O MacGuffin

segunda-feira, agosto 04, 2003

SPECTATOR À PORTUGUESA?
Escreve MF, no A Esquina do Rio: “Tenho pena de não existir por cá nada que se pareça, de perto ou de longe, com a revista semanal britânica The Spectator.”
Compreendo o Manuel Falcão. Mas tenho sérias dúvidas que em Portugal, um país que viveu durante 34 anos sob a doutrina castradora, proto-socialista e paternal de um homem de Santa Comba Dão; um país que vive em democracia há apenas 29 anos; um país onde a cretinice da esquerda – de uma esquerda hipócrita, demagógica, para quem uma opinião não pode ser apenas um acto pessoal, solitário e não necessariamente transmissível – ganha terreno, marcando presença no modus operandi da generalidade dos órgãos de comunicação social ou nos corredores e departamentos das universidades portuguesas; um país onde o nível de iliteracia continua em alta; tenho sérias dúvidas, dizia, que uma Spectator à portuguesa tenha ‘pernas para andar’.
Dirão alguns que, pelo que atrás foi escrito, haveria razões de sobra para lançar uma revista com as características da Spectator. Colunistas não faltariam (eu próprio tenho em mente uma dream team). Mas as coisas não funcionam assim. A inglesa Spectator não é uma revista de combate. A Spectator reflecte um ethos conservador e elitista (no sentido mais nobre do termo) que não tem eco na sociedade portuguesa. É uma revista de tradições, afectos e cumplicidades. Uma revista de continuidade, com um sentido de decoro e uma integridade notáveis. Uma revista onde a ironia e o sentido de humor são cultivados cuidadosa e extremosamente.
Eu gostava, e, a espaços, sonho com isso, que alguém ousasse criar uma Spectator à portuguesa. Mas temo que não passe disso mesmo: um wishful thinking.

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