Da memória
De Miguel Esteves Cardoso (publicado no jornal Público a 22/08/2012)
Como lembrar
"Tem sido um Agosto horrível, fechado em casa, de pé na boca, bramindo, passando fome e erguendo a bandeira branca da rendição e da miúfa.
Leva mais de meio século a perceber que, quando os mais velhos nos desejam "saúde", o que eles querem dizer não é ter pulmões e esplendência para correr a maratona e chegar à meta com as maçãs do rosto atraentemente macaquinhas: é apenas não estar doente.
Como a memória - e até a esperança, coitadinha - serve de consolação enquanto ainda se tem a sorte tremenda de poder esperar que a doença se vá embora, convém usá-la enquanto não a vierem buscar também. Porque nem com isso gostam de nos deixar: só serve, segundo juram, para chorar dias melhores, que seria mais confortável esquecer.
A memória e a imaginação, mal se encontram, apaixonam-se. E tornam-se no casal mais feliz que se possa pensar.
Falando em casais felizes, é uma memória de Agosto da Maria João, meu amor, que me tem tirado de mim e levado a passear para aonde nunca pôs os pés. A memória, de uma coisa deliciosa que nunca fiz, não era minha mas passou a ser. Chego a ter saudades dela: a prova que surtiu efeito. É uma memória de refeições desobedientes, quando se está na praia a passar férias, daquelas que nunca mais houve: as que nunca mais acabam. De hamburgers às cinco da tarde, gelados à meia-noite, segundos pequenos-almoços às onze da manhã, com jornais e pão saloio.
Foi no Algarve e na Caparica, há muito tempo - e passa-se agora. Bem."
1 Comentários:
Este menino é uma ternura tal, que só apetece ler mais e beijocar as bochechinhas repenicadamente!
Fofinho maravilhoso, caraças!
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