MDM
Há dias, a minha filha apareceu lá em casa com uns folhetos do Movimento Democrático de Mulheres (MDM), editados em estreita colaboração com uma coisa chamada Fórum Social Português. Perguntam os meus leitores: o que é que uma menina de 7 anos faz com folhetos deste calibre? Não sei. Aguardo a resposta da mãe. Mas, insistem os caros leitores deste infame blogue, o que é, afinal, o Éme Dê Éme? Segundo o próprio, trata-se de um entre os muitos movimentos no feminino que representam uma “força social emancipatória, actores da construção de um Mundo Outro (sic), diferente e melhor, face aos retrocessos ideológicos (sic) e nos direitos das mulheres.” O tom geral é panfletário, arrivista, recheado de slogans e de referências nada inocentes do ponto de vista ideológico. Trata-se de um folheto (e, suponho eu, de um projecto) politicamente engajado, anacrónico, servido aqui e acolá por «conspirações», embrulhado num discurso encabeçado pelos nobres “direitos das mulheres” e pela “posição da mulher no mundo”. Não é preciso ser-se particularmente inteligente para perceber o que quero dizer com “politicamente engajado” se vos apresentar uma pequena lista de slogans e epítetos utilizadas em declarada hemorragia retórica: “globalização capitalista”, “desígnios ultrabelicistas do imperialismo”, “globalização das máfias”, “novas violências sobre os povos”, “dominação global”, “globalização neoliberal”, “forças neocolonialistas”. É notória a visita ao supermercado das frases-feitas-para-esquerdista-se-masturbar.
Pelo meio, incitam ao boicote dos produtos “israelenses” (sic) e americanos; apoiam “formas de produção tipo cooperativas” (sic); relembram, como é próprio de um certo quadrante político, a “luta contra a ditadura fascista” (para todos os efeitos, as outras não existiram); avisam-nos que o Estado (o «paizinho») se “desresponsabilizou” do papel de apoiar e fomentar a emancipação feminina. E, a páginas tantas, prega-se a solidariedade pelas “mulheres da palestina”, exigindo o controlo ou supressão imediata dos programas nucleares de Israel e dos EUA. Do Irão? Da Coreia do Norte? Da Líbia? Que ideia! Esses são países «amigos», com propósitos benignos que, ao contrário dos pérfidos EUA e dos temíveis sionistas, são faróis mundiais da democracia sob o rule of law, nos quais governos e centros de poder são escrutinados diariamente por uma comunicação social livre e independente, por uma opinião pública crítica, por organizações não governamentais atentas ao que se passa e por um clima festivo de celebração do melhor espírito libertário de Montesquieu e Locke.
Há uma componente cómica e, ao mesmo tempo, um comportamento patético em tudo isto. Será que este tipo de organizações para-políticas não enxergam o ridículo da sua descarada hipocrisia e a perversão da sua dualidade de critérios? Para esta gente, as “mulheres de Israel” pertencem ao lado dos maus (e dos ricos) e carregam no ventre, durante nove meses, as sementes que mais tarde ajudarão a perpetuar o «jugo do povo palestino» - razões mais do que suficientes para as não tornar elegíveis para efeitos da sua solidariedadezinha bacôca. Para esta gente, as mães palestinas – mesmo as que incitam ao ódio e ajudam os seus filhos a cometer atentados suicidas – serão sempre olhadas como vítimas e moralmente superiores em relação àquelas que, do lado de lá, sofrem « «justificadamente» o assassínio dos seus filhos, dos seus maridos e dos seus amigos.
