O MacGuffin

sábado, agosto 23, 2003

ALGUMAS LIÇÕES A RETIRAR
Se os EUA não tivessem decidido avançar sem o aval do Conselho de Segurança da ONU, nada disto teria acontecido. Se a intervenção militar tivesse sido levada a cabo por uma coligação internacional, com um mandato da ONU e reunindo um consenso alargado, não teriam eclodido os focos de resistência, as pilhagens ao Museu de Bagdade, as sabotagens avulsas e as piores acções terroristas. E, claro está, Sérgio Vieira de Mello estaria ainda vivo. Mais: o Iraque seria hoje um país estabilizado, onde as etnias e as facções conviveriam em alegre comunhão, sob a batuta de um governo estável, consensual, implantado num Estado onde o «rule of law» seria senhor. Ou isto ou nada deveria ter sido feito. Aí, mais uma vez, Sérgio Vieira de Mello ainda estaria vivo. Bagdade não estaria a ser varrida por ondas de atentados terroristas. Saddam estaria no poder. Em vez de Sérgio Vieira de Mello, seriam os anónimos iraquianos que, de tempos a tempos, acabariam numa vala comum, algures nos arredores de Tikrit ou Bagdade. E se Saddam não tivesse nascido? E se o ideal kantiano de «paz perpétua» estivesse em vigor? Blá, blá, blá.
Dispensem-se as elucubrações desta natureza. Não são estas as lições a retirar. Pela minha parte, vislumbro outras, bem mais óbvias e realistas: 1ª) Foi a ONU que foi atacada. Os membros do conselho de segurança da ONU, bem como os países que têm assento na Organização, terão de reavaliar a sua atitude face ao terrorismo (ver ‘post’ anterior). O que não vai ser fácil: a organização apresenta os piores tiques de um albergue espanhol; 2ª) A ONU continua a ser uma entidade sem força e determinação. A prová-lo está a forma ingénua como deixou de reforçar a segurança da sua própria sede em Bagdade, para que a mesma não fosse confundida como uma sede militar ao serviço da «potência ocupante». O mundo está demasiado perigo, Sr. Annan; 3ª) O trabalho de reconstrução e estabilização do Iraque requer mais meios – humanos e materiais. Os EUA terão de perceber isso. E têm a obrigação de não fugir a essa responsabilidade. Custe o que custar; 4ª) A estabilização de um país como o Iraque não pode ser feita em três ou cinco meses. Não é justo que certa gente se indigne com o aparente «impasse». Não há «impasse». Não há «desnorte». A situação não pode ser resolvida by the book. A questão é complexa e requer tempo - um tempo diferente do tempo mediático. Há gente no terreno a morrer para melhorar a situação. Por uma vez, deixemo-nos de utopias e respeitemos quem por lá anda. Não estão propriamente sentados num sofá a ouvir a opinião da Dra. Gomes na SIC, com um gin tónico por companhia; 5ª) Passámos do cínico “Saddam é um problema interno e não uma ameaça internacional” para o hipócrita “O Iraque pós-Saddam é um problema do Sr. Bush”. O Iraque tem de deixar de ser olhado como um problema norte-americano. As humanistas e altruístas «pombas» terão de perceber que chegou a hora de ajudar, de agir e de pactuar. Nem que, para isso, tenham - horror dos horrores - de dar a mão ao «inimigo». O tal texano de olhar símio. Se ele, é claro, deixar.

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