CORREIO DOS LEITORES
De Maria Manuela, recebi a seguinte missiva:
”Estou a estrear-me como leitora de blogs; apesar dos imensos apelos que me impeliam a ir espreitar, o meu conservadorismo - em grande parte involuntário, provavelmente nato - fez-me resistir. Tenho alguma dificuldade em adoptar para mim os modernismos, com tudo o que de bom e de mau daí advém. Foi um castigo conseguir que eu me aproximasse de um computador, por exemplo, e no dia tardio em que o fiz fiquei fascinada, entreguei os pontos e não descansei enquanto não explorei a novidade e consegui descobrir as potencialidades que a mim me interessavam e poupavam tempo.
Entrei directamente no blog do Pacheco Pereira e dali noutro lá recomendado e, seguindo a mesma receita, cheguei à "Coluna Infame", que, com pena, vi que está, no mínimo, em banho-maria. Considero-me de direita, embora cada vez mais me soe "mal" o termo e julgue difícil estabelecer o limite à "esquerda" - se calhar passa pelo Centro. Mas o Centro, como eu o vejo, conheço e (não)entendo, parece-me assim uma coisa de meias tintas, uma direita não assumida sem se perceber bem porquê (tenho as minhas teorias). E satisfaz-me ver gente sem preconceitos em declarar-se "contra a corrente", a escrever bem, a escrever coisas em que me revejo e a contribuir para a desmontagem do papão direitista. Achei deliciosa a introdução ao post e as explanações sobre a abundância e a literatice; estava a ler e a abanar que sim com a cabeça, com um sorriso de orelha a orelha; fez vir à tona tudo o que eu penso, e digo, sobre a sociedade de consumo para onde nos quiseram engaiolar nas últimas duas décadas e sobre as estatísticas de venda de livros. Será que só interessa ler, não importa o quê? Não me parece. Não me convence que o facto de a Margarida Rebelo Pinto vender muito seja, por si só, uma achega para a elevação do nível intelectual e/ou cultural seja de quem for. Mas fez-me pensar também noutras coisas, como seja a ideia, pré e mal concebida, de que quem é direita é rico e que só os pobres são de esquerda (sou o testemunho vivo de que isso não é verdade). Já viu que as pessoas de direita são geralmente muito mais poupadas que as de esquerda? Já viu que quem é de esquerda e é "rico" parece ter uma qualquer necessidade de ostentar a riqueza que não se nota em quem é de direita? Até os últimos governos servem de exemplo.... Vejo a democracia a devorar a liberdade e o que realmente importa é a liberdade, a democracia-ou-lá-o-que-é-isso vem por arrasto, se tiver que ser.
Sinto uma inveja saudável (desejo que assim continuem e aspiro a chegar o mais perto possível) de quem consegue ler a um ritmo para mim impensável. Tenho pena de não conseguir reler mais livros e nem sequer conseguir ler pela primeira vez um «cagagésimo» do que gostaria. Enfim, cada um com as suas limitações. E, se a contra capa incluísse os e-mails dos autores, eu - e muita gente, imagino - ainda conseguiria ler menos porque escreveria muito mais: cartas, comentários...”.
Cara Maria Manuela: foi um prazer ler a sua carta e perceber que existe gente com espírito conservador, tal como eu o imagino. Compreendo – Ó como compreendo! – o seu dilema com a direita. Em Portugal, assumir que se é de direita continua a ser visto como sinal de debilidade mental. De insensibilidade e falta de visão - próprias de gente materialista e fútil. De gente que nunca terá lido Tchekhov ou visitado um museu. De gente que não sabe o que é “passar por dificuldades” e que ignora a “pobreza”. Com um bocadinho de sorte, consegue-se escapar, em certos meios, ao epíteto de «fascista». Infelizmente as ideias feitas e o preconceito mais retrógrado continuam bem presentes na sociedade portuguesa. E o que mais incomoda é que não é próprio de uma geração. O dogmatismo e a presunção de uma certa esquerda - sempre pronta a catalogar e fazer uso dos 'slogans' - não escolhe idades.
Obrigado pela sua carta. Escreva sempre.
