O ABSURDO
Escreve Miguel Sousa Tavares, no Público:
"Em segundo lugar, é natural que os europeus e o resto do mundo pensem que a maior ameaça actual à paz mundial venha de Israel, antes mesmo que do Iraque, do Irão, da Síria, da Coreia do Norte ou... dos Estados Unidos de Bush. Foi isso que os europeus responderam e responderam com toda a lógica. Há vinte anos que eu penso o mesmo. Há vinte anos que eu penso que, se houver terceira guerra mundial, ela surgirá por causa de Israel e da sua continuada cegueira e tentação de resolver o problema palestiniano, não através de um qualquer acordo de paz, mas através, desculpem, da "solução final" - do extermínio político, cívico e, se necessário, humano dos palestinianos (...)
Shimon Peres não tem razão para o seu optimismo quando afirma que "o terror (o dos palestinianos, claro...) está condenado porque não traz quaisquer sinais de futuro, alimenta-se do ódio do passado". É precisamente o contrário: o terror a que os palestinianos lançam mão alimenta-se do ódio do presente, causado pelo terror israelita, e subsiste exactamente porque não há, para os palestinianos, qualquer sinal de esperança no futuro."
Estou de acordo com Miguel Sousa Tavares (MST): de facto, há muitos anos que vejo em MST um gritante e estúpido ódio a Israel. Para MST, Israel é um aborto histórico; o sionismo foi, e é, um movimento extremista; os atentados bombistas não passam de armas caseiras dos «pobrezinhos» e dos «oprimidos» (como se, do lado dos pobres e oprimidos, se pudesse justificar tudo e pudesse reinar uma situação de impunidade cega); o «problema judeu» nunca existiu; o Estado de Israel é uma invenção do holocausto (com 60 anos).
Há dias, escrevi aqui: "no conflito israelo-palestiniano sou tendencial e assumidamente pró-Israel. Porque tenho memória. Mas não sou cego". Ao contrário da de MST, a minha memória serve para ambos os lados. Eu não me esqueço de Avraham Stern, de Yizhak Shamir e Yellin-Mor, assim como não me esqueço do Irgun – grupos, aliás, que o Haganah, o braço militar do ‘establishment’ sionista, em boa hora aniquilou. Não me esqueço de Deir Yassin, nem do atentado ao Hotel Rei David. E não me esqueço de quem matou Rabin.
Mas também me lembro das palavras de Nasser em 1967: “o nosso único objectivo é a destruição de Israel”; seguidas das do presidente Aref, do Iraque: “O nosso propósito é claro: fazer com que Israel desapareça do mapa”; e das de Ahmed Shukairy, o dirigente da OLP, a 1 de Junho do mesmo ano: “Os judeus da Palestina terão de partir... a antiga população judaica que venha a sobreviver poderá ficar, mas é minha convicção que nenhuma delas sobreviverá”. E também não esqueço que a Fatah e a OLP foram filhas ilegítimas do Irgun na utilização cientifica do terror. Também não me esqueço que os objectivos principais da OLP estavam lá, preto-no-branco: uma Palestina livre e a destruição do estado de Israel. Não me posso esquecer dos Jogos Olimpicos de Munique e do Setembro Negro. Recuso-me a esquecer os atentados em Viena e Roma nos check-in da El-Al, ou do massacre de 50 crianças israelitas à queima-roupa num kibutz. Não me esqueço da atitude de Arafat em Camp David (MST considera que "não seria um bom acordo", porque para MST um bom acordo seria a pulverização do estado de Israel, esse país de "demónios" sionistas que passam o tempo todo a falar no "povo escolhido"). Nem me esqueço da recente invenção do "massacre de Jenin".
