Sobre o Sr. Artur Baptista da Silva (a.k.a. “o burlão encartado”)
Agora que passámos à fase séria (e grave) em que dissecaremos o epifenómeno «ABS» até que a voz nos doa (o fado, sempre o fado), devo anunciar que, também eu, tenho opinião sobre o assunto. Relembro o grande Machado de Assis: “Alguns metafísicos biliosos têm chegado ao extremo de a darem [à opinião] como simples produto de gente chocha ou medíocre; mas é evidente que, ainda quando um conceito tão extremado não trouxesse em si mesmo a resposta, bastava considerar os efeitos salutares da opinião, para concluir que ela é a obra superfina da flor dos homens, a saber, do maior número.” Ora bem:
- Artur Baptista da Silva é um burlão;
- Artur Baptista da Silva recorreu a factos que são falsos;
- Na substância, a tese de Artur Baptista da Silva não difere muito da tese de alguns articulistas da paróquia, incluindo a de alguns economistas (leia-se «especialistas»), a saber:
- Uma parte significativa da dívida portuguesa teve origem em «investimento» caucionado/incentivado pela «Europa» - tornando-a parte de uma espécie de território de inimputabilidade;
- Portugal está a ser alvo de um tratamento desigual no que respeita às condições do empréstimo (prazo e juros), sendo que países «ricos» beneficiaram de taxas de juro inferiores (nota: não deixa de ser uma inevitabilidade, para quem percebe a relação entre juro e risco);
- Os programas de assistência financeira aos «países do sul» deveriam ser reformulados para que levassem em linha de conta a (fraca) capacidade de resiliência e a rigidez destas economias;
- As decisões político-económicas estão subjugadas à vontade da Alemanha (que tem como objectivo acessório, «castigar» os países incumpridores);
- Dizer isto não é dizer que os que defendem uma tese próxima da de Artur Baptista da Silva são, invariavelmente, burlões ou que estão, total ou absolutamente, errados: em parte, trata-se de matéria subjectiva;
- Sendo, em parte, matéria subjectiva, convinha que, ainda assim, as opiniões recorressem a uma argumentação baseada, o mais possível, em factos verificáveis – coisa que Artur Baptista da Silva, como «burlão encartado», desprezou. Por exemplo, dizer que as taxas de juro do nosso empréstimo são elevadas (injustificadamente?), pode ser matéria de discussão; basear essa afirmação na história deturpada do bailout ao HypoVereinsbank, torna-a potencialmente falsa;
- Até um maluco ou um vigarista pode dizer uma verdade, embora uma verdade dita por maluco ou um vigarista seja tendencialmente mais difícil de aceitar (no mínimo por suscitar dúvidas);
- Quando um burlão defende uma tese que coincide com a nossa tese, é possível que a nossa tese saia (mesmo que ligeiramente) descredibilizada. Quando isso acontece, importa contra-argumentar com factos verificáveis, que reponham a putativa força da tese (isto, claro, se quisermos dizer alguma coisa sobre o assunto);
- Mais interessante, e estimulante, é perceber o que motiva eminentes articulistas/especialistas/diplomatas a mitigar, de forma patética, a natureza trapaceira de Artur Baptista da Silva. Estaremos assim tão desesperados?
- Convinha, finalmente, que a classe jornalistica retirasse do episódio algumas ilações.
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