LE PEN NUNCA TERÁ RAZÃO
Escreve-se por aí que Theo van Gogh era conhecido pelas críticas que fazia aos árabes. Não só. Theo van Gogh era também conhecido pelas referências anti-semitas e anti-clericais. Theo van Gogh era um libertário e um provocador, uma espécie de «agitador de consciências» - por vezes de forma excessiva e injusta, na maior parte das vezes de forma certeira e por isso incómoda. Para o caso, pouco interessa. Nada justifica o que veio a acontecer. Theo van Gogh foi baleado sete vezes e posteriormente degolado não por um fanático judeu, não por um católico fervoroso, mas por um radical muçulmano. Ironicamente, o episódio deu-se no seio da pluralista e tolerante sociedade holandesa.
É óbvio que só um imbecil pode afirmar, perante estes factos, que todos os muçulmanos são radicais, fanáticos ou potenciais assassinos. Mas também é verdade que só um idiota pode achar que uma sondagem – segundo a qual 40% dos holandeses querem ver os muçulmanos expulsos do seu pais – é reveladora de ódio «semeado» e/ou «ideologizado» (que parasse, ao menos, para pensar e compreender o porquê daquele resultado após a morte do realizador). E só um radical e um extremista se atreve a concluir “um fanático assassina outro fanático”, como se o putativo fanatismo de uma câmera de filmar fosse equiparável ao real fanatismo de uma arma de fogo.
Vivemos hoje, a ocidente, uma situação curiosa: para contrariar, ou prevenir, uma suposta islamofobia pós-11 de Setembro, passámos a emudecer face à intolerância e ao fanatismo, a tremer perante a perspectiva de um rótulo depreciativo («racista», «reaccionário», «extremista de direita» ou coisa que o valha). Ken Livingstone, o inefável Mayor de Londres, ainda recentemente abriu os braços a Yusuf al-Qaradawi, com direito a conferência de imprensa e a mordomias tidas por convenientes (o The Guardian noticiou o acontecimento). Para quem não o conhece, lembro que o Dr. Yusuf al-Qaradawi aceita, e defende, o espancamento de mulheres; advoga a perseguição, e o eventual extermínio, de homossexuais (tipo Buttiglione, estão a ver?); apoia incondicionalmente os atentados suicidas contra Israel, incluindo os perpetrados por jovens e crianças; reza em voz alta para que os «infiéis» sejam pulverizadas da face da terra; e, last but not least, jura a pés juntos que o McDonald’s e a Pizza Hut fazem parte de um conspiração judia à escala mundial.
Sei que, desgraçadamente, no seio das sociedades ocidentais há quem seja racista e xenófobo relativamente a árabes e a muçulmanos em geral. Mas também sei que fazemos parte de uma sociedade que preza a liberdade de expressão, com capacidade para a auto-critica, uma sociedade capaz de suscitar na opinião pública posições e movimentações de sinal contrário (possibilitando e promovendo, por exemplo, a constituição de associações civis dispostas a lutar contra atitudes e sentimentos discriminatórios). Sei que vivemos em Estados de Direito, onde a Lei protege expressamente as minorias e é objectivamente contra atitudes discriminatórias e xenófobas.
Tenho, por outro lado, a certeza de que os sentimentos e a opinião do good doctor al-Qaradawi não são maioritários entre os muçulmanos (árabes incluídos). E sei, também, que são sentimentos e opiniões erradas, intoleráveis, contrárias à própria ideia de respeito pelo próximo e pela vida humana.
“Sementes de ódio”? “Ideologia do ódio”? Por favor, antes de as procurarem nos tais 40% de holandeses, procurem-nas nos al-Qaradawis que por aí pululam. Procurem-nas nas franjas radicais de algumas comunidades muçulmanas (por exemplo da inglesa). Procurem-nas no assassino que ceifou a vida a Theo van Gogh. Procurem-nas numa certa visão do mundo – reaccionária, intolerante, odiosa, ressentida - emanada da leitura enviesada e doentia do alcorão, influenciada muitas vezes por um corpo doutrinário de cariz totalitário, de inspiração ocidental.
