O MacGuffin: A tua vantagem é estares de férias (e teres tempo para isto)

terça-feira, agosto 26, 2008

A tua vantagem é estares de férias (e teres tempo para isto)

Considero que, quando o maradona escreve:

”Eu não disse que a escrita do Carlos devia demasiado ao estilo (…)”

após ter escrito:

”[Trata-se de um] estilo que é essencialmente literário, que serve exclusivamente um propósito estético, e que não analisa”

se está perante um super-carapau-deixa-cá-ver-se-ninguém-repara-no-que-eu-escrevi-há-24-horas-atrás (se ninguém reparar decorre, imediatamente e por certo, que o maradona não escreveu nada daquilo), com uma assinalável dose de voluntarismo que deve ter a sua utilidade, mas que, temo, não tem qualquer interesse ou validade analítica nos casos concretos.

O maradona disse:

O Carlos falou em que se assumisse que a participação portuguesa teria corrido "mal", o que é, no mínimo, uma não verdade.

Não, não é uma «não verdade». No rácio ‘n.º de medalhas/n.º modalidades com participação portuguesa’, Pequim ficou atrás de Atenas e Sidney (até à data, o melhor resultado foi em Los Angeles). Na relação ‘qualidade dos resultados vs n.º de modalidades’ (independentemente das medalhas), Pequim voltou a ficar atrás de Atenas e Sidney. Dois exemplos: 31% dos atletas portugueses em Sidney conseguiram classificações entre os 10 primeiros lugares, contra 26% em Atenas e apenas 18% em Pequim; em Pequim, 56% dos atletas portugueses ficaram abaixo do 20.º lugar das respectivas modalidades onde participaram, contra apenas 40% em Sidney (embora deva dizer-se que Barcelona foi bem pior, com uma percentagem de 61% dos atletas abaixo do 20.º lugar). De resto, e não sou eu que o digo, o apregoado «melhor resultado de sempre» ficou muito aquém dos objectivos a que se propuseram os responsáveis olímpicos.

Só mais duas ou três coisas para terminar (pelo menos da minha parte) este vasto lençol de matéria publicada. Em primeiro lugar, eu nunca disse que a «bonacheirice», a «cagança» ou a «patetice» evidenciadas nas afirmações de certos atletas, estivessem na origem dos males. Tomei-os, isso sim (está bem assim, maradona?), como sinais. Lembro-me, inclusive, de ter escrito que a «cagança», ou, se preferirem, o excesso de favoritismo (a sobranceria, a arrogância, etc.) não seriam problemáticas (caramba, não me chamo Jacques Rogge). Quando referi a «bonacheirice» de Marco Fortes (que significa «ingenuidade») fi-lo no sentido de evidenciar mais um sinal de entre os que me levaram a concluir que houve «alguma» «falta de preparação», «alguma» falta de «disciplina» desportiva e «algum» «excesso de confiança» (utilizo o pronome indefinido da mesma forma que me referi a «alguns» atletas, embora o maradona tivesse feito disso tabula rasa) na participação portuguesa nestes jogos olímpicos. O ridículo, a ingenuidade e a arrogância presentes nas diversas declarações que se produziram da boca de alguns atletas, consubstanciadas pelo resultados menos positivos, foram, para mim, a evidência de que algo estava a correr mal. Aceito que não haja nada de cientifico nesta presunção e/ou dedução. Seja como for, os resultados falam por si. É também perfeitamente natural («natural» na medida exacta de se tratar de mais uma conjectura fantasiosa e entediante sobre a «alma» portuguesa que tanto chateia o maradona) que, agora, se saboreie publicamente mais uma farsa com a história do «melhor resultado de sempre» (é fabuloso como, em Portugal, o sofrível se transfigura em excelente ou o bestial em besta enquanto o diabo esfrega um olho e o Évora dá aqueles três magníficos saltos). Se me permitem, deixo o excerto de uma crónica de Fernando Tenreiro, que por ser Economista (9 points) e presidente do Panathlon Clube de Lisboa (10 points), será, decerto, escorraçado por falta de capacidade «analítica» e excesso de «ignorância» (de um Fernando para outro, entendam-me - e lá estou eu com a mania de aventar argumentos sobre opiniões que nunca foram proferidas):

”Os resultados de Pequim estavam à espera de acontecer. Há erros estruturais de desenvolvimento no desporto português que se repetiram de quatro em quatro anos desde sempre. Estamos no último lugar nas estatísticas desportivas europeias. Sempre tivemos atletas que vencem campeonatos europeus e mundiais e que perdem nos Jogos Olímpicos.

Portugal não estuda o desporto, não confronta as federações com os seus resultados, não incentiva as empresas, as universidades e as federações a dialogar e a produzir em competição no mercado aberto, pensa que a produtividade da administração pública é a mesma das empresas privadas e mesmo na produção de bens públicos, substitui políticas desportivas nacionais por actos mediáticos que embrulham eventos desportivos, tem critérios economicistas para financiar a actividade desportiva mesmo quando, tratando os sectores fragilizados da população, ocupa o seu tempo em actos jurisdicionais que atravessam décadas para produzir leis de bases ineficazes, não é exigente na nomeação dos líderes, nem na definição dos indicadores de performance nem na prestação de contas transparente da actividade desportiva.

Há que olhar em frente e, mais do que olhar para promitentes líderes, a definição das medalhas para Londres é o indicador a partir do qual todo o quadro conceptual da colocação de Portugal no mundo deve ser criado. Já tínhamos falhado em Atenas 2004, com o talento de Obikwelu e a sorte de Paulino, o que estava escondido porque não havia quantificação de objectivos (…)”


De resto, é tarde, muito tarde.

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