culpados onde ninguém fazia puto”.
Há quem se sinta bem com o fatalismo deste carrossel. Maria Filomena Mónica não. No fundo, o que ela tenta dizer é aquilo que se diz aqui na minha terrinha: tem de se começar por algum lado. Ou, lembrando Alqueva: “Construam-me porra!”. Resta saber para quê…
No Barnabé «bate-se» em Maria Filomena Mónica. Confirmam a sua qualidade de “elitista” e “estrangeirada”. E acrescentam-lhe o epíteto de “reaccionária” (ver o comentário de André Belo).
Maria Filomena Mónica (MFM) pode ser reaccionária, elitista, sulista, trapezista ou budista, mas não pode ser acusada de faltar à verdade. Só um cego, distraído ou engajado pode criticar MFM pelo que escreveu (ver post anterior). E o que MFM escreveu é um retrato meticulosamente fidedigno do estado actual do ensino superior em Portugal.
Pode custar às classes (a dos “professores universitários” e a dos “alunos universitários”) serem apontadas a dedo. Ninguém gosta de o ser. Podem sempre queixar-se das generalizações. Mas estas generalizações existem por alguma razão. Bem podemos dizer que a culpa da actual situação pode ser repartida por todos: alunos, professores, orientadores, reitores, governo, empregadas de limpeza, o Tio Patinhas e o Winnie The Pooh. Mas, “há que dizê-lo com toda a frontalidade”, cabe aos professores uma boa fatia. O que não será de admirar: a maior parte deles são já o produto da ineficiência e mediocridade do ensino em Portugal. A esmagadora maioria dos actuais docentes universitários são os filhos dos filhos de Rousseau. São os filhos das reformas curriculares que pioraram ainda mais a situação. São os filhos do laxismo e da incompetência do ensino público em Portugal. São os filhos do jargão do eduquês e das políticas de educação progressistas e politicamente correctas (a fazerem justiça à famosa frase do grande Groucho: a política é a de arte de procurar os problemas, de os diagnosticar de forma errada e de lhes aplicar os remédios errados). Reconhecer isto não é crucificar alguém ou culminar uma caça às bruxas. É tão só reconhecer e explicar o que vai mal.
Doa quem doer, e eu peço desculpas aos professores universitários que não merecem que se diga isto, a verdade é esta: muitos professores universitários não prestam. Não sei se são a maioria, mas sei que são muitos. São tecnicamente inaptos e pedagogicamente fracos (e o “pedagogicamente” vai no sentido lato do termo). Não sabem dar aulas, transmitem mal os seus conhecimentos, não impõem a disciplina e o método de trabalho. Talvez por isso, não sabem exigir e marcar uma agenda que rompa com o laxismo e as meias-tintas. Porque a regra sempre foi e será esta: os bons professores são aqueles que exigem porque têm razão para exigir. São aqueles que são elitistas porque apostam na excelência. São aqueles que nos dão luta e nos fazem sentir pequeninos. São aqueles que nos ficam na memória. E são, também, dramaticamente poucos (eu, do meu tempo de universitário, conto quatro). Em boa verdade, o retrato de Vasco Pulido Valente, há 25 anos atrás, continua a aplicar-se: “Os professores dividem-se em duas categorias fundamentais: os que deviam ser com urgência promovidos a alunos e os aceitáveis como professores. Os primeiros dividem-se ainda em duas espécies: os que confessam e os que disfarçam. Os que confessam costumam propor aos alunos «estudarem juntos» ou «vencerem juntos as dificuldades», mas raramente receberem juntos o ordenado. Os que disfarçam em vez de «darem» uma «cadeira», «dão» um livro e, nos apertos, armam uma confusão verbal para cobrir a retirada.”. Eu acrescentaria um ponto, comum às duas sub-classes: o facto de eles próprios reconhecerem as suas fragilidades ao sentirem-se «tristes» com as suas carreiras e ao deixarem-se soterrar por uma mar de questões e problemas acessórios, normalmente relacionadas com a carreira, o «estatuto» do professor universitário, a gestão do economato, a fiabilidade da ligação à Internet, as rifas para a quermesse de Natal e a guerra no Iraque. Contactos com o exterior (o país real e o estrangeiro) são escassos e medrosos. Têm o mérito de permitir sustentar as estatísticas que apontam para o crescimento do índice de licenciados e para o relativo e crescente nível de sucesso escolar. No entanto, convém perceber o porquê deste aparente cenário rosáceo: se não fosse o facilitismo que imprimem no ensino e na avaliação dos seus alunos, se não fosse a mediocridade uma questão de quase militância, Portugal não teria licenciados. Ou seja, no fundo o problema vem de trás. Eles limitam-se a cumprir a «tradição». Percebe-se, então, que o problema é um problema-tipo «ciclo vicioso». A mediocridade alimenta-se da mediocridade. Daí que todos se queixem de todos. Os alunos, coitados, queixam-se da falta de «condições» (ai se eles estudassem há quinze ou vinte anos atrás…) e do governo que lhes quer sugar o dinheirinho para a farra; os professores queixam-se dos alunos e do governo; o governo queixa-se dos professores e dos alunos; os reitores do ministro e dos alunos; e eu queixo-me do treinador do Sporting Clube de Portugal. Se Portugal morresse hoje, ao dia 9 de Dezembro de 2003, eis um lindo epitáfio: “Aqui jaz um país de queixosos e de culpados onde ninguém fazia puto”.
Há quem se sinta bem com o fatalismo deste carrossel. Maria Filomena Mónica não. No fundo, o que ela tenta dizer é aquilo que se diz aqui na minha terrinha: tem de se começar por algum lado. Ou, lembrando Alqueva: “Construam-me porra!”. Resta saber para quê…
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial