O MacGuffin

sexta-feira, março 21, 2003

SER CONSERVADOR

Sempre que tento explicar porque sou politicamente conservador, lembro-me das palavras de Auberon Waugh: “I am convinced that intelligent, educated and literate Englishmen are neither left-wing nor right-wing, but are bored by politics and regard all politicians with scorn. That is my political creed, so far as I have one”.

Ao basear-se na tradição (não glorificando o passado, mas antes celebrando o presente que é, ele próprio, fruto da evolução do homem e das sociedades), na «individualidade» do ser humano (e não no «mass-man», como explicou Oakeshott), na livre associação civil e numa espécie de desassombramento face à realidade, o conservador é um céptico e foge um pouco à catalogação esquerda/direita.

O conservador não tem ilusões quanto à natureza humana, não é ingénuo quanto às utopias, detesta putativos sábios e iluminados (que pretendem impor as suas certezas e a sua presunção quanto à organização das sociedades) e sabe, como ninguém, que existe um mundo palpável, não perfeito, preferível aos arquitectados a régua e esquadro.

O conservadorismo, como atitude e postura face à vida, está imbuído de razoabilidade e bom senso. O conservador é talvez o único que tenta perceber se, por muito velha ou aparentemente ultrapassada que esteja determinada estrutura ou relação interpessoal, subsiste nela uma função vital abrangente que importa preservar. O conservador condena a presunção e as declarações definitivas da mudança pela mudança. O conservador tenta perceber até que ponto a alteração radical, o corte abrupto, pode resultar num benefício, e se esse benefício suplanta a perda da experiência adquirida. Não é contrário à mudança. Acredita, apenas, que a mesma deve ser feita com todo o cuidado, passo a passo.

Muito se tem falado sobre a diferença entre o Conservadorismo e o Liberalismo de inspiração clássica. Atrever-me-ia, antes, a mencionar o que une um conservador e um liberal. Ambos tendem a recusar que outros (o Estado, por exemplo), em seu nome e em nome de um «bem comum», organizem e planifiquem a sua esfera pessoal, em nome de uma putativa racionalidade do destino humano. Para um conservador, bem como para um liberal, o «bem comum» será sempre abstracto e difuso. Defenderão sempre um Estado ‘low-profile’ e um governo de poderes limitados. O antagonismo conservador face à visão que considera a acção governativa como um instrumento para alcançar um simples objectivo substantivo – neste caso o «bem comum» - reflecte a rejeição do chamado «self-conscious purpose», uma vez que este se inscreve no seio do racionalismo aplicado à política. Ou seja, a existirem duas atitudes distintas em relação ao papel da actividade governativa – uma correspondente ao carácter e à moralidade do “individual”, com o ênfase na questão da “liberdade”, da “autodeterminação” e da “responsabilidade individual”; a outra relacionada com as características do «mass-man», ou homem-colectivo, com as atenções viradas para a “igualdade” e a “solidariedade” – o liberal e o conservador estão com a primeira.

Por agora é tudo, ‘folks’. Voltarei a este tema mais tarde.

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