O MacGuffin: julho 2010

sexta-feira, julho 30, 2010

Férias

Pode ser? Obrigado. Até breve.

quinta-feira, julho 29, 2010

Oi, tudo bom?

A palavra ao João Miranda:
1. A Oi é um activo estratégico de grande importância, um pouco como a insubstituível Vivo o era ainda há 15 dias.

2. Vender a Vivo por 7,5 mil milhões é um grande negócio. Há quinze dias atrás a venda por 7,15 mil milhões era uma asneira tendo em conta o grande potencial da empresa.

3. A Oi é uma empresa de grande potencial. Há 15 dias atrás era uma empresa cheia de problemas cujo potencial não tinha qualquer comparação com o da Vivo.

4. A PT está a vender a Vivo na altura certa. O potencial de crescimento está esgotado. Esgotou-se nos últimos 15 dias.

5. Ser minoritário na Oi não é um problema. Há 15 dias uma posição de controlo da Vivo era essencial.

6. O governo fez muito bem em usar a Golden Share. Conseguiu-se subir o preço e os accionistas privados ganharam. Há 15 dias intervenção estatal era justificada pelo interesse nacional, hoje intervenção estatal é justificada como forma de reforçar o poder de barganha de privados.

7. Se não fosse o uso da Golden Share a PT não tinha entrado na Oi. Non sequitur óbvio. Mas pronto. Há quem acredite nisso.

8. Conseguiu-se vender a Vivo por bom preço e ficar no Brasil. (Falta dizer que a Oi foi cara, o que em parte anula o bom negócio que se fez com a Vivo).

9. Há 15 dias era inaceitável vender a Vivo porque se teria que sair do mercado brasileiro. Entrar noutra empresa seria muito difícil. Ou a Vivo ou o caos. Ao fim de 15 dias trocou-se uma posição de controlo na Vivo por uma minoritária na Oi.

10. E já nem falo nos grandes nacionalistas portugueses, que se contentam com muito pouco. Basta a ilusão de que ser minoritário na Oi é tão bom como controlar a Vivo para os manter felizes. Ficam contentes por mandar menos em menos. Santana Lopes nem se vai lembrar do que disse.

domingo, julho 11, 2010

Dr Johnson explica

"Patriotism is the last refuge of a scoundrel."

Samuel Johnson


Deixemo-nos de golden shits

Junto à saída oeste para Évora, na A6, encontrava-se, até há cerca de um ano e meio, uma gasolineira da Esso (grupo Exxon Mobil). No dia em que a Galp lá se instalou (depois de adquirir o posto), a gasolina subiu quatro cêntimos e o gasóleo cinco. A Galp, é bom dizer-se, tem quase o monopólio das gasolineiras em Portugal.

Sempre que tentei, no passado, mudar da PT para a Vodafone (por esta ter, em diferentes momentos, melhores condições no que respeita a tarifários), enfrentei os efeitos do jogo sujo da PT Comunicações, que dificultou, propositadamente, a operação. Ainda guardo as cartas da Vodafone que, desconsolada, me garantia tudo ter feito para acelerar o processo e para ter acesso a condições de trabalho propícias ao cumprimento do «pacote» contratado.

O preço da electricidade em Portugal, no segundo semestre de 2009, encontrava-se abaixo da média comunitária (15,94 euros por 100 kWh, contra 16,45 no conjunto dos 27). Uma aparente alegria. Contudo, tendo em conta o poder de compra, era um dos mais elevados (18,61 euros, contra 16,45 na UE). Este ano, os preços desceram 1,5% na Europa e em Portugal subiram 4,5%.

Três exemplos, de entre outros, que comprovam que a presença do Estado na economia via empresas «estratégicas» (por participação maioritária no capital ou por detenção de golden shares), não resulta automaticamente em benefícios concretos e directos para a população. Mais: as «empresas estratégicas» comportam-se, muitas vezes, de forma arrogante, tratando o consumidor com desprezo ou, no mínimo, com indiferença. Associar a defesa do «interesse nacional» (mais um chavão com significado difuso) à defesa das «empresas estratégicas» (idem), não tem a mínima ressonância no dia-a-dia dos cidadãos.

