O MacGuffin: Um, dois, três

quinta-feira, agosto 21, 2008

Um, dois, três

O Czar Alexandre III, que faleceu cheiinho de saúde em 1894, era um alcoólatra. Bom, para não exagerar, digamos que era «amigo da pinga». Não sei até que ponto a ingestão hemorrágica de álcool contribuiu para o estabelecimento de um padrão de autocracia baseado em metodologias medievais e um nível de absolutismo capaz de transformar Luís XIV num democrata. Provavelmente, o álcool até amaciou a coisa. Seja como for, consta que ele se divertia imenso de cada que vez beberricava uns jerricans de vodka, champanhe, brandy, gin, amarguinha, Betadine ou uma outra qualquer substância purificadora: partia objectos, arrombava portas, dobrava delicadamente moedas apenas com o polegar. E por aí fora. Mas fazia-o às escondidas da czarina, a qual, compreensível e previsivelmente, não apreciava certas brutalidades (era uma senhora delicada) e os efeitos nefastos do álcool nas meninges do marido. Relata Zaionchkovsky que, à conta do controlo da czarina, Alexandre III especializou-se na arte do engano, apurando improváveis técnicas e gadgets no sentido de preservar a integridade física da garrafinha, longe do olhar de lince da czarina. Desde botas com compartimentos secretos à medida dos cantis, a garrafas enterradas em vasos, o Czar recorria a um pouco de tudo. Do mesmo período e contexto, há relatos de Alexandre III ter dado início a uma brincadeira inofensiva com o seu amigo Cherevin – um general igualmente adepto da pinga e afins – a que deram o nome de «A necessidade é a mãe da invenção». Consistia no seguinte: logo que a czarina se afastava para uma distância por eles considerada como regulamentar, o Czar sacava da inevitável garrafa e dizia para o general: «Um, dois, três. Necessidade, Cherevin?» - «Invenção, Sua Majestadade». E «um, dois, três»… bota abaixo.

Cento e tal anos depois, imagino a mesma cena. Desta vez entre Putin e Medvedev. A brincadeira: «O sonho é a mãe da invasão».

Putin: Um , dois, três. Sonho, Medvedev?
Medvedev: Invasão, Sua Majestade!

O nome do sonho? «Rússia, a Grande».

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