Para MST é tudo muito simples. Está aí uma sondagem para o provar. As vitimas estão identificadas, os carrascos também. Acontece que, neste caso, não nos podemos guiar por uma sondagem. O problema é demasiado complexo. Temos, por exemplo, de revisitar as raízes do fundamentalismo e do pior nacionalismo árabes. Temos de observar o profundo e reiterado sentimento anti-semita, impregnado nas ruas daquela região (o Mein Kampf e os Protocolos são livros de cabeceira lá como, por exemplo, no seio da comunidade árabe de Londres). O anti-semitismo vem de longe, mas a animosidade mais radical não é milenar. Basta recuar, para o efeito, ao princípio dos anos 20, para verificar como a coabitação entre árabes e judeus fazia inveja à de hoje. Os judeus representavam, então, 10% da população. Eram uma minoria e não «chateavam» ninguém. Em 1921 Amin al-Husayni foi empossado pelos britânicos como Grande Mufti de Jerusalém. Em pouco mais de 10 anos, al-Husayni perpetrou o assassinato de centenas de árabes e judeus moderados. Lançou as sementes da pior propaganda anti-semita que perdura até aos nossos dias. Amin al-Husayni: o homem que venerava Hitler e que tinha como amigo Himmler. A história é longa e intricada.
Eu sei que muita injustiça foi cometida por Israel. Houve excessos, erros e, a espaços, uma desproporção de meios. E existe uma franja de fundamentalistas encartados do lado israelita (que muitos gostam de confundir com o Likud). Mas a retórica de MST – de que os ataques suicidas palestinianos são uma manifestação «inocente» e circunstancial, ligado ao desespero de uma população – não colhe. E não colhe porque os ataques são organizados, patrocinados, financiados, têm uma marca e têm responsáveis.
Analisada ao pormenor, a retórica de MST não servirá, também, o «outro» lado? Poder-se-á dizer que os israelitas também lutam e defendem o seu povo, também actuam preventivamente contra ataques futuros, à sua maneira, com as suas armas e com os seus meios. Superiores, é certo, mas são os seus. E se calhar numa luta que não é assim tão desigual. Se deixarmos de lado o grotesco exercício da contabilidade dos mortos, se calhar o terrorismo cego e indiscriminado contra civis em Israel é bem mais cruel e medonho do que se pensa. Deveremos menosprezar o seu efeito na memória colectiva dos judeus? Devemos continuar a diabolizar Israel e a vitimizar os líderes palestinianos? Não admira que, a ocidente, onde a memória é fraca, a ignorância histórica abunda e certos opinion-makers torcem, descarada e desaforadamente, por um dos lados, se pense o absurdo. Arafat e os seus séquitos - os maiores responsáveis pelo destino do seu povo - vão continuar a agradecer as 'pancadinhas nas costas'.
Escreve Miguel Sousa Tavares, no Público:
"Em segundo lugar, é natural que os europeus e o resto do mundo pensem que a maior ameaça actual à paz mundial venha de Israel, antes mesmo que do Iraque, do Irão, da Síria, da Coreia do Norte ou... dos Estados Unidos de Bush. Foi isso que os europeus responderam e responderam com toda a lógica. Há vinte anos que eu penso o mesmo. Há vinte anos que eu penso que, se houver terceira guerra mundial, ela surgirá por causa de Israel e da sua continuada cegueira e tentação de resolver o problema palestiniano, não através de um qualquer acordo de paz, mas através, desculpem, da "solução final" - do extermínio político, cívico e, se necessário, humano dos palestinianos (...)
Shimon Peres não tem razão para o seu optimismo quando afirma que "o terror (o dos palestinianos, claro...) está condenado porque não traz quaisquer sinais de futuro, alimenta-se do ódio do passado". É precisamente o contrário: o terror a que os palestinianos lançam mão alimenta-se do ódio do presente, causado pelo terror israelita, e subsiste exactamente porque não há, para os palestinianos, qualquer sinal de esperança no futuro."
Estou de acordo com Miguel Sousa Tavares (MST): de facto, há muitos anos que vejo em MST um gritante e estúpido ódio a Israel. Para MST, Israel é um aborto histórico; o sionismo foi, e é, um movimento extremista; os atentados bombistas não passam de armas caseiras dos «pobrezinhos» e dos «oprimidos» (como se, do lado dos pobres e oprimidos, se pudesse justificar tudo e pudesse reinar uma situação de impunidade cega); o «problema judeu» nunca existiu; o Estado de Israel é uma invenção do holocausto (com 60 anos).
Há dias, escrevi aqui: "no conflito israelo-palestiniano sou tendencial e assumidamente pró-Israel. Porque tenho memória. Mas não sou cego". Ao contrário da de MST, a minha memória serve para ambos os lados. Eu não me esqueço de Avraham Stern, de Yizhak Shamir e Yellin-Mor, assim como não me esqueço do Irgun – grupos, aliás, que o Haganah, o braço militar do ‘establishment’ sionista, em boa hora aniquilou. Não me esqueço de Deir Yassin, nem do atentado ao Hotel Rei David. E não me esqueço de quem matou Rabin.