O uso da golden share para contrariar a vontade maioritária dos accionistas e as justificações patrioteiras que se seguiram, revelaram a profunda hipocrisia e demagogia deste governo. O governo comportou-se como aqueles proprietários das zonas raianas que, de manhã, vendem terra aos espanhóis, e à tarde participam efusivamente, com o ar mais sério do mundo, em manifestações contra invasão espanhola de Olivença. Como disse Pedro Passos Coelho, se o Estado quisesse mandar na PT Comunicações, deveria ter-se mantido como accionista maioritário, detendo mais de 50% do capital da empresa. Que se saiba, e até prova em contrário, a PT Comunicações foi privatizada. Actualmente, cerca de 65% do seu capital está nas mãos de não residentes (também conhecidos como «estrangeiros malévolos»). Mais de 70% dos accionistas votou favoravelmente a venda da Vivo à Telefónica. Compreende-se a opção dos empresários e bancários portugueses accionistas da PT pela venda da posição na Vivo: a PT, por causa do nível de endividamento, e os bancos portugueses, por causa da crise financeira, enfrentam problemas de liquidez que não lhes permite recusar uma oferta daquele calibre. E, mal que pergunte, não haverá mais vida para a PT para além da Vivo?

Se o governo estivesse verdadeiramente interessado em proteger o «interesse nacional», teria um vastíssimo campo de actuação à sua frente, que passaria pela implementação de políticas não necessariamente proteccionistas, mas proveitosas para o «interesse nacional» (por exemplo, aliviar a carga fiscal e a burocracia e facilitar o acesso ao QREN por parte dos agricultores e pescadores portugueses, de forma a dinamizar um sector que é, actualmente, um alvo preferencial da concorrência do país vizinho; por exemplo, criando uma política fiscalmente diferenciadora, de modo a ajudar os empresários interessados em crescer; por exemplo, criando infra-estruturas que permitam aproveitar até à última gota Alqueva; por exemplo, apostando numa rede interna ferroviária de qualidade, extensível a todo o território nacional, que combata as dicotomias litoral/interior e norte/sul; por exemplo, acabar com o clientelismo e a rede de negociatas que se veio a instalar nas empresas «estratégicas» nacionais).

Usar a golden share (bem sei que ela existe e está prevista e etc.) contra a vontade da esmagadora maioria dos accionistas (essa categoria maldita), tendo a PT sido alvo, no passado, de uma privatização (desencadeada no tempo de um governo socialista), e estando a empresa e o próprio país inserido num mercado comum, aberto e livre, onde existem regras claras sobre o exercício da liberdade de circulação de capitais, acaba por revelar os resquícios de uma mentalidade reaccionária e bacocamente nacionalista, barricada numa concepção do mundo pré-democrática e anti-liberal. Usar, de seguida, a retórica do «neoliberalismo» para defender a operação, é um insulto à inteligência alheia e remete-nos para a demagogia mais indigente.

sábado, julho 10, 2010

Urgente

Assim de repente, não me ocorre outro livro cuja leitura se afigure, por estes dias, tão urgente:


A estratégia está montada e em curso

A palavra serve para tudo. Serve para vergastar Bruxelas pelo chumbo ao chumbo do negócio PT-Telefónica. Serve para acusar o líder da Oposição de se ‘ajoelhar’ (olé!) perante os interesses dos espanhóis. Serve para demonizar o PSD por pretender desfigurar a Constituição e enterrar o Estado Social. E até serviria, se alguém se lembrasse disso, para criticar o S. Pedro por este calor que nos derrete. A partir de agora, uma mistura de patriotismo rasteiro e esquerdismo infantil será a receita socialista para os meses de guerrilha que aí vêm. Resta saber se o povo, como sempre, engole tudo.
João Pereira Coutinho, Correio da Manhã 9/7/2010


Bom fim-de-semana



sexta-feira, julho 09, 2010

Rigor mortis?

“Quanto tempo dura um homem na terra antes de apodrecer?”, pergunta Hamlet. Responde o coveiro: “A verdade é que, se não estiver já podre antes de morrer, e hoje em dia há mortos tão roídos de venério que mal aguentam o enterro, um corpo dura aí uns oito ou nove anos. Um curtidor dura aí uns nove anos.” Porque é que um curtidor dura mais do que os outros?”, pergunta Hamlet. “Ora, meu senhor”, explica o coveiro, “tem a pele tão curtida pelo ofício que a água leva muito tempo a entrar nele; e a água é o pior inimigo desses filhos da puta dos cadáveres”.