Finalmente, estes movimentos são prosaicamente ignorantes e tendencialmente idiotas. Apontam as armas à globalização sem sequer repararem que a prosperidade crescente de dezenas de países em vias de desenvolvimento – por via da growth-through integration - tem feito mais pelos direitos das mulheres do que todas as pretensões feministas anti-globalização que a ocidente se alimentam das mordomias do capitalismo. Exigem utópica e ingenuamente uma globalização «limpa» - de injustiças, tensões, ideologias concorrentes e capitalismos «inimigos» - e uma constituição mundial (bonita a imagem), mas recusam simplesmente parar para pensar. Pensar que a iniquidade, a injustiça e a mediocridade (venham elas de ricos ou pobres, do norte ou do sul), aliada ao imponderável e à multiplicidade de objectivos e valores, farão sempre parte do jogo. Pensar que a globalização "real" – aquela com inúmeros defeitos e que não espera por rodriguinhos e decisões em colóquios na Aula Magna – tem sido proveitosa, está a dar frutos e tem permitido que milhares de mulheres em todo o mundo se abriguem na concha do «mercado» para subverter o jugo de regimes e sociedades obscuras, arcaicas e violentas no que aos direitos humanos diz respeito. Foi a globalização e a livre troca de bens, pessoas e de conhecimento que permitiu que as mulheres sauditas se imiscuíssem no mundo do empresariado e soltassem as primeiras amarras. Foi a globalização e o maldito capitalismo que permitiu empregar milhares de mulheres em todo o mundo, democratizando a oferta e a procura do trabalho. Foi a globalização e a livre circulação de pessoas que permitiu que na India o papel da mulher vá a caminho dos 180º. Só mesmo uma intelectual esquerdista ocidental com a cabeça repleta de tralha propaganista não vê o que é, hoje em dia, uma evidência. Só as Anas Drago e as Anas Gomes a ocidente se dão ao luxo de, comodamente, criticar as condições de emprego que, para milhares de mulheres, são uma benção e representam um salto qualitativo relativamente ao que se passava antes da maldita multinacional se instalar no seu país (lá vêm os exemplos da Nike para contrapor a floresta...). Dir-me-ão que isso é mediocridade. Errado: perceber isto não é aceitar a mediocridade e o que de negativo tem a globalização. É aceitar que o mundo avança devagar, a um ritmo próprio, alheio a propagandas e ideologias. É aceitar que o saldo é positivo. Qualquer estudo minimamente sério e exaustivo consegue descrever uma linha de tendência conclusiva: a globalização tem sido benéfica e se há grupo que tem beneficiado com a globalização, tal qual ela é, esse grupo é o grupo das mulheres. Das mulheres que, devido a um obscurantismo de séculos, não podiam trabalhar, estudar, votar ou simplesmente destapar a cara. O segredo do negócio é entrar no jogo, não descartando a regulamentação mas percebendo que a onda tem de se apanhar. Como disse um dia alguém, pior do que ter sido atingido pela globalização é simplesmente nunca o ter sido.
Há dias, a minha filha apareceu lá em casa com uns folhetos do Movimento Democrático de Mulheres (MDM), editados em estreita colaboração com uma coisa chamada Fórum Social Português. Perguntam os meus leitores: o que é que uma menina de 7 anos faz com folhetos deste calibre? Não sei. Aguardo a resposta da mãe. Mas, insistem os caros leitores deste infame blogue, o que é, afinal, o Éme Dê Éme? Segundo o próprio, trata-se de um entre os muitos movimentos no feminino que representam uma “força social emancipatória, actores da construção de um Mundo Outro (sic), diferente e melhor, face aos retrocessos ideológicos (sic) e nos direitos das mulheres.” O tom geral é panfletário, arrivista, recheado de slogans e de referências nada inocentes do ponto de vista ideológico. Trata-se de um folheto (e, suponho eu, de um projecto) politicamente engajado, anacrónico, servido aqui e acolá por «conspirações», embrulhado num discurso encabeçado pelos nobres “direitos das mulheres” e pela “posição da mulher no mundo”. Não é preciso ser-se particularmente inteligente para perceber o que quero dizer com “politicamente engajado” se vos apresentar uma pequena lista de slogans e epítetos utilizadas em declarada hemorragia retórica: “globalização capitalista”, “desígnios ultrabelicistas do imperialismo”, “globalização das máfias”, “novas violências sobre os povos”, “dominação global”, “globalização neoliberal”, “forças neocolonialistas”. É notória a visita ao supermercado das frases-feitas-para-esquerdista-se-masturbar.
Pelo meio, incitam ao boicote dos produtos “israelenses” (sic) e americanos; apoiam “formas de produção tipo cooperativas” (sic); relembram, como é próprio de um certo quadrante político, a “luta contra a ditadura fascista” (para todos os efeitos, as outras não existiram); avisam-nos que o Estado (o «paizinho») se “desresponsabilizou” do papel de apoiar e fomentar a emancipação feminina. E, a páginas tantas, prega-se a solidariedade pelas “mulheres da palestina”, exigindo o controlo ou supressão imediata dos programas nucleares de Israel e dos EUA. Do Irão? Da Coreia do Norte? Da Líbia? Que ideia! Esses são países «amigos», com propósitos benignos que, ao contrário dos pérfidos EUA e dos temíveis sionistas, são faróis mundiais da democracia sob o rule of law, nos quais governos e centros de poder são escrutinados diariamente por uma comunicação social livre e independente, por uma opinião pública crítica, por organizações não governamentais atentas ao que se passa e por um clima festivo de celebração do melhor espírito libertário de Montesquieu e Locke.