De Maria Manuela, recebi a seguinte missiva:
”Estou a estrear-me como leitora de blogs; apesar dos imensos apelos que me impeliam a ir espreitar, o meu conservadorismo - em grande parte involuntário, provavelmente nato - fez-me resistir. Tenho alguma dificuldade em adoptar para mim os modernismos, com tudo o que de bom e de mau daí advém. Foi um castigo conseguir que eu me aproximasse de um computador, por exemplo, e no dia tardio em que o fiz fiquei fascinada, entreguei os pontos e não descansei enquanto não explorei a novidade e consegui descobrir as potencialidades que a mim me interessavam e poupavam tempo.
Entrei directamente no blog do Pacheco Pereira e dali noutro lá recomendado e, seguindo a mesma receita, cheguei à "Coluna Infame", que, com pena, vi que está, no mínimo, em banho-maria. Considero-me de direita, embora cada vez mais me soe "mal" o termo e julgue difícil estabelecer o limite à "esquerda" - se calhar passa pelo Centro. Mas o Centro, como eu o vejo, conheço e (não)entendo, parece-me assim uma coisa de meias tintas, uma direita não assumida sem se perceber bem porquê (tenho as minhas teorias). E satisfaz-me ver gente sem preconceitos em declarar-se "contra a corrente", a escrever bem, a escrever coisas em que me revejo e a contribuir para a desmontagem do papão direitista. Achei deliciosa a introdução ao post e as explanações sobre a abundância e a literatice; estava a ler e a abanar que sim com a cabeça, com um sorriso de orelha a orelha; fez vir à tona tudo o que eu penso, e digo, sobre a sociedade de consumo para onde nos quiseram engaiolar nas últimas duas décadas e sobre as estatísticas de venda de livros. Será que só interessa ler, não importa o quê? Não me parece. Não me convence que o facto de a Margarida Rebelo Pinto vender muito seja, por si só, uma achega para a elevação do nível intelectual e/ou cultural seja de quem for. Mas fez-me pensar também noutras coisas, como seja a ideia, pré e mal concebida, de que quem é direita é rico e que só os pobres são de esquerda (sou o testemunho vivo de que isso não é verdade). Já viu que as pessoas de direita são geralmente muito mais poupadas que as de esquerda? Já viu que quem é de esquerda e é "rico" parece ter uma qualquer necessidade de ostentar a riqueza que não se nota em quem é de direita? Até os últimos governos servem de exemplo.... Vejo a democracia a devorar a liberdade e o que realmente importa é a liberdade, a democracia-ou-lá-o-que-é-isso vem por arrasto, se tiver que ser.
Sinto uma inveja saudável (desejo que assim continuem e aspiro a chegar o mais perto possível) de quem consegue ler a um ritmo para mim impensável. Tenho pena de não conseguir reler mais livros e nem sequer conseguir ler pela primeira vez um «cagagésimo» do que gostaria. Enfim, cada um com as suas limitações. E, se a contra capa incluísse os e-mails dos autores, eu - e muita gente, imagino - ainda conseguiria ler menos porque escreveria muito mais: cartas, comentários...”.
Cara Maria Manuela: foi um prazer ler a sua carta e perceber que existe gente com espírito conservador, tal como eu o imagino. Compreendo – Ó como compreendo! – o seu dilema com a direita. Em Portugal, assumir que se é de direita continua a ser visto como sinal de debilidade mental. De insensibilidade e falta de visão - próprias de gente materialista e fútil. De gente que nunca terá lido Tchekhov ou visitado um museu. De gente que não sabe o que é “passar por dificuldades” e que ignora a “pobreza”. Com um bocadinho de sorte, consegue-se escapar, em certos meios, ao epíteto de «fascista». Infelizmente as ideias feitas e o preconceito mais retrógrado continuam bem presentes na sociedade portuguesa. E o que mais incomoda é que não é próprio de uma geração. O dogmatismo e a presunção de uma certa esquerda - sempre pronta a catalogar e fazer uso dos 'slogans' - não escolhe idades.
Obrigado pela sua carta. Escreva sempre.
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