Como a do curtidor, a pele do cadáver político José Sócrates parece resistir à decomposição que anos de more-or-less-small-time crookery deveriam ter induzido (nada provado, como é óbvio). Um longo treino político – adquirido nas juventudes partidárias, federações distritais, secretariados nacionais e governos (foi secretário de Estado, ministro e primeiro-ministro) –, permitiu-lhe acumular nas máximas proporções um conjunto mais ou menos elaborado de predicados e expedientes (com muito de politiqueiro e pouco ou nada de ideológico), que possibilitou, por seu lado, gozar nas máximas proporções dos efeitos de uma bravata política que o vendeu como homem decidido e destemido, político sensível e humano, timoneiro com norte e porte. O facto da sua retórica ter roçado, não raras vezes, a indigência ideológica, e o seu apego por demonstrar a verdade dos seus actos e compromissos equivaler à força de Sansão pós-‘máquina zero’ (vá lá, ‘máquina um’), teve a seu favor um país à rasca (uma fatia assinalável da população tolhida pela perspectiva da perda dos «direitos e garantias»), uma oposição esclerosada, entretida com o marxismo requentado dos «pobres e trabalhadores à mercê dos ricos e anafados» e a forjadura de novos papões à escala planetária (o «neoliberalismo», a «globalização»), e outra comunicacionalmente inepta.

A mais recente performance do «menino de ouro do PS» prende-se com o episódio PT-Vivo-Telefónica. Desta vez, José Sócrates brindou-nos com a personagem do «Condestável de Portugal esquerdista»: José Sócrates, o bravo, defendeu o interesse geral contra o particular; José Sócrates, o homem de esquerda, disse não ao neoliberalismo voraz dos mercados «desenfreados»; José Sócrates, o patriota, ao contrário de Queiroz e muchachos, deu uma tareia a Espanha. E é vê-lo, mais uma vez determinado, a cavalgar a putativa heroicidade proporcionada por um expediente (a golden share) que ironicamente contraria o espírito do seu querido Tratado de Lisboa. Politicamente morto, todos reconhecem, mas, como costuma dizer o Sr Manel (peixeiro em Évora), «ainda mexe».

(publicada originalmente aqui)

quarta-feira, julho 07, 2010

Ninguém diga que está bem

“A vénia aos taxistas é a mais recente da corajosa série de cedências governamentais junto das classes profissionais com queixumes. Antes que fizessem greve ou pandemónio, o Governo saltou-lhes à frente com um pacote destinado a “aumentar a sustentabilidade do sector” sem “sobrecarregar” os utentes com a subida “excessiva” das tarifas.
Em português, isto significa que será o contribuinte comum, mesmo que nunca ou quase nunca ande de táxi, a pagar um sector que por si só não se sustenta. Mas isso, de habitual, é o menos. Para mim, que às vezes ando de táxi, grave é que o pacote inclua incentivos fiscais à aquisição de carros “amigos do ambiente” e nenhum incentivo à aquisição de desodorizantes e sabão.”
(pag. 145)
“O Menino de Ouro do PS” é a primeira biografia de José Sócrates, escrita por Eduarda Maio. Parabéns à autora, mas eu desceria uns graus na hierarquia: para mim, o socialista a biografar é Pedro Silva Pereira. Quem é Pedro Silva Pereira? Lá está, não temos grande ideia, donde a urgência da obra. No máximo, sabemos que é aquele senhor que vive a oito centímetros de Sócrates, que se veste como Sócrates, que se penteia como Sócrates, que fala como Sócrates, que diz o que diz Sócrates e cujo rosto me lembra o de Paris Hilton, embora não de uma maneira erótica. Assim de repente, não imagino português mais intrigante e mais digno de 300 páginas.” (pág. 139)



(já à venda nas Fnacs, Bertrands, Bulhosas, etc. etc.)

segunda-feira, julho 05, 2010

Hell no

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