Há uma componente cómica e, ao mesmo tempo, um comportamento patético em tudo isto. Será que este tipo de organizações para-políticas não enxergam o ridículo da sua descarada hipocrisia e a perversão da sua dualidade de critérios? Para esta gente, as “mulheres de Israel” pertencem ao lado dos maus (e dos ricos) e carregam no ventre, durante nove meses, as sementes que mais tarde ajudarão a perpetuar o «jugo do povo palestino» - razões mais do que suficientes para as não tornar elegíveis para efeitos da sua solidariedadezinha bacôca. Para esta gente, as mães palestinas – mesmo as que incitam ao ódio e ajudam os seus filhos a cometer atentados suicidas – serão sempre olhadas como vítimas e moralmente superiores em relação àquelas que, do lado de lá, sofrem « «justificadamente» o assassínio dos seus filhos, dos seus maridos e dos seus amigos.
Finalmente, estes movimentos são prosaicamente ignorantes e tendencialmente idiotas. Apontam as armas à globalização sem sequer repararem que a prosperidade crescente de dezenas de países em vias de desenvolvimento – por via da growth-through integration - tem feito mais pelos direitos das mulheres do que todas as pretensões feministas anti-globalização que a ocidente se alimentam das mordomias do capitalismo. Exigem utópica e ingenuamente uma globalização «limpa» - de injustiças, tensões, ideologias concorrentes e capitalismos «inimigos» - e uma constituição mundial (bonita a imagem), mas recusam simplesmente parar para pensar. Pensar que a iniquidade, a injustiça e a mediocridade (venham elas de ricos ou pobres, do norte ou do sul), aliada ao imponderável e à multiplicidade de objectivos e valores, farão sempre parte do jogo. Pensar que a globalização "real" – aquela com inúmeros defeitos e que não espera por rodriguinhos e decisões em colóquios na Aula Magna – tem sido proveitosa, está a dar frutos e tem permitido que milhares de mulheres em todo o mundo se abriguem na concha do «mercado» para subverter o jugo de regimes e sociedades obscuras, arcaicas e violentas no que aos direitos humanos diz respeito. Foi a globalização e a livre troca de bens, pessoas e de conhecimento que permitiu que as mulheres sauditas se imiscuíssem no mundo do empresariado e soltassem as primeiras amarras. Foi a globalização e o maldito capitalismo que permitiu empregar milhares de mulheres em todo o mundo, democratizando a oferta e a procura do trabalho. Foi a globalização e a livre circulação de pessoas que permitiu que na India o papel da mulher vá a caminho dos 180º. Só mesmo uma intelectual esquerdista ocidental com a cabeça repleta de tralha propaganista não vê o que é, hoje em dia, uma evidência. Só as Anas Drago e as Anas Gomes a ocidente se dão ao luxo de, comodamente, criticar as condições de emprego que, para milhares de mulheres, são uma benção e representam um salto qualitativo relativamente ao que se passava antes da maldita multinacional se instalar no seu país (lá vêm os exemplos da Nike para contrapor a floresta...). Dir-me-ão que isso é mediocridade. Errado: perceber isto não é aceitar a mediocridade e o que de negativo tem a globalização. É aceitar que o mundo avança devagar, a um ritmo próprio, alheio a propagandas e ideologias. É aceitar que o saldo é positivo. Qualquer estudo minimamente sério e exaustivo consegue descrever uma linha de tendência conclusiva: a globalização tem sido benéfica e se há grupo que tem beneficiado com a globalização, tal qual ela é, esse grupo é o grupo das mulheres. Das mulheres que, devido a um obscurantismo de séculos, não podiam trabalhar, estudar, votar ou simplesmente destapar a cara. O segredo do negócio é entrar no jogo, não descartando a regulamentação mas percebendo que a onda tem de se apanhar. Como disse um dia alguém, pior do que ter sido atingido pela globalização é simplesmente nunca o ter sido.
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