Não estou, obviamente, a sugerir uma caça às bruxas, um movimento persecutório, uma política pró-segregação ou o fim do multiculturalismo – e só mesmo um imbecil o pode entender como tal. Digo, apenas, que devemos ter consciência do que significam as palavras. “Intolerável” significa que não se podem «aparar», «aceitar», «justificar» e muito menos «assimilar» certas opiniões, certos costumes, certos movimentos. Paremos de revisitar essa espécie de má consciência, portadora de uma atitude de comiseração patética dirigida a putativos representantes de outras culturas e povos, que nos tem levado, entre outras coisas, a adoptar uma postura amorfa, autista, relativista, em nome da tolerância, da diversidade, do multiculturalismo ou da «boa vizinhança». Há coisas que têm de ser repudiadas inequivocamente, sem olhar a comparações e a justificações. Há sinais que não devem deixar de se enviar, em defesa do que de mais significativamente positivo se produziu no secular ocidente, e em defesa das comunidades estrangeiras que devem e podem ser integradas (ia escrever «assimiladas» mas temi pela brigada do PC), ou seja, que devem ser chamadas a participar e a compreender que existem aqui valores e normas sociais inalienáveis, essenciais, supostamente second nature.
Mais importante do que vislumbrar eventuais “sementes de ódio”, é denunciar e repudiar veementemente o ódio já crescido, mortífero, pai das mais brutais violências. E o Estado não pode ficar indiferente a este fenómeno. Não pode virar as costas ao germinar de certas atitudes e à promoção de determinados costumes - os quais, repito, são intoleráveis.
Infelizmente, há sempre quem se apresse a «compreender» e a «explicar» um lado, e a esquecer ou a menosprezar o outro. Há quem se apresse a culpar a segregação e a «ghettização» de que supostamente são alvo certas comunidades estrangeiras, sem perceber, por exemplo, que, em muitos casos, são elas próprias que se auto-segregam e que deliberadamente se fecham em torno de dogmas e costumes que não devem nem podem ser praticados a coberto da tolerância, do multiculturalismo ou do cosmopolitismo. Há quem se apresse a citar Brecht contra Buttiglione, e a comparar as opiniões do italiano com as de Hitler, e emudeça perante afirmações, posições e acções incomensuravelmente mais graves. "Assim acontece", como dizia o outro.
É óbvio que só um imbecil pode afirmar, perante estes factos, que todos os muçulmanos são radicais, fanáticos ou potenciais assassinos. Mas também é verdade que só um idiota pode achar que uma sondagem – segundo a qual 40% dos holandeses querem ver os muçulmanos expulsos do seu pais – é reveladora de ódio «semeado» e/ou «ideologizado» (que parasse, ao menos, para pensar e compreender o porquê daquele resultado após a morte do realizador). E só um radical e um extremista se atreve a concluir “um fanático assassina outro fanático”, como se o putativo fanatismo de uma câmera de filmar fosse equiparável ao real fanatismo de uma arma de fogo.
Vivemos hoje, a ocidente, uma situação curiosa: para contrariar, ou prevenir, uma suposta islamofobia pós-11 de Setembro, passámos a emudecer face à intolerância e ao fanatismo, a tremer perante a perspectiva de um rótulo depreciativo («racista», «reaccionário», «extremista de direita» ou coisa que o valha). Ken Livingstone, o inefável Mayor de Londres, ainda recentemente abriu os braços a Yusuf al-Qaradawi, com direito a conferência de imprensa e a mordomias tidas por convenientes (o The Guardian noticiou o acontecimento). Para quem não o conhece, lembro que o Dr. Yusuf al-Qaradawi aceita, e defende, o espancamento de mulheres; advoga a perseguição, e o eventual extermínio, de homossexuais (tipo Buttiglione, estão a ver?); apoia incondicionalmente os atentados suicidas contra Israel, incluindo os perpetrados por jovens e crianças; reza em voz alta para que os «infiéis» sejam pulverizadas da face da terra; e, last but not least, jura a pés juntos que o McDonald’s e a Pizza Hut fazem parte de um conspiração judia à escala mundial.