Mas também me lembro das palavras de Nasser em 1967: “o nosso único objectivo é a destruição de Israel”; seguidas das do presidente Aref, do Iraque: “O nosso propósito é claro: fazer com que Israel desapareça do mapa”; e das de Ahmed Shukairy, o dirigente da OLP, a 1 de Junho do mesmo ano: “Os judeus da Palestina terão de partir... a antiga população judaica que venha a sobreviver poderá ficar, mas é minha convicção que nenhuma delas sobreviverá”. E também não esqueço que a Fatah e a OLP foram filhas ilegítimas do Irgun na utilização cientifica do terror. Também não me esqueço que os objectivos principais da OLP estavam lá, preto-no-branco: uma Palestina livre e a destruição do estado de Israel. Não me posso esquecer dos Jogos Olimpicos de Munique e do Setembro Negro. Recuso-me a esquecer os atentados em Viena e Roma nos check-in da El-Al, ou do massacre de 50 crianças israelitas à queima-roupa num kibutz. Não me esqueço da atitude de Arafat em Camp David (MST considera que "não seria um bom acordo", porque para MST um bom acordo seria a pulverização do estado de Israel, esse país de "demónios" sionistas que passam o tempo todo a falar no "povo escolhido"). Nem me esqueço da recente invenção do "massacre de Jenin".
Para MST é tudo muito simples. Está aí uma sondagem para o provar. As vitimas estão identificadas, os carrascos também. Acontece que, neste caso, não nos podemos guiar por uma sondagem. O problema é demasiado complexo. Temos, por exemplo, de revisitar as raízes do fundamentalismo e do pior nacionalismo árabes. Temos de observar o profundo e reiterado sentimento anti-semita, impregnado nas ruas daquela região (o Mein Kampf e os Protocolos são livros de cabeceira lá como, por exemplo, no seio da comunidade árabe de Londres). O anti-semitismo vem de longe, mas a animosidade mais radical não é milenar. Basta recuar, para o efeito, ao princípio dos anos 20, para verificar como a coabitação entre árabes e judeus fazia inveja à de hoje. Os judeus representavam, então, 10% da população. Eram uma minoria e não «chateavam» ninguém. Em 1921 Amin al-Husayni foi empossado pelos britânicos como Grande Mufti de Jerusalém. Em pouco mais de 10 anos, al-Husayni perpetrou o assassinato de centenas de árabes e judeus moderados. Lançou as sementes da pior propaganda anti-semita que perdura até aos nossos dias. Amin al-Husayni: o homem que venerava Hitler e que tinha como amigo Himmler. A história é longa e intricada.
Eu sei que muita injustiça foi cometida por Israel. Houve excessos, erros e, a espaços, uma desproporção de meios. E existe uma franja de fundamentalistas encartados do lado israelita (que muitos gostam de confundir com o Likud). Mas a retórica de MST – de que os ataques suicidas palestinianos são uma manifestação «inocente» e circunstancial, ligado ao desespero de uma população – não colhe. E não colhe porque os ataques são organizados, patrocinados, financiados, têm uma marca e têm responsáveis.
Analisada ao pormenor, a retórica de MST não servirá, também, o «outro» lado? Poder-se-á dizer que os israelitas também lutam e defendem o seu povo, também actuam preventivamente contra ataques futuros, à sua maneira, com as suas armas e com os seus meios. Superiores, é certo, mas são os seus. E se calhar numa luta que não é assim tão desigual. Se deixarmos de lado o grotesco exercício da contabilidade dos mortos, se calhar o terrorismo cego e indiscriminado contra civis em Israel é bem mais cruel e medonho do que se pensa. Deveremos menosprezar o seu efeito na memória colectiva dos judeus? Devemos continuar a diabolizar Israel e a vitimizar os líderes palestinianos? Não admira que, a ocidente, onde a memória é fraca, a ignorância histórica abunda e certos opinion-makers torcem, descarada e desaforadamente, por um dos lados, se pense o absurdo. Arafat e os seus séquitos - os maiores responsáveis pelo destino do seu povo - vão continuar a agradecer as 'pancadinhas nas costas'.
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