O MacGuffin

terça-feira, março 16, 2004

VASCO
A matança
por Vasco Pulido Valente
in Diário de Notícias, 13 de Março de 2004
"A matança de Madrid inspirou a litania do costume: nada justifica o terrorismo; o terrorismo tem de ser combatido com absoluta intransigência; e nunca por nunca vencerá. Isto não passa de uma hipocrisia sem nome. Um dia e uma noite com a televisão, a Internet e os jornais não deixam sobre esse ponto a mais remota dúvida. Ninguém se atreveu, evidentemente, a «perceber» a ETA. Mas toda a gente trata o nacionalismo basco como se fosse um direito natural. Nesta campanha, o PSOE chegou a prometer um alargamento da autonomia, que tarde ou cedo levaria à independência do Euskadi. E a Esquerda catalã «dialogou» clandestinamente com a ETA, de potência a potência. As bombas de Madrid não rebentaram no meio da hostilidade geral a uma causa absurda, desacreditada e falida. Nem a «Europa», pronta para o gesto simbólico, agora ou antes declarou que não aceitaria o País Basco na Comunidade, coisa que resolveria definitivamente o caso. Pior ainda: quando apareceu a suspeita da Al-Qaeda, a conversa mudou. Finalmente, havia uma «razão» para o ataque, o apoio a Bush, e um culpado, Aznar. Num «debate» da SIC, a inconcebível Ana Gomes desatou logo a perorar sobre o Iraque e Guantánamo e os perigos que Portugal corria pelo mesmo pecado de vil consórcio com a América. Por aqui e por ali, o Islão bom e «tolerante» também veio ao falatório do costume, embora não se saiba ao certo onde ele fica, porque esta inexistência serve para esconder o facto de que o Islão inteiro se revê com alegria na Al-Qaeda, cujas causas fervorosamente partilha. O massacre não se pára só com retórica e polícia. O terror vive à sombra da respeitabilidade política que indirectamente lhe concedem. O nacionalismo basco é absurdo; e o mundo islâmico é uma civilização medieval e falhada. Convém começar pelo princípio."

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