Sei que, desgraçadamente, no seio das sociedades ocidentais há quem seja racista e xenófobo relativamente a árabes e a muçulmanos em geral. Mas também sei que fazemos parte de uma sociedade que preza a liberdade de expressão, com capacidade para a auto-critica, uma sociedade capaz de suscitar na opinião pública posições e movimentações de sinal contrário (possibilitando e promovendo, por exemplo, a constituição de associações civis dispostas a lutar contra atitudes e sentimentos discriminatórios). Sei que vivemos em Estados de Direito, onde a Lei protege expressamente as minorias e é objectivamente contra atitudes discriminatórias e xenófobas.
Tenho, por outro lado, a certeza de que os sentimentos e a opinião do good doctor al-Qaradawi não são maioritários entre os muçulmanos (árabes incluídos). E sei, também, que são sentimentos e opiniões erradas, intoleráveis, contrárias à própria ideia de respeito pelo próximo e pela vida humana.
“Sementes de ódio”? “Ideologia do ódio”? Por favor, antes de as procurarem nos tais 40% de holandeses, procurem-nas nos al-Qaradawis que por aí pululam. Procurem-nas nas franjas radicais de algumas comunidades muçulmanas (por exemplo da inglesa). Procurem-nas no assassino que ceifou a vida a Theo van Gogh. Procurem-nas numa certa visão do mundo – reaccionária, intolerante, odiosa, ressentida - emanada da leitura enviesada e doentia do alcorão, influenciada muitas vezes por um corpo doutrinário de cariz totalitário, de inspiração ocidental.
Não estou, obviamente, a sugerir uma caça às bruxas, um movimento persecutório, uma política pró-segregação ou o fim do multiculturalismo – e só mesmo um imbecil o pode entender como tal. Digo, apenas, que devemos ter consciência do que significam as palavras. “Intolerável” significa que não se podem «aparar», «aceitar», «justificar» e muito menos «assimilar» certas opiniões, certos costumes, certos movimentos. Paremos de revisitar essa espécie de má consciência, portadora de uma atitude de comiseração patética dirigida a putativos representantes de outras culturas e povos, que nos tem levado, entre outras coisas, a adoptar uma postura amorfa, autista, relativista, em nome da tolerância, da diversidade, do multiculturalismo ou da «boa vizinhança». Há coisas que têm de ser repudiadas inequivocamente, sem olhar a comparações e a justificações. Há sinais que não devem deixar de se enviar, em defesa do que de mais significativamente positivo se produziu no secular ocidente, e em defesa das comunidades estrangeiras que devem e podem ser integradas (ia escrever «assimiladas» mas temi pela brigada do PC), ou seja, que devem ser chamadas a participar e a compreender que existem aqui valores e normas sociais inalienáveis, essenciais, supostamente second nature.
Mais importante do que vislumbrar eventuais “sementes de ódio”, é denunciar e repudiar veementemente o ódio já crescido, mortífero, pai das mais brutais violências. E o Estado não pode ficar indiferente a este fenómeno. Não pode virar as costas ao germinar de certas atitudes e à promoção de determinados costumes - os quais, repito, são intoleráveis.
Infelizmente, há sempre quem se apresse a «compreender» e a «explicar» um lado, e a esquecer ou a menosprezar o outro. Há quem se apresse a culpar a segregação e a «ghettização» de que supostamente são alvo certas comunidades estrangeiras, sem perceber, por exemplo, que, em muitos casos, são elas próprias que se auto-segregam e que deliberadamente se fecham em torno de dogmas e costumes que não devem nem podem ser praticados a coberto da tolerância, do multiculturalismo ou do cosmopolitismo. Há quem se apresse a citar Brecht contra Buttiglione, e a comparar as opiniões do italiano com as de Hitler, e emudeça perante afirmações, posições e acções incomensuravelmente mais graves. "Assim acontece", como dizia o outro.
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