...and another...
Alberto Gonçalves, no Diário de Notícias:
"O adjectivo mais divertido para qualificar o movimento de pândegos que calam e insultam governantes ao som de Grândola, Vila Morena é "espontâneo". Aparentemente, os pândegos não se conhecem de lado nenhum, por sorte encontram-se em eventos que contam com a presença de ministros e, num fenómeno que desafia a lei das probabilidades, desatam a entoar a referida cantilena e a gritar "Fascistas!" em uníssono.
Notável, não é? Os pândegos podiam não se ter cruzado, podiam ter ido à bola ou ao circo, podiam ter cantarolado um sucesso de Shakira e gritado "Olha o robalo fresquinho!". Mas não. Uma e outra e outra e outra vez acertaram na hora, no local, na cantilena e na palavra de ordem. Tudo, claro, de forma espontânea. Desde que um gémeo comeu ostras e o irmão apanhou uma intoxicação alimentar que não havia notícia de coincidência assim. Nem de patranha assado.
A tentativa de sublinhar a "espontaneidade" destes episódios não é inocente. O facto de os incidentes serem encomendados (e convocados via Facebook) pelos grupinhos do costume, especialistas em recorrer à tolerância do regime para treinarem os sonhos do derrube do regime, não cai tão bem. Tratar a Grândola e os insultos como obra do acaso confere à coisa uma aura inevitável e genérica. No fundo, sugere-se que o povo em peso ciranda por aí a silenciar "fascistas" com a sua indignação.
E há quem não se fique pela sugestão. Numa coluna lindamente intitulada "Keynesiano, graças a Deus", Nicolau Santos, director-adjunto do Expresso, jura que "as pessoas" estão "fartas, fartissimas [sic], de políticos que não respeitam e a quem não reconhecem um pingo de credibilidade." Logo, prossegue o dr. Nicolau, "o facto de não o deixarem falar em público só mostra que o ministro Relvas não percebe isso mesmo: que foi julgado e condenado."
Naturalmente, o dr. Nicolau confunde, ou finge confundir, os inúmeros cidadãos que desconfiam dos méritos académicos do dr. Relvas com as dúzias de intérpretes ambulantes da Grândola. O dr. Nicolau não percebe, ou finge não perceber, que o bizarro exercício de censura a membros de um Governo eleito é uma afronta aos que o elegeram. Por fim, o dr. Nicolau esquece-se, ou finge esquecer-se, de que a falta de credibilidade do político que aldraba o currículo é idêntica à do jornalista que promove um currículo aldrabado - e ao que se vê nenhuma implica necessariamente a demissão.
Em matéria de "keynesianos", prefiro, Deus me perdoe, Augusto Santos Silva. Embora movido pela (defensável) vontade de reprovar a apatia de Cavaco Silva, o ex-ministro socialista afirmou, sem nenhum dos habituais "mas" pelo meio, que a praga de "Grândolas" é um comportamento, cito, "anti-democrático": "O que esteve em causa foi uma limitação ilegítima à liberdade de expressão de uma pessoa."
Nunca fui admirador do dr. Santos Silva e nunca deixarei de achar que a permanência de Miguel Relvas consome escusadamente um Governo com consumições de sobra. Porém, nunca, quer no apogeu da tragédia "socrática" quer na demência fiscal dos seus sucessores, me passou pela cabeça que não podia haver pior. Pode, sim senhor, e os bandos de cançonetistas "espontâneos" dissipam todas as dúvidas a propósito. Perante tais emanações totalitárias, na boca das quais a palavra "fascistas" é uma afirmação identitária e não um ataque, uma pessoa quase se sente inclinada a gostar do "dr." Relvas e a pedir-lhe que se demore no ministério um bocadinho. Só um bocadinho."
4 Comentários:
Goste-se ou não de Miguel Relvas e acredite-se ou não que ele não devia ter lugar no Governo, a verdade é neste momento o pior que podia acontecer seria Miguel Relvas demitir-se ou ser demitido.
Se isso acontecer, a canalha de cretinos ("pândegos" dá a ideia de que são engraçados mas são apenas patéticos) que anda a usar a "Grândola, Vila Morena" para passear a sua absoluta falta de respeito pela democracia e pela liberdade dos outros sentir-se-á legitimada para continuar a tentar impôr aos gritos a vontade de uns poucos sobre todos os outros.
Miguel Relvas poderá ter mesmo que abandonar o Governo mas nunca antes de essa canalha de cretinos ser reduzida à sua insignificância. À estalada se necessário porque, dos piquetes de greve que pretendem transformar o direito à greve na obrigatoriedade de fazer greve à gritaria "espontânea" para calar aqueles de quem não gostam, já abusaram demais da nossa paciência.
A liberdade de cada um acaba onde começa a liberdade dos outros e essa canalha de cretinos já ultrapassou esse limite muito além do aceitável.
Assim não vão lá. Não querer perceber o espinho que é Relvas é não querer perceber. O Nicolau não tem nada a ver com isto. É pouco sensata a analogia. É pobre.
Alberto Gonçalves, Vexa tem graça. E tem o veneno em dose recomendada.
Dizia meu Pai há 50 anos: "Isto é um País de pretos". Cada vez há mais pretos por "dentro".
Até parece que o sistema político (pejado de gente saída das jotas, como se ser jota fosse uma profissão respeitável) dá resposta ao eleitorado!!! Ou que a democracia que temos, entre aspas, é representativa do que quer que seja! Votei PSD, nao sou de esquerda, e irei a todas as manifs contra este governo de perdição nacional. Um governo de má fé, de truques, de mentirinhas.
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