QUEM TEM MEDO DE BERLUSCONI?
Na mesma edição do Indy, João Pereira Coutinho (JPC) fala-nos, ainda, de Berlusconi. JPC parece criticar a forma como se «defende» o Sr. Berlusconi com base no básico argumento do democrata típico: o homem foi eleito democraticamente, logo respeitinho e bola baixa.
Há dias afirmei o seguinte: "Mas ele é, se bem se lembram, o Primeiro Ministro de um país membro de pleno direito da União Europeia. Foi eleito democraticamente, com os votos de milhões de cidadãos italianos. É inaceitável que tivesse sido sujeito àquela pressão e a todo o tipo de insultos por parte de certos deputados do PE." Pressão e insultos esses, é bom recordar, anteriores ao mimo dirigido ao Sr. Shultz.
Mantenho o que disse, precisamente, pela simples razão de não querer confundir as coisas. A democracia – o pior sistema inventado à excepção de todos os outros – toma muitas formas (já o livro IV da ‘Política’ do Aristóteles explicava isso) e vale o que vale, dependendo de muitas outras envolventes. Como o próprio JPC refere, líderes eleitos democraticamente não faltam no mundo e, no passado, alguns dos mais brutais líderes chegaram ao poder por via do sufrágio universal (Hitler, remember?). Por si só, a democracia não assegura nada. O Iraque, por exemplo, não irá a lado nenhuma com a simples instauração de um regime democrático. Porque a grande diferença, que permite retirar da democracia as suas óbvias vantagens, dá pelo nome de ‘Primado da Lei’ e de ‘Estado de Direito’. Sem um corpo legal constituído e reconhecido, sem instituições, regras, autoridade e, sobretudo, sem uma cultura e uma tradição liberal de separação de poderes, não há democracia que resista a subversões.
Ora, que eu saiba, Berlusconi não é o primeiro-ministro do Burundi ou do Butão. É o primeiro-ministro de Itália onde um pleno e satisfatório Estado de Direito está instituído. Um Estado de Direito que já deu provas que baste da sua existência ‘palpável’, passo o pleonasmo. Defender o dever de respeitar o primeiro-ministro de um país democrático e civilizado, não é defender o cidadão e empresário Berlusconi. Dou de barato que o homem tem ares de mafioso. Eu próprio não gosta da figura e o tipo de histórias que o rodeiam não me inspiram confiança. Mas agrada-me não confundir as coisas. A qualquer altura, caso se prove a malignidade ou a ‘crooked nature’ do Sr. Berlusconi, poderei afirmar que mantenho a confiança no Estado italiano. Entendamo-nos: na democracia italiana, a alegada mafiosidade de Berlusconi não irá muito longe. Até lá, que haja um mínimo de respeito pelo homem, no desempenho das suas funções de chefe de Estado. Isto, é claro, se ele não insistir no tipo de afirmações recentemente ensaiadas...
Na mesma edição do Indy, João Pereira Coutinho (JPC) fala-nos, ainda, de Berlusconi. JPC parece criticar a forma como se «defende» o Sr. Berlusconi com base no básico argumento do democrata típico: o homem foi eleito democraticamente, logo respeitinho e bola baixa.
Há dias afirmei o seguinte: "Mas ele é, se bem se lembram, o Primeiro Ministro de um país membro de pleno direito da União Europeia. Foi eleito democraticamente, com os votos de milhões de cidadãos italianos. É inaceitável que tivesse sido sujeito àquela pressão e a todo o tipo de insultos por parte de certos deputados do PE." Pressão e insultos esses, é bom recordar, anteriores ao mimo dirigido ao Sr. Shultz.
Mantenho o que disse, precisamente, pela simples razão de não querer confundir as coisas. A democracia – o pior sistema inventado à excepção de todos os outros – toma muitas formas (já o livro IV da ‘Política’ do Aristóteles explicava isso) e vale o que vale, dependendo de muitas outras envolventes. Como o próprio JPC refere, líderes eleitos democraticamente não faltam no mundo e, no passado, alguns dos mais brutais líderes chegaram ao poder por via do sufrágio universal (Hitler, remember?). Por si só, a democracia não assegura nada. O Iraque, por exemplo, não irá a lado nenhuma com a simples instauração de um regime democrático. Porque a grande diferença, que permite retirar da democracia as suas óbvias vantagens, dá pelo nome de ‘Primado da Lei’ e de ‘Estado de Direito’. Sem um corpo legal constituído e reconhecido, sem instituições, regras, autoridade e, sobretudo, sem uma cultura e uma tradição liberal de separação de poderes, não há democracia que resista a subversões.
Ora, que eu saiba, Berlusconi não é o primeiro-ministro do Burundi ou do Butão. É o primeiro-ministro de Itália onde um pleno e satisfatório Estado de Direito está instituído. Um Estado de Direito que já deu provas que baste da sua existência ‘palpável’, passo o pleonasmo. Defender o dever de respeitar o primeiro-ministro de um país democrático e civilizado, não é defender o cidadão e empresário Berlusconi. Dou de barato que o homem tem ares de mafioso. Eu próprio não gosta da figura e o tipo de histórias que o rodeiam não me inspiram confiança. Mas agrada-me não confundir as coisas. A qualquer altura, caso se prove a malignidade ou a ‘crooked nature’ do Sr. Berlusconi, poderei afirmar que mantenho a confiança no Estado italiano. Entendamo-nos: na democracia italiana, a alegada mafiosidade de Berlusconi não irá muito longe. Até lá, que haja um mínimo de respeito pelo homem, no desempenho das suas funções de chefe de Estado. Isto, é claro, se ele não insistir no tipo de afirmações recentemente ensaiadas...
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