Much ado about... same old same old
Vasco Pulido Valente, Público 14/01/2012
Uma velha história
"O Governo de coligação PSD-CDS, desde que tomou posse, ofereceu, generosamente, à gente sua amiga uma dezena de lugares de proeminência, muitíssimo bem pagos. O que produziu um escândalo de certa maneira inesperado. Não me lembro de um único primeiro-ministro que não tenha prometido não empregar a eito a sua clientela partidária, como não conheço nenhum primeiro-ministro que não acabasse por a empregar. Isto é uma tradição portuguesa que vem do liberalismo e que até hoje sobreviveu imune à contínua (e, às vezes, radical) mudança do Estado e da política. À superfície, não se vê por isso o motivo por que um acto, por assim dizer, normal de Passos Coelho provocou agora tanta indignação e tanta conversa. Mas, pensando bem, a explicação é simples e já foi interminavelmente dada e repetida.
De qualquer maneira, não se perde nada em voltar ao assunto. Por um lado, a inexistência de um "sector privado" com oportunidades de trabalho, carreira e ascensão social, virou sempre a parte letrada (ou, se quiserem, "instruída") da sociedade para o Estado e para aquilo que dele directa ou indirectamente dependia (obras públicas, bancos, monopólios, grandes companhias). Por outro lado, o domínio do Estado sobre a economia, excepto sobre uma parte importante da agricultura, fez com que a influência oficial se tornasse necessária, mesmo para entrar e prosperar no "sector privado". A classe média que nasceu e cresceu por este processo é inevitavelmente uma classe média do Estado, cujo bem-estar ou a fortuna dependem do Estado. Sem ele, morreria, e morreria depressa.
As clientelas partidárias não são por acaso o sustentáculo dos partidos, como o serviço ao partido (ou a uma facção dele) não é por acaso indispensável ao sucesso pessoal e profissional da mais pequena e melancólica ambição. O muito lamentado conúbio entre o "poder" económico e o "poder" político começa aqui e não há reforma que o remova, porque está na natureza das coisas. Esperar que Passos Coelho o removesse à força de retórica só atesta a credulidade do indígena. Infelizmente para Passos Coelho, a crise do Estado e a crescente miséria do funcionalismo não lhe permitem aumentar e distribuir com mão larga a sopa do convento e provoca a inveja, o ressentimento e a fúria daqueles que ficaram sem o seu prato de lentilhas. Disfarçado em virtude, o escândalo das nomeações não passa disto."
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