O MacGuffin: Vamos todos fingir que a escrita do maradona não deve nada ao estilo

sexta-feira, agosto 22, 2008

Vamos todos fingir que a escrita do maradona não deve nada ao estilo

É isso aí, Maradona. Portugal está invariável e pitorescamente entregue a uma mediania que o empurra para a categoria dos países - ainda bem, digo eu - cujo nível de miséria, altitude, humidade, fome e sede se revela insuficiente para produzir excrescências humanas quase sobrenaturais capazes de fomentar epifenómenos atléticos elegíveis para efeito da atribuição de medalhas olímpicas. Daí que, no caso de Portugal, a coisa só medre com organização, método, disciplina e muito, muito, muito trabalho (e, é claro, alguma dose de sorte e as necessárias características físicas individuais – no caso do Maradona, por exemplo, nem com trabalho olímpico chegaria aos mínimos da Trafaria no salto com vara ou nos 110 metros barreiras).

Se não subsistir um «sistema desportivo» ou uma certa ideia de «sistema desportivo» (não me perguntem qual é mas há gente supostamente versada na matéria e que também supostamente trabalha «profissionalmente» no milieu que saberá qualquer coisa sobre o assunto), aliado a uma mediana qualitativa sustentada por factores genéricos e díspares - como é o caso do número de piscinas por habitante, a qualidade e o tipo de orientação do desporto escolar, o número de treinadores e o seu nível de formação, os subsídios e a lei laboral que permitam ao potencial atleta prescindir da totalidade ou de parte do seu trabalho de assalariado, etc. etc. - se isso não subsistir estaremos eternamente entregues a génios isolados, a atletas medianos que numa probabilidade de um para dez milhões se excedem, ou, ainda, à fífia do adversário capaz de, por um acaso, elevar à categoria de supra-sumo uma existência até à data pautada pela mediocridade. O Maradona insiste na tese de que o número de variáveis e factores – que ele finge mais ou menos dominar em matéria de conhecimento adquirido na Marca ou através da conjugação de dados estatísticos que justapostos fornecem o combustível mental necessário para chegar às suas conclusões (o caso da Holanda vs Irlanda ou da Dinamarca vs Bélgica) – é de tal ordem complexo e aleatório que se torna imperscrutável antever o que quer que seja, até porque o nível de imponderabilidade, no que toca ao desempenho de seres humanos, endemicamente falíveis, estará sempre ao rubro. E resiste à ideia de que eventuais melhorias de natureza genérica – o número de piscinas, o desporto escolar, o número de pistas… - ou particular – os métodos de trabalho, a disciplina nos treinos, a dedicação à causa, alguma dose de humildade na postura desportiva… - em países que infelizmente não foram assolados pela fome, pelo calor e pela miséria, podem resultar numa melhoria, ainda que marginal, de resultados. Eu só digo que talvez não seja bem assim.

PS: mesmo um não «não consegui adaptar-me» (que revela esforço de adaptação, ainda que falhado) é diferente de um «não sou muito dada a este tipo de competições» ou de um «entrar neste estádio cheio bloqueou-me um pouco». Mas eu não queria discutir soundbytes.

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