O MacGuffin

sábado, agosto 23, 2003

MORRER EM VÃO?
Sérgio Vieira de Mello era um homem bom. Um ser humano decente. Morreu no dia 19 de Agosto, vitima de um ignóbil e brutal atentado terrorista.
Como é habitual, as carpideiras e luminárias do costume aproveitaram o facto para, mais uma vez, zurzirem contra o império de todos os males e respectivos acólitos. Segundo a cartilha, Sérgio Vieira de Mello terá morrido por culpa dos EUA. Razões? Várias: falta de empenho na segurança do edifício da ONU; ocupação hostil de um país (situação propícia a focos legítimos de «resistência»); unilateralismo contrário ao direito internacional.
Mais uma vez, é bom lembrar o óbvio: Sérgio Vieira de Mello foi vitima do terrorismo. Puro e duro. Não foi um soldado americano que o matou (deliberada ou inadvertidamente), não foi um 'rocket' norte-americano que caiu onde não era suposto cair, não foi alvo de uma dano colateral ou de «friendly fire».
Sérgio Vieira de Mello estava em Bagdad numa missão humanitária. A ONU estava no Iraque com o intuito de auxiliar a reconstrução de um país, do ponto de vista humanitário. As justificações habituais e o bode-expiatório da praxe já não colhem. A lógica e o alcance do terrorismo não são, nunca foram, o bem estar das suas populações, o desenvolvimento dos países que supostamente representam, retaliações acidentais contra agressões de igual proporção. O terrorismo serve uma lógica enviesada: um misto de ressabiamento ideológico, fundamentalismo religioso e sede de poder. O terrorismo não sai da esteira de um desinteressado grupo de injustiçados anónimos. Não representa um grito de raiva espontâneo. O terrorismo tem uma marca e uma organização. O atentado que vitimou Sérgio Vieira de Mello deveria servir, antes de mais, para provar que o terrorismo não deve, nem pode, continuar a ser visto com complacência. Não pode haver justificação e compreensão para actos desta natureza. O terrorismo não tem raízes benignas. Tem de ser combatido cara a cara, com firmeza, sem paninhos quentes ou espaço para estéreis dissertações em colóquios de hotel.
No dia em que certas luminárias deixarem de transferir para os outros as culpas de certos problemas; no dia em que os hipócritas e cínicos do costume deixarem de pensar em função da sua clubite ideológica – fazendo um aproveitamento obsceno dos acontecimento para salvar a sua face -; no dia em que os terroristas sentirem que os seus apoiantes - reais, virtuais, românticos, etc. – já não estão lá para desculpar, relativizar e compreender a sua amargurada existência; no dia em que a comunidade internacional – incluindo a França, a Alemanha e a Rússia – se inteirarem da verdadeira natureza do terrorismo e da urgência de unir esforços para o combater; nesse dia Sérgio Vieira de Mello não terá morrido em vão. Até lá, morreu.

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